Portugal pittoresco Vol. I (1879).preview.pdf - Universidade de ...
Portugal pittoresco Vol. I (1879).preview.pdf - Universidade de ...
Portugal pittoresco Vol. I (1879).preview.pdf - Universidade de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
PORTUGAL PITTORESCO 121<br />
da Poesia do soffrimento, impressa no Listituto^ o poeta académico<br />
d'aquelle nosso saudoso curso jurídico, que rematou os seus estudos<br />
em 1852. A. A. da Fonseca Pinto.<br />
«— Não se dirá— começou o sacerdote — que em terra <strong>de</strong><br />
christãos apparece uma gran<strong>de</strong> miséria sem haver alma que se<br />
doa d'ella : e se as pobres mulheres foram bastantes para hmpar<br />
o rosto do maior dos homens, do filho <strong>de</strong> Deus, sel-o-ha um humilissimo<br />
padre para espremer algum bálsamo nas chagas, talvez<br />
mortaes, do maior dos infelizes. Aquella creatura que alli está<br />
(e apontou para D. Garcia) será tudo o que quizer<strong>de</strong>s, mas por<br />
isso não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um homem feito á imagem <strong>de</strong> Deus... aquella<br />
cabeça po<strong>de</strong> ter meditado, nas <strong>de</strong>sgraças alheias, a sua <strong>de</strong>sventura,<br />
mas nem por isso <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> molhar-se nas sanctas aguas<br />
do baptismo, recebendo na fronte o augusto signal da re<strong>de</strong>mpção.<br />
Ve<strong>de</strong> portanto nelle um vosso similhante, um filho que teve uma<br />
mãe que o criou, um pae que talvez o chore ;<br />
lembrae-vos que é christão.<br />
e, no fim <strong>de</strong> tudo,<br />
«Se pois é tudo isto, <strong>de</strong>ixae penetrar em vosso coração a pieda<strong>de</strong><br />
e o compassivo dó que <strong>de</strong>ve sempre morar em nós pelo próximo<br />
que soífre, attribulado <strong>de</strong> uma profunda miséria.<br />
«Nem vos tolha a lembrança do crime para cerrar<strong>de</strong>s a alma<br />
aos incitamentos da misericórdia; é a divina infinita,<br />
mana limitada; mas seja alguma.<br />
seja a hu-<br />
«Sabeis que o justo pecca sete vezes ao dia, porque é frágil o<br />
barro <strong>de</strong> que o fez Deus ;<br />
nada ao mal?<br />
quantas não peccará a creatura incli-<br />
«Vejo além erguido o instrumento do supplicio (apontou para a<br />
forca), e o meu coração treme <strong>de</strong> horror <strong>de</strong>ante d'elle, porque me<br />
lembra que a cruz era, noutros tempos, uma similhança d'aquillo,<br />
um patíbulo. Na cruz pregaram o homem Deus para matar com<br />
elle a sua doutrina, mas foi vão o crime, porque o sangue não é<br />
a morte é a vida, é pregão que brada sempre em prol da victima,<br />
qualquer que seja, a mais <strong>de</strong>sventurada, a mais sublime... um<br />
Deus ou um homem ! Supponhamos, porém, que fizera mal e que<br />
esse <strong>de</strong>sgraçado que ahi está sobe os <strong>de</strong>graus do cadafalso... Castigae-Fo<br />
? Sim, porque per<strong>de</strong> a vida ; mas leve punição que apenas<br />
dura um momento ! Nem<br />
sofifre o estertor d'um agonisante.<br />
«Dais satisfação ás victimas? Não, que o mal fica feito como<br />
estava. Aten-ais o povo com o exemplo ? Talvez, mas não consta<br />
que o crime cesse ou diminua pelo sangue que se <strong>de</strong>rrama. Então<br />
que fazeis? i<strong>de</strong>s matar um homem, isto é commetter um crime<br />
Obra protegida por direitos <strong>de</strong> autor