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Reflexões sobre os deslocamentos populacionais no Brasil - IBGE

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Reflexões <strong>sobre</strong> <strong>os</strong> deslocament<strong>os</strong> <strong>populacionais</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

[...] por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apoia na flexibilidade<br />

d<strong>os</strong> process<strong>os</strong> de trabalho, d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> de trabalho, d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> e padrões de<br />

consumo. Caracterizam-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente<br />

<strong>no</strong>v<strong>os</strong>, <strong>no</strong>vas maneiras de fornecimento de serviç<strong>os</strong> financeir<strong>os</strong>, <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong><br />

e, <strong>sobre</strong>tudo, taxas altamente intensificadas de i<strong>no</strong>vação comercial, tec<strong>no</strong>lógica<br />

e organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas mudanças d<strong>os</strong> padrões<br />

de desenvolvimento desigual, tanto em setores quanto em regiões geográficas,<br />

criando, por exemplo, um vasto movimento <strong>no</strong> emprego <strong>no</strong> chamado “setor de<br />

serviç<strong>os</strong>”, bem como, conjunt<strong>os</strong> industriais completamente <strong>no</strong>v<strong>os</strong> em regiões<br />

até então subdesenvolvidas [...] Ela também envolve um <strong>no</strong>vo movimento que<br />

chamarei de “compressão do espaço-tempo” [...] <strong>os</strong> horizontes da tomada de<br />

decisão privada e pública se estreitaram, enquanto a comunicação via satélite e<br />

a queda d<strong>os</strong> cust<strong>os</strong> de transporte p<strong>os</strong>sibilitaram cada vez mais a difusão imediata<br />

dessas decisões num espaço cada vez mais amplo e variado (HARVEY, 1992, p. 140).<br />

O mercado de trabalho passou por radical reestruturação. Em face da sua<br />

volatilidade, ao aumento da competitividade e do estreitamento das margens de<br />

lucr<strong>os</strong>, <strong>os</strong> patrões tiraram proveito do enfraquecimento do poder sindical e da grande<br />

quantidade de mão de obra excedente para impor regimes de trabalho mais flexíveis.<br />

Em resumo, reduzindo o emprego regular em favor do crescente uso do trabalho em<br />

tempo parcial, temporário ou subcontratado, ou seja, trabalh<strong>os</strong> precári<strong>os</strong>.<br />

As eco<strong>no</strong>mias de escala, buscadas na produção fordista de massa, foram<br />

substituídas por uma crescente capacidade de manufatura e uma variedade de bens e<br />

preç<strong>os</strong> baix<strong>os</strong> em pequen<strong>os</strong> lotes. As eco<strong>no</strong>mias de escopo passaram a predominar em<br />

detrimento das eco<strong>no</strong>mias de escala. A estética relativamente estável do modernismo<br />

fordista cedeu lugar a todo fermento, instabilidade e qualidades fugidias de uma<br />

estética pós-moderna que celebra a diferença, a efemeridade, o espetáculo, a moda<br />

e a mercadificação de formas culturais.<br />

Toda essa transformação, que mantém a essência do domínio do capital, tem<br />

impacto <strong>sobre</strong> a força de trabalho, em particular pela flexibilização e precarização. Esses<br />

fatores em conjunto gerariam estratégias diferentes quando <strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> buscam<br />

garantir a sua reprodução, incluindo, nesse escopo, as estratégias de mobilidade<br />

espacial.<br />

Autores como Lipietz e Leborgne (1988) chamaram atenção para a<br />

supervalorização do papel das <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias na geografia humana e na<br />

econômica. No caso das migrações internas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, deve-se ter alguma cautela<br />

ao associar a reestruturação produtiva como principal fator determinante das<br />

transformações observadas n<strong>os</strong> deslocament<strong>os</strong> <strong>populacionais</strong>. Para <strong>os</strong> autores,<br />

não é a tec<strong>no</strong>logia nem as relações profissionais que modelariam diretamente o<br />

espaço, mas sim o modelo de desenvolvimento vigente. Sendo assim, não seria<br />

p<strong>os</strong>sível, com base nesse entendimento, deduzir o modelo de desenvolvimento<br />

das <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias.<br />

Ainda relativizando o papel das <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias, <strong>os</strong> autores consideram que<br />

todo modelo de desenvolvimento, mesmo aqueles em crise, como o fordismo, deve se<br />

apresentar como a conjunção de três aspect<strong>os</strong> compatíveis: i) uma forma de organização<br />

do trabalho – paradigma industrial; ii) uma estrutura macroeconômica – padrão de<br />

acumulação; e iii) um conjunto de <strong>no</strong>rmas implícitas e de regras institucionais – modo<br />

de regulação. Esses três aspect<strong>os</strong> deveriam estar associad<strong>os</strong> a uma configuração

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