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Intertextualidade

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A sátira apresenta um efeito moralizante, denunciando os vícios e os defeitos sociais,<br />

revelando, nessa medida, uma certa tendência conservadora de proteger a sociedade, indignando-<br />

se com os vícios que a corrompem, através de sua ridicularização. O discurso satírico é<br />

moralista: carrega-se de uma ideologia para eliminar outra ideologia. E essa atitude contra-<br />

ideológica faz confundir sátira e paródia.<br />

O motivo da paródia liga-se a um outro texto discursivo, o da sátira liga-se ao tecido social,<br />

uma vez que ela se revela como uma manifestação que tem como referente o mundo, a sociedade.<br />

Seu objetivo é moral: ridiculariza para aperfeiçoar. Entretanto, como vimos, a sátira usa, não raro,<br />

formas de arte paródicas, para atingir o seu fim. A paródia pode manter relações com a sátira, mas<br />

mantém-se distinta dela. O que se observa é que sátira e paródia são gêneros que vêm sendo<br />

utilizados concomitantemente. Tanto um como outro implicam distanciamento crítico e, logo,<br />

julgamento de valor. Todavia, a sátira utiliza geralmente essa distância para fazer uma afirmação<br />

negativa acerca daquilo que é satirizado: distorcendo, depreciando, ferindo.<br />

Na paródia, no entanto, verifica-se não haver, necessariamente, um julgamento negativo<br />

sugerido no contraste irônico dos textos. Como exemplo, leia o seguinte poema de Adélia Prado,<br />

intitulado “Com licença poética”:<br />

Quando nasci um anjo esbelto,<br />

desses que tocam trombeta, anunciou:<br />

vai carregar bandeira.<br />

Cargo muito pesado pra mulher,<br />

esta espécie ainda envergonhada.<br />

Aceito os subterfúgios que me cabem,<br />

sem precisar mentir.<br />

Não sou tão feia que não possa casar,<br />

acho o Rio de Janeiro uma beleza e<br />

ora sim, ora não, creio em parto sem dor.<br />

Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.<br />

Inauguro linhagens, fundo reinos<br />

- dor não é amargura.<br />

Minha tristeza não tem pedigree,<br />

já a minha vontade da alegria,<br />

sua raiz vai ao meu mil avô.<br />

Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.<br />

Mulher é desdobrável. Eu sou.<br />

Observe que já a partir do título a autora posiciona-se de modo respeitoso ao texto por ela<br />

apropriado. O poema não revela uma postura de desacato ao texto de Carlos Drummond de<br />

Andrade, “Poema das sete faces”, que assim se inicia:

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