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CAPITULO II : DEPOIMENTOS NO BRASIL<br />

38<br />

mática. Acho que aí foi, digamos assim: - É, o caminho é esse, ideologicamente essa é a minha<br />

posição -. Muito com essa postura dos socialistas uruguaios: é uma abertura total, não há dogma,<br />

nós conversamos com todas as linhas ideológicas. Isto é outra escola para mim fascinante: nós<br />

não t<strong>em</strong>os porque ter inimigos ideológicos, dentro do campo das esquerdas, t<strong>em</strong>os que conversar<br />

com todos, não há por quê. Este foi, para mim, um ensinamento muito importante, vindo de<br />

uma experiência brasileira muito sectária: grupos de esquerda que não se falavam com outros<br />

grupos de esquerda, por quê? Então, essa pedagogia foi, para mim, muito boa, fazendo-me elaborar<br />

melhor um pensamento ideológico. O quê não quer dizer que seja muito s<strong>em</strong>elhante: acho<br />

que por base sim, mas a vida também te leva a novas exigências. Se me perguntares, hoje, qual é<br />

o pensamento ideológico do Partido Socialista do Uruguai, eu não sei mais. Acho que n<strong>em</strong> eles.<br />

P: Então Jair. Estamos na metade dos anos de 1970, <strong>em</strong> um contexto brasileiro<br />

no qual ainda acontec<strong>em</strong> coisas muito graves, e irão acontecer algumas piores<br />

ainda, e é neste período que as raízes do Movimento começam definitivamente a<br />

sair. Em que momento isto se dá? Quais são os fatos neste contexto que geram o<br />

Movimento?<br />

R: Interessante esta observação. Porque nós t<strong>em</strong>os que notar que, depois do AI-5, 16 a vida se<br />

tornou muito difícil no Brasil. Claro que se compreende que alguns companheiros, que lá no<br />

princípio estavam juntos, não mais continuaram. A partir do AI-5 o grupo ficou um pouquinho<br />

menor, mais reduzido: ativo, mas mais reduzido, porque a repressão era muito dura. Nós vamos<br />

indo – 1974, 1975 –, com coisas muito graves acontecendo no Brasil. Vai-se notando que havia,<br />

inclusive, uma luta interna entre os militares. Aqueles a qu<strong>em</strong> o general presidente chamava a<br />

Tigrada, que estava muito acesa para endurecer mais ainda aquilo que era terrível. Esse grupo<br />

[do Movimento] vai atraindo mais uma pessoa ou outra, porque começam a acontecer no país<br />

algumas coisas que são muito graves, mas que são muito escrachadas. Já não há mais como<br />

segurar muito a informação. Aí, t<strong>em</strong>os episódios no país que vão denunciando essa situação.<br />

Muitas pessoas que estavam quietas se ench<strong>em</strong> de indignação, porque este grupo era composto<br />

por indignados: eram os indignados e companhia, que tinham que canalizar esse sentimento de<br />

uma forma mais organizada. Sabe episódios como a questão da guerrilha do Araguaia, que já<br />

começam a filtrar informações da violência praticada. As informações eram muito quebradas,<br />

mas sabia-se que atrocidades estavam sendo cometidas lá. Porque incluía, pessoalmente, amigos<br />

que estavam no Araguaia, as famílias daqui. Então, sabíamos que as coisas estavam muito difíceis.<br />

E alguns casos vão sucedendo – Herzog –, e vai-se tomando conhecimento. Isto vai criando<br />

uma indignação, e vai possibilitando, também, a aproximação de outros quadros para participar<br />

do Movimento. Pessoas sérias, mas que não imaginam a cautela que nós tínhamos para aceitar<br />

um novo m<strong>em</strong>bro. Não era um ritual escrito <strong>em</strong> lugar nenhum, mas era um tal de verifica b<strong>em</strong>,<br />

verifica de novo, serás que não é uma infiltração? Quando eventualmente estávamos reunidos, e<br />

aparecia alguém que poderia ser um novo m<strong>em</strong>bro, tínhamos combinado entre nós um sinal de<br />

alerta. Ele era b<strong>em</strong> simples: Que horas são? Isso significava: cuidado, alerta. L<strong>em</strong>bro que muitas<br />

vezes usávamos esse recurso: Que horas são? Porque tu não sabias b<strong>em</strong> qu<strong>em</strong> estava se aproximando.<br />

Vinha pela mão de outro companheiro, mas precisávamos ter muita cautela. Eu costumava<br />

dizer que a nossa agência de viag<strong>em</strong> nunca perdeu nenhum passageiro. Houve probl<strong>em</strong>as<br />

no Uruguai, por ex<strong>em</strong>plo. Um jov<strong>em</strong> dirigente do Partido Socialista, que agora é secretário geral<br />

do Partido – Lauro Fernandez –, viria pelo nosso caminho, mas foi preso <strong>em</strong> Paso de los Toros.<br />

Mas não foi o nosso trajeto, então não perd<strong>em</strong>os nenhum passageiro: perdeu-se lá. Mas essa cautela<br />

que se tinha, de saber com qu<strong>em</strong> se estava. Fazíamos algumas pessoas se aproximar<strong>em</strong> para<br />

trabalhar nas vilas populares: projetos de alfabetização que fazíamos – alfabetização de adultos<br />

–, e de organização da comunidade. Ia-se colocando esses companheiros lá, e ia-se observando<br />

como é que eles se comportavam, para ver se poderíamos realmente confiar. Era um estágio probatório:<br />

vai para lá, e nós observamos. Assim, foi andando. Com cautela e com critérios, até se<br />

transitar esses primeiros anos da década de 1970, que foram muito difíceis. Esse recrudescimento<br />

do AI-5, mas, depois as divergências no seio da ditadura – o general Frota, que é aquele que t<strong>em</strong><br />

um protagonismo de pressionar o Uruguai para expulsar o doutor Leonel Brizola –, é o mesmo<br />

que chega a organizar um complô para derrubar Geisel. É a linha duríssima, e isto está se dando<br />

16 Ato Institucional Nº 5.

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