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Sede Social- Rua António Cândido n.o 154, 4200-074 Porto


A décima primeira edição do Fórum Educacional da APEF decorreu nos passa<strong>dos</strong> dias 2,<br />

3 e 4 Março, em Coimbra. Ao longo <strong>dos</strong> três dias do evento foram discuti<strong>dos</strong>, por alunos das<br />

Faculdades/Institutos membros da APEF, diversos temas que preocupam os alunos e futuros<br />

farmacêuticos. Os temas aborda<strong>dos</strong> foram os seguintes: “Farmacêutico além- fronteiras”,<br />

“Nova Política do Medicamento: as consequências da inconsequência”, “Farmácia comunitária,<br />

que futuro?”, “O Plano Curricular do MICF e o Mercado de Trabalho” e, por fim, o<br />

“Farmacêutico e o SNS”.<br />

As temáticas tratadas em cada grupo de trabalho tiveram como objetivo não só<br />

consciencializar os estudantes para a realidade do sector, mas sobretudo torná-los estudantes<br />

atentos e melhor prepara<strong>dos</strong> face às necessidades do Mercado de Trabalho. Neste <strong>documento</strong><br />

estão esplanadas as conclusões e sugestões <strong>dos</strong> estudantes acerca das temáticas faladas que,<br />

posteriormente, serão apresentadas às entidades afectas ao tema discutido, com o intuito de<br />

sermos ouvi<strong>dos</strong>.<br />

É premente formar farmacêuticos pró-ativos e dinâmicos; o futuro da classe só a eles<br />

pertence, futuro esse que começa agora.<br />

P`lo Departamento de Formação e Ensino<br />

Joana Vilas Boas (FFUC)<br />

Sede Social- Rua António Cândido n.o 154, 4200-074 Porto


Farmacêutico além-fronteiras<br />

Moderadores: Joana Carrasqueira (ISCSEM), Rita Figueira (FFUL);<br />

Participantes: Diogo Marques (FFUP), Diogo Raimundo (FFUL), Inês Ribeiro (FFUC), Joana<br />

Peralta (ULHT), João Simões (FFUL), Luís Requetim (UALG), Márcia Pinto (ISCSN), Mónica Pinto<br />

(UBI )e Ragussina Inácio (ISCSEM).<br />

Atualmente, existem nove instituições de ensino superior em Portugal que são<br />

responsáveis pela formação de cerca de 700 Farmacêuticos por ano. Nos próximos 20 anos<br />

passaremos de um número de 5000 Farmacêuticos para os 13000, o que a curto/médio prazo<br />

conduzirá a uma saturação do mercado de trabalho.<br />

Cerca de 57% <strong>dos</strong> jovens portugueses manifesta motivação e um interesse crescente<br />

em ter uma experiência a nível internacional, segundo estatísticas do Eurobarómetro, pelo que<br />

cada vez mais, a possibilidade de uma carreira além-fronteiras se vislumbra como uma<br />

realidade preponderante.<br />

Desta forma, com mente aberta e espírito crítico, por cá emerge entre as camadas<br />

mais jovens uma nova cultura, a procura de oportunidades além-fronteiras.<br />

É fundamental compreender as motivações que conduzem à ”fuga de cérebros” para<br />

novos merca<strong>dos</strong>, onde tendencialmente o reconhecimento e valorização da profissão<br />

Farmacêutica, alia<strong>dos</strong> a incentivos económicos bastante apelativos constituem os atrativos<br />

fundamentais para jovens empreendedores.<br />

A instabilidade social no país de origem, a falta de condições de apoio, o baixo<br />

incentivo à produtividade e as infra-estruturas por vezes pouco adequadas às necessidades da<br />

atividade, são fatores que conduzem a uma diminuição da satisfação e realização profissional.<br />

Neste âmbito, este sentimento é o fator primordial e decisivo aquando da decisão de emigrar.<br />

De um modo geral, é importante referir que também o facto de os jovens travarem<br />

conhecimento com Farmacêuticos que emigraram e tiveram experiências internacionais<br />

durante o percurso académico são considera<strong>dos</strong> fatores que aumentam a predisposição para<br />

emigrar.<br />

Por outro lado, os novos merca<strong>dos</strong> emergentes como a China, Índia, Emiratos Árabes<br />

Uni<strong>dos</strong>, Brasil, Angola e Moçambique afiguram-se bastante promissores e ideais para a<br />

construção de uma carreira a longo prazo. Estes merca<strong>dos</strong> constituem uma aposta válida para<br />

o futuro uma vez que se encontram numa fase de perentória expansão e crescimento<br />

económicos.<br />

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Contudo, é de salientar, a necessidade da realização de uma análise concreta destes<br />

merca<strong>dos</strong>, no sentido, de perceber se terão capacidade de desenvolvimento de I&D ou se<br />

apenas procuram formar os seus próprios especialistas, que deverão aprender com os<br />

profissionais qualifica<strong>dos</strong> provenientes de merca<strong>dos</strong> tradicionais onde os mesmos já são<br />

excedentários.<br />

Igualmente ao nível do Ensino Farmacêutico, tem-se verificado uma alteração do<br />

paradigma, no sentido em que, os estudantes procuram ter um contacto com o estrangeiro,<br />

cada vez mais precocemente, revelando a pró-atividade e dinamismo que tão bem caracteriza<br />

a iniciativa <strong>dos</strong> jovens portugueses.<br />

Com o objetivo de representar e defender as questões que afectam diretamente a vida<br />

<strong>dos</strong> jovens estudantes, foram criadas associações de carácter internacional, que<br />

estrategicamente têm um contacto mais próximo com entidades que regulamentam o sector.<br />

No caso concreto das Ciências Farmacêuticas, este tipo de associativismo encontra-se<br />

organizado a nível, nacional pela Associação Portuguesa de Estudantes de farmácia (APEF),<br />

europeu pela European Pharmaceutical Students` Association (EPSA) e mundial pela<br />

International Pharmaceutical Students` Federation (IPSF), sendo que para além do carácter<br />

representativo, têm, também, como objectivo colmatar as lacunas na formação académica.<br />

Pretendem, ainda, organizar e promover estágios extra curriculares no estrangeiro que<br />

permitam ao aluno ter uma visão mais globalizada do mercado de trabalho.<br />

Esta experiência extracurricular, permite acrescentar valor à formação do aluno, não<br />

só pela componente técnico/científica mas também a nível pessoal, uma vez que a capacidade<br />

de adaptação, sentido de responsabilidade e autonomia estão a ser constantemente postos à<br />

prova.<br />

São assim exemplos de sucesso os programas de IMP (Individual Mobility Project) e<br />

sMaRt promovi<strong>dos</strong> pela EPSA e o SEP (Student Exchange Programme) da IPSF.<br />

Com o intuito de implementar um reconhecido programa formativo, a APEF promove o<br />

APEF Training Project (ATP), que pretende ser uma adaptação do Leaders in Training (LIT) à<br />

realidade portuguesa. Com este tipo de treino ao nível de soft skills, os alAleksandra<br />

Szczurekunos têm a possibilidade de desenvolver novas competências e aprimorar<br />

características que são fundamentais no recrutamento de jovens para o mercado de trabalho<br />

estrangeiro.<br />

De mencionar ainda o programa Erasmus que facilita de forma notória esta<br />

globalização pelas parcerias que representa entre as universidades a nível europeu, e<br />

possibilita o contacto direto com metodologias de ensino/aprendizagem diferentes que<br />

permitem a integração do estudante no contexto educativo do país de acolhimento.<br />

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O mercado de trabalho, cada vez mais exigente e competitivo, requer que o<br />

Farmacêutico preencha certos requisitos, mas que também demonstre uma polivalência e<br />

criatividade que permitam ser um factor diferencial no seu recrutamento.<br />

A proximidade geográfica e os esforços que têm sido feitos com o intuito de facilitar a<br />

mobilidade europeia tornam os merca<strong>dos</strong> tradicionais atrativos aos jovens Farmacêuticos. A<br />

diretiva europeia que regulamenta a mobilidade das profissões de saúde dentro do espaço<br />

europeu permite aos Farmacêuticos emigrarem com os diplomas e serem automaticamente<br />

reconheci<strong>dos</strong> no país de acolhimento.<br />

Por outro lado, relativamente aos Farmacêuticos que procuram uma saída nos novos<br />

merca<strong>dos</strong> emergentes, para além de apresentarem o perfil que à partida caracteriza um jovem<br />

com intenção de emigrar, têm que revelar atributos adicionais. Neste caso, existe outro tipo de<br />

realidade onde por vezes as condições sanitárias, de segurança e culturais são completamente<br />

distintas das suas originárias.<br />

Este êxodo de mão-de-obra jovem e qualificada tem repercussões para o país, tanto a<br />

nível social como profissional, uma vez que apesar da experiência estar associada aos mais<br />

velhos, a iniciativa <strong>dos</strong> jovens é o principal motor da dinâmica da profissão. Com a perca desta<br />

mão-de-obra qualificada o país corre o risco de estagnar.<br />

Esta “fuga de cérebros” pode, então, ser encarada numa perspectiva económica, visto<br />

que o investimento do Estado feito na formação destes profissionais devidamente habilita<strong>dos</strong><br />

não tem retorno e estes mesmos jovens vão gerar riqueza no seu país de acolhimento. Este<br />

factor, pode também ser encarado como uma das principais vantagens de certos merca<strong>dos</strong><br />

abrangerem profissionais estrangeiros já qualifica<strong>dos</strong>, uma vez que tem a custo zero,<br />

profissionais credíveis, com elevada qualificação, motivação e ainda predispostos a mostrar<br />

todo o seu valor e a gerar riqueza para o país.<br />

Se por um lado a competitividade direta entre emigrantes e Farmacêuticos forma<strong>dos</strong><br />

no país, pode ser encarada como uma contribuição para a saturação de mercado, por outro<br />

lado funcionará como um incentivo à constante melhoria.<br />

Outra área onde o Farmacêutico revela grande potencialidade de intervenção é o<br />

voluntariado. Nesta vertente mais nobre, o Farmacêutico é essencial no apoio às populações,<br />

contactando diretamente e prestando cuida<strong>dos</strong> de saúde primários. O voluntariado assume-se<br />

como uma possibilidade de contacto com realidades bastante diferentes da sua e tem um<br />

papel ativo e interventivo.<br />

Perante a atual realidade é necessário aprender com os erros verifica<strong>dos</strong> noutros<br />

países e olhar para a nossa própria situação com o intuito de incrementar medidas que<br />

contrariem uma conjetura interna menos favorável.<br />

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Considera-se que a mobilidade permite, então, uma avaliação interna das realidades<br />

vividas nos diferentes países, uma triagem e compilação das principais medidas que possam<br />

ser vantajosas para o futuro do sector no próprio país.<br />

Torna-se, desta forma, imperativo, aprender além-fronteiras e aplicar “cá” o que de<br />

melhor se faz “lá fora”.<br />

O Plano Curricular do MICF e o Mercado de Trabalho<br />

Moderadores: Isabel Viana (FFUC), Rita Costa (ISCSEM);<br />

Participantes: Ana Neves (ISCSN), Bruna Matias (ISCSEM), Joana Gomes (UALG), João Roma<br />

(FFUL), Luís Azevedo (FFUP), Luís Fernandes (UBI), Marina Pinto (UALG), Raúl Almeida (FFUC).<br />

Para garantir a qualidade do ensino do MICF, com vista à formação de profissionais<br />

competentes e qualifica<strong>dos</strong> para o exercício das suas funções adequadas ao mercado de<br />

trabalho, surge a necessidade de estabelecer um conjunto de parâmetros de qualidade que<br />

devem ser comuns a todas as Faculdades/Institutos.<br />

O cumprimento de tais parâmetros exige a avaliação periódica de cada<br />

estabelecimento de ensino, nomeadamente ao nível <strong>dos</strong> conteú<strong>dos</strong> programáticos<br />

obrigatórios que definem as valências básicas e únicas de um Mestre em Ciências<br />

Farmacêuticas, a nível da avaliação do seu corpo docente e por fim, a avaliação das infraestruturas<br />

e gestão de recursos.<br />

Esta avaliação deverá ser realizada por parte de uma entidade externa e independente<br />

de qualquer entidade representante ou reguladora do Setor Farmacêutico (à semelhança da<br />

A3ES), que inclua impreterivelmente Farmacêuticos na equipa. Esta avaliação será executada<br />

de 5 em 5 anos, contemplando um ciclo completo de estu<strong>dos</strong> do MICF, com posterior<br />

divulgação <strong>dos</strong> resulta<strong>dos</strong>.<br />

Na sequência de uma avaliação negativa, propõe-se a suspensão da abertura de vagas<br />

do curso no estabelecimento em causa, havendo um prazo legalmente definido para uma<br />

reestruturação que permita a obtenção de uma classificação positiva.<br />

Considerando a atual saturação do mercado de trabalho, torna-se fulcral a redução do<br />

número de recém-gradua<strong>dos</strong> desemprega<strong>dos</strong>. Neste sentido, é imperativo a redução de vagas<br />

por contingente geral ao ensino de MICF, o controlo <strong>dos</strong> ingressos por mudança de curso e,<br />

por fim, impedir a emergência de novos estabelecimentos de ensino que ministrem o MICF.<br />

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A atual conjuntura da farmácia comunitária, bem como a crescente desvirtuação do<br />

conceito de atendimento ao utente, torna evidente a impossibilidade de dissociação entre a<br />

direção técnica e propriedade das farmácias e da dispensa efetuada por técnicos auxiliares de<br />

farmácia ou mesmo técnicos de farmácia.<br />

Segundo o Código Deontológico Farmacêutico, Artigo 5º, “O ato farmacêutico é da<br />

exclusiva competência e responsabilidade <strong>dos</strong> farmacêuticos” e, o seu conteúdo, definido no<br />

Artigo 6º, inclui:<br />

“e) Preparação, controlo, seleção, aquisição, armazenamento e dispensa de<br />

medicamentos de uso humano e veterinário e de dispositivos médicos em farmácias abertas ao<br />

público, serviços farmacêuticos hospitalares e serviços farmacêuticos privativos de quaisquer<br />

outras entidades públicas e privadas;<br />

g) Interpretação e avaliação das prescrições médicas;<br />

h) Informação e consulta sobre medicamentos de uso humano e veterinário e sobre<br />

dispositivos médicos, sujeitos e não sujeitos a prescrição médica, junto de profissionais de<br />

saúde e de doentes, de modo a promover a sua correta utilização;<br />

i) Acompanhamento, vigilância e controlo da distribuição dispensa e utilização de<br />

medicamentos de uso humano e veterinário e de dispositivos médicos;<br />

j) Monitorização de fármacos, incluindo a determinação de parâmetros<br />

farmacocinéticos e o estabelecimento de esquemas posológicos individualiza<strong>dos</strong>.”<br />

Posto isto, propõe-se a clarificação do papel do Farmacêutico perante o Sistema<br />

Nacional de Saúde e seus intervenientes, em relação à dispensa medicamentosa acima<br />

descrita.<br />

Neste sentido, a dispensa do medicamento deve ser efetuada exclusivamente por<br />

Farmacêuticos, quer em farmácias quer em locais de venda de medicamentos não sujeitos a<br />

receita médica, havendo sempre uma distinção visual clara entre o Farmacêutico e os<br />

restantes colaboradores.<br />

Assim, com a certeza das competências restritas à classe Farmacêutica, impõe-se a<br />

implementação de um sistema de avaliação periódico e rigoroso aos Farmacêuticos que<br />

efetuam a Dispensa. Esta avaliação deverá ser levada a cabo por uma entidade competente<br />

que, na opinião <strong>dos</strong> estudantes, poderá ser a <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong> Farmacêuticos.<br />

As exigências do mercado de trabalho aliadas à polivalência do Farmacêutico como<br />

profissional do medicamento e agente de saúde pública, prendem-se com um maior<br />

investimento em áreas pouco exploradas como as Análises Clínicas, Toxicológicas,<br />

Bromatológicas e Alimentares.<br />

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Para que os estudantes do MICF tenham uma visão abrangente de todas as saídas<br />

profissionais para as quais estão qualifica<strong>dos</strong>, propõe-se a implementação de um modelo de<br />

estágios intercalares observacionais, à semelhança do que acontece na Universidade da Beira<br />

Interior. Na mesma linha de raciocínio, os estudantes do MICF exigem que o seu estágio<br />

curricular seja mais abrangente, alargando os estágios a mais áreas profissionais mantendo, no<br />

entanto, a salvaguarda da passagem por Farmácia Comunitária.<br />

No atual panorama da empregabilidade, é de extrema importância que to<strong>dos</strong> os<br />

profissionais do medicamento (Farmacêuticos e Técnicos de Farmácia) assumam uma atitude<br />

responsável e empreendedora, e efetuem uma reflexão acerca das competências adquiridas<br />

no decorrer da sua formação, adequando e direcionando a mesma para as funções que<br />

exercem.<br />

A crescente preocupação com o futuro da classe Farmacêutica motiva os estudantes a<br />

serem pró-ativos, mantendo uma posição cada vez mais informada e construtiva em relação<br />

aos interesses da classe que, num futuro próximo, representarão.<br />

A discussão desta temática vem no seguimento de um debate com estudantes<br />

representativos de to<strong>dos</strong> os estabelecimentos de ensino ministrantes do MICF em Portugal.<br />

Deste modo, considera-se que to<strong>dos</strong> os pontos acima descritos são críticos, e os estudantes<br />

exigem uma rápida reforma que altere o paradigma da classe Farmacêutica, enquanto<br />

profissão em que os portugueses mais confiam.<br />

O farmacêutico e o SNS<br />

Moderadores: Luís Duarte (FFUL), Vânia Serra (ULHT);<br />

Participantes: Ana Rita Gonçalves (UALG), Inês Jales (ISCSN), Joana Ferreira (FFUP), João<br />

Barata (UBI), João Martins (FFUC), Li Wenli (ULHT), Nuno Car<strong>dos</strong>o (FFUL), Tiago Caria (FFUP),<br />

Zahra Kará (ISCSEM).<br />

Face ao panorama atual do Sistema Nacional de Saúde (SNS), sentiu-se a necessidade<br />

de reafirmar o papel fundamental do Farmacêutico na primeira linha de cuida<strong>dos</strong> de saúde.<br />

Pretende-se com o presente <strong>documento</strong> alertar as entidades reguladoras do sector e a<br />

sociedade, para a importância do farmacêutico como profissional de saúde, que por vezes é<br />

esquecida, levando a que as suas capacidades sejam subvalorizadas. As competências<br />

multidisciplinares técnicas e científicas adquiridas pelo Farmacêutico, durante a sua formação,<br />

conferem-lhe legitimidade total para interagir com os diferentes profissionais da área, na<br />

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esolução <strong>dos</strong> problemas inerentes ao SNS. Devido à importância e impacto que alguns fatores<br />

assumem no deficiente funcionamento do sistema, é fulcral enumera-los com o intuito de<br />

sugerir soluções.<br />

Considerando a realidade da Farmácia Hospitalar, verifica-se uma gestão inadequada<br />

de recursos humanos. Nas equipas de saúde, observa-se um crescente número de outros<br />

profissionais de remuneração inferior à <strong>dos</strong> Mestres em Ciências Farmacêuticas, o que resulta<br />

numa menor qualidade do serviço prestado, serviço este que poderia ser melhorado com uma<br />

requalificação interna. Deveria ser atingido um nível superior de aconselhamento, eficácia e<br />

segurança do serviço, privilegiando uma melhor formação em detrimento da quantidade de<br />

recursos humanos, e desta forma iria promover-se uma redução de despesa pública.<br />

A utilização do Farmacêutico como agente de revisão terapêutica muitas vezes é<br />

desvalorizada pela dificuldade de coordenação entre Médicos e Farmacêuticos. Torna-se<br />

essencial, em primeiro lugar, diferenciar os serviços presta<strong>dos</strong> pelos mesmos, e após estes<br />

perceberem quais são realmente as suas competências individualizadas na realidade do<br />

Sistema Nacional de Saúde, cada um atuar e ser realmente específico na sua área. Apesar de<br />

exercerem serviços específicos é essencial a cooperação entre ambos em prol do bem-estar do<br />

doente.<br />

Tendo isto em conta, sugere-se a criação de um serviço a nível<br />

hospitalar/Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) em que o Farmacêutico desempenhe<br />

funções de gestor da terapêutica do utente de forma mais direcionada, discutindo<br />

adequadamente o seu plano terapêutico. O Farmacêutico teria como função assegurar o seu<br />

devido cumprimento, fazer entender a sua importância, prevenir a duplicação da terapêutica e<br />

que os hábitos de vida (como a alimentação ou a prática de exercício físico) potenciem o efeito<br />

pretendido. Neste espaço, o SNS forneceria a possibilidade ao utente de ser acompanhado de<br />

forma próxima por um profissional competente, proporcionando um serviço que tem vindo a<br />

perder a dinâmica pretendida na farmácia comunitária. Tal apoio iria levar a um decréscimo do<br />

número de utentes interna<strong>dos</strong> por causas facilmente solucionadas num primeiro contacto com<br />

este serviço. Este tipo de acompanhamento poderia facilmente ser alargado a casos como os<br />

lares de 3ª idade, ou as prisões onde há uma necessidade acrescida de vigilância, seja pelos<br />

casos flagrantes e frequentes de negligente "aconselhamento farmacêutico”, pelas auxiliares<br />

<strong>dos</strong> lares ou o pobre apoio dado aos toxicodependentes em estabelecimentos prisionais.<br />

O Farmacêutico usufrui de uma posição única e privilegiada no contacto com o utente.<br />

Tal confere-lhe maior relevância na promoção e educação para a saúde comparativamente a<br />

outros profissionais, proporcionando ainda o primeiro nível de contacto com o indivíduo, a<br />

família e a comunidade, e desta forma inicia o processo permanente de assistência de saúde. A<br />

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adoção de um programa de Cuida<strong>dos</strong> de Saúde Primários (CSP) permitiria responder melhor e<br />

mais rapidamente perante os problemas de saúde emergentes. A sustentar esta posição está<br />

um relatório da Administração Regional de Saúde do Norte (ARS Norte), datado de Agosto de<br />

2011, no qual a implementação de CSP evitou gastos desnecessários da ordem <strong>dos</strong> 131,5<br />

milhões de euros possibilitando a prestação de mais e melhores cuida<strong>dos</strong>.<br />

Sugere-se para um melhor acompanhamento terapêutico, a criação de uma Ficha do<br />

Utente que permita evitar e diminuir complicações provenientes da sobreposição ou interação<br />

farmacológica, dirigida preferencialmente a i<strong>dos</strong>os, doentes polimedica<strong>dos</strong> e doentes de alto<br />

risco, recorrendo a da<strong>dos</strong> obti<strong>dos</strong> numa situação de acompanhamento farmacêutico. Os da<strong>dos</strong><br />

presentes nesta, juntamente com to<strong>dos</strong> os outros parâmetros passíveis de serem analisa<strong>dos</strong><br />

na farmácia, permitem a deteção precoce de alterações que possam originar complicações<br />

futuras.<br />

No que respeita às comissões hospitalares, o Farmacêutico é imprescindível como<br />

profissional competente que decide, inova e melhora os serviços hospitalares. O Farmacêutico<br />

tem um papel fulcral ao intervir na seleção da terapêutica, garantindo custo-efectividade,<br />

segurança e eficácia.<br />

É importante que o Farmacêutico continue a assegurar a escolha <strong>dos</strong> medicamentos<br />

que integram o Formulário Hospitalar <strong>dos</strong> Medicamentos (FHM), contribuindo para o aumento<br />

da racionalização da terapêutica, e assim diminuir os gastos e os efeitos adversos, potenciando<br />

o efeito clínico.<br />

Propõe-se que o Farmacêutico continue a integrar as comissões de farmácia e<br />

terapêutica, ética, controlo de infeção, nutrição clínica, ensaios clínicos, entre outras. Só desta<br />

forma se pode garantir um controlo efetivo <strong>dos</strong> doentes, das suas terapêuticas e <strong>dos</strong> gastos no<br />

hospital inerentes a estes, bem como da segurança de to<strong>dos</strong> os intervenientes no seio<br />

hospitalar.<br />

Em suma, reitera-se a importância do Farmacêutico no SNS pois contribui para um<br />

melhor funcionamento e sustentabilidade do mesmo, em virtude das suas competências<br />

multidisciplinares adquiridas na excelência da sua formação académica. O Farmacêutico<br />

deverá, inexoravelmente, estar envolvido na reestruturação do SNS, que se considera<br />

essencial.<br />

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Nova Política do medicamento: as consequências da inconsequência<br />

Moderadores: Christian Taveira (FFUP), Teresa Torres (FFUC);<br />

Participantes: Henrique Oliveira (ISCSEM), Inês Dias (ULHT), Mariana Pinho (FFUC), Miguel<br />

Silva (UBI), Nuno Silva (ISCSEM), Ricardo Santos (UALG), Rita Rodrigues (FFUL), Rita Viana<br />

(FFUP), Sandra Magro (FFUC).<br />

Na última década, o Estado Português tem adotado diversas medidas no sentido de<br />

reduzir progressivamente os encargos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) com os<br />

medicamentos, tendo-se observado sucessivas reduções administrativas <strong>dos</strong> preços <strong>dos</strong><br />

medicamentos, tanto a nível do ambulatório como a nível hospitalar. Para além disto, estas<br />

reduções <strong>dos</strong> preços <strong>dos</strong> medicamentos, que atuam diretamente sobre o preço de venda ao<br />

público destes, têm sido usadas como uma ferramenta para induzir um desvio na procura, de<br />

forma a incentivar um maior consumo de medicamentos genéricos.<br />

Enquanto futuros Farmacêuticos, este fenómeno é preocupante, atendendo a que<br />

estas medidas levam a uma diminuição <strong>dos</strong> custos que o SNS tem com os medicamentos<br />

apenas a curto prazo, mas que irão aumentar os encargos do Estado com a Saúde a<br />

médio/longo prazo. Para além disto, a promoção da utilização de medicamentos genéricos<br />

deve ser feita através da sensibilização da população e <strong>dos</strong> diversos profissionais de saúde<br />

sobre a eficácia e qualidade destes, e não recorrendo a mecanismos de mercado basea<strong>dos</strong><br />

numa lógica da redução do nível de preços.<br />

É importante que se perceba que ao diminuir o preço de um medicamento para<br />

valores que chegam a ser dez vezes inferiores ao seu preço de venda inicial, favorece-se uma<br />

desvalorização e uma banalização deste, o que socialmente potencia o aumento do consumo<br />

desnecessário por parte do doente, e consequente desperdício, diminuindo assim a eficácia e<br />

segurança da terapêutica. Toda esta situação tem como resultando um aumento <strong>dos</strong> gastos<br />

por parte do SNS com a população e com a saúde.<br />

Por outro lado, esta redução administrativa do preço <strong>dos</strong> medicamentos leva a uma<br />

diminuição da margem comercial das farmácias, o que resulta numa necessidade aumentada<br />

por parte destas de rentabilizar os gastos em várias frentes, como por exemplo, a nível <strong>dos</strong><br />

recursos humanos. Atualmente esta redução <strong>dos</strong> gastos tende a passar, como to<strong>dos</strong> sabemos,<br />

pela contratação de técnicos de farmácia em detrimento de gradua<strong>dos</strong> em Ciências<br />

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Farmacêuticas. Contudo, é fácil perceber que decorrente destas medidas verificar-se-á uma<br />

diminuição da qualidade do serviço prestado nas farmácias, bem como do ato farmacêutico.<br />

Tudo isto se traduz numa menor adesão à terapêutica e consequentemente numa terapêutica<br />

menos eficaz; também é de referir o aumento <strong>dos</strong> riscos de saúde pública, o que em última<br />

instância levará o doente a recorrer mais vezes ao SNS. Isto porque se os resulta<strong>dos</strong> em termos<br />

de terapêutica não forem os deseja<strong>dos</strong>, o doente irá recorrer novamente aos serviços do SNS,<br />

aumentando, entre outras questões de saúde pública, os custos com a saúde por parte do<br />

Estado.<br />

Tabela 1: Reduções administrativas <strong>dos</strong> medicamentos<br />

Como se verifica no esquema acima referido, num intervalo de apenas 5 anos, temos<br />

uma redução administrativa no preço <strong>dos</strong> medicamentos acima de 50%, o que pelos factos<br />

menciona<strong>dos</strong> acima, é preocupante para to<strong>dos</strong> os estudantes enquanto futuros profissionais<br />

de saúde.<br />

Por outro lado, a venda de medicamentos não sujeitos a receita médica em outros<br />

locais que não a farmácia comunitária, possui riscos não muito óbvios à primeira vista, pois<br />

leva a uma banalização da visão do próprio medicamento como agente terapêutico, podendo<br />

contribuir para um aumento <strong>dos</strong> riscos para a saúde pública.<br />

Desta prática advém uma desvalorização, ainda que inconsciente, do ato farmacêutico,<br />

uma vez que como dito anteriormente, o aconselhamento e controlo clínico da terapêutica<br />

ficariam comprometi<strong>dos</strong>. Como tal seria vantajoso a criação de uma lista de medicamentos<br />

não sujeitos a receita médica de venda exclusiva na Farmácia, pois com esta restrição da venda<br />

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de determina<strong>dos</strong> medicamentos será possível um maior controlo <strong>dos</strong> problemas acima<br />

descritos.<br />

Em relação à atual conjuntura <strong>dos</strong> medicamentos genéricos, verifica-se que a sua<br />

introdução no mercado nacional facilitou a acessibilidade aos medicamentos pela maioria da<br />

população, sem prescindir da eficácia, segurança e qualidade destes. Dada a conjuntura<br />

económica existente, a adesão a estes medicamentos tem aumentado significativamente,<br />

como forma do doente reduzir os gastos na saúde, assegurando assim uma continuidade da<br />

terapêutica, que de outra forma não seria possível em muitos casos. Contudo, estes devem ser<br />

promovi<strong>dos</strong> não só pela viabilidade económica, mas, sobretudo, pelo facto de serem<br />

igualmente eficazes, dada a sua bioequivalência com os medicamentos de referência, pelo que<br />

devem ser considera<strong>dos</strong> seguros.<br />

No entanto, o custo irrisório de alguns medicamentos genéricos acarreta<br />

consequências graves, como a desvalorização <strong>dos</strong> riscos inerentes aos medicamentos. Esse<br />

custo demasiado baixo deve-se às condições impostas pelo artigo 8º, secção II do Decreto-lei<br />

nº 112/2011 de 29 de Novembro, tais como “O PVP <strong>dos</strong> medicamentos genéricos a introduzir<br />

no mercado nacional, (...) é inferior no mínimo em 50% ao PVP do medicamento de<br />

referência...”. Assim sendo, será pertinente a revisão deste artigo, que prevê a fixação do<br />

preço máximo de venda ao público <strong>dos</strong> genéricos, no sentido de estabelecer um preço mínimo<br />

para estes medicamentos. É notória a oportunidade de monopolização por parte da indústria<br />

produtora de medicamentos de marca.<br />

Entende-se por “valor intrínseco” do medicamento todo o processo que envolve a sua<br />

descoberta e desenvolvimento, o seu controlo de qualidade, a sua correta utilização<br />

terapêutica, a sua avaliação farmacoeconómica e a sua farmacovigilância, os problemas<br />

logísticos <strong>associado</strong>s a ele, a sua propriedade intelectual e a sua questão comercial.<br />

Ao ser aplicada uma redução do preço do medicamento, estamos a provocar uma<br />

diminuição do seu valor intrínseco (qualidade) segundo uma perspectiva do doente. Esta<br />

desvalorização provoca um aumento do consumo por parte do doente. Esta banalização tem<br />

como grave consequência um aumento do risco para a saúde pública visto que poderá<br />

verificar-se um aumento do uso indevido e exagerado <strong>dos</strong> medicamentos.<br />

Face à problemática das elevadas despesas do SNS, várias medidas poderão ser<br />

adotadas para poupar com o gasto na Saúde, sem ter que efetuar cortes no custo com os<br />

medicamentos, tais como a racionalização do medicamento, de recursos materiais e humanos.<br />

Esta racionalização tem como principal objetivo potenciar uma triagem <strong>dos</strong> doentes a nível das<br />

farmácias comunitárias, de forma a evitar e diminuir a ida destes aos hospitais e centros de<br />

saúde. As farmácias passariam a ser uma primeira opção em detrimento das urgências<br />

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hospitalares, impedindo um entupimento destas e evitando desta forma as sucessivas<br />

entradas de pequeno carácter clínico, que podem facilmente ser resolvidas através da prática<br />

correta do ato farmacêutico.<br />

Outras medidas pertinentes seriam tentar implementar uma legislação de<br />

complementaridade entre médicos e Farmacêuticos, de forma a permitir, por exemplo, a<br />

avaliação por parte do Farmacêutico da prescrição feita pelo médico, medida esta que passaria<br />

inclusive pela inclusão de Farmacêuticos nos centros de saúde, que poderiam integrar equipas<br />

multidisciplinares, algo que já acontece em meio hospitalar.<br />

Também a criação e implementação de um sistema informático, como a prescrição<br />

eletrónica, para que seja mais favorável a racionalização do medicamento e a proximidade<br />

entre o doente e o profissional de saúde, adaptando assim o conceito de um “Farmacêutico de<br />

Família”, deverá ser uma consideração a ter em conta.<br />

Existe também uma necessidade de revisão do sistema de comparticipação,<br />

principalmente <strong>dos</strong> atuais subsistemas que ao longo <strong>dos</strong> anos se multiplicaram, uma urgente<br />

necessidade de por em prática a recentemente aprovada, prescrição por DCI, e ainda, a<br />

prescrição por uni<strong>dos</strong>e.<br />

Na atualidade farmacêutica cria-se uma necessidade evidente, que se prende com o<br />

facto de não existir um <strong>documento</strong> que regule a Política do Medicamento em Portugal. O mais<br />

próximo que se consegue encontrar disto publicamente disponível consta da página do<br />

INFARMED – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P. e remota a 2006.<br />

Desta forma, os principais objetivos da atual Politica do Medicamento são:<br />

-Assegurar o acesso aos medicamentos;<br />

-Garantir a eficácia, a segurança e a qualidade <strong>dos</strong> medicamentos;<br />

-Garantir a sustentabilidade do sistema, introduzindo maior racionalidade e eficácia na gestão<br />

do medicamento em meio ambulatório e hospitalar;<br />

-Melhorar a prescrição e dispensa;<br />

-Promover o desenvolvimento do sector farmacêutico.<br />

A criação deste <strong>documento</strong> seria elaborada tendo em conta a participação de to<strong>dos</strong> os<br />

profissionais de saúde, através da realização de uma comissão de trabalho que englobasse<br />

todas as áreas inerentes a este processo. Neste seria fundamental também, a participação de<br />

elementos do governo, tendo em conta a legislação em vigor, as alterações que se pretendem<br />

implementar e toda a componente socio-económica subjacente à mesma.<br />

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Neste <strong>documento</strong> deverão ser abordadas questões como o papel do Farmacêutico e<br />

do técnico de farmácia, em relação à dispensa do medicamento e as suas implicações a curto e<br />

longo prazo.<br />

O desenvolvimento deste <strong>documento</strong> poderá assim, ser fundamental para que a<br />

implementação de aspetos como a prescrição eletrónica se tornem numa realidade cada vez<br />

mais consolidada e realizada de forma sustentada em Portugal.<br />

O papel do Farmacêutico nos dias de hoje tem sido, de certo modo, desvalorizado.<br />

Compete assim a esta classe tão importante na área da saúde pública, criar estratégias para<br />

que a sua qualificação não seja posta em causa. Nesse sentido, será importante a<br />

implementação de uma avaliação creditada e contínua, para que o farmacêutico consiga<br />

desempenhar a sua atividade, tendo sempre em conta conhecimentos científicos<br />

constantemente actualiza<strong>dos</strong>.<br />

A formação contínua do profissional de saúde deve ser encarada como uma mais-valia<br />

e não como uma obrigação. O sistema atual, que funciona através da realização de uma quota<br />

mínima de créditos num determinado período de tempo, não obriga os profissionais a terem<br />

que mostrar os conhecimentos que adquirem nas formações e atividades onde adquirem estes<br />

créditos. Nesse sentido, urge a necessidade de implementar um processo de avaliação. Tal<br />

fator, iria criar nos profissionais uma necessidade de estudo contínua, sendo que esta poderia<br />

focar áreas como a farmacovigilância, a farmacoeconomia/gestão, assim como os cuida<strong>dos</strong><br />

farmacêuticos, de entre outras áreas, que poderiam ser facilmente potencializadas na classe<br />

farmacêutica.<br />

Quando o conjunto de elementos supracita<strong>dos</strong> forem aplica<strong>dos</strong>, estes darão ao<br />

Farmacêutico maior capacidade de resposta ao doente, permitindo um aporte de<br />

conhecimentos científicos, para que o doente seja o principal beneficiário do serviço prestado.<br />

Evidenciando agora a Investigação e Desenvolvimento e de acordo com a atual<br />

conjuntura de instabilidade, é notório que o Estado não demonstra interesse em apoiar<br />

iniciativas nesta área, uma vez que os custos <strong>associado</strong>s a ela <strong>associado</strong>s são eleva<strong>dos</strong> e nem<br />

sempre se obtém um retorno daquilo que se investiu. Para além desta lacuna, surgem também<br />

outros problemas <strong>associado</strong>s à Investigação e aos Ensaios Clínicos, como, por exemplo, a<br />

necessidade de respeitar todo um conjunto de burocracias que tornam estes processos muito<br />

morosos e dispendiosos.<br />

Relativamente aos Ensaios Clínicos, a solução passaria por simplificar o processo de<br />

realização destes à semelhança de outros países, como os Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> da América ou o<br />

Canadá. A sua realização em Portugal é de extrema importância, uma vez que se fariam<br />

estu<strong>dos</strong> numa amostra representativa <strong>dos</strong> doentes a que os medicamentos se destinam.<br />

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No que respeita a esta área do sector, deveriam garantir-se benefícios fiscais<br />

significativos às entidades que produzissem novos medicamentos e medicamentos inovadores<br />

e que dessem prioridade às necessidades do mercado nacional.<br />

Por fim, será crucial associar esta temática à remuneração do ato farmacêutico.<br />

Atualmente o ato farmacêutico não é diretamente remunerado, levando a uma desvalorização<br />

da intervenção do farmacêutico junto do doente. Na tentativa de valorizar o ato farmacêutico,<br />

propõe-se não uma remuneração com base no preço do medicamento, mas sim um valor<br />

previamente definido, que seria suportado pelo Estado, doente e/ou indústria, tratando-se<br />

esta de uma medida com resulta<strong>dos</strong> a curto prazo.<br />

Para além desta proposta, será ainda relevante para a valorização da profissão<br />

Farmacêutica e do próprio setor, a implementação da realização de consultas farmacêuticas,<br />

que visam promover a saúde do doente, integrando o conceito do farmacêutico de família e de<br />

farmácia social.<br />

Farmácia comunitária, que futuro?<br />

Moderadores: Diogo Viana (FFUL), João Teixeira (FFUP);<br />

Participantes: Carina Rodrigues (UBI), Catarina Leite Silva (ISCSN), Duarte Gomes (UALG),<br />

Francisca Vilas Boas (FFUL), Lúcia Marinho (FFUC), Margarida Vaz (FFUP), Mariana Noronha<br />

(ULHT), Patrícia Ferreira (ULHT), Sofia Silva (ISCSEM), Sónia Silva (FFUC).<br />

Face à conjuntura sócio-económica do país e, consequentemente, do sector<br />

Farmacêutico surgiu a necessidade de debater, enquanto estudantes de Ciências<br />

Farmacêuticas e futuros profissionais de saúde, os atuais problemas da farmácia comunitária.<br />

Como principais causas para a crise nas farmácias é de salientar o estado económico do país, a<br />

existência de estabelecimentos autoriza<strong>dos</strong> à venda de medicamentos não sujeitos a receita<br />

médica, a redução da margem de lucro, a segmentação da propriedade da farmácia face à sua<br />

direção técnica, a fiscalização pouco rigorosa pelas entidades competentes, mas acima de tudo<br />

a subvalorização do farmacêutico enquanto profissional de saúde.<br />

Atendendo à crise económica que o país atravessa, os custos alarga<strong>dos</strong> que o SNS<br />

encarreta e a sua saturação, com cerca de 800.000 doentes sem médico de família, as<br />

farmácias surgem cada vez mais com um papel preponderante na primeira linha de cuida<strong>dos</strong><br />

de saúde e como meio de poupança e redução de gastos para o mesmo. Como poderá o<br />

Farmacêutico, então, aliviar a sobrecarga de custos que se verifica no SNS?<br />

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Sendo a farmácia o local de prestação de cuida<strong>dos</strong> de saúde mais acessível ao cidadão<br />

e o Farmacêutico o único profissional a contactar com o utente anteriormente à doença,<br />

torna-se possível ao mesmo assumir uma política de prevenção e promoção para a saúde.<br />

Assim, a realização de um diagnóstico precoce, através de uma triagem inicial, impede que<br />

problemas “menores” congestionem outras unidades de Saúde.<br />

Embora o Farmacêutico se revele uma mais-valia na recuperação da economia, é<br />

imprescindível a existência de interação com outros profissionais da área da saúde, o que<br />

levanta a questão: onde termina o papel do farmacêutico e onde começa o <strong>dos</strong> restantes<br />

profissionais de saúde?<br />

O Farmacêutico é o especialista do medicamento e o médico o responsável pelo<br />

diagnóstico do utente. Torna-se fundamental a complementaridade entre as competências de<br />

ambos, e é cada vez mais relevante a otimização da troca de informação entre estes<br />

profissionais. A forma de otimizar esta necessidade e garantir a eficiência do tratamento<br />

passará pela adoção de novas estratégias de comunicação e partilha de informação, através da<br />

digitalização do historial clínico e farmacoterapêutico do doente.<br />

Para além da diferenciação entre a atividade médica e farmacêutica, é de extrema<br />

importância distinguir também os papéis <strong>dos</strong> profissionais de saúde que trabalham nas<br />

farmácias comunitárias. Atualmente, torna-se cada vez mais necessária a distanciação entre<br />

Técnicos de Farmácia e Farmacêuticos. É necessário identificar os cuida<strong>dos</strong> que só o<br />

Farmacêutico consegue prestar, valorizar a qualidade que as suas valências conferem aos<br />

mesmos e assim justificar a sua contratação, quando a empregabilidade de Técnicos de<br />

Farmácia se revela economicamente mais viável.<br />

Neste contexto, torna-se premente encontrar alternativas que permitam fazer frente à<br />

realidade apresentada. O Farmacêutico deverá alargar os seus horizontes, exercendo e<br />

inovando na prestação de serviços farmacêuticos. Segundo a Portaria nº 1429/2007 de 2 de<br />

Novembro, os serviços farmacêuticos presta<strong>dos</strong> pelas Farmácias definem-se por:<br />

- Apoio domiciliário;<br />

- Administração de primeiros-socorros;<br />

- Administração de medicamentos;<br />

- Utilização de meios auxiliares de diagnóstico e terapêutica;<br />

- Administração de vacina não incluídas no Plano Nacional de Vacinação;<br />

- Programas de cuida<strong>dos</strong> farmacêuticos;<br />

- Campanhas de informação;<br />

- Colaboração em programas de educação para a Saúde.<br />

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O futuro da Farmácia passará, não só, por uma política de aumento de qualidade de<br />

to<strong>dos</strong> os serviços presta<strong>dos</strong>, mas também por uma forte inovação e dinamização <strong>dos</strong> mesmos,<br />

quer dentro quer fora da Farmácia.<br />

Internamente, ao nível do atendimento ao balcão, é de extrema importância assegurar<br />

a qualidade do atendimento prestado, juntamente com a dispensa do medicamento. Uma<br />

contínua formação do profissional, um maior dispêndio de tempo no ato e uma atenção<br />

personalizada ao utente são algumas das nossas propostas que vão de encontro ao que<br />

referimos anteriormente. No entanto, para além do ato da dispensa, o atendimento<br />

farmacêutico deverá passar, também, pela implementação de consultas farmacêuticas com<br />

vista à promoção da saúde. Assim, para além de garantir um atendimento ainda mais<br />

individualizado, assegurando a farmacovigilância, estas abrem portas a outras iniciativas como:<br />

consultas de nutrição, consultas de psicologia, rastreios, entre outras medidas preventivas e de<br />

manutenção de saúde.<br />

Nesta vertente, é necessário reestruturar a imagem da farmácia, criar espaços de<br />

atendimento individuais, assegurar a privacidade e conforto necessário, abandonar a noção da<br />

farmácia como um mero espaço de balcão. No seguimento da implementação destes serviços<br />

personaliza<strong>dos</strong>, propomos um novo sistema de atendimento que passará por uma seriação por<br />

parte do utente face ao serviço que procura.<br />

A inovação <strong>dos</strong> serviços presta<strong>dos</strong> não pode limitar-se ao interior da farmácia, sendo<br />

necessário alargar a ação do Farmacêutico além das quatro paredes. Como forma de reforçar a<br />

presença do Farmacêutico na sociedade e junto do utente, deverão ser estimuladas atividades<br />

como ações de formação em determina<strong>dos</strong> espaços públicos (escolas, prisões, lares, etc.); uma<br />

maior aposta no apoio domiciliário e estu<strong>dos</strong> de saúde pública. Estas são algumas das<br />

atividades que suportam o papel do Farmacêutico enquanto promotor da saúde e bem-estar,<br />

promovem a sua visibilidade, reafirmam a sua importância e competências e valorizam o seu<br />

contributo na sociedade.<br />

Nos últimos tempos, tem sido continuamente exigido às farmácias esforços com<br />

sucessivas reduções e implementação de margens de lucro regressivas. Foi dado um passo<br />

importante no sentido de valorizar o ato farmacêutico, no entanto, não é coerente que a<br />

valorização atribuída à dispensa de medicamentos seja avaliada mediante o valor económico<br />

de cada medicamento.<br />

De modo a manter a sustentabilidade das farmácias e a não comprometer a presença<br />

e qualidade do serviço do farmacêutico, é necessário que as receitas das farmácias não sejam,<br />

maioritariamente, dependentes das margens de lucro do medicamento. Desta forma, o<br />

Farmacêutico poderá actuar como profissional de saúde centrado no doente. É de realçar que<br />

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a implementação de uma taxa fixa sobre o ato farmacêutico será uma medida capaz de<br />

assegurar e valorizar os cuida<strong>dos</strong> de saúde presta<strong>dos</strong> nas farmácias.<br />

Face à dura realidade que o sector enfrenta e os novos desafios que esta nos<br />

proporciona, compreendemos que a Associação Nacional das Farmácias (ANF) lute pela<br />

sobrevivência das farmácias. Contudo, não entendemos a proposta de reduzir o número de<br />

farmacêuticos, uma vez que se vai traduzir na redução da qualidade <strong>dos</strong> serviços presta<strong>dos</strong><br />

pelos mesmos, pondo em causa a saúde pública.<br />

Da mesma forma, a nova proposta de contrato coletivo de trabalho da ANF para o<br />

Sindicato Nacional <strong>dos</strong> Farmacêuticos (SNF) conduz à vulgarização da classe Farmacêutica e, a<br />

médio/longo prazo, levará à descredibilização e à diminuição da qualidade <strong>dos</strong> serviços<br />

presta<strong>dos</strong> nas farmácias. Entre as implicações desta proposta a redução, em todas as<br />

categorias de Farmacêuticos, no valor médio de 319,40€ nos salários; a introdução da nova<br />

categoria de farmacêuticos de grau V (com a remuneração mensal de 840€ ou seja, uma<br />

redução de 474,67€ para os Farmacêuticos que ingressam no mercado de trabalho); a redução<br />

de férias; a eliminação de diuturnidades para novos contratos, entre outros, vão resultar na<br />

desmotivação <strong>dos</strong> Farmacêuticos, diminuição do número de Farmacêuticos nas farmácias<br />

comunitárias e consequente emigração.<br />

Em suma, na visão <strong>dos</strong> estudantes de Ciências Farmacêuticas, o Farmacêutico é um elo<br />

insubstituível nos cuida<strong>dos</strong> de saúde, sendo impreterível a valorização <strong>dos</strong> serviços que presta.<br />

A farmácia comunitária deverá, cada vez mais, focar-se nas necessidades do doente,<br />

respeitando sempre a distanciação das diferentes funções <strong>dos</strong> restantes profissionais de<br />

saúde, mas não deixando que esta a impeça de melhorar a qualidade do serviço prestado.<br />

É essencial apostar na inovação <strong>dos</strong> serviços, na formação contínua <strong>dos</strong> seus<br />

profissionais e na valorização do ato farmacêutico.<br />

De salientar ainda a necessidade de uma contínua e crescente valorização do<br />

Farmacêutico e do seu papel na sociedade, sendo esta, na opinião <strong>dos</strong> estudantes do MICF,<br />

fundamental para a sobrevivência das farmácias. As medidas no combate à crise nas farmácias<br />

não se podem limitar a soluções de curto prazo devendo este facilitismo ser combatido com<br />

medidas que tenham em vista a sustentabilidade e crescimento das farmácias a médio/longo<br />

prazo.<br />

É com tristeza que vemos o avanço (e a falta deste noutros casos) de medidas e<br />

propostas feitas por entidades do sector nas quais sempre depositamos a nossa confiança.<br />

Enquanto futuros farmacêuticos, não podemos compactuar com a falta de coerência entre a<br />

valorização da profissão farmacêutica e a promoção irracional da gestão de recursos humanos<br />

nas farmácias.<br />

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Consideramos que o ato farmacêutico é essencial e que a sua qualidade deve ser<br />

preservada, que hoje mais do que nunca, é necessário que to<strong>dos</strong> façamos sacrifícios para<br />

assegurar a sustentabilidade das Farmácias, mas não somos da opinião de que estes sacrifícios<br />

passem pela desvalorização do ato farmacêutico e da saúde do doente.<br />

É importante que todas as entidades percebam aquilo em que acreditamos: que para a<br />

crise do sector, os farmacêuticos não são o problema, mas sim a solução.<br />

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