18.01.2014 Views

Reflexões sobre os deslocamentos populacionais no Brasil - IBGE

Reflexões sobre os deslocamentos populacionais no Brasil - IBGE

Reflexões sobre os deslocamentos populacionais no Brasil - IBGE

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Reflexão teórica<br />

grupo. Com a derrubada desse paradigma, as migrações passariam a ser uma eleição<br />

dentro da estratégia de ascensão social. Assim sendo, <strong>os</strong> migrantes passariam a ser<br />

vist<strong>os</strong> com outr<strong>os</strong> olh<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> pesquisadores, dado que víncul<strong>os</strong> sociais passariam<br />

a assumir <strong>no</strong>v<strong>os</strong> valores. Haveria uma mudança do enfoque que observava o sujeito<br />

sob a base socioeconômica ou da renda, para a ótica das relações pessoais, que<br />

vão delinear as redes sociais nas quais irão se inserir. No primeiro tipo, o migrante<br />

atua em função da maximização das suas vantagens, numa forma de racionalidade<br />

absoluta. No segundo, ele vai se mover em relação a<strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> com <strong>os</strong> quais está<br />

se relacionando, sendo sua racionalidade relativa (RAMELLA, 1995).<br />

Interessante como a crise econômica, associada ao “problema demográfico” 3 ,<br />

foi vista como catástrofe. Passada essa fase mais aguda, por assim dizer, as migrações<br />

parece que se desenvolvem num ambiente de ple<strong>no</strong> equilíbrio econômico, onde as<br />

desigualdades e assimetrias ou não existem ou são mínimas. Então, <strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> se<br />

colocam a buscar estratégia para a ascensão social, de forma racional, é claro, mas<br />

agora por meio da “racionalidade relacional”.<br />

Ramella (1995) ratifica que na <strong>no</strong>ção de redes sociais estaria o condicionante<br />

da migração, <strong>sobre</strong>tudo pelo papel facilitador da inserção <strong>no</strong> mercado de trabalho e<br />

na sociedade do lugar de desti<strong>no</strong>, mas lamenta que <strong>os</strong> estud<strong>os</strong> <strong>sobre</strong> as redes ainda<br />

continuem reféns do modelo que valoriza <strong>os</strong> fatores de expulsão e atração. Ou seja,<br />

estão na contramão do que propõem Massey e outr<strong>os</strong> (1993) e Faist e outr<strong>os</strong> (1997),<br />

que é justamente buscar a síntese desses aportes teóric<strong>os</strong>.<br />

Vainer (1998), ao confrontar as abordagens neoclássica e estruturalista, assinala<br />

que, para o pensamento neoclássico, a mesma lógica locacional da empresa seria<br />

utilizada pel<strong>os</strong> migrantes: tanto detentores de capital quanto <strong>os</strong> detentores de capital<br />

huma<strong>no</strong>/força de trabalho, elegeriam o espaço onde maximizariam seus ganh<strong>os</strong>.<br />

O espaço seria o território de liberdade e a migração seria o movimento onde essa<br />

liberdade é exercitada.<br />

A abordagem neoclássica privilegiaria o exame das motivações que fazem <strong>os</strong><br />

indivídu<strong>os</strong> migrarem, já <strong>no</strong> aporte estruturalista o que é enfatizado são <strong>os</strong> fatores<br />

explicativ<strong>os</strong> e as determinações estruturais.<br />

Neste caso, as motivações, quando levadas em conta, são tomadas como meras<br />

atualizações subjetivadas das determinações estruturais. Os indivídu<strong>os</strong> ou grup<strong>os</strong><br />

sociais tendem a ser percebid<strong>os</strong> como simples atores de um drama cujo cenário e<br />

script está inscrito na estrutura, em primeiro lugar, <strong>no</strong> mercado – particularmente<br />

<strong>no</strong> mercado de trabalho (VAINER, 1998, p. 826).<br />

Continua o autor<br />

Neoclássic<strong>os</strong> e estruturalistas m<strong>os</strong>tram-se incapazes de identificar o lugar e o<br />

papel da coerção na produção e reprodução d<strong>os</strong> deslocament<strong>os</strong> e localizações do<br />

trabalho <strong>no</strong> movimento <strong>no</strong>rmal do desenvolvimento capitalista. Em consequência,<br />

suas análises acabam por omitir dimensão essencial da dinâmica que subjaz a<br />

flux<strong>os</strong> e localizações de populações (VAINER, 1998, p. 828).<br />

3<br />

O “problema demográfico” derivou do excedente populacional observado na Europa naquele momento que impulsio<strong>no</strong>u<br />

fortemente <strong>os</strong> deslocament<strong>os</strong> ultramarin<strong>os</strong>, o qual não foi levado em consideração na análise do autor.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!