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Editor<br />
Manuel d'01iveira Amaral<br />
PUBLICA-SE AOS DOMINGOS E QUINTAS FEIRAS<br />
Redacção e administração, rua Ferreira Borges, 135<br />
OfBcina typogrâphíca<br />
Rua Martins de Carvalho, 7 e 9<br />
N.° 7 0 6 8.° A N N O<br />
EXPEDIENTE<br />
A administração da RESISTEN-<br />
CIA previne os seus estimáveis assignantes<br />
de fóra de CoimStra. que<br />
para as respectivas estações telegrapbo-postnes<br />
foram expedidos<br />
os recibos das suas assignaturas,<br />
respeitantes ao B.° semestre.<br />
Afim de se evitarem despesas*<br />
que muito podem sobrecarregar a<br />
em preza d*este jornal, esperamos<br />
que os recibos sejam satisfeitos<br />
logo que forem apresentados.<br />
Para as localidades onde não<br />
lia cobrança postal* foram os recibos<br />
enviados para a estação<br />
mais próxima.<br />
Os recibos dos srs. assignantes<br />
da Figueira e de Cantanhede encontram-se<br />
em poder dos nossos<br />
estimáveis correligionários srs.<br />
Adriano Dias Siarata Salgueiro e<br />
Antonio Francisco Paes, respectivamente.<br />
0 Administrador,<br />
João Gornes Moreira.<br />
EXPLICAÇÕES<br />
As considerações que muito sinceramente<br />
ousamos expender ácerca<br />
da attitude do partido republicano<br />
na presente conjunctura, mereceram<br />
a alguns dos nossos correligionários<br />
registo e applauso, e<br />
provocaram, a outros, magoados<br />
reparos e desnecessárias justificações.<br />
Ainda bem que nas nossas palavras<br />
se reconheceu evidente sinceridade,<br />
e que 'se não tomáram á<br />
conta de = rebeldia impertinente as<br />
reflexões dum obscuro combatente<br />
republicano que, embora ferido por<br />
muitas desillusões, ousa ainda erguer<br />
os olhos para a luz confortadora<br />
das esperanças.<br />
Mas, porque nas considerações<br />
que um eminente jornalista republicano—<br />
um alto espírito doublé<br />
dum nobilíssimo caracter — appensa,<br />
a geito de commentário, ás nos<br />
sas palavras, julgamos descobrir o<br />
intuito de repellir censuras que não<br />
fizemos, ou offensas que não podiam<br />
comportar-se nas nossas honestas<br />
intenções—necessário se torna<br />
explicarmomos, leal e francamente.<br />
Não!<br />
Nós não podíamos investir e<br />
maltratar a descrença de ninguém,<br />
a maneira pessoal de encarar a situação,<br />
a atlitude de quasi absoluta<br />
passividade que até certo ponto<br />
reputámos uma resultante lógica<br />
dos acontecimentos, e muito menos,<br />
por nossa muita sinceridade,<br />
seriamos capazes de investir e maltratar<br />
quem, havendo sido um esforçado<br />
e brilhante luctador, abandona,<br />
alquebrado pelo desalento,<br />
o seu posto de combate, sem todavia<br />
fugir á communhão ideal dos<br />
nossos princípios e sem procurar<br />
render pelo scepticismo os que se<br />
sentem ainda bastante fortes para<br />
não depôr a espada.<br />
Não!<br />
Podiamòs lamentar a resolução<br />
do nosso illustre correligionário,<br />
mas respeita-la-iamos, como era indeclinável<br />
dever faze-lo.<br />
De resto, não foram as suas pa-<br />
lavras, que provocaram as nossas<br />
reflexões. O combatente, que annunciava<br />
recolher-se, desesperançado,<br />
á contemplação triste dêste<br />
charco infecto, impunha se uma<br />
missão que para nós importa já<br />
um valioso adjuctorio: fa\er história.<br />
Isso é alguma coisa, é muito<br />
até.<br />
Fa\er história, ligar aos acontecimentos<br />
o commentário incivo<br />
e austero, equivale, não raro, a quebrar<br />
desalentos e a despertar adormecidos<br />
brios.<br />
Que muito que um dia este<br />
povo, accordado a tagantadas rijas,<br />
e revendo-se nas suas ignominiosas<br />
faltas, sinta renascer nelle o instincto<br />
pundonoroso, bravo, cavalheiresco,<br />
de resgatar-se e viver? Desalentos,<br />
também os temos tido.<br />
E' isso uma falta P Não.<br />
Já recolhemos, por vezes, á<br />
abstenção; mas quando soava a<br />
hora da lucta, voltávamos a occupar<br />
o nosso pôsto de combate.<br />
Incoheréncia ? Não. Quantas<br />
vezes se julga calcinado e para<br />
sempre estéril o terreno onde morreram<br />
as nossas melhores esperanças:<br />
e quantas vezes também êsse<br />
sôlo árido se abre, como fecundado<br />
por extranho poder, e as esperanças<br />
renascem, vicejam e se avigoram!<br />
Num dos mais bellos artigos<br />
com que o correligionário illustre,<br />
a quem nos dirigimos, tem abrilhantado<br />
o jornalismo republicano, encontrámos,<br />
ha tempos, estas palavras<br />
de um profundo desalento.<br />
«Ha alguma coisa mais triste<br />
do que não ter uma pátria: e ter<br />
uma pátria e essa pátria ser isto.»<br />
Só então elle reputava isto um<br />
charco infecto e vil. . .<br />
E depois o luctador ganhou fé,<br />
e voltou a combater pela sua causa,<br />
com o brilho, a galhardia, e a forte<br />
sinceridade que sempre lhe reconhecemos<br />
e que agora não podíamos<br />
desmentir, numas breves linhas<br />
de incitamento.<br />
Não!<br />
Não o quizemos investir e maltratar,<br />
que, no dia do triumpho, se<br />
elle chegar, seremos os primeiros<br />
a saudar os velhos luctadores cançados<br />
em cuja fé e em cujo ardor<br />
aprendemos a ser crentes e fortes,<br />
que com a licção da sua vida nos<br />
ensinaram a ser honestos e justos.<br />
Creia-o o nosso correligionário,<br />
que pela sinceridade destas palavras<br />
responde o nosso passado de<br />
lucta desinteressada, insistente, sem<br />
mácula.<br />
Dizemos acima que não foram<br />
as palavras do illuslrado collaborador<br />
do Norte que provocaram as<br />
nossas reflexões.<br />
Assim é.<br />
Num camarada democrático da<br />
província encontramos esta doutrina:<br />
«E o que nos resta, a nós que<br />
nos acahavamos ligados ao país pelo<br />
compromisso de o salvar, é dispersarmos.<br />
«O partido republicano já nada<br />
pode fazer como factor dessa grande<br />
obra da regeneração nacional com<br />
tanto enthusiasmo tentada.<br />
«Com a Patria deve morrer, não<br />
a ideia republicana, que essa é immortal,<br />
mas a concentração partidaria,<br />
que se aggrupára em volta<br />
dos generosos princípios.<br />
«Basta de sacrifícios, de heróicas<br />
abnegações, de incomprehendido patriotimo.<br />
Soou a hora da debandada<br />
geral.<br />
«A Pátria é morta. Recolhamos<br />
a nossas casas, chorando-a.»<br />
Não concordámos, e por isso a<br />
combatemos, com a sinceridade que<br />
nos caracterisa.<br />
Longe de nós, porém, o intento<br />
de aggravar correligionários, que<br />
muito prezámos, e com quem mantemos<br />
até, pessoalmente, estreitas<br />
relações de cordealidade.<br />
Se ha coisa que nos contriste é<br />
presenciar dessidéneias, é ter que<br />
commentar conflictos a dentro do<br />
nosso partido; como poderíamos,<br />
então, ter o intuito de provocá-los?<br />
De resto, muito lealmente o dissemos<br />
fiando muito da nunca desmentida<br />
sinceridade dos nossos correligionários,<br />
que tal doutrina era<br />
um grito perdoável de amargura e<br />
desespero.<br />
*<br />
Discutimos um ponto de doutrina:<br />
divergimos, mas não duvidámos<br />
nem podíamos duvidar da sinceridade<br />
de ninguém.<br />
E cremos que estas explicações<br />
bastam a deslazer quaesquer dúvidas.<br />
Assim o esperámos.<br />
•<br />
•foguinlio<br />
Já regressáram de Lisbôa os mesários<br />
da Real confraria da Rainha Santa<br />
Izabel, que tinham ido convidar SS.<br />
Majestades para assistirem ás festas.<br />
Fôram recebidos por S. Majestade<br />
a Rainha com o sorriso habitual.<br />
íam para fallar a El-Rei; mas a<br />
Rainha disse-lhes que não estava, que<br />
andava no mar ao peixe.<br />
E' o jogo de creanças conhecido:<br />
Rei, Rainha<br />
Foi ao mar<br />
Buscar sardinha...<br />
Sua Majestade a Rainha mostrou o<br />
seu desejo de vir assistir ás festas e á<br />
reabertura da Sé Velha, disse, porém,<br />
que só. depois da vinda de El-Rei, tomariam<br />
a resolução definitiva, que opportunamente<br />
fariam saber á mêsa.<br />
Diz-se que provavelmente não vêem.<br />
A mêsa não contava com esta resolução.<br />
Não nos admira.<br />
Os commissionados da real confraria<br />
vieram contudo penhorados com a<br />
forma captivante porque fôram recebidos<br />
por S. Majestade a Rainha.<br />
Pudera!<br />
Até brincaram...<br />
Bibliotheca da Universidade<br />
O sr. dr. Mendez dos Remédios,<br />
actual director da Bibliotheca da Universidade,<br />
tem desempenhado o seu<br />
cargo duma fórma honrosa, que muito<br />
nos apraz registrar.<br />
Na Bibliotheca da Universi lade, ha<br />
falta de pessoal e de recursos pecuniários.<br />
Apezar disso, com uma cuidadosa<br />
administração, com a bôa distribuição<br />
do trabalho, e com escrúpulo<br />
na escolha dos livros, ultimamente comprados,<br />
tem-se conseguido augmentar<br />
o material de estudo, e continuar na<br />
catalogação, ha tanto tempo começada.<br />
A' iniciativa do sr. dr. Mendez dos<br />
Remédios se deve a publicação do boletim<br />
mensal, indicando os livros com-<br />
prados, os ofterecidos, e começando o<br />
catálogo e publicação dos manuscriptos.<br />
Nêste trabalho tem tido a cooperação<br />
leal e valiosa do sr. dr. Augusto<br />
Mendez, tam conhecido pela sua modéstia,<br />
como pela sua erudicção.<br />
O sr. dr. Mendez dos Remédios<br />
tem voltado a sua attenção para os<br />
poucos manuscriptos illuminados existentes<br />
naquêlle estabelecimento.<br />
Tem em preparação um estudo sobre<br />
o manuscripto, cm caracteres hebraicos,<br />
bem conhecido de todos, pela<br />
bellêza dos desenhos, como pelos preços<br />
phantasiosos, que se conta terem<br />
sido oíferecidos, como de costume, por<br />
inglêses.<br />
Havia, no começo d'este códice manuscripto,<br />
algumas inscripções, em que<br />
se supunha escar a explicação daquelle<br />
manuscripto, que fóra comprado no<br />
extranjeiro, e que estava em poder da<br />
Universidade desde o século XVIII.<br />
As inscripçôes eram em hebraico,<br />
e pela sua leitura se viu que indicavam<br />
apenas os nomes dos diversos possuidores,<br />
e encerravam apontamentos particulares<br />
da sua vida.<br />
Deprehende-se também delias que<br />
o códice já estava escripto no século<br />
XIV.<br />
Do lindo livro d'horas, do século<br />
XVI, que a Bibliotheca possue, tinham<br />
desapparecido, ha muito, quatro illuminuras.<br />
Foram oíferec^das ao sr. dr. Mendez<br />
dos Remédios, para comprar, duas<br />
illuminuras, que representam o calvário<br />
e o pentecostes, com a mesma cer<br />
cadura, o mesmo tamanho, que as do<br />
manuscripto.<br />
O exame do trabalho de illuminura<br />
indica claramente o mesmo pincel que<br />
fêz as do livro d'horas. Eram evidentemente<br />
duas das quatro, que haviam<br />
sido roubadas.<br />
O sr. dr. Mendez dos Remédios<br />
sollicitou dos poderes superiores aucto<br />
risação para fazer a compra; não havendo<br />
verba no orçamento, sua ex. a ,<br />
para não deixar perder a occasião, que<br />
se lhe offerecia, de completar o bello<br />
códice, comprou-as por sua conta, de<br />
positando as na bibliotheca, até que<br />
possa fazer-se a compra official, que é<br />
de esperar das estações competentes.<br />
E' um facto digno de louvor por si,<br />
e pela sua raridade em Portugal.<br />
Soveral<br />
O José d'Alpoim, no 'Primeiro de<br />
Janeiro, referindo-se ao Soveral, dizlhe<br />
várias graças, que muito devem<br />
maguar o illustre homem d'estado, de<br />
que a Pesqueira se orgulha.<br />
Não acha o sr. José d'Alpoim que<br />
possa ser tomado a sério quem, como<br />
manifestação de aptidão parlamentar,<br />
tem apenas um discurso de sete minutos.<br />
Para nós é esse o seu único valor.<br />
Ha quem lhe gabe também o bom<br />
córte do fato.<br />
Elogia porém o sr. José d'Alpoim<br />
os serviços que nos tem prestado o<br />
sr. Soveral na côrte inglêsa, e dá lhe<br />
de conselho que se deixe ficar por lá,<br />
onde o perdem com mimo, e onde nos<br />
pôde ser util.<br />
Em Inglaterra, é bom, cá...<br />
Cá, é um concorrente a mais.<br />
Pesca milagrosa<br />
El-Rei continua a andar no mar, á<br />
pesca.<br />
De lá tem mandado a sua majesta<br />
de a rainha peixe e mais peixe<br />
O Século até publicou a lista minuciosa<br />
dos peixes que sua majestade<br />
mandou. Sam peixes vulgares.<br />
A pesca d'el-rei nem parece pesca<br />
real.<br />
Sua majestade a rainha tem distribuído<br />
o peixe pelas casas de beneficência<br />
de Lisbôa, e tem colhido bênçãos.<br />
Pesca nj> mar e pesca na terra,<br />
Republica Franceza<br />
Encontra se resolvida a crise, provocada<br />
pela demissão do ministério<br />
Waldeck Rousseau, e annunciada ao<br />
presidente Loubet pela seguinte carta<br />
eloquente de singeleza e de verdade:<br />
Sr. Presidente da Republica<br />
«O voto emittido pela camara, no<br />
dia 12 de junho de 1899, traçóu o programma<br />
do ministério que, durante<br />
tres annos, tive a grande honra de presidir.<br />
«Esse programma está hoje cumprido.<br />
As agitações violentas, que ameaçavam<br />
a ordem publica, acabaram ha<br />
muito tempo. A Republica, a despeito<br />
d um esforço sem precedentes, saiu<br />
victoriosamente duma ultima prova.<br />
Uma maioria mais forte, e não menos<br />
unida do que a precedente, assegura<br />
não só a manutenção como o desenvolvimento<br />
das suas instituições.<br />
«Se, porém, graças ao appoio constante<br />
do espirito politico das duas Camaras,<br />
ao concurso dedicadíssimo dos<br />
meus collegas, me foi possível corresponder<br />
á confiança que o sr. presidente<br />
me testemunhou, as minhas forças<br />
não egualaram a minha boa vontade.<br />
E' isso que me não permitte desempenhar<br />
mais tempo funeções que exigem,<br />
para serem bem desempenhadas, uma<br />
continua actividade.<br />
«Chegou o momento em que posso^<br />
e devo entregar intacto nas suas<br />
mãos, sr. presidente, o precioso deposito<br />
que nos fôra confiado. Os meus<br />
collegas e eu conservaremos uma recordação<br />
indelevel da benevolencia com<br />
que sempre o sr. presidente nos honrou.<br />
«Digne se acceitar, sr. presidente,<br />
a homenagem da nossa respeitosa e<br />
profunda dedicação.<br />
O presidente do conselho, ministro<br />
do Interior e dos Cultos,<br />
Waldeck Rousseau.»<br />
A fórma porque Waldeck Rousseau<br />
e os seus companheiros de ministério<br />
acabam de abandonar o poder é um<br />
soberbo triumpho de coherencia e de<br />
princípios, que surprehendeu o mundo<br />
inteiro.<br />
Na verdade, deixar o governo, ena<br />
plena victoria da sua politica, é uma<br />
pratica que até hoje não foi seguida<br />
em nenhum reg : men representativo,<br />
onde os governos só caem com um<br />
voto adverso do parlamento, quer derrotados<br />
pela regeição de um projecto<br />
de lei, quer num conflicto de ordem publica,<br />
ou ainda numa questão de confianca.<br />
Waldeck-Rousseau abandonou serena<br />
e friamente as cadeiras do poder,<br />
respeitando a condição essencial de<br />
toda a democracia pura, — possuir um<br />
regimen de constante renovação, afim<br />
de que se realise o principio impessoal<br />
da Republica, evitando as oligarchias.<br />
A obra de Waldeck e dos seus<br />
companheiros terá strenuos defensores<br />
e continuadores.<br />
A Republica está bem defendida,<br />
pois nunca a França possuiu um governo<br />
tão radical e homogeneo, como<br />
aquelle que Combes acaba de organizar.<br />
O novo ministério ficou assim constituído:<br />
Presidente do conselho, ministra do Interior e dos<br />
Cultos — Combes.<br />
Ministro da justiça — Vallé.<br />
Ministro dos negocios estranjelros — Delcassé.<br />
Ministro da guerra — General André.<br />
Ministro das obras pubilcas — Maruéjouls.<br />
Ministro da instrucção publica — Chaumié,<br />
Ministro da marinha — Pelletan.<br />
Ministro das colonlas — Doumergue.<br />
Ministro do commércio — Troullot.<br />
Ministro da agricultura — Mougeot.<br />
Ministro da tenda — Rouvier.<br />
Saberão defender a Republica e<br />
aniquilar de vez o clericalismo.<br />
Emfim—o progresso não anda para<br />
traz, notava ontem o sr. Navarro..,<br />
Até o Navarro!,.,