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elação deste conto com alguns intertextos tanto no nível formal como temático, tentando<br />
perceber como se dá a adaptação do conto para o teatro. Neste estudo comparado, o conto<br />
escolhido não será visto como um texto fonte ou primeiro, mas nas relações entre textos e<br />
tessituras que se encontram de maneira horizontal, sem hierarquias, pois como explica René<br />
Wellek,<br />
A literatura comparada deseja superar preconceitos e provincianismos nacionais, mas<br />
disso não resulta ignorar ou minimizar a existência e a vitalidade das diferentes<br />
tradições nacionais. Precisamos tanto da literatura nacional quanto da geral,<br />
precisamos tanto da história quanto da crítica literárias, e precisamos da perspectiva<br />
ampla que somente a literatura comparada pode oferecer (WELLEK, 1980, p. 144).<br />
Assim separou-se, para este trabalho, o conto “A volta do marido pródigo”, tendo em<br />
vista dialogar com outros textos, sobretudo sua adaptação teatral realizada pelo escritor e<br />
tradutor Paulo Hecker Filho, a partir do aparato teórico da Literatura Comparada. Tem-se uma<br />
farta fortuna crítica de Rosa, mas não uma comparação entre seu texto “A volta do marido<br />
pródigo” e o de Paulo Hecker Filho, sob o mesmo título. Frente a esta lacuna, justifica-se a<br />
realização deste trabalho, tendo como base teórica uma bibliografia referente, sobretudo à<br />
intertextualidade.<br />
O processo criativo de Guimarães Rosa neste conto já aponta para uma linguagem<br />
dramatúrgica: “Quem sabe, a gente podia representar esse drama, hem seu Laio?” (ROSA,<br />
2011, p. 108); uma linguagem cômica que subverte o Bíblico, uma parábola caipira de uma<br />
sabedoria popular. Até o nome do protagonista, Eulálio de Souza Salãthiel, faz referência à<br />
Bíblia, pois, Salathiel, filho de Jeconias, é citado em Mateus 1.12. Eulálio também possui uma<br />
carga semântica significativa, pois, Eulalo, de origem grega, quer dizer “bem falante” adjetivo<br />
que define perfeitamente a personagem.<br />
Esse conto apresenta de forma picaresca os caprichos de Lalino Salãthiel, o marido<br />
pródigo, um homem de muito riso, de muita graça e pouco trabalho, conforme nota-se nesse<br />
trecho do conto: “Mulatinho levado! Entendo um assim, por ser divertido. E não é de<br />
adulador, mas sei que não é covarde. Agrada a gente, porque é alegre e quer ver todo-o-<br />
mundo alegre, perto de si. Isso que remoça. Isso é reger o viver” (ROSA, 2011, p.110). O<br />
espírito de malandragem dessa personagem possibilitou a Rosa empregar ironia e malícia,<br />
remetendo as personagens Macunaíma e Leonardo, exemplos de “heróis-malandros” na<br />
literatura brasileira.<br />
Também, sua trajetória remete à do filho pródigo, que abandona a família, levando<br />
consigo os seus bens, com o intuito de viver aventuras em lugares distantes e o regresso após<br />
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