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CAPITULO II : DEPOIMENTOS NO BRASIL<br />

36<br />

muito privadamente. Porém, havia setores com outros tipos de trabalho. Tínhamos um trabalho<br />

comunitário muito forte nas vilas populares, porque é bom termos presente que a ditadura destroçou<br />

os sindicatos. As organizações da sociedade civil foram destroçadas; os sindicatos mais<br />

combativos estavam sob intervenção. Então, nós queríamos atingir o povo, esta coisa assim: o<br />

povo. Onde ele está? Na favela, na periferia, então vamos para lá ajudá-los. Como? Mostrandolhes<br />

que a organização é uma forma de se ter consciência da realidade e avançar. Então era um<br />

trabalho muito pedagógico, de criação de consciência das suas necessidades, mostrando-lhes o<br />

caminho, de que de forma organizada eles venceriam etapas. A proposta começava com coisas<br />

b<strong>em</strong> simples, para que eles fizess<strong>em</strong> a experiência de que – sim, é possível –, desde o buraco na<br />

rua, o probl<strong>em</strong>a da água, da luz elétrica, da escola, da linha de ônibus que t<strong>em</strong> que estar mais<br />

próxima. Enfim, todo um trabalho voltado para as necessidades daquele núcleo, mostrando-lhes<br />

que, para isso, eles precisavam formar uma associação de moradores, e escolher presidente,<br />

secretário, tesoureiro, fazendo um trabalho para mostrar qual é o papel do presidente, como se<br />

preside uma reunião de trabalho, o que faz o tesoureiro e o secretário. Enfim, ajudá-los, dizendolhes<br />

que nós lutaríamos com eles, mas não por eles. Estaríamos muito presentes mostrando<br />

as portas, mas que os protagonistas eram eles. Durante esses anos, antes do Movimento existir<br />

como tal, até o princípio da existência, no interior da região metropolitana foram fundadas 132<br />

Associações de Moradores. Foi um trabalho que buscou organizar a sociedade, pois ela precisava<br />

recuperar as suas articulações mínimas, já que os sindicatos estavam realmente sob intervenção.<br />

Também fiz<strong>em</strong>os um trabalho junto aos sindicatos, de reconquista sua, e de criar novamente<br />

um movimento sindical forte e atuante. Comet<strong>em</strong>os alguns erros, alguns equívocos, mas tiv<strong>em</strong>os<br />

acertos importantes. Paulo Paim é senador da República, nós o descobrimos lá <strong>em</strong> Canoas:<br />

dirigente sindical, dos metalúrgicos, trazendo sua figura a público e mostrando qu<strong>em</strong> ele era.<br />

Senador da República, um belo senador da República. Ele também é fruto deste trabalho de<br />

reorganização sindical. Então é isso, o cenário é este.<br />

P: Jair, comentaste a pouco. Antes da existência do Movimento, vocês já estavam<br />

ajudando cidadãos dos países vizinhos. Como surge a ligação desse coletivo com<br />

os uruguaios, argentinos, e outros países? Como se forma essa rede? Quais são os<br />

caminhos que levam a essa possibilidade?<br />

R: A vida, a vida. Não é muito de caso pensado, mas é a necessidade de se fazer. Com o relacionamento<br />

com pessoas que viv<strong>em</strong> na fronteira... Geralmente, qu<strong>em</strong> vive na fronteira conhece<br />

alguém do outro lado, isto é fatal. Alguns, de repente, tiveram que viver do outro lado. Então<br />

essas amizades vão abrindo caminhos. No caso uruguaio, caminhos que pod<strong>em</strong> começar por<br />

Rivera, e se vão a Montevideo. O mesmo acontece <strong>em</strong> relação à Argentina. Esses caminhos<br />

foram sendo construídos: - Me dá uma mão, me ajuda -. E muito o Uruguai porque a primeira<br />

massa de refugiados foi para este país. Muitos velhos amigos para lá se foram, e também abriram<br />

um espaço de trabalho, criando relações com partidos políticos. Naquele momento, as organizações<br />

de direitos humanos não existiam, mas foram se criando relações com partidos políticos.<br />

No nosso caso, especialmente com o Partido Socialista, criando vínculos. Porque os brasileiros<br />

estavam e se relacionavam lá, e nós nos relacionávamos com aqueles brasileiros que lá estavam.<br />

Esta coisa de fronteira, também, porque era preciso se formar esse caminho. Então isto nasce de<br />

uma forma muito não pensada, mas pr<strong>em</strong>idos pela necessidade. Havia necessidade de, vamos<br />

criando esses caminhos. Porque depois passou a fluir fort<strong>em</strong>ente. Quando as coisas começam<br />

a ficar complicadas no Uruguai, o caminho se inverte. Novamente, aqueles companheiros que<br />

nos ajudaram <strong>em</strong> determinado momento, passam a necessitar de ajuda. É muito interessante,<br />

porque nós viv<strong>em</strong>os, não nos det<strong>em</strong>os muito a pensar realmente <strong>em</strong> como é que é isso que vamos<br />

fazer. Não. É a necessidade, a vida. Coloquei a importância de setores da igreja brasileira na<br />

formação de nosso grupo, no apoio recebido, e o Uruguai é um país b<strong>em</strong> leigo, classicamente<br />

leigo. A Igreja Católica uruguaia é muito pequena, e de pouca expressão política. Não é como no<br />

Brasil: naquela época, costumávamos dizer que a CNBB 15 era o maior partido de oposição que<br />

havia no Brasil. Lá no Uruguai, não tinha nada que ver com isso. Mas alguns padres uruguaios<br />

foram aqueles que estabeleceram um excelente caminho, que nós montamos para os uruguaios<br />

saír<strong>em</strong> do país. Com o Chile foi algo parecido, os jesuítas do Chile. Quando foi necessário que os<br />

15 Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

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