LITERATURA E MODA – UMA ABORDAGEM ... - Artigo Científico

More documents

Recommendations

Info

O poema, ao valer-se da Moda e da marca que ela se faz representar pelas etiquetas, esbarra na questão da alienação, a qual só será apreendia se se compreender que o indivíduo aliena-se quando não percebe as relações de ameaça e de domínio que lhe circundam o trabalho. Nesse sentido: O trabalho alienado é aquele no qual o produtor não pode reconhecer-se no produto de seu trabalho, porque as condições desse trabalho, suas finalidades reais e seu valor não dependem do próprio trabalhador, mas do proprietário das condições do trabalho. (CHAUÍ, 1994, p. 55). Assim, o poema Eu, Etiqueta, versa sobre a alienação presente na so- ciedade brasileira, à medida que o indivíduo não se reconhece frente aos produtos que consome, sendo certo, ainda, que alienação é carreada pelas ideo- logias da classe dominante, que detém os meios de produção e, portanto, faz com que o cidadão não se reconheça face aos produtos que o rodeia; razão por que os que produzem indumentárias com nomes (etiquetas) que não são os seus, não possuem aptidão de comprá-las, justamente por causa da sepa- ração que resulta em dominação. Drummond – ao valer-se da Moda – não só versa sobre a força labora- tiva, mas também avoca outro conceito de Karl Marx 15 : o fetichismo 16 , que, em parcas palavras, constitui-se na força de trabalho se transformando em mercadoria: “a mercadoria será considerada a forma mais simples e mais abstrata do modo de produção capitalista” (CHAUÍ, 1994, p. 48). Nessa linha argumentati- va, o fetichismo ao criar a alienação aniquila a possível visualização do proces- so de coisificação, também conhecido como reificação, dá-se no fecho do poema: “Meu nome é a coisa. / Eu sou a Coisa, coisamente”. Assim, o poema Eu, 15 Karl Heinrich Marx (Tréveris, 5 de maio de 1818 - Londres, 14 de março de 1883): intelectual e revolucionário alemão, fundador da doutrina comunista moderna; atuou como economista, filósofo, historiador, teórico político e jornalista. 16 Constitui-se desvio do interesse sexual para algumas partes do corpo do parceiro, para alguma função fisiológica, para cenários ou locais inusitados, para fantasias de simulação (aluna, empregada doméstica, enfermeira, secretária etc.) ou para peças de vestuário, adorno etc. Entretanto, o sentido empregado nesse artigo – embora não alijado desse conceito psicanalítico – vincula-se ao denominado fetichismo da mercadoria, modo pelo qual Karl Marx denominou o fenômeno social e psicológico onde as mercadorias aparentam deter uma vontade independente de seus produtores. Sendo assim, trata-se de uma relação social entre pessoas mediatizada por coisas e cujo resultado configura a aparência de uma relação direta entre as coisas e não entre as pessoas; assim, as pessoas agem como coisas e as coisas, como pessoas.
Etiqueta relata abstração e inversão; aquela o não reconhecer a si mesmo; es- ta quando se reconhece e se aceita como anúncio. Na esteira deste raciocínio, frisa-se que o texto Eu, Etiqueta configura- se enunciado poético concreto, que sintetiza um momento histórico, dotando-o de expressão semiótica 17 que se destina a duas orientações: uma, “em direção ao sujeito”, e a outra, a partir dele “em direção à ideologia” (BAKHTIN, 1999, p. 60). No poema, levadas a efeito tais postulados, as mensagens publicitá- rias, as estampas de produtos, os próprios produtos, a linguagem empregada, os imperativos, tudo que Carlos Drummond alude como artefatos, constituem- se signos, que, em última instância, insofismavelmente, nada mais é que ideologia. Carlos Drummond de Andrade, entretanto, é ilimitado; e, enquanto, in- finito, vale-se, novamente da Moda para construir um de seus mais belos poe- mas: 17 Do Grego σημειωτικός (sēmeiōtikos) = "a ótica dos sinais", é a ciência geral dos signos e da semiose que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem sistemas de significação. Foi usada pela primeira vez em Inglês por Henry Stubbes (1670) para indicar o ramo da ciência médica dedicado ao estudo da interpretação de sinais. John Locke usou os termos "semeiotike" e "semeiotics" no livro IV, capítulo XXI do Ensaio Acerca do Entendimento Humano (1690). Entretanto, modernamente, há a semântica no design de produto que estabelece que todo objeto, além de sua funcionalidade prática e estética, constitui-se símbolo cultural, como uma peça de moda; todavia, quando o objeto se revela promocional, representa uma empresa, e, por isso, se torna um símbolo desta.
Page 1 and 2: Resumo LITERATURA E MODA - UMA ABOR
Page 3 and 4: O Velho Bruxo do Cosme e a Metafís
Page 5 and 6: gráfica. Exemplo disso é o diálo
Page 7 and 8: Todas as marcas registradas, Todos
Page 9: Eu, Etiqueta, mostra-se enunciado c
Page 13 and 14: Dona, me disse baixinho, não te do
Page 15 and 16: de imposição, ainda que, em algun
Page 17 and 18: Aos 6 de novembro 2008, realizou-se
Page 19 and 20: eber do casto néctar dos deuses. E

LITERATURA E MODA – UMA ABORDAGEM ... - Artigo Científico

Create successful ePaper yourself

Delete template?

Save as template?