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Reflexões sobre a formação inicial dos professores de ... - CIMM

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<strong>Reflexões</strong> <strong>sobre</strong> a <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> <strong>dos</strong> <strong>professores</strong> <strong>de</strong> matemática<br />

Mônica Suelen Ferreira <strong>de</strong> Moraes<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Pará<br />

Brasil<br />

monicasuelen@yahoo.com.br<br />

Vagner Viana da Graça<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado do Pará<br />

Brasil<br />

vagnergraca@yahoo.com.br<br />

Pedro Roberto S. da Silva<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado do Pará<br />

Brasil<br />

prof.pedromat@hotmail.com<br />

Pedro Franco <strong>de</strong> Sá<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado do Pará<br />

Brasil<br />

pedro.franco.sa@gmail.com<br />

Resumo<br />

Neste artigo temos como objetivo compreen<strong>de</strong>r a profissionalização e os saberes<br />

docentes na <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> <strong>dos</strong> <strong>professores</strong> <strong>de</strong> matemática na busca <strong>de</strong> uma<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> profissional. Concordamos com a idéia <strong>de</strong> que os saberes que os<br />

<strong>professores</strong> adquirem durante sua <strong>formação</strong> e durante sua vida profissional são em<br />

gran<strong>de</strong> parte responsáveis por seu fazer em sala <strong>de</strong> aula, e que essa <strong>formação</strong><br />

influencia <strong>de</strong> maneira positiva ou negativa na aprendizagem <strong>dos</strong> alunos, em<br />

particular, nas aulas <strong>de</strong> matemática.<br />

Palavras chave: educação, educação matemática, <strong>formação</strong> <strong>de</strong> <strong>professores</strong>, <strong>formação</strong><br />

<strong>inicial</strong>, saberes docentes.<br />

Introdução<br />

Percebemos que a <strong>formação</strong> e o <strong>de</strong>senvolvimento profissional <strong>dos</strong> <strong>professores</strong> é um<br />

problema que tem sido historicamente discutido e que continua vindo à tona em quase to<strong>dos</strong> os<br />

momentos que está em pauta a <strong>formação</strong> do profissional da educação, em especial a <strong>formação</strong> do<br />

Educador Matemático.<br />

Neste sentido, apresentamos na construção <strong>de</strong>ste artigo um estudo bibliográfico acerca da<br />

<strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> <strong>dos</strong> <strong>professores</strong> <strong>de</strong> matemática, enfocando a questão do ensino da álgebra nos<br />

XIII CIAEM-IACME, Recife, Brasil, 2011.


<strong>Reflexões</strong> <strong>sobre</strong> a <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> <strong>dos</strong> <strong>professores</strong> <strong>de</strong> matemática<br />

anos finais do ensino fundamental.<br />

O estudo foi resultado <strong>de</strong> inquietações que surgiram ao longo da nossa prática docente,<br />

como professor <strong>de</strong> matemática e a partir das discussões realizadas nas aulas <strong>de</strong> política e<br />

<strong>formação</strong> <strong>de</strong> <strong>professores</strong> no âmbito do Programa <strong>de</strong> pós-graduação em educação (PPGED-<br />

UEPA).<br />

Po<strong>de</strong>mos dizer que álgebra é um assunto que, em geral, os alunos enfrentam muita<br />

dificulda<strong>de</strong> na aprendizagem, em nossa experiência como professor, sempre nos inquietou o<br />

tratamento que dávamos ao <strong>de</strong>senvolvimento do ensino <strong>de</strong> Álgebra principalmente nos casos <strong>de</strong><br />

fatoração e produtos notáveis.<br />

Na sétima série, principalmente, nossa prática docente em relação ao ensino <strong>de</strong> álgebra se<br />

fazia por constantes contas envolvendo letras, preocupa<strong>dos</strong> em preparar o aluno em reconhecer e<br />

aplicar os casos <strong>de</strong> fatoração e produtos notáveis para que, quando chegasse à oitava série e se<br />

<strong>de</strong>parasse com as equações do segundo grau, sistemas, funções e resolução <strong>de</strong> problemas,<br />

soubesse transferir e aplicar todo aquele conhecimento algébrico nas situações propostas.<br />

Mas, o que acontecia, geralmente, era que os alunos não aprendiam <strong>de</strong> maneira<br />

significativa a fatoração, e diante das situações apresentadas na oitava série, os alunos<br />

<strong>de</strong>monstravam espanto quando tentavam lembrar o que haviam estudado <strong>sobre</strong> produtos<br />

notáveis, fatoração e frações algébricas na sétima série.<br />

Esses fatos nos levaram a pensar que não havia uma aprendizagem efetiva em álgebra, uma<br />

vez que os alunos não eram capazes <strong>de</strong> transferir para situações novas o que haviam<br />

supostamente aprendido. Isto porque o trabalho que fazíamos, convictos <strong>de</strong> que estávamos<br />

acertando, era puramente mecânico e <strong>de</strong>sprovido completamente <strong>de</strong> significado para o aluno.<br />

Diante <strong>de</strong>sse fato constato empiricamente emergiu a seguinte pergunta: a <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong><br />

do professor <strong>de</strong> matemática influencia na prática pedagógica <strong>de</strong>sse profissional?<br />

Neste sentido, buscamos neste artigo compreen<strong>de</strong>r a profissionalização e os saberes<br />

docentes na <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> <strong>dos</strong> <strong>professores</strong> <strong>de</strong> matemática na busca <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

profissional.<br />

Para alcançarmos esse objetivo fizemos uma pesquisa bibliográfica. A partir <strong>de</strong>ssas leituras<br />

elaboramos nossas possíveis respostas.<br />

Este estudo está dividido em duas seções: na primeira seção buscamos compreen<strong>de</strong>r a<br />

profissionalização e os saberes docentes na <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> <strong>de</strong> <strong>professores</strong> <strong>de</strong> matemática; e na<br />

segunda seção relacionamos a <strong>formação</strong> do professor <strong>de</strong> matemática e sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

profissional.<br />

A influência da profissionalização e saberes docentes na <strong>formação</strong> <strong>de</strong> <strong>professores</strong> <strong>de</strong><br />

matemática<br />

Brito e Alves (2008), afirmam que as discussões atuais <strong>sobre</strong> a <strong>formação</strong> docente situam-se<br />

em um movimento, iniciado há cerca <strong>de</strong> duas décadas, que busca a profissionalização do ofício<br />

do ensino. Essa profissionalização pressupõe a <strong>de</strong>finição da natureza <strong>dos</strong> saberes que embasam a<br />

prática docente.<br />

Gauthier et al . (1998) comenta que é preciso consi<strong>de</strong>rar o contexto real em que acontece o<br />

ensino e no qual evolui para que não ocorra a formalização <strong>de</strong> um oficio que não existe e o<br />

XIII CIAEM-IACME, Recife, Brasil, 2011.<br />

2


<strong>Reflexões</strong> <strong>sobre</strong> a <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> <strong>dos</strong> <strong>professores</strong> <strong>de</strong> matemática<br />

ensino seja concebido como uma mobilização <strong>de</strong> vários saberes que forma uma espécie <strong>de</strong><br />

reservatório no qual o professor se abastece para respon<strong>de</strong>r as exigências específicas <strong>de</strong> sua<br />

situação concreta <strong>de</strong> ensino.<br />

Po<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r, segundo Tardif (2003), que o saber em um sentido amplo, engloba os<br />

conhecimentos, as competências, as habilida<strong>de</strong>s e as atitu<strong>de</strong>s, isto é, o “saber, saber-fazer e<br />

saber-ser”. (ibid., p. 255)<br />

Além disso, Tardif et al. ( s/d, p. 33) afirma que os saberes seriam o conjunto <strong>de</strong><br />

conhecimentos, das competências e habilida<strong>de</strong>s que a nossa socieda<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ra suficientemente<br />

úteis ou importantes para serem objetos <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> <strong>formação</strong> institucionaliza<strong>dos</strong>.<br />

Segundo Gauthier et al.(1998) e Tardif et al.(s/d), os <strong>professores</strong>, em sua prática, apóiamse<br />

em saberes heterogêneos que provêm <strong>de</strong> fontes diversas, quais sejam: saber disciplinar; saber<br />

curricular; saber das ciências da educação; saber da tradição pedagógica; saber da experiência e o<br />

saber da ação pedagógica.<br />

O saber disciplinar é o saber resultante das pesquisas nas diversas disciplinas científicas e<br />

do conhecimento do mundo. O saber curricular é o saber presente nos programas, manuais<br />

ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> exercícios.<br />

O saber das ciências da educação é um tipo <strong>de</strong> saber relacionado a questões como<br />

funcionamento e organização da escola, <strong>de</strong>senvolvimento da criança, evolução da profissão <strong>de</strong><br />

professor. O saber da tradição pedagógica é a representação que se faz da profissão mesmo antes<br />

<strong>de</strong> atuar.<br />

O saber da experiência se constitui como algo pessoal, próprio <strong>de</strong> cada professor, que vai<br />

construindo um repertório <strong>de</strong> conhecimentos a partir <strong>de</strong> repetidas experiências.<br />

O saber da ação pedagógica é o saber da experiência <strong>dos</strong> <strong>professores</strong> quando se torna<br />

público e verificado por pesquisas realizadas em sala <strong>de</strong> aula. Os autores colocam que esse tipo<br />

<strong>de</strong> saber é o mais necessário para a profissionalização do ensino e <strong>de</strong>ve ser divulgado e<br />

legitimado por pesquisas, pela própria ação docente, é incorporado na <strong>formação</strong> <strong>de</strong> outros<br />

docentes.<br />

Fiorentini et al (2001) <strong>de</strong>stacam que é preciso conhecer as teorias que estão implícitas nas<br />

práticas <strong>dos</strong> <strong>professores</strong> e, ao mesmo tempo, propiciar condições para que estes avancem no<br />

sentido <strong>de</strong> modificar suas concepções, posturas, crenças e ações <strong>de</strong> práticas educativas.<br />

Segundo Kemmis (1987), a reflexão envolve um processo <strong>de</strong> auto-avaliação, sem ser, no<br />

entanto, individualista, nem in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> valores. Tal reflexão direciona e transforma a<br />

prática educacional e a compreensão acerca do que seja a educação.<br />

Pimenta (2002) afirma que a consi<strong>de</strong>ração da reflexão <strong>sobre</strong> a prática está pautada em uma<br />

análise das implicações sociais, econômicas e políticas que permeiam o ato <strong>de</strong> ensinar e<br />

questiona as condições concretas que o professor tem para refletir. Para a autora, consi<strong>de</strong>rar essas<br />

questões é importante para não incorrer no erro <strong>de</strong> achar que a prática isolada, por si só, é<br />

suficiente para a construção do saber docente, é essencial, também, para que o ato <strong>de</strong> reflexão<br />

não ocasione um individualismo, acreditando-se que se resolvem to<strong>dos</strong> os problemas da prática<br />

ao refletir <strong>sobre</strong> está.<br />

Brito e Alves (2008) comentam que a disciplina didática da matemática é um momento<br />

privilegiado, na <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong>, e que po<strong>de</strong> ocorrer a reflexão coletiva não apenas <strong>sobre</strong> as<br />

XIII CIAEM-IACME, Recife, Brasil, 2011.<br />

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<strong>Reflexões</strong> <strong>sobre</strong> a <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> <strong>dos</strong> <strong>professores</strong> <strong>de</strong> matemática<br />

concepções <strong>dos</strong> futuros <strong>professores</strong> mas também <strong>sobre</strong> as condições sociais, políticas e<br />

econômicas presentes na atuação pedagógica. No entanto, levar os licencian<strong>dos</strong> ao alterar suas<br />

concepções não é tarefas simples.<br />

Segundo Ponte (1992), tal processo <strong>de</strong> mudança, na <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong>, encontra obstáculos<br />

pela falta <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>dos</strong> alunos vivenciarem situações que lhes permitam refletir <strong>sobre</strong><br />

processos educativos.<br />

Brito e Alves (2008), sugerem que a versão provisória das diretrizes curriculares para<br />

cursos <strong>de</strong> licenciatura em matemática (MEC, jun/1999) refere-se aos saberes profissionais<br />

necessários à docência.<br />

Ainda, segundo Brito e Alves (2008), com a resolução CNE/CP1 <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong><br />

2002, ficaram instituídas tais diretrizes que reafirmam a profissionalização da ativida<strong>de</strong> docente:<br />

“a licenciatura é uma licença, ou seja, trata-se <strong>de</strong> uma autorização, permissão ou concessão dada<br />

por uma autorida<strong>de</strong> pública competente para o exercício <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> profissional”. Tal<br />

profissionalização nestas diretrizes, se embasa nas idéias nucleares <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

competências e <strong>de</strong> reflexão <strong>sobre</strong> a prática pedagógica.<br />

Conforme Tardif et al ( s/d, p. 27), nas tendências atuais <strong>de</strong> <strong>formação</strong> docente não é<br />

possível conceber a <strong>formação</strong> geral e a científica <strong>de</strong>svinculadas da <strong>formação</strong> prática, o que<br />

implica que “os formadores universitários são leva<strong>dos</strong> a precisar as contribuições da sua própria<br />

disciplina em função da prática profissional <strong>dos</strong> docentes”<br />

A seguir iremos relacionar a <strong>formação</strong> <strong>de</strong> professor <strong>de</strong> matemática e a sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

profissional.<br />

A relação entre a <strong>formação</strong> <strong>de</strong> professor <strong>de</strong> matemática e a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> profissional<br />

Paiva (2008) informa que em 2001, o conselho nacional <strong>de</strong> educação (CNE) apresentou<br />

diretrizes gerais para a <strong>formação</strong> <strong>de</strong> <strong>professores</strong>, as quais têm implicações diretas na<br />

reformulação <strong>dos</strong> cursos <strong>de</strong> licenciatura e, em particular, no <strong>de</strong> matemática.<br />

A socieda<strong>de</strong> brasileira <strong>de</strong> educação matemática (SBEM) promoveu em 2002 fóruns<br />

estaduais e nacionais para discutir as licenciaturas, elaborando, ao final, um documento síntese<br />

das discussões realizadas nesses fóruns e <strong>de</strong> artigos publica<strong>dos</strong> pela comunida<strong>de</strong> acadêmica da<br />

SBEM.<br />

Paiva (2008) comenta que a Lei <strong>de</strong> diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB) <strong>de</strong><br />

1996 estabeleceu que o professor fosse um profissional da educação que <strong>de</strong>ve ter plano <strong>de</strong><br />

carreira, acesso à <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> e continuada, progressão funcional e condições a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong><br />

trabalho.<br />

Dos pressupostos do título VI <strong>dos</strong> profissionais da educação art.67 da LDB, fica claro o<br />

significado da noção <strong>de</strong> professor como um profissional da educação, sua valorização promovida<br />

pelos sistemas <strong>de</strong> ensino e modo como a <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> e continuada po<strong>de</strong> contribuir para que<br />

o professor se perceba como um profissional.<br />

Paiva (2008) sugere que comecemos com uma das gran<strong>de</strong>s questões do ensinoaprendizagem<br />

que é a “transposição didática” (CHEVALLARD et al, 2001), pois, ensinar uma<br />

disciplina, em nosso caso a matemática, requer <strong>de</strong> quem exerce essa função um domínio <strong>de</strong><br />

conhecimento diferente do exigido para ser matemático.<br />

XIII CIAEM-IACME, Recife, Brasil, 2011.<br />

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<strong>Reflexões</strong> <strong>sobre</strong> a <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> <strong>dos</strong> <strong>professores</strong> <strong>de</strong> matemática<br />

A matemática que se trabalha na escola possui características próprias, que a diferenciam,<br />

em muitos aspectos, das obras originais, <strong>de</strong>vendo ser recriada sob certas condições diferentes das<br />

que propiciaram sua construção <strong>inicial</strong>.<br />

Segundo Chevallard et al (p.135-148), a transposição didática possui algumas etapas e a<br />

última <strong>de</strong>la se dá <strong>de</strong>ntro do processo didático <strong>de</strong> modo a tornar a obra matemática apta a ser<br />

trabalhada no contexto escolar. Cabe, pois, ao professor a autoria <strong>de</strong> uma parte <strong>de</strong>ssa<br />

transposição, o que lhe exige uma competência além <strong>de</strong> conhecimento <strong>dos</strong> conteú<strong>dos</strong> específicos.<br />

Paiva (2008) afirma para que o professor tenha a competência <strong>de</strong> transpor a<strong>de</strong>quadamente<br />

para a sala <strong>de</strong> aula os conteú<strong>dos</strong> a serem trabalha<strong>dos</strong>, alguns saberes <strong>de</strong>vem ser adquiri<strong>dos</strong>.<br />

Ao referir-se aos conhecimentos e competências <strong>de</strong> que um professor precisa para ensinar<br />

uma <strong>de</strong>terminada disciplina, Shulman (1986) distingue três categorias <strong>de</strong> saber: o da disciplina, o<br />

pedagógico-disciplinar e o curricular, e dá uma importância especial ao saber pedagógico<br />

disciplinar por consi<strong>de</strong>rar que este trata das questões <strong>de</strong> ensino-aprendizagem, isto é, da forma<br />

como o professor aborda os conteú<strong>dos</strong> matemáticos em sala <strong>de</strong> aula, <strong>sobre</strong> diversos contextos, e<br />

<strong>de</strong> que maneira os alunos os apren<strong>de</strong>m.<br />

Paiva (2008) salienta que na década <strong>de</strong> 1990, a partir <strong>de</strong> toda a discussão <strong>sobre</strong> <strong>de</strong> quais<br />

saberes um professor precisa para se constituir num profissional da educação, surge a valorização<br />

<strong>dos</strong> saberes da experiência.<br />

As pesquisas <strong>de</strong> Tardif, Lessard e Lahaye(1991), Gauthier e Tardif ( 1997), Tardif (2002),<br />

Gauthier et al (1998), Sztajn ( 1995), Ponte (1996), Fiorentini ( 1999) e Paiva (1999,2001)<br />

apontam para o fato <strong>de</strong> que os saberes que os <strong>professores</strong> adquirem durante sua <strong>formação</strong> e<br />

durante sua vida profissional são em gran<strong>de</strong> parte responsáveis por seu fazer em sala <strong>de</strong> aula.<br />

A partir <strong>de</strong>sses conhecimentos e crenças, é que o professor interpreta compreen<strong>de</strong> e conduz<br />

sua prática docente em relação à matemática constituindo o que po<strong>de</strong>ríamos chamar <strong>de</strong><br />

concepções docentes em ação (PAIVA, 1999).<br />

Na segunda meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 1990, a discussão centra-se na questão do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento profissional do professor. Faz-se necessária uma <strong>formação</strong> que garanta ao<br />

futuro professor ser agente da construção e da gerência <strong>de</strong> seus conhecimentos.<br />

Ponte (1996) se <strong>de</strong>bruça <strong>sobre</strong> a noção <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento profissional <strong>dos</strong> <strong>professores</strong> <strong>de</strong><br />

matemática ressaltando a importância <strong>de</strong> se trabalhar nesta perspectiva por estarmos inseri<strong>dos</strong><br />

numa socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> constantes mudanças, que impõem à escola responsabilida<strong>de</strong>s cada vez<br />

maiores e complexas.<br />

Segundo Gauthier e Tardif (1997, p.37-49), o professor é consi<strong>de</strong>rado um profissional que<br />

reflete ao planejar a ação, durante essa ação e após a ação, construindo dialeticamente seu<br />

conhecimento profissional aliado à teoria que o embasa.<br />

Para Tardif (1991), faz-se necessário que nos tempos atuais a <strong>formação</strong> se baseie numa<br />

nova epistemologia: a “epistemologia da prática”, que ele <strong>de</strong>fine como o estudo do conjunto <strong>de</strong><br />

saberes utiliza<strong>dos</strong> realmente pelos <strong>professores</strong>, em seu espaço <strong>de</strong> trabalho cotidiano, para<br />

<strong>de</strong>sempenhar todas as suas tarefas.<br />

Assim, a <strong>formação</strong> do professor, segundo esta epistemologia, daria um novo significado à<br />

escola e à profissão docente, pois “a prática <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula passa <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> aplicação a campo<br />

<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> conhecimento, conferindo-se legitimida<strong>de</strong> aos saberes práticos” (SALGADO,<br />

XIII CIAEM-IACME, Recife, Brasil, 2011.<br />

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<strong>Reflexões</strong> <strong>sobre</strong> a <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> <strong>dos</strong> <strong>professores</strong> <strong>de</strong> matemática<br />

2003).<br />

A epistemologia da prática tendo o cotidiano do professor como objeto <strong>de</strong> conhecimento<br />

consi<strong>de</strong>ra a integração pessoal e profissional nessa aprendizagem. As dimensões do saber, saber<br />

fazer e saber ser e conviver são i<strong>de</strong>ntificadas no profissional da educação pelos teóricos como<br />

Huberman(2000), Goodson(2000), Perrenoud( 2001) e ponte (1996), que segue essa linha <strong>de</strong><br />

pensamento visando ao <strong>de</strong>senvolvimento profissional, ou seja, buscando a construção <strong>de</strong> uma<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> profissional.<br />

Segundo Nóvoa (2000, p. 16), a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> não é um dado adquirido, não é uma<br />

proprieda<strong>de</strong>, não é um produto, mas um lugar <strong>de</strong> lutas e <strong>de</strong> conflitos, ou ainda, um espaço <strong>de</strong><br />

construção <strong>de</strong> maneiras <strong>de</strong> ser e <strong>de</strong> estar na profissão.<br />

A seguir tercemos nossas consi<strong>de</strong>rações finais.<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

Neste artigo buscamos compreen<strong>de</strong>r se a <strong>formação</strong> <strong>inicial</strong> do professor <strong>de</strong> matemática<br />

influencia na prática pedagógica <strong>de</strong>sse profissional.<br />

Acreditamos que em nossa busca <strong>de</strong> uma <strong>formação</strong> <strong>de</strong> <strong>professores</strong> <strong>de</strong> matemática,<br />

precisamos ter em mente que não existe separação entre os que formam e os que são forma<strong>dos</strong>, e<br />

sim um enfrentamento conjunto <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios que nos levam a mudança <strong>de</strong> concepções e a busca<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> profissional.<br />

Concordamos com a idéia <strong>de</strong> que os saberes que os <strong>professores</strong> adquirem durante sua<br />

<strong>formação</strong> e durante sua vida profissional são em gran<strong>de</strong> parte responsáveis por seu fazer em sala<br />

<strong>de</strong> aula, e que essa <strong>formação</strong> influencia <strong>de</strong> maneira positiva ou negativa na aprendizagem <strong>dos</strong><br />

alunos, em particular, nas aulas <strong>de</strong> matemática.<br />

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