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COMO FAZER UM ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICA - Capina

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<strong>COMO</strong> <strong>FAZER</strong> <strong>UM</strong> <strong>ESTUDO</strong> <strong>DE</strong> VIABILIDA<strong>DE</strong> ECONÔMICA 1<br />

Gabriel Kraychete ∗<br />

1. OBJETIVOS DO <strong>ESTUDO</strong> <strong>DE</strong> VIABILIDA<strong>DE</strong> .......................................................................................2<br />

2. NO QUE CONSISTE O <strong>ESTUDO</strong> <strong>DE</strong> VIABILIDA<strong>DE</strong> ............................................................................2<br />

2.1 A ANÁLISE ECONÔMICA..................................................................................................................................3<br />

2.1.1 Primeira parte: as perguntas necessárias.............................................................................................3<br />

2.1.2 Segunda parte: as contas necessárias...................................................................................................5<br />

2.2 QUESTÕES ASSOCIATIVAS ..............................................................................................................................8<br />

3. DIFICULDA<strong>DE</strong>S NORMALMENTE ENFRENTADAS ..........................................................................9<br />

3.1 PARA CALCULAR OS CUSTOS FIXOS E VARIÁVEIS............................................................................................9<br />

3.2 NO ENTENDIMENTO DOS CUSTOS FIXOS..........................................................................................................9<br />

3.3 NA RELAÇÃO ENTRE OS OBJETIVOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DO GRUPO........................................................10<br />

3.4 NA COMERCIALIZAÇÃO ................................................................................................................................10<br />

4. O PAPEL DO CRÉDITO E DO APOIO SOB A FORMA <strong>DE</strong> DOAÇÃO ............................................11<br />

5. CONCLUSÕES ...........................................................................................................................................12<br />

<br />

<br />

Exposição realizada no primeiro dia da Consulta Economia Popular: Viabilidade e Alternativas,<br />

promovida pela CESE-CEADe, Salvador, junho/1997. <br />

∗ Técnico da CAPINA e professor da UCSal.


<strong>COMO</strong> <strong>FAZER</strong> <strong>UM</strong> <strong>ESTUDO</strong> <strong>DE</strong> VIABILIDA<strong>DE</strong> ECONÔMICA<br />

Gabriel Kraychete<br />

Ao abordar o tema da viabilidade econômica eu estarei me reportando, especificamente, as<br />

atividades de produção, beneficiamento e comercialização, realizadas de forma associativa,<br />

por diferentes organizações populares (associações, cooperativas, grupos informais, etc.).<br />

Com isso, pretendo situar o papel e a importância do estudo de viabilidade para o bom<br />

desenvolvimento dessas iniciativas. Face aos propósitos desse nosso encontro, não vou me<br />

deter na análise sobre o significado do trabalho realizado por estas organizações. Registro,<br />

apenas, que parto do pressuposto que estas atividades vêm se apresentando como uma das<br />

formas de luta pela vida e de afirmação da cidadania.<br />

A minha exposição estará dividida em cinco pontos: i) objetivos do estudo de viabilidade; ii)<br />

no que consiste esse estudo; iii) as dificuldades normalmente enfrentadas para a sua execução;<br />

iv) o papel do crédito e de outras formas de apoio e, por fim v) algumas conclusões. De forma<br />

resumida, estes pontos contêm as reflexões proporcionadas pela prática de assessoria a vários<br />

grupos populares empenhados em algum tipo de projeto econômico. Estão ancorados,<br />

também, no texto sobre viabilidade econômica, elaborado por Ricardo Costa, técnico da<br />

CAPINA.<br />

1. Objetivos do estudo de viabilidade<br />

As atividades econômicas realizadas pelas diferentes organizações populares envolvem um<br />

risco: podem dar certo (conduzindo ao objetivo previsto) ou podem dar errado.<br />

O estudo de viabilidade é a análise detalhada, que tem dois objetivos básicos:<br />

• identificar e fortalecer as condições necessárias para o nosso projeto dar certo e<br />

• identificar e tentar neutralizar os fatores que podem dificultar as possibilidades de êxito do<br />

nosso projeto.<br />

O estudo de viabilidade indica as condições para que os objetivos que nos propomos alcançar<br />

dependam mais das nossas próprias ações do que da sorte. É claro que a sorte sempre ajuda,<br />

principalmente diante de situações imprevistas.<br />

Uma característica essencial: o estudo de viabilidade deve ser feito antes de se iniciar a<br />

atividade. Embora possa parecer uma observação óbvia, convém enfatizá-la, pois, na maior<br />

parte das vezes, não é isso o que normalmente vem ocorrendo na prática cotidiano dos grupos.<br />

2. No que consiste o estudo de viabilidade<br />

O estudo de viabilidade engloba dois aspectos: um aspecto relacionado com as questões<br />

estritamente econômicas e, outro, que implica em definir as relações que as pessoas<br />

envolvidas no projeto vão estabelecer entre si, as tarefas, compromissos e responsabilidades a<br />

serem conjuntamente assumidos. A este último aspecto, chamaremos de questões associativas<br />

que envolvem o estudo de viabilidade. Vamos tratar, primeiro, das questões referentes à<br />

análise econômica e, em seguida, das questões associativas.


2.1 A análise econômica<br />

Para fazermos um estudo de viabilidade precisamos conhecer muito bem a atividade que<br />

queremos implantar. Isto não significa que temos que encontrar um especialista. O que<br />

precisamos é pensar previamente sobre os vários aspectos que envolvem a atividade que<br />

queremos fazer. Com isso, aumentamos a possibilidade de êxito do nosso projeto e<br />

evitamos uma grande quantidade de problemas que podem surgir no futuro<br />

A análise de viabilidade econômica se divide em duas partes:<br />

• na primeira, formulamos, a nós mesmos, uma série de perguntas sobre o empreendimento<br />

que queremos montar. O que precisamos é saber escolher bem as perguntas. E, depois,<br />

buscar as suas respostas. Este procedimento nos força a conferir e, se for o caso,<br />

aperfeiçoar o nosso conhecimento sobre a atividade que queremos realizar. E esse<br />

conhecimento é mais importante do que fazer contas complicadas.<br />

• num segundo momento, faremos algumas contas (que não são nada complicadas)<br />

utilizando as respostas das perguntas que formulamos anteriormente. Ou seja, vamos<br />

ordenar e interpretar os números que encontramos na primeira parte.<br />

2.1.1 Primeira parte: as perguntas necessárias<br />

Para não esquecermos nenhuma pergunta importante, podemos classificá-las conforme os<br />

tipos de atividades. Aqui, apenas sugerimos um tipo de classificação.<br />

Perguntas sobre o processo de produção<br />

Normalmente nos preocupamos apenas em saber o que vamos produzir. Mas isto não é<br />

suficiente. Precisamos, também, ter informações sobre:<br />

• que quantidade vamos produzir ?<br />

• para atingir esta produção quais as matérias primas que teremos que comprar? Em que<br />

quantidades? Quanto custam ?<br />

• quem sabe comprar estas matérias primas ? Como isso vai ser feito ?<br />

• quantos de nós conhecem todo o processo de produção de nosso produto?<br />

• além da matéria prima, o que mais se precisa gastar para fazer a produção?<br />

• quantas pessoas são necessárias para se atingir a produção programada? O que cada um vai<br />

fazer ? (descrever detalhadamente)<br />

Deve-se enfatizar que toda decisão que for tomada nesta fase acarretará uma série de<br />

conseqüências previsíveis. Nossa reflexão, para ser objetiva, precisa centrar-se na análise<br />

dessas consequências previsíveis. É isso que chamamos de tentar responder bem as perguntas.<br />

Perguntas sobre os investimentos<br />

• para conseguirmos a produção que planejamos, quais são as máquinas e equipamentos que<br />

precisamos comprar?<br />

• como escolher esses equipamentos?<br />

Observação: é comum os grupos comprarem máquinas com capacidade muito maior que a<br />

produção planejada. Isto é um erro perigoso, porque quanto maior a máquina, maior será o<br />

custo para faze-la funcionar.


• quanto custam esses equipamentos? Quem de nós sabe onde e como comprá-los?<br />

• que instalações são necessárias? É preciso alguma instalação especial (exemplo: tanque,<br />

aquecedor, etc)<br />

perguntas sobre o consumo de energia<br />

• as máquinas que escolhemos consomem que tipo de energia (elétrica, óleo, lenha). Como<br />

saber a quantidade consumida por hora ou por quantidade produzida? (Além do<br />

fornecedor, a própria experiência responde a essas perguntas)<br />

Perguntas sobre a comercialização<br />

A comercialização é um dos problemas mais sérios enfrentados pelos grupos. Antes de<br />

iniciarmos qualquer projeto, precisamos ter um mínimo de segurança se vamos conseguir<br />

vender toda a produção. E se essa venda vai ser feita por um preço que dê para pagar todos<br />

os custos.<br />

• somos capazes de vender toda a produção que planejamos?<br />

• há meses em que a procura aumenta ou diminui?<br />

• onde vamos vender o produto (na própria comunidade, na cidade mais próxima, em outras<br />

cidades)<br />

Atenção: quanto mais longe formos vender, maior será o gasto. Portanto, só é vantagem<br />

vender para um mercado mais distante se o preço compensar.<br />

• qual o preço do frete para cada uma das localidades pesquisadas?<br />

• como é feito o transporte?<br />

• qual o preço médio para o nosso produto na praça em que pretendemos vendê-lo?<br />

• qual será o nosso preço de venda ?<br />

• a venda será feita a granel ou em embalagens? Qual o preço da embalagem?<br />

• quem, além de nós, já oferece o mesmo produto na localidade?<br />

Observação: a não ser que já se conheça muito bem a região, só há uma forma de responder a<br />

essas perguntas: visitando as localidades e pesquisando.<br />

Perguntas sobre impostos e legislação<br />

• Nossa atividade vai exigir algum registro fiscal?<br />

• Temos que pagar algum imposto?<br />

• Quem vai nos orientar nesse campo ?<br />

Nesta primeira fase do estudo é preciso ter claro que essas perguntas não são feitas para<br />

que cheguemos a algum impasse. O objetivo é exatamente o contrário, ou seja,<br />

identificar, logo de início, as dificuldades que, mais cedo ou mais tarde, podem aparecer.<br />

As respostas buscadas para estas questões indicam as condições que precisam ser satisfeitas<br />

para que o projeto dê certo. Por esta razão, é da maior importância que todas as pessoas<br />

diretamente envolvidas no projeto participem de todo o processo: formulando as perguntas e<br />

buscando as respostas. Desta forma, o estudo de viabilidade acaba se transformando num útil<br />

exercício de busca de alternativas e soluções para problemas que, por isso mesmo, muitas<br />

vezes nem chegam a ocorrer.


2.1.2 Segunda parte: as contas necessárias<br />

Para facilitar a compreensão, apoiaremos a descrição dos cálculos em uma proposta de<br />

criação de um grupo de costura. Os números são totalmente aleatórios e servem apenas<br />

para ilustrar os cálculos. Independente do exemplo e dos números utilizados, o mais<br />

importante é a percepção da lógica das contas necessárias e a desmistificação que isso é<br />

coisa de especialistas. Na verdade, são algumas contas nada complicadas. E, na prática de<br />

cada grupo, os números para a realização dessas contas resultam das respostas às perguntas<br />

anteriormente formuladas.<br />

De forma simplificada e resumida, as contas que precisamos fazer são:<br />

1. somar tudo que é necessário comprar e gastar para instalar o projeto (máquinas, construção,<br />

equipamentos, etc). São os investimentos. No caso do nosso exemplo, vamos admitir que<br />

teremos que fazer os seguintes investimentos:<br />

INVESTIMENTOS R$<br />

máquina de costura 4.000,00<br />

mesas e cadeiras 400,00<br />

outros equipamentos 600,00<br />

total 5.000,00<br />

2. Calcular a depreciação<br />

Quando compramos uma máquina, sabemos que ela não vai durar a vida toda. A depreciação<br />

é a reserva que precisamos fazer para que, após um determinado período de uso, tenhamos<br />

dinheiro em caixa para trocar o equipamento, que já está muito usado, por outro mais novo. E<br />

isso é importante, porque máquinas velhas produzem pouco e apresentam um alto custo de<br />

manutenção. Ou seja, não basta ter o dinheiro para pagarmos a prestação do equipamento que<br />

compramos, mas ter uma reserva para substituir esse equipamento depois de um certo tempo<br />

de uso.<br />

Para calcular a depreciação, precisamos saber:<br />

• o preço de compra da máquina;<br />

• a sua vida útil, ou seja, a quantidade de anos durante os quais ela consegue operar bem;<br />

• o seu valor residual, ou seja, por quanto pode ser vendida essa máquina quando a sua vida<br />

útil chegar ao fim;<br />

Vamos admitir que a nossa máquina tenha um vida útil de quatro anos. Para determinar o seu<br />

valor residual, basta saber o preço, hoje, de uma máquina igual a nossa com cinco anos de<br />

uso. Vamos admitir que esse valor seja de R$ 1.000,00.<br />

CÁLCULO DA <strong>DE</strong>PRECIAÇÃO<br />

preço de compra R$ 4.000,00<br />

menos valor residual R$ 1.000,00<br />

= perda de valor R$ 3.000,00<br />

vida útil<br />

5 anos<br />

perda de valor anual (R$ 3.000,00/5 anos) R$ 600,00<br />

perda de valor mensal (R$ 600,00/12 meses) R$ 50,00


Dividindo a perda de valor da máquina pelo número de anos de sua vida útil, teremos o valor<br />

da reserva que deve ser feita a cada ano: R$ 3.000,00/5 anos = R$ 600,00<br />

Assim, a depreciação mensal da máquina será: R$600,00 / 12 meses = R$50,00<br />

Isto significa que, daqui a 5 anos, vendendo a máquina velha por R$ 1.000,00 e<br />

economizando, R$ 50,00 por mês, teremos os recursos necessários para comprar uma máquina<br />

nova.<br />

3. Calcular a receita que vamos obter com a venda da nossa produção. Para isso,<br />

multiplicamos o preço de venda de uma unidade do nosso produto pela quantidade mensal<br />

que planejamos produzir. Vamos admitir que venderemos 25 bermudas por mês, ao preço<br />

unitário de R$40,00.<br />

CÁLCULO DA RECEITA<br />

produto quantidade preço unitário total<br />

bermudas 25 40,00 1.000,00<br />

4. Somar todos os custos necessários para obtermos a produção. Os custos se subdividem em<br />

custos variáveis e custos fixos.<br />

Os custos variáveis correspondem aos gastos que aumentam ou diminuem conforme a<br />

quantidade produzida. Por exemplo: a matéria-prima que entra na produção da mercadoria.<br />

Quanto maior a produção, maior será o gasto com matéria-prima. Exemplo: o tecido é uma<br />

matéria-prima para a produção de roupas. Outros exemplos de custos variáveis são os<br />

gastos com embalagens, combustível, energia, etc.<br />

Os custos variáveis são mais fáceis de serem calculados “por peça”. Quantos metros de<br />

pano são necessários para uma bermuda? Quanto de linha? (ou, dito de outra forma, um<br />

tubo de linha dá para fazer quantas bermudas?), etc. Somando esses valores, teremos os<br />

custos variáveis da nossa costura. Suponhamos que essa soma seja de R$ 20,00 por peça.<br />

Observação: todos esses cálculos são aproximados. Não há necessidade de grande precisão.<br />

Os custos fixos mensais são os custos que permanecem constantes, independente da<br />

quantidade produzida. Exemplos: o valor do aluguel, o pagamento de mão de obra<br />

permanente e os custos de manutenção e depreciação dos equipamentos.<br />

Observação: a depreciação dos equipamentos, que já calculamos, também faz parte dos<br />

custos fixos.<br />

Suponhamos que, somando todos os valores que compõem os custos fixos da nossa oficina<br />

de costura, eles totalizem R$ 700,00 por mês.<br />

No nosso exemplo, para simplificar, não estamos considerando os custos de manutenção<br />

dos equipamentos. Mas, em geral, convém incluir nos custos fixos mensais a quantia<br />

correspondente a 1% do valor dos equipamentos. Devemos observar, também, que além<br />

dos custos de produção, ainda existem os custo de venda, os impostos (conforme o caso) e,<br />

se houver empréstimo, os custos financeiros.<br />

Mais uma vez convém lembrar que o cálculo dos custos para cada projeto específico deve<br />

ser obtido através das respostas às perguntas formuladas na primeira parte do estudo de<br />

viabilidade.


5. Verificar se a nossa receita menos as despesas resultam numa sobra. Esta sobra tem que ser<br />

suficiente para cobrir as despesas e fazermos uma reserva. Esta reserva é importante para<br />

cobrir fregueses que deixaram de pagar, para investir no próprio grupo, etc.<br />

Podemos, agora, montar os nossos cálculos.<br />

CÁLCULO PARA <strong>UM</strong>A PRODUÇÃO <strong>DE</strong> 25 BERMUDAS<br />

ITENS R$<br />

RECEITA (25 X 40,00) 1.000,00<br />

CUSTO VARIÁVEL POR UNIDA<strong>DE</strong> (25 X R$20,00) 500,00<br />

CUSTO FIXO MENSAL 700,00<br />

• salário e encargos (2x130,00)+ 54% * 400,00<br />

• depreciação 50,00<br />

• aluguel 150,00<br />

• custos administrativos 100,00<br />

CUSTO TOTAL 1.200,00<br />

SALDO - 200,00<br />

* Os encargos correspondem a cerca de 54% do valor do salário<br />

Conclusão: produzindo 25 bermudas por mês, o grupo terá um prejuízo de R$200,00.<br />

Vamos supor, agora, que ao invés de 25 bermudas por mês, o grupo conclua que consegue<br />

produzir e vender 50 bermudas por mês.<br />

CÁLCULO PARA <strong>UM</strong>A PRODUÇÃO <strong>DE</strong> 50 BERMUDAS<br />

ITENS R$<br />

RECEITA (50 X 40,00) 2.000,00<br />

CUSTO VARIÁVEL POR UNIDA<strong>DE</strong> (50 X R$20,00) 1.000,00<br />

CUSTO FIXO MENSAL 700,00<br />

• salário e encargos(2x130,00)+54% 400,00<br />

• depreciação 50,00<br />

• aluguel 150,00<br />

• custos administrativos 100,00<br />

CUSTO TOTAL 1.700,00<br />

SALDO 300,00<br />

Conclusão: produzindo mais 25 bermudas por mês, o grupo passa de uma situação de prejuízo<br />

para um superávit de R$300,00. Mas, atenção, a decisão de aumentar a produção pode<br />

acarretar uma série de outras implicações que o grupo deve avaliar cuidadosamente. Ou seja,<br />

esse exemplo é apenas para ilustrar o fato de que toda atividade possui um nível mínimo de<br />

produção abaixo do qual ela apresentará um prejuízo.<br />

No caso do nosso exemplo, qual é essa quantidade mínima de bermudas que o grupo deve<br />

produzir para a atividade não apresentar prejuízo? A este nível de atividade nós vamos<br />

denominar de ponto de equilíbrio.<br />

6. Cálculo do ponto de equilíbrio<br />

O ponto de equilíbrio indica a quantidade mínima que deve ser produzida para que a atividade<br />

não apresente nem lucro nem prejuízo. Não basta apenas determinar o preço do nosso<br />

produto, calcular os seus custos de produção e indicar a quantidade que pensamos vender.<br />

Qualquer produção abaixo do ponto de equilíbrio resultará num prejuízo. Por isso o seu


cálculo é importante: ele permite visualizar, antecipadamente, a quantidade mínima que<br />

teremos de produzir e vender para que a nossa atividade dê bons resultados.<br />

Para calcularmos o ponto de equilíbrio, precisamos fazer apenas duas contas:<br />

• subtrair, do preço de venda, o custo variável por unidade. Com isso, encontramos o valor<br />

que sobra, após a venda de cada peça, para pagar os custos fixos. A esta sobra,<br />

denominaremos de margem de contribuição. Esta conta significa que, do valor obtido com<br />

a venda de cada bermuda, R$20,00 se destinam ao pagamento dos custos variáveis<br />

correspondentes. O resultado dessa diferença (preço de venda menos o custo variável por<br />

unidade) é que vai ajudar a pagar os custos fixos (por isso essa sobra é chamada de margem<br />

de contribuição). No nosso exemplo, após a venda de cada bermuda, sobram R$20,00 para<br />

ajudar a pagar os custos fixos.<br />

CÁLCULO DO PONTO <strong>DE</strong> EQUILÍBRIO<br />

preço de venda R$ 40,00<br />

menos custo variável por unidade R$ 20,00<br />

= margem de contribuição R$ 20,00<br />

• temos que saber, agora, quantas bermudas precisamos vender para pagar o valor total dos<br />

custos fixos mensais. Em outras palavras, vamos ver quantas “margens de contribuição”<br />

precisamos juntar para pagarmos o total dos custos fixos mensais. Se cada bermuda<br />

contribui com R$20,00, basta dividirmos o valor total dos custos fixos mensais pela<br />

margem de contribuição de cada bermuda. O resultado dessa conta indicará a quantidade<br />

mínima que deve ser produzida e vendida a cada mês para pagar os custos fixos.<br />

custo fixo mensal<br />

R$ 700,00<br />

dividido pela margem de contribuição<br />

R$ 20,00<br />

= ponto de equilíbrio<br />

35 bermudas<br />

Isto significa que as primeiras 35 bermudas que forem produzidas se destinam apenas a<br />

pagar os custos fixos. O lucro começará a surgir das vendas que ultrapassarem esta<br />

quantidade mínima.<br />

Este exercício ajuda a compreender o objetivo do estudo de viabilidade: equacionar as<br />

condições para que a atividade dê bons resultados. No nosso exemplo, ao encontrarmos um<br />

resultado negativo, variamos a quantidade produzida. Mas o grupo tem que ter certeza que<br />

consegue vender uma quantidade mínima de bermudas por mês. Ou, então, analisar outras<br />

alternativas, como aumentar o preço de venda ou diminuir os custos de produção. De qualquer<br />

forma, alguma alternativa teria que ser buscada antes de se iniciar a atividade.<br />

2.2 Questões associativas<br />

Mesmo quando o projeto é viável do ponto de vista estritamente econômico, surgem muitas<br />

tensões e conflitos pelo fato das “regras do jogo” não terem sido previamente combinadas.<br />

Antes de iniciar a atividade, é preciso que cada um dos envolvidos reflita sobre as


implicações do projeto em termos de compromissos e responsabilidades que terão que ser<br />

assumidos. É preciso, portanto, combinar previamente as relações de convivência que<br />

devem ser estabelecidas e assumidas por todos. É comum, por exemplo, se vislumbrar<br />

apenas os benefícios esperados de uma atividade econômica, sem antever o trabalho, as<br />

exigências e as responsabilidades que dela resultam. Neste sentido, por exemplo, podem<br />

ser formuladas as seguintes questões:<br />

• quem vai participar do projeto? Participam sócios e não sócios? Em que condições?<br />

• qual a responsabilidade de cada um dos envolvidos ao aceitar participar da atividade?<br />

• quem vai ser o responsável pela manutenção dos equipamentos?<br />

• a atividade vai empregar mão-de-obra remunerada? Qual será o tipo de contrato (salário<br />

fixo, por hora de trabalho, prestação de serviços, etc)?<br />

• a matéria prima vai ser fornecida pelos próprios sócios? Como será o pagamento? Após o<br />

beneficiamento e a venda ou será paga antecipadamente?<br />

• quais são as tarefas de administração? Como serão realizadas?<br />

• que anotações e registros físicos e financeiros (compras, produção, vendas) são<br />

necessários? Quem vai fazer e como serão feitas essas anotações? Precisamos aprender<br />

como se faz isso? Como proceder?<br />

• quem vai cuidar das vendas? uma pessoa? o grupo todo? como?<br />

• qual será o destino do lucro que venha a ser obtido?<br />

Atenção: essas são questões delicadas. Aparentemente, têm pouco a ver com a viabilidade<br />

econômica em si. Mas têm muito a ver com a viabilidade do grupo se manter unido por<br />

longo tempo. E essa união, isso sim, tem muito a ver com a viabilidade econômica do<br />

projeto.<br />

3. Dificuldades normalmente enfrentadas<br />

3.1 Para calcular os custos fixos e variáveis<br />

A dificuldade para se encontrar os números que compõem os custos normalmente resultam do<br />

nível de conhecimento que o grupo tem sobre a atividade que pretende realizar. Entretanto, a<br />

medida em que vamos calculando esses números, vamos sendo obrigados a estudar, de forma<br />

detalhada, como é que o nosso projeto vai funcionar. Nesta fase, é muito importante visitar<br />

outros grupos que já tenham uma experiência acumulada com a atividade que pretendemos<br />

iniciar<br />

3.2 No entendimento dos custos fixos<br />

Os custos fixos envolvem pagamentos que não são realizados todo dia. É o caso, por exemplo,<br />

da manutenção de máquinas e equipamentos. O mesmo ocorre com a reserva para<br />

depreciação. É comum considerar qualquer sobra como sendo lucro, desconhecendo-se a<br />

necessidade de fazer essa reserva para os gastos com a manutenção e depreciação dos<br />

equipamentos. Com isso cria-se a ilusão de uma rentabilidade aparente que, com o correr do<br />

tempo, pode inviabilizar o projeto.


3.3 Na relação entre os objetivos econômicos e sociais do grupo<br />

Um grande desafio enfrentado pelos grupos populares empenhados em alguma atividade<br />

econômica, é a busca da eficiência através de processos democráticos e solidários. Em geral,<br />

por sua própria história, as organizações populares tendem a enfatizar a dimensão social ou<br />

político-pedagógica do seu trabalho, em detrimento dos resultados econômicos e das práticas<br />

necessárias ao bom gerenciamento das atividades que realizam. Levado às ultimas<br />

conseqüências, este procedimento termina por comprometer a própria existência do grupo,<br />

frustrando, em última instância, os objetivos sociais anteriormente enfatizados. Um outro<br />

risco, é a ênfase unilateral nos resultados econômicos, mas que conserva e recria, no interior<br />

do grupo, relações que reforçam antigos e novos laços de dependência.<br />

3.4 Na comercialização<br />

É muito comum as pessoas pensarem que, para iniciar uma atividade produtiva, basta saber<br />

produzir bem. Mas a nossa atividade, para dar certo, só se conclui quando o produto tiver sido<br />

vendido e o comprador tiver pago. É neste momento que os recursos gastos nos custos de<br />

produção retornam para o grupo. Quando o produto está pronto para ser vendido, todos os<br />

gastos necessários à sua produção já foram realizados. Portanto, as perdas, nesta fase, saem<br />

muito caras. Esta é uma das grandes dificuldades normalmente enfrentadas, e tem sido motivo<br />

de muita frustração.<br />

Quem produz tem que vender e, para isso, tem que conhecer bem:<br />

• o seu produto, suas principais características e vantagens, para saber falar sobre ele;<br />

• o seu mercado comprador (lojas, feiras, porta em porta) e as exigências desse mercado;<br />

• os produtos similares ou concorrentes, as vantagens e desvantagens em comparação com o<br />

nosso, inclusive o preço.<br />

E não basta esse conhecimento. É preciso sair vendendo. Só se aprende a vender, com a<br />

prática da venda.<br />

No caso dos produtos agrícolas, é exatamente isso o que o atravessador sabe e que nós<br />

precisamos aprender. Muitas vezes, o atravessador sabe mais sobre a capacidade de produção<br />

de uma associação do que a própria associação. Ele conhece o mercado. Conhece o mundo de<br />

fora da nossa roça. Ele conhece os produtores e sabe quanto cada um produz. E sabe também<br />

onde estão os compradores. E é com os compradores que ele fica sabendo os preços.<br />

No caso dos produtos agrícolas, portanto, para que possamos entender como funciona o<br />

processo de comercialização, precisamos responder a seguinte pergunta: o que o<br />

atravessador sabe e que nós não sabemos?<br />

O atravessador está em condições de comprar os produtos e vende-los rapidamente. Isto lhe<br />

permite trabalhar com um capital de giro muito pequeno. A informação é a base para saber<br />

onde podemos vender melhor os nosso produtos. O que nos interessa é buscar quem paga o<br />

melhor preço, mesmo se estiver longe. Desde que o preço do transporte compense. Na<br />

maioria das vezes, contudo, o melhor mercado é o mais próximo. Portanto, buscar<br />

informações sobre o mercado é a primeira coisa que devemos fazer quando queremos<br />

comercializar melhor nossos produtos.<br />

Atenção: a circulação de informações é essencial para se realizar uma boa venda. Não se<br />

mexe no produto antes de se ter informações. O que primeiro circula são as informações:


sobre preço, frete, quantidade que cada produtor tem disponível para vender, etc. O produto<br />

se desloca por último, quanto todos os detalhes da venda já estão acertados.<br />

Uma grande dificuldade, entretanto, é que ao realizar a comercialização, a Associação<br />

estabelece, simultaneamente, dois tipos de relações:<br />

• externamente, com o mercado (diferentes tipos de compradores) e suas exigências em<br />

relação ao produto (qualidade, classificação, quantidade mínima, preços etc.) Ou seja,<br />

são relações que envolvem conhecimentos que tradicionalmente são detidos pelo<br />

atravessador.<br />

• internamente, com os associados, na definição das regras do jogo, suas implicações,<br />

ganhos, riscos e responsabilidades incorridas por cada um no processo de<br />

comercialização<br />

Disso decorre que a comercialização promovida pela Associação envolve relações mais<br />

complexas do que aquelas tradicionalmente realizada pelo atravessador, quando o agricultor<br />

simplesmente vende o seu produto na porta do sítio. Ou seja, ao realizar a comercialização, a<br />

Associação deve conhecer os caminhos do mercado percorridos pelo atravessador e,<br />

simultaneamente, promover novas relações entre os associados.<br />

A relação com o mercado mais amplo (conhecer o que o atravessador conhece) pode ser<br />

alcançada, com alguma facilidade, através de um bom gerente de vendas. É nas relações<br />

internas com os associados, que residem os maiores desafios para a comercialização através<br />

da Associação. É na construção dessas relações, considerando sempre as exigências do<br />

mercado, que se pode aumentar as chances de êxito de uma comercialização coletiva. E aqui,<br />

novamente voltamos à importância das questões associativas anteriormente assinaladas.<br />

4. O papel do crédito e do apoio sob a forma de doação<br />

A disponibilidade de crédito destinado às atividades econômicas dos grupos populares revelase<br />

como um recurso essencial e que, até agora, tem merecido uma atenção bastante restrita por<br />

parte dos movimentos sociais urbanos. O acesso de pessoas pobres ao crédito é um direito e<br />

requer instituições especiais (em termos de sua filosofia, procedimentos e qualificação de<br />

pessoal), que se dediquem a este tipo de operação.<br />

Os projetos econômicos desenvolvidos pelos grupos populares necessitam do crédito, do<br />

crédito subsidiado e, em muitas situações, do apoio sob a forma de doação. Até agora, apenas<br />

o grande capital vem recebendo esses benefícios por parte do poder público. O Estado tem<br />

fornecido incentivos fiscais e infra-estrutura para as grandes empresas.<br />

Vou me deter, aqui, apenas num aspecto dessa questão, que é a importância do crédito e do<br />

apoio sob a forma de doação fornecidos por instituições não oficiais, considerando a<br />

importância desses recursos para a viabilização das atividades econômicas promovidas pelos<br />

grupos populares.<br />

Diferentemente das instituições financeiras, que se preocupam sobretudo com a capacidade de<br />

pagamento dos clientes, essas entidades não oficiais buscam compartilhar certos<br />

compromissos com quem solicita o crédito em torno de alguns objetivos maiores. Através do<br />

crédito ou da doação, estas entidades pretendem contribuir para reforçar a autonomia, a<br />

capacidade de iniciativa e a sustentabilidade das iniciativas populares diretamente<br />

empenhadas na criação de atividades econômicas participativas e solidárias como uma das<br />

formas de luta pela vida e de afirmação da cidadania.


Os recursos viabilizados por estas entidades serão tanto mais proveitosos na medida em que<br />

contribuam para estimular uma reflexão prévia e criteriosa, junto aos que solicitam os<br />

recursos, sobre a viabilidade econômica da atividade que pretendem realizar.<br />

O acesso aos recursos pressupõe que o grupo tenha informações essenciais, de forma a que<br />

possa avaliar e decidir, com conhecimento de causa, sobre a viabilidade e a gestão do<br />

empreendimento que pretende realizar. Embora existam diferenças, este princípio vale tanto<br />

para o crédito como para o apoio sob a forma de doação. No caso do crédito, o projeto deve<br />

gerar uma capacidade de pagamento compatível com os termos do crédito solicitado. Neste<br />

sentido, o estudo de viabilidade é um instrumento essencial, fornecendo elementos para que o<br />

grupo possa decidir, com maior segurança, sobre a atividade que pretende realizar.<br />

No caso das doações, devem ser identificadas as situações em que este tipo de apoio é o mais<br />

adequado. Acreditamos, entretanto, que as doações não excluem o estudo de viabilidade na<br />

medida em que o acesso a esses recursos possui uma clara dimensão educativa, objetivando a<br />

construção de relações de autonomia do próprio grupo, em contraposição às práticas<br />

meramente assistencialistas e compensatórias.<br />

Acreditamos que algumas atividades produtivas realizadas por grupos populares, por suas<br />

próprias características, não são economicamente rentáveis. É o caso, por exemplo, de certos<br />

processos produtivos que integram o hábito alimentar de algumas regiões, onde a produção<br />

destina-se, sobretudo, ao autoconsumo dos produtores. Ou seja, são produtos que,<br />

independente do seu valor de troca no mercado, tradicionalmente possuem um importante<br />

valor de uso para o consumo familiar dos produtores.<br />

Da mesma forma, os recursos para as atividades de capacitação técnica e gerencial de<br />

atividades econômicas dificilmente serão viabilizadas através do crédito. Mas essas situações<br />

não excluem, ao contrário, realçam a importância do estudo de viabilidade.<br />

5. Conclusões<br />

O estudo de viabilidade econômica envolve tanto os aspectos estritamente econômicos, como<br />

uma reflexão que resulte em definições sobre as regras do jogo, que nós denominamos, aqui,<br />

de questões associativas<br />

A análise econômica implica, num primeiro momento, em:<br />

• saber escolher bem as perguntas sobre o projeto que pretendemos realizar (as perguntas que<br />

formulamos aqui são apenas um exemplo. Certamente existem outras, que devemos nos<br />

preocupar em formular, conforme o tipo de empreendimento que pretendemos fazer)<br />

• buscar as respostas para estas perguntas (não temos obrigação de saber tudo. Quando<br />

tivermos dúvidas, devemos procurar quem nos possa ajudar)<br />

Num segundo momento:<br />

• Com base nas respostas a estas perguntas, podemos fazer os cálculos necessários para a<br />

análise de viabilidade econômica do projeto.


Para que o projeto tenha sucesso é essencial a participação consciente de todos os envolvidos.<br />

Ou seja, eles precisam ter todas as informações necessárias para que possam avaliar e decidir,<br />

com conhecimento de causa, sobre as implicações do projeto e sobre a responsabilidade de<br />

cada um em relação as várias atividades previstas. Este é o maior desafio para o sucesso do<br />

projeto.

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