DIADORIM: SEREIA SILENCIOSA E SILENCIADA DO ... - pucrs
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Partindo da perspectiva do silêncio, Diadorim, personagem de Guimarães Rosa em<br />
Grande Sertão: Veredas, se presta a pelo menos duas análises distintas, identificadas na<br />
iminência do texto: há o silêncio a que ela mesma se submete, a fim de transfigurar-se de<br />
homem; há o silêncio implicado por ser ela personagem da fala de Riobaldo. É através dele<br />
que o leitor tem acesso a Diadorim: um narrador apaixonado, confuso, manipulador da<br />
derradeira verdade; se não culpado, acima de tudo suspeito: ―Para nosso contexto histórico-<br />
social, um homem em silêncio é um homem sem sentido. Então, o homem abre mão do risco<br />
da significação, da sua ameaça e se preenche: fala. Atulha o espaço de sons e cria a ideia de<br />
silêncio como vazio, como falta.‖ (ORLANDI, 2007, p.35)<br />
Riobaldo sabe a verdade sobre Diadorim desde o princípio da narração, assim, o<br />
silêncio transpassa as palavras do narrador e o contar se torna dificultoso:<br />
Silêncio que atravessa as palavras, que existe entre elas, ou que indica que o sentido<br />
pode ser sempre outro, ou ainda que aquilo que é mais importante nunca se diz,<br />
todos esses modos de existir dos sentidos e do silêncio nos levam a colocar que o<br />
silêncio é ―fundante‖. (ORLANDI, 2007, p.13)<br />
Desta forma, tem-se como material de análise tanto o movimento de Diadorim no<br />
silêncio quanto a fala de Riobaldo a respeito da companheira. Torna-se necessário, aqui,<br />
conceituar o silêncio de acordo com a visão adotada, visto que dizer e não-dizer serão<br />
interpostos em constante ir e vir, já que ―todo dizer é uma relação fundamental com o não-<br />
dizer.‖ (ORLANDI, 2007, p.12) Para Orlandi,<br />
Pensar o silêncio é colocar questões a propósito dos limites da dialogia. Pensar o<br />
silêncio nos limites da dialogia é pensar a relação com o Outro como uma relação<br />
contraditória. (...) A intervenção do silêncio faz aparecer a falta de simetria entre os<br />
interlocutores. A relação de interlocução não é nem bem-comportada, nem obedece<br />
a uma lógica preestabelecida. Ela é atravessada, entre outros, pela des-organização<br />
do silêncio. (ORLANDI, 2007, p.48)<br />
Em certo momento da narrativa, Riobaldo ensaia versos para Diadorim, nos quais diz:<br />
Buriti, minha palmeira,/lá na vereda de lá/casinha da banda esquerda,/olhos de onda do<br />
mar... (ROSA, 2001, p.65) Mais de uma vez Riobaldo compara os olhos verdes de Diadorim<br />
ao movimento do mar. Mesma metáfora Orlandi aproveita para ilustrar a forma como o<br />
silêncio faz emergir a significação:<br />
O mar: incalculável, disperso, profundo, imóvel em seu movimento monótono, do<br />
qual as ondas são as frestas que o tornam visível. Imagem.<br />
(...)