28.12.2013 Views

Baixe o livro em pdf (4.733 KB) - Marxists Internet Archive

Baixe o livro em pdf (4.733 KB) - Marxists Internet Archive

Baixe o livro em pdf (4.733 KB) - Marxists Internet Archive

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

INTRODUÇÃO<br />

Os processos de resistência aos mecanismos e estruturas de repressão <strong>em</strong> regimes autoritários,<br />

a ex<strong>em</strong>plo do que aconteceu na região sul do continente da América Latina, está estritamente ligado<br />

à intensidade do grau de consciência, educação e de organização politica que historicamente os<br />

povos constro<strong>em</strong> na consolidação de sociedades d<strong>em</strong>ocráticas e livres.<br />

Este projeto está focado na história de resistência e de solidariedade do Movimento de Justiça<br />

e Direitos Humanos (MJDH) do Rio Grande do Sul, durante o período das ditaduras de Segurança<br />

Nacional do Cone Sul (1964-1990). O MJDH teve importante protagonismo na luta contra o terrorismo<br />

de Estado existente na região, durante esse período, através de dois tipos de ações vitais para<br />

a sobrevivência de cidadãos perseguidos no Brasil e nos países vizinhos, por causa de suas convicções<br />

políticas: a primeira, estabelecendo uma rede de solidariedade que permitiu retirar centenas<br />

de pessoas (inclusive famílias inteiras) que, nos seus respectivos países, estavam sendo ameaçadas<br />

ou eram reprimidas pelos regimes discricionários vigentes; a segunda, denunciando e atuando concretamente<br />

diante de casos inseridos dentro dos marcos da conexão repressiva regional e, de forma<br />

mais específica, da Operação Condor.<br />

É importante l<strong>em</strong>brar que o Rio Grande do Sul foi um cenário muito singular quanto à atuação<br />

do sist<strong>em</strong>a repressivo brasileiro. O fato de ser um estado fronteiriço permitiu que pelo seu<br />

território transitass<strong>em</strong> perseguidos políticos brasileiros que procuravam deslocar-se para o exterior,<br />

particularmente para se reunir com os círculos de exilados que, logo após o Golpe de 1964, estavam<br />

localizados no Uruguai e que, posteriormente, se deslocaram, <strong>em</strong> grande parte, para o Chile. A presença<br />

dessa comunidade de exilados, nos países do Cone Sul, tornou o estado gaúcho uma espécie<br />

de ponte de conexão entre a resistência interna e aquela organizada no exterior. Mas também podia<br />

ser percebido como um corredor entre dois cenários sensivelmente diferentes para as vítimas de<br />

perseguição: um cenário interno de muito perigo e insegurança, e outro, externo, onde era possível<br />

retomar um clima de relativa normalidade e segurança. Portanto, a história do Rio Grande do Sul<br />

durante a ditadura esteve muito marcada pelo fato de ser palco para a circulação dos pomboscorreios<br />

de Leonel Brizola e de militantes de organizações armadas que entravam ou saiam do país,<br />

as rotas de fuga e os denominados “esqu<strong>em</strong>as de fronteira”, que viabilizavam a retirada de pessoas<br />

com altíssimo risco de vida para ambos os lados.<br />

Cabe salientar que, <strong>em</strong> decorrência dessa realidade, todos os municípios de fronteira do estado<br />

com os países vizinhos da Argentina e do Uruguai foram transformados <strong>em</strong> Área de Segurança<br />

Nacional, com a consequente intensificação da militarização e da ação repressiva dos órgãos de<br />

inteligência e de segurança da ditadura.<br />

Esta dinâmica de fronteira sofreu uma mudança qualitativa a partir do momento <strong>em</strong> que a<br />

deterioração interna e o crescimento do autoritarismo nos países vizinhos produziram ditaduras ass<strong>em</strong>elhadas<br />

à brasileira, quanto a concepções doutrinárias, vinculações externas e objetivas gerais.<br />

Tal fato implicou <strong>em</strong> que, desde esse momento, o Rio Grande do Sul, apesar das restrições existentes,<br />

passou a ser uma alternativa e rota de escape para cidadãos perseguidos nos países vizinhos (primeiro<br />

uruguaios, depois, argentinos).<br />

A colaboração repressiva entre os serviços de informação e segurança da região é antiga. Começou<br />

a ser sedimentada após o golpe de Estado contra o presidente João Goulart. Na repressão à<br />

articulação da oposição exilada, o Brasil solicitou a colaboração dos governos dos países vizinhos,<br />

particularmente do uruguaio, para realizar tarefas de seguimento, controle, vigilância e espionag<strong>em</strong><br />

de cidadãos brasileiros que estavam dentro do seu território. Seguindo a lógica da Doutrina de Segurança<br />

Nacional de combater o “inimigo interno” – estivesse ou não dentro do país –, a ditadura<br />

brasileira acolheu a diretriz das fronteiras ideológicas, <strong>em</strong> detrimento das fronteiras políticas reconhecidas<br />

e do respeito às soberanias nacionais. Ou seja, as fronteiras de outros países não poderiam<br />

ser barreira para impedir o combate aos “inimigos internos” organizados do outro lado dos limites<br />

territoriais nacionais. Em essência, surgiu assim a necessidade da colaboração repressiva regional<br />

(binacional ou tri nacional), que se aprofundou no transcorrer dos anos 1960 e início dos 1970. Com<br />

o advento das outras ditaduras no Cone Sul, essa conexão se desenvolveu de forma muito mais com-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!