Portugal pittoresco Vol. I (1879).preview.pdf - Universidade de ...
Portugal pittoresco Vol. I (1879).preview.pdf - Universidade de ...
Portugal pittoresco Vol. I (1879).preview.pdf - Universidade de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
:<br />
PORTUGAL PITTORESCO 75<br />
Thebaida, a poucos metros da matriz se ve como <strong>de</strong>pendurada <strong>de</strong><br />
esburgados rochedos a gruta antiquíssima <strong>de</strong> um d'aquelles solitários,<br />
on<strong>de</strong>, por singular admiração, fomos topar ainda um homem<br />
novo, entregue ás orações <strong>de</strong> seu contemplativo viver! Era um<br />
pobre homem, natural <strong>de</strong> Évora, cujo pendor para o ascetismo<br />
topara naquella gruta estreitíssima e acanhada a realísacão <strong>de</strong> seus<br />
sonhos e cogitações. Com dífficulda<strong>de</strong> lhe penetrámos a morada,<br />
pelo acanhado da entrada. A direita uma cortiça, em que elle dormia<br />
; á esquerda uma cosinha pequeníssima, e no fundo um cubilo<br />
com imagens <strong>de</strong> sanctos em papel, flores silvestres, e myrto e<br />
buxo, e alguns lívidos <strong>de</strong>votos: rezava, quando chegámos. Vive <strong>de</strong><br />
esmolas, e a Évora vem a pé no começo <strong>de</strong> cada mez receber a<br />
que lhe dá a Sancta Casa da Misericórdia.<br />
A casa dos monges da Serra d'Ossa <strong>de</strong>mora a meia encosta ao<br />
poente da serra, em sítio <strong>de</strong>veras azado para um viver solitário.<br />
Dos primitivos conventos situados em valle <strong>de</strong> Abrahão e valle<br />
<strong>de</strong> Infante, que não vimos, permanecem ainda notáveis vestígios<br />
nos locaes on<strong>de</strong> fundados a oriente da serra, olhando para Estremoz<br />
e Borba e Villa-Viçosa, Terena e Rio <strong>de</strong> Moinhos. A que vimos<br />
é construcção do século xvi e magnifica em sua gran<strong>de</strong>za e nas<br />
obras d'arte executadas em mármore, que ainda conserva inteiras<br />
umas e mutiladas outras. A entrada da egreja uma ínscrípçào<br />
lapidar commemora á parte esquerda a sagração d'ella por Dom<br />
Frei Miguel <strong>de</strong> Távora, Arcebispo <strong>de</strong> Évora, no século passado.<br />
Dentro nada existe: <strong>de</strong> tudo a <strong>de</strong>spiram os mo<strong>de</strong>rnos hunos: apenas<br />
conserva o pavimento <strong>de</strong> mármore, e pouco mais.<br />
A entrada do refeitório vimos embebida em uma pare<strong>de</strong> a ínscrípçào<br />
que aqui poremos, uníca testímimha silenciosa que nos<br />
attesta a existência <strong>de</strong> um religioso <strong>de</strong> S. Paulo naquellas serras<br />
e valles : as <strong>de</strong>mais têm sido arrancadas na claustra e noutros<br />
sítios. Diz ella assim<br />
lOÃNÊ M.~ ILLUSTRE COGNÔÊ SAXf<br />
HOC PREmT, HAEC TÃTV VIX CAPIT<br />
VRNA vmv.<br />
EGIT EREMITA, ATQUE HOMINV COM-<br />
MERCIA, LIQUIT<br />
RELIGIONE LATENS, INCLITE PAV-<br />
LE, TVA.<br />
AT LICET OBSCURO LATEAT SVB<br />
MÁRMORE CORPVS,<br />
FACTA SEPVLCHRALIS NÕ TAMEN<br />
YMBRA TECIT.<br />
OBIIT IN VAL DE INFANTE DIE 16 APR. AN. D. 1618.<br />
UNDE ET OSSA TRANSL. FUER. DIE 22 OCT. AN. 1719,<br />
Obra protegida por direitos <strong>de</strong> autor