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“Futebol de prosa” e “futebol de poesia”: a “linguagem do ... - UFPR

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2, com 3 gols <strong>de</strong> Paolo Rossi. Na primeira fase, a Itália não passou <strong>de</strong> três empates (0 a 0<br />

contra a Polônia, 1 a 1 contra o Peru, e 1 a 1 contra Camarões), totalizan<strong>do</strong> 02 gols, enquanto o<br />

Brasil contabilizaria 10 gols em três jogos (2 a 1 contra a União Soviética, 4 a 1 contra a<br />

Escócia, e 4 a 0 contra a Nova Zelândia). O interessante é que o Brasil, elimina<strong>do</strong> pela Itália na<br />

segunda fase da competição, marcou 15 gols em 05 partidas, enquanto a Seleção Italiana<br />

marcou 12 gols em 07 partidas. Esses números refletem, pela última vez, os postula<strong>do</strong>s<br />

propostos por Pasolini.<br />

Assassina<strong>do</strong> em 02 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1975, Pasolini “não teve tempo <strong>de</strong> assistir à<br />

conversão <strong>do</strong>s brasileiros ao ‘futebol <strong>de</strong> prosa’” (DIAS, 2005:4), como aponta Maurício<br />

Santana Dias. Nesse mesmo senti<strong>do</strong>, o psicanalista Tales Ab’Sáber argumenta que “nosso<br />

futebol <strong>de</strong>caiu em criativida<strong>de</strong> e beleza, um aberto trabalho i<strong>de</strong>ológico <strong>de</strong> resignação ao<br />

‘possível’, bastante amplo em nossa cultura, escandaloso em to<strong>do</strong>s os seus níveis <strong>de</strong><br />

conservação <strong>do</strong> mal que nos envolve.” (AB’SÁBER, 2002:11) Des<strong>de</strong> a <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> 1982,<br />

segun<strong>do</strong> esse autor, “cansamos <strong>de</strong> ouvir que o bom futebol seria o competitivo e eficaz, o que<br />

apenas ganha, e não o belo, ofensivo, mas <strong>de</strong>rrota<strong>do</strong>, como se essas características estivessem<br />

para sempre fundidas.” (AB’SÁBER, 2002:13) Para Ab’Sáber, o gol – momento máximo <strong>do</strong><br />

“futebol <strong>de</strong> poesia” segun<strong>do</strong> Pasolini – teria seu significa<strong>do</strong> altera<strong>do</strong> nessa maneira <strong>de</strong> jogar:<br />

“O pior e mais cruel <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os ataques, a nós mesmos, foi a partir daí [i.e., após 1982] a<br />

mediocrida<strong>de</strong> violenta da busca exclusiva <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s, em que elementos estruturais<br />

importantes <strong>do</strong> futebol, como o gol, passaram a ser ‘um <strong>de</strong>talhe’.” (AB’SÁBER, 2002:13)<br />

É importante ressaltar também que, ao tomar o gol como momento máximo <strong>de</strong> poesia<br />

no futebol, Pasolini centra toda a atenção no meio-campo e no ataque. Isto reflete no mo<strong>do</strong><br />

como ele postula sua tipologia <strong>de</strong> gênero, exemplificada sempre por joga<strong>do</strong>res meiocampistas<br />

ou atacantes, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que o setor <strong>de</strong>fensivo acaba sen<strong>do</strong> relega<strong>do</strong> a terceiro plano.<br />

Retranca, portanto, não teria nada a ver com “poesia”. Não é por acaso que nas nove<br />

primeiras edições da Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> Futebol a média <strong>de</strong> gols tenha si<strong>do</strong> tão alta, uma vez<br />

que o gol não era encara<strong>do</strong> como “<strong>de</strong>talhe”, mas sim como objetivo principal numa partida<br />

<strong>de</strong> futebol.

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