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“Futebol de prosa” e “futebol de poesia”: a “linguagem do ... - UFPR

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habili<strong>do</strong>so <strong>do</strong> que o sul-americano: “Você cresce escutan<strong>do</strong> que o sul-americano é mais<br />

habili<strong>do</strong>so <strong>do</strong> que o joga<strong>do</strong>r europeu, mas aí aparece um ban<strong>do</strong> <strong>de</strong> loiros grandalhões para<br />

fazer isso parecer uma piada” (Diversos, 1998b:10). Certamente, isto se <strong>de</strong>ve à própria<br />

<strong>de</strong>cadência <strong>do</strong> futebol uruguaio que nunca mais voltou a repetir atuações vitoriosas como<br />

aquelas das seleções olímpicas <strong>de</strong> 1924 e 1928, e da celeste bicampeã nas Copas <strong>de</strong> 1930 e<br />

1950. De certa forma, o futebol latino-americano acabou por assumir uma postura próxima <strong>do</strong><br />

futebol europeu, hoje em dia até mesmo pelo gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> atletas sul-americanos que<br />

atuam em equipes européias. Como ressalta o jornalista Juca Kfouri, “a verda<strong>de</strong> é que nós<br />

exportamos os nossos í<strong>do</strong>los; ao invés <strong>de</strong> exportar a nossa arte, a gente exportou o artista.”<br />

(KFOURI apud CAPOVILA, 2005) Já <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista europeu, pre<strong>do</strong>minava no início uma<br />

crença na disciplina <strong>de</strong> conjunto em <strong>de</strong>trimento da habilida<strong>de</strong> individual, como po<strong>de</strong>mos<br />

constatar na seguinte <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> Vittorio Pozzo (1886-1968), técnico da Squadra Azzurra nas<br />

campanhas vitoriosas <strong>de</strong> 1934 e 1938: “Enquanto um time europeu mantiver a sua disciplina<br />

tática, há poucas chances <strong>de</strong> ser surpreendi<strong>do</strong> por um time latino. Não há habilida<strong>de</strong> natural<br />

que supere a força <strong>do</strong> conjunto” (Diversos, 1998a:11). Mais tar<strong>de</strong>, com as conquistas<br />

brasileiras, essa visão foi dan<strong>do</strong> lugar à admiração pelo futebol “improvisa<strong>do</strong>” e “criativo”.<br />

Marcel Vonlanthen, centroavante da Seleção Suíça na Copa <strong>de</strong> 1962, <strong>de</strong>monstrou sua<br />

admiração pelos craques brasileiros: “Eu vi Pelé jogan<strong>do</strong> na Suécia e imaginei estar diante <strong>de</strong><br />

um ser <strong>de</strong> outro planeta, um homem capaz <strong>de</strong> transformar o futebol num outro esporte.<br />

Agora [i.e., 1962] estou ven<strong>do</strong> Garrincha, que <strong>de</strong>finitivamente transcen<strong>de</strong> o jogo <strong>de</strong> futebol.<br />

Até quan<strong>do</strong> o Brasil vai nos surpreen<strong>de</strong>r com esses gênios da bola que brotam em seus<br />

campos?” (Diversos, 1998a:11). E Franz Beckenbauer, o Kaiser da seleção alemã, campeão na<br />

Copa <strong>de</strong> 1974 como joga<strong>do</strong>r e na Copa <strong>de</strong> 1990, como técnico, também <strong>de</strong>staca a habilida<strong>de</strong><br />

individual como a marca <strong>do</strong> futebol imprevisível:<br />

Ver o Brasil jogar é um sonho, enfrentar o Brasil é um pesa<strong>de</strong>lo. Quan<strong>do</strong><br />

você pensa que o joga<strong>do</strong>r vai fazer uma coisa, ele executa a jogada mais<br />

improvável, e ainda assim <strong>de</strong>ixa você para trás. Jogar contra brasileiros,<br />

argentinos e uruguaios exige concentração total durante toda a partida.

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