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Pastiche<br />

Apresentando elementos próximos e ao mesmo tempo distantes da paródia, encontra-se o<br />

pastiche, que muitos, equivocadamente, vêem como seu sinônimo. É certo que tanto paródia quanto<br />

pastiche envolvem imitação. Entretanto, o pastiche associa-se à imitação de um estilo, ou à<br />

apropriação de um gênero sem, com isso, necessariamente, querer criticá-lo.<br />

Contemporaneamente, o pastiche pode ser visto como uma espécie de colagem ou<br />

montagem, tornando-se uma paródia em série ou colcha de retalhos de vários textos.<br />

A Bíblia tem servido de modelo para vários pastiches. Machado de Assis, em seu conto "O<br />

cônego ou a metafísica do estilo", faz um pastiche:<br />

"Vem do Líbano, esposa minha, vem do Líbano, vem... As mandrágoras deram o seu<br />

cheiro. Temos às nossas portas toda a casta de pombos...”<br />

"Eu vos conjuro, filhas de Jerusalém, que se encontrardes o meu amado, lhe façais<br />

saber que estou enferma de amor....”<br />

Era assim, com essa melodia do velho drama de Judá, que procuravam um ao outro<br />

na cabeça do cônego Matias um substantivo e um adjetivo...Não me interrompas,<br />

leitor precipitado.(...)<br />

Procuram-se e acham-se. Enfim, Sílvio achou Sílvia. Viram-se, caíram nos braços<br />

um do outro, ofegantes de canseira, mas remidos com a paga. Unem-se, entrelaçam<br />

os braços, e regressam palpitando da inconsciência para a consciência. "Quem é<br />

esta que sobe do deserto, firmada sobre o seu amado?" pergunta Sílvio, como no<br />

Cântico; e ela, com a mesma lábia erudita, responde-lhe que "é o selo do seu<br />

coração", e que "o amor é tão valente como a própria morte.”<br />

(ASSIS, Machado de. "Várias histórias" In: Obra completa. V.II. Rio de Janeiro: Aguilar, l959)<br />

Observe como uma crônica publicada no jornal Folha de S. Paulo, Carlos Heitor Cony faz<br />

pastiche de Guimarães Rosa, particularmente do estilo da narrativa de Grande sertão: veredas:<br />

Pois é. Tenho dito. Tudo aleivosia que abunda nesses cercados.<br />

Maisquenada. Foi assim mesmo, eu juro, Cumpadre Quemnheném não me<br />

deixa mentir e mesmo que deixasse, eu mentia. Lorotas! Porralouca no<br />

juízo dos povos além das Gerais! Menina Mágua Loura deu? Não deu.(...)<br />

Compadre Quemnheném é que sabia, sabença geral e nunca<br />

conferida, por quem? Desculpe o arroto, mas tou de arofagia, que o doutor<br />

não cuidou no devido. Mágua Loura era a virge mais pulcra das Gerais.<br />

Como a Santa Mãe de Deus, Senhora dos Rosários, rogai por nós! (...)<br />

(Carlos Heitor Cony, Folha de S. Paulo, 11-09- 1998)<br />

Um curioso exemplo de pastiche, que impressionará quem gosta de futebol, foi feito pelo<br />

escritor José RobertoTorero, numa crônica sobre o campeonato brasileiro da série B, em 2006,<br />

comentando o empate entre Portuguesa e Atlético MG. O autor recorre ao estilo dos folhetins de<br />

faroeste e designa os clubes como se fossem pistoleiros do velho oeste americano:

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