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Obra Completa

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As festas da Rainha Santa<br />

Recebemos pelo correio um artigo<br />

para publicar, com o título de Santos,<br />

procissões e festeiros.<br />

Para avaliar do espírito, com que o<br />

artigo está escripto, transcreveremos<br />

apenas êste episódio:<br />

Quinta feira. — Dia de Corpo de<br />

Deus, nunca ninguém poude contar<br />

com tempo bom. A procissão d hoje<br />

passou-se entre dois aguaceiros. __<br />

Houve êste anno uma innovaçao:<br />

S. Jorge fez política.<br />

O governador civil nao toi a procissão,<br />

fazendo-se representar pelo secretário<br />

geral. S. Jorge, no hm da<br />

procissão, foi em visita ao quartel general,<br />

onde, como de justiça, se achava<br />

apenas o sr. governador civil, o<br />

heroico governador das armas, em<br />

Coimbra, por occasião dos últimos<br />

movimentos de insurreição.<br />

Adeante ía o pagem pallido e<br />

branco, como o alvaiade branco.<br />

Pállido e branco, como um lyrio<br />

branco, correu a esperá-lo D. José<br />

Miranda.<br />

Quando chegou S. Jorge, o sr.<br />

Luís Pereira desceu a escada, numa<br />

correcção austera, numa bella attitude<br />

militar.<br />

S. Jorge mostrou-se satisteito,<br />

affirmou que sempre fôra opinião sua<br />

que Coimbra devia ter um quartel<br />

general; porque (palavras suas) Marte<br />

ílcára sempre bem junto de Minerva<br />

e Vénus.<br />

E sorriu para as senhoras, que<br />

tinham vindo acompanhar o sr. governador<br />

civil. . , .<br />

Perguntou pelo commissario de<br />

polícia antigo, e admirou-se de não<br />

ter chegado ao ceu a voz de Hintze<br />

Ribeiro, que o chamára para Lisboa.<br />

Foi-se. D'aí a pouco, ouvia-se<br />

na Feira, numa descarga rufada, o espirrar<br />

das espingardas constipadas.<br />

O sr. governador civil retirava,<br />

e a melancholia da sua cabeça dominava<br />

a graciosidade das cabeças femi<br />

nis como, no dizer do venerável Fenelon,<br />

dominava a cabeça de suas<br />

aias o rosto triste de Cailypso, que<br />

não podia consolar-se da partida de<br />

Ulysses.<br />

Empallidecia a tarde, a morrer.<br />

A' porta do governo civil, ficara<br />

D. José.<br />

Paravam todos tristes a ver a sua<br />

cabeca pendente, os olhos baixos, a<br />

cabeça caída, a olhar para o chão...<br />

Adivinhava chuva.<br />

Quem assim escreve pretende sernos<br />

agradavel.<br />

E conseguiu-o.<br />

Não publicamos, porém, a carta na<br />

íntegra, porque ella se refere a uma<br />

occorrencia recente, sobre queji Resistência<br />

formulou já a sua opinião.<br />

Insistiremos porém, sobre o facto,<br />

que parece tê-la motivado —o no so<br />

último artigo sobre as festas da Rainha<br />

Santa- .<br />

A projectada ida da ímágem de<br />

Teixeira Lopes á Sé Velha é absurda.<br />

O que terna respeitáveis os festejos<br />

populares é o seu carácter tradiccional.<br />

, .<br />

Por tradicção a ímágem tem de ir<br />

para Santa Cruz, seguindo, em procissão<br />

nocturna, pelas ruas pequeninas da<br />

Baixa, cujas illuminações sam, ha muitos<br />

annos, justamente admiradas.<br />

Nunca se pouparam os habitantes<br />

d'aquellas ruas a sacrifícios, e era sempre<br />

certo o successo daquêlle número<br />

dos festejos. Nada aconselhava pois<br />

uma modificação.<br />

Dizer que esta procissão se tara depois<br />

e porisso nada perderam os festejos<br />

que contarám mais um número novo<br />

é não ver que a primeira vem pre<br />

judicar o successo certo da segunda.<br />

(20), Folhetim da "RESISTENCIA,,<br />

MAXIME RUDE<br />

UMA YÍCTIMA<br />

DO<br />

CONVENTO<br />

VIII<br />

Lambrune trazia o rosto vermelho<br />

como uma papoula, suava, bufava, e<br />

esporeava o cavallo com os dois pés<br />

para entrar com as duas meninas-, que,<br />

mais uma vez, lhe tinham fugido.<br />

— Coronel, disse Argouges, traz o<br />

fogo d'um homem, que volta de uma<br />

expedição.<br />

—-E' verdade! D'uma expedição<br />

contra as Amazonas. Que diabo 1 Já<br />

comprehendo que estas senhoras o vencessenv<br />

ante hontem.<br />

— Porque está vencido ? Não é assim<br />

?<br />

— Vencido ? Conforme ! O meu<br />

amigo Villy é que nunca pensou em habituar<br />

o cavallo a semelhante exercício.<br />

Emmanuel comprehendeu que Herminie<br />

e Alice se tinham divertido a<br />

conservar o coronel em anciedade perpetua.<br />

Mas a disposição, que tinha para<br />

Quanto á novidade do numero, lembra<br />

a originalidade do professor, que<br />

todos os annos publicava as mesmas<br />

prelecções, avisando, todos os annos,<br />

na lição da abertura que naquêlle anno<br />

sairiam com matéria nova e completamente<br />

transformadas.<br />

Além disso é já diffícil encontrar<br />

quem traga a imágem até Santa Cruz,<br />

e nem mesmo isso se faz sem riscos<br />

para a bella obra de Teixeira Lopes.<br />

Para que correr pois um risco<br />

novo ?<br />

Para que alargar a área dos festejos,<br />

quando os recursos pecuniários,<br />

que se pódem prever, e até o interesse<br />

do commércio indicavam a necessidade<br />

de a restringir ?<br />

Parece que esta novidade pretende<br />

encobrir uma espertêsa. Parece querer-se<br />

mostrar que a imágem de Teixeira<br />

Lopes não pôde ser facilmente<br />

transportada, e indicar assim a necessidade<br />

de a fazer substituir por uma<br />

imágem, mal feita em Braga, cóisa vergonhosa<br />

e sem nome, que viria dar ás<br />

testas de Coimbra a nota grosseira e<br />

ridícula das procissões das aldeias do<br />

Minho.<br />

Condemnam a innovação, que pretende<br />

fazer se, o respeito pela tradição,<br />

e o cuidado que deve haver pela<br />

conservação das obras d'arte.<br />

Aí fica a resposta a quem nos interrogou<br />

com tanto espírito.<br />

«Tlieatro «fapooez»<br />

Por falta de espaço reservamos<br />

para o proximo numero um interessante<br />

artigo sobre o theatro japonez.<br />

Que nos desculpe o cavalheiro<br />

que nos honrou com a sua distincta<br />

collaboração.<br />

Selvaj arias<br />

Na noite de segunda para terçafeira<br />

appareceram cortadas umas poucas<br />

d árvores novas, que a câmara<br />

mandara plantar em Mont'arroyo.<br />

Pelo visto, o arboricida que tem<br />

destruído tantas árvores, foi passear<br />

para aquelle local e lá exerceu o seu<br />

malvado intento.<br />

E não se descobrem os nomes dos<br />

heroes nocturnos!<br />

Emquanto e!les destroem, a entreter<br />

a ferocidade do álcool, a policia<br />

descansa e dorme...<br />

*<br />

Também na estrada que vai desta<br />

cidade para Sernache téem sido roladas<br />

as maiores árvores que existem<br />

nas margens, o que causará certamente<br />

a sua morte dentro em pouco tempo.<br />

Correm boatos de que não é extranho<br />

ao caso um empregado da mesma<br />

estrada, que consente aos proprietários<br />

prejudicados pelas árvores, que façam<br />

taes feitos.<br />

Causa pena ver semelhantes destruições,<br />

e impunes os causadores e<br />

consentidores delias.<br />

Pelo sr. vice-presidente da câmara,<br />

sr. dr. José Alberto Pereira de Carvalho,<br />

vai ser feita uma syndicáncia, aos<br />

factos que se deram no incêndio "que<br />

houve na passada segunda feira e que<br />

narrámos no número passado.<br />

se rir do facto, foi contrariada todo o<br />

dia pela obstinação de Herminie em<br />

deixal-o fóra da conversa geral, como<br />

já fizera no dia precedente.<br />

— Hoje deve-me bem um pouco de<br />

musica para me descançar das suas<br />

travessuras, disse Lambrune a Alice<br />

no fim do jantar.<br />

Pegára lhe paternalmente na mão<br />

levára-a para o salão.<br />

Argouges julgou a occasião azada<br />

para se approximár de Herminie.<br />

— Mademoiselle, disse-lhe elle, está<br />

dado o exemplo, é necessário seguil-o,<br />

E ofiereceu o braço a Herminie,<br />

que não poude deixar de o acceitar<br />

Tiveram ambos a mesma commoção;<br />

quebraram se ao mesmo tempo<br />

ás resoluções de Emmanuel e o orgulho<br />

de Herminie.<br />

— A senhora sabe vingar-se bem,<br />

disse Argouges, quando atravessavam<br />

o vestíbulo, que separava a sala de<br />

jantar do salão.<br />

— Vingar-me? Não entendo...<br />

— Entende sim.<br />

— Mas vingar-me de quem e de<br />

quê? replicou Herminie com um resto<br />

de firmeza.<br />

— Vingar-se de mim, minha senhora.<br />

— E porque, senhor Argouges ?<br />

— Porque o mereci bem, respondeu<br />

Argouges, apertando com o braço<br />

contra o peito a mão a arder de Hermínia.<br />

aSKirmtl -Djn^ip 1 i) Iai T i> 19 02<br />

PUBLICAÇÕES<br />

Estrangeirismos, por Candido<br />

de Figueiredo. Lisboa,<br />

Tavares Cardoso & Irmão,<br />

editores, 1902.<br />

Insistindo na tarefa, ha muito emprehendida,<br />

de depurar a língua patria<br />

dos erros e vicios que n'ella se insinuaram<br />

e a deturpam, o sr. Candido<br />

de Figueiredo revela n'este seu ultimo<br />

livro um grande exforço de investigador<br />

paciente, impondo o aos estúdio-,<br />

sos pela intenção honesta que o domina.<br />

Sem concordarmos com todas as<br />

innovações e theorias iconocolastas do<br />

sr. Candido de Figueiredo em matéria<br />

de linguagem — contra que, não ha<br />

muito, um outro illustre philologo se<br />

insurgia, — o sr. Nobre França — não<br />

deixaremos de reconhecer que as deblaterações<br />

do distincto escriptor contra<br />

os galliciparlas sam em grande parte<br />

justas e necessarias.<br />

Principalmente entre os litteratos<br />

que ahi se estão orgulhando do preciosismo<br />

irritante das suas producções, é<br />

vicio entranhado o polvilhar de gallicismos<br />

a sua linguagem arrebicada;<br />

mas se isso é em muitos presumpção<br />

estulta, menos do que desajfeição á pureza<br />

da língua, em muitos outros é<br />

natural o uso d'esses vocábulos, tão<br />

em voga entre nós, que nossos quasi os<br />

julgamos.<br />

Nos Estrangeirismos, porém, o sr.<br />

Candido de Figueiredo não é um intolerante,<br />

reconhecendo que em todos os<br />

tempos e em todas as línguas se tem<br />

feito permutações lexiologicas, e que<br />

na technica scientifica, industrial ou artística<br />

neologismos ha que, não tendo<br />

traducção satisfatória, forçoso é admittir.<br />

O que elle pede — e é justo — é<br />

que a taes palavras se não tire o cunho<br />

estrangeiro, grifando-as ou pondo-as<br />

em itálico.<br />

Apontando e commentando trechos<br />

de vários escriptores e jornalistas inquinados<br />

de gallicismos, o sr. Candido<br />

de Figueiredo accrescenta o seu livro<br />

com um largo repositorio de locuções<br />

latinas, mostrando quândo com propriedade<br />

podem ser empregadas, bem<br />

como a applicação opportuna dos provérbios<br />

ou proloquios francezes, italianos<br />

e allemães, a que tão frequentemente<br />

recorremos.<br />

São, pois, os Estrangeirismos, como<br />

o seu auctor o confessa, um livro prático,<br />

um livro para estudiosos, e como<br />

tal o recommendamos aos nossos leitores,<br />

agradecendo ao distincto escriptor<br />

a amabilidade da sua offerta.<br />

•<br />

Guia Agrícola, por F. Palma<br />

de Vilhena. Porto, Lello<br />

& Irmão, editores, 1902.—<br />

Preço 400 réis.<br />

Dos arrojados editores srs. Lello<br />

& Irmão que com o seu exforço dedi<br />

cado tem enriquecido as lettras pátrias<br />

com as obras dos nossos mais notáveis<br />

escriptores, recebemos este excellente<br />

livro de reconhecida utilidade para todos<br />

os agricultores, pois reúne os esclarecimentos<br />

indispensáveis sob variados<br />

assumptos — viticultura, oenologia,<br />

arboricultura, avicultura, etc., çonhecicimentos<br />

conscienciosamente extrahi-<br />

IX<br />

Quem atravessava o valle de Ser<br />

quigny, e via o castello vermelho e<br />

branco de Villy, a rir no meio de uma<br />

verdura e d'um azul paradisíaco, não<br />

desconfiava, como os que conheciam<br />

a vida dos seus habitantes, que dentro<br />

d'etle se preparava um drama tenebroso<br />

n'aquella quietação luminosa.<br />

De mais, seria necessário que conhecessem,<br />

como nós, os projectos de<br />

condemnada á morte, que se debatiam<br />

no peito de Herminie, e que fatalidade<br />

lançava Herminie e Argouges nos braços<br />

um do outro, para poder preverlhe<br />

as consequências.<br />

O proprio coronel não via tão longe,<br />

e a reserva, que Emmanuel e Herminie<br />

guardavam escrupulosamente nas<br />

suas relações quotidianas, desde que<br />

podiam ser observados, tinha acabado<br />

por lhe fazer acreditar, que Herminie,<br />

depois de um movimento de galanteria,<br />

e Argouges, depois de um accesso<br />

de fatuidade, tinham comprehendido,<br />

que Alice a excellente Alice, a amiga<br />

e a prima os separava para sempre.<br />

Lambrune tinha tanta confiança<br />

n'este novo sentimento d'ella e, por outro<br />

lado, M. eIIe de Croisy continuava a<br />

parecer lhe tam encantadora e tam injustamente<br />

desgraçada, que a ideia de<br />

dos de obras que na especialidade versaram<br />

essas matérias.<br />

Aos srs. Lello & Irmão os nossos<br />

agradecimentos pela gentileza do seu<br />

offerecimento.<br />

CORRESPONDÊNCIA<br />

Figueira. 3o-Maio 902.<br />

Foi ha tempo estabelecida, nesta<br />

cidade, uma casa de culto evangelico,<br />

onde se diffundem e pregam as puras<br />

doutrinas de Christo, sem os mysticismos<br />

e outras adulterações que fanaticos<br />

ingénuos ou demasiado espertos,<br />

lhes téem juntado.<br />

Vão ali, de Lisboa e outras partes,<br />

presbyteros evangelicos fazerem as<br />

suas predicas, estendendo a sua propaganda<br />

ás povoações circunvisinhas, com<br />

que os respectivos pastores de almas<br />

dam uma sorte monumental.<br />

No passado domingo coube a vez<br />

da visita á povoação de Buarcos, indo,<br />

além de bastantes adeptos das doutrinas<br />

evangelistas, o venerando presbytero<br />

sr. Santos Carvalho e o professor<br />

da escola evangelista da Figueira sr.<br />

Coelho.<br />

Como em Buarcos não tivesse sahido<br />

pescado ha bastantes dias, a povoação<br />

dali, a quem um João Velhaco e<br />

congeneres tinham impingido carapetões,<br />

adrede forjados para servirem os<br />

interesses da seita negra, recebeu mal<br />

os propagandistas, attribuindo-lhe a falta<br />

de peixe e portanto as suas misérias.<br />

Na retirada dos visitantes foramlhes<br />

no encalço, e ao passarem pelo lugar<br />

da Praia insultaram-nos e apedrejaram<br />

nos, sendo attingidas varias pessoas<br />

e entre ellas o sr. Coelho.<br />

Semelhante attentado, que é uma<br />

verdadeira selvajaria, merece severo<br />

castigo, não só applicado aos que por<br />

estupidez e infames suggestões commetteram<br />

a acção, mas também aos mandatarios<br />

encobertos, aos velhacos que<br />

por conta de terceiros os incitaram a<br />

isso.<br />

A classe piscatória, na sua quasi<br />

totalidade analphabeta e cheia de crendices<br />

estúpidas, está sempre prompta<br />

a dar credito ás coisas mais inverosímeis,<br />

ás atoardas mais extravagantes.<br />

A questão é espalhadas entre o mulherio,<br />

que este se encarrega de as fazer<br />

acreditar aos crédulos peccadores.<br />

Não se contentam os velhacos<br />

atoar distas em inventarem as patranhas<br />

que deram causa aos insuitos e<br />

apedrejamentos, fôram mais além.<br />

Como na segunda feira as arma<br />

çÕes apanhassem grande quantidade<br />

de peixe, os taes ratazanas espalharam<br />

que a miraculosa pesca era devida<br />

a terem sido expulsos os herejes,<br />

os pedreiros livres, que sam contra a<br />

santa religião cathólica, apostólica, romana.<br />

E as carecas de Buarcos, quando<br />

vêem á cidade, e lhe exprobatn o procedimento<br />

para com os evangelistas,<br />

fa\em gala do Sambenito, e dizem que<br />

ha mais tempo o deviam ter feito; que<br />

se lá voltarem, os taes herejes, lhes ham<br />

de acabar com a casta!<br />

Entendemos que, em matéria de<br />

religião, deve haver o maior respeito<br />

e a máxima liberdade e por isso repugna-nos<br />

ver taes processos empregados<br />

por aquelles que se dizem sectários<br />

duma religião de paz e amor, contra<br />

indivíduos que, de mais a mais,<br />

M. mc de Villy lhe parecia agora absolutamente<br />

natural, que se tinha resolvido<br />

a sondar o terreno, como elle<br />

dizia.<br />

— Em summa, pensava, eu sou um<br />

homem maduro, mas longe ainda de<br />

caduco, porque, quando não digo quantos<br />

annos tenho, ninguém me dá mais<br />

de quarenta e oito. Tenho um nome,<br />

sou coronel, e sou rico, levarei pois a<br />

minha mulher o que M. elle de Croisy<br />

deve desejar mais: uma situação bem<br />

notável na sociedade, e a consideração<br />

de todos. Porque é que os não hade<br />

acceitar com alegria, e ser-me reconhecida<br />

a mulher mais amavel que eu poderia<br />

encontrar no mundo?<br />

N'estas disposições era menos capaz<br />

de sondar o terreno, do que devoral-o<br />

para chegar á conclusão, depois<br />

de uma primeira entrevista. Já, ha<br />

alguns dias, que procurava occasião,<br />

quando, uma manhã, encontrou Herminie<br />

só no jardim.<br />

Que insomnia a fizera levantar mais<br />

cedo ainda do que o costume ? O coronel<br />

achou lhe a causa nos cuidados<br />

da partida, que se approximava mais<br />

e mais, e na entrada para o convento,<br />

cuja porta se fecharia pela ultima vez.<br />

— Seria ser cúmplice d'um suicidio,<br />

murmurava. Aquella fronte com um<br />

véu^ aquelle busto com uma capa,<br />

aquelle pé com uma sandalia, accrescentava<br />

Lambrunne, detalhando tudo o<br />

que n'aguelle momento o impressiona»<br />

tractam de diffundir as doutrinas d'<br />

Christo, existentes nos Evangelhos.<br />

Tal procedimento, alem de crimi<br />

noso e attentatorio da liberdade di<br />

consciência e do respeito que se devi<br />

ter para com as doutrinas e crença<br />

dos outros, para que elles nos respei<br />

tem as nossas, — é contraproducente<br />

pois faz crer que os cathólicos não se<br />

guem as doutrinas do sublime marty<br />

do Gólgotha, e até as aborrecem, poi<br />

perseguem os seus propagandistas.<br />

E' que a verdadeira luz pode dissi<br />

par as trevas em que os theócratas re<br />

trógrados querem conservar o pôvc<br />

para mais facilmente o explorarem<br />

dominarem, e por isso fazem guerr;<br />

de extermínio aos envangelistas.<br />

Quem esta correspondência escre<br />

ve, não é evangelista nem cathólico<br />

mas é liberal, é justo, e portanto con<br />

trario a embuscadas, a actos indecoro<br />

sos, que só servem para enxovalhar o<br />

princípios que tentam defender.<br />

Às doutrinas devem impor-se pc<br />

si, pela sua bondade e excellencia<br />

nunca pela força, pela intriga.<br />

Até breve.<br />

COSMOPOLITA<br />

ANNUNCIOS<br />

Loteria de Santo Antonio<br />

SANTA CASA.<br />

DA<br />

MISERICÓRDIA DE LISBOl<br />

50:0005000<br />

Extracção a 12 de Junho de 190:<br />

Bilhetes a 24|000 réis<br />

Vigésimos a 4$200 réis<br />

A comroissSo administrativa da lot<br />

ria, incuaibe-se de remetter qualquer ec<br />

commenda de bilhetes ou vigésimos, log<br />

que ella seja acompanhada da sua ii<br />

portaneia e mais 75 réis para o segu<br />

do correio.<br />

Quem comprar 10 ou mais bilhet<br />

inteiros tem uma commissão de 3 °/o.<br />

Os pedidos devem ser dirigidos<br />

secretario.<br />

Remettem-se listas a lodos os compradores.<br />

Lisboa, 5 de Maio de 1902.<br />

O SECRETARIO,<br />

José óMuninello.<br />

Passa-se em boas cond<br />

ções um estabelecimento de fa<br />

zendas brancas, bem afregue<br />

zado e com pouco capital, ten<br />

do casa para habitação.<br />

Rua dos Sapateiros, 3!<br />

a 36 se trata com o seu pro<br />

prietario.<br />

va. E' impossível I Se fizer uma loucu<br />

ra, logo se vê. Irra! Mais vale isso dc<br />

que deixar commetter um crime.,<br />

O coronel estava sériamente com<br />

movido. Apezar de estar de sobre<br />

casaca, n'aquelia manhã, puzera um<br />

képi, por habito militar, quando descera<br />

para o jardim. Levantou a pala<br />

com um gesto rápido, como costumava<br />

fazer, quando dirigia um ataque.<br />

.Apezar de tudo hesitou, quando,<br />

depois de ter cumprimentado Herminie,<br />

se viu em pé defronte d'ella.<br />

Mademoiselle de Croisy tinha a cabeça<br />

envolta n'uma mantilha antiga de<br />

renda de Bayeux; dos seus bandós sahiam<br />

mechas de cabello doirado;<br />

meninas dos olhos dilatavam-se,<br />

sombra dos cilios grandes, n'um deslumbramento<br />

de claridade mysteriosa,<br />

e a cabeça voltada de trez quartos,<br />

como á espreita, por cima do hombro,<br />

era d'uma elegancia de encantar os<br />

mais delicados e d'uma decisão capaz<br />

de intimidar os mais afoitos.<br />

— Minha senhora, disse Lambrunne,<br />

v. ex. â tem talvez horror dos indiscretos.<br />

Consente porém que um amigo<br />

sincero a console se soffre ?<br />

_ —Se soffro? respondeu Herminie,<br />

não percebendo ainda onde queria chegar<br />

o coronel. E de que pensa o sr.<br />

que eu soffro?<br />

(Continúa.)

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