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eo futuro, de que é feito afinal? - Artigo Científico - Uol

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Tese apresentada à Divisão <strong>de</strong> Pós-Graduação do Instituto T<strong>é</strong>cnico <strong>de</strong><br />

Aeronáutica como parte dos requisitos para obtenção do título <strong>de</strong> Mestre<br />

em Ciências no Curso <strong>de</strong> Engenharia Aeronáutica e Mecânica, Área <strong>de</strong><br />

Produção<br />

Denis Lima Balaguer<br />

E O FUTURO, DE QUE É FEITO AFINAL? ACERCA DE UMA<br />

HIPÓTESE SOBRE A NATUREZA DO FUTURO E DE UMA<br />

PROPOSTA PARA PROSPECTIVA TECNOLÓGICA<br />

Tese aprovada em sua versão final pelos abaixo assinados<br />

..........................................................................<br />

Prof. Donizeti <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />

Orientador<br />

........................................................................<br />

Prof. Homero Santiago Maciel<br />

Chefe da Divisão <strong>de</strong> Pós-Graduação<br />

Campo Montenegro<br />

São Jos<strong>é</strong> dos Campos, SP - Brasil<br />

2004


Dados Internacionais <strong>de</strong> Catalogação-na-Publicação (CIP)<br />

Divisão Biblioteca Central do ITA/CTA<br />

Balaguer, Denis Lima<br />

E o <strong>futuro</strong>, <strong>de</strong> <strong>que</strong> <strong>é</strong> <strong>feito</strong> <strong>afinal</strong>? Acerca <strong>de</strong> uma hipótese sobre a natureza do <strong>futuro</strong> e <strong>de</strong> uma proposta<br />

para prospectiva tecnológica / Denis Lima Balaguer<br />

São Jos<strong>é</strong> dos Campos, 2004<br />

106 f<br />

Tese <strong>de</strong> mestrado - Curso <strong>de</strong> Engenharia Aeronáutica e Mecânica, Área <strong>de</strong> Produção -<br />

Instituto Tecnológico <strong>de</strong> Aeronáutica, 2004. Orientador: Prof. Donizeti <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />

1. Prospectiva Tecnológica. 2. Estudos do Futuro. 3 Suporte à Tomada <strong>de</strong> Decisão. 4. Gestão <strong>de</strong> P&D. 5.<br />

Ciência e Tecnologia Aeroespacial. I. Centro T<strong>é</strong>cnico Aeroespacial. Instituto Tecnológico <strong>de</strong><br />

Aeronáutica. Divisão <strong>de</strong> Engenharia Aeronáutica.<br />

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA<br />

BALAGUER, Denis Lima. E o <strong>futuro</strong>, <strong>de</strong> <strong>que</strong> <strong>é</strong> <strong>feito</strong> <strong>afinal</strong>? Acerca <strong>de</strong> uma hipótese sobre a<br />

natureza do <strong>futuro</strong> e <strong>de</strong> uma proposta para prospectiva tecnológica. 2004. 106 f. Tese <strong>de</strong><br />

mestrado - Instituto T<strong>é</strong>cnico <strong>de</strong> Aeronáutica, São Jos<strong>é</strong> dos Campos.<br />

CESSÃO DE DIREITOS<br />

NOME DO AUTOR: Denis Lima Balaguer<br />

TÍTULO DO TRABALHO: E o <strong>futuro</strong>, <strong>de</strong> <strong>que</strong> <strong>é</strong> <strong>feito</strong> <strong>afinal</strong>? Acerca <strong>de</strong> uma hipótese sobre a natureza do <strong>futuro</strong><br />

e <strong>de</strong> uma proposta para prospectiva tecnológica<br />

TIPO DO TRABALHO/ANO: Tese/2004<br />

É concedida ao Instituto Tecnológico <strong>de</strong> Aeronáutica permissão para reproduzir cópias <strong>de</strong>sta<br />

tese e para emprestar ou ven<strong>de</strong>r cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O<br />

autor reserva outros direitos <strong>de</strong> publicação e nenhuma parte <strong>de</strong>sta tese po<strong>de</strong> ser reproduzida<br />

sem a autorização do autor.<br />

_______________________________________<br />

Denis Lima Balaguer<br />

Av. São João, 191 / 98. Jardim Nova Am<strong>é</strong>rica<br />

São Jos<strong>é</strong> dos Campos - SP<br />

12242-000<br />

ii


E O FUTURO, DE QUE É FEITO AFINAL? ACERCA DE UMA<br />

HIPÓTESE SOBRE A NATUREZA DO FUTURO E DE UMA<br />

PROPOSTA PARA PROSPECTIVA TECNOLÓGICA<br />

Composição da Banca Examinadora:<br />

Denis Lima Balaguer<br />

Prof. Michal Gartenkraut Presi<strong>de</strong>nte - ITA<br />

Prof. Donizeti <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Orientador - ITA<br />

Prof. Takashi Yoneyama ITA<br />

Prof. Armando Milioni ITA<br />

Prof. Renato Peixoto Dagnino UNICAMP<br />

iii


DEDICATÓRIA<br />

Dedico este trabalho à minha esposa e à Atena, <strong>que</strong> po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas quase <strong>que</strong> coautoras,<br />

dada compania e paciência.<br />

E <strong>de</strong>dico em especial este trabalho ao <strong>futuro</strong>, cuja prosperida<strong>de</strong> justifica nossos esforços<br />

hoje.<br />

i


AGRADECIMENTOS<br />

Agra<strong>de</strong>ço ao meu orientador, professor Donizeti <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, pela confiança, estímulo e<br />

direcionamento durante o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste trabalho. Agra<strong>de</strong>ço ainda aos<br />

meus superiores e colegas <strong>de</strong> trabalho <strong>que</strong> me apoiaram durante todo este empreendimento.<br />

ii


“Time present and time past<br />

Are both perhaps present in time future,<br />

And time future contained in time past.<br />

If all time is eternally present<br />

All time is unre<strong>de</strong>emable.<br />

What might have been is an abstraction<br />

Remaining a perpetual possibility<br />

Only in a world of speculation.<br />

What might have been and what has been<br />

Point to one end, which is always present.<br />

Footfalls echo in the memory<br />

Down the passage which we did not take<br />

Towards the door we never opened<br />

Into the rose-gar<strong>de</strong>n. My words echo<br />

Thus, in your mind.”<br />

T.S. Eliot, Burnt Norton - Nº 1 of Four Quartets<br />

“E no entanto, no entanto… negar a sucessão do tempo, negar o eu, negar o universo<br />

astronômico são <strong>de</strong>sesperos aparentes e consolos secretos... o tempo <strong>é</strong> um rio <strong>que</strong> me arrebata,<br />

mas eu sou o rio; <strong>é</strong> um tigre <strong>que</strong> me <strong>de</strong>stroça, mas eu sou o tigre; <strong>é</strong> um fogo <strong>que</strong> me consome,<br />

mas eu sou o fogo. O mundo, <strong>de</strong>sgraçadamente, <strong>é</strong> real; e eu, <strong>de</strong>sgraçadamente, sou Borges.”<br />

Jorge Luis Borges, Uma Nova Refutação do Tempo<br />

“Vinculamos a irreversibilida<strong>de</strong> a uma nova formulação probabilística das leis da natureza.<br />

Esta formulação fornece-nos os princípios <strong>que</strong> permitem <strong>de</strong>cifrar a construção do universo <strong>de</strong><br />

amanhã, mas <strong>é</strong> <strong>de</strong> um universo em construção <strong>que</strong> se trata. O <strong>futuro</strong> não <strong>é</strong> dado. Vivemos o<br />

fim das certezas. Será isto uma <strong>de</strong>rrota do espírito humano? Estou convencido do contrário<br />

(...). A imaginação dos possíveis, a especulação sobre o <strong>que</strong> po<strong>de</strong>ria ter sido <strong>é</strong> um dos traços<br />

fundamentais da inteligência humana”<br />

Ilya Prigogine, O Fim das Certezas<br />

iii


RESUMO<br />

O presente trabalho apresenta um m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica <strong>que</strong> busca, atrav<strong>é</strong>s do<br />

entendimento da natureza do <strong>futuro</strong> aqui tamb<strong>é</strong>m mostrada, integrar a visão clássica dos<br />

estudos do <strong>futuro</strong> com aportes advindos dos estudos da ciência & tecnologia. Esta busca<br />

preten<strong>de</strong> suportar o processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>ntro do ambiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

tecnológico e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> produto, ao fornecer um entendimento das forças <strong>que</strong><br />

moldarão as características e capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produtos <strong>futuro</strong>s. O trabalho estrutura-se atrav<strong>é</strong>s<br />

<strong>de</strong> uma seqüência composta por cinco etapas: 1. <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> prospectiva tecnológica,<br />

construída a partir <strong>de</strong> uma revisão <strong>de</strong> <strong>de</strong>finições clássicas; 2. construção e justificação <strong>de</strong> um<br />

Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> Futuro, a partir <strong>de</strong> conhecimentos advindos dos estudos do <strong>futuro</strong> e dos<br />

estudos da ciência & tecnologia; 3. estruturação <strong>de</strong> um m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica,<br />

tendo por base o MTF e aportes metodológicos <strong>de</strong> outros m<strong>é</strong>todos <strong>de</strong> prospectiva<br />

referenciados na literatura; 4. aplicação do m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica ao mercado <strong>de</strong><br />

Large Commercial Aircratf; 5. análise do m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica, utilizando<br />

metodologias sugeridas na literatura da área. O m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica aqui<br />

apresentado, justificado, testado e analisado apresenta resultados satisfatórios na medida em<br />

<strong>que</strong>, conquanto reconhecendo a imprevisibilida<strong>de</strong> do <strong>futuro</strong>, permite acessar os vetores <strong>de</strong><br />

mudança, e a partir <strong>de</strong>stes tomar <strong>de</strong>cisões mais conscientes. Al<strong>é</strong>m disto, ao permitir um<br />

vislumbre <strong>de</strong> um <strong>futuro</strong> provável, constrói um sentimento <strong>de</strong> alerta e prontidão em relação<br />

aos vetores <strong>de</strong> mudança, garantindo robustez ao processo <strong>de</strong> planejamento. O único <strong>futuro</strong> –<br />

real – <strong>é</strong> a<strong>que</strong>le <strong>que</strong> se constrói no dia-a-dia. Se não houver um planejamento positivo, se não<br />

houver atitu<strong>de</strong> em direção ao <strong>futuro</strong>, o <strong>futuro</strong> construído por outros irá se impor.<br />

iv


ABSTRACT<br />

The current work shows a method of technological prospection that intents, through the<br />

un<strong>de</strong>rstanding of the nature of the future also shown here, to integrate the classic vision of the<br />

studies of the future with insights of the studies of science & technology. This search intends<br />

to support the process of <strong>de</strong>cision-making throughout technological <strong>de</strong>velopment and<br />

<strong>de</strong>velopment of product activities, supplying an un<strong>de</strong>rstanding of the forces that will mold the<br />

characteristics and capacities of future products. The work is structured by a se<strong>que</strong>nce of five<br />

stages: 1. <strong>de</strong>finition of technological prospection, built upon a revision of classic <strong>de</strong>finitions;<br />

2. construction and justification of a Th<strong>eo</strong>retical Mo<strong>de</strong>l of Future (TMF), based on the<br />

knowledge of the studies of the future and the studies of science & technology; 3. constitution<br />

of a method of technological prospection, having for a basis the TMF and contributions from<br />

other methods referenced in the literature; 4. application of the method of technological<br />

prospection to the market of Large Commercial Aircratf; 5. analysis of the method of<br />

technological prospection, using methodologies suggested in the literature of the area. The<br />

method of technological prospection presented, justified, tested and analyzed here presents<br />

satisfactory outcomes, in the way that, although recognizing the unforeseeability of the future,<br />

it allows to access the vectors of change, and with these, making more conscious <strong>de</strong>cisions.<br />

Mor<strong>eo</strong>ver, by allowing a glimpse of a probable future, it enables a feeling of awareness and<br />

promptitu<strong>de</strong> in relation to the vectors of change, guaranteeing robustness to the planning<br />

process. The only future - real - is the one that’s constructed in a day-by-day basis. If there is<br />

no positive planning, no attitu<strong>de</strong> in direction to the future, the future built by others will<br />

impose itself.<br />

v


SUMÁRIO<br />

DEDICATÓRIA.......................................................................................................................... i<br />

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................... ii<br />

RESUMO .................................................................................................................................. iv<br />

ABSTRACT ............................................................................................................................... v<br />

SUMÁRIO................................................................................................................................. vi<br />

LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................viii<br />

LISTA DE TABELAS .............................................................................................................. ix<br />

1 Introdução................................................................................................................... 1<br />

1.1 Objetivos do Trabalho ................................................................................................ 2<br />

1.2 Consi<strong>de</strong>rações Sobre a Motivação e Relevância do Trabalho.................................... 8<br />

2 Fundamentação Teórica ........................................................................................... 16<br />

2.1 Planejando Para o Amanhã: os Estudos do Futuro e a Prospectiva Tecnológica..... 17<br />

2.1.1 Prospectiva Tecnológica........................................................................................... 17<br />

2.2 Aspectos da Natureza da Ciência e Tecnologia ....................................................... 25<br />

2.2.1 A Comunida<strong>de</strong> Científica e a Estrutura das Revoluções Científicas ....................... 25<br />

2.2.2 Big Science: Aspectos da Política Científica e Tecnológica e a Relação Ciência,<br />

Tecnologia e Socieda<strong>de</strong>............................................................................................ 31<br />

2.2.3 Pon<strong>de</strong>rações.............................................................................................................. 38<br />

3 Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> Futuro........................................................................................ 40<br />

3.1 Descrição do Mo<strong>de</strong>lo................................................................................................ 43<br />

4 M<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> Prospectiva............................................................................................. 49<br />

4.1 Determinação dos fatores <strong>de</strong> contorno do Cenário................................................... 50<br />

4.2 I<strong>de</strong>ntificação dos principais atores no mercado a se analisar ................................... 52<br />

4.3 Verificação da a<strong>de</strong>quação ao mo<strong>de</strong>lo....................................................................... 52<br />

4.4 Localização do CN dos atores i<strong>de</strong>ntificados ............................................................ 52<br />

4.5 Construção do CD baseado no CN........................................................................... 53<br />

5 Aplicação do M<strong>é</strong>todo: o Caso Aeroespacial ............................................................ 54<br />

5.1 Determinação dos fatores <strong>de</strong> contorno do Cenário................................................... 54<br />

5.2 Principais Atores ...................................................................................................... 55<br />

5.3 A<strong>de</strong>quação do Mo<strong>de</strong>lo.............................................................................................. 57<br />

5.3.1 Regulamentação no Mercado ................................................................................... 58<br />

5.3.2 Intensivida<strong>de</strong> em Conhecimento .............................................................................. 59<br />

5.3.3 Investimentos Governamentais em P&D ................................................................. 59<br />

5.4 Localização dos Cenários Normativos dos Principais Atores.................................. 64<br />

5.4.1 Cenário Normativo: EUA e UE ............................................................................... 67<br />

5.5 Aplicação do CN ao CD........................................................................................... 69<br />

5.5.1 Cenário Descritivo: o Ambiente Tecnológico dos LCAs em 2014.......................... 69<br />

vi


6 Análise...................................................................................................................... 80<br />

7 Conclusão................................................................................................................. 90<br />

7.1 Consi<strong>de</strong>rações para Pesquisas Futuras ..................................................................... 91<br />

Bibliografia............................................................................................................................... 93<br />

vii


LISTA DE FIGURAS<br />

Figura 1.1: Es<strong>que</strong>ma do m<strong>é</strong>todo utilizado.................................................................................4<br />

Figura 1.2: Mo<strong>de</strong>lo conceitual <strong>de</strong> “Roadmap Tecnológico”....................................................14<br />

Figura 2.1: Framework para as TFA........................................................................................19<br />

Figura 2.2: Agrupamento das t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> Prospectiva.............................................................23<br />

Figura 2.3: Gastos em P&D em porcentagem do PIB - todos os setores: 1991 a 2001...........32<br />

Figura 2.4: Evolução da P&D Empresarial, em Bilhões <strong>de</strong> Dólares (PPP 1995), 1981-2001.33<br />

Figura 2.5: O processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão da Política <strong>de</strong> C&T..........................................37<br />

Figura 3.1: Termos dos Estudos do Futuro..............................................................................42<br />

Figura 3.2: Campo <strong>de</strong> Visão do Futuro....................................................................................43<br />

Figura 3.3: Mo<strong>de</strong>lo Conceitual <strong>de</strong> Futuro................................................................................45<br />

Figura 3.4: Estado da Socieda<strong>de</strong> vs Estado da Ciência...........................................................48<br />

Figura 3.5: Restrições Organizacionais...................................................................................48<br />

Figura 5.1: Estrutura do mercado <strong>de</strong> LCAs.............................................................................56<br />

Figura 5.2: Consolidação do Mercado Aeroespacial Norte-Americano..................................56<br />

Figura 5.3: Consolidação do Mercado Aeroespacial Norte-Americano..................................57<br />

Figura 5.4: Consolidação do Mercado Aeroespacial Norte-Americano..................................57<br />

Figura 5.5: Fatores <strong>que</strong> moldarão a aeronáutica no s<strong>é</strong>culo XXI..............................................61<br />

Figura 5.6: Fatores <strong>de</strong> sucesso para uma inovação tecnológica...............................................62<br />

Figura 5.7: Desempenho da P&D Industrial por Indústrias Selecionadas, por Fonte dos<br />

Recursos...................................................................................................................................64<br />

Figura 5.8: Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Desenvolvimento Tecnológico Aeronáutico Europeu.........................66<br />

Figura 5.9: Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Desenvolvimento Tecnológico Aeronáutico Norte-Americano..........66<br />

Figura 5.10: Exemplo <strong>de</strong> Árvore <strong>de</strong> Relevância aplicada ao CD - 1º nível.............................73<br />

Figura 5.11: Exemplo <strong>de</strong> Árvore <strong>de</strong> Relevância aplicada ao CD.............................................73<br />

Figura 5.12: Exemplo <strong>de</strong> Árvore <strong>de</strong> Relevância aplicada ao CD.............................................74<br />

Figura 5.13: Exemplo <strong>de</strong> Árvore <strong>de</strong> Relevância aplicada ao CD.............................................74<br />

Figura 6.1: Espaço <strong>de</strong> avaliação para t<strong>é</strong>cnicas e m<strong>é</strong>todos para tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão..................81<br />

viii


LISTA DE TABELAS<br />

Tabela 2.1: Diferenças entre Forecasting e Foresight.............................................................18<br />

Tabela 2.2: Características das t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> prospectiva............................................................24<br />

Tabela 2.3: Matriz <strong>de</strong> Pedigree das T<strong>eo</strong>rias Científicas...........................................................30<br />

ix


1 INTRODUÇÃO<br />

A incerteza <strong>é</strong> uma característica <strong>de</strong> nosso tempo (MICHAEL, 1973 apud MASINI,<br />

1993). Entretanto, tentar antever o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> quase tão antigo quanto a própria<br />

humanida<strong>de</strong>. Des<strong>de</strong> os tempos em <strong>que</strong> o domínio da noção <strong>de</strong> estações climáticas do<br />

ano <strong>de</strong>u ao homem um significativo aumento na produtivida<strong>de</strong> agrícola, permitindo<br />

fixar-se a um só local, a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> antecipar acontecimentos <strong>futuro</strong>s tem sido alvo <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> interesse. No início, esta ativida<strong>de</strong> era muito ligada a sacerdotes, <strong>que</strong><br />

supostamente possuíam um dom especial. A crença cristã na existência <strong>de</strong> uma<br />

onisciência divina criou o sentimento <strong>de</strong> <strong>que</strong> existe um <strong>futuro</strong> <strong>de</strong>terminado e previsível.<br />

A emergência do pensamento racional, principalmente a partir do s<strong>é</strong>culo XVIII,<br />

reforçou a id<strong>é</strong>ia <strong>de</strong> um universo <strong>de</strong>terminístico, para o qual conhecendo-se as leis e o<br />

estado inicial <strong>de</strong> um sistema po<strong>de</strong>-se prever o seu comportamento <strong>futuro</strong>. Entretanto,<br />

com o advento da física estatística, principalmente ligada à termodinâmica, no s<strong>é</strong>culo<br />

XIX, alguns <strong>de</strong>mônios começaram a turvar a visão do <strong>futuro</strong>. O s<strong>é</strong>culo XX recru<strong>de</strong>sceu<br />

este tendência, criando um verda<strong>de</strong>iro pesa<strong>de</strong>lo conceitual para o <strong>de</strong>terminismo. A<br />

mecânica quântica, em sua interpretação Copenhagen 1 , prevê a existência do “Princípio<br />

da Incerteza 2 ”, segundo o qual não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar, ao mesmo tempo, a quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> movimento e a posição <strong>de</strong> uma partícula. Pelo lado da matemática, Gö<strong>de</strong>l postulou o<br />

“T<strong>eo</strong>rema da Incompletu<strong>de</strong>” 3 , <strong>de</strong>rrubando o sonho dos lógicos <strong>de</strong> construir um sistema<br />

formal fechado. Os golpes não se limitaram ao campo científico. Des<strong>de</strong> o s<strong>é</strong>culo XVIII,<br />

no <strong>que</strong>, na opinião <strong>de</strong> Eric Hobsbawm (2001), ficou conhecido como “a era das<br />

1 Interpretação padrão da Mecânica Quântica, feita na Escola <strong>de</strong> Copenhagen, sob a li<strong>de</strong>rança do físico<br />

dinamarquês Niels Bohr (1885-1962) (OXFORD, 1999).<br />

2 Postulado pelo físico alemão Werner Heisenberg (1901-1976) em 1927 (OXFORD, 1999).<br />

3 O T<strong>eo</strong>rema da Incompletu<strong>de</strong> foi postulado pelo matemátio austriaco Kurt Gö<strong>de</strong>l (1906-1978) em 1931.<br />

O t<strong>eo</strong>rema <strong>de</strong>monstra <strong>que</strong> em qual<strong>que</strong>r sistema formal consistente, <strong>que</strong> seja suficientemente complicado<br />

para <strong>de</strong>screver a aritm<strong>é</strong>tica simples, existem proposições e/ou afirmações <strong>que</strong> não po<strong>de</strong>m ser provadas ou<br />

refutadas sobre as bases dos axiomas do sistema, i.e., existem verda<strong>de</strong>s lógicas <strong>que</strong> não po<strong>de</strong>m obter<br />

prova <strong>de</strong>ntro do sistema on<strong>de</strong> estão inseridas (OXFORD, 1999).<br />

1


evoluções”, at<strong>é</strong> o “breve” s<strong>é</strong>culo XX, chamado por Hobsbawm <strong>de</strong> “era dos extremos”<br />

(1997), a humanida<strong>de</strong> assistiu a transformações a uma velocida<strong>de</strong> vertiginosa, e,<br />

aparentemente, exponencialmente crescente. A mudança atingiu a tudo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

filosofia at<strong>é</strong> os costumes, passando pela economia e a g<strong>eo</strong>política, e, principalmente, à<br />

emergência <strong>de</strong> uma cultura <strong>que</strong> se convencionou chamar <strong>de</strong> “mo<strong>de</strong>rna”.<br />

Esta mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, construída passo a passo durante os últimos 300 anos, <strong>de</strong>ixou<br />

um sentimento no ar <strong>de</strong> <strong>que</strong> vivemos em um mundo imprevisível, on<strong>de</strong> o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong><br />

in<strong>de</strong>terminado ou at<strong>é</strong> mesmo aleatório. A emergente complexida<strong>de</strong> dos<br />

empreendimentos exigiu uma mudança radical na forma <strong>de</strong> gerir os recursos. Buscando<br />

contra-balancear a sensação <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lidar com o mundo, uma das gran<strong>de</strong>s<br />

revoluções ocorridas no bojo da administração mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong>u-se na criação <strong>de</strong><br />

ferramentas <strong>que</strong> permitam, <strong>de</strong> alguma forma, lidar com as incertezas inerentes ao <strong>futuro</strong>.<br />

Des<strong>de</strong> os anos 1950 at<strong>é</strong> hoje surgiram diversas t<strong>é</strong>cnicas (COATES et al., 2001).<br />

O presente trabalho mostra algumas <strong>de</strong>stas t<strong>é</strong>cnicas e propõe um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

(ante)visão do <strong>futuro</strong>, baseado na convergência <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>stas, conhecidas como<br />

Prospectiva e outros conhecimentos advindos <strong>de</strong> diferentes campos, notadamente dos<br />

estudos da ciência e tecnologia.<br />

1.1 Objetivos do Trabalho<br />

No começo dos anos 1990, os pesquisadores Stephen Millet e Edward Honton (1991, p.<br />

3), do Battelle Memorial Institute, apresentaram como um dos principais <strong>de</strong>safios para<br />

2


a área <strong>de</strong> prospectiva tecnológica 4 a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r os m<strong>é</strong>todos al<strong>é</strong>m dos<br />

domínios da tecnologia e integrá-los com outros tipos <strong>de</strong> m<strong>é</strong>todos <strong>de</strong> prospectiva, como<br />

a<strong>que</strong>les usados em economia, política e met<strong>eo</strong>rologia.<br />

Por prospectiva tecnológica, este trabalho a<strong>de</strong>re parcialmente à <strong>de</strong>finição dada<br />

por Millet e Honton, enten<strong>de</strong>ndo <strong>que</strong><br />

“technology forecasting is the process and results of thinking about the future, whether expressed in<br />

numbers or in words, of capabilities and applications of mechanical, physical processes, and applied<br />

E, ainda <strong>que</strong>,<br />

science”<br />

(1991, p. 3).<br />

“in<strong>de</strong>ed, in the corporate context (…), ‘product forecasting’ may be more <strong>de</strong>scriptive of what are really<br />

attempting than ‘technology forecasting’. This new term opens up horizons for integrating technologies<br />

with non-technical consi<strong>de</strong>rations in a comprehensive package that would be more useful to managers”<br />

(1991, p. 3).<br />

4 Neste trabalho <strong>é</strong> usado o termo “prospectiva” como sinônimo tanto <strong>de</strong> forecasting quanto <strong>de</strong> foresight,<br />

por enten<strong>de</strong>r <strong>que</strong> ambos, apesar da literatura apresentar nuances <strong>que</strong> os diferenciam, situam-se <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong><br />

um mesmo guarda-chuva conceitual. Este guarda-chuva conceitual <strong>é</strong> o <strong>que</strong> o trabalho trata por<br />

prospectiva. Esta discussão <strong>é</strong> melhor en<strong>de</strong>reçada na Seção 2.1. Do ponto <strong>de</strong> vista hermenêutico, em<br />

português, o termo prospectiva <strong>é</strong> preferível à prospecção. Segundo o dicionário Houaiss <strong>de</strong> língua<br />

portuguesa (2004), prospecção tem três acepções: 1. ato ou e<strong>feito</strong> <strong>de</strong> prospectar; 2. conjunto <strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnicas<br />

relativas à pesquisa, localização precisa e estudo preliminar <strong>de</strong> uma jazida mineral ou petrolífera (Ex.:<br />

fazer p. <strong>de</strong> petról<strong>eo</strong>); 3. Derivação por metáfora: sondagem dos sentimentos e pensamentos alheios. Sua<br />

etimologia <strong>é</strong> ligada aos termos latinos prospectio,ónis - “vista <strong>de</strong> olhos lançada ao <strong>futuro</strong>”, ao radical <strong>de</strong><br />

prospectum, supino <strong>de</strong> prospicère - “olhar adiante”. Ainda segundo o Houaiss, o verbete prospectiva tem<br />

por acepções: 1. m.q. perspectiva - “vista ao longe”; 2. conjunto <strong>de</strong> pesquisas a respeito <strong>de</strong> fenômenos<br />

t<strong>é</strong>cnicos, tecnológicos, científicos, econômicos, sociais etc., <strong>que</strong> procura prever a evolução futura das<br />

socieda<strong>de</strong>s. A etimologia <strong>de</strong>ste verbete, datada <strong>de</strong> 1623, <strong>é</strong> ligada ao feminino substantivo <strong>de</strong> prospectivo,<br />

como sinônimo <strong>de</strong> 'perspectiva', por influxo do termo francês prospective (1537), <strong>que</strong> significa “ação <strong>de</strong><br />

olhar para a frente, olhar à distância, perspectiva”, na acepção <strong>de</strong> “ciência <strong>que</strong> examina as possibilida<strong>de</strong>s<br />

futuras <strong>de</strong> algo”, e ainda ao francês prospective (1958), conceitualmente ligado à linha teórica do presente<br />

trabalho.<br />

3


Dentro <strong>de</strong>ste escopo <strong>de</strong> <strong>de</strong>finições, o presente trabalho busca contribuir para a<br />

compreensão da natureza do <strong>futuro</strong> e, a partir das hipóteses correlatas a esta<br />

compreensão, estabelecer um m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica <strong>que</strong> integre<br />

conhecimentos advindos <strong>de</strong> áreas como análise <strong>de</strong> políticas públicas em Ciência &<br />

Tecnologia e filosofia e sociologia da ciência. Estes objetivos se <strong>de</strong>sdobram em quatro<br />

objetos <strong>de</strong> estudo, <strong>que</strong> se apresentam <strong>de</strong> forma seqüencial (Figura 1.1). Primeiro este<br />

trabalho <strong>de</strong>dica-se ao campo dos Estudos do Futuro e <strong>de</strong> Prospectiva Tecnológica,<br />

buscando apresentar uma revisão <strong>de</strong> várias <strong>de</strong>finições para termos como foresight,<br />

forecasting, prospectiva e Estudos do Futuro, <strong>de</strong> maneira a construir uma <strong>de</strong>finição <strong>que</strong><br />

seja um guarda-chuva conceitual e sustente um Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> Futuro, <strong>que</strong> <strong>é</strong> o<br />

segundo objeto.<br />

Definições<br />

Clássicas<br />

Definição <strong>de</strong><br />

Prospectiva:<br />

processo & metas<br />

Estudos <strong>de</strong> Ciência &<br />

Tecnologia: filosofia,<br />

economia, sociologia e<br />

política<br />

Mo<strong>de</strong>lo<br />

Teórico<br />

<strong>de</strong> Futuro<br />

M<strong>é</strong>todo <strong>de</strong><br />

Prospectiva<br />

Aplicação do<br />

M<strong>é</strong>todo <strong>de</strong><br />

Prospectiva<br />

Figura 1.1: Es<strong>que</strong>ma do m<strong>é</strong>todo utilizado<br />

Análise &<br />

Validação<br />

Este segundo objeto, situado <strong>de</strong>ntro da área <strong>de</strong> Estudos do Futuro, <strong>é</strong> a <strong>de</strong>finição e<br />

justificação <strong>de</strong> um Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> Futuro (MTF) construído a partir da integração<br />

<strong>de</strong> m<strong>é</strong>todos <strong>de</strong> análises t<strong>é</strong>cnicas com os m<strong>é</strong>todos <strong>de</strong> análises não-t<strong>é</strong>cnicas, sob a<br />

4


conceituação proposta (Objeto 1). A aplicação <strong>de</strong> m<strong>é</strong>todos advindos <strong>de</strong> ambos os tipos<br />

<strong>de</strong> análises <strong>é</strong> justificada por Porter et al. Segundo este, a prospectiva tecnológica lida<br />

com elementos causais <strong>de</strong> todos os tipos, como social, econômico ou tecnológico (1991,<br />

p. 21), ou, nas palavras <strong>de</strong> Makridakis e Wheelwright, “forecasting is not just a<br />

statistical área, but the domain of psychology, sociology, politics, management, and<br />

others related disciplines” (1982, p. 3).<br />

O Objeto 3 <strong>é</strong> voltado para o campo <strong>de</strong> estudos da Gestão <strong>de</strong> Tecnologia/P&D e da<br />

Análise <strong>de</strong> Decisões. Assumindo parcialmente o <strong>de</strong>safio proposto por Millet e Honton<br />

(1991) acima exposto, o presente trabalho apresenta um m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva<br />

tecnológica baseado no MTF aqui apresentado (Objeto 2), <strong>de</strong> forma a integrar<br />

conhecimentos advindos <strong>de</strong> áreas como análise <strong>de</strong> políticas públicas em ciência e<br />

tecnologia e filosofia e sociologia da ciência. A tese central do m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva<br />

tecnológica aqui proposto <strong>é</strong> a <strong>de</strong> <strong>que</strong>, durante a tarefa <strong>de</strong> planejamento tecnológico,<br />

quando <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados contextos <strong>de</strong> mercado, o Cenário Descritivo (CD)<br />

assumido po<strong>de</strong> ser baseado na convergência entre o Cenário Normativo (CN) dos<br />

principais atores da<strong>que</strong>le mercado (normalmente economias centrais) e a tecnologia<br />

baseada na ciência normal 5 . O tipo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica aqui <strong>de</strong>fendida <strong>é</strong><br />

constituída <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s e aplicações <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado<br />

produto em um <strong>de</strong>terminado <strong>futuro</strong>.<br />

Na seqüência, baseando-se no Objeto 3, realiza-se um exercício <strong>de</strong> prospectiva<br />

tecnológica, <strong>que</strong> <strong>é</strong>, conseqüentemente baseado no MTF (Objeto 2), tamb<strong>é</strong>m aqui<br />

exposto. É construído e apresentado um CD para o mercado aeroespacial, mais<br />

5 Termo introduzido por Thomas Kuhn para <strong>de</strong>finir a ciência <strong>de</strong>senvolvida <strong>de</strong>ntro do paradigma<br />

dominante, sem rupturas. A Seção 2.2.1 aprofunda esta discussão.<br />

5


especificamente para o setor <strong>de</strong> Large Commercial Aircraft. Este CD apresenta uma<br />

visão das capacida<strong>de</strong>s e aplicações baseadas no <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico,<br />

referentes ao mercado em <strong>que</strong>stão 10 anos à frente, i.e., no ano 2014.<br />

Por fim <strong>é</strong> realizado um exercício <strong>de</strong> análise do m<strong>é</strong>todo proposto. Este exercício<br />

foi realizado com o balizamento <strong>de</strong> metodologias apresentadas na literatura <strong>de</strong><br />

referência (MITROFF & TUROFF, 1973; MISHRA, DESHMUKH, VRAT, 2002),<br />

principalmente em Harries (2003).<br />

Segundo Bright (1968, p. xi) a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prospectiva tecnológica po<strong>de</strong> atuar<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sete horizontes <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong>:<br />

“1. That certain knowledge of nature or level of scientific un<strong>de</strong>rstaning will be required; 2. That it will<br />

possible to <strong>de</strong>monstrate a new technical capability (on laboratory basis); 3. That the new technical<br />

capability will be applied to a full scale prototype (field trial); 4. That the new technology will be put to<br />

first operational use (commercial introduction); 5. That the new technology will be wi<strong>de</strong>ly adopted (…);<br />

6. That certain social (and economic) conse<strong>que</strong>nces will follow the use of the new technology; 7. That<br />

future economic, political, social and technical conditions will require the creation of certain new<br />

technical capability.”<br />

O m<strong>é</strong>todo proposto no presente trabalho situa-se <strong>de</strong>ntro do s<strong>é</strong>timo nível, atuando<br />

no contexto da <strong>de</strong>terminação social <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s t<strong>é</strong>cnicas. Isto significa <strong>que</strong> a<br />

mecânica interna do m<strong>é</strong>todo proposto <strong>é</strong> enten<strong>de</strong>r o <strong>futuro</strong> da tecnologia a partir da<br />

captura <strong>de</strong> vetores <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação social, econômica e política.<br />

6


Este trabalho limita-se, entretanto, a construir um framework conceitual <strong>que</strong><br />

serve <strong>de</strong> base para a construção <strong>de</strong> um CD aplicável apenas em mercados altamente<br />

regulamentados, on<strong>de</strong> há barreiras à introdução <strong>de</strong> inovações tecnológicas em virtu<strong>de</strong> do<br />

“princípio da precaução 6 ” e on<strong>de</strong> o conceito <strong>de</strong> Big Science, i.e., gran<strong>de</strong>s investimentos<br />

governamentais em P&D, seja válido.<br />

Outra limitação se dá em relação ao limite <strong>de</strong> tempo do CD construído.<br />

Naturalmente, o limite <strong>de</strong> tempo <strong>é</strong> o limite adotado pelo CN utilizado como marco <strong>de</strong><br />

referência. E, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste limite, a precisão diminui com o tempo, em virtu<strong>de</strong> da<br />

incerteza científico-tecnológica.<br />

A concepção metodológica do presente trabalho tem como norte a colocação <strong>de</strong><br />

Umberto Eco, sobre o ato <strong>de</strong> elaboração <strong>de</strong> uma tese:<br />

“(1) i<strong>de</strong>ntificar um tema precioso; (2) recolher documentação sobre ele; (3) pôr em or<strong>de</strong>m estes<br />

documentos; (4) reexaminar em primeira mão o tema à luz da documentação recolhida; (5) dar forma<br />

orgânica a todas as reflexões prece<strong>de</strong>ntes; (6) empenhar-se para <strong>que</strong> o leitor compreenda o <strong>que</strong> se quis<br />

dizer e possa, se for o caso, recorrer à mesma documentação a fim <strong>de</strong> retomar o tema por conta própria.<br />

Fazer uma tese significa, pois, apren<strong>de</strong>r a pôr or<strong>de</strong>m nas próprias id<strong>é</strong>ias e or<strong>de</strong>nar os dados.”<br />

Já o norte moral do trabalho <strong>é</strong> dado por Carl Sagan, <strong>que</strong> diz:<br />

(ECO, 2002, p. 5)<br />

6 Princípio da Precaução busca oferecer uma alternativa a processos longos <strong>de</strong> assessment, buscando<br />

trabalhar a incerteza inerente aos impactos do <strong>de</strong>senvolvimento científico-tecnológico. Existem diversas<br />

<strong>de</strong>finições, mas a id<strong>é</strong>ia <strong>é</strong> a <strong>de</strong> <strong>que</strong>, quando há um gran<strong>de</strong> risco para a saú<strong>de</strong> da população ou da ocorrência<br />

<strong>de</strong> impactos ambientais, o Princípio da Preucação impõe <strong>que</strong> as <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> regulação <strong>de</strong>vem ser tomadas<br />

<strong>de</strong> forma a prevenir estas ativida<strong>de</strong>s at<strong>é</strong> <strong>que</strong> estudos científicos posteriores <strong>de</strong>monstrem <strong>que</strong> não há risco<br />

consi<strong>de</strong>rável. Trata-se <strong>de</strong> trazer a <strong>de</strong>cisão para o momento <strong>de</strong> dúvida quanto à ocorrência <strong>de</strong><br />

conseqüências in<strong>de</strong>sejáveis. O Princípio da Precaução tem origem no Partido Ver<strong>de</strong> alemão, na d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong><br />

1970 (GOUGH, 2003, p. 16)<br />

7


“Compreen<strong>de</strong>r on<strong>de</strong> vivemos <strong>é</strong> condição pr<strong>é</strong>via essencial para a melhoria do nosso habitat. (...) Se<br />

<strong>que</strong>remos <strong>que</strong> o nosso planeta seja importante, alguma coisa po<strong>de</strong>mos fazer por isso. Conferimos<br />

importância ao nosso mundo pela coragem <strong>de</strong> nossas perguntas e pela profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossas respostas.”<br />

(SAGAN, 1996, p. 227-228)<br />

1.2 Consi<strong>de</strong>rações Sobre a Motivação e Relevância do Trabalho<br />

O ato <strong>de</strong> planejar não <strong>é</strong> recente na mentalida<strong>de</strong> corporativa. Chandler (1998) aponta a<br />

emergência da gestão profissional, em contrapartida à gestão realizada pelos<br />

proprietários, por volta da d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong> 1850, como o início <strong>de</strong> um ciclo <strong>de</strong> mudanças<br />

fundamentais no processo <strong>de</strong>cisório das instituições. Por outro lado, segundo Bernstein<br />

(1997), o <strong>que</strong> distingue os milhares <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> história do <strong>que</strong> consi<strong>de</strong>ramos tempos<br />

mo<strong>de</strong>rnos não são apenas os fatores usualmente apontados, i.e., ciência, tecnologia,<br />

capitalismo e <strong>de</strong>mocracia. Apesar dos enormes progressos atuais, estes conceitos,<br />

segundo Bernstein (1997, p. 1), já estavam presentes, em maior e menor graus, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os<br />

primórdios da civilização. A gran<strong>de</strong> diferença está na compreensão <strong>de</strong> <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong><br />

mais do <strong>que</strong> um capricho dos <strong>de</strong>uses e <strong>de</strong> <strong>que</strong> homens e mulheres não são passivos ante<br />

a natureza. Esta <strong>é</strong> a id<strong>é</strong>ia revolucionária <strong>que</strong> <strong>de</strong>fine a fronteira entre os tempos<br />

mo<strong>de</strong>rnos e o passado – o domínio do risco. E este conhecimento, na forma <strong>de</strong><br />

ferramentas atualmente usadas na administração <strong>de</strong> risco e na análise <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e<br />

opções, resultam das evoluções ocorridas entre 1656 e 1760, com exceção da noção <strong>de</strong><br />

regressão à m<strong>é</strong>dia, <strong>que</strong> surgiu com Francis Galton em 1875 e da gestão <strong>de</strong> portfolio,<br />

introduzida em 1952 por Harry Markowitz.<br />

8


Este ambiente <strong>de</strong> profissionalização da gestão, em conjunto à evolução dos<br />

m<strong>é</strong>todos formais <strong>de</strong> suporte à <strong>de</strong>cisão constitui o panorama <strong>de</strong>ntro do se qual insere o<br />

escopo do presente trabalho.<br />

Levando em consi<strong>de</strong>ração o campo específico da gestão <strong>de</strong> tecnológica, não há<br />

uma consolidação das id<strong>é</strong>ias antes da d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong> 1960. James Bright (1998) apresenta<br />

um breve relato das origens da prospectiva tecnológica. Segundo Bright, um dos<br />

primeiros trabalhos realizados para previsão tecnológica data do início do S<strong>é</strong>culo XX,<br />

tendo S. Colum Gilfillan como seu autor. O primeiro esforço governamental para<br />

realizar alguma forma <strong>de</strong> prospectiva tecnológica foi <strong>feito</strong> por W. F. Ogburn, com<br />

patrocínio do Departamento do Interior norte-americano, em 1937. Segundo Bright<br />

(1998), um gran<strong>de</strong> marco ocorreu em 1944, quando Th<strong>eo</strong>dor Von Karman realizou um<br />

exercício <strong>de</strong> previsão para balizar o <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico da força-a<strong>é</strong>rea norte-<br />

americana no período <strong>de</strong> 1945-1965. Do lado acadêmico e industrial, os primeiros<br />

movimentos ocorreram em 1959, na Harvard Business School, sendo <strong>que</strong> o principal<br />

acontecimento foi o trabalho <strong>de</strong> Erich Jantsch, patrocinado e divulgado pela OECD 7 em<br />

1967. No final da d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong> 1960 foi publicado o primeiro livro norte-americano<br />

voltado para a t<strong>eo</strong>ria e prática da prospectiva tecnológica. Na Europa, um dos marcos<br />

iniciais <strong>é</strong> o trabalho <strong>de</strong> Gaston Berger, <strong>de</strong> 1957, aon<strong>de</strong> <strong>é</strong> introduzido o termo “La<br />

Prospectiva” com a criação do Centre d’Etu<strong>de</strong>s Prospectives, tamb<strong>é</strong>m em 1957. Esta<br />

linha encontrou seu marco conceitual posteriormente nos trabalhos <strong>de</strong> Michel Go<strong>de</strong>t, a<br />

partir da d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong> 1950 (BOUVIER, 2000).<br />

7 OCDE: Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. No original em francês OCDE:<br />

Organisation <strong>de</strong> coop<strong>é</strong>ration et <strong>de</strong> d<strong>é</strong>veloppement <strong>é</strong>conomi<strong>que</strong>s ; ou em inglês (segunda língua oficial da<br />

instituição) OECD: Organization for Economic Co-operation and Development.<br />

9


O processo <strong>de</strong> planejamento tecnológico e a análise <strong>de</strong> tecnologias emergentes e<br />

suas implicações <strong>é</strong> <strong>de</strong> suma importância para uma organização - países, institutos <strong>de</strong><br />

pesquisa, universida<strong>de</strong>s, empresas - (PORTER et al, 2004; BRIGHT, 1998), uma vez<br />

<strong>que</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas tecnologias <strong>é</strong> o motor do crescimento econômico<br />

(JONES, 2000). O crescimento econômico acontece em virtu<strong>de</strong> da criação <strong>de</strong> um<br />

mercado totalmente novo, resultado da introdução <strong>de</strong> um novo produto ou serviço. À<br />

empresa <strong>que</strong> origina esta ruptura tecno-econômica caberá o privil<strong>é</strong>gio da exclusivida<strong>de</strong><br />

durante um certo tempo, levando-a a ganhos extraordinários (SCHUMPETER, 1982), o<br />

<strong>que</strong> constitui, naturalmente, a construção <strong>de</strong> diferenciais competitivos.<br />

Segundo Martino a pergunta “Por <strong>que</strong> realizar uma prospectiva tecnológica?”<br />

traz a falsa implicação <strong>de</strong> <strong>que</strong> <strong>é</strong> possível não realizar a prospectiva. Qual<strong>que</strong>r indivíduo,<br />

organização ou nação <strong>que</strong> possa ser afetada pela mudança tecnológica inevitavelmente<br />

se envolve na realização da prospectiva tecnológica, para orientar as <strong>de</strong>cisões sobre<br />

alocação <strong>de</strong> recursos (1983, p. 4). Martino (1983, p. 4) aponta ainda nove razões para se<br />

realizar a prospectiva tecnológica:<br />

1. Maximizar o ganho advindo <strong>de</strong> eventos externos à organização;<br />

2. Maximizar o ganho advindo <strong>de</strong> eventos <strong>que</strong> resultam <strong>de</strong> ações tomadas pela<br />

organização;<br />

3. Minimizar a perda associada a eventos incontroláveis externos à organização;<br />

4. Compensar ações <strong>de</strong> organizações competidoras hostis;<br />

5. Projetar a <strong>de</strong>manda por produção e/ou controle <strong>de</strong> esto<strong>que</strong>;<br />

6. Projetar a <strong>de</strong>manda por unida<strong>de</strong>s fabris e planejamento <strong>de</strong> capital;<br />

7. Projetar a <strong>de</strong>manda para assegurar a mão-<strong>de</strong>-obra a<strong>de</strong>quada;<br />

10


8. Desenvolver planos administrativos e políticas internas para uma organização;<br />

9. Desenvolver políticas <strong>que</strong> afetam pessoas <strong>que</strong> não fazem parte da organização.<br />

Em suma, a prospectiva tecnológica tem por função central prover informações<br />

específicas para o tomador <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão ou elaborador <strong>de</strong> políticas realizar melhor o<br />

trabalho <strong>de</strong> planejamento tecnológico.<br />

A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suportar a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões em <strong>que</strong> se baseiam as<br />

estrat<strong>é</strong>gias <strong>de</strong> longo prazo <strong>é</strong> <strong>de</strong> particular importância quando levada em consi<strong>de</strong>ração a<br />

conclusão da pesquisa <strong>de</strong> Colins e Porras, <strong>que</strong> buscou i<strong>de</strong>ntificar características <strong>que</strong><br />

fazem das empresas visionárias vencedoras. Dentre as características levantadas está a<br />

pr<strong>eo</strong>cupação com o longo prazo, on<strong>de</strong> os autores comentam <strong>que</strong> “as empresas<br />

visionárias normalmente investem, criam e gerenciam tendo em vista o longo prazo” <strong>de</strong><br />

forma mais consistente <strong>que</strong> as empresas <strong>de</strong> comparação do estudo (1995, p. 276).<br />

Dentre as muitas formas <strong>de</strong> planejamento tecnológico, <strong>de</strong>stacam-se,<br />

notadamente no âmbito governamental, a<strong>que</strong>las suportadas pelos exercícios <strong>de</strong><br />

prospectiva. Nos últimos anos<br />

“a aplicação <strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnicas prospectivas à formulação <strong>de</strong> estrat<strong>é</strong>gias e <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s tem crescido<br />

drasticamente (...). Praticamente todas as nações da OCDE realizam um exercício prospectivo <strong>de</strong> âmbito<br />

nacional, regional ou setorial, e, muitas vezes, foi realizada uma s<strong>é</strong>ria <strong>de</strong> tais exercícios”<br />

(JOHNSTON, 2001)<br />

Entretanto, a construção do planejamento tecnológico <strong>é</strong> um processo muito<br />

difícil, principalmente por causa das incertezas tecnológicas. No intuito <strong>de</strong> minimizar as<br />

11


incertezas, <strong>de</strong>senvolveram-se diversas formas <strong>de</strong> realizar o planejamento tecnológico,<br />

<strong>de</strong>ntre elas o “Roadmap Tecnológico” (PHAAL, FARRUKH, PROBERT, 2004), cuja<br />

fase inicial – construção <strong>de</strong> cenário <strong>de</strong>scritivo – <strong>é</strong> objeto do presente trabalho. Uma<br />

<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Roadmap apresentada por estes autores <strong>é</strong>:<br />

“Technology roadmapping is a flexible techni<strong>que</strong> that is wi<strong>de</strong>ly used within industry to support strategic<br />

and long-range planning. The approach provi<strong>de</strong>s a structured (and often graphical) means for exploring<br />

and communicating the relationships between evolving and <strong>de</strong>veloping markets, products and technologies<br />

over time. It is proposed that the roadmapping techni<strong>que</strong> can help companies survive in turbulent<br />

environments by providing a focus for scanning the environment and a means of tracking the performance<br />

of individual, including potentially disruptive, technologies. Technology roadmaps are <strong>de</strong>ceptively simple<br />

in terms of format, but their <strong>de</strong>velopment poses significant challenges. In particular the scope is generally<br />

broad, covering a number of complex conceptual and human interactions.”<br />

(PHAAL, FARRUKH, PROBERT, 2004)<br />

De certa forma, a ferramenta Roadmap po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrita como o mapa <strong>de</strong><br />

capacitação tecnológica da organização. Neste mapa constam os anseios da organização<br />

como um fim, e os meios pelos quais este fim será atingido. O Cenário Normativo (CN)<br />

<strong>é</strong> a verbalização dos anseios <strong>de</strong> uma organização para um <strong>de</strong>terminado instante <strong>futuro</strong>,<br />

i.e.,<br />

“normative scenarios represent <strong>de</strong>sirable future worlds. They employ credible cause, effect and<br />

feedback relationships to project a move from the present to a <strong>de</strong>sirable future”<br />

(GLENN, GORDON, 1999).<br />

O CN <strong>é</strong> construído com base em um Cenário Descrito (CD), nas Demandas<br />

Sociais da organização e nos Valores da Organização. Do CN <strong>de</strong>rivam-se as Ações<br />

12


Estrat<strong>é</strong>gicas (AE), <strong>que</strong> são as vias <strong>de</strong> consecução da Visão (Figura 1.2). O Cenário<br />

Descritivo (CD) mostra as opções disponíveis no instante <strong>futuro</strong> escolhido. As<br />

Demandas Sociais da organização representam o <strong>que</strong> se busca. Os Valores da<br />

Organização <strong>de</strong>terminam as condições <strong>de</strong> contorno do <strong>futuro</strong> <strong>de</strong>sejado. O objeto <strong>de</strong><br />

estudo do presente trabalho <strong>é</strong> o CD. O CD po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido como a<strong>que</strong>le <strong>que</strong> fornece<br />

uma fotografia do <strong>futuro</strong> em um <strong>de</strong>terminado momento.<br />

Existem, <strong>de</strong>ntro da linha <strong>de</strong> pesquisa em Estudos do Futuro e Prospectiva,<br />

diversas formas <strong>de</strong> se construir uma visão futura, conforme <strong>é</strong> apresentado na Seção 2.1.<br />

No presente trabalho, a abordagem utilizada <strong>é</strong> a construção <strong>de</strong> um cenário <strong>que</strong><br />

representa o <strong>futuro</strong> como o resultado da solução <strong>de</strong> compromisso entre os atores sociais,<br />

sendo <strong>que</strong> no caso do Futuro Tecnológico em ambientes regulamentados, o resultado da<br />

barganha entre a socieda<strong>de</strong> e seus anseios, mediada pelo governo, e o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da tecnologia em si.<br />

O planejamento tecnológico relaciona o processo <strong>de</strong> mudança t<strong>é</strong>cnica ao plano<br />

estrat<strong>é</strong>gico da organização, sendo assim <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para o sucesso <strong>futuro</strong><br />

<strong>de</strong>sta (PORTER et al., 1991). Diante disto, as companhias começam a perceber <strong>que</strong> a<br />

tecnologia <strong>é</strong> um patrimônio da corporação <strong>que</strong> <strong>de</strong>ve ser gerenciado da mesma forma <strong>que</strong><br />

os pr<strong>é</strong>dios e construções, as pessoas e o dinheiro (MILLET, HONTON, 1991). Algumas<br />

das principais missões da prospectiva tecnológica são fornecer informações para o<br />

processo <strong>de</strong> gestão do planejamento tecnológico, dar uma perspectiva da dinâmica da<br />

mudança t<strong>é</strong>cnica (PORTER et al., 1991) e ainda “propiciar um meio pelo qual <strong>é</strong><br />

possível fazer opções relativas à ciência e tecnologia e <strong>que</strong> permita a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong><br />

priorida<strong>de</strong>s” (JOHNSTON, 2001).<br />

13


Cenário<br />

Descritivo<br />

Demandas<br />

Sociais<br />

Internas<br />

Valores da<br />

Organização<br />

Figura 1.2: Mo<strong>de</strong>lo conceitual <strong>de</strong> “Roadmap Tecnológico” (adaptado DE<br />

PHAAL, FARRUKH, PROBERT, 2004; VOROS, 2003; GORDON, 1999)<br />

A valida<strong>de</strong> do framework apresentado aqui <strong>é</strong> dada por duas características dos<br />

mercados tecnológicos regulamentados, advindas dos Estudos da Ciência e da<br />

Tecnologia: em primeiro lugar, tem-se um entendimento <strong>de</strong> como evolui a ciência e<br />

tecnologia, principalmente com base no estudo dos paradigmas <strong>de</strong> Thomas Kuhn; em<br />

segundo lugar tem-se o conceito <strong>de</strong> “Big-Science”, on<strong>de</strong> há um <strong>de</strong>senvolvimento<br />

científico e tecnológico <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s montantes financeiros.<br />

Quanto ao uso <strong>de</strong> uma t<strong>é</strong>cnica qualitativa para prospectiva tecnológica, van <strong>de</strong>r<br />

Duin (2004), aponta <strong>que</strong> este tipo <strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnica, <strong>de</strong>ntro do contexto <strong>de</strong> processo <strong>de</strong><br />

inovação da empresas <strong>é</strong> <strong>de</strong>safiador e frutífero.<br />

Cenário Normativo<br />

Ações<br />

Estrat<strong>é</strong>gicas<br />

O presente trabalho está divido em sete capítulos, sendo o primeiro a introdução<br />

e o s<strong>é</strong>timo a conclusão. O Capítulo 2 expõe a fundamentação teórica do trabalho. Em<br />

primeiro lugar <strong>é</strong> feita uma revisão bibliográfica dos temas <strong>de</strong> Estudos do Futuro -<br />

prospectiva tecnológica -, concluindo com uma <strong>de</strong>finição proposta para o termo. Em<br />

14


seguida <strong>é</strong> apresentada uma visão da natureza da C&T pela óptica da filosofia e<br />

sociologia e da análise da relação ciência-tecnologia-socieda<strong>de</strong>-governo. Estes temas<br />

são fundamentais para a construção do Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> Futuro proposto por este<br />

trabalho. O Capítulo 3 trata do Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> Futuro (MTF), on<strong>de</strong> <strong>é</strong> <strong>de</strong>scrita e<br />

justificada a forma <strong>de</strong> elaborar uma visão <strong>de</strong> <strong>futuro</strong> com base nos fundamentos teóricos<br />

<strong>de</strong>scritos no Capítulo 2. O Capítulo 4 traz um m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica<br />

baseada no MTF apresentado no Capítulo 4. O Capítulo 5 traz uma aplicação da<br />

ferramenta <strong>de</strong> prospectiva tecnológica apresentada no Capítulo 4. Esta aplicação busca<br />

mostrar a utilização do mo<strong>de</strong>lo, bem como sua praticida<strong>de</strong> e viabilida<strong>de</strong>. O tema<br />

utilizado para <strong>de</strong>senvolvimento <strong>é</strong> Aeroespaço, com foco no segmento <strong>de</strong> Large<br />

Commercial Aircraft (LCA). Por fim, o Capítulo 6 realiza uma análise do exercício <strong>de</strong><br />

aplicação do m<strong>é</strong>todo proposto no Capítulo 5.<br />

15


2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA<br />

Ao se falar <strong>de</strong> <strong>futuro</strong> e <strong>de</strong> ciência e tecnologia (C&T) duas linhas <strong>de</strong> pensamento<br />

divergentes vêm à tona: 1. Determinismo Tecnológico: a socieda<strong>de</strong> do <strong>futuro</strong> será<br />

moldada pelo <strong>de</strong>senvolvimento científico-tecnológico; 2. Construção Social da C&T:<br />

forma <strong>de</strong> relativismo epistêmico 8 , on<strong>de</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento da C&T <strong>é</strong> <strong>feito</strong> <strong>de</strong> acordo<br />

com processos sociais <strong>que</strong> ocorrem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta instituição. No presente trabalho, a<br />

posição buscada <strong>é</strong> uma posição <strong>de</strong> equilíbrio. Conforme mencionado na Introdução,<br />

enten<strong>de</strong>-se o <strong>futuro</strong> como o resultado do trad<strong>eo</strong>ff entre os diversos atores sociais – sendo<br />

a instituição C&T entendida como um <strong>de</strong>stes atores. No caso do Futuro Tecnológico em<br />

ambientes regulamentados, o <strong>que</strong> emerge <strong>é</strong> o resultado da barganha entre a socieda<strong>de</strong> e<br />

seus anseios, mediada pelo governo e mídia, e o <strong>de</strong>senvolvimento da C&T em si.<br />

Esta posição <strong>de</strong> equilíbrio, nem apelando para o <strong>de</strong>terminismo tecnológico, nem<br />

pen<strong>de</strong>ndo para o relativismo epistêmico, <strong>é</strong> apontada por Castells (1999, p. 25), quando<br />

este diz <strong>que</strong>:<br />

“É claro <strong>que</strong> a tecnologia não <strong>de</strong>termina a socieda<strong>de</strong>. Nem a socieda<strong>de</strong> escreve o curso da<br />

transformação tecnológica, uma vez <strong>que</strong> muitos fatores, inclusive criativida<strong>de</strong> e iniciativa<br />

empreen<strong>de</strong>dora, intervêm no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta científica, inovação tecnológica e aplicações<br />

sociais, <strong>de</strong> forma <strong>que</strong> o resultado final <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> um complexo padrão interativo. Na verda<strong>de</strong>, o dilema<br />

do <strong>de</strong>terminismo tecnológico <strong>é</strong>, provavelmente, um problema infundado, dado <strong>que</strong> a tecnologia <strong>é</strong> a<br />

socieda<strong>de</strong>, e a socieda<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas”.<br />

8 Na proposta do Relativismo Epistêmico a ciência não <strong>é</strong> feita <strong>de</strong> forma objetiva, com um conjunto<br />

normativo <strong>de</strong> padrões metodológicos atemporais. A realização da ciência acontece <strong>de</strong> forma<br />

internamente condicionada por fatores sociais, i.e., os valores <strong>que</strong> <strong>de</strong>terminam os resultados não são<br />

apenas cognitivos e epistemológicos, mas tamb<strong>é</strong>m sociais e morais, não estáticos no tempo. O mesmo<br />

po<strong>de</strong> ser aplicado ao padrões metodológicos, pois estes são <strong>que</strong>stionados e sofrem mudanças com o<br />

passar do tempo.<br />

16


Esta linha <strong>de</strong> argumentação <strong>é</strong> largamente baseada em dois campos <strong>de</strong> estudo:<br />

Estudos do Futuro e Prospectiva Tecnológica; e a Análise da Relação Ciência,<br />

Tecnologia & Socieda<strong>de</strong>.<br />

Neste capítulo são discutidos estes dois pilares teóricos. Pelo lado dos Estudos<br />

do Futuro e Prospectiva Tecnológica emergem o edifício conceitual e o framework <strong>de</strong><br />

trabalho aon<strong>de</strong> se insere o mo<strong>de</strong>lo proposto. Já a Análise da Relação Ciência,<br />

Tecnologia & Socieda<strong>de</strong> dá o embasamento às premissas adotadas pelo mo<strong>de</strong>lo<br />

proposto.<br />

2.1 Planejando Para o Amanhã: os Estudos do Futuro e a Prospectiva<br />

Tecnológica<br />

Pensar sobre o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> uma ativida<strong>de</strong> permanente do homem e sempre fez parte da<br />

história humana. Apesar disto, o campo <strong>de</strong> Estudos do Futuro emergiu apenas nos<br />

últimos quarenta anos (MASINI, 1993). Dentro <strong>de</strong>ste campo <strong>de</strong> estudo surgiram<br />

diversos m<strong>é</strong>todos, sendo <strong>que</strong> no presente trabalho, o <strong>de</strong> interesse chama-se Prospectiva<br />

Tecnológica.<br />

2.1.1 Prospectiva Tecnológica<br />

Conforme comentado em nota na Introdução, o presente trabalho enten<strong>de</strong> por<br />

Prospectiva um guarda-chuva conceitual <strong>que</strong> abrange tanto o escopo tradicionalmente<br />

coberto pelo forecasting quanto pelo foresight. A literatura apresenta as diferenças entre<br />

estas duas abordagens na forma da Tabela 2.1.<br />

17


Tabela 2.1: Diferenças entre Forecasting e Foresight (adaptado <strong>de</strong> RUTTEN,<br />

VERKAIK, DE WILT, 1999)<br />

Forecasting Foresight<br />

Foco<br />

Propósito<br />

• Tendências<br />

• Probabilida<strong>de</strong>s<br />

• Antecipar um (mais)<br />

provável <strong>futuro</strong> em termos<br />

<strong>de</strong> adaptação política.<br />

• Facilitar o “policymaking”<br />

atrav<strong>é</strong>s da<br />

redução das incertezas.<br />

• Tendências<br />

• Contra-movimentos<br />

• Descontinuida<strong>de</strong>s<br />

• Incertezas<br />

• Antecipar potenciais <strong>futuro</strong>s<br />

em termos <strong>de</strong> inovações bemconsi<strong>de</strong>radas.<br />

• Explorar incertezas e<br />

estrat<strong>é</strong>gias alternativas.<br />

Apesar <strong>de</strong>stas diferenças, as características apontadas por diversos autores<br />

tanto para pelo forecasting quanto pelo foresight pouco ou nada divergem, <strong>de</strong> forma <strong>que</strong><br />

serão tratadas <strong>de</strong> forma indistinta no presente trabalho.<br />

Coates et al. (2001) tamb<strong>é</strong>m utilizam um único termo (“technological<br />

forecasting”) para “all purposefull and systematic attempts to antecipate the potential<br />

direction, rate, characteristics, and efects of technological change, especially invention,<br />

innovation, adoption, and use”, sem fazer distinção entre “forecasting” ou “foresight”.<br />

Na realida<strong>de</strong>, as t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> forecasting - entendido <strong>de</strong> uma maneira mais<br />

geral - não se resumem a estas duas citadas. Existem muitas outras – e.g. análise<br />

morfológica, árvores <strong>de</strong> relevância, Delphi, análise <strong>de</strong> tendência – <strong>que</strong> acabam, da<br />

mesma forma, por sobrepor-se (PORTER et al., 2004).<br />

A id<strong>é</strong>ia <strong>de</strong> um guarda-chuva conceitual para as t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> estudos do <strong>futuro</strong>,<br />

chamado <strong>de</strong> TFA (Technological Futures Analysis) <strong>é</strong> <strong>de</strong>fendida por Porter et al. (2004).<br />

Este grupo apresenta ainda um framework para este guarda-chuva conceitual (Figura<br />

2.1).<br />

18


Figura 2.1: Framework para as TFA (adaptado <strong>de</strong> PORTER et al., 2004)<br />

Uma outra excelente referência para <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> estudos do <strong>futuro</strong> e<br />

prospectiva <strong>é</strong> dada por El<strong>eo</strong>nora Masini (1993). Dentre as <strong>de</strong>finições trazidas pela<br />

autora <strong>de</strong>staca-se a <strong>de</strong> McHale & Cor<strong>de</strong>ll McHale, <strong>que</strong> diz <strong>que</strong> “futures studies are a<br />

discipline that inclu<strong>de</strong>s all forms of looking into the future, from trend extrapolation to<br />

utopia” (MCHALE, CORDELL MCHALE, 1976 apud MASINI, 1993, p. 15). Outra<br />

<strong>de</strong>finição importante trazida por Masini <strong>é</strong> <strong>de</strong> Jantsch, on<strong>de</strong> forecasting <strong>é</strong> entendido<br />

como uma afirmação probabilística, relativamente científica, sobre escolhas e<br />

conseqüências <strong>de</strong> problemas relacionados ao <strong>futuro</strong> (JANTSCH, 1967). Entretanto, a<br />

<strong>que</strong>stão da cientificida<strong>de</strong> dos estudos do <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> um ponto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>bate (MASINI,<br />

1993, p. 15).<br />

Questões & Interesses para<br />

Política (Policy) Pública /<br />

Empresarial<br />

(Direcionadores das TFA)<br />

Elaboradores <strong>de</strong> Políticas<br />

(Policy makers) ou<br />

Tomadores <strong>de</strong> Decisão<br />

(Decision makers)<br />

Estudos<br />

<strong>de</strong> TFA<br />

(Clientes das TFA)<br />

Saídas<br />

•Achados<br />

•Recomendações<br />

•Insights<br />

•Experiências<br />

•Legados<br />

Decisões ou Ações<br />

Políticas (Policy) &<br />

Saídas<br />

(Impactos das TFA)<br />

Aplicações<br />

•Estado <strong>de</strong> Alerta<br />

•Tomada <strong>de</strong> Decisão<br />

•Desenvolvimento <strong>de</strong> Políticas (Policy)<br />

•Construção <strong>de</strong> Consenso<br />

•Troca <strong>de</strong> Informação & Networking<br />

•Educação<br />

Outros Interessados<br />

(stakehol<strong>de</strong>rs)<br />

(Atores da TFA)<br />

19


Há ainda as <strong>de</strong>finições dadas por Joseph Martino, <strong>que</strong> diz <strong>que</strong> prospectiva<br />

tecnológica po<strong>de</strong> ser entendida como “a prediction of the future caracteristics of useful<br />

machine, procedures or techni<strong>que</strong>s” (1983, p. 2) e a <strong>de</strong>finição dada por Willian Ascher<br />

<strong>que</strong> enten<strong>de</strong> a prospectiva tecnológica como “the effort to project technological<br />

capabilities and to predict the invention and spread of technology innovation” (1978<br />

apud MILLET, HONTON, 1991, p. 2).<br />

Pelo lado do foresight tem-se o comentário <strong>de</strong> Zackiewicz e Salles-Filho, <strong>que</strong><br />

dizem <strong>que</strong> “o foresight nos prepara para as oportunida<strong>de</strong>s futuras” (2001). Coates<br />

(1985) <strong>de</strong>fine foresight como um processo pelo qual po<strong>de</strong>-se chegar a um entendimento<br />

mais completo das forças <strong>que</strong> moldam o <strong>futuro</strong> a longo-prazo e <strong>que</strong> <strong>de</strong>vem ser levadas<br />

em consi<strong>de</strong>ração na formulação <strong>de</strong> políticas, planejamento e tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão. Dentro<br />

do intuito <strong>de</strong>ste trabalho, todas estas <strong>de</strong>finições são apropriadas, sendo complementares<br />

entre si.<br />

Ainda no campo das <strong>de</strong>finições, Masini apresenta o termo <strong>que</strong>, em sua versão<br />

em português, <strong>é</strong> adotado pelo presente trabalho. Segundo Masini (1993, p. 15) o termo<br />

“prospectiva” vem do francês prospective, e foi utilizado pela primeira vez por Gaston<br />

Berger, na d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong> 1950. Este termo, mais recentemente, foi <strong>de</strong>finido por Michael<br />

Go<strong>de</strong>t como uma abordagem melhor e mais nova <strong>que</strong> forecasting. Segundo Go<strong>de</strong>t<br />

(1982),<br />

“Although Prospective is not well known in Anglo-Saxon forecasting literature, it has been for many<br />

years used in France…The main characteristics of 'La Prospective' are that it does not look at the future<br />

as a continuation of the past but rather as the outcome of the wishes various actors and the constraints<br />

20


imposed on them by the environment. Its purpose is to assist in creating alternative futures and then to<br />

select some alternative that allows for maximum freedom of action.”<br />

Ainda <strong>de</strong> acordo com este autor, a prospectiva po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como<br />

“emerging from the <strong>de</strong>terministic influence of the past and the present, on the one hand, and the choices,<br />

will, action of the present, on the other” (GODET, 1979 apud MASINI, 1993, p. 15).<br />

A visão <strong>de</strong> <strong>futuro</strong> consi<strong>de</strong>rada na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> prospectiva <strong>de</strong> Go<strong>de</strong>t <strong>é</strong><br />

particularmente afim ao entendimento <strong>de</strong>ste trabalho, uma vez <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong>, para o<br />

referido autor, <strong>é</strong> entendido como o resultado dos <strong>de</strong>sejos dos atores e as restrições a<br />

consecução <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>sejos.<br />

Por fim, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Prospectiva Tecnológica construída e adotada pelo<br />

presente trabalho <strong>é</strong>: Prospectiva Tecnológica <strong>é</strong> tanto um processo <strong>que</strong> olha para o <strong>futuro</strong><br />

quanto os resultados obtidos <strong>de</strong>sse processo, antecipando, projetando ou prevendo<br />

capacida<strong>de</strong>s, aplicações e funcionalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> máquinas, processos e t<strong>é</strong>cnicas. O<br />

processo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica <strong>de</strong>ve buscar um entendimento das forças <strong>que</strong><br />

moldarão a convergência entre os <strong>futuro</strong>s possíveis, plausíveis, prováveis e <strong>de</strong>sejáveis,<br />

integrando consi<strong>de</strong>rações t<strong>é</strong>cnicas e não-t<strong>é</strong>cnicas. Deve-se assim buscar uma afirmação<br />

<strong>de</strong> cunho probabilístico <strong>que</strong> diminua as incertezas e aumente o nível <strong>de</strong> informação a<br />

respeito do <strong>futuro</strong>. Seus resultados, expressos em números ou palavras, são apresentados<br />

<strong>de</strong> maneira <strong>que</strong> sejam úteis aos tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e elaboradores <strong>de</strong> políticas,<br />

aumentado assim seu estado <strong>de</strong> atenção em relação a oportunida<strong>de</strong>s e ameaças futuras.<br />

21


Quanto à diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnicas utilizadas na prospectiva tecnológica,<br />

existem agrupamentos conceituais os mais diversos. As t<strong>é</strong>cnicas po<strong>de</strong>m ser agrupadas<br />

<strong>de</strong> diferentes formas, a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do autor. Millet e Honton juntam as t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

três grupos: 1. Trend Analysis; 2. Expert Judgment; 3. Multi-Option Analysis (1991, p.<br />

viii). Porter et al. utilizam-se <strong>de</strong> cinco grupos, a saber: 1. Monitoring; 2. Expert<br />

Opinion; 3.Trend Analysis; 4. Mo<strong>de</strong>ling; 5. Scenarios (1991, p. 94-97). O think tank<br />

“Technology Futures, Inc.” tamb<strong>é</strong>m se utiliza <strong>de</strong> cinco clusters, sendo estes: 1.<br />

Extrapolators; 2. Pattern Analysts; 3. Goal Analysts; 4. Counter Punchers; 5. Intuitors<br />

(VANSTON, 2003). Esta divisão apresentada pelo “Technology Futures, Inc.” <strong>é</strong> a mais<br />

interessante, pois baseia-se na forma como as pessoas vêem o <strong>futuro</strong> (VANSTON,<br />

2003). Esta <strong>é</strong> uma característica particularmente importante, pois a comunicação dos<br />

resultados <strong>é</strong> <strong>de</strong> suma importância para o sucesso do processo <strong>de</strong> prospectiva (MILLET,<br />

HONTON, 1991; PORTER et al., 1991; CETRON, 1969). Por causa <strong>de</strong>sta<br />

característica, esta <strong>é</strong> a forma utilizada neste trabalho para apresentar, e agrupar, as<br />

t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> prospectiva (Figura 2.2 e Tabela 2.2).<br />

Segundo uma pesquisa realizada por Richard Mignogna (2004), as t<strong>é</strong>cnicas<br />

baseadas na opinião <strong>de</strong> especialistas são as mais empregadas, seguidas pelos Cenários e<br />

pela Análise <strong>de</strong> Patentes.<br />

22


Extrapolators<br />

•Análise <strong>de</strong><br />

Tendência<br />

Tecnológica<br />

•Análise Fisher-Pry<br />

•Análise Gompertz<br />

•Análise <strong>de</strong> Limite<br />

<strong>de</strong> Crescimento<br />

•Curva <strong>de</strong><br />

Aprendizado<br />

Pattern<br />

Analysts<br />

•Análise por<br />

Analogia<br />

•Análise <strong>de</strong><br />

Tendência<br />

Precursora<br />

•Matriz Morfológica<br />

•Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

Feedback<br />

Questão<br />

Futura<br />

(problema / oportunida<strong>de</strong>)<br />

Negócio, Mercado,<br />

Estrat<strong>é</strong>gica,<br />

Tecnologia<br />

CINCO VISÕES DE FUTURO<br />

Goal Analysts<br />

•Análise <strong>de</strong><br />

Impacto<br />

•Análise <strong>de</strong><br />

Conteúdo<br />

•Análise <strong>de</strong><br />

Stakehol<strong>de</strong>r<br />

•Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

Patentes<br />

•Roadmaps<br />

•Ca<strong>de</strong>ias<br />

<strong>de</strong> Valor<br />

Counter<br />

Punchers<br />

•Esquadrinhar,<br />

Monitorar e<br />

Rastrear<br />

•Cenários<br />

•Mapeamento <strong>de</strong><br />

Terreno<br />

•Árvores <strong>de</strong><br />

Decisão<br />

•Jogos<br />

Estrat<strong>é</strong>gicos<br />

Intuitors<br />

•Pesquisa Delphi<br />

•Conferências <strong>de</strong><br />

Grupos Nominais<br />

•Entrevistas<br />

Estruturadas e<br />

Não-Estruturadas<br />

•Análise do<br />

Competidor<br />

Quantitativo Qualitativo<br />

Figura 2.2: Agrupamento das t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> Prospectiva (adaptado <strong>de</strong> VANSTON, 2003)<br />

23


Tabela 2.2: Características das t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> prospectiva (adaptado <strong>de</strong> VANSTON, 2003)<br />

a.<br />

Extrapoladores<br />

(Extrapolators )<br />

b. Analistas <strong>de</strong><br />

Padrões (Pattern<br />

Analysts )<br />

c. Analsitas <strong>de</strong><br />

Resultados (Goal<br />

Analysts )<br />

d. C<strong>é</strong>ticos /<br />

Reativos<br />

(Counter<br />

Punchers )<br />

e. Intuitivos<br />

(Intuitors )<br />

Premissas T<strong>é</strong>cnicas<br />

Análise <strong>de</strong> Tendência<br />

Acredita <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong> representa uma extensão lógica do<br />

Tecnológica; Análise Fisher-Pry;<br />

passado. Gran<strong>de</strong>s e inexoráveis forças irão direcionar o <strong>futuro</strong><br />

Análise Gompertz; Análise <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> forma contínua e razoavelmente previsível. A melhor maneira<br />

Limite <strong>de</strong> Crescimento; Curva <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> explorar o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> i<strong>de</strong>ntificando as tendências passadas e<br />

Aprendizado<br />

extrapolando-as <strong>de</strong> forma racional e lógica.<br />

Acredita <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong> irá refletir a replicação <strong>de</strong> eventos<br />

passados. Fortes mecanismos <strong>de</strong> feedback na socieda<strong>de</strong>, junto<br />

com motivações humanas básicas, vão causar futuras tendências<br />

e eventos a ocorrerem <strong>de</strong> ciclos i<strong>de</strong>ntificaveis e padrões<br />

previsíveis. Assim, a melhor forma <strong>de</strong> explorar o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong><br />

i<strong>de</strong>ntificar e analisar situações análogas do passado e relacionar<br />

estas com <strong>futuro</strong>s prováveis.<br />

Acredita <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong> será <strong>de</strong>terminado pelas crenças e ações <strong>de</strong><br />

vário indivíduos, organizações e instituições. Assim sendo, o<br />

<strong>futuro</strong> <strong>é</strong> susceptível a modificações e mudanças <strong>de</strong>stas<br />

entida<strong>de</strong>s. Desta forma, o <strong>futuro</strong> po<strong>de</strong> ser projetado atrav<strong>é</strong>s do<br />

exame do estado e das metas <strong>de</strong> vários <strong>de</strong>cision-makers e<br />

formadores <strong>de</strong> tendências, atrav<strong>é</strong>s da avaliação da extensão <strong>de</strong><br />

quanto cada po<strong>de</strong> afetar futuras tendências e eventos e<br />

avaliando os resultados <strong>de</strong> longo prazo <strong>de</strong>stas ações.<br />

Acredita <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong> irá resultar <strong>de</strong> uma s<strong>é</strong>rie <strong>de</strong> eventos e<br />

ações <strong>que</strong> são essencialmente imprevisíveis e mesmo aleatórias.<br />

Assim sendo, a melhor forma <strong>de</strong> lidar com o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong><br />

i<strong>de</strong>ntificando uma larga quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> possíveis tendências e<br />

eventos, cuidadosamente monitorando <strong>de</strong>senvolvimentos nos<br />

ambientes t<strong>é</strong>cnicos e sociais e mantendo uma alta flexibilida<strong>de</strong><br />

no processo <strong>de</strong> planejamento.<br />

Acredita <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong> será formado por uma mistura complexa<br />

<strong>de</strong> tendências inexoráveis, eventos aleatórios e ações <strong>de</strong><br />

indivíduos e instituições. Por causa da complexida<strong>de</strong>, não há<br />

t<strong>é</strong>cnica racional <strong>que</strong> possa ser usada para prospectar o <strong>futuro</strong>.<br />

Desta forma o melhor m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> projetar tendências e eventos<br />

<strong>futuro</strong>s <strong>é</strong> reunir tanta informação quanto possível e então<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do processamento subconsciente da informação pelo<br />

c<strong>é</strong>rebro e das intuições pessoais para fornecer insights úteis.<br />

Análise por Analogia; Análise <strong>de</strong><br />

Tendência Precursora; Matriz<br />

Morfológica; Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

Feedback<br />

Análise <strong>de</strong> Impacto; Análise <strong>de</strong><br />

Conteúdo; Análise <strong>de</strong><br />

Stakehol<strong>de</strong>r; Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

Patentes; Roadmaps; Ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong><br />

Valor<br />

Esquadrinhar, Monitorar e<br />

Rastrear; Cenários; Mapeamento<br />

<strong>de</strong> Terreno; Árvores <strong>de</strong> Decisão;<br />

Jogos Estrat<strong>é</strong>gicos<br />

Pesquisa Delphi; Conferências<br />

<strong>de</strong> Grupos Nominais; Entrevistas<br />

Estruturadas e Não-<br />

Estruturadas; Análise do<br />

Competidor<br />

24


2.2 Aspectos da Natureza da Ciência e Tecnologia<br />

2.2.1 A Comunida<strong>de</strong> Científica e a Estrutura das Revoluções Científicas<br />

A discussão sobre a natureza do <strong>de</strong>senvolvimento da Ciência e da Tecnologia <strong>é</strong> tratada<br />

em diversas escolas <strong>de</strong> pensamento, com enfo<strong>que</strong>s distintos, e em muitos casos,<br />

claramente divergentes. Duas formas clássicas <strong>de</strong> atacar o problema são as t<strong>eo</strong>rias da<br />

confirmação (DUTRA, 1998), com <strong>de</strong>sta<strong>que</strong> para as teses <strong>de</strong> Carnap (verificabilida<strong>de</strong>) e<br />

Popper (falseabilida<strong>de</strong>), e as t<strong>eo</strong>rias do progresso. Estas últimas trabalham o problema<br />

da continuida<strong>de</strong> e acúmulo <strong>de</strong> conhecimento e vêem o fazer científico como processo <strong>de</strong><br />

mudança.<br />

Entre as escolas mais recentes surgem as t<strong>eo</strong>rias da explicação, atrav<strong>é</strong>s,<br />

principalmente, <strong>de</strong> três mo<strong>de</strong>los: o nomológico-<strong>de</strong>dutivo, <strong>de</strong> Hempel, o da relevância<br />

estatística, <strong>de</strong> Salmon, e o pragmático, <strong>de</strong> Bas van Fraassen. Uma outra clivagem po<strong>de</strong><br />

ser feita em relação à <strong>que</strong>stão do realismo científico. As duas posições, a favor e contra,<br />

são dadas por Richard Boyd e por van Fraassen. O primeiro representando a posição<br />

<strong>que</strong> a filosofia analítica anglo-saxônica hoje chama <strong>de</strong> realismo científico; o outro, a do<br />

grupo anti-realista (DUTRA, 1998).<br />

Uma outra forma <strong>de</strong> analisar as t<strong>eo</strong>rias da ciência <strong>é</strong> dividindo as escolas entre<br />

<strong>de</strong>scritiva e normativa. As escolas normativas, como a <strong>de</strong> Popper, pr<strong>eo</strong>cupam-se em<br />

recomendar nortes metodológicos para a condução da pesquisa científica. As escolas<br />

<strong>de</strong>scritivas, como a <strong>de</strong> Kuhn, procuram mostrar, com base na historiografia, como a<br />

ciência <strong>é</strong> <strong>de</strong> fato produzida (OLIVA, 2003).<br />

25


No presente trabalho, a escola adotada como marco <strong>de</strong> referência <strong>é</strong> uma das<br />

t<strong>eo</strong>rias <strong>de</strong> progresso/<strong>de</strong>scritiva. Trata-se da t<strong>eo</strong>ria das revoluções científicas, elaborada<br />

pelo físico Thomas Kuhn. Esta t<strong>eo</strong>ria foi elaborada por Kuhn e exposta pela primeira<br />

vez em seu livro <strong>de</strong> 1962 “A Estrutura das Revoluções Científicas” (KUHN, 2000). As<br />

premissas do MTF aqui apresentado têm aí um <strong>de</strong> seus mais importantes nortes teóricos.<br />

Kuhn vê o progresso da Ciência não tanto como o acúmulo gradativo <strong>de</strong> novos<br />

tipos <strong>de</strong> conhecimento, e sim como um processo contraditório marcado pelas<br />

revoluções do pensamento científico. Tais revoluções são <strong>de</strong>finidas como o momento<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sintegração do tradicional numa disciplina, forçando a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

profissionais a ela ligados a reformular o conjunto <strong>de</strong> compromissos em <strong>que</strong> se baseia a<br />

prática <strong>de</strong>ssa ciência.<br />

De uma forma geral, o argumento <strong>de</strong> Kuhn trata dos paradigmas da ciência e sua<br />

influência no <strong>de</strong>senvolvimento do conhecimento científico. Quando as evidências<br />

empíricas não conseguem mais se encaixar <strong>de</strong>ntro dos paradigmas vigentes, acontecem<br />

as anomalias <strong>que</strong> vão forçar a criação <strong>de</strong> novos paradigmas. O entendimento <strong>de</strong>stes<br />

paradigmas parte do conceito <strong>de</strong> <strong>que</strong> “paradigmas são as realizações científicas<br />

universalmente conhecidas, <strong>que</strong>, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções<br />

mo<strong>de</strong>lares para uma comunida<strong>de</strong> praticante <strong>de</strong> uma ciência” (KUHN, 2000, p. 13). Ou,<br />

<strong>de</strong> outra forma,<br />

“Paradigma <strong>é</strong> toda a constelação <strong>de</strong> crenças, valores t<strong>é</strong>cnicas etc..., partilhadas pelos membros <strong>de</strong> uma<br />

comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada”. i.e. “Paradigma são as soluções concretas <strong>de</strong> <strong>que</strong>bra-cabeças <strong>que</strong>,<br />

empregadas como mo<strong>de</strong>los ou exemplos, po<strong>de</strong>m substituir regras explícitas como base para a solução<br />

dos restantes <strong>que</strong>bra-cabeças da ciência normal” (KUHN, 2000, p. 218-219).<br />

26


Kuhn busca enten<strong>de</strong>r o processo pelo qual a ciência se <strong>de</strong>senvolve e como<br />

acontecem as revoluções científicas. Ao observar a narração histórica da ciência, Kuhn<br />

percebe <strong>que</strong>, ao contrário <strong>de</strong> uma evolução linear e gradual, como era suposto, a ciência<br />

evolui aos “saltos” ou em revoluções. Segundo Kuhn, o processo <strong>de</strong> construção da<br />

ciência apresenta esta configuração em virtu<strong>de</strong> da existência <strong>de</strong> paradigmas. Estes<br />

paradigmas são o conjunto <strong>de</strong> “id<strong>é</strong>ias” <strong>que</strong> dominam o pensamento da ciência em um<br />

<strong>de</strong>terminado momento da história. Este conjunto <strong>de</strong> id<strong>é</strong>ias não <strong>é</strong> simplesmente um<br />

referencial, <strong>é</strong> a própria ciência do período, i.e., neste conjunto encontram-se as regras<br />

para fazer as perguntas a serem respondidas pela ciência, os instrumentos e m<strong>é</strong>todos <strong>que</strong><br />

serão usados pelos cientistas em seu trabalho <strong>de</strong> buscar as respostas, e tamb<strong>é</strong>m a forma<br />

como os dados <strong>de</strong>vem ser interpretados. A esta forma <strong>de</strong> fazer ciência Kuhn chamou <strong>de</strong><br />

“ciência normal” (KUHN, 2000).<br />

Para Kuhn, “ciência normal significa a pesquisa firmemente baseada em uma ou<br />

mais realizações científicas passadas” (KUHN, 2000, p. 29). Essas realizações são<br />

reconhecidas durante algum tempo por alguma comunida<strong>de</strong> científica específica como<br />

proporcionando os fundamentos para sua prática posterior.<br />

A ciência normal, da forma entendida por Kuhn, não leva a gran<strong>de</strong>s inovações,<br />

pois os resultados a <strong>que</strong> se <strong>que</strong>r chegar já são <strong>de</strong>finidos antes do início da pesquisa. O<br />

pesquisador <strong>é</strong> <strong>de</strong>finido como uma pessoa <strong>que</strong> encontra a solução para resolver como<br />

uma peça do gran<strong>de</strong> <strong>que</strong>bra-cabeça da ciência. Isso faz aumentar mais ainda a clareza e<br />

a confirmação do paradigma adotado.<br />

27


Kuhn conceitua as Revoluções Científicas como os episódios em <strong>que</strong> o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>é</strong> não-cumulativo, nos quais um paradigma mais antigo <strong>é</strong> total ou<br />

parcialmente substituído por um novo, incompatível com o anterior. Então, mostra <strong>que</strong><br />

o <strong>de</strong>senvolvimento científico não ocorrem <strong>de</strong> forma cumulativa e sim por ruptura com<br />

as t<strong>eo</strong>rias at<strong>é</strong> então adotadas.<br />

Obviamente, quando a ciência normal está em operação, não há revoluções na<br />

forma <strong>de</strong> pensar a natureza, apenas inovações incrementais. Segundo Kuhn, as gran<strong>de</strong>s<br />

mudanças, as inovações radicais, são as Revoluções Científicas. Estes são os momentos<br />

on<strong>de</strong> existe uma ruptura <strong>de</strong> paradigmas, i.e., o paradigma vigente ce<strong>de</strong> seu espaço para<br />

um novo paradigma, <strong>que</strong> traz todo um conjunto novo <strong>de</strong> perguntas, m<strong>é</strong>todos e<br />

interpretações. Sobre estes momentos <strong>de</strong> revolução, Arthur Clarke <strong>de</strong>dicou sua<br />

“Segunda Lei”, quando diz <strong>que</strong> “o único modo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir os limites do possível <strong>é</strong><br />

aventurar-se um pouco al<strong>é</strong>m <strong>de</strong>les no impossível” (CLARKE, 1970, p. 35-36). Ao falar<br />

isto, Clarke percebe os paradigmas como um zeitgeist, <strong>de</strong>limitando todo um universo do<br />

possível, i.e., “as revoluções são resultados <strong>de</strong> visões <strong>que</strong> algumas pessoas têm ao se<br />

projetar para al<strong>é</strong>m do paradigma predominante, imergindo assim em um mundo do<br />

impossível” (BALAGUER, SILVEIRA, 2002).<br />

O terceiro conceito tratado na obra <strong>de</strong> Kuhn, importante para os propósitos do<br />

presente trabalho, al<strong>é</strong>m dos paradigmas e da ciência normal, <strong>é</strong> a comunida<strong>de</strong> científica.<br />

O conceito <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> científica surge com Michael Polányi (BEN-DAVID, 1975),<br />

e encontra uma <strong>de</strong>finição mais precisa, ainda <strong>que</strong> muito discutida, <strong>de</strong>ntro do contexto da<br />

sociologia da ciência, a qual tem em Merton como um <strong>de</strong> seus fundadores e principais<br />

teóricos. Merton i<strong>de</strong>ntifica a comunida<strong>de</strong> científica como “grupo portador <strong>de</strong> uma<br />

28


subcultura particular” (ZARUR, 1994) ou ainda como um grupo <strong>de</strong> cientistas <strong>que</strong><br />

formam “comunida<strong>de</strong> fechada, (...) investigam uma área bem <strong>de</strong>finida <strong>de</strong> problemas<br />

com m<strong>é</strong>todos e instrumentos adaptados à tarefa (...)” cuja “<strong>de</strong>finição dos problemas e da<br />

metodologia <strong>de</strong> investigação <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> uma tradição profissional <strong>de</strong> t<strong>eo</strong>rias, m<strong>é</strong>todos e<br />

habilida<strong>de</strong>s, para a aquisição das quais se re<strong>que</strong>r treino prolongado e, naturalmente,<br />

senão por princípio, uma gran<strong>de</strong> dose <strong>de</strong> ensinamento” (BEN-DAVID, 1975).<br />

Uma outra forma <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a comunida<strong>de</strong> científica <strong>é</strong> pensar em uma dimensão<br />

<strong>de</strong>sta, conhecida como “col<strong>é</strong>gio invisível”. Este termo foi introduzido por Derek <strong>de</strong><br />

Solla Price em 1963 (CRANE, 1975). Por col<strong>é</strong>gio invisível enten<strong>de</strong>-se um grupo <strong>de</strong><br />

cientistas, localizados em diferentes organizações, at<strong>é</strong> mesmo diferentes países, e <strong>que</strong><br />

compartilham informações. Mais do <strong>que</strong> isto, este grupos possuem uma hierarquia<br />

própria, sob a qual fica subjugada a pesquisa executada por esta comunida<strong>de</strong>. Em Kuhn,<br />

emerge a visão <strong>de</strong> <strong>que</strong> estes col<strong>é</strong>gios invisíveis são como os “senhores” da ciência<br />

normal, <strong>de</strong>terminando as regras e padrões para a prática científica, uma vez <strong>que</strong> estes<br />

pesquisadores compartilham o mesmo paradigma (KUHN, 2000).<br />

Novamente, Clarke (1970) apresenta um referencial <strong>de</strong> análise útil. Na sua<br />

“Primeira Lei”, Clarke diz <strong>que</strong> “Quando um cientista ilustre, mas idoso, <strong>de</strong>clara <strong>que</strong><br />

alguma coisa <strong>é</strong> possível quase certamente tem razão. Quando <strong>de</strong>clara <strong>que</strong> alguma coisa<br />

<strong>é</strong> impossível muito provavelmente está errado” (CLARKE, 1970, p. 29) .<br />

Com este enunciado, Clarke esclarece <strong>de</strong> maneira sucinta e pragmática os<br />

mecanismos <strong>de</strong> eminência e paradigmatismo existentes no processo <strong>de</strong> construção da<br />

ciência. Clarke traz implícito em sua primeira lei conceitos sobre a estrutura normativa<br />

29


da prática científica e dos seus imperativos morais (ou ethos científico 9 ), <strong>de</strong> col<strong>é</strong>gios<br />

invisíveis (SOLLA PRICE, 1976) e do e<strong>feito</strong> Matheus na ciência (MERTON, 1968).<br />

Outra forma <strong>de</strong> ver as relações <strong>de</strong> aceitação <strong>de</strong> id<strong>é</strong>ias e mudanças <strong>de</strong> paradigmas <strong>de</strong>ntro<br />

da comunida<strong>de</strong> científica <strong>é</strong> apresentada na Tabela 2.3.<br />

Tabela 2.3: Matriz <strong>de</strong> Pedigree das T<strong>eo</strong>rias Científicas (adaptado <strong>de</strong> FUNTOWICZ,<br />

RAVETZ, 1990 apud VAN DER SLUIJS, 1996)<br />

Entrada dos<br />

Dados<br />

Dados<br />

experimentais<br />

História <strong>de</strong> dados<br />

<strong>de</strong> campo<br />

Estruturas<br />

Teóricas<br />

T<strong>eo</strong>ria<br />

estabelecida<br />

Mo<strong>de</strong>lo teórico<br />

<strong>de</strong> base<br />

Dados calculados Mo<strong>de</strong>lo<br />

computacional<br />

Educated guess Processamento<br />

estatístico<br />

Uneducated<br />

guess<br />

Definição <strong>de</strong><br />

trabalho<br />

Peer Review e<br />

Aceitação<br />

Consenso<br />

Acadêmico<br />

Total Total com exceção<br />

<strong>de</strong> excêntricos<br />

Alta Total com exceção<br />

<strong>de</strong> rebel<strong>de</strong>s<br />

M<strong>é</strong>dia Disputa <strong>de</strong><br />

escolas<br />

Baixa Campo<br />

embrionário<br />

Nenhuma Sem opinião<br />

Existem diversas críticas à noção <strong>de</strong> progresso científico apresentada por Kuhn.<br />

Entretanto, estas críticas partem, normalmente, <strong>de</strong> uma leitura <strong>de</strong> Kuhn <strong>de</strong>ntro do<br />

contexto estrito da filosofia da ciência ou da epistemologia. A leitura <strong>de</strong> Kuhn <strong>que</strong> o<br />

presente trabalho realiza, e <strong>que</strong> usa na construção <strong>de</strong> premissas, <strong>é</strong> ligada à sociologia da<br />

ciência. Para este trabalho, a proposta <strong>de</strong> Kuhn, <strong>que</strong> <strong>é</strong> a mais importante, <strong>é</strong> da existência<br />

<strong>de</strong> paradigmas <strong>que</strong> representam a resistência à mudança <strong>de</strong>ntro da empresa científica,<br />

on<strong>de</strong> a ciência praticada <strong>é</strong> não-científica, <strong>de</strong>ntro da interpretação <strong>de</strong> Popper, por não<br />

possuir espírito crítico (EPSTEIN, 1988). Esta leitura <strong>de</strong> Kuhn <strong>é</strong> admitida mesmo<br />

9 ethos científico <strong>é</strong> o conjunto <strong>de</strong> valores e normas imperativos para os cientistas. Segundo Merton (1970)<br />

os sentimentos embutidos no ethos da ciência são caracterizados por: honestida<strong>de</strong> intelectual, integrida<strong>de</strong>,<br />

ceticismo organizado, <strong>de</strong>sinteresse, impessoalida<strong>de</strong>.<br />

30


levando-se em conta alguns <strong>de</strong> seus principais críticos, como Duhem, Quine e Lakatos,<br />

uma vez <strong>que</strong>, em comum a Kuhn, estes admitem “a sub<strong>de</strong>terminação (em certa medida)<br />

do sistema <strong>de</strong> ciência, do núcl<strong>eo</strong> resistente ou do paradigma respectivamente, <strong>que</strong> os<br />

torna, at<strong>é</strong> certo ponto, capazes <strong>de</strong> absorver as anomalias” (EPSTEIN, 1988, p. 83).<br />

Esta forma <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r o progresso t<strong>é</strong>cnico-científico leva ao entendimento <strong>de</strong><br />

<strong>que</strong> as mudanças nas tecnologias <strong>que</strong> sustentaram a consecução das <strong>de</strong>mandas<br />

apresentadas pelo CN não são diferentes das <strong>que</strong> estão em vigor atualmente. Isto <strong>é</strong><br />

sustentável pelo fato <strong>de</strong> <strong>que</strong> revoluções científicas, principalmente <strong>de</strong>ntro do contexto<br />

da Big Science, não acontecem sem avisos pr<strong>é</strong>vios. Este mecanismo <strong>é</strong> explicado na<br />

próxima seção.<br />

2.2.2 Big Science: Aspectos da Política Científica e Tecnológica e a<br />

Relação Ciência, Tecnologia e Socieda<strong>de</strong><br />

Os avisos pr<strong>é</strong>vios comentados na seção anterior são a mudança <strong>de</strong> foco do<br />

financiamento governamental à P&D, havendo aí uma nuance <strong>de</strong> especial interesse para<br />

o presente trabalho. Quando se consi<strong>de</strong>ram as economias centrais, <strong>que</strong> são as gran<strong>de</strong>s<br />

produtoras <strong>de</strong> C&T (e.g. EUA, Europa e Japão – ver Figura 2.3 e Figura 2.4) <strong>de</strong>ve-se<br />

levar em conta <strong>que</strong> o mecanismo <strong>de</strong> financiamento da pesquisa <strong>é</strong> referendado pelo apoio<br />

popular (WEINGART, 1998). Entretanto, <strong>de</strong>vido aos aspectos da medialização da<br />

ciência, conforme apontado por Weingart, há uma tendência <strong>de</strong> <strong>que</strong> apenas os cientistas<br />

“notórios” fi<strong>que</strong>m sob o foco dos holofotes. Normalmente, estes cientistas são<br />

<strong>de</strong>fensores do paradigma vigente (ver Seção 2.2.1), o <strong>que</strong> leva a um círculo vicioso<br />

on<strong>de</strong> há um recru<strong>de</strong>scimento do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Kuhn, e on<strong>de</strong> novas abordagens somente são<br />

31


implementadas <strong>de</strong>pois do claro esgotamento da performance das atuais. Isto <strong>é</strong> explicado<br />

por Thu et al., <strong>que</strong> argumentam <strong>que</strong><br />

“Since Thomas Kuhn's seminal 1962 study of the scientific community, it has become more wi<strong>de</strong>ly<br />

un<strong>de</strong>rstood that the results of scientific inquiry <strong>de</strong>pend on non-empirical assumptions, shaped by extra-<br />

scientific social pressures and consi<strong>de</strong>rations, which <strong>de</strong>fine relevant entities, their relations to one<br />

another, and how they are observed and measured. This is an important fact because scientific findings<br />

inform policy <strong>de</strong>cisions and often para<strong>de</strong> as objective, neutral, fact-driven, observational data. Findings<br />

may be all of these, but only within the <strong>de</strong>fining parameters of assumptions which are driven by the<br />

<strong>de</strong>mands of the wi<strong>de</strong>r social milieu, hence neither neutral nor objective. One powerful way to affect<br />

policy is to <strong>de</strong>termine the assumptions of scientific work – the <strong>que</strong>stions asked and the form of the<br />

answers. Because the ability to set scientific agendas, fund research, and ratify the findings which inform<br />

legislative, judicial, and administrative policy <strong>de</strong>cisions confers political advantage, science has become<br />

politically important.” (THU et al. 1995)<br />

Figura 2.3: Gastos em P&D em porcentagem do PIB – todos os setores: 1981 a 1999<br />

(NSF, 2002)<br />

32


450<br />

400<br />

350<br />

300<br />

250<br />

200<br />

150<br />

100<br />

50<br />

0<br />

United EUAStates Japan Japão EUUE OECD<br />

Figura 2.4: Evolução da P&D Empresarial, em Bilhões <strong>de</strong> Dólares (PPP 1995), 1981-<br />

2001 (OCED, 2003.)<br />

A relação entre <strong>de</strong>senvolvimento científico e tecnológico e os interesses sociais e<br />

governamentais <strong>é</strong> balizada por uma relação <strong>de</strong> interesse, pois, como lembra David<br />

Lan<strong>de</strong>s (1994, p. 555),<br />

“A história econômica sempre foi, em parte, a história da competição internacional pela ri<strong>que</strong>za.<br />

A Revolução Industrial <strong>de</strong>u a essa competição um novo foco - a ri<strong>que</strong>za atrav<strong>é</strong>s da industrialização - e a<br />

transformou numa corrida. Houve um lí<strong>de</strong>r, a Inglaterra, e os <strong>de</strong>mais foram seguidores. A li<strong>de</strong>rança<br />

mudou <strong>de</strong> mãos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, mas a busca prossegue, no <strong>que</strong> se transformou numa corrida sem linha <strong>de</strong><br />

chegada. Sem dúvida, há apenas alguns concorrentes suficientemente dotados para disputar a palma. Os<br />

<strong>de</strong>mais po<strong>de</strong>m, no máximo, seguir adiante e tirar o máximo <strong>de</strong> sua própria capacida<strong>de</strong>. Mas at<strong>é</strong> estes<br />

acham-se em muito melhor condições do <strong>que</strong> os <strong>que</strong> não estão correndo. Ningu<strong>é</strong>m <strong>que</strong>r ficar parado, e a<br />

maioria está convencida <strong>de</strong> <strong>que</strong> não ousaria fazê-lo. Os retardatários têm boas razões para se pr<strong>eo</strong>cupar: a<br />

corrida vai ficando cada vez mais rápida, e os ricos ficam mais ricos enquanto os pobres têm filhos”.<br />

1981<br />

82<br />

83<br />

84<br />

85<br />

86<br />

87<br />

88<br />

89<br />

90<br />

91<br />

92<br />

93<br />

94<br />

95<br />

96<br />

97<br />

98<br />

99<br />

2000<br />

2001<br />

33


Por outro lado, a ciência precisa <strong>de</strong> dinheiro para financiar-se. Em conseqüência<br />

do reconhecimento <strong>de</strong>sta nova realida<strong>de</strong>, surgiu na esteira da 2ª Revolução Industrial, e,<br />

por conseguinte, da institucionalização do <strong>de</strong>senvolvimento científico e tecnológico em<br />

laboratórios <strong>de</strong> P&D, privados ou não, um novo fenômeno. Este fenômeno <strong>que</strong> tem o<br />

s<strong>é</strong>culo XX – principalmente a segunda meta<strong>de</strong> – como período mais f<strong>é</strong>rtil, <strong>é</strong> o mo<strong>de</strong>lo<br />

da Big Science (GÓES, 1972). Nesta forma <strong>de</strong> fazer ciência e tecnologia (C&T), <strong>que</strong><br />

tem entre seus principais marcos o Projeto Manhattan e o documento “Science, the<br />

Endless Frontier” (BUSH, 1945), o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>manda enormes investimentos.<br />

Historicamente, nas economias centrais, uma parte expressiva do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

tecnológico e a geração <strong>de</strong> inovações está baseada nas empresas, enquanto a pesquisa<br />

em temas mais fundamentais e sem aplicações imediatas fica a cargo <strong>de</strong> laboratórios<br />

governamentais e universida<strong>de</strong>s <strong>que</strong> contam com o patrocínio do estado. Entretanto,<br />

mesmo o lado privado da P&D conta com a mão dos governos, pois muitos dos recursos<br />

investidos pelas empresas nas pesquisas têm origem no estado, por via <strong>de</strong> renúncias<br />

fiscais, empreendimentos <strong>de</strong> pesquisa conjuntos (governo-aca<strong>de</strong>mia-empresas),<br />

relaxamento das leis antitrust e reforço nas leis <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> intelectual em acordo<br />

internacionais (NELSON, PECK, KALACHEK, 1969; PINELLI et al., 1997).<br />

Justamente estas economias centrais, on<strong>de</strong> o conceito <strong>de</strong> Big Science firmou-se,<br />

são as <strong>que</strong>, neste mesmo s<strong>é</strong>culo XX, assistiram à consolidação das <strong>de</strong>mocracias <strong>de</strong><br />

massa, on<strong>de</strong> os cidadãos estão cada vez mais conscientes <strong>de</strong> <strong>que</strong> o governo <strong>de</strong>ve servir<br />

aos interesses da maioria. A relação primária entre o estado e os cidadãos se dá atrav<strong>é</strong>s<br />

do pagamento <strong>de</strong> impostos por parte <strong>de</strong>stes para <strong>que</strong> o estado alo<strong>que</strong> estes recursos <strong>de</strong><br />

maneira a<strong>de</strong>quada para aten<strong>de</strong>r aos anseios da massa contribuinte. O momento em <strong>que</strong><br />

34


os cidadãos cobram a fatura da consecução, ou não, <strong>de</strong> seus anseios por parte dos<br />

administradores do estado se dá durante as eleições.<br />

O caso do financiamento da C&T não <strong>é</strong> privilegiado nestes momentos, cabendo<br />

aos governos mostrarem <strong>de</strong> forma clara em <strong>que</strong> pontos as pesquisas e projetos <strong>que</strong> são<br />

financiados pelos impostos vão ao encontro das <strong>de</strong>mandas sociais. Existe, nas<br />

<strong>de</strong>mocracias <strong>de</strong> massa, um imperativo para <strong>que</strong> a C&T tenha legitimida<strong>de</strong> perante seus<br />

financiadores, i.e., os cidadãos (WEINGART, 1998). As facilida<strong>de</strong>s subsidiadas pela<br />

internet contribuem ainda mais para facilitar o monitoramento das ativida<strong>de</strong>s<br />

governamentais, inclusive atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> ferramentas <strong>de</strong> busca específicas para este fim<br />

(WIRED NEWS, 2004). A <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> <strong>que</strong> os projetos <strong>de</strong> C&T são compatíveis<br />

com os anseios da comunida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser fácil em projetos <strong>que</strong> envolvem o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tecnologias próximas da fase <strong>de</strong> “produtização”, pois basta<br />

<strong>de</strong>monstrar <strong>que</strong> o produto aten<strong>de</strong> às <strong>de</strong>mandas dos cidadãos. Entretanto, quando se trata<br />

<strong>de</strong> tecnologias ainda na fase fluida, a <strong>de</strong>monstração do papel social das tecnologias <strong>é</strong> um<br />

pouco mais complexa. Nestes casos a aplicação do m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> Technology Assessment<br />

(TA), ferramenta introduzida na d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong> 1970, mas hoje pouco usada, ou o uso <strong>de</strong><br />

t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> prospectiva, notadamente o Delphi, po<strong>de</strong>m mostrar-se importantes, por<br />

tratarem <strong>de</strong> forma profunda e multidisciplinar os impactos sociais do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da C&T (OECD, 1975). A opção mais freqüente nos dias atuais <strong>é</strong> a utilização <strong>de</strong><br />

exercícios <strong>de</strong> foresight, on<strong>de</strong> são consultados especialistas notórios, com o intuito <strong>de</strong> se<br />

construírem as políticas <strong>de</strong> C&T futuras.<br />

O balanço dos interesses dos atores envolvidos no relacionamento cidadãos-<br />

estado-P&D <strong>é</strong> extremamente <strong>de</strong>licado. Por um lado o estado vive uma dualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

35


interesses <strong>que</strong> vão da representação da vonta<strong>de</strong> das maiorias, passando pelo<br />

cumprimento das leis, at<strong>é</strong> os interesses particulares dos grupos políticos envolvidos no<br />

dia-a-dia do po<strong>de</strong>r. Os cidadãos <strong>que</strong>rem <strong>que</strong> o estado atenda suas <strong>de</strong>mandas<br />

empregando <strong>de</strong> maneira a<strong>de</strong>quada o dinheiro dos impostos, e, <strong>de</strong> forma implícita, há a<br />

busca do público pelo retorno econômico-social dos investimentos em C&T, uma vez<br />

<strong>que</strong> “os empregos e os salários <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da ciência e da tecnologia” (SAGAN, 1996,<br />

p. 21). As motivações dos cientistas e engenheiros variam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as motivações<br />

puritanas e neutras, relacionadas ao progresso da ciência (MERTON, 1970) at<strong>é</strong> às<br />

motivações institucionais, i.e., <strong>de</strong>terminadas pelas instituições às quais pertencem<br />

(DAGNINO et al, 2002).<br />

De toda forma, este <strong>de</strong>senvolvimento da C&T provocou, e vem provocando,<br />

gran<strong>de</strong>s impactos sociais – ben<strong>é</strong>ficos e mal<strong>é</strong>ficos. Des<strong>de</strong> novos produtos para o uso<br />

diário at<strong>é</strong> o crescimento econômico, passando por curas <strong>de</strong> doenças e impactos<br />

culturais, a C&T está presente na socieda<strong>de</strong> contemporânea <strong>de</strong> modo marcante. A<br />

socieda<strong>de</strong>, mesmo sem consi<strong>de</strong>rar a linha argumentativa do <strong>de</strong>terminismo tecnológico,<br />

tem hoje a marca in<strong>de</strong>l<strong>é</strong>vel da mudança t<strong>é</strong>cnica e, assim sendo, os atores sociais têm<br />

suas vidas afetadas pela C&T.<br />

No intuito <strong>de</strong> influenciar o <strong>de</strong>senvolvimento da C&T, os governos têm se<br />

apoiado no instrumento da Política Científica & Tecnológica (PCT). A função da PCT<br />

“fundamentalmente, resi<strong>de</strong> no estabelecimento <strong>de</strong> crit<strong>é</strong>rios <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro dos<br />

quais <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>stacar-se os esforços a serem <strong>de</strong>senvolvidos” (GÓES, 1972).<br />

36


Na Figura 2.5 <strong>é</strong> apresentado o processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>que</strong> leva à<br />

elaboração da PCT. É patente a importância da tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, tanto nos níveis<br />

burocráticos quanto nos mais científicos, no processo <strong>que</strong> leva a formulação das<br />

políticas (DAGNINO et al, 2002) e <strong>que</strong> a “existência <strong>de</strong> negociações <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste<br />

processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões torna evi<strong>de</strong>nte a importância dos atores e suas<br />

idiossincrasias para a formulação <strong>de</strong> políticas” (BALAGUER, 2004).<br />

Aumento da<br />

importância <strong>de</strong><br />

fatores<br />

externos<br />

Figura 2.5: O processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão da Política <strong>de</strong> C&T (adaptado <strong>de</strong><br />

ENVIRONMENT CANADA, 2001)<br />

Conforme mostrado na Figura 2.5, o governo <strong>de</strong>ve, ao partir para a elaboração e<br />

implementação da PCT, avaliar as escolhas <strong>que</strong> possui, bem como as suas<br />

conseqüências. Estas conseqüências são levantadas em uma fase <strong>de</strong> assessment ou <strong>de</strong><br />

exercícios <strong>de</strong> foresight.<br />

Ciência<br />

O <strong>que</strong> os dados dizem?<br />

Assessment / Prospectiva<br />

O <strong>que</strong> os dados significam?<br />

Política (policy)<br />

Quais são as escolhas possíveis?<br />

Política (politics)<br />

O <strong>que</strong> po<strong>de</strong> ser <strong>feito</strong>?<br />

Aumento d do<br />

envolvimento<br />

dos cientistas<br />

37


2.2.3 Pon<strong>de</strong>rações<br />

Um dos principais pontos <strong>de</strong> discussão <strong>é</strong> em relação ao relativismo epistêmico<br />

apresentado por Kuhn. Entretanto, existem diversos fenômenos <strong>que</strong> possuem uma<br />

dinâmica <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento semelhante à proposta por Kuhn para o conhecimento<br />

científico. O cânone evolucionário, e a onipresença da curva logística, são comuns a<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e difusão <strong>de</strong> tecnologias (ABERNATH; UTTERBACK,<br />

1975), <strong>de</strong>senvolvimento econômico (FREEMAN; PEREZ, 1988) e evolução biológica<br />

(GOULD; ELDREDGE, 1977). Em todos estes mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> fenômeno existe o conceito<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, estase, crise e superação <strong>que</strong> Kuhn utiliza para <strong>de</strong>screver a forma<br />

como a ciência se <strong>de</strong>senvolve.<br />

Ainda sob o relativismo epistêmico, mas sob a óptica da social-shapped-<br />

technology (SST), este autor consi<strong>de</strong>ra a pon<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Castells (1999) apresentada no<br />

início <strong>de</strong>ste capítulo suficientemente a<strong>de</strong>quada, <strong>de</strong> forma <strong>que</strong> as implicações hard da<br />

t<strong>eo</strong>ria da SST não são consi<strong>de</strong>radas.<br />

Outro ponto <strong>que</strong> merece pon<strong>de</strong>ração <strong>é</strong> a utilização <strong>de</strong> <strong>que</strong>stões relativas à filosofia<br />

da ciência, principalmente no <strong>que</strong> tange à análise kuhniana, historicamente associada à<br />

análise apenas da ciência, em um universo mais ligado à tecnologia. Entretanto, como<br />

lembram Zackiewicz e Sales-Filho, “não faz sentido tratar a pesquisa básica [ciência] e<br />

a pesquisa aplicada [tecnologia] como estan<strong>que</strong>s”, dada a condição <strong>de</strong> empreendimento<br />

social da C&T (2001).<br />

38


Uma outra forma <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a influência <strong>de</strong> aspectos sociais das ciências em um<br />

campo mais ligado à tecnologia e à inovação industrial <strong>é</strong> apontado por Lane e Klavans<br />

(2000), <strong>que</strong> apontam evidências <strong>de</strong> uma influência crescente da ciência no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento tecnológico. Esta tendência tamb<strong>é</strong>m <strong>é</strong> apontada por Coates et al.<br />

(2001).<br />

Quanto às limitações da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> previsão em virtu<strong>de</strong> da forma como a<br />

ciência <strong>é</strong> feita, Dyson traz uma contribuição, quando comenta <strong>que</strong> a “extrapolação linear<br />

[da ciência atual] está fadada a errar no longo prazo, por<strong>que</strong> mudarão a natureza e os<br />

objetivos fundamentais da ciência” (1998, p. 71).<br />

39


3 MODELO TEÓRICO DE FUTURO<br />

O sentimento <strong>de</strong> passagem do tempo e a crescente <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m na natureza estão<br />

associados pela termodinâmica, <strong>que</strong> com sua segunda lei, postula um universo <strong>de</strong> mão<br />

única e não reversível (RHODES, 1988, p. 30), sendo <strong>que</strong>, como lembra Prigogine<br />

(1996, p. 9), “O tempo <strong>é</strong> uma dimensão fundamental da nossa existência”. O tempo, e<br />

sua passagem, fascinam e <strong>de</strong>safiam a curiosida<strong>de</strong> humana - e o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> o retrato mais<br />

bem acabado do <strong>de</strong>sespero humano em relação ao in<strong>de</strong>terminismo <strong>de</strong> sua própria<br />

existência. Por outro lado, a in<strong>de</strong>terminação do <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> o <strong>que</strong> <strong>é</strong> essencial à natureza<br />

humana, pois permite ao homem atuar com responsabilida<strong>de</strong> sobre seu próprio <strong>de</strong>stino,<br />

sem apelar a um Deus ex-machina. Popper consi<strong>de</strong>rava o <strong>de</strong>terminismo,<br />

fundamentalmente o <strong>de</strong> origem Laplaciana, como o “obstáculo mais sólido e s<strong>é</strong>rio no<br />

caminho <strong>de</strong> uma explicação e <strong>de</strong> uma apologia da liberda<strong>de</strong>, da criativida<strong>de</strong> e da<br />

responsabilida<strong>de</strong> humanas” (Popper, 1984 apud Prigogine 1996, p. 10).<br />

A esta responsabilida<strong>de</strong> para com o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> <strong>que</strong> se refere Go<strong>de</strong>t (1982), <strong>que</strong><br />

lembra <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong> não está escrito: ele ainda <strong>de</strong>ve ser construído. E este <strong>futuro</strong> será<br />

construído a partir da convergência <strong>de</strong> forças <strong>que</strong> já estão presentes. Mais do <strong>que</strong> isto, se<br />

vários <strong>futuro</strong>s são possíveis, o <strong>que</strong> efetivamente ocorrerá será, em muito, resultado da<br />

confrontação das projeções <strong>de</strong> vários atores, ao inv<strong>é</strong>s da mera continuação das<br />

tendências atuais. Go<strong>de</strong>t (1982) argumenta ainda <strong>que</strong>, sob este ponto <strong>de</strong> vista, não há<br />

<strong>de</strong>terminismo, com exceção do sentido em <strong>que</strong> uma dada evolução do passado explica<br />

uma <strong>de</strong>terminada faixa <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s futuras.<br />

40


Partindo da premissa <strong>de</strong> <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong> <strong>de</strong>ve ser entendido como uma<br />

multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>futuro</strong>s possíveis, a prospectiva tecnológica <strong>de</strong>ve tentar i<strong>de</strong>ntificar<br />

uma faixa <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> configurações do <strong>futuro</strong> tecnológico. (GORDON, 1999).<br />

Dentro <strong>de</strong>ste contexto, uma forma <strong>de</strong> tratar o <strong>futuro</strong> como um range <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>s<br />

foi proposto por Lipinski e Loverig<strong>de</strong> (1982). Este mo<strong>de</strong>lo <strong>é</strong> similar ao mo<strong>de</strong>lo aqui<br />

proposto. Entretanto, a forma como o mo<strong>de</strong>lo do presente trabalho trata o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> não-<br />

matemática, buscando suporte nas ferramentas apresentadas no Capítulo 2, i.e., os<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> mudança científico-tecnológica <strong>de</strong> Kuhn e na análise das relações entre<br />

ciência, tecnologia e socieda<strong>de</strong>, bem como na t<strong>eo</strong>ria geral <strong>de</strong> estudos do <strong>futuro</strong> e<br />

prospectiva tecnológica.<br />

Uma outra visão <strong>de</strong> <strong>futuro</strong> <strong>que</strong>, conceitualmente, se agrega ao mo<strong>de</strong>lo proposto,<br />

<strong>é</strong> apresentada por Masini (Figura 3.1). Esta figura mostra <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> a convergência<br />

entre os <strong>futuro</strong>s preferidos, plausíveis, prováveis e, naturalmente, possíveis. Esta visão<br />

se aproxima da id<strong>é</strong>ia do Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> Futuro proposto por este trabalho, na<br />

medida em <strong>que</strong>, neste, o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> entendido como a solução <strong>de</strong> compromisso entre os a<br />

socieda<strong>de</strong> e seus anseios, mediados, legitimados e financiados pelo governo, e o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento possível da tecnologia.<br />

41


Futuros Possíveis<br />

Futuros Preferidos<br />

Futuro<br />

Futuros Prováveis<br />

Figura 3.1: Termos dos Estudos do Futuro (adaptado <strong>de</strong> MASINI, 1993)<br />

Um outro aporte interessante <strong>é</strong> dado por Dennis Meadows et al., em seu<br />

polêmico trabalho “Limits to Growth” (1972 apud MASINI, 1993). Neste trabalho <strong>é</strong><br />

mostrada a perspectiva humana em relação ao <strong>futuro</strong>, dadas as variáveis dimensionais<br />

“Tempo” (tido como o tempo limite da prospectiva) e “Espaço” (contexto da<br />

prospectiva). Esta perspectiva mostra a <strong>que</strong>stão da incerteza variando <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste<br />

“campo <strong>de</strong> visão” (Figura 3.2). Esta analogia <strong>é</strong> <strong>de</strong> particular interesse para o presente<br />

trabalho, pois mostra <strong>de</strong> forma clara a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalharem-se as incertezas da<br />

prospectiva. Esta necessida<strong>de</strong> <strong>é</strong> atendida no Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> Futuro proposto atrav<strong>é</strong>s<br />

<strong>de</strong> premissas relativas à natureza da ciência e da tecnologia.<br />

Futuros Plausíveis<br />

42


ESPAÇO<br />

Negócios, Cida<strong>de</strong>,<br />

Família Vizinhança Nação Mundo<br />

Próxima Próximos Duração Duração da<br />

Semana Anos da Vida vida <strong>de</strong> um<br />

rec<strong>é</strong>m- nascido<br />

Figura 3.2: Campo <strong>de</strong> Visão do Futuro (adaptado <strong>de</strong> MEADOWS et al., 1979 apud<br />

MASINI, 1993, p. 33)<br />

3.1 Descrição do Mo<strong>de</strong>lo<br />

TEMPO<br />

O Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> Futuro (MTF), <strong>que</strong> <strong>é</strong> o objeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste trabalho,<br />

po<strong>de</strong> ser entendido como apresentado na Figura 3.3. Este MTF está inserido <strong>de</strong>ntro da<br />

classificação Analistas <strong>de</strong> Resultado (Goal Analyst), conforme apresentada na Seção<br />

2.1.1, pois trabalha com hipótese <strong>de</strong> <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong> será <strong>de</strong>terminado pelas crenças e ações<br />

<strong>de</strong> vários indivíduos, organizações e instituições. Este MTF busca projetar o <strong>futuro</strong><br />

atrav<strong>é</strong>s do exame do estado (comunida<strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnico-científica) e das metas <strong>de</strong> vários<br />

43


tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e formadores <strong>de</strong> tendências (Política <strong>de</strong> C&T), atrav<strong>é</strong>s da<br />

avaliação da extensão <strong>de</strong> quanto cada um po<strong>de</strong> afetar futuras tendências e eventos e<br />

avaliando os resultados <strong>de</strong> longo prazo <strong>de</strong>stas ações.<br />

O MTF <strong>é</strong> divido em duas “zonas temporais” <strong>que</strong> se referem à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

antevisão do <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico:<br />

i. Zeitgeist: a zona Zeitgeist – palavra alemã para “espírito do tempo” –<br />

representa a zona <strong>de</strong> previsibilida<strong>de</strong>. A <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>sta zona se dá pela<br />

predominância da influência da ciência normal, <strong>que</strong> representa o status quo<br />

da comunida<strong>de</strong> científica e pelo horizonte <strong>de</strong> tempo previsto pelos<br />

investimentos contidos nas PCTs. Esta zona <strong>é</strong> caracterizada pelo domínio do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento científico-tecnológico majoritarimante financiado pelo<br />

governo, <strong>de</strong> acordo com os anseios sociais.<br />

ii. Zona Cinzenta: a Zona Cinzenta se encontra al<strong>é</strong>m do horizonte <strong>de</strong> eventos,<br />

i.e., não <strong>é</strong> possível obter informações, com uma margem <strong>de</strong> acerto aceitável,<br />

<strong>de</strong>sta região. A incerteza acerca <strong>de</strong>sta zona adv<strong>é</strong>m da gran<strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

emergência <strong>de</strong> um novo paradigma científico-tecnológico, em conjunto com<br />

uma reconfiguração na estrutura <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r da comunida<strong>de</strong> científica, e <strong>de</strong><br />

uma mudança nas PCTs, em virtu<strong>de</strong> da emergência <strong>de</strong> novos anseios sociais.<br />

44


Hoje Hoje 10 anos 20 anos 50 anos 100 100 anos anos<br />

Zona<br />

Zona<br />

Cinzenta<br />

Cinzenta<br />

Zeitgeist<br />

Zeitgeist<br />

Zona Zona <strong>de</strong> <strong>de</strong> Influência<br />

Influência<br />

da da Ciência Ciência Normal<br />

Normal<br />

Zona Zona <strong>de</strong> <strong>de</strong> Influência Influência dos<br />

dos<br />

Novos Novos Paradigmas<br />

Paradigmas<br />

Tecido Tecido<br />

Tecido<br />

Social Social<br />

Social<br />

Figura 3.3: Mo<strong>de</strong>lo Conceitual <strong>de</strong> Futuro<br />

PCT&I<br />

PCT&I<br />

A força do Zeitgeist na construção do <strong>futuro</strong>, em mercados <strong>que</strong> possuam as<br />

características pressupostas no MTF se dá, em boa parte, pela tendência enviesada dos<br />

exercícios <strong>de</strong> prospectiva, normalmente “foresight” (PORTER et al., 2004), <strong>que</strong> balizam<br />

$ $ $ $$ $<br />

Sinal Sinal Sinal Sinal <strong>de</strong><br />

Relevância Relevância Relevância Relevância<br />

45


a construção dos CN. Esta tendência <strong>é</strong> <strong>de</strong>scrita, tanto por Masini (1993), quanto por<br />

Porter et al. (2004), <strong>que</strong> diz <strong>que</strong> “expert opinion methods are limited by what p<strong>eo</strong>ple<br />

perceive as feasible, colored by their shared beliefs and their limited imagination”.<br />

A influência <strong>de</strong>ste vi<strong>é</strong>s no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico se dá na<br />

medida em <strong>que</strong> as metas das PCT’s - condicionantes da liberação <strong>de</strong> recursos - são o<br />

produto dos exercícios nacionais <strong>de</strong> prospectiva.<br />

O MTF leva à formulação <strong>de</strong> uma hipótese <strong>que</strong> <strong>é</strong> central para o m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong><br />

prospectiva tecnológica <strong>de</strong>senvolvido no presente trabalho: durante a tarefa <strong>de</strong><br />

planejamento tecnológico, quando <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados contextos <strong>de</strong> mercado, o<br />

Cenário Descritivo (CD) assumido po<strong>de</strong> ser baseado na convergência entre o Cenário<br />

Normativo (CN) dos principais atores da<strong>que</strong>le mercado (normalmente economias<br />

centrais) e a tecnologia baseada na ciência normal.<br />

Os contextos <strong>de</strong> mercado <strong>que</strong> constituem os limites operacionais do MTF são os<br />

<strong>que</strong> estão associados aos fundamentos da hipótese acima exposta, i.e., estes mercados<br />

<strong>de</strong>vem ser intensivos em conhecimento, <strong>de</strong>vem ter poucos atores e <strong>de</strong>vem ser<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s volumes <strong>de</strong> investimento governamental em P&D.<br />

Este MTF leva o nome <strong>de</strong> cenário tecnológico apesar <strong>de</strong> possuir algumas<br />

diferenças com a abordagem tradicional <strong>de</strong> cenários, cuja introdução se <strong>de</strong>u por Herman<br />

Kahn, na RAND, durante os anos 1950. Uma das premissas-chave para o planejamento<br />

por cenários <strong>é</strong> a construção <strong>de</strong> cenários <strong>futuro</strong>s múltiplos (SCHWARTZ, 2000;<br />

MASINI, 1993). Entretanto, o mo<strong>de</strong>lo proposto se aproxima mais da <strong>de</strong>finição dada por<br />

46


Martino (1983), <strong>que</strong> <strong>de</strong>screve “Cenário” como uma fotografia <strong>de</strong> uma situação<br />

intensamente consistente, on<strong>de</strong> <strong>é</strong> o resultado plausível - entendido como intensificação<br />

<strong>de</strong> provável - <strong>de</strong> uma seqüência <strong>de</strong> eventos.<br />

Uma outra <strong>de</strong>finição <strong>que</strong> tamb<strong>é</strong>m reforça a id<strong>é</strong>ia da MTF aqui proposto dada por<br />

Masini (1993), <strong>que</strong> diz <strong>que</strong> a construção <strong>de</strong> cenários <strong>é</strong> um instrumento <strong>que</strong> ajuda os<br />

tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, provendo um contexto <strong>de</strong> planejamento e programação,<br />

diminuindo o nível <strong>de</strong> incerteza e aumentando o nível <strong>de</strong> conhecimento.<br />

Um dos pilares da lógica interna <strong>de</strong>ste MTF, e <strong>que</strong> ilustra a Figura 3.3, <strong>é</strong> <strong>que</strong><br />

“Technological change does not just happen. It is managed by organizations, either private or<br />

government, which see enlightened self-interest in promoting and subdizing specific<br />

technological improvements” e <strong>que</strong> “Technological change occurs as the result of attempts by<br />

many organizations to find a way to match scientific and technical progress with societal needs”<br />

(BUTTNER; CHEANEY, 1968, p. 183).<br />

Estas relações entre os anseios sociais e os progressos t<strong>é</strong>cnicos, acontecendo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

um contexto institucional são ilustradas ainda por Buttner e Cheaney (1968) na Figura<br />

3.4 e na Figura 3.5.<br />

47


Estado da<br />

Socieda<strong>de</strong><br />

Estado-da-<br />

Arte<br />

Figura 3.4: Estado da Socieda<strong>de</strong> vs Estado da Ciência (adaptado <strong>de</strong> BUTTNER;<br />

CHEANEY, 1968, p. 187)<br />

Plano Institucional<br />

PLANO DA SOCIEDADE<br />

PLANO DA CIÊNCIA<br />

PLANO DA SOCIEDADE<br />

Restrições Organizacionais<br />

PLANO DA CIÊNCIA<br />

Figura 3.5: Restrições Organizacionais (adaptado <strong>de</strong> BUTTNER; CHEANEY, 1968, p.<br />

187)<br />

48


4 MÉTODO DE PROSPECTIVA<br />

Segundo um estudo realizado por Marina Skumanich e Michelle Silbernagel, do Battelle<br />

Research Center (1997), uma visão comum a todos os programas bem sucedidos <strong>de</strong><br />

prospectiva, e <strong>que</strong> parece <strong>de</strong>stacar estes como os “melhores do gênero” <strong>é</strong> a <strong>de</strong> <strong>que</strong> o<br />

<strong>futuro</strong> <strong>é</strong>, basicamente, imprevisível. Isto significa, segundo Porter et al. (1991, p. 69),<br />

<strong>que</strong>, dada esta incerteza inerente ao <strong>futuro</strong>, as expectativas sobre a prospectiva <strong>de</strong>vem<br />

ser realísticas. Não se <strong>de</strong>vem esperar prospecções perfeitamente acuradas ou altamente<br />

precisas. Por outro lado, <strong>é</strong> esperado <strong>que</strong> estas <strong>de</strong>limitem a extensão <strong>de</strong> incerteza,<br />

estabelecendo vetores <strong>de</strong> mudança e provendo informações <strong>de</strong> valor para o gestor do<br />

processo <strong>de</strong> planejamento tecnológico, sob pena <strong>de</strong>, em caso contrário, serem <strong>de</strong> todo<br />

inúteis em seus propósitos.<br />

O MTF proposto no Capítulo 4 traz em sua concepção uma visão probabilística<br />

do <strong>futuro</strong>, pois enten<strong>de</strong> <strong>que</strong> o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> o resultado da convergência <strong>de</strong> forças e anseios<br />

<strong>de</strong> atores presentes, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada margem <strong>de</strong> erro. Baseado neste<br />

entendimento <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> configuração do <strong>futuro</strong>, o m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva aqui<br />

proposto visa aten<strong>de</strong>r aos requisitos, acima apontados, <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar os vetores <strong>de</strong><br />

mudança e <strong>de</strong>limitar o campo <strong>de</strong> incerteza, <strong>de</strong> modo a auxiliar o tomador <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão ou<br />

o formulador <strong>de</strong> políticas.<br />

Uma ressalva <strong>de</strong>ve ser feita à forma como o conceito <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> <strong>é</strong> tratado<br />

no MTF aqui proposto. Este tratamento <strong>é</strong> não-matemático, sendo <strong>que</strong> a asserção do<br />

termo aqui utilizado tem por propósito contrapor-se à visão <strong>de</strong>terminista da natureza. E,<br />

apesar <strong>de</strong> conotar uma menor precisão nos resultados apresentados, esta abordagem <strong>é</strong><br />

49


justificada pela proposta <strong>de</strong> visão <strong>de</strong> <strong>futuro</strong>, <strong>de</strong> prover um maior entendimento do<br />

ambiente e dos fatores causais <strong>que</strong> afetam a construção do <strong>futuro</strong>. Segundo Makridakis<br />

e Wheelwright (1982, p. 7), neste caso, a acurácia da prospectiva torna-se secundária.<br />

Basicamente, os passos para a realização da prospectiva, <strong>que</strong> visa à construção do<br />

CD são:<br />

i. Determinam-se os fatores <strong>de</strong> contorno do Cenário: a. Cliente; b. Propósito; c.<br />

Espaço coberto (contexto); d. Horizonte <strong>de</strong> tempo coberto<br />

ii. Verificam-se quais são os principais atores no mercado a analisar;<br />

iii. Verifica-se a a<strong>de</strong>quação ao mo<strong>de</strong>lo (mercados altamente regulamentados,<br />

intensivida<strong>de</strong> em conhecimento e Big Science);<br />

iv. Localiza-se o CN dos atores i<strong>de</strong>ntificados; e<br />

v. Assume-se este CN como CD;<br />

Estes passos são tratados individualmente, e <strong>de</strong> forma pormenorizada, abaixo.<br />

4.1 Determinação dos fatores <strong>de</strong> contorno do Cenário<br />

Os fatores <strong>de</strong> contorno são: a. Cliente; b. Propósito; c. Espaço coberto (contexto); d.<br />

Horizonte <strong>de</strong> tempo coberto<br />

50


A <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>stes fatores acontece <strong>de</strong> forma quase <strong>que</strong> automática quando da<br />

contratação da prospectiva, com uma pe<strong>que</strong>na ressalva para a <strong>que</strong>stão do Espaço<br />

coberto e para o Horizonte <strong>de</strong> tempo coberto. Estes itens, normalmente, serão<br />

<strong>de</strong>terminados <strong>de</strong>ntro do limite operacional do m<strong>é</strong>todo proposto, i.e., espaços bem<br />

<strong>de</strong>limitados, <strong>de</strong>ntro dos ambientes competitivos-regulatórios aqui <strong>de</strong>terminados, e<br />

horizonte <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong>, no máximo, 20 anos, dado <strong>que</strong> este <strong>é</strong> o limite típico das políticas<br />

públicas, sendo <strong>que</strong> o horizonte i<strong>de</strong>al <strong>é</strong> <strong>de</strong> 10 anos. Esta <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>ve ser realizada<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma dinâmica interativa com a etapa 3 (Item 4.3), com o intuito <strong>de</strong> se<br />

melhorar a <strong>de</strong>finição do escopo à medida <strong>que</strong> aumenta a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação<br />

sobre o objeto <strong>de</strong> análise.<br />

Apesar <strong>de</strong> não ser um acadêmico da área <strong>de</strong> prospectiva ou <strong>de</strong> planejamento<br />

tecnológico, o físico Freeman Dyson (1998) traz, em sua condição <strong>de</strong> fino observador<br />

da natureza da relação entre ciência, tecnologia e socieda<strong>de</strong>, uma gran<strong>de</strong> contribuição à<br />

compreensão do por<strong>que</strong> do prazo i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> 10 anos:<br />

“ <strong>de</strong>z anos <strong>é</strong> o horizonte normal das ativida<strong>de</strong>s humanas (...). Dez anos <strong>é</strong> tamb<strong>é</strong>m o limite extremo da<br />

previsibilida<strong>de</strong> política. Em <strong>de</strong>z anos os governos mudam, os lí<strong>de</strong>res políticos asce<strong>de</strong>m e caem, imp<strong>é</strong>rios<br />

<strong>de</strong>smoronam e revoluções viram o mundo pelo avesso. A economia e a tecnologia são mais previsíveis do<br />

<strong>que</strong> a política. Numa escala <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos, as forças <strong>que</strong> governam o <strong>de</strong>senvolvimento econômico e<br />

tecnológico não mudarão radicalmente (...) a ciência pura [entretanto] <strong>é</strong> veloz. Na ciência acostumamo-<br />

nos a testemunhar mudanças radicais em períodos <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos ou menos. Dez anos <strong>é</strong> a escala temporal<br />

típica das revoluções científicas.” (p. 109).<br />

51


4.2 I<strong>de</strong>ntificação dos principais atores no mercado a se analisar<br />

O processo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> atores-chave <strong>é</strong> <strong>feito</strong> em conjunto com o cliente. Como<br />

trata-se <strong>de</strong> um mercado claramente oligopolizado, esta etapa não <strong>de</strong>ve trazer<br />

dificulda<strong>de</strong>s.<br />

4.3 Verificação da a<strong>de</strong>quação ao mo<strong>de</strong>lo<br />

Determinados os fatores <strong>de</strong> contorno e i<strong>de</strong>ntificados os atores-chave, <strong>de</strong>ve-se partir para<br />

a etapa seguinte do m<strong>é</strong>todo, cujo objetivo <strong>é</strong> verificar a a<strong>de</strong>quação do espaço <strong>de</strong><br />

prospectiva aos crit<strong>é</strong>rios <strong>que</strong> constituem o limite operacional do mo<strong>de</strong>lo, <strong>que</strong> são:<br />

mercados altamente regulamentados; intensivida<strong>de</strong> em conhecimento; e Big Science.<br />

As informações sobre a estrutura do mercado po<strong>de</strong>m ser obtidas em relatórios <strong>de</strong><br />

bancos <strong>de</strong> investimento analisando o setor ou, at<strong>é</strong> mesmo, nos relatório <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstração<br />

<strong>de</strong> resultados apresentados ao mercado financeiro pelas empresas. Quanto às <strong>que</strong>stões<br />

sobre intensivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimento e Big Science, uma excelente fonte são os<br />

relatórios da OCDE anuais conhecidos como “Science, Technology and Innovation<br />

Outlook”. Estes relatórios, bem como em outros produzidos pelas agências nacionais <strong>de</strong><br />

fomento, são as principais fontes <strong>de</strong> informação. Eventualmente existem publicações<br />

específicas <strong>que</strong> analisam as políticas <strong>de</strong> incentivo público à P&D nos mercados sob<br />

análise. Estas publicações constituem tamb<strong>é</strong>m uma rica fonte <strong>de</strong> informações.<br />

4.4 Localização do CN dos atores i<strong>de</strong>ntificados<br />

Uma vez i<strong>de</strong>ntificados os atores-chave e <strong>de</strong>terminada a existência das condições<br />

previstas pelo mo<strong>de</strong>lo, <strong>de</strong>ve-se buscar as informações sobre o CN. Esta informação<br />

52


normalmente encontra-se nos sítios das agências governamentais ligados ao<br />

financiamento e promoção da pesquisa científico-tecnológica nos países em <strong>que</strong>stão.<br />

4.5 Construção do CD baseado no CN<br />

Esta construção <strong>de</strong>ve ser feita, basicamente, assumindo as metas apresentadas (<strong>futuro</strong><br />

normativo) como marcos (<strong>futuro</strong> <strong>de</strong>scritivo). A apresentação <strong>de</strong>ste CD po<strong>de</strong> ser feita <strong>de</strong><br />

várias formas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> simplesmente transcrevendo as metas apresentadas no CN, at<strong>é</strong><br />

elaborando textos mais ricos <strong>que</strong> tragam as id<strong>é</strong>ias apresentadas no CN. Tamb<strong>é</strong>m po<strong>de</strong><br />

ser <strong>feito</strong> exercício <strong>de</strong> <strong>que</strong>bra das metas utilizando-se outras ferramentas <strong>de</strong> prospectiva,<br />

como curvas <strong>de</strong> tendência para as tecnologias vislumbradas, análises <strong>de</strong> impacto<br />

cruzado ou árvores <strong>de</strong> relevância.<br />

Quanto à premissa chave do m<strong>é</strong>todo, <strong>de</strong> <strong>que</strong> po<strong>de</strong>-se assumir o CN dos atores<br />

principais como CD, esta <strong>é</strong> particularmente interessante sob a óptica da argumentação<br />

<strong>de</strong> Go<strong>de</strong>t (1982), <strong>que</strong> lembra <strong>que</strong> “information about the future (...) is rarely neutral:<br />

usually it serves specific interests”. Desta forma, o vi<strong>é</strong>s da informação utilizada fica<br />

claro <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio, evitando assim <strong>que</strong> se cometa erros <strong>de</strong> julgamento (GODET,<br />

1982)<br />

53


5 APLICAÇÃO DO MÉTODO: O CASO AEROESPACIAL<br />

Neste capítulo <strong>é</strong> apresentada uma utilização do Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> Futuro proposto pelo<br />

presente trabalho, atrav<strong>é</strong>s da aplicação do m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva proposto no Capítulo<br />

4. Esta aplicação ocorre com relação ao mercado aeroespacial, mais especificamente no<br />

segmento <strong>de</strong> Large Commercial Aircraft (LCA), pois este, como <strong>é</strong> apresentado abaixo,<br />

cumpre os requisitos metodológicos para a aplicação do mo<strong>de</strong>lo. Trata-se <strong>de</strong> um<br />

mercado altamente regulamentado, oligopolizado, intensivo em conhecimento e com<br />

fortes investimentos governamentais em P&D. A utilização <strong>de</strong>ste segmento específico<br />

não traz, entretanto, nenhuma perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong>, pois o segmento <strong>de</strong> LCA<br />

compartilha a base <strong>de</strong> conhecimentos vitais com o resto do setor aeroespacial, bem<br />

como uma base similar <strong>de</strong> produção, sendo <strong>que</strong> os times <strong>de</strong> projeto e fabricação civis já<br />

<strong>de</strong>senvolveram hardware militar e os requisitos <strong>de</strong> mercado já promoveram inovações<br />

tecnológicas relevantes para os militares, e vice-versa (PINELLI et al., 1997).<br />

Capítulo 4.<br />

A aplicação do m<strong>é</strong>todo se dá no formato e na seqüência <strong>de</strong> eventos <strong>de</strong>scrita no<br />

5.1 Determinação dos fatores <strong>de</strong> contorno do Cenário<br />

a. Cliente: O cliente, neste estudo <strong>de</strong> caso, está in<strong>de</strong>finido. Po<strong>de</strong> ser uma empresa,<br />

um consórcio <strong>de</strong> empresas, uma instituição <strong>de</strong> ensino e pesquisa, ou at<strong>é</strong> mesmo um<br />

governo. A <strong>de</strong>finição mais clara do cliente influenciaria, principalmente, na forma<br />

<strong>de</strong> apresentação dos resultados.<br />

54


. Propósito: O propósito <strong>de</strong>ste CD <strong>é</strong> construir a base para o processo <strong>de</strong><br />

planejamento tecnológico, preferencialmente um exercício <strong>de</strong> Roadmap.<br />

c. Espaço Coberto: o espaço a ser coberto <strong>é</strong> o do mercado aeroespacial mundial.<br />

d. Horizonte <strong>de</strong> tempo coberto: o horizonte <strong>de</strong> tempo a ser coberto <strong>é</strong> o <strong>de</strong> 10 anos à<br />

frente, portanto ano 2014. Este horizonte <strong>de</strong> tempo <strong>é</strong> <strong>de</strong>terminado tendo em mente<br />

três consi<strong>de</strong>rações. A primeira <strong>é</strong> <strong>que</strong> um horizonte <strong>de</strong> tempo menor do <strong>que</strong> 10 anos <strong>é</strong><br />

<strong>de</strong> pouca valida<strong>de</strong> para a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> planejamento tecnológico, por ser <strong>de</strong> curto<br />

prazo. A segunda se refere ao limite teórico para o MTF usado como base para este<br />

exercício <strong>de</strong> prospectiva, <strong>que</strong> <strong>é</strong> <strong>de</strong> 20 anos, consi<strong>de</strong>rados a partir do lançamento das<br />

metas <strong>que</strong> constituem o CN utilizado. No presente caso, o lançamento <strong>de</strong> metas mais<br />

antigo (dos EUA) data <strong>de</strong> 1997, constituindo assim um limite <strong>de</strong> segurança o ano<br />

2017. Al<strong>é</strong>m <strong>de</strong>stas consi<strong>de</strong>rações, está a <strong>que</strong> o prazo <strong>de</strong> 10 anos <strong>é</strong> mais ou menos<br />

típico para os exercícios <strong>de</strong> planejamento corporativo, sendo <strong>que</strong> um horizonte <strong>de</strong> 10<br />

para o CD <strong>é</strong>, <strong>de</strong>sta forma, apropriado.<br />

5.2 Principais Atores<br />

A estrutura <strong>de</strong> mercado do segmento LCA <strong>é</strong> <strong>de</strong> mercados globais e caracterizada por<br />

oligopólios internacionais (PINELLI et al., 1997), sendo <strong>que</strong> atualmente existem apenas<br />

dois prime competitors, <strong>que</strong> competem ferozmente entre si, no mercado: a norte-<br />

americana Boeing e a europ<strong>é</strong>ia Airbus, <strong>que</strong> <strong>é</strong> um consórcio formado pela pan-europ<strong>é</strong>ia<br />

EADS (European Aeronautical and Defense System) e a britânica BAe Systems.<br />

55


Esta concentração do mercado aeroespacial, on<strong>de</strong> existem poucos montadores<br />

finais, <strong>é</strong> es<strong>que</strong>matizada na Figura 5.1. As figuras 5.2, 5.3 e 5.4 mostram a brutal<br />

consolidação das empresas <strong>de</strong>ste mercado (fabricantes americanos), nos últimos anos.<br />

Sistem as<br />

Aviônicos<br />

Relacionados à<br />

Missão<br />

Navegação,<br />

Comunicação, Vigilância e<br />

Sistem as <strong>de</strong><br />

Gerenciamento <strong>de</strong> Vôo<br />

Sistem as<br />

Aviônicos<br />

abordo<br />

Montagem<br />

Final e<br />

Vendas<br />

PRIMES<br />

Sistem as<br />

<strong>de</strong><br />

Propulsão<br />

SUB-CONTRATADOS<br />

Motor e<br />

Componentes<br />

Acessórios<br />

do Motor<br />

Sistem as <strong>de</strong> ignição e<br />

Fontes <strong>de</strong> Energia El<strong>é</strong>trica<br />

FORNECEDORES<br />

Estruturas<br />

<strong>de</strong><br />

Airframes ff<br />

f Estruturas,<br />

qqSubmotagem<br />

qqq e Subsistemas<br />

Sist. <strong>de</strong> Combustível<br />

Trem <strong>de</strong> Pouso<br />

Sist. Hidráulicos<br />

Fuselagem e Estruturas<br />

Sist. <strong>de</strong> Interior <strong>de</strong> Cabine e<br />

Componentes<br />

Sist. <strong>de</strong> Controle Ambiental<br />

Sist. e Componentes<br />

Eletro-eletrônicos<br />

Figura 5.1: Estrutura do mercado <strong>de</strong> LCAs (Adaptado <strong>de</strong> PINELLI et al., 1997)<br />

Primeira Onda Segunda Onda<br />

Figura 5.2: Consolidação do Mercado Aeroespacial Norte-Americano (adaptado <strong>de</strong><br />

COMMISSION ON THE FUTURE OF THE UNITED STATES AEROSPACE<br />

INDUSTRY, 2002)<br />

56


Figura 5.3: Consolidação do Mercado Aeroespacial Norte-Americano (adaptado <strong>de</strong><br />

COMMISSION ON THE FUTURE OF THE UNITED STATES AEROSPACE<br />

INDUSTRY, 2002)<br />

Figura 5.4: Consolidação do Mercado Aeroespacial Norte-Americano (adaptado <strong>de</strong><br />

COMMISSION ON THE FUTURE OF THE UNITED STATES AEROSPACE<br />

INDUSTRY, 2002)<br />

5.3 A<strong>de</strong>quação do Mo<strong>de</strong>lo<br />

Primeira Onda Segunda Onda<br />

Primeira Onda Segunda Onda<br />

Na seção anterior foi apresentada a primeira característica <strong>de</strong> mercado <strong>que</strong> habilita a<br />

utilização do MTF proposto no presente trabalho, i.e., a oligopolização da concorrência.<br />

Abaixo são analisadas as <strong>de</strong>mais características, a saber: mercado altamente<br />

57


egulamentado; intensivo em conhecimento; com forte <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> investimentos<br />

governamentais em P&D.<br />

5.3.1 Regulamentação no Mercado<br />

Uma característica fundamental no segmento LCA <strong>é</strong> sua importância estrat<strong>é</strong>gica para as<br />

nações. Segundo Pinelli et al. (1997), nos EUA, este segmento <strong>é</strong> muito importante para<br />

a balança comercial, para a <strong>que</strong>stão do emprego e para a sinergia tecnológica. Dada esta<br />

importância tecnológica, a regulamentação torna-se uma característica central. Ainda<br />

segundo Pinelli et al. (1997), o governo fe<strong>de</strong>ral norte-americano interv<strong>é</strong>m para suportar<br />

a aviação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando o valor potencial para a <strong>de</strong>fesa nacional forai i<strong>de</strong>ntificado, antes<br />

da Primeira Guerra Mundial.<br />

Dados este valor estrat<strong>é</strong>gico, o sistema <strong>de</strong> transporte a<strong>é</strong>r<strong>eo</strong> nacional <strong>é</strong> entendido<br />

como um recurso vital, sendo <strong>que</strong> o governo interv<strong>é</strong>m para prover infra-estrutura,<br />

controlando o uso do espaço a<strong>é</strong>r<strong>eo</strong> navegável, operando e mantendo o sistema <strong>de</strong><br />

navegação a<strong>é</strong>rea, <strong>de</strong>senvolvendo e operando controles <strong>de</strong> tráfego a<strong>é</strong>r<strong>eo</strong> e <strong>de</strong>senvolvendo<br />

e implementando regras para controlar o ruído das aeronaves, bem como outros e<strong>feito</strong>s<br />

ambientais da aviação civil (PINELLI et al., 1997).<br />

Tanto nos EUA quanto na Europa nenhuma aeronave da classe <strong>de</strong> LCA po<strong>de</strong><br />

entrar em operação comercial sem <strong>que</strong> seja homologada pelos órgãos <strong>de</strong> certificação,<br />

FAA nos EUA e JAA e EASA na Europa 10 .<br />

10 No Brasil, a homologação aeronáutica <strong>é</strong> feita pelo Instituto <strong>de</strong> Fomento Industrial (IFI), ligado ao<br />

Centro T<strong>é</strong>cnico Aeroespacial (CTA), orgão do Comando da Aeronáutica / Minist<strong>é</strong>rio da Defesa.<br />

58


Do ponto <strong>de</strong> vista operacional, po<strong>de</strong>-se dizer <strong>que</strong> os operadores (airliners), <strong>que</strong><br />

são os usuários do produtos, tamb<strong>é</strong>m trabalham <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um sistema nacional <strong>de</strong><br />

transporte altamente <strong>de</strong>finido pelo governo (PINELLI et al., 1997) 11 .<br />

Uma nuance <strong>que</strong> revela a importância das <strong>que</strong>stões governamentais para o<br />

negócio da aviação <strong>é</strong> <strong>que</strong> uma das revistas <strong>de</strong> maior circulação da área, o semanário<br />

Aviation Week & Space Technology, possui a seção Washington Outlook. Esta seção <strong>é</strong><br />

voltada à cobertura dos movimentos do governo norte-americano com impactos no<br />

setor.<br />

5.3.2 Intensivida<strong>de</strong> em Conhecimento<br />

A <strong>que</strong>stão da intensivida<strong>de</strong> em conhecimento talvez seja a mais fácil <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r. A<br />

caracterização do segmento LCA como uma indústria intensiva em conhecimento <strong>é</strong><br />

colocada por Pinelli et al. (1997), mas <strong>é</strong> tamb<strong>é</strong>m facilmente comprovada pelos volumes<br />

<strong>de</strong> investimento em P&D (apresentados na seção a seguir) e pela alta complexida<strong>de</strong><br />

tecnológica do produto. Desta forma, este item não necessita <strong>de</strong> maiores discussões.<br />

5.3.3 Investimentos Governamentais em P&D<br />

Segundo um testemunho <strong>de</strong> Bob Robeson (vice-presi<strong>de</strong>nte da AIA - Aviation Industry<br />

Association para aviação civil) ao Subcommitte on Technology, Environment, and<br />

Aviation do Congresso Norte-Americano, a NASA <strong>é</strong> um importante parceiro para<br />

11 Nos últimos anos vem ocorrendo um movimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sregulamentação das airliners no mercado norteamericano,<br />

princiapalmente visando melhorar aspectos <strong>de</strong> custos operacionais e evitar crises econômicas<br />

no setor. Uma indicação <strong>de</strong>ste caminho <strong>é</strong> o recente crescimento das empresas low fare. Entretanto, apesar<br />

<strong>de</strong>sta <strong>de</strong>sregulamentação, este mercado ainda po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado mais regulamentado do <strong>que</strong> a m<strong>é</strong>dia.<br />

59


indústria no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tecnologias na fase pr<strong>é</strong>-competitiva, e, <strong>de</strong>sta forma,<br />

instou o Congresso Norte-Americano a continuar a financiar tecnologias <strong>de</strong> alto risco e<br />

alto retorno, as quais a indústria, <strong>de</strong> outra forma, não po<strong>de</strong>ria obter por si mesma<br />

(PINELLI at al., 1997).<br />

O <strong>de</strong>poimento acima mostra o quanto vem sendo importante o financiamento<br />

governamental para indústria <strong>de</strong> LCA norte-americana. O National Science and<br />

Technology Council comenta ainda <strong>que</strong>, como todos os LCAs <strong>feito</strong>s nos EUA, a<br />

produção e operação do Boeing 777 (para usar um exemplo recente) são influenciadas<br />

por uma gama <strong>de</strong> políticas públicas, sendo <strong>que</strong> do lado da produção, as pesquisas em<br />

tecnologia aeronáutica conduzidas pela NASA/NACA têm beneficiado a indústria<br />

norte-americana <strong>de</strong> aviões (NSTC, 1995).<br />

Uma outra <strong>de</strong>monstração da importância da indústria aeroespacial para os EUA,<br />

vêm da “Commission on the Future of the United States Aerospace Industry”, <strong>que</strong> em<br />

seu relatório final <strong>de</strong> 2002, diz <strong>que</strong><br />

“the aerospace industry is a powerful force within the U.S. economy and one of the nation’s most<br />

competitive sectors in the global marketplace. It contributes over 15 percent to our Gross Domestic<br />

Product and supports over 15 million high quality American jobs. Aerospace products provi<strong>de</strong> the largest<br />

tra<strong>de</strong> surplus of any manufacturing sector. Last year, more than 600 million passengers relied on U.S.<br />

commercial air transportation and over 150 million p<strong>eo</strong>ple were transported on general aviation aircraft.<br />

Over 40 percent of the value of U.S. freight is transported by air. Aerospace capabilities have enabled e-<br />

commerce to flourish with overnight mail and parcel <strong>de</strong>livery, and just-in-time manufacturing.”<br />

(2002, p. 1 - 2)<br />

60


O relatório comenta ainda <strong>que</strong> a saú<strong>de</strong> da indústria aeroespacial, hoje e no<br />

<strong>futuro</strong>, está inexoravelmente ligada à li<strong>de</strong>rança do governo fe<strong>de</strong>ral, e vai mais longe, em<br />

sua Quarta Recomendação, on<strong>de</strong> está <strong>que</strong> “Commission recommends that the nation<br />

adopt a policy that invigorates and sustains the U.S. aerospace industrial base” (2002,<br />

p. X).<br />

Uma ilustração <strong>de</strong> como acontece a relação entre Ciência-Tecnologia-Socieda<strong>de</strong>,<br />

mediada pelo governo - conforme <strong>de</strong>scrita na Seção 2.2. - no caso aeroespacial <strong>é</strong> dada<br />

por Herbert von Bose, da “Research Directorate General / European Commission”<br />

(Figura 5.5) e pela Figura 5.6, elaborada pela Comissão Europ<strong>é</strong>ia.<br />

Aeronáutica<br />

Hoje<br />

Aeronáutica<br />

no Futuro<br />

Figura 5.5: Fatores <strong>que</strong> moldarão a aeronáutica no s<strong>é</strong>culo XXI (adaptado <strong>de</strong> VON<br />

BOSE, 2002a)<br />

O envolvimento fe<strong>de</strong>ral na P&D, no caso norte-americano, se dá por meio <strong>de</strong><br />

agências. As principais agências fe<strong>de</strong>rais envolvidas no sistema <strong>de</strong> inovação norte-<br />

americano, com impactos na aviação comercial são a NASA, o DoD e o FAA.<br />

Entretanto, neste trabalho o foco principal <strong>é</strong> a NASA, uma vez <strong>que</strong> esta <strong>é</strong> o principal<br />

61


esponsável por conduzir a pesquisa aeronáutica, contando com a maior parte do<br />

dinheiro disponível para financiar este tipo <strong>de</strong> pesquisa (OTA, 1994). A NASA<br />

atualmente mant<strong>é</strong>m quatro centros <strong>de</strong> pesquisa e uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> instalações <strong>que</strong> são<br />

caras <strong>de</strong>mais para serem construídas e operadas por qual<strong>que</strong>r ator privado do segmento<br />

LCA (PINELLI et al., 1997).<br />

Figura 5.6: Fatores <strong>de</strong> sucesso para uma inovação tecnológica (adaptado <strong>de</strong><br />

EUROPEAN COMMISSION, 2002a)<br />

A NASA <strong>de</strong>senvolve tecnologias aeronáuticas com base em Programas Focados,<br />

<strong>que</strong> têm objetivos específicos a serem atingidos, e com base em pesquisas básicas, não<br />

focadas, em temas como aerodinâmica, estruturas, materiais e fatores humanos. Estas<br />

pesquisas conduzidas pela NASA, quando levam a inovações tecnológicas afetam a<br />

eficiência produtiva da aviação e, ao mesmo tempo, aumentam o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> vôo e<br />

a segurança.<br />

Tecnologias<br />

Não<br />

econômica<br />

Baixa<br />

aceitação<br />

Inovação<br />

Demandas<br />

Sociais<br />

Obsoleta<br />

Mercado<br />

62


Uma outra característica da pesquisa em tecnologia aeronáutica <strong>é</strong> <strong>que</strong>, ainda <strong>que</strong><br />

a inovação tecnológica possa ser financiada somente pelo setor privado, com os custos<br />

<strong>de</strong> P&D repassados ao consumidor, a história do envolvimento governamental na<br />

aviação criou uma estrutura no setor <strong>que</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do suporte público para continuar<br />

tendo sucesso. No caso do LCA, on<strong>de</strong> os custos <strong>de</strong> P&D são muito altos, as inovações<br />

tecnológicas são virtualmente impossíveis para empresas isoladas (PINELLI et al.,<br />

1997). Esta característica sui generis da P&D aeroespacial, em comparação à influência<br />

governamental na P&D <strong>de</strong> outros setores, <strong>é</strong> ilustrada na Figura 5.7.<br />

Segundo Pinelli et al. (1997), o e<strong>feito</strong> combinado das políticas públicas <strong>de</strong> P&D<br />

foi criar incentivos tanto “<strong>de</strong>mand-pull” quanto “supply-push” para as indústrias LCA,<br />

sendo <strong>que</strong> o governo fe<strong>de</strong>ral norte-americano tem, continuamente, financiado a pesquisa<br />

tecnológica na aviação civil, suportando a disseminação dos resultados das pesquisas e<br />

encorajando a adoção das tecnologias <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1917, primeiro com a NACA e <strong>de</strong>pois com<br />

a NASA.<br />

No caso europeu, o cenário se configura com a existência <strong>de</strong> consórcios<br />

internacionais, como a Airbus, <strong>que</strong> surgiram da constatação dos europeus, durante a<br />

d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong> 1960, <strong>que</strong> não conseguiriam superar os EUA em tamanho <strong>de</strong> mercado e base<br />

<strong>de</strong> P&D <strong>de</strong> forma individual. Este mo<strong>de</strong>lo, <strong>de</strong> consórcios e joint-ventures<br />

transnacionais, <strong>é</strong> a base do atual sucesso dos empreendimentos europeus em aeroespaço<br />

(PINELLI et al., 1997). Segundo van Zuylen e Weber (2002), a indústria aeronáutica foi<br />

a primeira verda<strong>de</strong>iramente europ<strong>é</strong>ia.<br />

63


A cooperação governamental em investimento em P&D aeroespacial na Europa<br />

<strong>é</strong> razoavelmente recente. Em comparação com os EUA, <strong>que</strong> investem no setor <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

começo do s<strong>é</strong>culo XX, antes <strong>de</strong> 1989 não havia envolvimento da União Europ<strong>é</strong>ia no<br />

suporte à pesquisa aeronáutica (PINELLI et al., 1997). A mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong><br />

consolidou-se com o surgimento do programa <strong>de</strong> financiamento à pesquisa “Framework<br />

4”. Este foi o primeiro da s<strong>é</strong>ria “Framework” a incluir a P&D aeronáutica, tendo esta<br />

como um dos principais focos <strong>de</strong> investimento (VAN ZUYLEN; WEBER, 2002). Isto<br />

aconteceu por sugestão <strong>de</strong> um estudo <strong>que</strong> constatou <strong>que</strong> o conhecimento europeu estava<br />

fragmentado e a base tecnológica não po<strong>de</strong>ria suportar a competitivida<strong>de</strong> global da<br />

indústria aeronáutica europ<strong>é</strong>ia sem apoio financeiro da União Europ<strong>é</strong>ia.<br />

Equipamentos m<strong>é</strong>dicos e<br />

suprimentos<br />

Maquinaria<br />

Software<br />

Aeroespaço:<br />

produtos e partes<br />

Serviços: profissional,<br />

científico e t<strong>é</strong>cnico<br />

Equipamentos <strong>de</strong> transporte<br />

(menos aeroespaço)<br />

Com<strong>é</strong>rcio<br />

Químicos<br />

Computadores e Produtos<br />

eletrônicos<br />

Companhia e outros nãofe<strong>de</strong>rais<br />

Fe<strong>de</strong>ral<br />

0 5 10 15 20 25 30 35 40<br />

Bilhões <strong>de</strong> Dólares Correntes<br />

Figura 5.7: Desempenho da P&D Industrial por Indústrias Selecionadas, por Fonte dos<br />

Recursos (adaptado <strong>de</strong> NSF, 2002)<br />

5.4 Localização dos Cenários Normativos dos Principais Atores<br />

Dado o contexto anteriormente exposto, e já caracterizada a pertinência do mercado-<br />

alvo ao MTF, os CN buscados neste caso são os apresentados nas políticas <strong>de</strong> C&T<br />

64


elacionadas ao setor em <strong>que</strong>stão, i.e., o aeroespacial. No caso europeu, <strong>é</strong> utilizado o<br />

plano do “Framework 6” (EUROPEAN COMMISSION, 2002b), <strong>que</strong> <strong>é</strong> o programa <strong>de</strong><br />

financiamento <strong>de</strong> P&D europeu. A semelhança dos objetivos <strong>de</strong>ste programa e dos<br />

programas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tecnologias na fase pr<strong>é</strong>-competitiva da NASA fica<br />

clara nas Figuras 5.8 e 5.9.<br />

No caso norte-americano, como não há política <strong>de</strong> C&T centralizada, mas por<br />

agência (PINELLI et al., 1997), o documento utilizado <strong>é</strong> o “NASA Roadmaps to the<br />

Future: Strategic Roadmaps in Support of the Three Pillars and Ten Goals” (CETS,<br />

1998), programa da NASA lançado em 1997, com a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> metas orientadas a<br />

resultados en<strong>de</strong>reçando as necessida<strong>de</strong>s críticas em P&D aeroespacial a serem atingidas<br />

pela agência. Enten<strong>de</strong>-se <strong>que</strong> as metas apresentadas nestes documentos serão as metas<br />

buscadas pelos executores da P&D, mesmo os privados, uma vez <strong>que</strong> este <strong>é</strong> um<br />

mercado altamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> financiamento governamental (conforme mostrado na<br />

Seção 4.2.3). Um resumo dos principais pontos <strong>que</strong> configuram o CN <strong>é</strong> exposto a<br />

seguir.<br />

65


Programa Framework<br />

Figura 5.8: Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Desenvolvimento Tecnológico Aeronáutico Europeu (adaptado<br />

<strong>de</strong> VON BOSE, 2002b)<br />

Descoberta Viabilida<strong>de</strong> Praticabilida<strong>de</strong> Aplicabilida<strong>de</strong><br />

Universida<strong>de</strong>s (?)<br />

Aquisição Aquisição <strong>de</strong> <strong>de</strong> P&D P&D<br />

Desenvolvimento Desenvolvimento <strong>de</strong> <strong>de</strong> Produto<br />

Produto<br />

Conhecimento Fundamental<br />

Tempo (anos)<br />

Desenvolvimento da Tecnologia<br />

Validação da Tecnologia<br />

NASA<br />

Pesquisa & Desenvolvimento<br />

Boeing<br />

Demonstradores Protótipos<br />

Definição <strong>de</strong> Produto<br />

Centro <strong>de</strong> Tecnologia - FAA<br />

Design <strong>de</strong> Produto e Desenvolvimento<br />

Figura 5.9: Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Desenvolvimento Tecnológico Aeronáutico Norte-Americano<br />

(adaptado <strong>de</strong> KELLEY-WICKEMEYER, 2003)<br />

Tecnologia Pronta<br />

Linha <strong>de</strong> Negócio - FAA<br />

Demonstração do Produto<br />

-10 -5 0 + 5<br />

Produção<br />

Produto Pronto<br />

Desenvolvimento <strong>de</strong> Produto<br />

Boeing<br />

66


5.4.1 Cenário Normativo: EUA e UE<br />

Os CN dos EUA e da UE po<strong>de</strong>m ter suas metas agrupadas em quatro áreas: Segurança;<br />

Meio-ambiente; Infra-Estrutura do Setor A<strong>é</strong>r<strong>eo</strong>; e Custos na Aviação. As metas <strong>que</strong><br />

compõem o CN seguem relacionadas abaixo. Estes textos são baseados nos documentos<br />

European Commission (2002b) e CETS (1998).<br />

Segurança<br />

1. Reduzir a taxa <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> avião em 50% (UE) ou 80% (EUA) no curto<br />

prazo (~ 10 anos) e 80% (UE) ou 90% (EUA), no longo prazo (~25 anos).<br />

2. Obter 100% <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evitar ou compensar erros humanos (UE).<br />

3. Mitigar as conseqüências <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes aeronáuticos com sobreviventes (UE).<br />

4. Reduzir significativamente as conseqüências <strong>de</strong> atos hostis a bordo, durante o<br />

vôo (UE).<br />

Meio-Ambiente<br />

1. Reduzir as emissões <strong>de</strong> CO2 em 50% por passageiro por quilômetro no longo<br />

prazo (~25 anos) (UE), ou por 25%, em 10 anos, por 50% , em um prazo <strong>de</strong> 25<br />

anos, e possivelmente, <strong>de</strong> forma total no período <strong>de</strong> 30 a 40 anos (EUA).<br />

2. Reduzir as emissões <strong>de</strong> NOx em 80% no ciclo <strong>de</strong> pouso e <strong>de</strong>colagem, no longo<br />

prazo (~25 anos) (UE) por 66%, em 10 anos, por um fator <strong>de</strong> 5, em 25 anos, e<br />

possivelmente, totalmente no período <strong>de</strong> 30 a 40 anos (EUA).<br />

3. Reduzir os hidrocarbonetos não-<strong>que</strong>imados e as emissões <strong>de</strong> CO em 50% , no<br />

longo prazo (UE).<br />

67


4. Reduzir o ruído externo em 4 a 5 db e em 10 db no curto e longo-prazo<br />

respectivamente (UE), ou pela meta<strong>de</strong> (10 db) em 10 anos e em 3/4 (20 db) em<br />

25 anos, em comparação aos aviões subsônicos atuais.<br />

5. Reduzir os impactos da manufatura e da manutenção <strong>de</strong> aeronaves e seus<br />

componentes no meio ambiente (UE).<br />

Infra-Estrutura do Transporte A<strong>é</strong>r<strong>eo</strong><br />

1. Melhorar os níveis atuais <strong>de</strong> segurança, levando em conta os níveis <strong>de</strong> tráfego<br />

projetados.<br />

2. Aumentar a capacida<strong>de</strong> do sistema para suportar, <strong>de</strong> maneira segura, três vezes<br />

mais movimento a<strong>é</strong>r<strong>eo</strong>, at<strong>é</strong> 2010 (EUA) ou 2020 (UE).<br />

3. Aumentar a eficiência e a confiabilida<strong>de</strong> do sistema atual, buscando atingir um<br />

atraso m<strong>é</strong>dio máximo <strong>de</strong> 1 minuto por vôo (UE).<br />

4. Maximizar a capacida<strong>de</strong> operacional sob quais<strong>que</strong>r condições meter<strong>eo</strong>lógicas,<br />

<strong>de</strong> modo a suportar o aumento da <strong>de</strong>manda por tráfego (UE).<br />

Custos na Aviação<br />

1. Reduzir os custos da viagem a<strong>é</strong>rea em 25%, em 10 anos, e em 50%, em 25 anos<br />

(EUA).<br />

2. Reduzir os custos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> aeronaves entre 20% e 50%, no curto e<br />

longo-prazo, respectivamente (UE).<br />

3. Reduzir os custos <strong>de</strong> operação <strong>de</strong> aeronaves em 20% e 50%, no curto e longo-<br />

prazo, respectivamente (UE).<br />

4. Aumentar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha do passageiro em relação aos custos <strong>de</strong><br />

viagem, tempo at<strong>é</strong> o <strong>de</strong>stino, serviços <strong>de</strong> bordo e conforto (UE).<br />

68


5.5 Aplicação do CN ao CD<br />

A partir <strong>de</strong>stas metas apresentadas na Seção 5.4.1, e assumindo-se as premissas<br />

necessárias, expostas no MTF e no M<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> Prospectiva, po<strong>de</strong>-se partir para a<br />

construção <strong>de</strong> um CD. Por uma opção metodológica, este trabalho aproxima-se da<br />

abordagem da Royal Dutch Shell <strong>de</strong> Foretelling (MILLET, HONTON, 1991), on<strong>de</strong> a<br />

visão <strong>de</strong> <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> contada como uma história. Desta forma, este CD busca <strong>de</strong>screver o<br />

ambiente dos LCA sob a perspectiva <strong>de</strong> um observador <strong>que</strong> esteja localizado no <strong>futuro</strong>-<br />

alvo, i.e., 2014. Para enri<strong>que</strong>cer os cenários, são agregadas <strong>de</strong>scrições sobre as<br />

tecnologias apresentadas no artigo “Technology Drivers for 21st Century Air<br />

Transportation Systems” (DREW et al., 2003) e <strong>é</strong> realizado um exemplo <strong>de</strong> aplicação da<br />

t<strong>é</strong>cnica <strong>de</strong> Árvores <strong>de</strong> Relevância.<br />

5.5.1 Cenário Descritivo: o Ambiente Tecnológico dos LCAs em 2014<br />

Segurança (incorpora as metas do CN relativas à “Infra-Estrutura do Transporte<br />

A<strong>é</strong>r<strong>eo</strong>”)<br />

“A <strong>de</strong>speito do crescente número <strong>de</strong> vôos, e da instabilida<strong>de</strong> g<strong>eo</strong>política causada pelo<br />

terrorismo internacional, as empresas a<strong>é</strong>reas conseguiram, nos últimos 10 anos, reduzir<br />

significativamente os níveis <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes. A pressão pública motivou os fabricantes <strong>de</strong><br />

aeronaves a projetar e fabricar aviões cada vez mais à prova <strong>de</strong> falhas, e as empresas<br />

a<strong>é</strong>reas a adotar uma forte cultura <strong>de</strong> segurança.<br />

Do lado dos fabricantes, a consecução dos objetivos em segurança foram<br />

largamente suportados pelo forte <strong>de</strong>senvolvimento <strong>que</strong> ocorreu nas tecnologias <strong>de</strong><br />

69


informação e comunicação. Este <strong>de</strong>senvolvimento provocou impactos em diversas<br />

áreas, como a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> simulação dos sistemas aeronáuticos, <strong>que</strong> tornaram as<br />

operações mais eficientes e seguras; a capacitação para o monitoramento do<br />

<strong>de</strong>sempenho da aeronave em vôo, bem como <strong>de</strong> eventos a bordo; o <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

integração <strong>de</strong> sistemas aviônicos inteligentes; o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> para<br />

<strong>de</strong>monstrar o funcionamento dos sistemas em uma simulação full-scale, realizando<br />

<strong>de</strong>sta forma uma avaliação da maturida<strong>de</strong> e segurança <strong>de</strong>stes; o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

sistemas embarcados à prova <strong>de</strong> erros operacionais, atuando fortemente na interface<br />

homem-máquina; o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sistemas <strong>que</strong> permitam visualizar o terreno à<br />

frente, bem como condições climáticas adversas – possibilitando assim a operação<br />

segura sob quais<strong>que</strong>r condições climáticas e ainda sistemas <strong>que</strong> permitam lidar com<br />

situações hostis, tais como seqüestros ou ameaças <strong>de</strong> mísseis.<br />

Tamb<strong>é</strong>m houve mudanças <strong>de</strong> conceito <strong>de</strong> projeto, com a emergência do <strong>de</strong>sign-<br />

for-crash, <strong>que</strong> visa a projetar aeronaves <strong>que</strong> permitam a mitigação das conseqüências<br />

dos aci<strong>de</strong>ntes aeronáuticos, aumentando a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sobrevivência das pessoas a<br />

bordo e ao mesmo tempo diminuindo a gravida<strong>de</strong> dos ferimentos sofridos pelos<br />

sobreviventes.<br />

As tecnologias <strong>de</strong>senvolvidas permitem ao operador trabalhar com padrões <strong>de</strong><br />

segurança cada vez mais elevados, funcionando <strong>de</strong> modo efetivo sob quais<strong>que</strong>r<br />

condições adversas.”<br />

70


Meio-Ambiente<br />

“Ao lado <strong>de</strong> uma operação barata e segura, a socieda<strong>de</strong> impôs a agenda ambiental à<br />

aviação nestes últimos 10 anos. O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tecnologias <strong>que</strong> visavam a tornar<br />

o ciclo <strong>de</strong> vida da aeronave environment-friendly e uma operação com conforto superior<br />

ao usuário foi mandatório para os fabricantes <strong>de</strong> aeronaves.<br />

O gran<strong>de</strong> foco <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, do ponto <strong>de</strong> vista das tecnologias<br />

ambientais, <strong>de</strong>stes últimos 10 anos, foi a redução das emissões e ruídos produzidos<br />

durante a operação e a redução – e em alguns casos eliminação - da toxida<strong>de</strong> dos<br />

materiais utilizados na produção e manutenção <strong>de</strong> aeronaves.<br />

As principais tecnologias <strong>de</strong>senvolvidas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta filosofia foram o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> conceitos <strong>de</strong> projeto <strong>que</strong> permitam soluções tecnológicas para<br />

maior eficiência das aeronaves movidas a hidrocarbonetos, atrav<strong>é</strong>s da redução <strong>de</strong> peso<br />

estrutural, melhorias aerodinâmicas e t<strong>é</strong>rmicas; o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> processos e a<br />

adoção <strong>de</strong> materiais <strong>que</strong> permitam realizar as operações <strong>de</strong> manufatura e manutenção<br />

com poucos, ou nenhum, impacto ambiental; o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> aero-<br />

acústica computacional e novos sistemas, permitindo assim o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

motores e airframes mais eficientes e silenciosos, em benefício tanto dos passageiros<br />

quanto das comunida<strong>de</strong>s; o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sistemas aeronáuticos mais leves e<br />

energeticamente eficientes; e a capacitação para operar com formas alternativas <strong>de</strong><br />

combustível”.<br />

71


Custos na Aviação<br />

“A redução drástica do custo operacional direto (DOC) nos últimos 10 anos, tornou este<br />

o principal fator <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> das empresas a<strong>é</strong>reas. Hoje, a escolha <strong>de</strong> uma<br />

aeronave <strong>de</strong> baixo DOC <strong>é</strong> essencial para a sobrevivência das companhias a<strong>é</strong>reas. Esta<br />

redução só se tornou possível graças ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas tecnologias, as quais<br />

foram incorporadas às aeronaves nestes 10 anos. Neste período, a <strong>que</strong>stão do custo<br />

operacional foi atacada por diversas abordagens.<br />

As tecnologias com maiores impactos no custo operacional, pelo lado do projeto<br />

e construção do airframe, foram a adoção <strong>de</strong> novas configurações aeronáuticas, <strong>que</strong><br />

provocaram rupturas nas eficiências estrutural, energ<strong>é</strong>tica e aerodinâmica, o emprego <strong>de</strong><br />

novos materiais, metálicos e compósitos, <strong>de</strong> alto <strong>de</strong>sempenho, com gran<strong>de</strong>s impactos<br />

tamb<strong>é</strong>m na eficiência estrutural.<br />

Tamb<strong>é</strong>m provocou um gran<strong>de</strong> impacto a utilização <strong>de</strong> processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign<br />

totalmente integrado atrav<strong>é</strong>s simulações ‘full-scale’, aliado ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

processos produtivos altamente eficientes, viabilizados por uma manufatura integrada,<br />

inteligente e flexível.<br />

O gran<strong>de</strong> avanço na eletrônica, e, por conseguinte nas tecnologias <strong>de</strong> informação<br />

e comunicação, tamb<strong>é</strong>m causou uma revolução nos testes e ensaios em vôo, viabilizada<br />

por mo<strong>de</strong>rnos sistemas <strong>de</strong> aquisição e processamento <strong>de</strong> sinais, e nos processos <strong>de</strong><br />

manutenção, atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> gestão da condição da aeronave em tempo real.”<br />

72


O <strong>de</strong>sdobramento das capacida<strong>de</strong>s, aplicações e funcionalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>futuro</strong>s<br />

produtos, e suas respectivas soluções tecnológicas po<strong>de</strong>m ser representados atrav<strong>é</strong>s da<br />

aplicação da t<strong>é</strong>cnica <strong>de</strong> Árvores <strong>de</strong> Relevância. Exemplos pertinentes ao presente<br />

exercício são apresentados nas Figuras 5.10, 5.11, 5.12 e 5.13.<br />

Custo <strong>de</strong> Proprieda<strong>de</strong><br />

(0,31)<br />

DOC<br />

Custos <strong>de</strong> Combustível<br />

(0,16)<br />

Manutenção (0,06)<br />

Figura 5.10: Exemplo <strong>de</strong> Árvore <strong>de</strong> Relevância aplicada ao CD - 1º nível 12<br />

Custo <strong>de</strong> Fabricação<br />

Operação Fabril Custo <strong>de</strong> Materiais<br />

Custo <strong>de</strong> Proprieda<strong>de</strong><br />

(0,31)<br />

Eficiência da<br />

Engenharia<br />

Custo <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento<br />

Novas Maquinas Sistemas Projeto Automção <strong>de</strong> Testes<br />

Novos Processos Mat<strong>é</strong>ria-Prima CAD<br />

Figura 5.11: Exemplo <strong>de</strong> Árvore <strong>de</strong> Relevância aplicada ao CD<br />

Ensaios<br />

Ferramentas <strong>de</strong><br />

Simulação<br />

12<br />

Os números entre parêntese são indicadores do peso <strong>que</strong> cada sub-item representa para o<br />

item acima.<br />

73


Custos <strong>de</strong> Combustível<br />

(0,16)<br />

Peso Aerodinâmica Balanço Energ<strong>é</strong>tico<br />

Estrutura Sistemas Configuração Externa Diminuição do Arrasto Novas Configurações Novos Sistemas<br />

Novos Materiais Sistemas Mais Leves<br />

Novos Materiais para<br />

Cobertura<br />

Novos Conceitos Sistemas Ativos<br />

Figura 5.12: Exemplo <strong>de</strong> Árvore <strong>de</strong> Relevância aplicada ao CD<br />

Diminuição <strong>de</strong> Eventos<br />

Programados<br />

Manutenção on-<strong>de</strong>mand<br />

Manutenção (0,06)<br />

Sistemas <strong>de</strong><br />

Monitoramento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

da aeronave<br />

Eventos Não<br />

Programados<br />

Diagnóstisco e<br />

Prognóstico em temporeal<br />

Sensores Bus Processadores<br />

Figura 5.13: Exemplo <strong>de</strong> Árvore <strong>de</strong> Relevância aplicada ao CD<br />

Dentre as tecnologias e conceitos <strong>que</strong> serão <strong>de</strong>senvolvidos nos próximos 10<br />

anos, <strong>de</strong>ntro do contexto dos LCA’s abordado no cenário aqui apresentado, e suportarão<br />

a emergência das capacida<strong>de</strong>s, aplicações e funcionalida<strong>de</strong>s aqui apresentadas,<br />

<strong>de</strong>stacam-se (DREW et al., 2003):<br />

74


- Novos materiais: Materiais compósitos com fibras feitas <strong>de</strong> nanotubos <strong>de</strong> carbono,<br />

cinco vezes mais fortes do <strong>que</strong> as fibras utilizadas no começo do S<strong>é</strong>culo XXI; ligas<br />

estruturais amorfas, com as ligas <strong>de</strong> Al atingindo as proprieda<strong>de</strong>s mecânicas das ligas <strong>de</strong><br />

Ti, mas com redução <strong>de</strong> 10% do peso; ligas avançadas <strong>de</strong> metálicos, como a ultra-forte<br />

CRES (corrosion-resistant engineered solutions);<br />

- Junção e novos processos <strong>de</strong> fabricação: novas t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> fabricação, como as soldas<br />

a fricção e as colagens estruturas (exot<strong>é</strong>rmicas), permitiram diminuir at<strong>é</strong> 75% dos<br />

números <strong>de</strong> pren<strong>de</strong>dores (como rebites) e provocaram gran<strong>de</strong>s economias nos custos <strong>de</strong><br />

aquisição e ferramental;<br />

- Coberturas: coberturas <strong>que</strong>, <strong>de</strong> forma ambientalmente responsável e <strong>de</strong> custo menor,<br />

protegem áreas susceptíveis à corrosão (e.g. coberturas inteligentes não-cromadas);<br />

- Isolamentos: isolamentos aplicáveis sob forma <strong>de</strong> spray, a serem utilizados ao redor <strong>de</strong><br />

tan<strong>que</strong>s <strong>de</strong> combustível e Auxiliar Power Units (APUs), <strong>de</strong> forma a reduzir o custo <strong>de</strong><br />

montagem e eliminar a característica dos isolamentos anteriores <strong>de</strong> absorverem<br />

umida<strong>de</strong>, o <strong>que</strong> aumentava o peso da aeronave com o passar do tempo;<br />

- Design Super-integrado: abordagem <strong>de</strong> projeto <strong>de</strong> sistemas “super-integrados”, <strong>de</strong><br />

forma a integrar estruturas multifuncionais com diversos componentes, como cablagem,<br />

eletrônicos e isolamentos t<strong>é</strong>rmicos e acústicos.<br />

- Novos sistemas <strong>de</strong> energia: c<strong>é</strong>lulas <strong>de</strong> combustível substituíram as turbinas à gás nas<br />

APUs, promovendo reduções em emissões, ruído e diminuindo o custo <strong>de</strong> operação;<br />

75


- Novos sistemas mais leves e aeronave el<strong>é</strong>trica: pesados sistemas <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> vôo<br />

hidráulicos e pneumáticos foram substituídos por sistemas el<strong>é</strong>tricos, mais leves e menos<br />

complexos;<br />

- Novos combustíveis: aeronave movida a hidrogênio aproxima-se da realida<strong>de</strong>, o <strong>que</strong><br />

trará, em breve, uma redução <strong>de</strong> 2/3 no peso do combustível a ser levado na aeronave.<br />

- Estruturas adaptativas: foram <strong>de</strong>senvolvidas tecnologias <strong>que</strong> permitem uma<br />

reconfiguração das superfícies aerodinâmicas durante o vôo, <strong>de</strong> forma a maximizar o<br />

<strong>de</strong>sempenho em cada etapa da operação. A tecnologia <strong>que</strong> mais contribuiu foi o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mini-atuadores, <strong>que</strong> atuam em conjunto, <strong>de</strong> forma<br />

distribuída.<br />

- Controles <strong>de</strong> vôo “inner-loop”: sistemas aprendizes inteligentes, em conjunto com<br />

t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> controle ótimo levaram a níveis sem prece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> tolerância a falha e<br />

economia <strong>de</strong> combustível. O funcionamento <strong>de</strong>ste sistema se dá atrav<strong>é</strong>s do<br />

“entendimento” do <strong>de</strong>sempenho da aeronave em cada etapa do vôo, atrav<strong>é</strong>s da análise,<br />

realizada pelo c<strong>é</strong>rebro computadorizado da aeronave, <strong>de</strong> dados recebidos <strong>de</strong> sensores<br />

distribuídos. Este “entendimento” <strong>é</strong> utilizado pelo computador para gerar comandos<br />

para os atuadores <strong>de</strong> modo a atingir eficiência ótima e para adaptar-se a eventos não<br />

esperados.<br />

- Controles <strong>de</strong> vôo “outer-loop”: são sistemas <strong>que</strong> gerenciam o movimento <strong>de</strong> cada<br />

avião em relação ao solo e sua vizinhança. A base <strong>de</strong>ste sistema são as combinações <strong>de</strong><br />

76


t<strong>eo</strong>ria <strong>de</strong> controle, comunicação e ciência da informação. As tecnologias <strong>que</strong><br />

viabilizaram esta abordagem são o controle <strong>de</strong> sistemas maciçamente distribuídos,<br />

ligados por sistemas comunicação ultra-rápidos, <strong>que</strong> promovem atualizações do estado<br />

do sistema e comandam cada passo <strong>de</strong> cada elemento. Tudo isto acontece <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma<br />

arquitetura robusta e confiável.<br />

- Plataformas networked super-integradas: o elevado nível <strong>de</strong> integração <strong>de</strong> aviônicos e<br />

comunicação nas aeronaves atuais inclui sistema <strong>de</strong> in-flight entertainment e onboard<br />

office avançados e com funcionalida<strong>de</strong>s muito superiores <strong>que</strong> os <strong>de</strong> 10 anos atrás,<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prognóstico <strong>de</strong> sistemas e sub-sistemas e monitoramento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da<br />

aeronave, <strong>que</strong> permite ações avançadas <strong>de</strong> manutenção e gestão <strong>de</strong> tráfego a<strong>é</strong>r<strong>eo</strong>. Tudo<br />

isto foi viabilizado pelo brutal aumento da largura-<strong>de</strong>-banda disponível proporcionado<br />

pelo <strong>de</strong>senvolvimento da tecnologia <strong>de</strong> nanofotônicos e pelas tecnologias <strong>de</strong> phased<br />

array, por sua vez viabilizada pelos <strong>de</strong>senvolvimentos em semicondutores e em Micro<br />

Electro-Mechanical Systems (MEMS), facilitou a comunicação entre as aeronaves,<br />

sat<strong>é</strong>lites e estações <strong>de</strong> terra.<br />

- Comunicação: sistemas <strong>de</strong> banda larga seguros e ubíquos permitindo comunicações<br />

aeronave-aeronave e aeronave-terra;<br />

- Integração entre veículo, frota e sistemas <strong>de</strong> gestão da saú<strong>de</strong>: ações human-in-the-loop,<br />

totalmente autônomas, ou semi-autônomas, sendo <strong>de</strong>terminadas baseando-se em<br />

consi<strong>de</strong>rações sobre a segurança, objetivo da missão, capacida<strong>de</strong> do veículo e ambiente<br />

externo.<br />

77


- Visão sint<strong>é</strong>tica: combinação precisa <strong>de</strong> 4D navegação/posicionamento e bases <strong>de</strong><br />

dados <strong>de</strong> terreno/aeroporto para criar representações <strong>de</strong> alta fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> do ambiente<br />

externo, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente das condições climáticas (sensores <strong>de</strong> imagem, ATC data-<br />

link).<br />

- Imageamento holográfico: sistemas avançados <strong>de</strong> head-mounted display, combinados<br />

com sistemas <strong>de</strong> escaneamento/tracking <strong>de</strong> retina, permitindo condições <strong>de</strong> augmented<br />

reality.<br />

- Interfaces sensíveis ao to<strong>que</strong>: data-wall interativo, montado em uma tela plana gran<strong>de</strong><br />

combinado com interfaces sensíveis ao to<strong>que</strong>, voltados para reduzir o potencial <strong>de</strong><br />

confusão e erro humano em ambientes complexos e dinâmicos;<br />

- Dispositivos auditivos 3D: áudio espacial provendo noções direcionais, <strong>de</strong> forma a<br />

aumentar a capacida<strong>de</strong> sensitiva, principalmente em condições visuais carregadas.<br />

- Reconhecimento <strong>de</strong> fala: reconhecimento <strong>de</strong> fala em duas-vias, permitindo a tradução<br />

texto-fala e fala-texto, <strong>de</strong> modo a diminuir a carga <strong>de</strong> trabalho dos pilotos.<br />

- Sistemas <strong>de</strong> controle inteligentes: sensores <strong>de</strong> posição e movimento e acurados bancos<br />

<strong>de</strong> dados <strong>de</strong> terrenos aliados a processamento <strong>de</strong> alto <strong>de</strong>sempenho. Estes sistemas<br />

servirão para tomar <strong>de</strong>cisões autônomas em situações <strong>de</strong> risco, prevenindo ou mitigando<br />

falhas humanas.<br />

78


- Operações autônomas <strong>de</strong> veículos: migração das tecnologias <strong>de</strong> UAVs para aeronaves<br />

comerciais.<br />

- Sistemas para usuários: Internet a bordo <strong>de</strong> banda larga, segura, ubíqua, wireless,<br />

conexões seguras com intranets coorporativas via Virtual Private Networks (VPN) e<br />

tecnologias <strong>de</strong> imersão em 3D, com realida<strong>de</strong> virtual móvel e interfaces em linguagem<br />

natural.<br />

79


6 ANÁLISE<br />

Mitroff e Turoff, em seu artigo “Technological Forecasting: Science and/or<br />

Mythology?” (1973), comentam <strong>que</strong> o <strong>que</strong> separa a ciência da mitologia não <strong>é</strong> a mat<strong>é</strong>ria<br />

<strong>de</strong> estudo, mas o m<strong>é</strong>todo. Os autores dizem <strong>que</strong> um estudo <strong>é</strong> científico se for possível<br />

mostrar (I) o <strong>que</strong> <strong>é</strong> preciso controlar durante o processo e (II) como exercer este<br />

controle, <strong>de</strong> forma <strong>que</strong> o estudo seja conduzido <strong>de</strong> maneira controlada e sistemática.<br />

Estas <strong>de</strong>finições são necessárias para comentar o status epistemológico da prospectiva<br />

tecnológica. Sobre esta, os autores pon<strong>de</strong>ram <strong>que</strong>:<br />

“we are just beginning to be aware of the first part, i.e. that the number of things we need to control<br />

(study) in or<strong>de</strong>r to make forecasts is in<strong>de</strong>ed large. At the very minimum we need not only sweep in the<br />

things that the physical and social sciences study, but those that the humanities study as well, e.g. ethics.<br />

In the end, it is the philosophical ability to be self-reflective that separates science from mythology. Self-<br />

reflection implies a realization that as much as our inquiry mo<strong>de</strong>ls <strong>de</strong>scribe and represent reality, they<br />

also <strong>de</strong>scribe and represent us, our psychology.” (MITROFF; TUROFF, 1973)<br />

E eles concluem dizendo <strong>que</strong>:<br />

“When one un<strong>de</strong>rstands the philosophy un<strong>de</strong>rlying what he does, then he is engaged in science; if,<br />

however, he does not un<strong>de</strong>rstand his philosophy, he is engaged in the practice of mythology.”<br />

(MITROFF; TUROFF, 1973)<br />

A partir <strong>de</strong>sta reflexão inicial, <strong>é</strong> pon<strong>de</strong>rado consi<strong>de</strong>rar <strong>que</strong> a avaliação <strong>de</strong> um<br />

m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva <strong>é</strong> muito difícil e <strong>de</strong> <strong>que</strong> os resultados esperados <strong>de</strong>sta avaliação<br />

são dúbios. Por um lado, <strong>de</strong>ve-se, intuitivamente buscar a correspondência da visão <strong>de</strong><br />

80


<strong>futuro</strong> dada pela prospectiva em relação à verda<strong>de</strong>. Entretanto, esta abordagem não <strong>é</strong> a<br />

mais a<strong>de</strong>quada, pois, <strong>de</strong> acordo com a própria <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>futuro</strong> dada neste trabalho,<br />

não existe um único, previsível, <strong>futuro</strong>, sendo o exercício <strong>de</strong> prospectiva uma<br />

ferramenta <strong>de</strong> aprendizado sobre as forças <strong>que</strong> moldarão o <strong>futuro</strong>. Por outro lado <strong>de</strong>ve-<br />

se realizar uma verificação do grau <strong>de</strong> aplicabilida<strong>de</strong> do m<strong>é</strong>todo proposto.<br />

Mesmo não sustentando a suposta cientificida<strong>de</strong> dos m<strong>é</strong>todos <strong>de</strong> prospectiva, <strong>é</strong><br />

salutar buscar se distanciar da pecha “mitologia”. Para tanto, o <strong>de</strong>svendamento <strong>de</strong> seus<br />

mecanismos internos <strong>é</strong> muito importante, e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste intuito, a verificação da<br />

consistência conceitual-metodológica constitui um pilar fundamental.<br />

Uma excelente contribuição a esta empresa <strong>é</strong> dada por Harries (2003), <strong>que</strong><br />

disseca as formas <strong>de</strong> se analisar um processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão baseado em cenários<br />

sob três dimensões: m<strong>é</strong>todos objetivos vs m<strong>é</strong>todos subjetivos (x); m<strong>é</strong>todos focados nas<br />

Metas do Tomador <strong>de</strong> Decisão vs m<strong>é</strong>todos focados na consecução das Metas da T<strong>é</strong>cnica<br />

(y); e m<strong>é</strong>todos práticos vs m<strong>é</strong>todos teóricos (z). (Figura 6.1)<br />

Subjetivo<br />

T<strong>eo</strong>ria<br />

y<br />

Metas do Tomador<br />

<strong>de</strong> Decisão<br />

Metas da<br />

T<strong>é</strong>cnica<br />

Estudos<br />

<strong>de</strong> caso<br />

Análise<br />

Teórica<br />

Estudos<br />

Empíricos<br />

Experimentos<br />

Simulações<br />

Análise Teórica<br />

x Objetivo<br />

Mundo Real<br />

Figura 6.1: Espaço <strong>de</strong> avaliação para t<strong>é</strong>cnicas e m<strong>é</strong>todos para tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão<br />

(adaptado <strong>de</strong> HARRIES, 2003)<br />

z<br />

Prática<br />

M<strong>é</strong>todos<br />

<strong>de</strong> Avaliação<br />

81


Harries (2003) postula e analisa três formas <strong>de</strong> realizar a avaliação das t<strong>é</strong>cnicas e<br />

m<strong>é</strong>todos: Estudos <strong>de</strong> Caso, Estudos Empíricos, e Análise Teórica, sendo <strong>que</strong> a forma<br />

apontada (HARRIES, 2003) como mais interessante <strong>é</strong> a Análise Teórica, on<strong>de</strong> “analysis<br />

is in terms of the method or techni<strong>que</strong>’s gols, from objective or subjective perspectives”.<br />

Este autor sugere ainda a realização <strong>de</strong> um experimento controlado, no intuito <strong>de</strong> a<br />

partir <strong>de</strong>ste realizar a análise.<br />

Desta forma, para realizar uma análise da aplicação do m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva<br />

proposta, este trabalho adota a estrat<strong>é</strong>gia sugerida por Harries (2003). A primeira etapa,<br />

i.e., o experimento controlado, foi realizado no Capítulo 5, tendo o mercado LCA como<br />

espaço <strong>de</strong> prospectiva.<br />

Na etapa seguinte, <strong>de</strong>ve-se revisitar o conceito <strong>de</strong> prospectiva tecnológica<br />

<strong>de</strong>finido no presente trabalho. O intuito <strong>é</strong> levantar-se as características <strong>de</strong>sejáveis <strong>de</strong> um<br />

exercício <strong>de</strong> prospectiva tecnológica, para então avaliar sua consecução na aplicação<br />

realizada.<br />

Conforme <strong>de</strong>finido (p. 21): Prospectiva Tecnológica <strong>é</strong> tanto um processo <strong>que</strong><br />

olha para o <strong>futuro</strong> (a) quanto os resultados (b) obtidos <strong>de</strong>sse processo, antecipando,<br />

projetando ou prevendo capacida<strong>de</strong>s, aplicações e funcionalida<strong>de</strong>s (c) <strong>de</strong> máquinas,<br />

processos e t<strong>é</strong>cnicas. O processo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica <strong>de</strong>ve buscar um<br />

entendimento das forças <strong>que</strong> moldarão a convergência entre os <strong>futuro</strong>s possíveis,<br />

plausíveis, prováveis e <strong>de</strong>sejáveis (d), integrando consi<strong>de</strong>rações t<strong>é</strong>cnicas e não-<br />

t<strong>é</strong>cnicas (e). Deve-se assim buscar uma afirmação <strong>de</strong> cunho probabilístico (f) <strong>que</strong><br />

82


diminua as incertezas e aumente o nível <strong>de</strong> informação (g) a respeito do <strong>futuro</strong>. Seus<br />

resultados, expressos em números ou palavras (h), são apresentados <strong>de</strong> maneira <strong>que</strong><br />

sejam úteis aos tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e elaboradores <strong>de</strong> políticas (i), aumentado<br />

assim seu estado <strong>de</strong> atenção em relação a oportunida<strong>de</strong>s e ameaças futuras (j).<br />

A análise <strong>é</strong> realizada buscando-se, no exercício realizado, evidências <strong>que</strong><br />

caracterizem a consecução dos requisitos <strong>de</strong>stacados na <strong>de</strong>finição acima.<br />

a. “processo <strong>que</strong> olha para o <strong>futuro</strong>”.<br />

O cumprimento <strong>de</strong>ste requisito <strong>é</strong> evi<strong>de</strong>nciado na existência <strong>de</strong> um m<strong>é</strong>todo, constituído<br />

<strong>de</strong> etapas enca<strong>de</strong>adas, as quais buscam projetar uma fotografia <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado<br />

<strong>futuro</strong>.<br />

b. “resultados obtidos <strong>de</strong>sse processo”.<br />

A consecução, neste caso, <strong>é</strong> evi<strong>de</strong>nciada pela <strong>de</strong>scrição apresentada na Seção 5.5.1<br />

como um todo, on<strong>de</strong> <strong>é</strong> apresentado o resultado do processo <strong>de</strong> prospectiva.<br />

c. “antecipando, projetando e prevendo capacida<strong>de</strong>s, aplicações e<br />

funcionalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> máquinas, processos e t<strong>é</strong>cnicas”.<br />

A leitura do texto apresentado na Seção 5.5.1 proporciona uma visão das capacida<strong>de</strong>s,<br />

aplicações e funcionalida<strong>de</strong>s das máquinas, processos e t<strong>é</strong>cnicas <strong>que</strong> compõem o<br />

mercado <strong>de</strong> LCA em 2014. Seguem abaixo algumas evidências retiradas do texto:<br />

i. “capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> simulação dos sistemas aeronáuticos” (p. 69);<br />

83


ii. “a capacitação para o monitoramento do <strong>de</strong>sempenho da aeronave em vôo,<br />

bem como <strong>de</strong> eventos a bordo” (p. 69);<br />

iii. “o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>monstra o funcionamento dos<br />

sistemas em uma simulação full-scale” (p. 69);<br />

iv. “o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sistemas embarcados à prova <strong>de</strong> erros operacionais,<br />

atuando fortemente na interface homem-máquina” (p. 69);<br />

v. “<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sistemas <strong>que</strong> permitam visualizar o terreno à frente,<br />

bem como condições climáticas adversas – possibilitando assim a operação<br />

segura sob quais<strong>que</strong>r condições climáticas” (p. 69);<br />

vi. “sistemas <strong>que</strong> permitam lidar com situações hostis, tais como seqüestros ou<br />

ameaças <strong>de</strong> mísseis” (p. 69);<br />

vii. “emergência do <strong>de</strong>sign-for-crash, <strong>que</strong> visa a projetar aeronaves <strong>que</strong><br />

permitam a mitigação das conseqüências dos aci<strong>de</strong>ntes aeronáuticos,<br />

aumentando a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sobrevivência das pessoas a bordo e ao<br />

mesmo tempo diminuindo a gravida<strong>de</strong> dos ferimentos sofridos pelos<br />

sobreviventes” (p. 70);<br />

viii. “o ciclo <strong>de</strong> vida da aeronave environment-friendly” (p. 70);<br />

84


ix. “a redução das emissões e ruídos produzidos durante a operação e a redução<br />

– e em alguns casos eliminação – da toxida<strong>de</strong> dos materiais utilizados na<br />

produção e manutenção <strong>de</strong> aeronaves” (p. 70);<br />

x. “redução <strong>de</strong> peso estrutural, melhorias aerodinâmicas e t<strong>é</strong>rmicas” (p. 70);<br />

xi. “<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> processos e a adoção <strong>de</strong> materiais <strong>que</strong> permitam<br />

realizar as operações <strong>de</strong> manufatura e manutenção com poucos, ou nenhum,<br />

impacto ambiental” (p. 70-71);<br />

xii. “<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> aero-acústica computacional e novos<br />

sistemas, permitindo assim o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> motores e airframes mais<br />

eficientes e silenciosos” (p. 71);<br />

xiii. “<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sistemas aeronáuticos mais leves e energeticamente<br />

eficientes” (p. 71);<br />

xiv. “capacitação para operar com formas alternativas <strong>de</strong> combustível” (p. 71);<br />

xv. “projeto e construção do airframe, foram a adoção <strong>de</strong> novas configurações<br />

aeronáuticas, <strong>que</strong> provocaram rupturas nas eficiências estrutural, energ<strong>é</strong>tica e<br />

aerodinâmica, o emprego <strong>de</strong> novos materiais, metálicos e compósitos, <strong>de</strong> alto<br />

<strong>de</strong>sempenho, com gran<strong>de</strong>s impactos tamb<strong>é</strong>m na eficiência estrutural” (p. 71);<br />

85


xvi. “processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign totalmente integrado atrav<strong>é</strong>s simulações ‘full-scale’” (p.<br />

71);<br />

xvii. “<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> processos produtivos altamente eficientes, viabilizados<br />

por uma manufatura integrada, inteligente e flexível” (p. 71-72); e<br />

xviii. “mo<strong>de</strong>rnos sistemas <strong>de</strong> aquisição e processamento <strong>de</strong> sinais, e nos processos<br />

<strong>de</strong> manutenção, atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> gestão da condição da aeronave em<br />

tempo real” (p. 72).<br />

d. “buscar um entendimento das forças <strong>que</strong> moldarão a convergência entre<br />

os <strong>futuro</strong>s possíveis, prováveis, <strong>de</strong>sejáveis e plausíveis”.<br />

O MTF (p. 45) <strong>que</strong> serve como base conceitual para o m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva aqui<br />

proposto favorece este entendimento. No MTF, e por conseguinte nas consi<strong>de</strong>rações<br />

apresentadas no exercício <strong>de</strong> prospectiva (p. 54-79), ficam claros os vetores <strong>que</strong><br />

forçarão a convergência <strong>que</strong> moldará o <strong>futuro</strong> real.<br />

e. “integrando consi<strong>de</strong>rações t<strong>é</strong>cnicas e não-t<strong>é</strong>cnicas”.<br />

A utilização <strong>de</strong> dados e conceitos advindos da engenharia aeronáutica, (e.g. “simulação<br />

full-scale”, “t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> aero-acústica computacional” e “<strong>de</strong>sign-for-crash”) ao lado das<br />

consi<strong>de</strong>rações sobre a estrutura do mercado, tanto sob a ótica econômico-comercial<br />

(“mercado oligopolizado”) como sob a óptica <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico (dados<br />

relativos à Política Científica e Tecnológica) evi<strong>de</strong>ncia a consecução <strong>de</strong>ste requisito.<br />

86


f. “afirmação <strong>de</strong> cunho probabilístico”.<br />

Semelhante ao Item d, a evidência aqui adv<strong>é</strong>m do MTF usado. Neste mo<strong>de</strong>lo, o <strong>futuro</strong><br />

consi<strong>de</strong>rado apresenta um forte sentido probabilístico, uma vez <strong>que</strong> a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

previsão, por <strong>de</strong>finição, diminui com o tempo, o <strong>que</strong> indica o crescimento da incerteza.<br />

g. “diminua as incertezas e aumente o nível <strong>de</strong> informação a respeito do<br />

<strong>futuro</strong>”.<br />

Ao apresentar uma visão das capacida<strong>de</strong>s, aplicações e funcionalida<strong>de</strong>s das máquinas,<br />

processos e t<strong>é</strong>cnicas concernentes ao mercado consi<strong>de</strong>rado (Item c) e ao prover uma<br />

compreensão das forças <strong>que</strong> moldam o <strong>futuro</strong> (Item d), po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar <strong>que</strong> as<br />

incertezas são minimizadas.<br />

h. “Seus resultados, expressos em números ou palavras”.<br />

A Seção 5.5.1, on<strong>de</strong> <strong>é</strong> apresentado o resultado do processo <strong>de</strong> prospectiva, <strong>é</strong> uma<br />

evidência da consecução <strong>de</strong>sta meta, no caso com o resultado expresso em palavras. A<br />

utilização <strong>de</strong> números na apresentação do resultado não <strong>é</strong> consi<strong>de</strong>rada no mo<strong>de</strong>lo<br />

proposto. Entretanto esta <strong>é</strong> uma possibilida<strong>de</strong> em aberto, <strong>que</strong> <strong>é</strong> discutida na Seção 7.1.<br />

i. “apresentados <strong>de</strong> maneira <strong>que</strong> sejam úteis aos tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e<br />

elaboradores <strong>de</strong> políticas”.<br />

Esta talvez seja o requisito mais difícil <strong>de</strong> ter seu comprimento referendado a priori,<br />

al<strong>é</strong>m do fato <strong>de</strong> <strong>que</strong> não foi <strong>de</strong>finido um cliente para o exercício realizado. Entretanto,<br />

po<strong>de</strong>-se assumir <strong>que</strong> o atendimento dos Itens c, d e g tornem factível a consecução <strong>de</strong>sta<br />

meta.<br />

87


j. “aumentado assim seu estado <strong>de</strong> atenção em relação a oportunida<strong>de</strong>s e<br />

ameaças futuras”.<br />

Uma vez <strong>que</strong> os Itens c, d, g e i tenham sido cumpridos, po<strong>de</strong>-se concluir <strong>que</strong> o<br />

exercício <strong>de</strong> prospectiva realizado aumentou o estado <strong>de</strong> atenção em relação ao <strong>futuro</strong>.<br />

Um outro ponto <strong>de</strong> análise possível <strong>é</strong> dado por Mishra, Deshmukh e Vrat (2002),<br />

<strong>que</strong>, baseados em uma pesquisa na literatura da área, apontam algumas limitações das<br />

t<strong>é</strong>cnicas qualitativas exploratórias. Dentre estas, as pertinentes ao m<strong>é</strong>todo aqui<br />

apresentado são:<br />

i. Definição e seleção <strong>de</strong> especialistas <strong>é</strong> difícil;<br />

ii. Vi<strong>é</strong>s individual influencia nos m<strong>é</strong>todos <strong>de</strong> avaliação subjetivos;<br />

iii. Designação <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s aos executores da prospectiva <strong>é</strong> difícil;<br />

iv. Valida<strong>de</strong> das premissas no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cenário ten<strong>de</strong> a ser incerta com o<br />

tempo;<br />

v. Fatores sociais, políticos e econômicos são normalmente negligenciados;<br />

vi. Rupturas bruscas em tendências e eventos inesperadas são normalmente<br />

evitados;<br />

vii. Horizonte <strong>de</strong> tempo <strong>é</strong> otimista ou pessimista;<br />

viii. Horizonte <strong>de</strong> tempo não combina com a tecnologia;<br />

ix. Prospecções restritas à visão interna da organização;<br />

x. Muitos especialistas possuem miopia tecnológica; e<br />

xi. Influência <strong>de</strong> outras tecnologias são negligenciadas.<br />

88


O m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva proposto no presente trabalho atenua algumas <strong>de</strong>stas<br />

limitações. Por exemplo, os itens “i” e “x” se referem a <strong>que</strong>stão dos especialistas. No<br />

m<strong>é</strong>todo proposto, este assunto <strong>é</strong> en<strong>de</strong>reçado nas premissas e no MTF, uma vez <strong>que</strong> os<br />

especialistas envolvidos (<strong>de</strong> forma indireta) são os responsáveis pela execução da<br />

política <strong>de</strong> C&T.<br />

Os itens “vii” e “viii”, <strong>que</strong> se referem ao horizonte <strong>de</strong> tempo, são resolvidos no<br />

m<strong>é</strong>todo proposto, uma vez <strong>que</strong> este horizonte <strong>é</strong> <strong>de</strong>terminado <strong>de</strong> forma objetiva ao<br />

assumir-se o horizonte <strong>de</strong> tempo do CN utilizado.<br />

O item “v”, no entanto, <strong>é</strong> o melhor en<strong>de</strong>reçado nesta proposta. O MTF, no qual o<br />

m<strong>é</strong>todo proposto se baseia, tem como premissa fundamental a influência dos fatores<br />

sociais, políticos e econômicos no <strong>de</strong>senvolvimento científico-tecnológico.<br />

Por outro lado, as limitações “vi” e “xi” são i<strong>de</strong>ntificadas no m<strong>é</strong>todo. Estas<br />

limitações po<strong>de</strong>m ser atenuadas em um <strong>de</strong>senvolvimento posterior do m<strong>é</strong>todo, com a<br />

incorporação do ferramental quantitativo, como as análises <strong>de</strong> impacto cruzado e <strong>de</strong><br />

tendências.<br />

Dadas as características apresentadas, e levando-se em conta as melhorias em<br />

relação a outros m<strong>é</strong>todos <strong>de</strong> prospectiva com propósitos semelhantes, conforme<br />

mostrado acima, o m<strong>é</strong>todo aqui <strong>de</strong>scrito po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado a<strong>de</strong>quado para seus<br />

propósitos assumidos.<br />

89


7 CONCLUSÃO<br />

A <strong>de</strong>speito da infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> possíveis configurações do <strong>futuro</strong>, este se concretizará <strong>de</strong><br />

uma única forma. Este único <strong>futuro</strong> – real – <strong>é</strong> a<strong>que</strong>le <strong>que</strong> se constrói no dia-a-dia. Se<br />

não houver um planejamento positivo, se não houver atitu<strong>de</strong> em direção ao <strong>futuro</strong>, o<br />

<strong>futuro</strong> construído por outros irá se impor.<br />

O sucesso <strong>de</strong> um exercício <strong>de</strong> prospectiva tecnológica <strong>é</strong> razoavelmente<br />

imensurável. Entretanto, seu papel no processo <strong>de</strong> planejamento tecnológico <strong>é</strong> claro.<br />

Em um ambiente on<strong>de</strong> a mudança tecnológica <strong>é</strong> ao mesmo tempo o salvador e o algoz<br />

das organizações, o processo <strong>de</strong> aprendizado proporcionado pela prospectiva<br />

tecnológica <strong>é</strong> seu maior trunfo. O <strong>futuro</strong> <strong>é</strong>, por <strong>de</strong>finição, imprevisível, conquanto a<br />

prospectiva tecnológica permite acessar os vetores <strong>de</strong> mudança, e a partir <strong>de</strong>stes tomar<br />

<strong>de</strong>cisões mais conscientes.<br />

Conforme apresentado na Introdução, o objetivo <strong>de</strong>ste trabalho <strong>é</strong> contribuir para a<br />

compreensão da natureza do <strong>futuro</strong> e, a partir das hipóteses correlatas a esta<br />

compreensão, estabelecer um m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica <strong>que</strong> integre<br />

conhecimentos advindos <strong>de</strong> áreas como análise <strong>de</strong> políticas públicas em Ciência &<br />

Tecnologia e filosofia e sociologia da ciência. A hipótese central <strong>de</strong>ste m<strong>é</strong>todo aqui<br />

proposto <strong>é</strong> a <strong>de</strong> <strong>que</strong>, durante a tarefa <strong>de</strong> planejamento tecnológico, quando <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminados contextos <strong>de</strong> mercado, o Cenário Descritivo (CD) assumido po<strong>de</strong> ser<br />

baseado na convergência entre o Cenário Normativo (CN) dos principais atores da<strong>que</strong>le<br />

mercado (normalmente economias centrais) e a tecnologia baseada na ciência normal.<br />

90


O entendimento das forças envolvidas na construção <strong>de</strong>sta convergência, bem<br />

como suas prováveis conseqüências constituem um excelente exercício <strong>de</strong> aprendizado<br />

do <strong>futuro</strong>, pois, al<strong>é</strong>m <strong>de</strong> vislumbrar-se um <strong>futuro</strong> provável, constrói-se um sentimento<br />

<strong>de</strong> alerta e prontidão em relação aos vetores <strong>de</strong> mudança, garantindo robustez ao<br />

processo <strong>de</strong> planejamento. Sob esta perspectiva, o m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica<br />

aqui apresentado, justificado, testado e analisado apresenta resultados satisfatórios.<br />

A veracida<strong>de</strong> da hipótese <strong>de</strong> <strong>que</strong> o CD po<strong>de</strong> ser assumido como igual ao CN,<br />

<strong>de</strong>monstrada no presente trabalho, <strong>é</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor para a execução <strong>de</strong> exercícios <strong>de</strong><br />

planejamento tecnológico, pois permite, <strong>de</strong> maneira simples e rápida, ter uma visão <strong>de</strong><br />

<strong>futuro</strong> sólida e justificada.<br />

Conforme dito no início <strong>de</strong>ste capítulo, o <strong>futuro</strong> <strong>é</strong> inacessível, mas tudo o <strong>que</strong> vier<br />

só existirá em função das ações presentes. À instituição <strong>que</strong> tomar suas <strong>de</strong>cisões alerta<br />

à natureza do <strong>futuro</strong>, a partir do entendimento do presente, a perenização será o<br />

caminho natural.<br />

7.1 Consi<strong>de</strong>rações para Pesquisas Futuras<br />

Como argumenta Go<strong>de</strong>t (2003), ainda <strong>que</strong> a quantificação a qual<strong>que</strong>r preço possa ser<br />

perigosa, os resultados num<strong>é</strong>ricos das t<strong>é</strong>cnicas quantitativas <strong>de</strong> prospectiva provêm<br />

indicadores estimulantes e um valoroso ponto <strong>de</strong> referência. Assim sendo, uma sugestão<br />

<strong>de</strong> continuação para a presente pesquisa <strong>é</strong> a integração do m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva<br />

apresentada com ferramentas quantitativas. Esta integração <strong>de</strong>ve servir para tornar<br />

robusto o processo <strong>de</strong> planejamento tecnológico <strong>que</strong> se segue ao CD aqui proposto.<br />

91


Um exemplo claro <strong>de</strong>sta integração <strong>é</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> árvores <strong>de</strong><br />

relevância, como as apresentadas nas páginas 63 e 64, para todos os cenários. Al<strong>é</strong>m dos<br />

níveis apresentados, estas árvores <strong>de</strong>vem ainda <strong>de</strong>scer at<strong>é</strong> o nível das tecnologias e seus<br />

parâmetros <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho.<br />

Uma outra linha <strong>de</strong> pesquisa <strong>que</strong> po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>rivada do presente trabalho <strong>é</strong> a da<br />

aplicação da hipótese do MTF a outros mercados. Esta aplicação po<strong>de</strong> ser feita <strong>de</strong> duas<br />

gran<strong>de</strong>s maneiras.<br />

A primeira <strong>é</strong> a aplicação do m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva à realida<strong>de</strong> brasileira,<br />

buscando-se capturar nuances da comunida<strong>de</strong> científica nacional.<br />

Por outro lado, po<strong>de</strong>-se fazer algumas hipóteses menos conservadoras a respeito<br />

dos limites operacionais do MTF e aplicar o m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva proposto em<br />

mercados <strong>que</strong> não apresentem todas as características aqui mostradas como essenciais,<br />

principalmente em relação à necessida<strong>de</strong> da Big Science. Esta abertura na abrangência<br />

do m<strong>é</strong>todo <strong>é</strong> muito importante, uma vez <strong>que</strong> po<strong>de</strong> permitir a aplicação em gran<strong>de</strong>s<br />

mercados como o <strong>de</strong> eletrônicos.<br />

92


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2. DATA<br />

3. DOCUMENTO N°<br />

4. N° DE PÁGINAS<br />

TM<br />

5.<br />

TÍTULO E SUBTÍTULO:<br />

06 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2005 CTA/ITA-IEA/TM-002/2005 118<br />

E o <strong>futuro</strong>, <strong>de</strong> <strong>que</strong> <strong>é</strong> <strong>feito</strong> <strong>afinal</strong>? Acerca <strong>de</strong> uma hipótese sobre a natureza do <strong>futuro</strong> e <strong>de</strong> uma proposta<br />

para prospectiva tecnológica<br />

6.<br />

AUTOR(ES):<br />

Denis Lima Balaguer<br />

INSTITUIÇÃO(ÕES)/ÓRGÃO(S) INTERNO(S)/DIVISÃO(ÕES):<br />

Instituto Tecnológico <strong>de</strong> Aeronáutica. Divisão <strong>de</strong> Engenharia Aeronáutica – ITA/IEA<br />

8. PALAVRAS-CHAVE SUGERIDAS PELO AUTOR:<br />

1. Prospectiva Tecnológica. 2. Estudos do Futuro. 3 Suporte à Tomada <strong>de</strong> Decisão. 4. Gestão <strong>de</strong> P&D. 5.<br />

Ciência e Tecnologia Aeroespacial.<br />

9.PALAVRAS-CHAVE RESULTANTES DE INDEXAÇÃO:<br />

Avaliação prospectiva; Futuros possíveis; Planos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento; Planejamento estrat<strong>é</strong>gico;<br />

Tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões; Inovações tecnológicas; Ciência e tecnologia; Pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento;<br />

Administração<br />

10. APRESENTAÇÃO: X Nacional Internacional<br />

ITA, São Jos<strong>é</strong> dos Campos, 2005 118 páginas<br />

11. RESUMO:<br />

O presente trabalho apresenta um m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica <strong>que</strong> busca, atrav<strong>é</strong>s do<br />

entendimento da natureza do <strong>futuro</strong> aqui tamb<strong>é</strong>m mostrada, integrar a visão clássica dos estudos do<br />

<strong>futuro</strong> com aportes advindos dos estudos da ciência & tecnologia. Esta busca preten<strong>de</strong> suportar o<br />

processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>ntro do ambiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> produto, ao fornecer um entendimento das forças <strong>que</strong> moldarão as características e capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

produtos <strong>futuro</strong>s. O trabalho estrutura-se atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> uma seqüência composta por cinco etapas: 1.<br />

<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> prospectiva tecnológica, construída a partir <strong>de</strong> uma revisão <strong>de</strong> <strong>de</strong>finições clássicas; 2.<br />

construção e justificação <strong>de</strong> um Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> Futuro, a partir <strong>de</strong> conhecimentos advindos dos<br />

estudos do <strong>futuro</strong> e dos estudos da ciência & tecnologia; 3. estruturação <strong>de</strong> um m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva<br />

tecnológica, tendo por base o MTF e aportes metodológicos <strong>de</strong> outros m<strong>é</strong>todos <strong>de</strong> prospectiva<br />

referenciados na literatura; 4. aplicação do m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica ao mercado <strong>de</strong> Large<br />

Commercial Aircratf; 5. análise do m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica, utilizando metodologias<br />

sugeridas na literatura da área. O m<strong>é</strong>todo <strong>de</strong> prospectiva tecnológica aqui apresentado, justificado,<br />

testado e analisado apresenta resultados satisfatórios na medida em <strong>que</strong>, conquanto reconhecendo a<br />

imprevisibilida<strong>de</strong> do <strong>futuro</strong>, permite acessar os vetores <strong>de</strong> mudança, e a partir <strong>de</strong>stes tomar <strong>de</strong>cisões mais<br />

conscientes. Al<strong>é</strong>m disto, ao permitir um vislumbre <strong>de</strong> um <strong>futuro</strong> provável, constrói um sentimento <strong>de</strong><br />

alerta e prontidão em relação aos vetores <strong>de</strong> mudança, garantindo robustez ao processo <strong>de</strong> planejamento.<br />

O único <strong>futuro</strong> – real – <strong>é</strong> a<strong>que</strong>le <strong>que</strong> se constrói no dia-a-dia. Se não houver um planejamento positivo, se<br />

não houver atitu<strong>de</strong> em direção ao <strong>futuro</strong>, o <strong>futuro</strong> construído por outros irá se impor.<br />

12. GRAU DE SIGILO:<br />

(X ) OSTENSIVO ( ) RESERVADO ( ) CONFIDENCIAL ( ) SECRETO

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