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Baixe o livro em pdf (4.733 KB) - Marxists Internet Archive

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ao escrivão público, e foi tomado o seu depoimento formal, no qual ele contou tudo o que viu<br />

nessa operação que resultou na morte do doutor Roslik. Fê-lo perante test<strong>em</strong>unhas, todos assinamos,<br />

e esse documento ficou guardado, esperando o fim da Ley de Caducidad. A possibilidade<br />

de que a justiça uruguaia pudesse, um dia, tomar para si o exame disso. Então veja assim: se<br />

combina uma questão de reparação econômica com a possibilidade de uma punição. Como é<br />

interessante, não? Como tu consegues ir concatenando. Agora, por decisão do governo uruguaio,<br />

a mesma que retoma o caso Lilián/Universindo, retoma o de Antônio da Silva Pires junto,<br />

por ter sofrido torturas, mas também há a possibilidade de o caso Roslik ser retomado. São combinações.<br />

Dentro desse universo, aparece a figura do coronel Cordero. Ele era réu <strong>em</strong> uma ação<br />

penal na Argentina. Naquele momento, era uma grande ação, era uma mega causa, assim era<br />

conhecida, porque o número de réus era impressionante. Argentinos, uruguaios, chilenos, peruanos,<br />

bolivianos, paraguaios, era uma grande ação, e um número considerável de réus. A justiça<br />

argentina iniciou os trabalhos de processamento, pedindo ao Uruguai a extradição, entre outros,<br />

de Manuel Cordero. A justiça uruguaia negou, e ele lá está, Até que as organizações uruguaias<br />

– Hijos, 22 especialmente – começam a promover escraches, e vão defronte à sua casa e faz<strong>em</strong> um<br />

escrache: Aqui vive um torturador, é um assassino, e começam a tornar sua vida difícil. Ele acaba<br />

vindo para o Brasil. Por que razão? Porque nesse meio t<strong>em</strong>po ele dá uma entrevista para [...] dizendo:<br />

- Mas tinha que torturar essa gente! Eram todos subversivos, terroristas, tínhamos que<br />

torturar -. O ilustre representante do Ministério Público uruguaio, frente a essa entrevista entende<br />

que ali havia um crime de apologia ao crime. Que é um crime, se formos olhar o Código Penal<br />

uruguaio e brasileiro, a punição é pequena. Ele é intimado pela justiça uruguaia a prestar declarações,<br />

tal dia e tal hora. Ele não vai, mas junta um atestado médico, dizendo que tinha probl<strong>em</strong>as<br />

de saúde e não podia ir. A justiça uruguaia r<strong>em</strong>arca uma segunda audiência, e ele não vai;<br />

novamente um atestado médico. A justiça uruguaia marca uma terceira audiência, ele não vai e<br />

não apresenta atestado médico. Então, o promotor pede que ele também seja processado por<br />

desobediência, e que seja levado sob vara à justiça. 23 Enfim, é a prisão dele, por desobediência:<br />

outra questão que a pena é de meses, de detenção, não é de prisão, seis meses de detenção.<br />

Então, ele sai do Uruguai. Pelos escraches e pela atuação da justiça uruguaia: não por tortura,<br />

mas por apologia ao crime. Sai do Uruguai porque era casado com uma mulher brasileira. Na<br />

ocasião, eu imaginava que era um casamento de conveniência, que ele havia casado com uma<br />

brasileira para se safar. Fui a Montevideo buscar a sua partida de casamiento: não, era casado há<br />

quase trinta anos com essa mulher, portanto não era uma forma de burlar a Lei, não era, era<br />

verdade. O jornalista Roger Rodríguez, muito atento s<strong>em</strong>pre, me mandou um e-mail, dizendo: -<br />

Ele deve ter ido para o Brasil. Cuida. Eu alerto todo um pessoal ao redor da fronteira, dizendo:<br />

- Olha, na presença desse camarada me avis<strong>em</strong> alguma coisa. Não deu outra: ele vai a um cartório<br />

<strong>em</strong> Livramento e dá uma procuração para o seu cunhado. Então, imediatamente ficamos<br />

sabendo que ele havia dado a procuração e que vivia – veja que ironia – na Rua Uruguai, nº<br />

1005, <strong>em</strong> Santana do Livramento, que é a primeira rua depois da fronteira. Como ele era réu<br />

nesta causa argentina, eu fui a Buenos Aires e prestei um depoimento frente ao juiz, dizendo que<br />

na causa Número tal, um dos réus era o coronel Manuel Juan Cordero Piacentini, e que ele estava<br />

vivendo na Rua Uruguai, número 1005, Santana do Livramento, Rio Grande do Sul, Brasil,<br />

e que o doutor juiz, se tivesse interesse, na condição dele como réu, que pedisse extradição.<br />

Funcionou, foi pedida a extradição. Mas custou muito para acontecer a prisão. Ele desparece de<br />

Santana do Livramento, porque faz<strong>em</strong> um escrache antes de se poder efetivar, e ele se some: vai<br />

para São Paulo, onde desaparece. Nós conseguimos monitorá-lo durante um período <strong>em</strong> São<br />

Paulo, depois ele desaparece. E passa-se o t<strong>em</strong>po. Estou narrando um trabalho de cinco anos.<br />

Cinco anos de atenção a ele. Até que ele novamente volta a Livramento, e pede uma certificação<br />

de vida, porque, como ele recebia uma pensão como militar aposentado, – à s<strong>em</strong>elhança do<br />

INSS 24 brasileiro, não era ele pessoalmente que recebia, mas sua filha, por procuração –, a cada<br />

seis meses ele tinha que apresentar um atestado de vida. Ele foi ao Consulado uruguaio <strong>em</strong> Santana<br />

do Livramento fazer esse pedido, e o cônsul, já prevenido, nos alerta. Eu ligo para a vic<strong>em</strong>inistra<br />

de Relações Exteriores, Belela, querida amiga, s<strong>em</strong>pre. Peço-lhe que ela oriente o Cônsul<br />

para dar uma segurada, enquanto eu vou atrás da Polícia Federal brasileira, que é qu<strong>em</strong><br />

22 H.I.J.O.S.: Hijos e Hijas por la Identidad y la Justicia contra el Olvido y el Silencio.<br />

23 Levado por mandado judicial.<br />

24 Instituto Nacional do Seguro Social.

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