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A mulher através do olhar bilaquiano na

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lhe, como castigo, o dever de ser sogra e, justamente daí é que vem o ódio que to<strong>do</strong>s têm dessa<br />

figura femini<strong>na</strong>.<br />

Mais uma vez, deixan<strong>do</strong> de la<strong>do</strong> os demais assuntos para falar da obra de Azeve<strong>do</strong> e,<br />

consequentemente, da <strong>mulher</strong>, Fantasio argumenta:<br />

Porque, se não posso insistir nesta seção d´A Cigarra sobre o valor literário da<br />

obra de Aluízio, posso insistir sobre o valor moral da obra de reabilitação das<br />

sogras, a que ele meteu ombros.Que importa que os genros se rebelem contra<br />

mim? Nunca fiz caso de opinião <strong>do</strong>s homens. Só a opinião das <strong>mulher</strong>es me<br />

preocupa. xi<br />

As <strong>mulher</strong>es, <strong>na</strong> visão <strong>do</strong> cronista, devem ser vangloriadas: devem-se louvar o encanto das<br />

“quarento<strong>na</strong>s”, a seriedade com que essas amam os homens, o sabor <strong>do</strong>s seus beijos outo<strong>na</strong>is e o<br />

“movimento de cólera” daquelas <strong>mulher</strong>es mais jovens, com menos de trinta anos.<br />

Para ele, “<strong>mulher</strong> bonita não odeia. Há mãos tão belas que não servem para amaldiçoar”. E<br />

embora o sogrismo seja uma contingência fatal <strong>na</strong> vida da <strong>mulher</strong>, pior <strong>do</strong> que chegar a ser sogra é<br />

ficar para tia. Quan<strong>do</strong> se casar, o <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r faz questão de que sua <strong>mulher</strong> tenha mãe e para os que<br />

reclamam de suas sogras, ele ataca: “de cem homens que falam mal das respectivas sogras, noventa<br />

e nove são genros sustenta<strong>do</strong>s por elas”. xii<br />

Talvez um <strong>do</strong>s assuntos mais sérios que envolveram a <strong>mulher</strong> <strong>na</strong>s crônicas de Fantasio,<br />

seja o caso da meni<strong>na</strong> negra Isalti<strong>na</strong> que, aos sete anos, optou pelo suicídio a conviver com as<br />

agressões físicas e mentais das pessoas que dela cuidavam. Esse episódio é <strong>na</strong>rra<strong>do</strong> no último<br />

parágrafo da crônica, publicada no vigésimo primeiro número d´A Cigarra, o cronista afirma:<br />

“Pobre meni<strong>na</strong>! nem essa liberdade te deixaram! era preciso que morresse lentamente, não por tua<br />

vontade, mas pela vontade de quem te possuía... E era preciso que, depois de morta, ainda te<br />

cuspissem sobre a cova de martyr todas essa injúrias e to<strong>do</strong>s esses impropérios!” xiii<br />

Também <strong>na</strong> mesma crônica, a mãe, negra também, é mencio<strong>na</strong>da como sinônimo de<br />

humilhação e exploração huma<strong>na</strong>:<br />

A mãe foi escrava: conheceu perto as inefáveis <strong>do</strong>çuras <strong>do</strong> vergalho de couro cru,<br />

e pôde apreciar, com perfeito conhecimento de causa, que não há no mun<strong>do</strong><br />

cousas mais agradáveis <strong>do</strong> que um bom tronco, um bom par de algemas, e um<br />

bom pulso de feitor de fazenda. Quan<strong>do</strong> veio a abolição <strong>do</strong> cativeiro, essa negra<br />

deu-se ao luxo de ter uma filha. Que desaforo! A! cadela! Se não fosse o maldito<br />

13 de maio, haviam de mostrar-te se negra pode ter filhos!... xiv<br />

De forma irônica, o cronista ainda culpa Deus que emprega o seu tempo em fazer<br />

crueldades: matou a mãe negra e deixou Isalti<strong>na</strong>, a filha, sozinha no mun<strong>do</strong>.

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