IN225 > a capa assinante 23.11.04 10:28
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CAPA<br />
42 I INFO I DEZEMBRO 2004<br />
TV<br />
> ALTA DEFINICÃO/PERGUNTAS<br />
A NOVELA<br />
DO PADRÃO<br />
T<br />
elevisão digital no Brasil não é assunto<br />
para ansiosos. O país empacou<br />
na decisão do padrão de transmissão<br />
por radiodifusão, a popular<br />
TV aberta, que todo mundo sintoniza<br />
de graça em casa. Até o governo<br />
FHC, discutia-se a adoção de<br />
um dos três padrões então existentes:<br />
o americano ATSC, o europeu<br />
DVB-T e o japonês ISDB-T.<br />
O padrão japonês, <strong>capa</strong>z de transmitir alta definição<br />
para receptores fixos e móveis, como os celulares e PDAs,<br />
pode oferecer boa recepção por antenas internas. Contra<br />
ele pesam a dificuldade de adaptação do idioma e o<br />
fato de o padrão só ter sido adotado pelo Japão, limitando<br />
as possibilidades de negócios, como a exportação de<br />
conteúdo e equipamentos. O padrão europeu é encampado<br />
por todos os países da Europa<br />
e mais Austrália, Cingapura e Nova<br />
Zelândia. Esse padrão pegou firme<br />
na Inglaterra, país em que 55% da<br />
população já recebe sinal digital. O<br />
padrão americano é menos flexível<br />
e incompatível com receptores móveis.<br />
Tem também contra ele problemas<br />
na recepção do sinal em<br />
grandes centros. Mesmo assim, foi<br />
adotado por Canadá, Coréia do Sul,<br />
Taiwan e México.<br />
O fato é que a decisão, protelada<br />
pelo governo FHC, ficou para o governo<br />
Lula, que optou pela busca<br />
de um padrão brasileiro, ou quase<br />
isso, e continua na mesma marcha<br />
da protelação tucana. Uma solução<br />
intermediária que parece agradar<br />
aos gregos e baianos envolvidos no<br />
negócio televisivo, seria o desenvolvimento<br />
de um derivado de algum<br />
dos padrões existentes. Assim,<br />
TORRE DE<br />
TRANSMISSÃO<br />
DE TV:<br />
emissão de<br />
sinal digital<br />
depende de<br />
padrão<br />
O Brasil empaca na<br />
decisão da forma de<br />
transmissão da TV<br />
de alta definição<br />
POR LUCIA REGGIANI<br />
não teríamos royalties para pagar nem perderíamos tanto<br />
tempo e dinheiro reinventando a roda. Quando a decisão<br />
sair, as grandes emissoras de TV aberta terão de<br />
fazer um investimento respeitável, mas boa parte delas<br />
já está equipada com aparelhos de captação e gravação<br />
digital de imagens.<br />
Enquanto a discussão se arrasta na TV aberta, a por assinatura<br />
fatura com conteúdo digital. As operadoras de<br />
TV a cabo TVA e NET acabam de inaugurar seus serviços<br />
digitais, oferecendo consulta à programação, múltiplas<br />
janelas na tela e compra de programas sob demanda ao<br />
comando do controle remoto. O serviço de TV via satélite<br />
Sky, digital desde o início de suas operações, lançou o<br />
Sky+, com um decodificador que grava em disco rígido<br />
50 horas de programação. E as operadoras de telefonia<br />
celular Vivo e TIM colocaram no ar serviços de transmissão<br />
de TV por streaming de vídeo com a programação<br />
aberta da Rede Bandeirantes e outros<br />
canais menores. É aqui que a calma<br />
com o atraso do padrão termina.<br />
“A demora na implantação da TV digital<br />
é uma ameaça à competitividade<br />
da TV aberta em relação às mídias<br />
pagas, que podem oferecer recursos<br />
de melhor qualidade, e até à exportação<br />
de conteúdo audiovisual”, diz<br />
Liliana Nakonechnyj, diretora da área<br />
de telecom da Globo. Para Dennis Munhoz,<br />
presidente da rede Record, o<br />
que preocupa não é a TV paga, mas<br />
a entrada das teles e seu poderoso<br />
cacife na produção de conteúdo: “Se<br />
não podemos vender ligações telefônicas,<br />
as teles também não podem<br />
gerar conteúdo”. Sentiu o drama?<br />
Mesmo que o governo escolha um padrão<br />
em 2005, as emissoras vão precisar<br />
de 18 a 24 meses para fazer tudo<br />
funcionar. Copa de 2006 com qualidade<br />
digital, só por TV paga mesmo.<br />
© FOTOS MARCELO KURA