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Segurança Nacional, com a conseqüente intensificação e redobramento da militarização e da ação<br />

repressiva dos órgãos de inteligência e segurança da ditadura brasileira.<br />

1.4 O Cone Sul das Ditaduras de Segurança Nacional e do terrorismo de Estado 2<br />

No final dos anos cinquenta, no cenário da Guerra Fria, a América Latina sofreu dois processos<br />

que a abalaram profundamente. Em primeiro lugar, a crise estrutural resultante do esgotamento<br />

de modelos econômicos, do fim dos saldos comerciais acumulados durante a Segunda Guerra, dos<br />

custos da terceira revolução industrial e da drenag<strong>em</strong> de riquezas realizada por grupos estrangeiros.<br />

Em segundo lugar, a Revolução Cubana e a construção de um poder popular e socialista no continente,<br />

ex<strong>em</strong>plo para a luta antiimperialista na região. Assim, a imposição dos efeitos da deterioração<br />

econômica sobre os setores populares, b<strong>em</strong> como a agitação decorrente de mobilizações internas,<br />

d<strong>em</strong>andas de mudança, radicalização política, endurecimento dos setores conservadores e efervescência<br />

estudantil, foram expressões de deterioração d<strong>em</strong>ocrática acompanhada por uma presença<br />

estatal cada vez mais coercitiva diante da necessidade de conter a crescente insatisfação social.<br />

A combinação dos efeitos desses dois processos levaram os Estados Unidos (EUA) a reavaliar a<br />

nova situação e os aliados necessários para conter tamanho perigo, além de lançar uma feroz ofensiva<br />

de encontro a qualquer ameaça contra seus interesses e dos setores dominantes locais, através<br />

de mecanismos tanto legais, nos marcos do capitalismo, quanto de violência organizada. Na prática,<br />

os EUA passaram a impl<strong>em</strong>entar a Doutrina de Segurança Nacional (DSN) 3 , ancorados no entendimento<br />

de que qualquer intimidação comunista na América Latina atingia-os; ou seja, a segurança<br />

interna dos diversos países da região passava a ser, também, preocupação estadunidense. Nesse<br />

sentido, a compreensão da proposição da coordenação repressiva entre regimes s<strong>em</strong>elhantes como<br />

os das Ditaduras de Segurança Nacional deve estar alicerçada no <strong>em</strong>aranhado de três eixos pontuais:<br />

a vinculação histórica entre os setores dominantes locais e os países centrais; os interesses dos<br />

EUA na região e sua ascendência doutrinária sobre os exércitos nacionais; a multiplicação de focos<br />

de contestação e a irrupção de governos de esquerda e centro-esquerda e o conseqüente t<strong>em</strong>or de<br />

uma cubanização da América Latina.<br />

O golpe de 1964, no Brasil, de certa forma inicia, qualitativamente, a imposição dos regimes<br />

securitistas na região. Além de reverter o processo de reformas <strong>em</strong> andamento durante a gestão<br />

Goulart, o Brasil teve significativo protagonismo na expansão da onda contra-insurgente por todo o<br />

continente, particularmente no Cone Sul - inclusive tornando-se laboratório de práticas repressivas<br />

e foco diss<strong>em</strong>inador das mesmas. Depois dele (e do Paraguai de Stroessner), foi a vez da Argentina<br />

(1966), Bolívia (1966 e 1971), Uruguai e Chile (1973) e novamente Argentina (1976). Em todos os casos<br />

se instalaram ditaduras baseadas na Doutrina de Segurança Nacional que estabeleceram como<br />

principais eixos um anticomunismo militante, a identificação de um flexível conceito de inimigo<br />

interno, a execução da guerra interna (contra-insurreição), a imposição do papel político das Forças<br />

Armadas e a definição de fronteiras ideológicas. Evident<strong>em</strong>ente que cada caso teve as suas especificidades<br />

na definição do inimigo prioritário e na organização das estratégias de repressão, porém, o<br />

marco geral de tais experiências, as diretrizes globais e a lógica de desenvolvimento foram comuns.<br />

A DSN assumiu um papel destacado (mas não exclusivo) na estruturação desses regimes. As<br />

Forças Armadas funcionaram como ordenadoras do sist<strong>em</strong>a social diante da falência das instituições<br />

da d<strong>em</strong>ocracia representativa e do sist<strong>em</strong>a político <strong>em</strong> geral, além de ser<strong>em</strong> a garantia supr<strong>em</strong>a da<br />

unidade nacional ameaçada pelos efeitos desagregadores do “perigo comunista”. A DSN, ao ser incorporada<br />

como fundamento teórico da proteção da sociedade nacional a partir de um Estado que<br />

precisava esconder sua essência antid<strong>em</strong>ocrática, configurou um “estado de guerra permanente”<br />

contra o suposto e difuso “inimigo interno”. Embora os defensores da doutrina proclamass<strong>em</strong> agir<br />

<strong>em</strong> defesa da d<strong>em</strong>ocracia, consideravam, no fundo, que tais regimes eram fonte geradora de desordens,<br />

por permitir manifestações dos setores desconformes com a ord<strong>em</strong> vigente, a qual devia ser<br />

protegida através de todos os meios disponíveis. Assim, a liquidação dos projetos de mudança social<br />

existentes antes dos golpes de Estado, e o disciplinamento da força de trabalho, <strong>em</strong> particular, e da<br />

2 O texto de este it<strong>em</strong> foi organizado a partir dos seguintes artigos de autoria de Enrique Serra Padrós: El<strong>em</strong>entos do Terror de Estado impl<strong>em</strong>entado<br />

pelas Ditaduras de Segurança Nacional. In: PADRÓS, Enrique Serra (org.). As Ditaduras de Segurança Nacional: Brasil e Cone Sul. Porto Alegre:<br />

CORAG, 2006. p. 15-22; Terrorismo de Estado e luta de classes: repressão e poder na América Latina sob a doutrina de segurança nacional. História<br />

e Luta de Classes, nº 4, julho 2007. p. 43-49.<br />

3 A ameaça comunista no interior de cada país apontava para a existência de um inimigo interno que devia ser eliminado através dos métodos da guerra<br />

suja, como já haviam sido experimentados pela França, na Argélia, e pelos EUA, no Vietnã (Operação Fênix).<br />

O Projeto<br />

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