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A mulher através do olhar bilaquiano na

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aquele costume da terra em que casaram. Filósofos, poetas e romancistas não<br />

endireitam o mun<strong>do</strong>: o mun<strong>do</strong> é torto, e torto será por toda a eternidade. v<br />

Em seqüência, Fantasio aponta o tédio conjugal como a principal causa para as discussões<br />

<strong>do</strong>mésticas e o agravante para a união conjugal. Ao findar o texto, o cronista dá crédito ao<br />

matrimônio, orientan<strong>do</strong> aos que amam para que se casem: “ Não é verdade, minhas senhoras, que<br />

esta é a melhor opinião sobre o casamento?” vi<br />

Em outra crônica, <strong>na</strong> quinta edição da revista, o cronista destaca os três santos mais<br />

importantes <strong>do</strong> mês de junho, entre eles Santo Antonio: “que mete-se entre as onze mil virgens,<br />

desde o dia primeiro <strong>do</strong> mês e, presidin<strong>do</strong> esse congresso de Puras, começa a deferir os<br />

requerimentos que lhe enviam da terra as moças ávidas de casamento”. vii<br />

Depois de vários discursos sobre a propagação <strong>do</strong> casamento, a <strong>mulher</strong> é destacada no<br />

âmbito da infidelidade.<br />

Ao noticiar o julgamento de um mari<strong>do</strong> que assassinou a esposa por ela ter cometi<strong>do</strong> um<br />

adultério, o cronista afirma que, assim como o júri não poderia conde<strong>na</strong>r o mari<strong>do</strong>, homem traí<strong>do</strong><br />

também não poderia tirar uma vida huma<strong>na</strong>. Para isso, Fantasio justifica:<br />

Sem dúvida, o homem que, num momento de cólera, lança mão de um revólver e<br />

prostra sem vida a <strong>mulher</strong> infiel, não está em si: não há pior delírio que o ciúme!<br />

Mas... e ela, fraca de inteligência, sem educação moral, sem experiência da vida,<br />

sem força de caráter, talvez sem amar o mari<strong>do</strong>, talvez sem nunca o ter ama<strong>do</strong>, -<br />

vê um outro homem, ama-o, entrega-se-lhe aluci<strong>na</strong>damente, e não tem perdão!<br />

Oh! não me oporei nunca a que se per<strong>do</strong>e uma aluci<strong>na</strong><strong>do</strong> de ciúme. Mas, porque<br />

não per<strong>do</strong>ou ele também a aluci<strong>na</strong>da de amor? viii<br />

Ainda <strong>na</strong> mesma crônica ele continua favorável à vítima mencio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> que a <strong>mulher</strong> peca<br />

porque tem os seus nervos desequilibra<strong>do</strong>s, a alma levia<strong>na</strong>, com a sua incompleta compreensão<br />

moral: “Que culpa tem ela de que o único homem a quem deveria amar não tenha satisfeito o seu<br />

ideal?” ix<br />

Ao se lembrar da “honra” <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, o cronista contesta, contrarian<strong>do</strong> os “deveres <strong>do</strong><br />

casamento”, as “obrigações sociais” e aos “contratos conjugais” estabeleci<strong>do</strong>s pela sociedade.<br />

Segun<strong>do</strong> ele, “to<strong>do</strong>s os preconceitos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> não valem a vida de uma criatura”. x<br />

Nesse perío<strong>do</strong>, a <strong>mulher</strong> é vista simplesmente como um “utensílio de casa”, privada de<br />

educação e de conhecimento <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> exterior, ten<strong>do</strong> como função principal a de amar e de<br />

agradar seu mari<strong>do</strong>, exclusivamente. Quan<strong>do</strong> essa figura de esposa é rompida com a realização de<br />

um adultério, ela é severamente julgada pelas leis e, sobretu<strong>do</strong>, por uma sociedade machista.<br />

Outra vertente é apontada pelo cronista numa crônica publicada <strong>na</strong> vigésima quinta edição<br />

d`A Cigarra ao comentar o livro de Aluízio Azeve<strong>do</strong>, que faz referência à sogra. Parodizan<strong>do</strong><br />

versículos bíblicos, o <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r afirma que Deus, ao flagrar a <strong>mulher</strong> comen<strong>do</strong> o fruto proibi<strong>do</strong>, deu-

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