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DIADORIM: SEREIA SILENCIOSA E SILENCIADA DO ... - pucrs

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A partir dessa premissa de uma coisa dentro da outra, entende-se Diadorim não só<br />

como a mulher dentro do jagunço Reinaldo: ela é, também e acima disso, construção do narrar<br />

de Riobaldo.<br />

A Riobaldo cabe a tarefa de conduzir o leitor à verdade de Diadorim. Verdade que ele<br />

dissimula durante todo o relato, a fim de causar as devidas sensações ao final. Na ânsia de<br />

traduzir o vivimento em palavras, o narrador vai conduzindo o interlocutor de forma que ele<br />

possa viver a sua exata mesma surpresa – e dor – ao descobrir a identidade feminina de<br />

Diadorim. Conforme Schwarz,<br />

Diadorim flutua pelo mistério de suas predileções pouco jagunças – pássaro, flor e<br />

limpeza – e traz ambigüidade ao sertão. É só o avançar do romance que nos dará seu<br />

retrato claro, e no entanto, desde a primeira entrada em cena a sua presença é total...<br />

(1960, p.386)<br />

Mistério e ambiguidade são termos exatos para serem relacionados a Diadorim. No<br />

entanto, a clareza do retrato talvez não se dê com mesma exatidão. Pode ser claro àqueles que<br />

veem na revelação final explicação para tudo: por isso tão sensível, por isso tão arredio, por<br />

isso tão limpo. Quem sabe, ainda, é exatamente a essa sensação que o narrar de Riobaldo leva.<br />

Mas não é o sentimento final, o que resta de Diadorim quando Diadorim é morta e enterrada<br />

no Paredão, e é preciso afirmar o fim, certificar-se, declará-lo pela linguagem: ―O céu vem<br />

abaixando. Narrei ao senhor. No que narrei, o senhor talvez até ache mais do que eu, a minha<br />

verdade. Fim que foi. Aqui a estória se acabou. Aqui, a estória acabada. Aqui a estória acaba.‖<br />

(ROSA, 2001, p.863)<br />

Acaba?<br />

Para Schwarz, ainda,<br />

Através de sucessivos flash-backs vai-se compondo o seu papel na vida do herói,<br />

desde a fascinação infantil nas margens do São Francisco, até a transmissão da<br />

vendeta de honra, que leva Riobaldo a procurar forças no pacto diabólico, meio de<br />

vingar o assassinato de Joca Ramiro, pai de Diadorim. (1960, p.387)<br />

Analisar a história de Grande Sertão: Veredas é organizar a fala confusa de Riobaldo,<br />

ordenar os acontecimentos, para então compreender por que cada qual se deu. Nesse refazer<br />

do percurso, encontramos Diadorim desde o princípio, menino, segurando a mão de Riobaldo,<br />

e o ensinando a ter coragem. Este é o papel de Diadorim: ser travessia, caminho de Riobaldo,<br />

mas ser também sua margem, seu objetivo, seu chegar-lá. Não da mesma forma que Otacília,<br />

a noiva-prêmio, o felizes-para-sempre. Diadorim é objetivo enquanto alvo do orgulho de<br />

Riobaldo: é por Diadorim que Riobaldo se coloca em constante superação.

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