EXPERIMENTALISMO E MULTIMÍDIA: O MEZ DA GRIPPE - Unimar
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mentos claramente expressionistas. Se formos aos seus primeiros<br />
contos, os que compõem Primeiro Andar, encontraremos “Moral<br />
quotidiana” e “História com data”: aquele constitui transposição<br />
burlesca de uma peça de teatro, que traz, além disso, inserção de<br />
anúncios publicitários; este mobiliza expressões estereotipadas presentes<br />
em jornais paulistanos, além de conter, como encaixe, uma<br />
narrativa folhetinesca, que também é como o “gênero” crônica,<br />
um filho legítimo da imprensa escrita.<br />
Todos esses textos modernistas constituem experimentos<br />
intercódigos, mas o mais espetacular, ou seja, o mais caracterizadamente<br />
visual, o mais cinematográfico e com simulações multimidiáticas<br />
intitula-se Pathé-Baby ( 9 ) de Antonio de Alcântara<br />
Machado. Trata-se de uma sequência de crônicas de viagem (sessões<br />
corridas), apresentada como um programa ou roteiro e montada<br />
à maneira das exibições que aconteciam no começo do século XX,<br />
sugerindo-se a música executada fora da tela por meio de gravuras<br />
que mostram uma pianista, um flautista, um violinista e um violoncelista,<br />
personagens que vão saindo das páginas à medida que<br />
as crônicas se sucedem.<br />
Saltemos no tempo, mas deixemos claro que os primeiros<br />
experimentos literários com um código de meio de comunicação<br />
de massa se deram com a imprensa escrita. E que esses experimentos<br />
foram tão fecundos e tão repetidos e disseminados que<br />
praticamente se automatizaram, consolidando o gênero misto da<br />
crônica e uma espécie narrativa, que carrega os sentidos e a ação<br />
no entretenimento dos leitores, a saber, o folhetim. Esse tipo de<br />
experimentação nos traz de volta Machado de Assis.<br />
Ver SILVA. A. M. S. Presença da mídia em Mário de Andrade. In: ______. Os bárbaros<br />
submetidos: interferências midiáticas na prosa de ficção brasileira. São Paulo:<br />
Editora Arte & Ciência, 00 , p. - 00.<br />
Fundamental para o conhecimento dessa relação entre imprensa escrita e literatura<br />
é: MEYER, Marlyse Folhetim: uma história. São Paulo: Companhia das Letras,<br />
99 . Da mesma autora é o ensaio Voláteis e versáteis. De variedades e folhetins se<br />
fez a chronica. In: CANDIDO, Antonio et al. A crônica: o gênero, sua fixação e suas<br />
transformações no Brasil. Campinas, Editora da Unicamp. 99 , p. 9 - .<br />
| Antonio Manoel dos Santos Silva (Org.)