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Baixe o livro em pdf (4.733 KB) - Marxists Internet Archive

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A imprensa registra bastante, mostrando que aquelas práticas da ditadura agora continuavam<br />

presentes, <strong>em</strong>bora dirigidas para outro público. Nós passamos estes anos de 1990 muito centrados<br />

nessa questão da violência policial, mostrando que hábitos adquiridos na ditadura continuavam<br />

vigentes, agora contra o pobre, contra o marginalizado. Mas nunca esquecendo que havia<br />

uma luta, um contencioso, um t<strong>em</strong>a não resolvido, que precisávamos passar a limpo, como<br />

segue ainda hoje. Foi um momento muito interessante, porque, por ex<strong>em</strong>plo, nós conseguimos<br />

arrecadar muita documentação. Não se falava no t<strong>em</strong>a, não havia espaço na imprensa, mas<br />

nos possibilitou arrecadar um bom material documental. E tratando, então, de outros assuntos,<br />

que tinham tudo a ver com direitos humanos, mas que não estavam ligados diretamente a esse<br />

período. Foi assim que nós passamos os anos de 1990, percebendo claramente que não adiantava<br />

insistir aí, que iríamos gastar energia mal, porque não teria frutos, mas que deveríamos, sim,<br />

manter acesa a esperança de que chegaria o dia <strong>em</strong> que teríamos que discutir, e trabalhando<br />

<strong>em</strong> outros aspectos dos direitos humanos. Foi um período longo, e nos dedicamos ao t<strong>em</strong>a<br />

de educação e direitos humanos, como forma de manter acesa a chama de direitos humanos,<br />

manter um grupo organizado, funcionando voltado para isto, mas também sofrendo algumas<br />

consequências interessantes na red<strong>em</strong>ocratização. Muitos militantes nossos foram para a vida<br />

político-partidária, é muito interessante. É um fenômeno que começa no final da década de<br />

1980 e entra na década de 1990, no qual muitos militantes nossos acabam privilegiando a vida<br />

político-partidária, deixando o t<strong>em</strong>a de direitos humanos. Até poderia continuar, mas não, acharam<br />

que não. Porque o t<strong>em</strong>a direitos humanos não dá voto, t<strong>em</strong>os que ter b<strong>em</strong> claro isso. Então,<br />

qu<strong>em</strong> quer se dedicar à vida política não deve dar muita atenção a isso. Mas houve um refluxo,<br />

de militância e de inserção do t<strong>em</strong>a na agenda política nacional. Política e social.<br />

P: Então, a partir do início do século XXI, quais fatores tu percebes que faz<strong>em</strong> com<br />

que essa t<strong>em</strong>ática volte, com muita polêmica e contradição, mas se instalando<br />

na sociedade ao ponto de que ela vira, não ainda um el<strong>em</strong>ento com uma agenda<br />

social, porque ainda não se constitui no Brasil enquanto um movimento social,<br />

mas talvez nunca se tenha falado sobre isso como nos últimos três ou quatro anos.<br />

Como tu valias tudo isso? Como é que o Movimento se coloca agora frente a esta<br />

nova conjuntura, onde esta t<strong>em</strong>ática está colocada?<br />

R: O pior de tudo é que não começa pelo Brasil. Essa t<strong>em</strong>ática volta, sim, e com muita força essa<br />

discussão, mas começa nos países daqui <strong>em</strong> volta: Argentina, Uruguai, Chile, começam uma discussão<br />

muito forte, e com espaço social importante. E o Brasil muito recalcitrante. Mas, é claro,<br />

sobraram organizações no país, elas foram sendo engolidas, até pelo Estado, pois ele começa<br />

a cooptar figuras importantes dos direitos humanos, levando-as para o seu meio. A questão da<br />

presença do t<strong>em</strong>a Direitos Humanos, de uma forma mais ampla, vai se esvaziando, também.<br />

Esta cooptação que o Estado faz, é nefasta. Hoje se t<strong>em</strong> isto claro: não somente na questão dos<br />

direitos humanos, mas na ambiental, na questão indígena, é nefasta. Ela traz prejuízos. Mas aqui<br />

no Brasil algumas organizações sobreviveram. É interessante, grupos do Rio de Janeiro, Tortura<br />

Nunca Mais, São Paulo, Recife, Minas Gerais, nós aqui no sul do mundo, continuamos muito<br />

atentos, e trazendo, s<strong>em</strong>pre que possível à baila essa discussão. Também é muito interessante<br />

de ver que os ex-presos políticos começam a se organizar, coisa que não haviam feito antes.<br />

O novo século começa com isto. Alguns presos políticos haviam adotado a carreira política, e<br />

outros ficaram muito quietos, tratando das suas vidas, mas agora começam a aparecer de forma<br />

organizada: São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná. Começam a se mover, como uma organização<br />

de ex-presos. Aqui no Rio Grande do Sul também se cria o movimento de ex-presos perseguidos<br />

políticos. Então esse cenário é novamente acionado; atores que haviam se afastado voltam a atuar,<br />

e encontram, de novo, certo espaço na opinião pública. Veja que ele v<strong>em</strong> um pouco pela via<br />

transversal. Já tinha havido, nos anos 1990, a criação da Comissão de Mortos e Desaparecidos,<br />

que não teve muita repercussão. A opinião pública brasileira não foi suficient<strong>em</strong>ente informada,<br />

essa discussão não sensibilizou, mas há um prosseguimento, e a Comissão de Anistia é criada.<br />

Essa Comissão de Anistia, ao ser criada também traz polêmicas, e estou convencido que é muito<br />

bom pol<strong>em</strong>izá-la, porque isso possibilita trazer argumentos de todas as espécies. E o t<strong>em</strong>a começa<br />

de novo... São organizações que se mantiveram, e que agora retomam a luta – retomam

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