eo futuro, de que é feito afinal? - Artigo Científico - Uol
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Tese apresentada à Divisão <strong>de</strong> Pós-Graduação do Instituto T<strong>é</strong>cnico <strong>de</strong><br />
Aeronáutica como parte dos requisitos para obtenção do título <strong>de</strong> Mestre<br />
em Ciências no Curso <strong>de</strong> Engenharia Aeronáutica e Mecânica, Área <strong>de</strong><br />
Produção<br />
Denis Lima Balaguer<br />
E O FUTURO, DE QUE É FEITO AFINAL? ACERCA DE UMA<br />
HIPÓTESE SOBRE A NATUREZA DO FUTURO E DE UMA<br />
PROPOSTA PARA PROSPECTIVA TECNOLÓGICA<br />
Tese aprovada em sua versão final pelos abaixo assinados<br />
..........................................................................<br />
Prof. Donizeti <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />
Orientador<br />
........................................................................<br />
Prof. Homero Santiago Maciel<br />
Chefe da Divisão <strong>de</strong> Pós-Graduação<br />
Campo Montenegro<br />
São Jos<strong>é</strong> dos Campos, SP - Brasil<br />
2004
Dados Internacionais <strong>de</strong> Catalogação-na-Publicação (CIP)<br />
Divisão Biblioteca Central do ITA/CTA<br />
Balaguer, Denis Lima<br />
E o <strong>futuro</strong>, <strong>de</strong> <strong>que</strong> <strong>é</strong> <strong>feito</strong> <strong>afinal</strong>? Acerca <strong>de</strong> uma hipótese sobre a natureza do <strong>futuro</strong> e <strong>de</strong> uma proposta<br />
para prospectiva tecnológica / Denis Lima Balaguer<br />
São Jos<strong>é</strong> dos Campos, 2004<br />
106 f<br />
Tese <strong>de</strong> mestrado - Curso <strong>de</strong> Engenharia Aeronáutica e Mecânica, Área <strong>de</strong> Produção -<br />
Instituto Tecnológico <strong>de</strong> Aeronáutica, 2004. Orientador: Prof. Donizeti <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />
1. Prospectiva Tecnológica. 2. Estudos do Futuro. 3 Suporte à Tomada <strong>de</strong> Decisão. 4. Gestão <strong>de</strong> P&D. 5.<br />
Ciência e Tecnologia Aeroespacial. I. Centro T<strong>é</strong>cnico Aeroespacial. Instituto Tecnológico <strong>de</strong><br />
Aeronáutica. Divisão <strong>de</strong> Engenharia Aeronáutica.<br />
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA<br />
BALAGUER, Denis Lima. E o <strong>futuro</strong>, <strong>de</strong> <strong>que</strong> <strong>é</strong> <strong>feito</strong> <strong>afinal</strong>? Acerca <strong>de</strong> uma hipótese sobre a<br />
natureza do <strong>futuro</strong> e <strong>de</strong> uma proposta para prospectiva tecnológica. 2004. 106 f. Tese <strong>de</strong><br />
mestrado - Instituto T<strong>é</strong>cnico <strong>de</strong> Aeronáutica, São Jos<strong>é</strong> dos Campos.<br />
CESSÃO DE DIREITOS<br />
NOME DO AUTOR: Denis Lima Balaguer<br />
TÍTULO DO TRABALHO: E o <strong>futuro</strong>, <strong>de</strong> <strong>que</strong> <strong>é</strong> <strong>feito</strong> <strong>afinal</strong>? Acerca <strong>de</strong> uma hipótese sobre a natureza do <strong>futuro</strong><br />
e <strong>de</strong> uma proposta para prospectiva tecnológica<br />
TIPO DO TRABALHO/ANO: Tese/2004<br />
É concedida ao Instituto Tecnológico <strong>de</strong> Aeronáutica permissão para reproduzir cópias <strong>de</strong>sta<br />
tese e para emprestar ou ven<strong>de</strong>r cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O<br />
autor reserva outros direitos <strong>de</strong> publicação e nenhuma parte <strong>de</strong>sta tese po<strong>de</strong> ser reproduzida<br />
sem a autorização do autor.<br />
_______________________________________<br />
Denis Lima Balaguer<br />
Av. São João, 191 / 98. Jardim Nova Am<strong>é</strong>rica<br />
São Jos<strong>é</strong> dos Campos - SP<br />
12242-000<br />
ii
E O FUTURO, DE QUE É FEITO AFINAL? ACERCA DE UMA<br />
HIPÓTESE SOBRE A NATUREZA DO FUTURO E DE UMA<br />
PROPOSTA PARA PROSPECTIVA TECNOLÓGICA<br />
Composição da Banca Examinadora:<br />
Denis Lima Balaguer<br />
Prof. Michal Gartenkraut Presi<strong>de</strong>nte - ITA<br />
Prof. Donizeti <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Orientador - ITA<br />
Prof. Takashi Yoneyama ITA<br />
Prof. Armando Milioni ITA<br />
Prof. Renato Peixoto Dagnino UNICAMP<br />
iii
DEDICATÓRIA<br />
Dedico este trabalho à minha esposa e à Atena, <strong>que</strong> po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas quase <strong>que</strong> coautoras,<br />
dada compania e paciência.<br />
E <strong>de</strong>dico em especial este trabalho ao <strong>futuro</strong>, cuja prosperida<strong>de</strong> justifica nossos esforços<br />
hoje.<br />
i
AGRADECIMENTOS<br />
Agra<strong>de</strong>ço ao meu orientador, professor Donizeti <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, pela confiança, estímulo e<br />
direcionamento durante o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste trabalho. Agra<strong>de</strong>ço ainda aos<br />
meus superiores e colegas <strong>de</strong> trabalho <strong>que</strong> me apoiaram durante todo este empreendimento.<br />
ii
“Time present and time past<br />
Are both perhaps present in time future,<br />
And time future contained in time past.<br />
If all time is eternally present<br />
All time is unre<strong>de</strong>emable.<br />
What might have been is an abstraction<br />
Remaining a perpetual possibility<br />
Only in a world of speculation.<br />
What might have been and what has been<br />
Point to one end, which is always present.<br />
Footfalls echo in the memory<br />
Down the passage which we did not take<br />
Towards the door we never opened<br />
Into the rose-gar<strong>de</strong>n. My words echo<br />
Thus, in your mind.”<br />
T.S. Eliot, Burnt Norton - Nº 1 of Four Quartets<br />
“E no entanto, no entanto… negar a sucessão do tempo, negar o eu, negar o universo<br />
astronômico são <strong>de</strong>sesperos aparentes e consolos secretos... o tempo <strong>é</strong> um rio <strong>que</strong> me arrebata,<br />
mas eu sou o rio; <strong>é</strong> um tigre <strong>que</strong> me <strong>de</strong>stroça, mas eu sou o tigre; <strong>é</strong> um fogo <strong>que</strong> me consome,<br />
mas eu sou o fogo. O mundo, <strong>de</strong>sgraçadamente, <strong>é</strong> real; e eu, <strong>de</strong>sgraçadamente, sou Borges.”<br />
Jorge Luis Borges, Uma Nova Refutação do Tempo<br />
“Vinculamos a irreversibilida<strong>de</strong> a uma nova formulação probabilística das leis da natureza.<br />
Esta formulação fornece-nos os princípios <strong>que</strong> permitem <strong>de</strong>cifrar a construção do universo <strong>de</strong><br />
amanhã, mas <strong>é</strong> <strong>de</strong> um universo em construção <strong>que</strong> se trata. O <strong>futuro</strong> não <strong>é</strong> dado. Vivemos o<br />
fim das certezas. Será isto uma <strong>de</strong>rrota do espírito humano? Estou convencido do contrário<br />
(...). A imaginação dos possíveis, a especulação sobre o <strong>que</strong> po<strong>de</strong>ria ter sido <strong>é</strong> um dos traços<br />
fundamentais da inteligência humana”<br />
Ilya Prigogine, O Fim das Certezas<br />
iii
RESUMO<br />
O presente trabalho apresenta um m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica <strong>que</strong> busca, atrav<strong>é</strong>s do<br />
entendimento da natureza do <strong>futuro</strong> aqui tamb<strong>é</strong>m mostrada, integrar a visão clássica dos<br />
estudos do <strong>futuro</strong> com aportes advindos dos estudos da ciência & tecnologia. Esta busca<br />
preten<strong>de</strong> suportar o processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>ntro do ambiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
tecnológico e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> produto, ao fornecer um entendimento das forças <strong>que</strong><br />
moldarão as características e capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produtos <strong>futuro</strong>s. O trabalho estrutura-se atrav<strong>é</strong>s<br />
<strong>de</strong> uma seqüência composta por cinco etapas: 1. <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> prospectiva tecnológica,<br />
construída a partir <strong>de</strong> uma revisão <strong>de</strong> <strong>de</strong>finições clássicas; 2. construção e justificação <strong>de</strong> um<br />
Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> Futuro, a partir <strong>de</strong> conhecimentos advindos dos estudos do <strong>futuro</strong> e dos<br />
estudos da ciência & tecnologia; 3. estruturação <strong>de</strong> um m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica,<br />
tendo por base o MTF e aportes metodológicos <strong>de</strong> outros m<strong>é</strong>todos <strong>de</strong> prospectiva<br />
referenciados na literatura; 4. aplicação do m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica ao mercado <strong>de</strong><br />
Large Commercial Aircratf; 5. análise do m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica, utilizando<br />
metodologias sugeridas na literatura da área. O m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica aqui<br />
apresentado, justificado, testado e analisado apresenta resultados satisfatórios na medida em<br />
<strong>que</strong>, conquanto reconhecendo a imprevisibilida<strong>de</strong> do <strong>futuro</strong>, permite acessar os vetores <strong>de</strong><br />
mudança, e a partir <strong>de</strong>stes tomar <strong>de</strong>cisões mais conscientes. Al<strong>é</strong>m disto, ao permitir um<br />
vislumbre <strong>de</strong> um <strong>futuro</strong> provável, constrói um sentimento <strong>de</strong> alerta e prontidão em relação<br />
aos vetores <strong>de</strong> mudança, garantindo robustez ao processo <strong>de</strong> planejamento. O único <strong>futuro</strong> –<br />
real – <strong>é</strong> a<strong>que</strong>le <strong>que</strong> se constrói no dia-a-dia. Se não houver um planejamento positivo, se não<br />
houver atitu<strong>de</strong> em direção ao <strong>futuro</strong>, o <strong>futuro</strong> construído por outros irá se impor.<br />
iv
ABSTRACT<br />
The current work shows a method of technological prospection that intents, through the<br />
un<strong>de</strong>rstanding of the nature of the future also shown here, to integrate the classic vision of the<br />
studies of the future with insights of the studies of science & technology. This search intends<br />
to support the process of <strong>de</strong>cision-making throughout technological <strong>de</strong>velopment and<br />
<strong>de</strong>velopment of product activities, supplying an un<strong>de</strong>rstanding of the forces that will mold the<br />
characteristics and capacities of future products. The work is structured by a se<strong>que</strong>nce of five<br />
stages: 1. <strong>de</strong>finition of technological prospection, built upon a revision of classic <strong>de</strong>finitions;<br />
2. construction and justification of a Th<strong>eo</strong>retical Mo<strong>de</strong>l of Future (TMF), based on the<br />
knowledge of the studies of the future and the studies of science & technology; 3. constitution<br />
of a method of technological prospection, having for a basis the TMF and contributions from<br />
other methods referenced in the literature; 4. application of the method of technological<br />
prospection to the market of Large Commercial Aircratf; 5. analysis of the method of<br />
technological prospection, using methodologies suggested in the literature of the area. The<br />
method of technological prospection presented, justified, tested and analyzed here presents<br />
satisfactory outcomes, in the way that, although recognizing the unforeseeability of the future,<br />
it allows to access the vectors of change, and with these, making more conscious <strong>de</strong>cisions.<br />
Mor<strong>eo</strong>ver, by allowing a glimpse of a probable future, it enables a feeling of awareness and<br />
promptitu<strong>de</strong> in relation to the vectors of change, guaranteeing robustness to the planning<br />
process. The only future - real - is the one that’s constructed in a day-by-day basis. If there is<br />
no positive planning, no attitu<strong>de</strong> in direction to the future, the future built by others will<br />
impose itself.<br />
v
SUMÁRIO<br />
DEDICATÓRIA.......................................................................................................................... i<br />
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................... ii<br />
RESUMO .................................................................................................................................. iv<br />
ABSTRACT ............................................................................................................................... v<br />
SUMÁRIO................................................................................................................................. vi<br />
LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................viii<br />
LISTA DE TABELAS .............................................................................................................. ix<br />
1 Introdução................................................................................................................... 1<br />
1.1 Objetivos do Trabalho ................................................................................................ 2<br />
1.2 Consi<strong>de</strong>rações Sobre a Motivação e Relevância do Trabalho.................................... 8<br />
2 Fundamentação Teórica ........................................................................................... 16<br />
2.1 Planejando Para o Amanhã: os Estudos do Futuro e a Prospectiva Tecnológica..... 17<br />
2.1.1 Prospectiva Tecnológica........................................................................................... 17<br />
2.2 Aspectos da Natureza da Ciência e Tecnologia ....................................................... 25<br />
2.2.1 A Comunida<strong>de</strong> Científica e a Estrutura das Revoluções Científicas ....................... 25<br />
2.2.2 Big Science: Aspectos da Política Científica e Tecnológica e a Relação Ciência,<br />
Tecnologia e Socieda<strong>de</strong>............................................................................................ 31<br />
2.2.3 Pon<strong>de</strong>rações.............................................................................................................. 38<br />
3 Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> Futuro........................................................................................ 40<br />
3.1 Descrição do Mo<strong>de</strong>lo................................................................................................ 43<br />
4 M<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> Prospectiva............................................................................................. 49<br />
4.1 Determinação dos fatores <strong>de</strong> contorno do Cenário................................................... 50<br />
4.2 I<strong>de</strong>ntificação dos principais atores no mercado a se analisar ................................... 52<br />
4.3 Verificação da a<strong>de</strong>quação ao mo<strong>de</strong>lo....................................................................... 52<br />
4.4 Localização do CN dos atores i<strong>de</strong>ntificados ............................................................ 52<br />
4.5 Construção do CD baseado no CN........................................................................... 53<br />
5 Aplicação do M<strong>é</strong>todo: o Caso Aeroespacial ............................................................ 54<br />
5.1 Determinação dos fatores <strong>de</strong> contorno do Cenário................................................... 54<br />
5.2 Principais Atores ...................................................................................................... 55<br />
5.3 A<strong>de</strong>quação do Mo<strong>de</strong>lo.............................................................................................. 57<br />
5.3.1 Regulamentação no Mercado ................................................................................... 58<br />
5.3.2 Intensivida<strong>de</strong> em Conhecimento .............................................................................. 59<br />
5.3.3 Investimentos Governamentais em P&D ................................................................. 59<br />
5.4 Localização dos Cenários Normativos dos Principais Atores.................................. 64<br />
5.4.1 Cenário Normativo: EUA e UE ............................................................................... 67<br />
5.5 Aplicação do CN ao CD........................................................................................... 69<br />
5.5.1 Cenário Descritivo: o Ambiente Tecnológico dos LCAs em 2014.......................... 69<br />
vi
6 Análise...................................................................................................................... 80<br />
7 Conclusão................................................................................................................. 90<br />
7.1 Consi<strong>de</strong>rações para Pesquisas Futuras ..................................................................... 91<br />
Bibliografia............................................................................................................................... 93<br />
vii
LISTA DE FIGURAS<br />
Figura 1.1: Es<strong>que</strong>ma do m<strong>é</strong>todo utilizado.................................................................................4<br />
Figura 1.2: Mo<strong>de</strong>lo conceitual <strong>de</strong> “Roadmap Tecnológico”....................................................14<br />
Figura 2.1: Framework para as TFA........................................................................................19<br />
Figura 2.2: Agrupamento das t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> Prospectiva.............................................................23<br />
Figura 2.3: Gastos em P&D em porcentagem do PIB - todos os setores: 1991 a 2001...........32<br />
Figura 2.4: Evolução da P&D Empresarial, em Bilhões <strong>de</strong> Dólares (PPP 1995), 1981-2001.33<br />
Figura 2.5: O processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão da Política <strong>de</strong> C&T..........................................37<br />
Figura 3.1: Termos dos Estudos do Futuro..............................................................................42<br />
Figura 3.2: Campo <strong>de</strong> Visão do Futuro....................................................................................43<br />
Figura 3.3: Mo<strong>de</strong>lo Conceitual <strong>de</strong> Futuro................................................................................45<br />
Figura 3.4: Estado da Socieda<strong>de</strong> vs Estado da Ciência...........................................................48<br />
Figura 3.5: Restrições Organizacionais...................................................................................48<br />
Figura 5.1: Estrutura do mercado <strong>de</strong> LCAs.............................................................................56<br />
Figura 5.2: Consolidação do Mercado Aeroespacial Norte-Americano..................................56<br />
Figura 5.3: Consolidação do Mercado Aeroespacial Norte-Americano..................................57<br />
Figura 5.4: Consolidação do Mercado Aeroespacial Norte-Americano..................................57<br />
Figura 5.5: Fatores <strong>que</strong> moldarão a aeronáutica no s<strong>é</strong>culo XXI..............................................61<br />
Figura 5.6: Fatores <strong>de</strong> sucesso para uma inovação tecnológica...............................................62<br />
Figura 5.7: Desempenho da P&D Industrial por Indústrias Selecionadas, por Fonte dos<br />
Recursos...................................................................................................................................64<br />
Figura 5.8: Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Desenvolvimento Tecnológico Aeronáutico Europeu.........................66<br />
Figura 5.9: Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Desenvolvimento Tecnológico Aeronáutico Norte-Americano..........66<br />
Figura 5.10: Exemplo <strong>de</strong> Árvore <strong>de</strong> Relevância aplicada ao CD - 1º nível.............................73<br />
Figura 5.11: Exemplo <strong>de</strong> Árvore <strong>de</strong> Relevância aplicada ao CD.............................................73<br />
Figura 5.12: Exemplo <strong>de</strong> Árvore <strong>de</strong> Relevância aplicada ao CD.............................................74<br />
Figura 5.13: Exemplo <strong>de</strong> Árvore <strong>de</strong> Relevância aplicada ao CD.............................................74<br />
Figura 6.1: Espaço <strong>de</strong> avaliação para t<strong>é</strong>cnicas e m<strong>é</strong>todos para tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão..................81<br />
viii
LISTA DE TABELAS<br />
Tabela 2.1: Diferenças entre Forecasting e Foresight.............................................................18<br />
Tabela 2.2: Características das t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> prospectiva............................................................24<br />
Tabela 2.3: Matriz <strong>de</strong> Pedigree das T<strong>eo</strong>rias Científicas...........................................................30<br />
ix
1 INTRODUÇÃO<br />
A incerteza <strong>é</strong> uma característica <strong>de</strong> nosso tempo (MICHAEL, 1973 apud MASINI,<br />
1993). Entretanto, tentar antever o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> quase tão antigo quanto a própria<br />
humanida<strong>de</strong>. Des<strong>de</strong> os tempos em <strong>que</strong> o domínio da noção <strong>de</strong> estações climáticas do<br />
ano <strong>de</strong>u ao homem um significativo aumento na produtivida<strong>de</strong> agrícola, permitindo<br />
fixar-se a um só local, a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> antecipar acontecimentos <strong>futuro</strong>s tem sido alvo <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> interesse. No início, esta ativida<strong>de</strong> era muito ligada a sacerdotes, <strong>que</strong><br />
supostamente possuíam um dom especial. A crença cristã na existência <strong>de</strong> uma<br />
onisciência divina criou o sentimento <strong>de</strong> <strong>que</strong> existe um <strong>futuro</strong> <strong>de</strong>terminado e previsível.<br />
A emergência do pensamento racional, principalmente a partir do s<strong>é</strong>culo XVIII,<br />
reforçou a id<strong>é</strong>ia <strong>de</strong> um universo <strong>de</strong>terminístico, para o qual conhecendo-se as leis e o<br />
estado inicial <strong>de</strong> um sistema po<strong>de</strong>-se prever o seu comportamento <strong>futuro</strong>. Entretanto,<br />
com o advento da física estatística, principalmente ligada à termodinâmica, no s<strong>é</strong>culo<br />
XIX, alguns <strong>de</strong>mônios começaram a turvar a visão do <strong>futuro</strong>. O s<strong>é</strong>culo XX recru<strong>de</strong>sceu<br />
este tendência, criando um verda<strong>de</strong>iro pesa<strong>de</strong>lo conceitual para o <strong>de</strong>terminismo. A<br />
mecânica quântica, em sua interpretação Copenhagen 1 , prevê a existência do “Princípio<br />
da Incerteza 2 ”, segundo o qual não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar, ao mesmo tempo, a quantida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> movimento e a posição <strong>de</strong> uma partícula. Pelo lado da matemática, Gö<strong>de</strong>l postulou o<br />
“T<strong>eo</strong>rema da Incompletu<strong>de</strong>” 3 , <strong>de</strong>rrubando o sonho dos lógicos <strong>de</strong> construir um sistema<br />
formal fechado. Os golpes não se limitaram ao campo científico. Des<strong>de</strong> o s<strong>é</strong>culo XVIII,<br />
no <strong>que</strong>, na opinião <strong>de</strong> Eric Hobsbawm (2001), ficou conhecido como “a era das<br />
1 Interpretação padrão da Mecânica Quântica, feita na Escola <strong>de</strong> Copenhagen, sob a li<strong>de</strong>rança do físico<br />
dinamarquês Niels Bohr (1885-1962) (OXFORD, 1999).<br />
2 Postulado pelo físico alemão Werner Heisenberg (1901-1976) em 1927 (OXFORD, 1999).<br />
3 O T<strong>eo</strong>rema da Incompletu<strong>de</strong> foi postulado pelo matemátio austriaco Kurt Gö<strong>de</strong>l (1906-1978) em 1931.<br />
O t<strong>eo</strong>rema <strong>de</strong>monstra <strong>que</strong> em qual<strong>que</strong>r sistema formal consistente, <strong>que</strong> seja suficientemente complicado<br />
para <strong>de</strong>screver a aritm<strong>é</strong>tica simples, existem proposições e/ou afirmações <strong>que</strong> não po<strong>de</strong>m ser provadas ou<br />
refutadas sobre as bases dos axiomas do sistema, i.e., existem verda<strong>de</strong>s lógicas <strong>que</strong> não po<strong>de</strong>m obter<br />
prova <strong>de</strong>ntro do sistema on<strong>de</strong> estão inseridas (OXFORD, 1999).<br />
1
evoluções”, at<strong>é</strong> o “breve” s<strong>é</strong>culo XX, chamado por Hobsbawm <strong>de</strong> “era dos extremos”<br />
(1997), a humanida<strong>de</strong> assistiu a transformações a uma velocida<strong>de</strong> vertiginosa, e,<br />
aparentemente, exponencialmente crescente. A mudança atingiu a tudo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />
filosofia at<strong>é</strong> os costumes, passando pela economia e a g<strong>eo</strong>política, e, principalmente, à<br />
emergência <strong>de</strong> uma cultura <strong>que</strong> se convencionou chamar <strong>de</strong> “mo<strong>de</strong>rna”.<br />
Esta mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, construída passo a passo durante os últimos 300 anos, <strong>de</strong>ixou<br />
um sentimento no ar <strong>de</strong> <strong>que</strong> vivemos em um mundo imprevisível, on<strong>de</strong> o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong><br />
in<strong>de</strong>terminado ou at<strong>é</strong> mesmo aleatório. A emergente complexida<strong>de</strong> dos<br />
empreendimentos exigiu uma mudança radical na forma <strong>de</strong> gerir os recursos. Buscando<br />
contra-balancear a sensação <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lidar com o mundo, uma das gran<strong>de</strong>s<br />
revoluções ocorridas no bojo da administração mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong>u-se na criação <strong>de</strong><br />
ferramentas <strong>que</strong> permitam, <strong>de</strong> alguma forma, lidar com as incertezas inerentes ao <strong>futuro</strong>.<br />
Des<strong>de</strong> os anos 1950 at<strong>é</strong> hoje surgiram diversas t<strong>é</strong>cnicas (COATES et al., 2001).<br />
O presente trabalho mostra algumas <strong>de</strong>stas t<strong>é</strong>cnicas e propõe um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
(ante)visão do <strong>futuro</strong>, baseado na convergência <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>stas, conhecidas como<br />
Prospectiva e outros conhecimentos advindos <strong>de</strong> diferentes campos, notadamente dos<br />
estudos da ciência e tecnologia.<br />
1.1 Objetivos do Trabalho<br />
No começo dos anos 1990, os pesquisadores Stephen Millet e Edward Honton (1991, p.<br />
3), do Battelle Memorial Institute, apresentaram como um dos principais <strong>de</strong>safios para<br />
2
a área <strong>de</strong> prospectiva tecnológica 4 a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r os m<strong>é</strong>todos al<strong>é</strong>m dos<br />
domínios da tecnologia e integrá-los com outros tipos <strong>de</strong> m<strong>é</strong>todos <strong>de</strong> prospectiva, como<br />
a<strong>que</strong>les usados em economia, política e met<strong>eo</strong>rologia.<br />
Por prospectiva tecnológica, este trabalho a<strong>de</strong>re parcialmente à <strong>de</strong>finição dada<br />
por Millet e Honton, enten<strong>de</strong>ndo <strong>que</strong><br />
“technology forecasting is the process and results of thinking about the future, whether expressed in<br />
numbers or in words, of capabilities and applications of mechanical, physical processes, and applied<br />
E, ainda <strong>que</strong>,<br />
science”<br />
(1991, p. 3).<br />
“in<strong>de</strong>ed, in the corporate context (…), ‘product forecasting’ may be more <strong>de</strong>scriptive of what are really<br />
attempting than ‘technology forecasting’. This new term opens up horizons for integrating technologies<br />
with non-technical consi<strong>de</strong>rations in a comprehensive package that would be more useful to managers”<br />
(1991, p. 3).<br />
4 Neste trabalho <strong>é</strong> usado o termo “prospectiva” como sinônimo tanto <strong>de</strong> forecasting quanto <strong>de</strong> foresight,<br />
por enten<strong>de</strong>r <strong>que</strong> ambos, apesar da literatura apresentar nuances <strong>que</strong> os diferenciam, situam-se <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong><br />
um mesmo guarda-chuva conceitual. Este guarda-chuva conceitual <strong>é</strong> o <strong>que</strong> o trabalho trata por<br />
prospectiva. Esta discussão <strong>é</strong> melhor en<strong>de</strong>reçada na Seção 2.1. Do ponto <strong>de</strong> vista hermenêutico, em<br />
português, o termo prospectiva <strong>é</strong> preferível à prospecção. Segundo o dicionário Houaiss <strong>de</strong> língua<br />
portuguesa (2004), prospecção tem três acepções: 1. ato ou e<strong>feito</strong> <strong>de</strong> prospectar; 2. conjunto <strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnicas<br />
relativas à pesquisa, localização precisa e estudo preliminar <strong>de</strong> uma jazida mineral ou petrolífera (Ex.:<br />
fazer p. <strong>de</strong> petról<strong>eo</strong>); 3. Derivação por metáfora: sondagem dos sentimentos e pensamentos alheios. Sua<br />
etimologia <strong>é</strong> ligada aos termos latinos prospectio,ónis - “vista <strong>de</strong> olhos lançada ao <strong>futuro</strong>”, ao radical <strong>de</strong><br />
prospectum, supino <strong>de</strong> prospicère - “olhar adiante”. Ainda segundo o Houaiss, o verbete prospectiva tem<br />
por acepções: 1. m.q. perspectiva - “vista ao longe”; 2. conjunto <strong>de</strong> pesquisas a respeito <strong>de</strong> fenômenos<br />
t<strong>é</strong>cnicos, tecnológicos, científicos, econômicos, sociais etc., <strong>que</strong> procura prever a evolução futura das<br />
socieda<strong>de</strong>s. A etimologia <strong>de</strong>ste verbete, datada <strong>de</strong> 1623, <strong>é</strong> ligada ao feminino substantivo <strong>de</strong> prospectivo,<br />
como sinônimo <strong>de</strong> 'perspectiva', por influxo do termo francês prospective (1537), <strong>que</strong> significa “ação <strong>de</strong><br />
olhar para a frente, olhar à distância, perspectiva”, na acepção <strong>de</strong> “ciência <strong>que</strong> examina as possibilida<strong>de</strong>s<br />
futuras <strong>de</strong> algo”, e ainda ao francês prospective (1958), conceitualmente ligado à linha teórica do presente<br />
trabalho.<br />
3
Dentro <strong>de</strong>ste escopo <strong>de</strong> <strong>de</strong>finições, o presente trabalho busca contribuir para a<br />
compreensão da natureza do <strong>futuro</strong> e, a partir das hipóteses correlatas a esta<br />
compreensão, estabelecer um m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica <strong>que</strong> integre<br />
conhecimentos advindos <strong>de</strong> áreas como análise <strong>de</strong> políticas públicas em Ciência &<br />
Tecnologia e filosofia e sociologia da ciência. Estes objetivos se <strong>de</strong>sdobram em quatro<br />
objetos <strong>de</strong> estudo, <strong>que</strong> se apresentam <strong>de</strong> forma seqüencial (Figura 1.1). Primeiro este<br />
trabalho <strong>de</strong>dica-se ao campo dos Estudos do Futuro e <strong>de</strong> Prospectiva Tecnológica,<br />
buscando apresentar uma revisão <strong>de</strong> várias <strong>de</strong>finições para termos como foresight,<br />
forecasting, prospectiva e Estudos do Futuro, <strong>de</strong> maneira a construir uma <strong>de</strong>finição <strong>que</strong><br />
seja um guarda-chuva conceitual e sustente um Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> Futuro, <strong>que</strong> <strong>é</strong> o<br />
segundo objeto.<br />
Definições<br />
Clássicas<br />
Definição <strong>de</strong><br />
Prospectiva:<br />
processo & metas<br />
Estudos <strong>de</strong> Ciência &<br />
Tecnologia: filosofia,<br />
economia, sociologia e<br />
política<br />
Mo<strong>de</strong>lo<br />
Teórico<br />
<strong>de</strong> Futuro<br />
M<strong>é</strong>todo <strong>de</strong><br />
Prospectiva<br />
Aplicação do<br />
M<strong>é</strong>todo <strong>de</strong><br />
Prospectiva<br />
Figura 1.1: Es<strong>que</strong>ma do m<strong>é</strong>todo utilizado<br />
Análise &<br />
Validação<br />
Este segundo objeto, situado <strong>de</strong>ntro da área <strong>de</strong> Estudos do Futuro, <strong>é</strong> a <strong>de</strong>finição e<br />
justificação <strong>de</strong> um Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> Futuro (MTF) construído a partir da integração<br />
<strong>de</strong> m<strong>é</strong>todos <strong>de</strong> análises t<strong>é</strong>cnicas com os m<strong>é</strong>todos <strong>de</strong> análises não-t<strong>é</strong>cnicas, sob a<br />
4
conceituação proposta (Objeto 1). A aplicação <strong>de</strong> m<strong>é</strong>todos advindos <strong>de</strong> ambos os tipos<br />
<strong>de</strong> análises <strong>é</strong> justificada por Porter et al. Segundo este, a prospectiva tecnológica lida<br />
com elementos causais <strong>de</strong> todos os tipos, como social, econômico ou tecnológico (1991,<br />
p. 21), ou, nas palavras <strong>de</strong> Makridakis e Wheelwright, “forecasting is not just a<br />
statistical área, but the domain of psychology, sociology, politics, management, and<br />
others related disciplines” (1982, p. 3).<br />
O Objeto 3 <strong>é</strong> voltado para o campo <strong>de</strong> estudos da Gestão <strong>de</strong> Tecnologia/P&D e da<br />
Análise <strong>de</strong> Decisões. Assumindo parcialmente o <strong>de</strong>safio proposto por Millet e Honton<br />
(1991) acima exposto, o presente trabalho apresenta um m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva<br />
tecnológica baseado no MTF aqui apresentado (Objeto 2), <strong>de</strong> forma a integrar<br />
conhecimentos advindos <strong>de</strong> áreas como análise <strong>de</strong> políticas públicas em ciência e<br />
tecnologia e filosofia e sociologia da ciência. A tese central do m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva<br />
tecnológica aqui proposto <strong>é</strong> a <strong>de</strong> <strong>que</strong>, durante a tarefa <strong>de</strong> planejamento tecnológico,<br />
quando <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados contextos <strong>de</strong> mercado, o Cenário Descritivo (CD)<br />
assumido po<strong>de</strong> ser baseado na convergência entre o Cenário Normativo (CN) dos<br />
principais atores da<strong>que</strong>le mercado (normalmente economias centrais) e a tecnologia<br />
baseada na ciência normal 5 . O tipo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica aqui <strong>de</strong>fendida <strong>é</strong><br />
constituída <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s e aplicações <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado<br />
produto em um <strong>de</strong>terminado <strong>futuro</strong>.<br />
Na seqüência, baseando-se no Objeto 3, realiza-se um exercício <strong>de</strong> prospectiva<br />
tecnológica, <strong>que</strong> <strong>é</strong>, conseqüentemente baseado no MTF (Objeto 2), tamb<strong>é</strong>m aqui<br />
exposto. É construído e apresentado um CD para o mercado aeroespacial, mais<br />
5 Termo introduzido por Thomas Kuhn para <strong>de</strong>finir a ciência <strong>de</strong>senvolvida <strong>de</strong>ntro do paradigma<br />
dominante, sem rupturas. A Seção 2.2.1 aprofunda esta discussão.<br />
5
especificamente para o setor <strong>de</strong> Large Commercial Aircraft. Este CD apresenta uma<br />
visão das capacida<strong>de</strong>s e aplicações baseadas no <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico,<br />
referentes ao mercado em <strong>que</strong>stão 10 anos à frente, i.e., no ano 2014.<br />
Por fim <strong>é</strong> realizado um exercício <strong>de</strong> análise do m<strong>é</strong>todo proposto. Este exercício<br />
foi realizado com o balizamento <strong>de</strong> metodologias apresentadas na literatura <strong>de</strong><br />
referência (MITROFF & TUROFF, 1973; MISHRA, DESHMUKH, VRAT, 2002),<br />
principalmente em Harries (2003).<br />
Segundo Bright (1968, p. xi) a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prospectiva tecnológica po<strong>de</strong> atuar<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sete horizontes <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong>:<br />
“1. That certain knowledge of nature or level of scientific un<strong>de</strong>rstaning will be required; 2. That it will<br />
possible to <strong>de</strong>monstrate a new technical capability (on laboratory basis); 3. That the new technical<br />
capability will be applied to a full scale prototype (field trial); 4. That the new technology will be put to<br />
first operational use (commercial introduction); 5. That the new technology will be wi<strong>de</strong>ly adopted (…);<br />
6. That certain social (and economic) conse<strong>que</strong>nces will follow the use of the new technology; 7. That<br />
future economic, political, social and technical conditions will require the creation of certain new<br />
technical capability.”<br />
O m<strong>é</strong>todo proposto no presente trabalho situa-se <strong>de</strong>ntro do s<strong>é</strong>timo nível, atuando<br />
no contexto da <strong>de</strong>terminação social <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s t<strong>é</strong>cnicas. Isto significa <strong>que</strong> a<br />
mecânica interna do m<strong>é</strong>todo proposto <strong>é</strong> enten<strong>de</strong>r o <strong>futuro</strong> da tecnologia a partir da<br />
captura <strong>de</strong> vetores <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação social, econômica e política.<br />
6
Este trabalho limita-se, entretanto, a construir um framework conceitual <strong>que</strong><br />
serve <strong>de</strong> base para a construção <strong>de</strong> um CD aplicável apenas em mercados altamente<br />
regulamentados, on<strong>de</strong> há barreiras à introdução <strong>de</strong> inovações tecnológicas em virtu<strong>de</strong> do<br />
“princípio da precaução 6 ” e on<strong>de</strong> o conceito <strong>de</strong> Big Science, i.e., gran<strong>de</strong>s investimentos<br />
governamentais em P&D, seja válido.<br />
Outra limitação se dá em relação ao limite <strong>de</strong> tempo do CD construído.<br />
Naturalmente, o limite <strong>de</strong> tempo <strong>é</strong> o limite adotado pelo CN utilizado como marco <strong>de</strong><br />
referência. E, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste limite, a precisão diminui com o tempo, em virtu<strong>de</strong> da<br />
incerteza científico-tecnológica.<br />
A concepção metodológica do presente trabalho tem como norte a colocação <strong>de</strong><br />
Umberto Eco, sobre o ato <strong>de</strong> elaboração <strong>de</strong> uma tese:<br />
“(1) i<strong>de</strong>ntificar um tema precioso; (2) recolher documentação sobre ele; (3) pôr em or<strong>de</strong>m estes<br />
documentos; (4) reexaminar em primeira mão o tema à luz da documentação recolhida; (5) dar forma<br />
orgânica a todas as reflexões prece<strong>de</strong>ntes; (6) empenhar-se para <strong>que</strong> o leitor compreenda o <strong>que</strong> se quis<br />
dizer e possa, se for o caso, recorrer à mesma documentação a fim <strong>de</strong> retomar o tema por conta própria.<br />
Fazer uma tese significa, pois, apren<strong>de</strong>r a pôr or<strong>de</strong>m nas próprias id<strong>é</strong>ias e or<strong>de</strong>nar os dados.”<br />
Já o norte moral do trabalho <strong>é</strong> dado por Carl Sagan, <strong>que</strong> diz:<br />
(ECO, 2002, p. 5)<br />
6 Princípio da Precaução busca oferecer uma alternativa a processos longos <strong>de</strong> assessment, buscando<br />
trabalhar a incerteza inerente aos impactos do <strong>de</strong>senvolvimento científico-tecnológico. Existem diversas<br />
<strong>de</strong>finições, mas a id<strong>é</strong>ia <strong>é</strong> a <strong>de</strong> <strong>que</strong>, quando há um gran<strong>de</strong> risco para a saú<strong>de</strong> da população ou da ocorrência<br />
<strong>de</strong> impactos ambientais, o Princípio da Preucação impõe <strong>que</strong> as <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> regulação <strong>de</strong>vem ser tomadas<br />
<strong>de</strong> forma a prevenir estas ativida<strong>de</strong>s at<strong>é</strong> <strong>que</strong> estudos científicos posteriores <strong>de</strong>monstrem <strong>que</strong> não há risco<br />
consi<strong>de</strong>rável. Trata-se <strong>de</strong> trazer a <strong>de</strong>cisão para o momento <strong>de</strong> dúvida quanto à ocorrência <strong>de</strong><br />
conseqüências in<strong>de</strong>sejáveis. O Princípio da Precaução tem origem no Partido Ver<strong>de</strong> alemão, na d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong><br />
1970 (GOUGH, 2003, p. 16)<br />
7
“Compreen<strong>de</strong>r on<strong>de</strong> vivemos <strong>é</strong> condição pr<strong>é</strong>via essencial para a melhoria do nosso habitat. (...) Se<br />
<strong>que</strong>remos <strong>que</strong> o nosso planeta seja importante, alguma coisa po<strong>de</strong>mos fazer por isso. Conferimos<br />
importância ao nosso mundo pela coragem <strong>de</strong> nossas perguntas e pela profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossas respostas.”<br />
(SAGAN, 1996, p. 227-228)<br />
1.2 Consi<strong>de</strong>rações Sobre a Motivação e Relevância do Trabalho<br />
O ato <strong>de</strong> planejar não <strong>é</strong> recente na mentalida<strong>de</strong> corporativa. Chandler (1998) aponta a<br />
emergência da gestão profissional, em contrapartida à gestão realizada pelos<br />
proprietários, por volta da d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong> 1850, como o início <strong>de</strong> um ciclo <strong>de</strong> mudanças<br />
fundamentais no processo <strong>de</strong>cisório das instituições. Por outro lado, segundo Bernstein<br />
(1997), o <strong>que</strong> distingue os milhares <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> história do <strong>que</strong> consi<strong>de</strong>ramos tempos<br />
mo<strong>de</strong>rnos não são apenas os fatores usualmente apontados, i.e., ciência, tecnologia,<br />
capitalismo e <strong>de</strong>mocracia. Apesar dos enormes progressos atuais, estes conceitos,<br />
segundo Bernstein (1997, p. 1), já estavam presentes, em maior e menor graus, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os<br />
primórdios da civilização. A gran<strong>de</strong> diferença está na compreensão <strong>de</strong> <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong><br />
mais do <strong>que</strong> um capricho dos <strong>de</strong>uses e <strong>de</strong> <strong>que</strong> homens e mulheres não são passivos ante<br />
a natureza. Esta <strong>é</strong> a id<strong>é</strong>ia revolucionária <strong>que</strong> <strong>de</strong>fine a fronteira entre os tempos<br />
mo<strong>de</strong>rnos e o passado – o domínio do risco. E este conhecimento, na forma <strong>de</strong><br />
ferramentas atualmente usadas na administração <strong>de</strong> risco e na análise <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e<br />
opções, resultam das evoluções ocorridas entre 1656 e 1760, com exceção da noção <strong>de</strong><br />
regressão à m<strong>é</strong>dia, <strong>que</strong> surgiu com Francis Galton em 1875 e da gestão <strong>de</strong> portfolio,<br />
introduzida em 1952 por Harry Markowitz.<br />
8
Este ambiente <strong>de</strong> profissionalização da gestão, em conjunto à evolução dos<br />
m<strong>é</strong>todos formais <strong>de</strong> suporte à <strong>de</strong>cisão constitui o panorama <strong>de</strong>ntro do se qual insere o<br />
escopo do presente trabalho.<br />
Levando em consi<strong>de</strong>ração o campo específico da gestão <strong>de</strong> tecnológica, não há<br />
uma consolidação das id<strong>é</strong>ias antes da d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong> 1960. James Bright (1998) apresenta<br />
um breve relato das origens da prospectiva tecnológica. Segundo Bright, um dos<br />
primeiros trabalhos realizados para previsão tecnológica data do início do S<strong>é</strong>culo XX,<br />
tendo S. Colum Gilfillan como seu autor. O primeiro esforço governamental para<br />
realizar alguma forma <strong>de</strong> prospectiva tecnológica foi <strong>feito</strong> por W. F. Ogburn, com<br />
patrocínio do Departamento do Interior norte-americano, em 1937. Segundo Bright<br />
(1998), um gran<strong>de</strong> marco ocorreu em 1944, quando Th<strong>eo</strong>dor Von Karman realizou um<br />
exercício <strong>de</strong> previsão para balizar o <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico da força-a<strong>é</strong>rea norte-<br />
americana no período <strong>de</strong> 1945-1965. Do lado acadêmico e industrial, os primeiros<br />
movimentos ocorreram em 1959, na Harvard Business School, sendo <strong>que</strong> o principal<br />
acontecimento foi o trabalho <strong>de</strong> Erich Jantsch, patrocinado e divulgado pela OECD 7 em<br />
1967. No final da d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong> 1960 foi publicado o primeiro livro norte-americano<br />
voltado para a t<strong>eo</strong>ria e prática da prospectiva tecnológica. Na Europa, um dos marcos<br />
iniciais <strong>é</strong> o trabalho <strong>de</strong> Gaston Berger, <strong>de</strong> 1957, aon<strong>de</strong> <strong>é</strong> introduzido o termo “La<br />
Prospectiva” com a criação do Centre d’Etu<strong>de</strong>s Prospectives, tamb<strong>é</strong>m em 1957. Esta<br />
linha encontrou seu marco conceitual posteriormente nos trabalhos <strong>de</strong> Michel Go<strong>de</strong>t, a<br />
partir da d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong> 1950 (BOUVIER, 2000).<br />
7 OCDE: Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. No original em francês OCDE:<br />
Organisation <strong>de</strong> coop<strong>é</strong>ration et <strong>de</strong> d<strong>é</strong>veloppement <strong>é</strong>conomi<strong>que</strong>s ; ou em inglês (segunda língua oficial da<br />
instituição) OECD: Organization for Economic Co-operation and Development.<br />
9
O processo <strong>de</strong> planejamento tecnológico e a análise <strong>de</strong> tecnologias emergentes e<br />
suas implicações <strong>é</strong> <strong>de</strong> suma importância para uma organização - países, institutos <strong>de</strong><br />
pesquisa, universida<strong>de</strong>s, empresas - (PORTER et al, 2004; BRIGHT, 1998), uma vez<br />
<strong>que</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas tecnologias <strong>é</strong> o motor do crescimento econômico<br />
(JONES, 2000). O crescimento econômico acontece em virtu<strong>de</strong> da criação <strong>de</strong> um<br />
mercado totalmente novo, resultado da introdução <strong>de</strong> um novo produto ou serviço. À<br />
empresa <strong>que</strong> origina esta ruptura tecno-econômica caberá o privil<strong>é</strong>gio da exclusivida<strong>de</strong><br />
durante um certo tempo, levando-a a ganhos extraordinários (SCHUMPETER, 1982), o<br />
<strong>que</strong> constitui, naturalmente, a construção <strong>de</strong> diferenciais competitivos.<br />
Segundo Martino a pergunta “Por <strong>que</strong> realizar uma prospectiva tecnológica?”<br />
traz a falsa implicação <strong>de</strong> <strong>que</strong> <strong>é</strong> possível não realizar a prospectiva. Qual<strong>que</strong>r indivíduo,<br />
organização ou nação <strong>que</strong> possa ser afetada pela mudança tecnológica inevitavelmente<br />
se envolve na realização da prospectiva tecnológica, para orientar as <strong>de</strong>cisões sobre<br />
alocação <strong>de</strong> recursos (1983, p. 4). Martino (1983, p. 4) aponta ainda nove razões para se<br />
realizar a prospectiva tecnológica:<br />
1. Maximizar o ganho advindo <strong>de</strong> eventos externos à organização;<br />
2. Maximizar o ganho advindo <strong>de</strong> eventos <strong>que</strong> resultam <strong>de</strong> ações tomadas pela<br />
organização;<br />
3. Minimizar a perda associada a eventos incontroláveis externos à organização;<br />
4. Compensar ações <strong>de</strong> organizações competidoras hostis;<br />
5. Projetar a <strong>de</strong>manda por produção e/ou controle <strong>de</strong> esto<strong>que</strong>;<br />
6. Projetar a <strong>de</strong>manda por unida<strong>de</strong>s fabris e planejamento <strong>de</strong> capital;<br />
7. Projetar a <strong>de</strong>manda para assegurar a mão-<strong>de</strong>-obra a<strong>de</strong>quada;<br />
10
8. Desenvolver planos administrativos e políticas internas para uma organização;<br />
9. Desenvolver políticas <strong>que</strong> afetam pessoas <strong>que</strong> não fazem parte da organização.<br />
Em suma, a prospectiva tecnológica tem por função central prover informações<br />
específicas para o tomador <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão ou elaborador <strong>de</strong> políticas realizar melhor o<br />
trabalho <strong>de</strong> planejamento tecnológico.<br />
A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suportar a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões em <strong>que</strong> se baseiam as<br />
estrat<strong>é</strong>gias <strong>de</strong> longo prazo <strong>é</strong> <strong>de</strong> particular importância quando levada em consi<strong>de</strong>ração a<br />
conclusão da pesquisa <strong>de</strong> Colins e Porras, <strong>que</strong> buscou i<strong>de</strong>ntificar características <strong>que</strong><br />
fazem das empresas visionárias vencedoras. Dentre as características levantadas está a<br />
pr<strong>eo</strong>cupação com o longo prazo, on<strong>de</strong> os autores comentam <strong>que</strong> “as empresas<br />
visionárias normalmente investem, criam e gerenciam tendo em vista o longo prazo” <strong>de</strong><br />
forma mais consistente <strong>que</strong> as empresas <strong>de</strong> comparação do estudo (1995, p. 276).<br />
Dentre as muitas formas <strong>de</strong> planejamento tecnológico, <strong>de</strong>stacam-se,<br />
notadamente no âmbito governamental, a<strong>que</strong>las suportadas pelos exercícios <strong>de</strong><br />
prospectiva. Nos últimos anos<br />
“a aplicação <strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnicas prospectivas à formulação <strong>de</strong> estrat<strong>é</strong>gias e <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s tem crescido<br />
drasticamente (...). Praticamente todas as nações da OCDE realizam um exercício prospectivo <strong>de</strong> âmbito<br />
nacional, regional ou setorial, e, muitas vezes, foi realizada uma s<strong>é</strong>ria <strong>de</strong> tais exercícios”<br />
(JOHNSTON, 2001)<br />
Entretanto, a construção do planejamento tecnológico <strong>é</strong> um processo muito<br />
difícil, principalmente por causa das incertezas tecnológicas. No intuito <strong>de</strong> minimizar as<br />
11
incertezas, <strong>de</strong>senvolveram-se diversas formas <strong>de</strong> realizar o planejamento tecnológico,<br />
<strong>de</strong>ntre elas o “Roadmap Tecnológico” (PHAAL, FARRUKH, PROBERT, 2004), cuja<br />
fase inicial – construção <strong>de</strong> cenário <strong>de</strong>scritivo – <strong>é</strong> objeto do presente trabalho. Uma<br />
<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Roadmap apresentada por estes autores <strong>é</strong>:<br />
“Technology roadmapping is a flexible techni<strong>que</strong> that is wi<strong>de</strong>ly used within industry to support strategic<br />
and long-range planning. The approach provi<strong>de</strong>s a structured (and often graphical) means for exploring<br />
and communicating the relationships between evolving and <strong>de</strong>veloping markets, products and technologies<br />
over time. It is proposed that the roadmapping techni<strong>que</strong> can help companies survive in turbulent<br />
environments by providing a focus for scanning the environment and a means of tracking the performance<br />
of individual, including potentially disruptive, technologies. Technology roadmaps are <strong>de</strong>ceptively simple<br />
in terms of format, but their <strong>de</strong>velopment poses significant challenges. In particular the scope is generally<br />
broad, covering a number of complex conceptual and human interactions.”<br />
(PHAAL, FARRUKH, PROBERT, 2004)<br />
De certa forma, a ferramenta Roadmap po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrita como o mapa <strong>de</strong><br />
capacitação tecnológica da organização. Neste mapa constam os anseios da organização<br />
como um fim, e os meios pelos quais este fim será atingido. O Cenário Normativo (CN)<br />
<strong>é</strong> a verbalização dos anseios <strong>de</strong> uma organização para um <strong>de</strong>terminado instante <strong>futuro</strong>,<br />
i.e.,<br />
“normative scenarios represent <strong>de</strong>sirable future worlds. They employ credible cause, effect and<br />
feedback relationships to project a move from the present to a <strong>de</strong>sirable future”<br />
(GLENN, GORDON, 1999).<br />
O CN <strong>é</strong> construído com base em um Cenário Descrito (CD), nas Demandas<br />
Sociais da organização e nos Valores da Organização. Do CN <strong>de</strong>rivam-se as Ações<br />
12
Estrat<strong>é</strong>gicas (AE), <strong>que</strong> são as vias <strong>de</strong> consecução da Visão (Figura 1.2). O Cenário<br />
Descritivo (CD) mostra as opções disponíveis no instante <strong>futuro</strong> escolhido. As<br />
Demandas Sociais da organização representam o <strong>que</strong> se busca. Os Valores da<br />
Organização <strong>de</strong>terminam as condições <strong>de</strong> contorno do <strong>futuro</strong> <strong>de</strong>sejado. O objeto <strong>de</strong><br />
estudo do presente trabalho <strong>é</strong> o CD. O CD po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido como a<strong>que</strong>le <strong>que</strong> fornece<br />
uma fotografia do <strong>futuro</strong> em um <strong>de</strong>terminado momento.<br />
Existem, <strong>de</strong>ntro da linha <strong>de</strong> pesquisa em Estudos do Futuro e Prospectiva,<br />
diversas formas <strong>de</strong> se construir uma visão futura, conforme <strong>é</strong> apresentado na Seção 2.1.<br />
No presente trabalho, a abordagem utilizada <strong>é</strong> a construção <strong>de</strong> um cenário <strong>que</strong><br />
representa o <strong>futuro</strong> como o resultado da solução <strong>de</strong> compromisso entre os atores sociais,<br />
sendo <strong>que</strong> no caso do Futuro Tecnológico em ambientes regulamentados, o resultado da<br />
barganha entre a socieda<strong>de</strong> e seus anseios, mediada pelo governo, e o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da tecnologia em si.<br />
O planejamento tecnológico relaciona o processo <strong>de</strong> mudança t<strong>é</strong>cnica ao plano<br />
estrat<strong>é</strong>gico da organização, sendo assim <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para o sucesso <strong>futuro</strong><br />
<strong>de</strong>sta (PORTER et al., 1991). Diante disto, as companhias começam a perceber <strong>que</strong> a<br />
tecnologia <strong>é</strong> um patrimônio da corporação <strong>que</strong> <strong>de</strong>ve ser gerenciado da mesma forma <strong>que</strong><br />
os pr<strong>é</strong>dios e construções, as pessoas e o dinheiro (MILLET, HONTON, 1991). Algumas<br />
das principais missões da prospectiva tecnológica são fornecer informações para o<br />
processo <strong>de</strong> gestão do planejamento tecnológico, dar uma perspectiva da dinâmica da<br />
mudança t<strong>é</strong>cnica (PORTER et al., 1991) e ainda “propiciar um meio pelo qual <strong>é</strong><br />
possível fazer opções relativas à ciência e tecnologia e <strong>que</strong> permita a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong><br />
priorida<strong>de</strong>s” (JOHNSTON, 2001).<br />
13
Cenário<br />
Descritivo<br />
Demandas<br />
Sociais<br />
Internas<br />
Valores da<br />
Organização<br />
Figura 1.2: Mo<strong>de</strong>lo conceitual <strong>de</strong> “Roadmap Tecnológico” (adaptado DE<br />
PHAAL, FARRUKH, PROBERT, 2004; VOROS, 2003; GORDON, 1999)<br />
A valida<strong>de</strong> do framework apresentado aqui <strong>é</strong> dada por duas características dos<br />
mercados tecnológicos regulamentados, advindas dos Estudos da Ciência e da<br />
Tecnologia: em primeiro lugar, tem-se um entendimento <strong>de</strong> como evolui a ciência e<br />
tecnologia, principalmente com base no estudo dos paradigmas <strong>de</strong> Thomas Kuhn; em<br />
segundo lugar tem-se o conceito <strong>de</strong> “Big-Science”, on<strong>de</strong> há um <strong>de</strong>senvolvimento<br />
científico e tecnológico <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s montantes financeiros.<br />
Quanto ao uso <strong>de</strong> uma t<strong>é</strong>cnica qualitativa para prospectiva tecnológica, van <strong>de</strong>r<br />
Duin (2004), aponta <strong>que</strong> este tipo <strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnica, <strong>de</strong>ntro do contexto <strong>de</strong> processo <strong>de</strong><br />
inovação da empresas <strong>é</strong> <strong>de</strong>safiador e frutífero.<br />
Cenário Normativo<br />
Ações<br />
Estrat<strong>é</strong>gicas<br />
O presente trabalho está divido em sete capítulos, sendo o primeiro a introdução<br />
e o s<strong>é</strong>timo a conclusão. O Capítulo 2 expõe a fundamentação teórica do trabalho. Em<br />
primeiro lugar <strong>é</strong> feita uma revisão bibliográfica dos temas <strong>de</strong> Estudos do Futuro -<br />
prospectiva tecnológica -, concluindo com uma <strong>de</strong>finição proposta para o termo. Em<br />
14
seguida <strong>é</strong> apresentada uma visão da natureza da C&T pela óptica da filosofia e<br />
sociologia e da análise da relação ciência-tecnologia-socieda<strong>de</strong>-governo. Estes temas<br />
são fundamentais para a construção do Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> Futuro proposto por este<br />
trabalho. O Capítulo 3 trata do Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> Futuro (MTF), on<strong>de</strong> <strong>é</strong> <strong>de</strong>scrita e<br />
justificada a forma <strong>de</strong> elaborar uma visão <strong>de</strong> <strong>futuro</strong> com base nos fundamentos teóricos<br />
<strong>de</strong>scritos no Capítulo 2. O Capítulo 4 traz um m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica<br />
baseada no MTF apresentado no Capítulo 4. O Capítulo 5 traz uma aplicação da<br />
ferramenta <strong>de</strong> prospectiva tecnológica apresentada no Capítulo 4. Esta aplicação busca<br />
mostrar a utilização do mo<strong>de</strong>lo, bem como sua praticida<strong>de</strong> e viabilida<strong>de</strong>. O tema<br />
utilizado para <strong>de</strong>senvolvimento <strong>é</strong> Aeroespaço, com foco no segmento <strong>de</strong> Large<br />
Commercial Aircraft (LCA). Por fim, o Capítulo 6 realiza uma análise do exercício <strong>de</strong><br />
aplicação do m<strong>é</strong>todo proposto no Capítulo 5.<br />
15
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA<br />
Ao se falar <strong>de</strong> <strong>futuro</strong> e <strong>de</strong> ciência e tecnologia (C&T) duas linhas <strong>de</strong> pensamento<br />
divergentes vêm à tona: 1. Determinismo Tecnológico: a socieda<strong>de</strong> do <strong>futuro</strong> será<br />
moldada pelo <strong>de</strong>senvolvimento científico-tecnológico; 2. Construção Social da C&T:<br />
forma <strong>de</strong> relativismo epistêmico 8 , on<strong>de</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento da C&T <strong>é</strong> <strong>feito</strong> <strong>de</strong> acordo<br />
com processos sociais <strong>que</strong> ocorrem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta instituição. No presente trabalho, a<br />
posição buscada <strong>é</strong> uma posição <strong>de</strong> equilíbrio. Conforme mencionado na Introdução,<br />
enten<strong>de</strong>-se o <strong>futuro</strong> como o resultado do trad<strong>eo</strong>ff entre os diversos atores sociais – sendo<br />
a instituição C&T entendida como um <strong>de</strong>stes atores. No caso do Futuro Tecnológico em<br />
ambientes regulamentados, o <strong>que</strong> emerge <strong>é</strong> o resultado da barganha entre a socieda<strong>de</strong> e<br />
seus anseios, mediada pelo governo e mídia, e o <strong>de</strong>senvolvimento da C&T em si.<br />
Esta posição <strong>de</strong> equilíbrio, nem apelando para o <strong>de</strong>terminismo tecnológico, nem<br />
pen<strong>de</strong>ndo para o relativismo epistêmico, <strong>é</strong> apontada por Castells (1999, p. 25), quando<br />
este diz <strong>que</strong>:<br />
“É claro <strong>que</strong> a tecnologia não <strong>de</strong>termina a socieda<strong>de</strong>. Nem a socieda<strong>de</strong> escreve o curso da<br />
transformação tecnológica, uma vez <strong>que</strong> muitos fatores, inclusive criativida<strong>de</strong> e iniciativa<br />
empreen<strong>de</strong>dora, intervêm no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta científica, inovação tecnológica e aplicações<br />
sociais, <strong>de</strong> forma <strong>que</strong> o resultado final <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> um complexo padrão interativo. Na verda<strong>de</strong>, o dilema<br />
do <strong>de</strong>terminismo tecnológico <strong>é</strong>, provavelmente, um problema infundado, dado <strong>que</strong> a tecnologia <strong>é</strong> a<br />
socieda<strong>de</strong>, e a socieda<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas”.<br />
8 Na proposta do Relativismo Epistêmico a ciência não <strong>é</strong> feita <strong>de</strong> forma objetiva, com um conjunto<br />
normativo <strong>de</strong> padrões metodológicos atemporais. A realização da ciência acontece <strong>de</strong> forma<br />
internamente condicionada por fatores sociais, i.e., os valores <strong>que</strong> <strong>de</strong>terminam os resultados não são<br />
apenas cognitivos e epistemológicos, mas tamb<strong>é</strong>m sociais e morais, não estáticos no tempo. O mesmo<br />
po<strong>de</strong> ser aplicado ao padrões metodológicos, pois estes são <strong>que</strong>stionados e sofrem mudanças com o<br />
passar do tempo.<br />
16
Esta linha <strong>de</strong> argumentação <strong>é</strong> largamente baseada em dois campos <strong>de</strong> estudo:<br />
Estudos do Futuro e Prospectiva Tecnológica; e a Análise da Relação Ciência,<br />
Tecnologia & Socieda<strong>de</strong>.<br />
Neste capítulo são discutidos estes dois pilares teóricos. Pelo lado dos Estudos<br />
do Futuro e Prospectiva Tecnológica emergem o edifício conceitual e o framework <strong>de</strong><br />
trabalho aon<strong>de</strong> se insere o mo<strong>de</strong>lo proposto. Já a Análise da Relação Ciência,<br />
Tecnologia & Socieda<strong>de</strong> dá o embasamento às premissas adotadas pelo mo<strong>de</strong>lo<br />
proposto.<br />
2.1 Planejando Para o Amanhã: os Estudos do Futuro e a Prospectiva<br />
Tecnológica<br />
Pensar sobre o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> uma ativida<strong>de</strong> permanente do homem e sempre fez parte da<br />
história humana. Apesar disto, o campo <strong>de</strong> Estudos do Futuro emergiu apenas nos<br />
últimos quarenta anos (MASINI, 1993). Dentro <strong>de</strong>ste campo <strong>de</strong> estudo surgiram<br />
diversos m<strong>é</strong>todos, sendo <strong>que</strong> no presente trabalho, o <strong>de</strong> interesse chama-se Prospectiva<br />
Tecnológica.<br />
2.1.1 Prospectiva Tecnológica<br />
Conforme comentado em nota na Introdução, o presente trabalho enten<strong>de</strong> por<br />
Prospectiva um guarda-chuva conceitual <strong>que</strong> abrange tanto o escopo tradicionalmente<br />
coberto pelo forecasting quanto pelo foresight. A literatura apresenta as diferenças entre<br />
estas duas abordagens na forma da Tabela 2.1.<br />
17
Tabela 2.1: Diferenças entre Forecasting e Foresight (adaptado <strong>de</strong> RUTTEN,<br />
VERKAIK, DE WILT, 1999)<br />
Forecasting Foresight<br />
Foco<br />
Propósito<br />
• Tendências<br />
• Probabilida<strong>de</strong>s<br />
• Antecipar um (mais)<br />
provável <strong>futuro</strong> em termos<br />
<strong>de</strong> adaptação política.<br />
• Facilitar o “policymaking”<br />
atrav<strong>é</strong>s da<br />
redução das incertezas.<br />
• Tendências<br />
• Contra-movimentos<br />
• Descontinuida<strong>de</strong>s<br />
• Incertezas<br />
• Antecipar potenciais <strong>futuro</strong>s<br />
em termos <strong>de</strong> inovações bemconsi<strong>de</strong>radas.<br />
• Explorar incertezas e<br />
estrat<strong>é</strong>gias alternativas.<br />
Apesar <strong>de</strong>stas diferenças, as características apontadas por diversos autores<br />
tanto para pelo forecasting quanto pelo foresight pouco ou nada divergem, <strong>de</strong> forma <strong>que</strong><br />
serão tratadas <strong>de</strong> forma indistinta no presente trabalho.<br />
Coates et al. (2001) tamb<strong>é</strong>m utilizam um único termo (“technological<br />
forecasting”) para “all purposefull and systematic attempts to antecipate the potential<br />
direction, rate, characteristics, and efects of technological change, especially invention,<br />
innovation, adoption, and use”, sem fazer distinção entre “forecasting” ou “foresight”.<br />
Na realida<strong>de</strong>, as t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> forecasting - entendido <strong>de</strong> uma maneira mais<br />
geral - não se resumem a estas duas citadas. Existem muitas outras – e.g. análise<br />
morfológica, árvores <strong>de</strong> relevância, Delphi, análise <strong>de</strong> tendência – <strong>que</strong> acabam, da<br />
mesma forma, por sobrepor-se (PORTER et al., 2004).<br />
A id<strong>é</strong>ia <strong>de</strong> um guarda-chuva conceitual para as t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> estudos do <strong>futuro</strong>,<br />
chamado <strong>de</strong> TFA (Technological Futures Analysis) <strong>é</strong> <strong>de</strong>fendida por Porter et al. (2004).<br />
Este grupo apresenta ainda um framework para este guarda-chuva conceitual (Figura<br />
2.1).<br />
18
Figura 2.1: Framework para as TFA (adaptado <strong>de</strong> PORTER et al., 2004)<br />
Uma outra excelente referência para <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> estudos do <strong>futuro</strong> e<br />
prospectiva <strong>é</strong> dada por El<strong>eo</strong>nora Masini (1993). Dentre as <strong>de</strong>finições trazidas pela<br />
autora <strong>de</strong>staca-se a <strong>de</strong> McHale & Cor<strong>de</strong>ll McHale, <strong>que</strong> diz <strong>que</strong> “futures studies are a<br />
discipline that inclu<strong>de</strong>s all forms of looking into the future, from trend extrapolation to<br />
utopia” (MCHALE, CORDELL MCHALE, 1976 apud MASINI, 1993, p. 15). Outra<br />
<strong>de</strong>finição importante trazida por Masini <strong>é</strong> <strong>de</strong> Jantsch, on<strong>de</strong> forecasting <strong>é</strong> entendido<br />
como uma afirmação probabilística, relativamente científica, sobre escolhas e<br />
conseqüências <strong>de</strong> problemas relacionados ao <strong>futuro</strong> (JANTSCH, 1967). Entretanto, a<br />
<strong>que</strong>stão da cientificida<strong>de</strong> dos estudos do <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> um ponto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>bate (MASINI,<br />
1993, p. 15).<br />
Questões & Interesses para<br />
Política (Policy) Pública /<br />
Empresarial<br />
(Direcionadores das TFA)<br />
Elaboradores <strong>de</strong> Políticas<br />
(Policy makers) ou<br />
Tomadores <strong>de</strong> Decisão<br />
(Decision makers)<br />
Estudos<br />
<strong>de</strong> TFA<br />
(Clientes das TFA)<br />
Saídas<br />
•Achados<br />
•Recomendações<br />
•Insights<br />
•Experiências<br />
•Legados<br />
Decisões ou Ações<br />
Políticas (Policy) &<br />
Saídas<br />
(Impactos das TFA)<br />
Aplicações<br />
•Estado <strong>de</strong> Alerta<br />
•Tomada <strong>de</strong> Decisão<br />
•Desenvolvimento <strong>de</strong> Políticas (Policy)<br />
•Construção <strong>de</strong> Consenso<br />
•Troca <strong>de</strong> Informação & Networking<br />
•Educação<br />
Outros Interessados<br />
(stakehol<strong>de</strong>rs)<br />
(Atores da TFA)<br />
19
Há ainda as <strong>de</strong>finições dadas por Joseph Martino, <strong>que</strong> diz <strong>que</strong> prospectiva<br />
tecnológica po<strong>de</strong> ser entendida como “a prediction of the future caracteristics of useful<br />
machine, procedures or techni<strong>que</strong>s” (1983, p. 2) e a <strong>de</strong>finição dada por Willian Ascher<br />
<strong>que</strong> enten<strong>de</strong> a prospectiva tecnológica como “the effort to project technological<br />
capabilities and to predict the invention and spread of technology innovation” (1978<br />
apud MILLET, HONTON, 1991, p. 2).<br />
Pelo lado do foresight tem-se o comentário <strong>de</strong> Zackiewicz e Salles-Filho, <strong>que</strong><br />
dizem <strong>que</strong> “o foresight nos prepara para as oportunida<strong>de</strong>s futuras” (2001). Coates<br />
(1985) <strong>de</strong>fine foresight como um processo pelo qual po<strong>de</strong>-se chegar a um entendimento<br />
mais completo das forças <strong>que</strong> moldam o <strong>futuro</strong> a longo-prazo e <strong>que</strong> <strong>de</strong>vem ser levadas<br />
em consi<strong>de</strong>ração na formulação <strong>de</strong> políticas, planejamento e tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão. Dentro<br />
do intuito <strong>de</strong>ste trabalho, todas estas <strong>de</strong>finições são apropriadas, sendo complementares<br />
entre si.<br />
Ainda no campo das <strong>de</strong>finições, Masini apresenta o termo <strong>que</strong>, em sua versão<br />
em português, <strong>é</strong> adotado pelo presente trabalho. Segundo Masini (1993, p. 15) o termo<br />
“prospectiva” vem do francês prospective, e foi utilizado pela primeira vez por Gaston<br />
Berger, na d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong> 1950. Este termo, mais recentemente, foi <strong>de</strong>finido por Michael<br />
Go<strong>de</strong>t como uma abordagem melhor e mais nova <strong>que</strong> forecasting. Segundo Go<strong>de</strong>t<br />
(1982),<br />
“Although Prospective is not well known in Anglo-Saxon forecasting literature, it has been for many<br />
years used in France…The main characteristics of 'La Prospective' are that it does not look at the future<br />
as a continuation of the past but rather as the outcome of the wishes various actors and the constraints<br />
20
imposed on them by the environment. Its purpose is to assist in creating alternative futures and then to<br />
select some alternative that allows for maximum freedom of action.”<br />
Ainda <strong>de</strong> acordo com este autor, a prospectiva po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como<br />
“emerging from the <strong>de</strong>terministic influence of the past and the present, on the one hand, and the choices,<br />
will, action of the present, on the other” (GODET, 1979 apud MASINI, 1993, p. 15).<br />
A visão <strong>de</strong> <strong>futuro</strong> consi<strong>de</strong>rada na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> prospectiva <strong>de</strong> Go<strong>de</strong>t <strong>é</strong><br />
particularmente afim ao entendimento <strong>de</strong>ste trabalho, uma vez <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong>, para o<br />
referido autor, <strong>é</strong> entendido como o resultado dos <strong>de</strong>sejos dos atores e as restrições a<br />
consecução <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>sejos.<br />
Por fim, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Prospectiva Tecnológica construída e adotada pelo<br />
presente trabalho <strong>é</strong>: Prospectiva Tecnológica <strong>é</strong> tanto um processo <strong>que</strong> olha para o <strong>futuro</strong><br />
quanto os resultados obtidos <strong>de</strong>sse processo, antecipando, projetando ou prevendo<br />
capacida<strong>de</strong>s, aplicações e funcionalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> máquinas, processos e t<strong>é</strong>cnicas. O<br />
processo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica <strong>de</strong>ve buscar um entendimento das forças <strong>que</strong><br />
moldarão a convergência entre os <strong>futuro</strong>s possíveis, plausíveis, prováveis e <strong>de</strong>sejáveis,<br />
integrando consi<strong>de</strong>rações t<strong>é</strong>cnicas e não-t<strong>é</strong>cnicas. Deve-se assim buscar uma afirmação<br />
<strong>de</strong> cunho probabilístico <strong>que</strong> diminua as incertezas e aumente o nível <strong>de</strong> informação a<br />
respeito do <strong>futuro</strong>. Seus resultados, expressos em números ou palavras, são apresentados<br />
<strong>de</strong> maneira <strong>que</strong> sejam úteis aos tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e elaboradores <strong>de</strong> políticas,<br />
aumentado assim seu estado <strong>de</strong> atenção em relação a oportunida<strong>de</strong>s e ameaças futuras.<br />
21
Quanto à diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnicas utilizadas na prospectiva tecnológica,<br />
existem agrupamentos conceituais os mais diversos. As t<strong>é</strong>cnicas po<strong>de</strong>m ser agrupadas<br />
<strong>de</strong> diferentes formas, a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do autor. Millet e Honton juntam as t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
três grupos: 1. Trend Analysis; 2. Expert Judgment; 3. Multi-Option Analysis (1991, p.<br />
viii). Porter et al. utilizam-se <strong>de</strong> cinco grupos, a saber: 1. Monitoring; 2. Expert<br />
Opinion; 3.Trend Analysis; 4. Mo<strong>de</strong>ling; 5. Scenarios (1991, p. 94-97). O think tank<br />
“Technology Futures, Inc.” tamb<strong>é</strong>m se utiliza <strong>de</strong> cinco clusters, sendo estes: 1.<br />
Extrapolators; 2. Pattern Analysts; 3. Goal Analysts; 4. Counter Punchers; 5. Intuitors<br />
(VANSTON, 2003). Esta divisão apresentada pelo “Technology Futures, Inc.” <strong>é</strong> a mais<br />
interessante, pois baseia-se na forma como as pessoas vêem o <strong>futuro</strong> (VANSTON,<br />
2003). Esta <strong>é</strong> uma característica particularmente importante, pois a comunicação dos<br />
resultados <strong>é</strong> <strong>de</strong> suma importância para o sucesso do processo <strong>de</strong> prospectiva (MILLET,<br />
HONTON, 1991; PORTER et al., 1991; CETRON, 1969). Por causa <strong>de</strong>sta<br />
característica, esta <strong>é</strong> a forma utilizada neste trabalho para apresentar, e agrupar, as<br />
t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> prospectiva (Figura 2.2 e Tabela 2.2).<br />
Segundo uma pesquisa realizada por Richard Mignogna (2004), as t<strong>é</strong>cnicas<br />
baseadas na opinião <strong>de</strong> especialistas são as mais empregadas, seguidas pelos Cenários e<br />
pela Análise <strong>de</strong> Patentes.<br />
22
Extrapolators<br />
•Análise <strong>de</strong><br />
Tendência<br />
Tecnológica<br />
•Análise Fisher-Pry<br />
•Análise Gompertz<br />
•Análise <strong>de</strong> Limite<br />
<strong>de</strong> Crescimento<br />
•Curva <strong>de</strong><br />
Aprendizado<br />
Pattern<br />
Analysts<br />
•Análise por<br />
Analogia<br />
•Análise <strong>de</strong><br />
Tendência<br />
Precursora<br />
•Matriz Morfológica<br />
•Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />
Feedback<br />
Questão<br />
Futura<br />
(problema / oportunida<strong>de</strong>)<br />
Negócio, Mercado,<br />
Estrat<strong>é</strong>gica,<br />
Tecnologia<br />
CINCO VISÕES DE FUTURO<br />
Goal Analysts<br />
•Análise <strong>de</strong><br />
Impacto<br />
•Análise <strong>de</strong><br />
Conteúdo<br />
•Análise <strong>de</strong><br />
Stakehol<strong>de</strong>r<br />
•Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />
Patentes<br />
•Roadmaps<br />
•Ca<strong>de</strong>ias<br />
<strong>de</strong> Valor<br />
Counter<br />
Punchers<br />
•Esquadrinhar,<br />
Monitorar e<br />
Rastrear<br />
•Cenários<br />
•Mapeamento <strong>de</strong><br />
Terreno<br />
•Árvores <strong>de</strong><br />
Decisão<br />
•Jogos<br />
Estrat<strong>é</strong>gicos<br />
Intuitors<br />
•Pesquisa Delphi<br />
•Conferências <strong>de</strong><br />
Grupos Nominais<br />
•Entrevistas<br />
Estruturadas e<br />
Não-Estruturadas<br />
•Análise do<br />
Competidor<br />
Quantitativo Qualitativo<br />
Figura 2.2: Agrupamento das t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> Prospectiva (adaptado <strong>de</strong> VANSTON, 2003)<br />
23
Tabela 2.2: Características das t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> prospectiva (adaptado <strong>de</strong> VANSTON, 2003)<br />
a.<br />
Extrapoladores<br />
(Extrapolators )<br />
b. Analistas <strong>de</strong><br />
Padrões (Pattern<br />
Analysts )<br />
c. Analsitas <strong>de</strong><br />
Resultados (Goal<br />
Analysts )<br />
d. C<strong>é</strong>ticos /<br />
Reativos<br />
(Counter<br />
Punchers )<br />
e. Intuitivos<br />
(Intuitors )<br />
Premissas T<strong>é</strong>cnicas<br />
Análise <strong>de</strong> Tendência<br />
Acredita <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong> representa uma extensão lógica do<br />
Tecnológica; Análise Fisher-Pry;<br />
passado. Gran<strong>de</strong>s e inexoráveis forças irão direcionar o <strong>futuro</strong><br />
Análise Gompertz; Análise <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> forma contínua e razoavelmente previsível. A melhor maneira<br />
Limite <strong>de</strong> Crescimento; Curva <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> explorar o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> i<strong>de</strong>ntificando as tendências passadas e<br />
Aprendizado<br />
extrapolando-as <strong>de</strong> forma racional e lógica.<br />
Acredita <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong> irá refletir a replicação <strong>de</strong> eventos<br />
passados. Fortes mecanismos <strong>de</strong> feedback na socieda<strong>de</strong>, junto<br />
com motivações humanas básicas, vão causar futuras tendências<br />
e eventos a ocorrerem <strong>de</strong> ciclos i<strong>de</strong>ntificaveis e padrões<br />
previsíveis. Assim, a melhor forma <strong>de</strong> explorar o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong><br />
i<strong>de</strong>ntificar e analisar situações análogas do passado e relacionar<br />
estas com <strong>futuro</strong>s prováveis.<br />
Acredita <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong> será <strong>de</strong>terminado pelas crenças e ações <strong>de</strong><br />
vário indivíduos, organizações e instituições. Assim sendo, o<br />
<strong>futuro</strong> <strong>é</strong> susceptível a modificações e mudanças <strong>de</strong>stas<br />
entida<strong>de</strong>s. Desta forma, o <strong>futuro</strong> po<strong>de</strong> ser projetado atrav<strong>é</strong>s do<br />
exame do estado e das metas <strong>de</strong> vários <strong>de</strong>cision-makers e<br />
formadores <strong>de</strong> tendências, atrav<strong>é</strong>s da avaliação da extensão <strong>de</strong><br />
quanto cada po<strong>de</strong> afetar futuras tendências e eventos e<br />
avaliando os resultados <strong>de</strong> longo prazo <strong>de</strong>stas ações.<br />
Acredita <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong> irá resultar <strong>de</strong> uma s<strong>é</strong>rie <strong>de</strong> eventos e<br />
ações <strong>que</strong> são essencialmente imprevisíveis e mesmo aleatórias.<br />
Assim sendo, a melhor forma <strong>de</strong> lidar com o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong><br />
i<strong>de</strong>ntificando uma larga quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> possíveis tendências e<br />
eventos, cuidadosamente monitorando <strong>de</strong>senvolvimentos nos<br />
ambientes t<strong>é</strong>cnicos e sociais e mantendo uma alta flexibilida<strong>de</strong><br />
no processo <strong>de</strong> planejamento.<br />
Acredita <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong> será formado por uma mistura complexa<br />
<strong>de</strong> tendências inexoráveis, eventos aleatórios e ações <strong>de</strong><br />
indivíduos e instituições. Por causa da complexida<strong>de</strong>, não há<br />
t<strong>é</strong>cnica racional <strong>que</strong> possa ser usada para prospectar o <strong>futuro</strong>.<br />
Desta forma o melhor m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> projetar tendências e eventos<br />
<strong>futuro</strong>s <strong>é</strong> reunir tanta informação quanto possível e então<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do processamento subconsciente da informação pelo<br />
c<strong>é</strong>rebro e das intuições pessoais para fornecer insights úteis.<br />
Análise por Analogia; Análise <strong>de</strong><br />
Tendência Precursora; Matriz<br />
Morfológica; Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />
Feedback<br />
Análise <strong>de</strong> Impacto; Análise <strong>de</strong><br />
Conteúdo; Análise <strong>de</strong><br />
Stakehol<strong>de</strong>r; Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />
Patentes; Roadmaps; Ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong><br />
Valor<br />
Esquadrinhar, Monitorar e<br />
Rastrear; Cenários; Mapeamento<br />
<strong>de</strong> Terreno; Árvores <strong>de</strong> Decisão;<br />
Jogos Estrat<strong>é</strong>gicos<br />
Pesquisa Delphi; Conferências<br />
<strong>de</strong> Grupos Nominais; Entrevistas<br />
Estruturadas e Não-<br />
Estruturadas; Análise do<br />
Competidor<br />
24
2.2 Aspectos da Natureza da Ciência e Tecnologia<br />
2.2.1 A Comunida<strong>de</strong> Científica e a Estrutura das Revoluções Científicas<br />
A discussão sobre a natureza do <strong>de</strong>senvolvimento da Ciência e da Tecnologia <strong>é</strong> tratada<br />
em diversas escolas <strong>de</strong> pensamento, com enfo<strong>que</strong>s distintos, e em muitos casos,<br />
claramente divergentes. Duas formas clássicas <strong>de</strong> atacar o problema são as t<strong>eo</strong>rias da<br />
confirmação (DUTRA, 1998), com <strong>de</strong>sta<strong>que</strong> para as teses <strong>de</strong> Carnap (verificabilida<strong>de</strong>) e<br />
Popper (falseabilida<strong>de</strong>), e as t<strong>eo</strong>rias do progresso. Estas últimas trabalham o problema<br />
da continuida<strong>de</strong> e acúmulo <strong>de</strong> conhecimento e vêem o fazer científico como processo <strong>de</strong><br />
mudança.<br />
Entre as escolas mais recentes surgem as t<strong>eo</strong>rias da explicação, atrav<strong>é</strong>s,<br />
principalmente, <strong>de</strong> três mo<strong>de</strong>los: o nomológico-<strong>de</strong>dutivo, <strong>de</strong> Hempel, o da relevância<br />
estatística, <strong>de</strong> Salmon, e o pragmático, <strong>de</strong> Bas van Fraassen. Uma outra clivagem po<strong>de</strong><br />
ser feita em relação à <strong>que</strong>stão do realismo científico. As duas posições, a favor e contra,<br />
são dadas por Richard Boyd e por van Fraassen. O primeiro representando a posição<br />
<strong>que</strong> a filosofia analítica anglo-saxônica hoje chama <strong>de</strong> realismo científico; o outro, a do<br />
grupo anti-realista (DUTRA, 1998).<br />
Uma outra forma <strong>de</strong> analisar as t<strong>eo</strong>rias da ciência <strong>é</strong> dividindo as escolas entre<br />
<strong>de</strong>scritiva e normativa. As escolas normativas, como a <strong>de</strong> Popper, pr<strong>eo</strong>cupam-se em<br />
recomendar nortes metodológicos para a condução da pesquisa científica. As escolas<br />
<strong>de</strong>scritivas, como a <strong>de</strong> Kuhn, procuram mostrar, com base na historiografia, como a<br />
ciência <strong>é</strong> <strong>de</strong> fato produzida (OLIVA, 2003).<br />
25
No presente trabalho, a escola adotada como marco <strong>de</strong> referência <strong>é</strong> uma das<br />
t<strong>eo</strong>rias <strong>de</strong> progresso/<strong>de</strong>scritiva. Trata-se da t<strong>eo</strong>ria das revoluções científicas, elaborada<br />
pelo físico Thomas Kuhn. Esta t<strong>eo</strong>ria foi elaborada por Kuhn e exposta pela primeira<br />
vez em seu livro <strong>de</strong> 1962 “A Estrutura das Revoluções Científicas” (KUHN, 2000). As<br />
premissas do MTF aqui apresentado têm aí um <strong>de</strong> seus mais importantes nortes teóricos.<br />
Kuhn vê o progresso da Ciência não tanto como o acúmulo gradativo <strong>de</strong> novos<br />
tipos <strong>de</strong> conhecimento, e sim como um processo contraditório marcado pelas<br />
revoluções do pensamento científico. Tais revoluções são <strong>de</strong>finidas como o momento<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>sintegração do tradicional numa disciplina, forçando a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
profissionais a ela ligados a reformular o conjunto <strong>de</strong> compromissos em <strong>que</strong> se baseia a<br />
prática <strong>de</strong>ssa ciência.<br />
De uma forma geral, o argumento <strong>de</strong> Kuhn trata dos paradigmas da ciência e sua<br />
influência no <strong>de</strong>senvolvimento do conhecimento científico. Quando as evidências<br />
empíricas não conseguem mais se encaixar <strong>de</strong>ntro dos paradigmas vigentes, acontecem<br />
as anomalias <strong>que</strong> vão forçar a criação <strong>de</strong> novos paradigmas. O entendimento <strong>de</strong>stes<br />
paradigmas parte do conceito <strong>de</strong> <strong>que</strong> “paradigmas são as realizações científicas<br />
universalmente conhecidas, <strong>que</strong>, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções<br />
mo<strong>de</strong>lares para uma comunida<strong>de</strong> praticante <strong>de</strong> uma ciência” (KUHN, 2000, p. 13). Ou,<br />
<strong>de</strong> outra forma,<br />
“Paradigma <strong>é</strong> toda a constelação <strong>de</strong> crenças, valores t<strong>é</strong>cnicas etc..., partilhadas pelos membros <strong>de</strong> uma<br />
comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada”. i.e. “Paradigma são as soluções concretas <strong>de</strong> <strong>que</strong>bra-cabeças <strong>que</strong>,<br />
empregadas como mo<strong>de</strong>los ou exemplos, po<strong>de</strong>m substituir regras explícitas como base para a solução<br />
dos restantes <strong>que</strong>bra-cabeças da ciência normal” (KUHN, 2000, p. 218-219).<br />
26
Kuhn busca enten<strong>de</strong>r o processo pelo qual a ciência se <strong>de</strong>senvolve e como<br />
acontecem as revoluções científicas. Ao observar a narração histórica da ciência, Kuhn<br />
percebe <strong>que</strong>, ao contrário <strong>de</strong> uma evolução linear e gradual, como era suposto, a ciência<br />
evolui aos “saltos” ou em revoluções. Segundo Kuhn, o processo <strong>de</strong> construção da<br />
ciência apresenta esta configuração em virtu<strong>de</strong> da existência <strong>de</strong> paradigmas. Estes<br />
paradigmas são o conjunto <strong>de</strong> “id<strong>é</strong>ias” <strong>que</strong> dominam o pensamento da ciência em um<br />
<strong>de</strong>terminado momento da história. Este conjunto <strong>de</strong> id<strong>é</strong>ias não <strong>é</strong> simplesmente um<br />
referencial, <strong>é</strong> a própria ciência do período, i.e., neste conjunto encontram-se as regras<br />
para fazer as perguntas a serem respondidas pela ciência, os instrumentos e m<strong>é</strong>todos <strong>que</strong><br />
serão usados pelos cientistas em seu trabalho <strong>de</strong> buscar as respostas, e tamb<strong>é</strong>m a forma<br />
como os dados <strong>de</strong>vem ser interpretados. A esta forma <strong>de</strong> fazer ciência Kuhn chamou <strong>de</strong><br />
“ciência normal” (KUHN, 2000).<br />
Para Kuhn, “ciência normal significa a pesquisa firmemente baseada em uma ou<br />
mais realizações científicas passadas” (KUHN, 2000, p. 29). Essas realizações são<br />
reconhecidas durante algum tempo por alguma comunida<strong>de</strong> científica específica como<br />
proporcionando os fundamentos para sua prática posterior.<br />
A ciência normal, da forma entendida por Kuhn, não leva a gran<strong>de</strong>s inovações,<br />
pois os resultados a <strong>que</strong> se <strong>que</strong>r chegar já são <strong>de</strong>finidos antes do início da pesquisa. O<br />
pesquisador <strong>é</strong> <strong>de</strong>finido como uma pessoa <strong>que</strong> encontra a solução para resolver como<br />
uma peça do gran<strong>de</strong> <strong>que</strong>bra-cabeça da ciência. Isso faz aumentar mais ainda a clareza e<br />
a confirmação do paradigma adotado.<br />
27
Kuhn conceitua as Revoluções Científicas como os episódios em <strong>que</strong> o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>é</strong> não-cumulativo, nos quais um paradigma mais antigo <strong>é</strong> total ou<br />
parcialmente substituído por um novo, incompatível com o anterior. Então, mostra <strong>que</strong><br />
o <strong>de</strong>senvolvimento científico não ocorrem <strong>de</strong> forma cumulativa e sim por ruptura com<br />
as t<strong>eo</strong>rias at<strong>é</strong> então adotadas.<br />
Obviamente, quando a ciência normal está em operação, não há revoluções na<br />
forma <strong>de</strong> pensar a natureza, apenas inovações incrementais. Segundo Kuhn, as gran<strong>de</strong>s<br />
mudanças, as inovações radicais, são as Revoluções Científicas. Estes são os momentos<br />
on<strong>de</strong> existe uma ruptura <strong>de</strong> paradigmas, i.e., o paradigma vigente ce<strong>de</strong> seu espaço para<br />
um novo paradigma, <strong>que</strong> traz todo um conjunto novo <strong>de</strong> perguntas, m<strong>é</strong>todos e<br />
interpretações. Sobre estes momentos <strong>de</strong> revolução, Arthur Clarke <strong>de</strong>dicou sua<br />
“Segunda Lei”, quando diz <strong>que</strong> “o único modo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir os limites do possível <strong>é</strong><br />
aventurar-se um pouco al<strong>é</strong>m <strong>de</strong>les no impossível” (CLARKE, 1970, p. 35-36). Ao falar<br />
isto, Clarke percebe os paradigmas como um zeitgeist, <strong>de</strong>limitando todo um universo do<br />
possível, i.e., “as revoluções são resultados <strong>de</strong> visões <strong>que</strong> algumas pessoas têm ao se<br />
projetar para al<strong>é</strong>m do paradigma predominante, imergindo assim em um mundo do<br />
impossível” (BALAGUER, SILVEIRA, 2002).<br />
O terceiro conceito tratado na obra <strong>de</strong> Kuhn, importante para os propósitos do<br />
presente trabalho, al<strong>é</strong>m dos paradigmas e da ciência normal, <strong>é</strong> a comunida<strong>de</strong> científica.<br />
O conceito <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> científica surge com Michael Polányi (BEN-DAVID, 1975),<br />
e encontra uma <strong>de</strong>finição mais precisa, ainda <strong>que</strong> muito discutida, <strong>de</strong>ntro do contexto da<br />
sociologia da ciência, a qual tem em Merton como um <strong>de</strong> seus fundadores e principais<br />
teóricos. Merton i<strong>de</strong>ntifica a comunida<strong>de</strong> científica como “grupo portador <strong>de</strong> uma<br />
28
subcultura particular” (ZARUR, 1994) ou ainda como um grupo <strong>de</strong> cientistas <strong>que</strong><br />
formam “comunida<strong>de</strong> fechada, (...) investigam uma área bem <strong>de</strong>finida <strong>de</strong> problemas<br />
com m<strong>é</strong>todos e instrumentos adaptados à tarefa (...)” cuja “<strong>de</strong>finição dos problemas e da<br />
metodologia <strong>de</strong> investigação <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> uma tradição profissional <strong>de</strong> t<strong>eo</strong>rias, m<strong>é</strong>todos e<br />
habilida<strong>de</strong>s, para a aquisição das quais se re<strong>que</strong>r treino prolongado e, naturalmente,<br />
senão por princípio, uma gran<strong>de</strong> dose <strong>de</strong> ensinamento” (BEN-DAVID, 1975).<br />
Uma outra forma <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a comunida<strong>de</strong> científica <strong>é</strong> pensar em uma dimensão<br />
<strong>de</strong>sta, conhecida como “col<strong>é</strong>gio invisível”. Este termo foi introduzido por Derek <strong>de</strong><br />
Solla Price em 1963 (CRANE, 1975). Por col<strong>é</strong>gio invisível enten<strong>de</strong>-se um grupo <strong>de</strong><br />
cientistas, localizados em diferentes organizações, at<strong>é</strong> mesmo diferentes países, e <strong>que</strong><br />
compartilham informações. Mais do <strong>que</strong> isto, este grupos possuem uma hierarquia<br />
própria, sob a qual fica subjugada a pesquisa executada por esta comunida<strong>de</strong>. Em Kuhn,<br />
emerge a visão <strong>de</strong> <strong>que</strong> estes col<strong>é</strong>gios invisíveis são como os “senhores” da ciência<br />
normal, <strong>de</strong>terminando as regras e padrões para a prática científica, uma vez <strong>que</strong> estes<br />
pesquisadores compartilham o mesmo paradigma (KUHN, 2000).<br />
Novamente, Clarke (1970) apresenta um referencial <strong>de</strong> análise útil. Na sua<br />
“Primeira Lei”, Clarke diz <strong>que</strong> “Quando um cientista ilustre, mas idoso, <strong>de</strong>clara <strong>que</strong><br />
alguma coisa <strong>é</strong> possível quase certamente tem razão. Quando <strong>de</strong>clara <strong>que</strong> alguma coisa<br />
<strong>é</strong> impossível muito provavelmente está errado” (CLARKE, 1970, p. 29) .<br />
Com este enunciado, Clarke esclarece <strong>de</strong> maneira sucinta e pragmática os<br />
mecanismos <strong>de</strong> eminência e paradigmatismo existentes no processo <strong>de</strong> construção da<br />
ciência. Clarke traz implícito em sua primeira lei conceitos sobre a estrutura normativa<br />
29
da prática científica e dos seus imperativos morais (ou ethos científico 9 ), <strong>de</strong> col<strong>é</strong>gios<br />
invisíveis (SOLLA PRICE, 1976) e do e<strong>feito</strong> Matheus na ciência (MERTON, 1968).<br />
Outra forma <strong>de</strong> ver as relações <strong>de</strong> aceitação <strong>de</strong> id<strong>é</strong>ias e mudanças <strong>de</strong> paradigmas <strong>de</strong>ntro<br />
da comunida<strong>de</strong> científica <strong>é</strong> apresentada na Tabela 2.3.<br />
Tabela 2.3: Matriz <strong>de</strong> Pedigree das T<strong>eo</strong>rias Científicas (adaptado <strong>de</strong> FUNTOWICZ,<br />
RAVETZ, 1990 apud VAN DER SLUIJS, 1996)<br />
Entrada dos<br />
Dados<br />
Dados<br />
experimentais<br />
História <strong>de</strong> dados<br />
<strong>de</strong> campo<br />
Estruturas<br />
Teóricas<br />
T<strong>eo</strong>ria<br />
estabelecida<br />
Mo<strong>de</strong>lo teórico<br />
<strong>de</strong> base<br />
Dados calculados Mo<strong>de</strong>lo<br />
computacional<br />
Educated guess Processamento<br />
estatístico<br />
Uneducated<br />
guess<br />
Definição <strong>de</strong><br />
trabalho<br />
Peer Review e<br />
Aceitação<br />
Consenso<br />
Acadêmico<br />
Total Total com exceção<br />
<strong>de</strong> excêntricos<br />
Alta Total com exceção<br />
<strong>de</strong> rebel<strong>de</strong>s<br />
M<strong>é</strong>dia Disputa <strong>de</strong><br />
escolas<br />
Baixa Campo<br />
embrionário<br />
Nenhuma Sem opinião<br />
Existem diversas críticas à noção <strong>de</strong> progresso científico apresentada por Kuhn.<br />
Entretanto, estas críticas partem, normalmente, <strong>de</strong> uma leitura <strong>de</strong> Kuhn <strong>de</strong>ntro do<br />
contexto estrito da filosofia da ciência ou da epistemologia. A leitura <strong>de</strong> Kuhn <strong>que</strong> o<br />
presente trabalho realiza, e <strong>que</strong> usa na construção <strong>de</strong> premissas, <strong>é</strong> ligada à sociologia da<br />
ciência. Para este trabalho, a proposta <strong>de</strong> Kuhn, <strong>que</strong> <strong>é</strong> a mais importante, <strong>é</strong> da existência<br />
<strong>de</strong> paradigmas <strong>que</strong> representam a resistência à mudança <strong>de</strong>ntro da empresa científica,<br />
on<strong>de</strong> a ciência praticada <strong>é</strong> não-científica, <strong>de</strong>ntro da interpretação <strong>de</strong> Popper, por não<br />
possuir espírito crítico (EPSTEIN, 1988). Esta leitura <strong>de</strong> Kuhn <strong>é</strong> admitida mesmo<br />
9 ethos científico <strong>é</strong> o conjunto <strong>de</strong> valores e normas imperativos para os cientistas. Segundo Merton (1970)<br />
os sentimentos embutidos no ethos da ciência são caracterizados por: honestida<strong>de</strong> intelectual, integrida<strong>de</strong>,<br />
ceticismo organizado, <strong>de</strong>sinteresse, impessoalida<strong>de</strong>.<br />
30
levando-se em conta alguns <strong>de</strong> seus principais críticos, como Duhem, Quine e Lakatos,<br />
uma vez <strong>que</strong>, em comum a Kuhn, estes admitem “a sub<strong>de</strong>terminação (em certa medida)<br />
do sistema <strong>de</strong> ciência, do núcl<strong>eo</strong> resistente ou do paradigma respectivamente, <strong>que</strong> os<br />
torna, at<strong>é</strong> certo ponto, capazes <strong>de</strong> absorver as anomalias” (EPSTEIN, 1988, p. 83).<br />
Esta forma <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r o progresso t<strong>é</strong>cnico-científico leva ao entendimento <strong>de</strong><br />
<strong>que</strong> as mudanças nas tecnologias <strong>que</strong> sustentaram a consecução das <strong>de</strong>mandas<br />
apresentadas pelo CN não são diferentes das <strong>que</strong> estão em vigor atualmente. Isto <strong>é</strong><br />
sustentável pelo fato <strong>de</strong> <strong>que</strong> revoluções científicas, principalmente <strong>de</strong>ntro do contexto<br />
da Big Science, não acontecem sem avisos pr<strong>é</strong>vios. Este mecanismo <strong>é</strong> explicado na<br />
próxima seção.<br />
2.2.2 Big Science: Aspectos da Política Científica e Tecnológica e a<br />
Relação Ciência, Tecnologia e Socieda<strong>de</strong><br />
Os avisos pr<strong>é</strong>vios comentados na seção anterior são a mudança <strong>de</strong> foco do<br />
financiamento governamental à P&D, havendo aí uma nuance <strong>de</strong> especial interesse para<br />
o presente trabalho. Quando se consi<strong>de</strong>ram as economias centrais, <strong>que</strong> são as gran<strong>de</strong>s<br />
produtoras <strong>de</strong> C&T (e.g. EUA, Europa e Japão – ver Figura 2.3 e Figura 2.4) <strong>de</strong>ve-se<br />
levar em conta <strong>que</strong> o mecanismo <strong>de</strong> financiamento da pesquisa <strong>é</strong> referendado pelo apoio<br />
popular (WEINGART, 1998). Entretanto, <strong>de</strong>vido aos aspectos da medialização da<br />
ciência, conforme apontado por Weingart, há uma tendência <strong>de</strong> <strong>que</strong> apenas os cientistas<br />
“notórios” fi<strong>que</strong>m sob o foco dos holofotes. Normalmente, estes cientistas são<br />
<strong>de</strong>fensores do paradigma vigente (ver Seção 2.2.1), o <strong>que</strong> leva a um círculo vicioso<br />
on<strong>de</strong> há um recru<strong>de</strong>scimento do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Kuhn, e on<strong>de</strong> novas abordagens somente são<br />
31
implementadas <strong>de</strong>pois do claro esgotamento da performance das atuais. Isto <strong>é</strong> explicado<br />
por Thu et al., <strong>que</strong> argumentam <strong>que</strong><br />
“Since Thomas Kuhn's seminal 1962 study of the scientific community, it has become more wi<strong>de</strong>ly<br />
un<strong>de</strong>rstood that the results of scientific inquiry <strong>de</strong>pend on non-empirical assumptions, shaped by extra-<br />
scientific social pressures and consi<strong>de</strong>rations, which <strong>de</strong>fine relevant entities, their relations to one<br />
another, and how they are observed and measured. This is an important fact because scientific findings<br />
inform policy <strong>de</strong>cisions and often para<strong>de</strong> as objective, neutral, fact-driven, observational data. Findings<br />
may be all of these, but only within the <strong>de</strong>fining parameters of assumptions which are driven by the<br />
<strong>de</strong>mands of the wi<strong>de</strong>r social milieu, hence neither neutral nor objective. One powerful way to affect<br />
policy is to <strong>de</strong>termine the assumptions of scientific work – the <strong>que</strong>stions asked and the form of the<br />
answers. Because the ability to set scientific agendas, fund research, and ratify the findings which inform<br />
legislative, judicial, and administrative policy <strong>de</strong>cisions confers political advantage, science has become<br />
politically important.” (THU et al. 1995)<br />
Figura 2.3: Gastos em P&D em porcentagem do PIB – todos os setores: 1981 a 1999<br />
(NSF, 2002)<br />
32
450<br />
400<br />
350<br />
300<br />
250<br />
200<br />
150<br />
100<br />
50<br />
0<br />
United EUAStates Japan Japão EUUE OECD<br />
Figura 2.4: Evolução da P&D Empresarial, em Bilhões <strong>de</strong> Dólares (PPP 1995), 1981-<br />
2001 (OCED, 2003.)<br />
A relação entre <strong>de</strong>senvolvimento científico e tecnológico e os interesses sociais e<br />
governamentais <strong>é</strong> balizada por uma relação <strong>de</strong> interesse, pois, como lembra David<br />
Lan<strong>de</strong>s (1994, p. 555),<br />
“A história econômica sempre foi, em parte, a história da competição internacional pela ri<strong>que</strong>za.<br />
A Revolução Industrial <strong>de</strong>u a essa competição um novo foco - a ri<strong>que</strong>za atrav<strong>é</strong>s da industrialização - e a<br />
transformou numa corrida. Houve um lí<strong>de</strong>r, a Inglaterra, e os <strong>de</strong>mais foram seguidores. A li<strong>de</strong>rança<br />
mudou <strong>de</strong> mãos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, mas a busca prossegue, no <strong>que</strong> se transformou numa corrida sem linha <strong>de</strong><br />
chegada. Sem dúvida, há apenas alguns concorrentes suficientemente dotados para disputar a palma. Os<br />
<strong>de</strong>mais po<strong>de</strong>m, no máximo, seguir adiante e tirar o máximo <strong>de</strong> sua própria capacida<strong>de</strong>. Mas at<strong>é</strong> estes<br />
acham-se em muito melhor condições do <strong>que</strong> os <strong>que</strong> não estão correndo. Ningu<strong>é</strong>m <strong>que</strong>r ficar parado, e a<br />
maioria está convencida <strong>de</strong> <strong>que</strong> não ousaria fazê-lo. Os retardatários têm boas razões para se pr<strong>eo</strong>cupar: a<br />
corrida vai ficando cada vez mais rápida, e os ricos ficam mais ricos enquanto os pobres têm filhos”.<br />
1981<br />
82<br />
83<br />
84<br />
85<br />
86<br />
87<br />
88<br />
89<br />
90<br />
91<br />
92<br />
93<br />
94<br />
95<br />
96<br />
97<br />
98<br />
99<br />
2000<br />
2001<br />
33
Por outro lado, a ciência precisa <strong>de</strong> dinheiro para financiar-se. Em conseqüência<br />
do reconhecimento <strong>de</strong>sta nova realida<strong>de</strong>, surgiu na esteira da 2ª Revolução Industrial, e,<br />
por conseguinte, da institucionalização do <strong>de</strong>senvolvimento científico e tecnológico em<br />
laboratórios <strong>de</strong> P&D, privados ou não, um novo fenômeno. Este fenômeno <strong>que</strong> tem o<br />
s<strong>é</strong>culo XX – principalmente a segunda meta<strong>de</strong> – como período mais f<strong>é</strong>rtil, <strong>é</strong> o mo<strong>de</strong>lo<br />
da Big Science (GÓES, 1972). Nesta forma <strong>de</strong> fazer ciência e tecnologia (C&T), <strong>que</strong><br />
tem entre seus principais marcos o Projeto Manhattan e o documento “Science, the<br />
Endless Frontier” (BUSH, 1945), o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>manda enormes investimentos.<br />
Historicamente, nas economias centrais, uma parte expressiva do <strong>de</strong>senvolvimento<br />
tecnológico e a geração <strong>de</strong> inovações está baseada nas empresas, enquanto a pesquisa<br />
em temas mais fundamentais e sem aplicações imediatas fica a cargo <strong>de</strong> laboratórios<br />
governamentais e universida<strong>de</strong>s <strong>que</strong> contam com o patrocínio do estado. Entretanto,<br />
mesmo o lado privado da P&D conta com a mão dos governos, pois muitos dos recursos<br />
investidos pelas empresas nas pesquisas têm origem no estado, por via <strong>de</strong> renúncias<br />
fiscais, empreendimentos <strong>de</strong> pesquisa conjuntos (governo-aca<strong>de</strong>mia-empresas),<br />
relaxamento das leis antitrust e reforço nas leis <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> intelectual em acordo<br />
internacionais (NELSON, PECK, KALACHEK, 1969; PINELLI et al., 1997).<br />
Justamente estas economias centrais, on<strong>de</strong> o conceito <strong>de</strong> Big Science firmou-se,<br />
são as <strong>que</strong>, neste mesmo s<strong>é</strong>culo XX, assistiram à consolidação das <strong>de</strong>mocracias <strong>de</strong><br />
massa, on<strong>de</strong> os cidadãos estão cada vez mais conscientes <strong>de</strong> <strong>que</strong> o governo <strong>de</strong>ve servir<br />
aos interesses da maioria. A relação primária entre o estado e os cidadãos se dá atrav<strong>é</strong>s<br />
do pagamento <strong>de</strong> impostos por parte <strong>de</strong>stes para <strong>que</strong> o estado alo<strong>que</strong> estes recursos <strong>de</strong><br />
maneira a<strong>de</strong>quada para aten<strong>de</strong>r aos anseios da massa contribuinte. O momento em <strong>que</strong><br />
34
os cidadãos cobram a fatura da consecução, ou não, <strong>de</strong> seus anseios por parte dos<br />
administradores do estado se dá durante as eleições.<br />
O caso do financiamento da C&T não <strong>é</strong> privilegiado nestes momentos, cabendo<br />
aos governos mostrarem <strong>de</strong> forma clara em <strong>que</strong> pontos as pesquisas e projetos <strong>que</strong> são<br />
financiados pelos impostos vão ao encontro das <strong>de</strong>mandas sociais. Existe, nas<br />
<strong>de</strong>mocracias <strong>de</strong> massa, um imperativo para <strong>que</strong> a C&T tenha legitimida<strong>de</strong> perante seus<br />
financiadores, i.e., os cidadãos (WEINGART, 1998). As facilida<strong>de</strong>s subsidiadas pela<br />
internet contribuem ainda mais para facilitar o monitoramento das ativida<strong>de</strong>s<br />
governamentais, inclusive atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> ferramentas <strong>de</strong> busca específicas para este fim<br />
(WIRED NEWS, 2004). A <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> <strong>que</strong> os projetos <strong>de</strong> C&T são compatíveis<br />
com os anseios da comunida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser fácil em projetos <strong>que</strong> envolvem o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tecnologias próximas da fase <strong>de</strong> “produtização”, pois basta<br />
<strong>de</strong>monstrar <strong>que</strong> o produto aten<strong>de</strong> às <strong>de</strong>mandas dos cidadãos. Entretanto, quando se trata<br />
<strong>de</strong> tecnologias ainda na fase fluida, a <strong>de</strong>monstração do papel social das tecnologias <strong>é</strong> um<br />
pouco mais complexa. Nestes casos a aplicação do m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> Technology Assessment<br />
(TA), ferramenta introduzida na d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong> 1970, mas hoje pouco usada, ou o uso <strong>de</strong><br />
t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> prospectiva, notadamente o Delphi, po<strong>de</strong>m mostrar-se importantes, por<br />
tratarem <strong>de</strong> forma profunda e multidisciplinar os impactos sociais do <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da C&T (OECD, 1975). A opção mais freqüente nos dias atuais <strong>é</strong> a utilização <strong>de</strong><br />
exercícios <strong>de</strong> foresight, on<strong>de</strong> são consultados especialistas notórios, com o intuito <strong>de</strong> se<br />
construírem as políticas <strong>de</strong> C&T futuras.<br />
O balanço dos interesses dos atores envolvidos no relacionamento cidadãos-<br />
estado-P&D <strong>é</strong> extremamente <strong>de</strong>licado. Por um lado o estado vive uma dualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
35
interesses <strong>que</strong> vão da representação da vonta<strong>de</strong> das maiorias, passando pelo<br />
cumprimento das leis, at<strong>é</strong> os interesses particulares dos grupos políticos envolvidos no<br />
dia-a-dia do po<strong>de</strong>r. Os cidadãos <strong>que</strong>rem <strong>que</strong> o estado atenda suas <strong>de</strong>mandas<br />
empregando <strong>de</strong> maneira a<strong>de</strong>quada o dinheiro dos impostos, e, <strong>de</strong> forma implícita, há a<br />
busca do público pelo retorno econômico-social dos investimentos em C&T, uma vez<br />
<strong>que</strong> “os empregos e os salários <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da ciência e da tecnologia” (SAGAN, 1996,<br />
p. 21). As motivações dos cientistas e engenheiros variam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as motivações<br />
puritanas e neutras, relacionadas ao progresso da ciência (MERTON, 1970) at<strong>é</strong> às<br />
motivações institucionais, i.e., <strong>de</strong>terminadas pelas instituições às quais pertencem<br />
(DAGNINO et al, 2002).<br />
De toda forma, este <strong>de</strong>senvolvimento da C&T provocou, e vem provocando,<br />
gran<strong>de</strong>s impactos sociais – ben<strong>é</strong>ficos e mal<strong>é</strong>ficos. Des<strong>de</strong> novos produtos para o uso<br />
diário at<strong>é</strong> o crescimento econômico, passando por curas <strong>de</strong> doenças e impactos<br />
culturais, a C&T está presente na socieda<strong>de</strong> contemporânea <strong>de</strong> modo marcante. A<br />
socieda<strong>de</strong>, mesmo sem consi<strong>de</strong>rar a linha argumentativa do <strong>de</strong>terminismo tecnológico,<br />
tem hoje a marca in<strong>de</strong>l<strong>é</strong>vel da mudança t<strong>é</strong>cnica e, assim sendo, os atores sociais têm<br />
suas vidas afetadas pela C&T.<br />
No intuito <strong>de</strong> influenciar o <strong>de</strong>senvolvimento da C&T, os governos têm se<br />
apoiado no instrumento da Política Científica & Tecnológica (PCT). A função da PCT<br />
“fundamentalmente, resi<strong>de</strong> no estabelecimento <strong>de</strong> crit<strong>é</strong>rios <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro dos<br />
quais <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>stacar-se os esforços a serem <strong>de</strong>senvolvidos” (GÓES, 1972).<br />
36
Na Figura 2.5 <strong>é</strong> apresentado o processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>que</strong> leva à<br />
elaboração da PCT. É patente a importância da tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, tanto nos níveis<br />
burocráticos quanto nos mais científicos, no processo <strong>que</strong> leva a formulação das<br />
políticas (DAGNINO et al, 2002) e <strong>que</strong> a “existência <strong>de</strong> negociações <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste<br />
processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões torna evi<strong>de</strong>nte a importância dos atores e suas<br />
idiossincrasias para a formulação <strong>de</strong> políticas” (BALAGUER, 2004).<br />
Aumento da<br />
importância <strong>de</strong><br />
fatores<br />
externos<br />
Figura 2.5: O processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão da Política <strong>de</strong> C&T (adaptado <strong>de</strong><br />
ENVIRONMENT CANADA, 2001)<br />
Conforme mostrado na Figura 2.5, o governo <strong>de</strong>ve, ao partir para a elaboração e<br />
implementação da PCT, avaliar as escolhas <strong>que</strong> possui, bem como as suas<br />
conseqüências. Estas conseqüências são levantadas em uma fase <strong>de</strong> assessment ou <strong>de</strong><br />
exercícios <strong>de</strong> foresight.<br />
Ciência<br />
O <strong>que</strong> os dados dizem?<br />
Assessment / Prospectiva<br />
O <strong>que</strong> os dados significam?<br />
Política (policy)<br />
Quais são as escolhas possíveis?<br />
Política (politics)<br />
O <strong>que</strong> po<strong>de</strong> ser <strong>feito</strong>?<br />
Aumento d do<br />
envolvimento<br />
dos cientistas<br />
37
2.2.3 Pon<strong>de</strong>rações<br />
Um dos principais pontos <strong>de</strong> discussão <strong>é</strong> em relação ao relativismo epistêmico<br />
apresentado por Kuhn. Entretanto, existem diversos fenômenos <strong>que</strong> possuem uma<br />
dinâmica <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento semelhante à proposta por Kuhn para o conhecimento<br />
científico. O cânone evolucionário, e a onipresença da curva logística, são comuns a<br />
mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e difusão <strong>de</strong> tecnologias (ABERNATH; UTTERBACK,<br />
1975), <strong>de</strong>senvolvimento econômico (FREEMAN; PEREZ, 1988) e evolução biológica<br />
(GOULD; ELDREDGE, 1977). Em todos estes mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> fenômeno existe o conceito<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, estase, crise e superação <strong>que</strong> Kuhn utiliza para <strong>de</strong>screver a forma<br />
como a ciência se <strong>de</strong>senvolve.<br />
Ainda sob o relativismo epistêmico, mas sob a óptica da social-shapped-<br />
technology (SST), este autor consi<strong>de</strong>ra a pon<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Castells (1999) apresentada no<br />
início <strong>de</strong>ste capítulo suficientemente a<strong>de</strong>quada, <strong>de</strong> forma <strong>que</strong> as implicações hard da<br />
t<strong>eo</strong>ria da SST não são consi<strong>de</strong>radas.<br />
Outro ponto <strong>que</strong> merece pon<strong>de</strong>ração <strong>é</strong> a utilização <strong>de</strong> <strong>que</strong>stões relativas à filosofia<br />
da ciência, principalmente no <strong>que</strong> tange à análise kuhniana, historicamente associada à<br />
análise apenas da ciência, em um universo mais ligado à tecnologia. Entretanto, como<br />
lembram Zackiewicz e Sales-Filho, “não faz sentido tratar a pesquisa básica [ciência] e<br />
a pesquisa aplicada [tecnologia] como estan<strong>que</strong>s”, dada a condição <strong>de</strong> empreendimento<br />
social da C&T (2001).<br />
38
Uma outra forma <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a influência <strong>de</strong> aspectos sociais das ciências em um<br />
campo mais ligado à tecnologia e à inovação industrial <strong>é</strong> apontado por Lane e Klavans<br />
(2000), <strong>que</strong> apontam evidências <strong>de</strong> uma influência crescente da ciência no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento tecnológico. Esta tendência tamb<strong>é</strong>m <strong>é</strong> apontada por Coates et al.<br />
(2001).<br />
Quanto às limitações da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> previsão em virtu<strong>de</strong> da forma como a<br />
ciência <strong>é</strong> feita, Dyson traz uma contribuição, quando comenta <strong>que</strong> a “extrapolação linear<br />
[da ciência atual] está fadada a errar no longo prazo, por<strong>que</strong> mudarão a natureza e os<br />
objetivos fundamentais da ciência” (1998, p. 71).<br />
39
3 MODELO TEÓRICO DE FUTURO<br />
O sentimento <strong>de</strong> passagem do tempo e a crescente <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m na natureza estão<br />
associados pela termodinâmica, <strong>que</strong> com sua segunda lei, postula um universo <strong>de</strong> mão<br />
única e não reversível (RHODES, 1988, p. 30), sendo <strong>que</strong>, como lembra Prigogine<br />
(1996, p. 9), “O tempo <strong>é</strong> uma dimensão fundamental da nossa existência”. O tempo, e<br />
sua passagem, fascinam e <strong>de</strong>safiam a curiosida<strong>de</strong> humana - e o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> o retrato mais<br />
bem acabado do <strong>de</strong>sespero humano em relação ao in<strong>de</strong>terminismo <strong>de</strong> sua própria<br />
existência. Por outro lado, a in<strong>de</strong>terminação do <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> o <strong>que</strong> <strong>é</strong> essencial à natureza<br />
humana, pois permite ao homem atuar com responsabilida<strong>de</strong> sobre seu próprio <strong>de</strong>stino,<br />
sem apelar a um Deus ex-machina. Popper consi<strong>de</strong>rava o <strong>de</strong>terminismo,<br />
fundamentalmente o <strong>de</strong> origem Laplaciana, como o “obstáculo mais sólido e s<strong>é</strong>rio no<br />
caminho <strong>de</strong> uma explicação e <strong>de</strong> uma apologia da liberda<strong>de</strong>, da criativida<strong>de</strong> e da<br />
responsabilida<strong>de</strong> humanas” (Popper, 1984 apud Prigogine 1996, p. 10).<br />
A esta responsabilida<strong>de</strong> para com o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> <strong>que</strong> se refere Go<strong>de</strong>t (1982), <strong>que</strong><br />
lembra <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong> não está escrito: ele ainda <strong>de</strong>ve ser construído. E este <strong>futuro</strong> será<br />
construído a partir da convergência <strong>de</strong> forças <strong>que</strong> já estão presentes. Mais do <strong>que</strong> isto, se<br />
vários <strong>futuro</strong>s são possíveis, o <strong>que</strong> efetivamente ocorrerá será, em muito, resultado da<br />
confrontação das projeções <strong>de</strong> vários atores, ao inv<strong>é</strong>s da mera continuação das<br />
tendências atuais. Go<strong>de</strong>t (1982) argumenta ainda <strong>que</strong>, sob este ponto <strong>de</strong> vista, não há<br />
<strong>de</strong>terminismo, com exceção do sentido em <strong>que</strong> uma dada evolução do passado explica<br />
uma <strong>de</strong>terminada faixa <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s futuras.<br />
40
Partindo da premissa <strong>de</strong> <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong> <strong>de</strong>ve ser entendido como uma<br />
multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>futuro</strong>s possíveis, a prospectiva tecnológica <strong>de</strong>ve tentar i<strong>de</strong>ntificar<br />
uma faixa <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> configurações do <strong>futuro</strong> tecnológico. (GORDON, 1999).<br />
Dentro <strong>de</strong>ste contexto, uma forma <strong>de</strong> tratar o <strong>futuro</strong> como um range <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>s<br />
foi proposto por Lipinski e Loverig<strong>de</strong> (1982). Este mo<strong>de</strong>lo <strong>é</strong> similar ao mo<strong>de</strong>lo aqui<br />
proposto. Entretanto, a forma como o mo<strong>de</strong>lo do presente trabalho trata o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> não-<br />
matemática, buscando suporte nas ferramentas apresentadas no Capítulo 2, i.e., os<br />
mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> mudança científico-tecnológica <strong>de</strong> Kuhn e na análise das relações entre<br />
ciência, tecnologia e socieda<strong>de</strong>, bem como na t<strong>eo</strong>ria geral <strong>de</strong> estudos do <strong>futuro</strong> e<br />
prospectiva tecnológica.<br />
Uma outra visão <strong>de</strong> <strong>futuro</strong> <strong>que</strong>, conceitualmente, se agrega ao mo<strong>de</strong>lo proposto,<br />
<strong>é</strong> apresentada por Masini (Figura 3.1). Esta figura mostra <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> a convergência<br />
entre os <strong>futuro</strong>s preferidos, plausíveis, prováveis e, naturalmente, possíveis. Esta visão<br />
se aproxima da id<strong>é</strong>ia do Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> Futuro proposto por este trabalho, na<br />
medida em <strong>que</strong>, neste, o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> entendido como a solução <strong>de</strong> compromisso entre os a<br />
socieda<strong>de</strong> e seus anseios, mediados, legitimados e financiados pelo governo, e o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento possível da tecnologia.<br />
41
Futuros Possíveis<br />
Futuros Preferidos<br />
Futuro<br />
Futuros Prováveis<br />
Figura 3.1: Termos dos Estudos do Futuro (adaptado <strong>de</strong> MASINI, 1993)<br />
Um outro aporte interessante <strong>é</strong> dado por Dennis Meadows et al., em seu<br />
polêmico trabalho “Limits to Growth” (1972 apud MASINI, 1993). Neste trabalho <strong>é</strong><br />
mostrada a perspectiva humana em relação ao <strong>futuro</strong>, dadas as variáveis dimensionais<br />
“Tempo” (tido como o tempo limite da prospectiva) e “Espaço” (contexto da<br />
prospectiva). Esta perspectiva mostra a <strong>que</strong>stão da incerteza variando <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste<br />
“campo <strong>de</strong> visão” (Figura 3.2). Esta analogia <strong>é</strong> <strong>de</strong> particular interesse para o presente<br />
trabalho, pois mostra <strong>de</strong> forma clara a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalharem-se as incertezas da<br />
prospectiva. Esta necessida<strong>de</strong> <strong>é</strong> atendida no Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> Futuro proposto atrav<strong>é</strong>s<br />
<strong>de</strong> premissas relativas à natureza da ciência e da tecnologia.<br />
Futuros Plausíveis<br />
42
ESPAÇO<br />
Negócios, Cida<strong>de</strong>,<br />
Família Vizinhança Nação Mundo<br />
Próxima Próximos Duração Duração da<br />
Semana Anos da Vida vida <strong>de</strong> um<br />
rec<strong>é</strong>m- nascido<br />
Figura 3.2: Campo <strong>de</strong> Visão do Futuro (adaptado <strong>de</strong> MEADOWS et al., 1979 apud<br />
MASINI, 1993, p. 33)<br />
3.1 Descrição do Mo<strong>de</strong>lo<br />
TEMPO<br />
O Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> Futuro (MTF), <strong>que</strong> <strong>é</strong> o objeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste trabalho,<br />
po<strong>de</strong> ser entendido como apresentado na Figura 3.3. Este MTF está inserido <strong>de</strong>ntro da<br />
classificação Analistas <strong>de</strong> Resultado (Goal Analyst), conforme apresentada na Seção<br />
2.1.1, pois trabalha com hipótese <strong>de</strong> <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong> será <strong>de</strong>terminado pelas crenças e ações<br />
<strong>de</strong> vários indivíduos, organizações e instituições. Este MTF busca projetar o <strong>futuro</strong><br />
atrav<strong>é</strong>s do exame do estado (comunida<strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnico-científica) e das metas <strong>de</strong> vários<br />
43
tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e formadores <strong>de</strong> tendências (Política <strong>de</strong> C&T), atrav<strong>é</strong>s da<br />
avaliação da extensão <strong>de</strong> quanto cada um po<strong>de</strong> afetar futuras tendências e eventos e<br />
avaliando os resultados <strong>de</strong> longo prazo <strong>de</strong>stas ações.<br />
O MTF <strong>é</strong> divido em duas “zonas temporais” <strong>que</strong> se referem à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
antevisão do <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico:<br />
i. Zeitgeist: a zona Zeitgeist – palavra alemã para “espírito do tempo” –<br />
representa a zona <strong>de</strong> previsibilida<strong>de</strong>. A <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>sta zona se dá pela<br />
predominância da influência da ciência normal, <strong>que</strong> representa o status quo<br />
da comunida<strong>de</strong> científica e pelo horizonte <strong>de</strong> tempo previsto pelos<br />
investimentos contidos nas PCTs. Esta zona <strong>é</strong> caracterizada pelo domínio do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento científico-tecnológico majoritarimante financiado pelo<br />
governo, <strong>de</strong> acordo com os anseios sociais.<br />
ii. Zona Cinzenta: a Zona Cinzenta se encontra al<strong>é</strong>m do horizonte <strong>de</strong> eventos,<br />
i.e., não <strong>é</strong> possível obter informações, com uma margem <strong>de</strong> acerto aceitável,<br />
<strong>de</strong>sta região. A incerteza acerca <strong>de</strong>sta zona adv<strong>é</strong>m da gran<strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
emergência <strong>de</strong> um novo paradigma científico-tecnológico, em conjunto com<br />
uma reconfiguração na estrutura <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r da comunida<strong>de</strong> científica, e <strong>de</strong><br />
uma mudança nas PCTs, em virtu<strong>de</strong> da emergência <strong>de</strong> novos anseios sociais.<br />
44
Hoje Hoje 10 anos 20 anos 50 anos 100 100 anos anos<br />
Zona<br />
Zona<br />
Cinzenta<br />
Cinzenta<br />
Zeitgeist<br />
Zeitgeist<br />
Zona Zona <strong>de</strong> <strong>de</strong> Influência<br />
Influência<br />
da da Ciência Ciência Normal<br />
Normal<br />
Zona Zona <strong>de</strong> <strong>de</strong> Influência Influência dos<br />
dos<br />
Novos Novos Paradigmas<br />
Paradigmas<br />
Tecido Tecido<br />
Tecido<br />
Social Social<br />
Social<br />
Figura 3.3: Mo<strong>de</strong>lo Conceitual <strong>de</strong> Futuro<br />
PCT&I<br />
PCT&I<br />
A força do Zeitgeist na construção do <strong>futuro</strong>, em mercados <strong>que</strong> possuam as<br />
características pressupostas no MTF se dá, em boa parte, pela tendência enviesada dos<br />
exercícios <strong>de</strong> prospectiva, normalmente “foresight” (PORTER et al., 2004), <strong>que</strong> balizam<br />
$ $ $ $$ $<br />
Sinal Sinal Sinal Sinal <strong>de</strong><br />
Relevância Relevância Relevância Relevância<br />
45
a construção dos CN. Esta tendência <strong>é</strong> <strong>de</strong>scrita, tanto por Masini (1993), quanto por<br />
Porter et al. (2004), <strong>que</strong> diz <strong>que</strong> “expert opinion methods are limited by what p<strong>eo</strong>ple<br />
perceive as feasible, colored by their shared beliefs and their limited imagination”.<br />
A influência <strong>de</strong>ste vi<strong>é</strong>s no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico se dá na<br />
medida em <strong>que</strong> as metas das PCT’s - condicionantes da liberação <strong>de</strong> recursos - são o<br />
produto dos exercícios nacionais <strong>de</strong> prospectiva.<br />
O MTF leva à formulação <strong>de</strong> uma hipótese <strong>que</strong> <strong>é</strong> central para o m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong><br />
prospectiva tecnológica <strong>de</strong>senvolvido no presente trabalho: durante a tarefa <strong>de</strong><br />
planejamento tecnológico, quando <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados contextos <strong>de</strong> mercado, o<br />
Cenário Descritivo (CD) assumido po<strong>de</strong> ser baseado na convergência entre o Cenário<br />
Normativo (CN) dos principais atores da<strong>que</strong>le mercado (normalmente economias<br />
centrais) e a tecnologia baseada na ciência normal.<br />
Os contextos <strong>de</strong> mercado <strong>que</strong> constituem os limites operacionais do MTF são os<br />
<strong>que</strong> estão associados aos fundamentos da hipótese acima exposta, i.e., estes mercados<br />
<strong>de</strong>vem ser intensivos em conhecimento, <strong>de</strong>vem ter poucos atores e <strong>de</strong>vem ser<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s volumes <strong>de</strong> investimento governamental em P&D.<br />
Este MTF leva o nome <strong>de</strong> cenário tecnológico apesar <strong>de</strong> possuir algumas<br />
diferenças com a abordagem tradicional <strong>de</strong> cenários, cuja introdução se <strong>de</strong>u por Herman<br />
Kahn, na RAND, durante os anos 1950. Uma das premissas-chave para o planejamento<br />
por cenários <strong>é</strong> a construção <strong>de</strong> cenários <strong>futuro</strong>s múltiplos (SCHWARTZ, 2000;<br />
MASINI, 1993). Entretanto, o mo<strong>de</strong>lo proposto se aproxima mais da <strong>de</strong>finição dada por<br />
46
Martino (1983), <strong>que</strong> <strong>de</strong>screve “Cenário” como uma fotografia <strong>de</strong> uma situação<br />
intensamente consistente, on<strong>de</strong> <strong>é</strong> o resultado plausível - entendido como intensificação<br />
<strong>de</strong> provável - <strong>de</strong> uma seqüência <strong>de</strong> eventos.<br />
Uma outra <strong>de</strong>finição <strong>que</strong> tamb<strong>é</strong>m reforça a id<strong>é</strong>ia da MTF aqui proposto dada por<br />
Masini (1993), <strong>que</strong> diz <strong>que</strong> a construção <strong>de</strong> cenários <strong>é</strong> um instrumento <strong>que</strong> ajuda os<br />
tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, provendo um contexto <strong>de</strong> planejamento e programação,<br />
diminuindo o nível <strong>de</strong> incerteza e aumentando o nível <strong>de</strong> conhecimento.<br />
Um dos pilares da lógica interna <strong>de</strong>ste MTF, e <strong>que</strong> ilustra a Figura 3.3, <strong>é</strong> <strong>que</strong><br />
“Technological change does not just happen. It is managed by organizations, either private or<br />
government, which see enlightened self-interest in promoting and subdizing specific<br />
technological improvements” e <strong>que</strong> “Technological change occurs as the result of attempts by<br />
many organizations to find a way to match scientific and technical progress with societal needs”<br />
(BUTTNER; CHEANEY, 1968, p. 183).<br />
Estas relações entre os anseios sociais e os progressos t<strong>é</strong>cnicos, acontecendo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
um contexto institucional são ilustradas ainda por Buttner e Cheaney (1968) na Figura<br />
3.4 e na Figura 3.5.<br />
47
Estado da<br />
Socieda<strong>de</strong><br />
Estado-da-<br />
Arte<br />
Figura 3.4: Estado da Socieda<strong>de</strong> vs Estado da Ciência (adaptado <strong>de</strong> BUTTNER;<br />
CHEANEY, 1968, p. 187)<br />
Plano Institucional<br />
PLANO DA SOCIEDADE<br />
PLANO DA CIÊNCIA<br />
PLANO DA SOCIEDADE<br />
Restrições Organizacionais<br />
PLANO DA CIÊNCIA<br />
Figura 3.5: Restrições Organizacionais (adaptado <strong>de</strong> BUTTNER; CHEANEY, 1968, p.<br />
187)<br />
48
4 MÉTODO DE PROSPECTIVA<br />
Segundo um estudo realizado por Marina Skumanich e Michelle Silbernagel, do Battelle<br />
Research Center (1997), uma visão comum a todos os programas bem sucedidos <strong>de</strong><br />
prospectiva, e <strong>que</strong> parece <strong>de</strong>stacar estes como os “melhores do gênero” <strong>é</strong> a <strong>de</strong> <strong>que</strong> o<br />
<strong>futuro</strong> <strong>é</strong>, basicamente, imprevisível. Isto significa, segundo Porter et al. (1991, p. 69),<br />
<strong>que</strong>, dada esta incerteza inerente ao <strong>futuro</strong>, as expectativas sobre a prospectiva <strong>de</strong>vem<br />
ser realísticas. Não se <strong>de</strong>vem esperar prospecções perfeitamente acuradas ou altamente<br />
precisas. Por outro lado, <strong>é</strong> esperado <strong>que</strong> estas <strong>de</strong>limitem a extensão <strong>de</strong> incerteza,<br />
estabelecendo vetores <strong>de</strong> mudança e provendo informações <strong>de</strong> valor para o gestor do<br />
processo <strong>de</strong> planejamento tecnológico, sob pena <strong>de</strong>, em caso contrário, serem <strong>de</strong> todo<br />
inúteis em seus propósitos.<br />
O MTF proposto no Capítulo 4 traz em sua concepção uma visão probabilística<br />
do <strong>futuro</strong>, pois enten<strong>de</strong> <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> o resultado da convergência <strong>de</strong> forças e anseios<br />
<strong>de</strong> atores presentes, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada margem <strong>de</strong> erro. Baseado neste<br />
entendimento <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> configuração do <strong>futuro</strong>, o m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva aqui<br />
proposto visa aten<strong>de</strong>r aos requisitos, acima apontados, <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar os vetores <strong>de</strong><br />
mudança e <strong>de</strong>limitar o campo <strong>de</strong> incerteza, <strong>de</strong> modo a auxiliar o tomador <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão ou<br />
o formulador <strong>de</strong> políticas.<br />
Uma ressalva <strong>de</strong>ve ser feita à forma como o conceito <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> <strong>é</strong> tratado<br />
no MTF aqui proposto. Este tratamento <strong>é</strong> não-matemático, sendo <strong>que</strong> a asserção do<br />
termo aqui utilizado tem por propósito contrapor-se à visão <strong>de</strong>terminista da natureza. E,<br />
apesar <strong>de</strong> conotar uma menor precisão nos resultados apresentados, esta abordagem <strong>é</strong><br />
49
justificada pela proposta <strong>de</strong> visão <strong>de</strong> <strong>futuro</strong>, <strong>de</strong> prover um maior entendimento do<br />
ambiente e dos fatores causais <strong>que</strong> afetam a construção do <strong>futuro</strong>. Segundo Makridakis<br />
e Wheelwright (1982, p. 7), neste caso, a acurácia da prospectiva torna-se secundária.<br />
Basicamente, os passos para a realização da prospectiva, <strong>que</strong> visa à construção do<br />
CD são:<br />
i. Determinam-se os fatores <strong>de</strong> contorno do Cenário: a. Cliente; b. Propósito; c.<br />
Espaço coberto (contexto); d. Horizonte <strong>de</strong> tempo coberto<br />
ii. Verificam-se quais são os principais atores no mercado a analisar;<br />
iii. Verifica-se a a<strong>de</strong>quação ao mo<strong>de</strong>lo (mercados altamente regulamentados,<br />
intensivida<strong>de</strong> em conhecimento e Big Science);<br />
iv. Localiza-se o CN dos atores i<strong>de</strong>ntificados; e<br />
v. Assume-se este CN como CD;<br />
Estes passos são tratados individualmente, e <strong>de</strong> forma pormenorizada, abaixo.<br />
4.1 Determinação dos fatores <strong>de</strong> contorno do Cenário<br />
Os fatores <strong>de</strong> contorno são: a. Cliente; b. Propósito; c. Espaço coberto (contexto); d.<br />
Horizonte <strong>de</strong> tempo coberto<br />
50
A <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>stes fatores acontece <strong>de</strong> forma quase <strong>que</strong> automática quando da<br />
contratação da prospectiva, com uma pe<strong>que</strong>na ressalva para a <strong>que</strong>stão do Espaço<br />
coberto e para o Horizonte <strong>de</strong> tempo coberto. Estes itens, normalmente, serão<br />
<strong>de</strong>terminados <strong>de</strong>ntro do limite operacional do m<strong>é</strong>todo proposto, i.e., espaços bem<br />
<strong>de</strong>limitados, <strong>de</strong>ntro dos ambientes competitivos-regulatórios aqui <strong>de</strong>terminados, e<br />
horizonte <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong>, no máximo, 20 anos, dado <strong>que</strong> este <strong>é</strong> o limite típico das políticas<br />
públicas, sendo <strong>que</strong> o horizonte i<strong>de</strong>al <strong>é</strong> <strong>de</strong> 10 anos. Esta <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>ve ser realizada<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma dinâmica interativa com a etapa 3 (Item 4.3), com o intuito <strong>de</strong> se<br />
melhorar a <strong>de</strong>finição do escopo à medida <strong>que</strong> aumenta a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação<br />
sobre o objeto <strong>de</strong> análise.<br />
Apesar <strong>de</strong> não ser um acadêmico da área <strong>de</strong> prospectiva ou <strong>de</strong> planejamento<br />
tecnológico, o físico Freeman Dyson (1998) traz, em sua condição <strong>de</strong> fino observador<br />
da natureza da relação entre ciência, tecnologia e socieda<strong>de</strong>, uma gran<strong>de</strong> contribuição à<br />
compreensão do por<strong>que</strong> do prazo i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> 10 anos:<br />
“ <strong>de</strong>z anos <strong>é</strong> o horizonte normal das ativida<strong>de</strong>s humanas (...). Dez anos <strong>é</strong> tamb<strong>é</strong>m o limite extremo da<br />
previsibilida<strong>de</strong> política. Em <strong>de</strong>z anos os governos mudam, os lí<strong>de</strong>res políticos asce<strong>de</strong>m e caem, imp<strong>é</strong>rios<br />
<strong>de</strong>smoronam e revoluções viram o mundo pelo avesso. A economia e a tecnologia são mais previsíveis do<br />
<strong>que</strong> a política. Numa escala <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos, as forças <strong>que</strong> governam o <strong>de</strong>senvolvimento econômico e<br />
tecnológico não mudarão radicalmente (...) a ciência pura [entretanto] <strong>é</strong> veloz. Na ciência acostumamo-<br />
nos a testemunhar mudanças radicais em períodos <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos ou menos. Dez anos <strong>é</strong> a escala temporal<br />
típica das revoluções científicas.” (p. 109).<br />
51
4.2 I<strong>de</strong>ntificação dos principais atores no mercado a se analisar<br />
O processo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> atores-chave <strong>é</strong> <strong>feito</strong> em conjunto com o cliente. Como<br />
trata-se <strong>de</strong> um mercado claramente oligopolizado, esta etapa não <strong>de</strong>ve trazer<br />
dificulda<strong>de</strong>s.<br />
4.3 Verificação da a<strong>de</strong>quação ao mo<strong>de</strong>lo<br />
Determinados os fatores <strong>de</strong> contorno e i<strong>de</strong>ntificados os atores-chave, <strong>de</strong>ve-se partir para<br />
a etapa seguinte do m<strong>é</strong>todo, cujo objetivo <strong>é</strong> verificar a a<strong>de</strong>quação do espaço <strong>de</strong><br />
prospectiva aos crit<strong>é</strong>rios <strong>que</strong> constituem o limite operacional do mo<strong>de</strong>lo, <strong>que</strong> são:<br />
mercados altamente regulamentados; intensivida<strong>de</strong> em conhecimento; e Big Science.<br />
As informações sobre a estrutura do mercado po<strong>de</strong>m ser obtidas em relatórios <strong>de</strong><br />
bancos <strong>de</strong> investimento analisando o setor ou, at<strong>é</strong> mesmo, nos relatório <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstração<br />
<strong>de</strong> resultados apresentados ao mercado financeiro pelas empresas. Quanto às <strong>que</strong>stões<br />
sobre intensivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimento e Big Science, uma excelente fonte são os<br />
relatórios da OCDE anuais conhecidos como “Science, Technology and Innovation<br />
Outlook”. Estes relatórios, bem como em outros produzidos pelas agências nacionais <strong>de</strong><br />
fomento, são as principais fontes <strong>de</strong> informação. Eventualmente existem publicações<br />
específicas <strong>que</strong> analisam as políticas <strong>de</strong> incentivo público à P&D nos mercados sob<br />
análise. Estas publicações constituem tamb<strong>é</strong>m uma rica fonte <strong>de</strong> informações.<br />
4.4 Localização do CN dos atores i<strong>de</strong>ntificados<br />
Uma vez i<strong>de</strong>ntificados os atores-chave e <strong>de</strong>terminada a existência das condições<br />
previstas pelo mo<strong>de</strong>lo, <strong>de</strong>ve-se buscar as informações sobre o CN. Esta informação<br />
52
normalmente encontra-se nos sítios das agências governamentais ligados ao<br />
financiamento e promoção da pesquisa científico-tecnológica nos países em <strong>que</strong>stão.<br />
4.5 Construção do CD baseado no CN<br />
Esta construção <strong>de</strong>ve ser feita, basicamente, assumindo as metas apresentadas (<strong>futuro</strong><br />
normativo) como marcos (<strong>futuro</strong> <strong>de</strong>scritivo). A apresentação <strong>de</strong>ste CD po<strong>de</strong> ser feita <strong>de</strong><br />
várias formas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> simplesmente transcrevendo as metas apresentadas no CN, at<strong>é</strong><br />
elaborando textos mais ricos <strong>que</strong> tragam as id<strong>é</strong>ias apresentadas no CN. Tamb<strong>é</strong>m po<strong>de</strong><br />
ser <strong>feito</strong> exercício <strong>de</strong> <strong>que</strong>bra das metas utilizando-se outras ferramentas <strong>de</strong> prospectiva,<br />
como curvas <strong>de</strong> tendência para as tecnologias vislumbradas, análises <strong>de</strong> impacto<br />
cruzado ou árvores <strong>de</strong> relevância.<br />
Quanto à premissa chave do m<strong>é</strong>todo, <strong>de</strong> <strong>que</strong> po<strong>de</strong>-se assumir o CN dos atores<br />
principais como CD, esta <strong>é</strong> particularmente interessante sob a óptica da argumentação<br />
<strong>de</strong> Go<strong>de</strong>t (1982), <strong>que</strong> lembra <strong>que</strong> “information about the future (...) is rarely neutral:<br />
usually it serves specific interests”. Desta forma, o vi<strong>é</strong>s da informação utilizada fica<br />
claro <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio, evitando assim <strong>que</strong> se cometa erros <strong>de</strong> julgamento (GODET,<br />
1982)<br />
53
5 APLICAÇÃO DO MÉTODO: O CASO AEROESPACIAL<br />
Neste capítulo <strong>é</strong> apresentada uma utilização do Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> Futuro proposto pelo<br />
presente trabalho, atrav<strong>é</strong>s da aplicação do m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva proposto no Capítulo<br />
4. Esta aplicação ocorre com relação ao mercado aeroespacial, mais especificamente no<br />
segmento <strong>de</strong> Large Commercial Aircraft (LCA), pois este, como <strong>é</strong> apresentado abaixo,<br />
cumpre os requisitos metodológicos para a aplicação do mo<strong>de</strong>lo. Trata-se <strong>de</strong> um<br />
mercado altamente regulamentado, oligopolizado, intensivo em conhecimento e com<br />
fortes investimentos governamentais em P&D. A utilização <strong>de</strong>ste segmento específico<br />
não traz, entretanto, nenhuma perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong>, pois o segmento <strong>de</strong> LCA<br />
compartilha a base <strong>de</strong> conhecimentos vitais com o resto do setor aeroespacial, bem<br />
como uma base similar <strong>de</strong> produção, sendo <strong>que</strong> os times <strong>de</strong> projeto e fabricação civis já<br />
<strong>de</strong>senvolveram hardware militar e os requisitos <strong>de</strong> mercado já promoveram inovações<br />
tecnológicas relevantes para os militares, e vice-versa (PINELLI et al., 1997).<br />
Capítulo 4.<br />
A aplicação do m<strong>é</strong>todo se dá no formato e na seqüência <strong>de</strong> eventos <strong>de</strong>scrita no<br />
5.1 Determinação dos fatores <strong>de</strong> contorno do Cenário<br />
a. Cliente: O cliente, neste estudo <strong>de</strong> caso, está in<strong>de</strong>finido. Po<strong>de</strong> ser uma empresa,<br />
um consórcio <strong>de</strong> empresas, uma instituição <strong>de</strong> ensino e pesquisa, ou at<strong>é</strong> mesmo um<br />
governo. A <strong>de</strong>finição mais clara do cliente influenciaria, principalmente, na forma<br />
<strong>de</strong> apresentação dos resultados.<br />
54
. Propósito: O propósito <strong>de</strong>ste CD <strong>é</strong> construir a base para o processo <strong>de</strong><br />
planejamento tecnológico, preferencialmente um exercício <strong>de</strong> Roadmap.<br />
c. Espaço Coberto: o espaço a ser coberto <strong>é</strong> o do mercado aeroespacial mundial.<br />
d. Horizonte <strong>de</strong> tempo coberto: o horizonte <strong>de</strong> tempo a ser coberto <strong>é</strong> o <strong>de</strong> 10 anos à<br />
frente, portanto ano 2014. Este horizonte <strong>de</strong> tempo <strong>é</strong> <strong>de</strong>terminado tendo em mente<br />
três consi<strong>de</strong>rações. A primeira <strong>é</strong> <strong>que</strong> um horizonte <strong>de</strong> tempo menor do <strong>que</strong> 10 anos <strong>é</strong><br />
<strong>de</strong> pouca valida<strong>de</strong> para a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> planejamento tecnológico, por ser <strong>de</strong> curto<br />
prazo. A segunda se refere ao limite teórico para o MTF usado como base para este<br />
exercício <strong>de</strong> prospectiva, <strong>que</strong> <strong>é</strong> <strong>de</strong> 20 anos, consi<strong>de</strong>rados a partir do lançamento das<br />
metas <strong>que</strong> constituem o CN utilizado. No presente caso, o lançamento <strong>de</strong> metas mais<br />
antigo (dos EUA) data <strong>de</strong> 1997, constituindo assim um limite <strong>de</strong> segurança o ano<br />
2017. Al<strong>é</strong>m <strong>de</strong>stas consi<strong>de</strong>rações, está a <strong>que</strong> o prazo <strong>de</strong> 10 anos <strong>é</strong> mais ou menos<br />
típico para os exercícios <strong>de</strong> planejamento corporativo, sendo <strong>que</strong> um horizonte <strong>de</strong> 10<br />
para o CD <strong>é</strong>, <strong>de</strong>sta forma, apropriado.<br />
5.2 Principais Atores<br />
A estrutura <strong>de</strong> mercado do segmento LCA <strong>é</strong> <strong>de</strong> mercados globais e caracterizada por<br />
oligopólios internacionais (PINELLI et al., 1997), sendo <strong>que</strong> atualmente existem apenas<br />
dois prime competitors, <strong>que</strong> competem ferozmente entre si, no mercado: a norte-<br />
americana Boeing e a europ<strong>é</strong>ia Airbus, <strong>que</strong> <strong>é</strong> um consórcio formado pela pan-europ<strong>é</strong>ia<br />
EADS (European Aeronautical and Defense System) e a britânica BAe Systems.<br />
55
Esta concentração do mercado aeroespacial, on<strong>de</strong> existem poucos montadores<br />
finais, <strong>é</strong> es<strong>que</strong>matizada na Figura 5.1. As figuras 5.2, 5.3 e 5.4 mostram a brutal<br />
consolidação das empresas <strong>de</strong>ste mercado (fabricantes americanos), nos últimos anos.<br />
Sistem as<br />
Aviônicos<br />
Relacionados à<br />
Missão<br />
Navegação,<br />
Comunicação, Vigilância e<br />
Sistem as <strong>de</strong><br />
Gerenciamento <strong>de</strong> Vôo<br />
Sistem as<br />
Aviônicos<br />
abordo<br />
Montagem<br />
Final e<br />
Vendas<br />
PRIMES<br />
Sistem as<br />
<strong>de</strong><br />
Propulsão<br />
SUB-CONTRATADOS<br />
Motor e<br />
Componentes<br />
Acessórios<br />
do Motor<br />
Sistem as <strong>de</strong> ignição e<br />
Fontes <strong>de</strong> Energia El<strong>é</strong>trica<br />
FORNECEDORES<br />
Estruturas<br />
<strong>de</strong><br />
Airframes ff<br />
f Estruturas,<br />
qqSubmotagem<br />
qqq e Subsistemas<br />
Sist. <strong>de</strong> Combustível<br />
Trem <strong>de</strong> Pouso<br />
Sist. Hidráulicos<br />
Fuselagem e Estruturas<br />
Sist. <strong>de</strong> Interior <strong>de</strong> Cabine e<br />
Componentes<br />
Sist. <strong>de</strong> Controle Ambiental<br />
Sist. e Componentes<br />
Eletro-eletrônicos<br />
Figura 5.1: Estrutura do mercado <strong>de</strong> LCAs (Adaptado <strong>de</strong> PINELLI et al., 1997)<br />
Primeira Onda Segunda Onda<br />
Figura 5.2: Consolidação do Mercado Aeroespacial Norte-Americano (adaptado <strong>de</strong><br />
COMMISSION ON THE FUTURE OF THE UNITED STATES AEROSPACE<br />
INDUSTRY, 2002)<br />
56
Figura 5.3: Consolidação do Mercado Aeroespacial Norte-Americano (adaptado <strong>de</strong><br />
COMMISSION ON THE FUTURE OF THE UNITED STATES AEROSPACE<br />
INDUSTRY, 2002)<br />
Figura 5.4: Consolidação do Mercado Aeroespacial Norte-Americano (adaptado <strong>de</strong><br />
COMMISSION ON THE FUTURE OF THE UNITED STATES AEROSPACE<br />
INDUSTRY, 2002)<br />
5.3 A<strong>de</strong>quação do Mo<strong>de</strong>lo<br />
Primeira Onda Segunda Onda<br />
Primeira Onda Segunda Onda<br />
Na seção anterior foi apresentada a primeira característica <strong>de</strong> mercado <strong>que</strong> habilita a<br />
utilização do MTF proposto no presente trabalho, i.e., a oligopolização da concorrência.<br />
Abaixo são analisadas as <strong>de</strong>mais características, a saber: mercado altamente<br />
57
egulamentado; intensivo em conhecimento; com forte <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> investimentos<br />
governamentais em P&D.<br />
5.3.1 Regulamentação no Mercado<br />
Uma característica fundamental no segmento LCA <strong>é</strong> sua importância estrat<strong>é</strong>gica para as<br />
nações. Segundo Pinelli et al. (1997), nos EUA, este segmento <strong>é</strong> muito importante para<br />
a balança comercial, para a <strong>que</strong>stão do emprego e para a sinergia tecnológica. Dada esta<br />
importância tecnológica, a regulamentação torna-se uma característica central. Ainda<br />
segundo Pinelli et al. (1997), o governo fe<strong>de</strong>ral norte-americano interv<strong>é</strong>m para suportar<br />
a aviação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando o valor potencial para a <strong>de</strong>fesa nacional forai i<strong>de</strong>ntificado, antes<br />
da Primeira Guerra Mundial.<br />
Dados este valor estrat<strong>é</strong>gico, o sistema <strong>de</strong> transporte a<strong>é</strong>r<strong>eo</strong> nacional <strong>é</strong> entendido<br />
como um recurso vital, sendo <strong>que</strong> o governo interv<strong>é</strong>m para prover infra-estrutura,<br />
controlando o uso do espaço a<strong>é</strong>r<strong>eo</strong> navegável, operando e mantendo o sistema <strong>de</strong><br />
navegação a<strong>é</strong>rea, <strong>de</strong>senvolvendo e operando controles <strong>de</strong> tráfego a<strong>é</strong>r<strong>eo</strong> e <strong>de</strong>senvolvendo<br />
e implementando regras para controlar o ruído das aeronaves, bem como outros e<strong>feito</strong>s<br />
ambientais da aviação civil (PINELLI et al., 1997).<br />
Tanto nos EUA quanto na Europa nenhuma aeronave da classe <strong>de</strong> LCA po<strong>de</strong><br />
entrar em operação comercial sem <strong>que</strong> seja homologada pelos órgãos <strong>de</strong> certificação,<br />
FAA nos EUA e JAA e EASA na Europa 10 .<br />
10 No Brasil, a homologação aeronáutica <strong>é</strong> feita pelo Instituto <strong>de</strong> Fomento Industrial (IFI), ligado ao<br />
Centro T<strong>é</strong>cnico Aeroespacial (CTA), orgão do Comando da Aeronáutica / Minist<strong>é</strong>rio da Defesa.<br />
58
Do ponto <strong>de</strong> vista operacional, po<strong>de</strong>-se dizer <strong>que</strong> os operadores (airliners), <strong>que</strong><br />
são os usuários do produtos, tamb<strong>é</strong>m trabalham <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um sistema nacional <strong>de</strong><br />
transporte altamente <strong>de</strong>finido pelo governo (PINELLI et al., 1997) 11 .<br />
Uma nuance <strong>que</strong> revela a importância das <strong>que</strong>stões governamentais para o<br />
negócio da aviação <strong>é</strong> <strong>que</strong> uma das revistas <strong>de</strong> maior circulação da área, o semanário<br />
Aviation Week & Space Technology, possui a seção Washington Outlook. Esta seção <strong>é</strong><br />
voltada à cobertura dos movimentos do governo norte-americano com impactos no<br />
setor.<br />
5.3.2 Intensivida<strong>de</strong> em Conhecimento<br />
A <strong>que</strong>stão da intensivida<strong>de</strong> em conhecimento talvez seja a mais fácil <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r. A<br />
caracterização do segmento LCA como uma indústria intensiva em conhecimento <strong>é</strong><br />
colocada por Pinelli et al. (1997), mas <strong>é</strong> tamb<strong>é</strong>m facilmente comprovada pelos volumes<br />
<strong>de</strong> investimento em P&D (apresentados na seção a seguir) e pela alta complexida<strong>de</strong><br />
tecnológica do produto. Desta forma, este item não necessita <strong>de</strong> maiores discussões.<br />
5.3.3 Investimentos Governamentais em P&D<br />
Segundo um testemunho <strong>de</strong> Bob Robeson (vice-presi<strong>de</strong>nte da AIA - Aviation Industry<br />
Association para aviação civil) ao Subcommitte on Technology, Environment, and<br />
Aviation do Congresso Norte-Americano, a NASA <strong>é</strong> um importante parceiro para<br />
11 Nos últimos anos vem ocorrendo um movimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sregulamentação das airliners no mercado norteamericano,<br />
princiapalmente visando melhorar aspectos <strong>de</strong> custos operacionais e evitar crises econômicas<br />
no setor. Uma indicação <strong>de</strong>ste caminho <strong>é</strong> o recente crescimento das empresas low fare. Entretanto, apesar<br />
<strong>de</strong>sta <strong>de</strong>sregulamentação, este mercado ainda po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado mais regulamentado do <strong>que</strong> a m<strong>é</strong>dia.<br />
59
indústria no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tecnologias na fase pr<strong>é</strong>-competitiva, e, <strong>de</strong>sta forma,<br />
instou o Congresso Norte-Americano a continuar a financiar tecnologias <strong>de</strong> alto risco e<br />
alto retorno, as quais a indústria, <strong>de</strong> outra forma, não po<strong>de</strong>ria obter por si mesma<br />
(PINELLI at al., 1997).<br />
O <strong>de</strong>poimento acima mostra o quanto vem sendo importante o financiamento<br />
governamental para indústria <strong>de</strong> LCA norte-americana. O National Science and<br />
Technology Council comenta ainda <strong>que</strong>, como todos os LCAs <strong>feito</strong>s nos EUA, a<br />
produção e operação do Boeing 777 (para usar um exemplo recente) são influenciadas<br />
por uma gama <strong>de</strong> políticas públicas, sendo <strong>que</strong> do lado da produção, as pesquisas em<br />
tecnologia aeronáutica conduzidas pela NASA/NACA têm beneficiado a indústria<br />
norte-americana <strong>de</strong> aviões (NSTC, 1995).<br />
Uma outra <strong>de</strong>monstração da importância da indústria aeroespacial para os EUA,<br />
vêm da “Commission on the Future of the United States Aerospace Industry”, <strong>que</strong> em<br />
seu relatório final <strong>de</strong> 2002, diz <strong>que</strong><br />
“the aerospace industry is a powerful force within the U.S. economy and one of the nation’s most<br />
competitive sectors in the global marketplace. It contributes over 15 percent to our Gross Domestic<br />
Product and supports over 15 million high quality American jobs. Aerospace products provi<strong>de</strong> the largest<br />
tra<strong>de</strong> surplus of any manufacturing sector. Last year, more than 600 million passengers relied on U.S.<br />
commercial air transportation and over 150 million p<strong>eo</strong>ple were transported on general aviation aircraft.<br />
Over 40 percent of the value of U.S. freight is transported by air. Aerospace capabilities have enabled e-<br />
commerce to flourish with overnight mail and parcel <strong>de</strong>livery, and just-in-time manufacturing.”<br />
(2002, p. 1 - 2)<br />
60
O relatório comenta ainda <strong>que</strong> a saú<strong>de</strong> da indústria aeroespacial, hoje e no<br />
<strong>futuro</strong>, está inexoravelmente ligada à li<strong>de</strong>rança do governo fe<strong>de</strong>ral, e vai mais longe, em<br />
sua Quarta Recomendação, on<strong>de</strong> está <strong>que</strong> “Commission recommends that the nation<br />
adopt a policy that invigorates and sustains the U.S. aerospace industrial base” (2002,<br />
p. X).<br />
Uma ilustração <strong>de</strong> como acontece a relação entre Ciência-Tecnologia-Socieda<strong>de</strong>,<br />
mediada pelo governo - conforme <strong>de</strong>scrita na Seção 2.2. - no caso aeroespacial <strong>é</strong> dada<br />
por Herbert von Bose, da “Research Directorate General / European Commission”<br />
(Figura 5.5) e pela Figura 5.6, elaborada pela Comissão Europ<strong>é</strong>ia.<br />
Aeronáutica<br />
Hoje<br />
Aeronáutica<br />
no Futuro<br />
Figura 5.5: Fatores <strong>que</strong> moldarão a aeronáutica no s<strong>é</strong>culo XXI (adaptado <strong>de</strong> VON<br />
BOSE, 2002a)<br />
O envolvimento fe<strong>de</strong>ral na P&D, no caso norte-americano, se dá por meio <strong>de</strong><br />
agências. As principais agências fe<strong>de</strong>rais envolvidas no sistema <strong>de</strong> inovação norte-<br />
americano, com impactos na aviação comercial são a NASA, o DoD e o FAA.<br />
Entretanto, neste trabalho o foco principal <strong>é</strong> a NASA, uma vez <strong>que</strong> esta <strong>é</strong> o principal<br />
61
esponsável por conduzir a pesquisa aeronáutica, contando com a maior parte do<br />
dinheiro disponível para financiar este tipo <strong>de</strong> pesquisa (OTA, 1994). A NASA<br />
atualmente mant<strong>é</strong>m quatro centros <strong>de</strong> pesquisa e uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> instalações <strong>que</strong> são<br />
caras <strong>de</strong>mais para serem construídas e operadas por qual<strong>que</strong>r ator privado do segmento<br />
LCA (PINELLI et al., 1997).<br />
Figura 5.6: Fatores <strong>de</strong> sucesso para uma inovação tecnológica (adaptado <strong>de</strong><br />
EUROPEAN COMMISSION, 2002a)<br />
A NASA <strong>de</strong>senvolve tecnologias aeronáuticas com base em Programas Focados,<br />
<strong>que</strong> têm objetivos específicos a serem atingidos, e com base em pesquisas básicas, não<br />
focadas, em temas como aerodinâmica, estruturas, materiais e fatores humanos. Estas<br />
pesquisas conduzidas pela NASA, quando levam a inovações tecnológicas afetam a<br />
eficiência produtiva da aviação e, ao mesmo tempo, aumentam o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> vôo e<br />
a segurança.<br />
Tecnologias<br />
Não<br />
econômica<br />
Baixa<br />
aceitação<br />
Inovação<br />
Demandas<br />
Sociais<br />
Obsoleta<br />
Mercado<br />
62
Uma outra característica da pesquisa em tecnologia aeronáutica <strong>é</strong> <strong>que</strong>, ainda <strong>que</strong><br />
a inovação tecnológica possa ser financiada somente pelo setor privado, com os custos<br />
<strong>de</strong> P&D repassados ao consumidor, a história do envolvimento governamental na<br />
aviação criou uma estrutura no setor <strong>que</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do suporte público para continuar<br />
tendo sucesso. No caso do LCA, on<strong>de</strong> os custos <strong>de</strong> P&D são muito altos, as inovações<br />
tecnológicas são virtualmente impossíveis para empresas isoladas (PINELLI et al.,<br />
1997). Esta característica sui generis da P&D aeroespacial, em comparação à influência<br />
governamental na P&D <strong>de</strong> outros setores, <strong>é</strong> ilustrada na Figura 5.7.<br />
Segundo Pinelli et al. (1997), o e<strong>feito</strong> combinado das políticas públicas <strong>de</strong> P&D<br />
foi criar incentivos tanto “<strong>de</strong>mand-pull” quanto “supply-push” para as indústrias LCA,<br />
sendo <strong>que</strong> o governo fe<strong>de</strong>ral norte-americano tem, continuamente, financiado a pesquisa<br />
tecnológica na aviação civil, suportando a disseminação dos resultados das pesquisas e<br />
encorajando a adoção das tecnologias <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1917, primeiro com a NACA e <strong>de</strong>pois com<br />
a NASA.<br />
No caso europeu, o cenário se configura com a existência <strong>de</strong> consórcios<br />
internacionais, como a Airbus, <strong>que</strong> surgiram da constatação dos europeus, durante a<br />
d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong> 1960, <strong>que</strong> não conseguiriam superar os EUA em tamanho <strong>de</strong> mercado e base<br />
<strong>de</strong> P&D <strong>de</strong> forma individual. Este mo<strong>de</strong>lo, <strong>de</strong> consórcios e joint-ventures<br />
transnacionais, <strong>é</strong> a base do atual sucesso dos empreendimentos europeus em aeroespaço<br />
(PINELLI et al., 1997). Segundo van Zuylen e Weber (2002), a indústria aeronáutica foi<br />
a primeira verda<strong>de</strong>iramente europ<strong>é</strong>ia.<br />
63
A cooperação governamental em investimento em P&D aeroespacial na Europa<br />
<strong>é</strong> razoavelmente recente. Em comparação com os EUA, <strong>que</strong> investem no setor <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />
começo do s<strong>é</strong>culo XX, antes <strong>de</strong> 1989 não havia envolvimento da União Europ<strong>é</strong>ia no<br />
suporte à pesquisa aeronáutica (PINELLI et al., 1997). A mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong><br />
consolidou-se com o surgimento do programa <strong>de</strong> financiamento à pesquisa “Framework<br />
4”. Este foi o primeiro da s<strong>é</strong>ria “Framework” a incluir a P&D aeronáutica, tendo esta<br />
como um dos principais focos <strong>de</strong> investimento (VAN ZUYLEN; WEBER, 2002). Isto<br />
aconteceu por sugestão <strong>de</strong> um estudo <strong>que</strong> constatou <strong>que</strong> o conhecimento europeu estava<br />
fragmentado e a base tecnológica não po<strong>de</strong>ria suportar a competitivida<strong>de</strong> global da<br />
indústria aeronáutica europ<strong>é</strong>ia sem apoio financeiro da União Europ<strong>é</strong>ia.<br />
Equipamentos m<strong>é</strong>dicos e<br />
suprimentos<br />
Maquinaria<br />
Software<br />
Aeroespaço:<br />
produtos e partes<br />
Serviços: profissional,<br />
científico e t<strong>é</strong>cnico<br />
Equipamentos <strong>de</strong> transporte<br />
(menos aeroespaço)<br />
Com<strong>é</strong>rcio<br />
Químicos<br />
Computadores e Produtos<br />
eletrônicos<br />
Companhia e outros nãofe<strong>de</strong>rais<br />
Fe<strong>de</strong>ral<br />
0 5 10 15 20 25 30 35 40<br />
Bilhões <strong>de</strong> Dólares Correntes<br />
Figura 5.7: Desempenho da P&D Industrial por Indústrias Selecionadas, por Fonte dos<br />
Recursos (adaptado <strong>de</strong> NSF, 2002)<br />
5.4 Localização dos Cenários Normativos dos Principais Atores<br />
Dado o contexto anteriormente exposto, e já caracterizada a pertinência do mercado-<br />
alvo ao MTF, os CN buscados neste caso são os apresentados nas políticas <strong>de</strong> C&T<br />
64
elacionadas ao setor em <strong>que</strong>stão, i.e., o aeroespacial. No caso europeu, <strong>é</strong> utilizado o<br />
plano do “Framework 6” (EUROPEAN COMMISSION, 2002b), <strong>que</strong> <strong>é</strong> o programa <strong>de</strong><br />
financiamento <strong>de</strong> P&D europeu. A semelhança dos objetivos <strong>de</strong>ste programa e dos<br />
programas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tecnologias na fase pr<strong>é</strong>-competitiva da NASA fica<br />
clara nas Figuras 5.8 e 5.9.<br />
No caso norte-americano, como não há política <strong>de</strong> C&T centralizada, mas por<br />
agência (PINELLI et al., 1997), o documento utilizado <strong>é</strong> o “NASA Roadmaps to the<br />
Future: Strategic Roadmaps in Support of the Three Pillars and Ten Goals” (CETS,<br />
1998), programa da NASA lançado em 1997, com a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> metas orientadas a<br />
resultados en<strong>de</strong>reçando as necessida<strong>de</strong>s críticas em P&D aeroespacial a serem atingidas<br />
pela agência. Enten<strong>de</strong>-se <strong>que</strong> as metas apresentadas nestes documentos serão as metas<br />
buscadas pelos executores da P&D, mesmo os privados, uma vez <strong>que</strong> este <strong>é</strong> um<br />
mercado altamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> financiamento governamental (conforme mostrado na<br />
Seção 4.2.3). Um resumo dos principais pontos <strong>que</strong> configuram o CN <strong>é</strong> exposto a<br />
seguir.<br />
65
Programa Framework<br />
Figura 5.8: Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Desenvolvimento Tecnológico Aeronáutico Europeu (adaptado<br />
<strong>de</strong> VON BOSE, 2002b)<br />
Descoberta Viabilida<strong>de</strong> Praticabilida<strong>de</strong> Aplicabilida<strong>de</strong><br />
Universida<strong>de</strong>s (?)<br />
Aquisição Aquisição <strong>de</strong> <strong>de</strong> P&D P&D<br />
Desenvolvimento Desenvolvimento <strong>de</strong> <strong>de</strong> Produto<br />
Produto<br />
Conhecimento Fundamental<br />
Tempo (anos)<br />
Desenvolvimento da Tecnologia<br />
Validação da Tecnologia<br />
NASA<br />
Pesquisa & Desenvolvimento<br />
Boeing<br />
Demonstradores Protótipos<br />
Definição <strong>de</strong> Produto<br />
Centro <strong>de</strong> Tecnologia - FAA<br />
Design <strong>de</strong> Produto e Desenvolvimento<br />
Figura 5.9: Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Desenvolvimento Tecnológico Aeronáutico Norte-Americano<br />
(adaptado <strong>de</strong> KELLEY-WICKEMEYER, 2003)<br />
Tecnologia Pronta<br />
Linha <strong>de</strong> Negócio - FAA<br />
Demonstração do Produto<br />
-10 -5 0 + 5<br />
Produção<br />
Produto Pronto<br />
Desenvolvimento <strong>de</strong> Produto<br />
Boeing<br />
66
5.4.1 Cenário Normativo: EUA e UE<br />
Os CN dos EUA e da UE po<strong>de</strong>m ter suas metas agrupadas em quatro áreas: Segurança;<br />
Meio-ambiente; Infra-Estrutura do Setor A<strong>é</strong>r<strong>eo</strong>; e Custos na Aviação. As metas <strong>que</strong><br />
compõem o CN seguem relacionadas abaixo. Estes textos são baseados nos documentos<br />
European Commission (2002b) e CETS (1998).<br />
Segurança<br />
1. Reduzir a taxa <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> avião em 50% (UE) ou 80% (EUA) no curto<br />
prazo (~ 10 anos) e 80% (UE) ou 90% (EUA), no longo prazo (~25 anos).<br />
2. Obter 100% <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evitar ou compensar erros humanos (UE).<br />
3. Mitigar as conseqüências <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes aeronáuticos com sobreviventes (UE).<br />
4. Reduzir significativamente as conseqüências <strong>de</strong> atos hostis a bordo, durante o<br />
vôo (UE).<br />
Meio-Ambiente<br />
1. Reduzir as emissões <strong>de</strong> CO2 em 50% por passageiro por quilômetro no longo<br />
prazo (~25 anos) (UE), ou por 25%, em 10 anos, por 50% , em um prazo <strong>de</strong> 25<br />
anos, e possivelmente, <strong>de</strong> forma total no período <strong>de</strong> 30 a 40 anos (EUA).<br />
2. Reduzir as emissões <strong>de</strong> NOx em 80% no ciclo <strong>de</strong> pouso e <strong>de</strong>colagem, no longo<br />
prazo (~25 anos) (UE) por 66%, em 10 anos, por um fator <strong>de</strong> 5, em 25 anos, e<br />
possivelmente, totalmente no período <strong>de</strong> 30 a 40 anos (EUA).<br />
3. Reduzir os hidrocarbonetos não-<strong>que</strong>imados e as emissões <strong>de</strong> CO em 50% , no<br />
longo prazo (UE).<br />
67
4. Reduzir o ruído externo em 4 a 5 db e em 10 db no curto e longo-prazo<br />
respectivamente (UE), ou pela meta<strong>de</strong> (10 db) em 10 anos e em 3/4 (20 db) em<br />
25 anos, em comparação aos aviões subsônicos atuais.<br />
5. Reduzir os impactos da manufatura e da manutenção <strong>de</strong> aeronaves e seus<br />
componentes no meio ambiente (UE).<br />
Infra-Estrutura do Transporte A<strong>é</strong>r<strong>eo</strong><br />
1. Melhorar os níveis atuais <strong>de</strong> segurança, levando em conta os níveis <strong>de</strong> tráfego<br />
projetados.<br />
2. Aumentar a capacida<strong>de</strong> do sistema para suportar, <strong>de</strong> maneira segura, três vezes<br />
mais movimento a<strong>é</strong>r<strong>eo</strong>, at<strong>é</strong> 2010 (EUA) ou 2020 (UE).<br />
3. Aumentar a eficiência e a confiabilida<strong>de</strong> do sistema atual, buscando atingir um<br />
atraso m<strong>é</strong>dio máximo <strong>de</strong> 1 minuto por vôo (UE).<br />
4. Maximizar a capacida<strong>de</strong> operacional sob quais<strong>que</strong>r condições meter<strong>eo</strong>lógicas,<br />
<strong>de</strong> modo a suportar o aumento da <strong>de</strong>manda por tráfego (UE).<br />
Custos na Aviação<br />
1. Reduzir os custos da viagem a<strong>é</strong>rea em 25%, em 10 anos, e em 50%, em 25 anos<br />
(EUA).<br />
2. Reduzir os custos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> aeronaves entre 20% e 50%, no curto e<br />
longo-prazo, respectivamente (UE).<br />
3. Reduzir os custos <strong>de</strong> operação <strong>de</strong> aeronaves em 20% e 50%, no curto e longo-<br />
prazo, respectivamente (UE).<br />
4. Aumentar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha do passageiro em relação aos custos <strong>de</strong><br />
viagem, tempo at<strong>é</strong> o <strong>de</strong>stino, serviços <strong>de</strong> bordo e conforto (UE).<br />
68
5.5 Aplicação do CN ao CD<br />
A partir <strong>de</strong>stas metas apresentadas na Seção 5.4.1, e assumindo-se as premissas<br />
necessárias, expostas no MTF e no M<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> Prospectiva, po<strong>de</strong>-se partir para a<br />
construção <strong>de</strong> um CD. Por uma opção metodológica, este trabalho aproxima-se da<br />
abordagem da Royal Dutch Shell <strong>de</strong> Foretelling (MILLET, HONTON, 1991), on<strong>de</strong> a<br />
visão <strong>de</strong> <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> contada como uma história. Desta forma, este CD busca <strong>de</strong>screver o<br />
ambiente dos LCA sob a perspectiva <strong>de</strong> um observador <strong>que</strong> esteja localizado no <strong>futuro</strong>-<br />
alvo, i.e., 2014. Para enri<strong>que</strong>cer os cenários, são agregadas <strong>de</strong>scrições sobre as<br />
tecnologias apresentadas no artigo “Technology Drivers for 21st Century Air<br />
Transportation Systems” (DREW et al., 2003) e <strong>é</strong> realizado um exemplo <strong>de</strong> aplicação da<br />
t<strong>é</strong>cnica <strong>de</strong> Árvores <strong>de</strong> Relevância.<br />
5.5.1 Cenário Descritivo: o Ambiente Tecnológico dos LCAs em 2014<br />
Segurança (incorpora as metas do CN relativas à “Infra-Estrutura do Transporte<br />
A<strong>é</strong>r<strong>eo</strong>”)<br />
“A <strong>de</strong>speito do crescente número <strong>de</strong> vôos, e da instabilida<strong>de</strong> g<strong>eo</strong>política causada pelo<br />
terrorismo internacional, as empresas a<strong>é</strong>reas conseguiram, nos últimos 10 anos, reduzir<br />
significativamente os níveis <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes. A pressão pública motivou os fabricantes <strong>de</strong><br />
aeronaves a projetar e fabricar aviões cada vez mais à prova <strong>de</strong> falhas, e as empresas<br />
a<strong>é</strong>reas a adotar uma forte cultura <strong>de</strong> segurança.<br />
Do lado dos fabricantes, a consecução dos objetivos em segurança foram<br />
largamente suportados pelo forte <strong>de</strong>senvolvimento <strong>que</strong> ocorreu nas tecnologias <strong>de</strong><br />
69
informação e comunicação. Este <strong>de</strong>senvolvimento provocou impactos em diversas<br />
áreas, como a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> simulação dos sistemas aeronáuticos, <strong>que</strong> tornaram as<br />
operações mais eficientes e seguras; a capacitação para o monitoramento do<br />
<strong>de</strong>sempenho da aeronave em vôo, bem como <strong>de</strong> eventos a bordo; o <strong>de</strong>senvolvimento e<br />
integração <strong>de</strong> sistemas aviônicos inteligentes; o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> para<br />
<strong>de</strong>monstrar o funcionamento dos sistemas em uma simulação full-scale, realizando<br />
<strong>de</strong>sta forma uma avaliação da maturida<strong>de</strong> e segurança <strong>de</strong>stes; o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
sistemas embarcados à prova <strong>de</strong> erros operacionais, atuando fortemente na interface<br />
homem-máquina; o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sistemas <strong>que</strong> permitam visualizar o terreno à<br />
frente, bem como condições climáticas adversas – possibilitando assim a operação<br />
segura sob quais<strong>que</strong>r condições climáticas e ainda sistemas <strong>que</strong> permitam lidar com<br />
situações hostis, tais como seqüestros ou ameaças <strong>de</strong> mísseis.<br />
Tamb<strong>é</strong>m houve mudanças <strong>de</strong> conceito <strong>de</strong> projeto, com a emergência do <strong>de</strong>sign-<br />
for-crash, <strong>que</strong> visa a projetar aeronaves <strong>que</strong> permitam a mitigação das conseqüências<br />
dos aci<strong>de</strong>ntes aeronáuticos, aumentando a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sobrevivência das pessoas a<br />
bordo e ao mesmo tempo diminuindo a gravida<strong>de</strong> dos ferimentos sofridos pelos<br />
sobreviventes.<br />
As tecnologias <strong>de</strong>senvolvidas permitem ao operador trabalhar com padrões <strong>de</strong><br />
segurança cada vez mais elevados, funcionando <strong>de</strong> modo efetivo sob quais<strong>que</strong>r<br />
condições adversas.”<br />
70
Meio-Ambiente<br />
“Ao lado <strong>de</strong> uma operação barata e segura, a socieda<strong>de</strong> impôs a agenda ambiental à<br />
aviação nestes últimos 10 anos. O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tecnologias <strong>que</strong> visavam a tornar<br />
o ciclo <strong>de</strong> vida da aeronave environment-friendly e uma operação com conforto superior<br />
ao usuário foi mandatório para os fabricantes <strong>de</strong> aeronaves.<br />
O gran<strong>de</strong> foco <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, do ponto <strong>de</strong> vista das tecnologias<br />
ambientais, <strong>de</strong>stes últimos 10 anos, foi a redução das emissões e ruídos produzidos<br />
durante a operação e a redução – e em alguns casos eliminação - da toxida<strong>de</strong> dos<br />
materiais utilizados na produção e manutenção <strong>de</strong> aeronaves.<br />
As principais tecnologias <strong>de</strong>senvolvidas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta filosofia foram o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> conceitos <strong>de</strong> projeto <strong>que</strong> permitam soluções tecnológicas para<br />
maior eficiência das aeronaves movidas a hidrocarbonetos, atrav<strong>é</strong>s da redução <strong>de</strong> peso<br />
estrutural, melhorias aerodinâmicas e t<strong>é</strong>rmicas; o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> processos e a<br />
adoção <strong>de</strong> materiais <strong>que</strong> permitam realizar as operações <strong>de</strong> manufatura e manutenção<br />
com poucos, ou nenhum, impacto ambiental; o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> aero-<br />
acústica computacional e novos sistemas, permitindo assim o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
motores e airframes mais eficientes e silenciosos, em benefício tanto dos passageiros<br />
quanto das comunida<strong>de</strong>s; o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sistemas aeronáuticos mais leves e<br />
energeticamente eficientes; e a capacitação para operar com formas alternativas <strong>de</strong><br />
combustível”.<br />
71
Custos na Aviação<br />
“A redução drástica do custo operacional direto (DOC) nos últimos 10 anos, tornou este<br />
o principal fator <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> das empresas a<strong>é</strong>reas. Hoje, a escolha <strong>de</strong> uma<br />
aeronave <strong>de</strong> baixo DOC <strong>é</strong> essencial para a sobrevivência das companhias a<strong>é</strong>reas. Esta<br />
redução só se tornou possível graças ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas tecnologias, as quais<br />
foram incorporadas às aeronaves nestes 10 anos. Neste período, a <strong>que</strong>stão do custo<br />
operacional foi atacada por diversas abordagens.<br />
As tecnologias com maiores impactos no custo operacional, pelo lado do projeto<br />
e construção do airframe, foram a adoção <strong>de</strong> novas configurações aeronáuticas, <strong>que</strong><br />
provocaram rupturas nas eficiências estrutural, energ<strong>é</strong>tica e aerodinâmica, o emprego <strong>de</strong><br />
novos materiais, metálicos e compósitos, <strong>de</strong> alto <strong>de</strong>sempenho, com gran<strong>de</strong>s impactos<br />
tamb<strong>é</strong>m na eficiência estrutural.<br />
Tamb<strong>é</strong>m provocou um gran<strong>de</strong> impacto a utilização <strong>de</strong> processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign<br />
totalmente integrado atrav<strong>é</strong>s simulações ‘full-scale’, aliado ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
processos produtivos altamente eficientes, viabilizados por uma manufatura integrada,<br />
inteligente e flexível.<br />
O gran<strong>de</strong> avanço na eletrônica, e, por conseguinte nas tecnologias <strong>de</strong> informação<br />
e comunicação, tamb<strong>é</strong>m causou uma revolução nos testes e ensaios em vôo, viabilizada<br />
por mo<strong>de</strong>rnos sistemas <strong>de</strong> aquisição e processamento <strong>de</strong> sinais, e nos processos <strong>de</strong><br />
manutenção, atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> gestão da condição da aeronave em tempo real.”<br />
72
O <strong>de</strong>sdobramento das capacida<strong>de</strong>s, aplicações e funcionalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>futuro</strong>s<br />
produtos, e suas respectivas soluções tecnológicas po<strong>de</strong>m ser representados atrav<strong>é</strong>s da<br />
aplicação da t<strong>é</strong>cnica <strong>de</strong> Árvores <strong>de</strong> Relevância. Exemplos pertinentes ao presente<br />
exercício são apresentados nas Figuras 5.10, 5.11, 5.12 e 5.13.<br />
Custo <strong>de</strong> Proprieda<strong>de</strong><br />
(0,31)<br />
DOC<br />
Custos <strong>de</strong> Combustível<br />
(0,16)<br />
Manutenção (0,06)<br />
Figura 5.10: Exemplo <strong>de</strong> Árvore <strong>de</strong> Relevância aplicada ao CD - 1º nível 12<br />
Custo <strong>de</strong> Fabricação<br />
Operação Fabril Custo <strong>de</strong> Materiais<br />
Custo <strong>de</strong> Proprieda<strong>de</strong><br />
(0,31)<br />
Eficiência da<br />
Engenharia<br />
Custo <strong>de</strong><br />
Desenvolvimento<br />
Novas Maquinas Sistemas Projeto Automção <strong>de</strong> Testes<br />
Novos Processos Mat<strong>é</strong>ria-Prima CAD<br />
Figura 5.11: Exemplo <strong>de</strong> Árvore <strong>de</strong> Relevância aplicada ao CD<br />
Ensaios<br />
Ferramentas <strong>de</strong><br />
Simulação<br />
12<br />
Os números entre parêntese são indicadores do peso <strong>que</strong> cada sub-item representa para o<br />
item acima.<br />
73
Custos <strong>de</strong> Combustível<br />
(0,16)<br />
Peso Aerodinâmica Balanço Energ<strong>é</strong>tico<br />
Estrutura Sistemas Configuração Externa Diminuição do Arrasto Novas Configurações Novos Sistemas<br />
Novos Materiais Sistemas Mais Leves<br />
Novos Materiais para<br />
Cobertura<br />
Novos Conceitos Sistemas Ativos<br />
Figura 5.12: Exemplo <strong>de</strong> Árvore <strong>de</strong> Relevância aplicada ao CD<br />
Diminuição <strong>de</strong> Eventos<br />
Programados<br />
Manutenção on-<strong>de</strong>mand<br />
Manutenção (0,06)<br />
Sistemas <strong>de</strong><br />
Monitoramento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
da aeronave<br />
Eventos Não<br />
Programados<br />
Diagnóstisco e<br />
Prognóstico em temporeal<br />
Sensores Bus Processadores<br />
Figura 5.13: Exemplo <strong>de</strong> Árvore <strong>de</strong> Relevância aplicada ao CD<br />
Dentre as tecnologias e conceitos <strong>que</strong> serão <strong>de</strong>senvolvidos nos próximos 10<br />
anos, <strong>de</strong>ntro do contexto dos LCA’s abordado no cenário aqui apresentado, e suportarão<br />
a emergência das capacida<strong>de</strong>s, aplicações e funcionalida<strong>de</strong>s aqui apresentadas,<br />
<strong>de</strong>stacam-se (DREW et al., 2003):<br />
74
- Novos materiais: Materiais compósitos com fibras feitas <strong>de</strong> nanotubos <strong>de</strong> carbono,<br />
cinco vezes mais fortes do <strong>que</strong> as fibras utilizadas no começo do S<strong>é</strong>culo XXI; ligas<br />
estruturais amorfas, com as ligas <strong>de</strong> Al atingindo as proprieda<strong>de</strong>s mecânicas das ligas <strong>de</strong><br />
Ti, mas com redução <strong>de</strong> 10% do peso; ligas avançadas <strong>de</strong> metálicos, como a ultra-forte<br />
CRES (corrosion-resistant engineered solutions);<br />
- Junção e novos processos <strong>de</strong> fabricação: novas t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> fabricação, como as soldas<br />
a fricção e as colagens estruturas (exot<strong>é</strong>rmicas), permitiram diminuir at<strong>é</strong> 75% dos<br />
números <strong>de</strong> pren<strong>de</strong>dores (como rebites) e provocaram gran<strong>de</strong>s economias nos custos <strong>de</strong><br />
aquisição e ferramental;<br />
- Coberturas: coberturas <strong>que</strong>, <strong>de</strong> forma ambientalmente responsável e <strong>de</strong> custo menor,<br />
protegem áreas susceptíveis à corrosão (e.g. coberturas inteligentes não-cromadas);<br />
- Isolamentos: isolamentos aplicáveis sob forma <strong>de</strong> spray, a serem utilizados ao redor <strong>de</strong><br />
tan<strong>que</strong>s <strong>de</strong> combustível e Auxiliar Power Units (APUs), <strong>de</strong> forma a reduzir o custo <strong>de</strong><br />
montagem e eliminar a característica dos isolamentos anteriores <strong>de</strong> absorverem<br />
umida<strong>de</strong>, o <strong>que</strong> aumentava o peso da aeronave com o passar do tempo;<br />
- Design Super-integrado: abordagem <strong>de</strong> projeto <strong>de</strong> sistemas “super-integrados”, <strong>de</strong><br />
forma a integrar estruturas multifuncionais com diversos componentes, como cablagem,<br />
eletrônicos e isolamentos t<strong>é</strong>rmicos e acústicos.<br />
- Novos sistemas <strong>de</strong> energia: c<strong>é</strong>lulas <strong>de</strong> combustível substituíram as turbinas à gás nas<br />
APUs, promovendo reduções em emissões, ruído e diminuindo o custo <strong>de</strong> operação;<br />
75
- Novos sistemas mais leves e aeronave el<strong>é</strong>trica: pesados sistemas <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> vôo<br />
hidráulicos e pneumáticos foram substituídos por sistemas el<strong>é</strong>tricos, mais leves e menos<br />
complexos;<br />
- Novos combustíveis: aeronave movida a hidrogênio aproxima-se da realida<strong>de</strong>, o <strong>que</strong><br />
trará, em breve, uma redução <strong>de</strong> 2/3 no peso do combustível a ser levado na aeronave.<br />
- Estruturas adaptativas: foram <strong>de</strong>senvolvidas tecnologias <strong>que</strong> permitem uma<br />
reconfiguração das superfícies aerodinâmicas durante o vôo, <strong>de</strong> forma a maximizar o<br />
<strong>de</strong>sempenho em cada etapa da operação. A tecnologia <strong>que</strong> mais contribuiu foi o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mini-atuadores, <strong>que</strong> atuam em conjunto, <strong>de</strong> forma<br />
distribuída.<br />
- Controles <strong>de</strong> vôo “inner-loop”: sistemas aprendizes inteligentes, em conjunto com<br />
t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> controle ótimo levaram a níveis sem prece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> tolerância a falha e<br />
economia <strong>de</strong> combustível. O funcionamento <strong>de</strong>ste sistema se dá atrav<strong>é</strong>s do<br />
“entendimento” do <strong>de</strong>sempenho da aeronave em cada etapa do vôo, atrav<strong>é</strong>s da análise,<br />
realizada pelo c<strong>é</strong>rebro computadorizado da aeronave, <strong>de</strong> dados recebidos <strong>de</strong> sensores<br />
distribuídos. Este “entendimento” <strong>é</strong> utilizado pelo computador para gerar comandos<br />
para os atuadores <strong>de</strong> modo a atingir eficiência ótima e para adaptar-se a eventos não<br />
esperados.<br />
- Controles <strong>de</strong> vôo “outer-loop”: são sistemas <strong>que</strong> gerenciam o movimento <strong>de</strong> cada<br />
avião em relação ao solo e sua vizinhança. A base <strong>de</strong>ste sistema são as combinações <strong>de</strong><br />
76
t<strong>eo</strong>ria <strong>de</strong> controle, comunicação e ciência da informação. As tecnologias <strong>que</strong><br />
viabilizaram esta abordagem são o controle <strong>de</strong> sistemas maciçamente distribuídos,<br />
ligados por sistemas comunicação ultra-rápidos, <strong>que</strong> promovem atualizações do estado<br />
do sistema e comandam cada passo <strong>de</strong> cada elemento. Tudo isto acontece <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma<br />
arquitetura robusta e confiável.<br />
- Plataformas networked super-integradas: o elevado nível <strong>de</strong> integração <strong>de</strong> aviônicos e<br />
comunicação nas aeronaves atuais inclui sistema <strong>de</strong> in-flight entertainment e onboard<br />
office avançados e com funcionalida<strong>de</strong>s muito superiores <strong>que</strong> os <strong>de</strong> 10 anos atrás,<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prognóstico <strong>de</strong> sistemas e sub-sistemas e monitoramento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da<br />
aeronave, <strong>que</strong> permite ações avançadas <strong>de</strong> manutenção e gestão <strong>de</strong> tráfego a<strong>é</strong>r<strong>eo</strong>. Tudo<br />
isto foi viabilizado pelo brutal aumento da largura-<strong>de</strong>-banda disponível proporcionado<br />
pelo <strong>de</strong>senvolvimento da tecnologia <strong>de</strong> nanofotônicos e pelas tecnologias <strong>de</strong> phased<br />
array, por sua vez viabilizada pelos <strong>de</strong>senvolvimentos em semicondutores e em Micro<br />
Electro-Mechanical Systems (MEMS), facilitou a comunicação entre as aeronaves,<br />
sat<strong>é</strong>lites e estações <strong>de</strong> terra.<br />
- Comunicação: sistemas <strong>de</strong> banda larga seguros e ubíquos permitindo comunicações<br />
aeronave-aeronave e aeronave-terra;<br />
- Integração entre veículo, frota e sistemas <strong>de</strong> gestão da saú<strong>de</strong>: ações human-in-the-loop,<br />
totalmente autônomas, ou semi-autônomas, sendo <strong>de</strong>terminadas baseando-se em<br />
consi<strong>de</strong>rações sobre a segurança, objetivo da missão, capacida<strong>de</strong> do veículo e ambiente<br />
externo.<br />
77
- Visão sint<strong>é</strong>tica: combinação precisa <strong>de</strong> 4D navegação/posicionamento e bases <strong>de</strong><br />
dados <strong>de</strong> terreno/aeroporto para criar representações <strong>de</strong> alta fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> do ambiente<br />
externo, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente das condições climáticas (sensores <strong>de</strong> imagem, ATC data-<br />
link).<br />
- Imageamento holográfico: sistemas avançados <strong>de</strong> head-mounted display, combinados<br />
com sistemas <strong>de</strong> escaneamento/tracking <strong>de</strong> retina, permitindo condições <strong>de</strong> augmented<br />
reality.<br />
- Interfaces sensíveis ao to<strong>que</strong>: data-wall interativo, montado em uma tela plana gran<strong>de</strong><br />
combinado com interfaces sensíveis ao to<strong>que</strong>, voltados para reduzir o potencial <strong>de</strong><br />
confusão e erro humano em ambientes complexos e dinâmicos;<br />
- Dispositivos auditivos 3D: áudio espacial provendo noções direcionais, <strong>de</strong> forma a<br />
aumentar a capacida<strong>de</strong> sensitiva, principalmente em condições visuais carregadas.<br />
- Reconhecimento <strong>de</strong> fala: reconhecimento <strong>de</strong> fala em duas-vias, permitindo a tradução<br />
texto-fala e fala-texto, <strong>de</strong> modo a diminuir a carga <strong>de</strong> trabalho dos pilotos.<br />
- Sistemas <strong>de</strong> controle inteligentes: sensores <strong>de</strong> posição e movimento e acurados bancos<br />
<strong>de</strong> dados <strong>de</strong> terrenos aliados a processamento <strong>de</strong> alto <strong>de</strong>sempenho. Estes sistemas<br />
servirão para tomar <strong>de</strong>cisões autônomas em situações <strong>de</strong> risco, prevenindo ou mitigando<br />
falhas humanas.<br />
78
- Operações autônomas <strong>de</strong> veículos: migração das tecnologias <strong>de</strong> UAVs para aeronaves<br />
comerciais.<br />
- Sistemas para usuários: Internet a bordo <strong>de</strong> banda larga, segura, ubíqua, wireless,<br />
conexões seguras com intranets coorporativas via Virtual Private Networks (VPN) e<br />
tecnologias <strong>de</strong> imersão em 3D, com realida<strong>de</strong> virtual móvel e interfaces em linguagem<br />
natural.<br />
79
6 ANÁLISE<br />
Mitroff e Turoff, em seu artigo “Technological Forecasting: Science and/or<br />
Mythology?” (1973), comentam <strong>que</strong> o <strong>que</strong> separa a ciência da mitologia não <strong>é</strong> a mat<strong>é</strong>ria<br />
<strong>de</strong> estudo, mas o m<strong>é</strong>todo. Os autores dizem <strong>que</strong> um estudo <strong>é</strong> científico se for possível<br />
mostrar (I) o <strong>que</strong> <strong>é</strong> preciso controlar durante o processo e (II) como exercer este<br />
controle, <strong>de</strong> forma <strong>que</strong> o estudo seja conduzido <strong>de</strong> maneira controlada e sistemática.<br />
Estas <strong>de</strong>finições são necessárias para comentar o status epistemológico da prospectiva<br />
tecnológica. Sobre esta, os autores pon<strong>de</strong>ram <strong>que</strong>:<br />
“we are just beginning to be aware of the first part, i.e. that the number of things we need to control<br />
(study) in or<strong>de</strong>r to make forecasts is in<strong>de</strong>ed large. At the very minimum we need not only sweep in the<br />
things that the physical and social sciences study, but those that the humanities study as well, e.g. ethics.<br />
In the end, it is the philosophical ability to be self-reflective that separates science from mythology. Self-<br />
reflection implies a realization that as much as our inquiry mo<strong>de</strong>ls <strong>de</strong>scribe and represent reality, they<br />
also <strong>de</strong>scribe and represent us, our psychology.” (MITROFF; TUROFF, 1973)<br />
E eles concluem dizendo <strong>que</strong>:<br />
“When one un<strong>de</strong>rstands the philosophy un<strong>de</strong>rlying what he does, then he is engaged in science; if,<br />
however, he does not un<strong>de</strong>rstand his philosophy, he is engaged in the practice of mythology.”<br />
(MITROFF; TUROFF, 1973)<br />
A partir <strong>de</strong>sta reflexão inicial, <strong>é</strong> pon<strong>de</strong>rado consi<strong>de</strong>rar <strong>que</strong> a avaliação <strong>de</strong> um<br />
m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva <strong>é</strong> muito difícil e <strong>de</strong> <strong>que</strong> os resultados esperados <strong>de</strong>sta avaliação<br />
são dúbios. Por um lado, <strong>de</strong>ve-se, intuitivamente buscar a correspondência da visão <strong>de</strong><br />
80
<strong>futuro</strong> dada pela prospectiva em relação à verda<strong>de</strong>. Entretanto, esta abordagem não <strong>é</strong> a<br />
mais a<strong>de</strong>quada, pois, <strong>de</strong> acordo com a própria <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>futuro</strong> dada neste trabalho,<br />
não existe um único, previsível, <strong>futuro</strong>, sendo o exercício <strong>de</strong> prospectiva uma<br />
ferramenta <strong>de</strong> aprendizado sobre as forças <strong>que</strong> moldarão o <strong>futuro</strong>. Por outro lado <strong>de</strong>ve-<br />
se realizar uma verificação do grau <strong>de</strong> aplicabilida<strong>de</strong> do m<strong>é</strong>todo proposto.<br />
Mesmo não sustentando a suposta cientificida<strong>de</strong> dos m<strong>é</strong>todos <strong>de</strong> prospectiva, <strong>é</strong><br />
salutar buscar se distanciar da pecha “mitologia”. Para tanto, o <strong>de</strong>svendamento <strong>de</strong> seus<br />
mecanismos internos <strong>é</strong> muito importante, e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste intuito, a verificação da<br />
consistência conceitual-metodológica constitui um pilar fundamental.<br />
Uma excelente contribuição a esta empresa <strong>é</strong> dada por Harries (2003), <strong>que</strong><br />
disseca as formas <strong>de</strong> se analisar um processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão baseado em cenários<br />
sob três dimensões: m<strong>é</strong>todos objetivos vs m<strong>é</strong>todos subjetivos (x); m<strong>é</strong>todos focados nas<br />
Metas do Tomador <strong>de</strong> Decisão vs m<strong>é</strong>todos focados na consecução das Metas da T<strong>é</strong>cnica<br />
(y); e m<strong>é</strong>todos práticos vs m<strong>é</strong>todos teóricos (z). (Figura 6.1)<br />
Subjetivo<br />
T<strong>eo</strong>ria<br />
y<br />
Metas do Tomador<br />
<strong>de</strong> Decisão<br />
Metas da<br />
T<strong>é</strong>cnica<br />
Estudos<br />
<strong>de</strong> caso<br />
Análise<br />
Teórica<br />
Estudos<br />
Empíricos<br />
Experimentos<br />
Simulações<br />
Análise Teórica<br />
x Objetivo<br />
Mundo Real<br />
Figura 6.1: Espaço <strong>de</strong> avaliação para t<strong>é</strong>cnicas e m<strong>é</strong>todos para tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão<br />
(adaptado <strong>de</strong> HARRIES, 2003)<br />
z<br />
Prática<br />
M<strong>é</strong>todos<br />
<strong>de</strong> Avaliação<br />
81
Harries (2003) postula e analisa três formas <strong>de</strong> realizar a avaliação das t<strong>é</strong>cnicas e<br />
m<strong>é</strong>todos: Estudos <strong>de</strong> Caso, Estudos Empíricos, e Análise Teórica, sendo <strong>que</strong> a forma<br />
apontada (HARRIES, 2003) como mais interessante <strong>é</strong> a Análise Teórica, on<strong>de</strong> “analysis<br />
is in terms of the method or techni<strong>que</strong>’s gols, from objective or subjective perspectives”.<br />
Este autor sugere ainda a realização <strong>de</strong> um experimento controlado, no intuito <strong>de</strong> a<br />
partir <strong>de</strong>ste realizar a análise.<br />
Desta forma, para realizar uma análise da aplicação do m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva<br />
proposta, este trabalho adota a estrat<strong>é</strong>gia sugerida por Harries (2003). A primeira etapa,<br />
i.e., o experimento controlado, foi realizado no Capítulo 5, tendo o mercado LCA como<br />
espaço <strong>de</strong> prospectiva.<br />
Na etapa seguinte, <strong>de</strong>ve-se revisitar o conceito <strong>de</strong> prospectiva tecnológica<br />
<strong>de</strong>finido no presente trabalho. O intuito <strong>é</strong> levantar-se as características <strong>de</strong>sejáveis <strong>de</strong> um<br />
exercício <strong>de</strong> prospectiva tecnológica, para então avaliar sua consecução na aplicação<br />
realizada.<br />
Conforme <strong>de</strong>finido (p. 21): Prospectiva Tecnológica <strong>é</strong> tanto um processo <strong>que</strong><br />
olha para o <strong>futuro</strong> (a) quanto os resultados (b) obtidos <strong>de</strong>sse processo, antecipando,<br />
projetando ou prevendo capacida<strong>de</strong>s, aplicações e funcionalida<strong>de</strong>s (c) <strong>de</strong> máquinas,<br />
processos e t<strong>é</strong>cnicas. O processo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica <strong>de</strong>ve buscar um<br />
entendimento das forças <strong>que</strong> moldarão a convergência entre os <strong>futuro</strong>s possíveis,<br />
plausíveis, prováveis e <strong>de</strong>sejáveis (d), integrando consi<strong>de</strong>rações t<strong>é</strong>cnicas e não-<br />
t<strong>é</strong>cnicas (e). Deve-se assim buscar uma afirmação <strong>de</strong> cunho probabilístico (f) <strong>que</strong><br />
82
diminua as incertezas e aumente o nível <strong>de</strong> informação (g) a respeito do <strong>futuro</strong>. Seus<br />
resultados, expressos em números ou palavras (h), são apresentados <strong>de</strong> maneira <strong>que</strong><br />
sejam úteis aos tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e elaboradores <strong>de</strong> políticas (i), aumentado<br />
assim seu estado <strong>de</strong> atenção em relação a oportunida<strong>de</strong>s e ameaças futuras (j).<br />
A análise <strong>é</strong> realizada buscando-se, no exercício realizado, evidências <strong>que</strong><br />
caracterizem a consecução dos requisitos <strong>de</strong>stacados na <strong>de</strong>finição acima.<br />
a. “processo <strong>que</strong> olha para o <strong>futuro</strong>”.<br />
O cumprimento <strong>de</strong>ste requisito <strong>é</strong> evi<strong>de</strong>nciado na existência <strong>de</strong> um m<strong>é</strong>todo, constituído<br />
<strong>de</strong> etapas enca<strong>de</strong>adas, as quais buscam projetar uma fotografia <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado<br />
<strong>futuro</strong>.<br />
b. “resultados obtidos <strong>de</strong>sse processo”.<br />
A consecução, neste caso, <strong>é</strong> evi<strong>de</strong>nciada pela <strong>de</strong>scrição apresentada na Seção 5.5.1<br />
como um todo, on<strong>de</strong> <strong>é</strong> apresentado o resultado do processo <strong>de</strong> prospectiva.<br />
c. “antecipando, projetando e prevendo capacida<strong>de</strong>s, aplicações e<br />
funcionalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> máquinas, processos e t<strong>é</strong>cnicas”.<br />
A leitura do texto apresentado na Seção 5.5.1 proporciona uma visão das capacida<strong>de</strong>s,<br />
aplicações e funcionalida<strong>de</strong>s das máquinas, processos e t<strong>é</strong>cnicas <strong>que</strong> compõem o<br />
mercado <strong>de</strong> LCA em 2014. Seguem abaixo algumas evidências retiradas do texto:<br />
i. “capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> simulação dos sistemas aeronáuticos” (p. 69);<br />
83
ii. “a capacitação para o monitoramento do <strong>de</strong>sempenho da aeronave em vôo,<br />
bem como <strong>de</strong> eventos a bordo” (p. 69);<br />
iii. “o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>monstra o funcionamento dos<br />
sistemas em uma simulação full-scale” (p. 69);<br />
iv. “o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sistemas embarcados à prova <strong>de</strong> erros operacionais,<br />
atuando fortemente na interface homem-máquina” (p. 69);<br />
v. “<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sistemas <strong>que</strong> permitam visualizar o terreno à frente,<br />
bem como condições climáticas adversas – possibilitando assim a operação<br />
segura sob quais<strong>que</strong>r condições climáticas” (p. 69);<br />
vi. “sistemas <strong>que</strong> permitam lidar com situações hostis, tais como seqüestros ou<br />
ameaças <strong>de</strong> mísseis” (p. 69);<br />
vii. “emergência do <strong>de</strong>sign-for-crash, <strong>que</strong> visa a projetar aeronaves <strong>que</strong><br />
permitam a mitigação das conseqüências dos aci<strong>de</strong>ntes aeronáuticos,<br />
aumentando a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sobrevivência das pessoas a bordo e ao<br />
mesmo tempo diminuindo a gravida<strong>de</strong> dos ferimentos sofridos pelos<br />
sobreviventes” (p. 70);<br />
viii. “o ciclo <strong>de</strong> vida da aeronave environment-friendly” (p. 70);<br />
84
ix. “a redução das emissões e ruídos produzidos durante a operação e a redução<br />
– e em alguns casos eliminação – da toxida<strong>de</strong> dos materiais utilizados na<br />
produção e manutenção <strong>de</strong> aeronaves” (p. 70);<br />
x. “redução <strong>de</strong> peso estrutural, melhorias aerodinâmicas e t<strong>é</strong>rmicas” (p. 70);<br />
xi. “<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> processos e a adoção <strong>de</strong> materiais <strong>que</strong> permitam<br />
realizar as operações <strong>de</strong> manufatura e manutenção com poucos, ou nenhum,<br />
impacto ambiental” (p. 70-71);<br />
xii. “<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> aero-acústica computacional e novos<br />
sistemas, permitindo assim o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> motores e airframes mais<br />
eficientes e silenciosos” (p. 71);<br />
xiii. “<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sistemas aeronáuticos mais leves e energeticamente<br />
eficientes” (p. 71);<br />
xiv. “capacitação para operar com formas alternativas <strong>de</strong> combustível” (p. 71);<br />
xv. “projeto e construção do airframe, foram a adoção <strong>de</strong> novas configurações<br />
aeronáuticas, <strong>que</strong> provocaram rupturas nas eficiências estrutural, energ<strong>é</strong>tica e<br />
aerodinâmica, o emprego <strong>de</strong> novos materiais, metálicos e compósitos, <strong>de</strong> alto<br />
<strong>de</strong>sempenho, com gran<strong>de</strong>s impactos tamb<strong>é</strong>m na eficiência estrutural” (p. 71);<br />
85
xvi. “processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign totalmente integrado atrav<strong>é</strong>s simulações ‘full-scale’” (p.<br />
71);<br />
xvii. “<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> processos produtivos altamente eficientes, viabilizados<br />
por uma manufatura integrada, inteligente e flexível” (p. 71-72); e<br />
xviii. “mo<strong>de</strong>rnos sistemas <strong>de</strong> aquisição e processamento <strong>de</strong> sinais, e nos processos<br />
<strong>de</strong> manutenção, atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> gestão da condição da aeronave em<br />
tempo real” (p. 72).<br />
d. “buscar um entendimento das forças <strong>que</strong> moldarão a convergência entre<br />
os <strong>futuro</strong>s possíveis, prováveis, <strong>de</strong>sejáveis e plausíveis”.<br />
O MTF (p. 45) <strong>que</strong> serve como base conceitual para o m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva aqui<br />
proposto favorece este entendimento. No MTF, e por conseguinte nas consi<strong>de</strong>rações<br />
apresentadas no exercício <strong>de</strong> prospectiva (p. 54-79), ficam claros os vetores <strong>que</strong><br />
forçarão a convergência <strong>que</strong> moldará o <strong>futuro</strong> real.<br />
e. “integrando consi<strong>de</strong>rações t<strong>é</strong>cnicas e não-t<strong>é</strong>cnicas”.<br />
A utilização <strong>de</strong> dados e conceitos advindos da engenharia aeronáutica, (e.g. “simulação<br />
full-scale”, “t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> aero-acústica computacional” e “<strong>de</strong>sign-for-crash”) ao lado das<br />
consi<strong>de</strong>rações sobre a estrutura do mercado, tanto sob a ótica econômico-comercial<br />
(“mercado oligopolizado”) como sob a óptica <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico (dados<br />
relativos à Política Científica e Tecnológica) evi<strong>de</strong>ncia a consecução <strong>de</strong>ste requisito.<br />
86
f. “afirmação <strong>de</strong> cunho probabilístico”.<br />
Semelhante ao Item d, a evidência aqui adv<strong>é</strong>m do MTF usado. Neste mo<strong>de</strong>lo, o <strong>futuro</strong><br />
consi<strong>de</strong>rado apresenta um forte sentido probabilístico, uma vez <strong>que</strong> a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
previsão, por <strong>de</strong>finição, diminui com o tempo, o <strong>que</strong> indica o crescimento da incerteza.<br />
g. “diminua as incertezas e aumente o nível <strong>de</strong> informação a respeito do<br />
<strong>futuro</strong>”.<br />
Ao apresentar uma visão das capacida<strong>de</strong>s, aplicações e funcionalida<strong>de</strong>s das máquinas,<br />
processos e t<strong>é</strong>cnicas concernentes ao mercado consi<strong>de</strong>rado (Item c) e ao prover uma<br />
compreensão das forças <strong>que</strong> moldam o <strong>futuro</strong> (Item d), po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar <strong>que</strong> as<br />
incertezas são minimizadas.<br />
h. “Seus resultados, expressos em números ou palavras”.<br />
A Seção 5.5.1, on<strong>de</strong> <strong>é</strong> apresentado o resultado do processo <strong>de</strong> prospectiva, <strong>é</strong> uma<br />
evidência da consecução <strong>de</strong>sta meta, no caso com o resultado expresso em palavras. A<br />
utilização <strong>de</strong> números na apresentação do resultado não <strong>é</strong> consi<strong>de</strong>rada no mo<strong>de</strong>lo<br />
proposto. Entretanto esta <strong>é</strong> uma possibilida<strong>de</strong> em aberto, <strong>que</strong> <strong>é</strong> discutida na Seção 7.1.<br />
i. “apresentados <strong>de</strong> maneira <strong>que</strong> sejam úteis aos tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e<br />
elaboradores <strong>de</strong> políticas”.<br />
Esta talvez seja o requisito mais difícil <strong>de</strong> ter seu comprimento referendado a priori,<br />
al<strong>é</strong>m do fato <strong>de</strong> <strong>que</strong> não foi <strong>de</strong>finido um cliente para o exercício realizado. Entretanto,<br />
po<strong>de</strong>-se assumir <strong>que</strong> o atendimento dos Itens c, d e g tornem factível a consecução <strong>de</strong>sta<br />
meta.<br />
87
j. “aumentado assim seu estado <strong>de</strong> atenção em relação a oportunida<strong>de</strong>s e<br />
ameaças futuras”.<br />
Uma vez <strong>que</strong> os Itens c, d, g e i tenham sido cumpridos, po<strong>de</strong>-se concluir <strong>que</strong> o<br />
exercício <strong>de</strong> prospectiva realizado aumentou o estado <strong>de</strong> atenção em relação ao <strong>futuro</strong>.<br />
Um outro ponto <strong>de</strong> análise possível <strong>é</strong> dado por Mishra, Deshmukh e Vrat (2002),<br />
<strong>que</strong>, baseados em uma pesquisa na literatura da área, apontam algumas limitações das<br />
t<strong>é</strong>cnicas qualitativas exploratórias. Dentre estas, as pertinentes ao m<strong>é</strong>todo aqui<br />
apresentado são:<br />
i. Definição e seleção <strong>de</strong> especialistas <strong>é</strong> difícil;<br />
ii. Vi<strong>é</strong>s individual influencia nos m<strong>é</strong>todos <strong>de</strong> avaliação subjetivos;<br />
iii. Designação <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s aos executores da prospectiva <strong>é</strong> difícil;<br />
iv. Valida<strong>de</strong> das premissas no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cenário ten<strong>de</strong> a ser incerta com o<br />
tempo;<br />
v. Fatores sociais, políticos e econômicos são normalmente negligenciados;<br />
vi. Rupturas bruscas em tendências e eventos inesperadas são normalmente<br />
evitados;<br />
vii. Horizonte <strong>de</strong> tempo <strong>é</strong> otimista ou pessimista;<br />
viii. Horizonte <strong>de</strong> tempo não combina com a tecnologia;<br />
ix. Prospecções restritas à visão interna da organização;<br />
x. Muitos especialistas possuem miopia tecnológica; e<br />
xi. Influência <strong>de</strong> outras tecnologias são negligenciadas.<br />
88
O m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva proposto no presente trabalho atenua algumas <strong>de</strong>stas<br />
limitações. Por exemplo, os itens “i” e “x” se referem a <strong>que</strong>stão dos especialistas. No<br />
m<strong>é</strong>todo proposto, este assunto <strong>é</strong> en<strong>de</strong>reçado nas premissas e no MTF, uma vez <strong>que</strong> os<br />
especialistas envolvidos (<strong>de</strong> forma indireta) são os responsáveis pela execução da<br />
política <strong>de</strong> C&T.<br />
Os itens “vii” e “viii”, <strong>que</strong> se referem ao horizonte <strong>de</strong> tempo, são resolvidos no<br />
m<strong>é</strong>todo proposto, uma vez <strong>que</strong> este horizonte <strong>é</strong> <strong>de</strong>terminado <strong>de</strong> forma objetiva ao<br />
assumir-se o horizonte <strong>de</strong> tempo do CN utilizado.<br />
O item “v”, no entanto, <strong>é</strong> o melhor en<strong>de</strong>reçado nesta proposta. O MTF, no qual o<br />
m<strong>é</strong>todo proposto se baseia, tem como premissa fundamental a influência dos fatores<br />
sociais, políticos e econômicos no <strong>de</strong>senvolvimento científico-tecnológico.<br />
Por outro lado, as limitações “vi” e “xi” são i<strong>de</strong>ntificadas no m<strong>é</strong>todo. Estas<br />
limitações po<strong>de</strong>m ser atenuadas em um <strong>de</strong>senvolvimento posterior do m<strong>é</strong>todo, com a<br />
incorporação do ferramental quantitativo, como as análises <strong>de</strong> impacto cruzado e <strong>de</strong><br />
tendências.<br />
Dadas as características apresentadas, e levando-se em conta as melhorias em<br />
relação a outros m<strong>é</strong>todos <strong>de</strong> prospectiva com propósitos semelhantes, conforme<br />
mostrado acima, o m<strong>é</strong>todo aqui <strong>de</strong>scrito po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado a<strong>de</strong>quado para seus<br />
propósitos assumidos.<br />
89
7 CONCLUSÃO<br />
A <strong>de</strong>speito da infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> possíveis configurações do <strong>futuro</strong>, este se concretizará <strong>de</strong><br />
uma única forma. Este único <strong>futuro</strong> – real – <strong>é</strong> a<strong>que</strong>le <strong>que</strong> se constrói no dia-a-dia. Se<br />
não houver um planejamento positivo, se não houver atitu<strong>de</strong> em direção ao <strong>futuro</strong>, o<br />
<strong>futuro</strong> construído por outros irá se impor.<br />
O sucesso <strong>de</strong> um exercício <strong>de</strong> prospectiva tecnológica <strong>é</strong> razoavelmente<br />
imensurável. Entretanto, seu papel no processo <strong>de</strong> planejamento tecnológico <strong>é</strong> claro.<br />
Em um ambiente on<strong>de</strong> a mudança tecnológica <strong>é</strong> ao mesmo tempo o salvador e o algoz<br />
das organizações, o processo <strong>de</strong> aprendizado proporcionado pela prospectiva<br />
tecnológica <strong>é</strong> seu maior trunfo. O <strong>futuro</strong> <strong>é</strong>, por <strong>de</strong>finição, imprevisível, conquanto a<br />
prospectiva tecnológica permite acessar os vetores <strong>de</strong> mudança, e a partir <strong>de</strong>stes tomar<br />
<strong>de</strong>cisões mais conscientes.<br />
Conforme apresentado na Introdução, o objetivo <strong>de</strong>ste trabalho <strong>é</strong> contribuir para a<br />
compreensão da natureza do <strong>futuro</strong> e, a partir das hipóteses correlatas a esta<br />
compreensão, estabelecer um m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica <strong>que</strong> integre<br />
conhecimentos advindos <strong>de</strong> áreas como análise <strong>de</strong> políticas públicas em Ciência &<br />
Tecnologia e filosofia e sociologia da ciência. A hipótese central <strong>de</strong>ste m<strong>é</strong>todo aqui<br />
proposto <strong>é</strong> a <strong>de</strong> <strong>que</strong>, durante a tarefa <strong>de</strong> planejamento tecnológico, quando <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>terminados contextos <strong>de</strong> mercado, o Cenário Descritivo (CD) assumido po<strong>de</strong> ser<br />
baseado na convergência entre o Cenário Normativo (CN) dos principais atores da<strong>que</strong>le<br />
mercado (normalmente economias centrais) e a tecnologia baseada na ciência normal.<br />
90
O entendimento das forças envolvidas na construção <strong>de</strong>sta convergência, bem<br />
como suas prováveis conseqüências constituem um excelente exercício <strong>de</strong> aprendizado<br />
do <strong>futuro</strong>, pois, al<strong>é</strong>m <strong>de</strong> vislumbrar-se um <strong>futuro</strong> provável, constrói-se um sentimento<br />
<strong>de</strong> alerta e prontidão em relação aos vetores <strong>de</strong> mudança, garantindo robustez ao<br />
processo <strong>de</strong> planejamento. Sob esta perspectiva, o m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica<br />
aqui apresentado, justificado, testado e analisado apresenta resultados satisfatórios.<br />
A veracida<strong>de</strong> da hipótese <strong>de</strong> <strong>que</strong> o CD po<strong>de</strong> ser assumido como igual ao CN,<br />
<strong>de</strong>monstrada no presente trabalho, <strong>é</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor para a execução <strong>de</strong> exercícios <strong>de</strong><br />
planejamento tecnológico, pois permite, <strong>de</strong> maneira simples e rápida, ter uma visão <strong>de</strong><br />
<strong>futuro</strong> sólida e justificada.<br />
Conforme dito no início <strong>de</strong>ste capítulo, o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> inacessível, mas tudo o <strong>que</strong> vier<br />
só existirá em função das ações presentes. À instituição <strong>que</strong> tomar suas <strong>de</strong>cisões alerta<br />
à natureza do <strong>futuro</strong>, a partir do entendimento do presente, a perenização será o<br />
caminho natural.<br />
7.1 Consi<strong>de</strong>rações para Pesquisas Futuras<br />
Como argumenta Go<strong>de</strong>t (2003), ainda <strong>que</strong> a quantificação a qual<strong>que</strong>r preço possa ser<br />
perigosa, os resultados num<strong>é</strong>ricos das t<strong>é</strong>cnicas quantitativas <strong>de</strong> prospectiva provêm<br />
indicadores estimulantes e um valoroso ponto <strong>de</strong> referência. Assim sendo, uma sugestão<br />
<strong>de</strong> continuação para a presente pesquisa <strong>é</strong> a integração do m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva<br />
apresentada com ferramentas quantitativas. Esta integração <strong>de</strong>ve servir para tornar<br />
robusto o processo <strong>de</strong> planejamento tecnológico <strong>que</strong> se segue ao CD aqui proposto.<br />
91
Um exemplo claro <strong>de</strong>sta integração <strong>é</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> árvores <strong>de</strong><br />
relevância, como as apresentadas nas páginas 63 e 64, para todos os cenários. Al<strong>é</strong>m dos<br />
níveis apresentados, estas árvores <strong>de</strong>vem ainda <strong>de</strong>scer at<strong>é</strong> o nível das tecnologias e seus<br />
parâmetros <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho.<br />
Uma outra linha <strong>de</strong> pesquisa <strong>que</strong> po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>rivada do presente trabalho <strong>é</strong> a da<br />
aplicação da hipótese do MTF a outros mercados. Esta aplicação po<strong>de</strong> ser feita <strong>de</strong> duas<br />
gran<strong>de</strong>s maneiras.<br />
A primeira <strong>é</strong> a aplicação do m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva à realida<strong>de</strong> brasileira,<br />
buscando-se capturar nuances da comunida<strong>de</strong> científica nacional.<br />
Por outro lado, po<strong>de</strong>-se fazer algumas hipóteses menos conservadoras a respeito<br />
dos limites operacionais do MTF e aplicar o m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva proposto em<br />
mercados <strong>que</strong> não apresentem todas as características aqui mostradas como essenciais,<br />
principalmente em relação à necessida<strong>de</strong> da Big Science. Esta abertura na abrangência<br />
do m<strong>é</strong>todo <strong>é</strong> muito importante, uma vez <strong>que</strong> po<strong>de</strong> permitir a aplicação em gran<strong>de</strong>s<br />
mercados como o <strong>de</strong> eletrônicos.<br />
92
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FOLHA DE REGISTRO DO DOCUMENTO<br />
2. DATA<br />
3. DOCUMENTO N°<br />
4. N° DE PÁGINAS<br />
TM<br />
5.<br />
TÍTULO E SUBTÍTULO:<br />
06 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2005 CTA/ITA-IEA/TM-002/2005 118<br />
E o <strong>futuro</strong>, <strong>de</strong> <strong>que</strong> <strong>é</strong> <strong>feito</strong> <strong>afinal</strong>? Acerca <strong>de</strong> uma hipótese sobre a natureza do <strong>futuro</strong> e <strong>de</strong> uma proposta<br />
para prospectiva tecnológica<br />
6.<br />
AUTOR(ES):<br />
Denis Lima Balaguer<br />
INSTITUIÇÃO(ÕES)/ÓRGÃO(S) INTERNO(S)/DIVISÃO(ÕES):<br />
Instituto Tecnológico <strong>de</strong> Aeronáutica. Divisão <strong>de</strong> Engenharia Aeronáutica – ITA/IEA<br />
8. PALAVRAS-CHAVE SUGERIDAS PELO AUTOR:<br />
1. Prospectiva Tecnológica. 2. Estudos do Futuro. 3 Suporte à Tomada <strong>de</strong> Decisão. 4. Gestão <strong>de</strong> P&D. 5.<br />
Ciência e Tecnologia Aeroespacial.<br />
9.PALAVRAS-CHAVE RESULTANTES DE INDEXAÇÃO:<br />
Avaliação prospectiva; Futuros possíveis; Planos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento; Planejamento estrat<strong>é</strong>gico;<br />
Tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões; Inovações tecnológicas; Ciência e tecnologia; Pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento;<br />
Administração<br />
10. APRESENTAÇÃO: X Nacional Internacional<br />
ITA, São Jos<strong>é</strong> dos Campos, 2005 118 páginas<br />
11. RESUMO:<br />
O presente trabalho apresenta um m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica <strong>que</strong> busca, atrav<strong>é</strong>s do<br />
entendimento da natureza do <strong>futuro</strong> aqui tamb<strong>é</strong>m mostrada, integrar a visão clássica dos estudos do<br />
<strong>futuro</strong> com aportes advindos dos estudos da ciência & tecnologia. Esta busca preten<strong>de</strong> suportar o<br />
processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>ntro do ambiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico e <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> produto, ao fornecer um entendimento das forças <strong>que</strong> moldarão as características e capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
produtos <strong>futuro</strong>s. O trabalho estrutura-se atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> uma seqüência composta por cinco etapas: 1.<br />
<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> prospectiva tecnológica, construída a partir <strong>de</strong> uma revisão <strong>de</strong> <strong>de</strong>finições clássicas; 2.<br />
construção e justificação <strong>de</strong> um Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> Futuro, a partir <strong>de</strong> conhecimentos advindos dos<br />
estudos do <strong>futuro</strong> e dos estudos da ciência & tecnologia; 3. estruturação <strong>de</strong> um m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva<br />
tecnológica, tendo por base o MTF e aportes metodológicos <strong>de</strong> outros m<strong>é</strong>todos <strong>de</strong> prospectiva<br />
referenciados na literatura; 4. aplicação do m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica ao mercado <strong>de</strong> Large<br />
Commercial Aircratf; 5. análise do m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica, utilizando metodologias<br />
sugeridas na literatura da área. O m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica aqui apresentado, justificado,<br />
testado e analisado apresenta resultados satisfatórios na medida em <strong>que</strong>, conquanto reconhecendo a<br />
imprevisibilida<strong>de</strong> do <strong>futuro</strong>, permite acessar os vetores <strong>de</strong> mudança, e a partir <strong>de</strong>stes tomar <strong>de</strong>cisões mais<br />
conscientes. Al<strong>é</strong>m disto, ao permitir um vislumbre <strong>de</strong> um <strong>futuro</strong> provável, constrói um sentimento <strong>de</strong><br />
alerta e prontidão em relação aos vetores <strong>de</strong> mudança, garantindo robustez ao processo <strong>de</strong> planejamento.<br />
O único <strong>futuro</strong> – real – <strong>é</strong> a<strong>que</strong>le <strong>que</strong> se constrói no dia-a-dia. Se não houver um planejamento positivo, se<br />
não houver atitu<strong>de</strong> em direção ao <strong>futuro</strong>, o <strong>futuro</strong> construído por outros irá se impor.<br />
12. GRAU DE SIGILO:<br />
(X ) OSTENSIVO ( ) RESERVADO ( ) CONFIDENCIAL ( ) SECRETO