21.05.2014 Views

“Futebol de prosa” e “futebol de poesia”: a “linguagem do ... - UFPR

“Futebol de prosa” e “futebol de poesia”: a “linguagem do ... - UFPR

“Futebol de prosa” e “futebol de poesia”: a “linguagem do ... - UFPR

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

24<br />

que tomou alguns objetos, como arquitetura, mobília, comida e vestuário no intuito <strong>de</strong><br />

sugerir méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> análise semiótica para elementos semióticos não-linguísticos, ou à la<br />

Greimas na sua visão <strong>de</strong> que “uma estrutura narrativa se manifesta em qualquer tipo <strong>de</strong><br />

texto” (NÖTH, 1999:145) e, portanto, em qualquer sistema semiótico. Como bem aponta<br />

Maurício Santana Dias,<br />

[...] ao imitar o estilo acadêmico e criar conceitos como ‘po<strong>de</strong>ma’,<br />

Pasolini está longe <strong>de</strong> se converter ao méto<strong>do</strong> semiótico: ao contrário,<br />

seu objetivo é golpear o racionalismo transforma<strong>do</strong> em jogo vazio, em<br />

pura técnica, que ele via expandir-se por to<strong>do</strong>s os campos da<br />

experiência como uma ameaça aos recursos vitais <strong>do</strong>s indivíduos – e <strong>de</strong><br />

que o discurso acadêmico seria apenas um sintoma. (DIAS, 2005:4)<br />

Todavia, Pasolini não pô<strong>de</strong> evitar que seu próprio discurso se construísse não só como<br />

aquele da “linguagem <strong>do</strong> futebol”, mas também da “linguagem sobre o futebol”. Pois atribuir<br />

ao futebol gêneros, juízos <strong>de</strong> valor e tendências provenientes <strong>de</strong> um outro âmbito cultural – o<br />

da Literatura – significa revesti-lo <strong>de</strong> senti<strong>do</strong> outro. Po<strong>de</strong>ríamos falar <strong>de</strong> um processo<br />

metafórico ou, para nos mantermos no âmbito da Semiologia, lançarmos mão das<br />

consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> Roland Barthes sobre o Sistema da moda (1967) que, similarmente ao futebol,<br />

se construiria por uma “moda escrita”, ou seja, “os comentários sobre as fotografias da moda”<br />

(NÖTH, 1999:139). Portanto, as significações enunciadas por Pasolini em seu artigo são<br />

geradas a partir da intenção <strong>de</strong> atribuir significa<strong>do</strong>s aos objetos, ou seja, aos elementos<br />

constitutivos <strong>do</strong> sistema <strong>do</strong> futebol. Neste ponto, <strong>de</strong>vemos lembrar que Barthes negou a<br />

autonomia semiótica <strong>de</strong> sistemas não-linguísticos:<br />

Objetos, imagens, comportamento po<strong>de</strong>m significar, e, claro está, o<br />

fazem abundantemente, mas nunca <strong>de</strong> maneira autônoma; qualquer<br />

sistema semiológico está perpassa<strong>do</strong> <strong>de</strong> linguagem. A substância visual,<br />

por exemplo, confirma suas significações ao fazer-se repetir por uma<br />

mensagem lingüística [...], <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que ao menos uma parte da<br />

mensagem icônica está numa relação estrutural <strong>de</strong> redundância ou<br />

revezamento com o sistema da língua. (BARTHES apud NÖTH, 1999:<br />

140)

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!