âFutebol de prosaâ e âfutebol de poesiaâ: a âlinguagem do ... - UFPR
âFutebol de prosaâ e âfutebol de poesiaâ: a âlinguagem do ... - UFPR
âFutebol de prosaâ e âfutebol de poesiaâ: a âlinguagem do ... - UFPR
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
6<br />
linguagem são os joga<strong>do</strong>res; nós, nas arquibancadas, somos os <strong>de</strong>cifra<strong>do</strong>res; em comum,<br />
possuímos um código” (PASOLINI, 2005:4). 11 Em termos discursivos, po<strong>de</strong>ríamos supor,<br />
então, a construção <strong>de</strong> <strong>do</strong>is planos, o da expressão e o da recepção, conforme o esquema<br />
abaixo:<br />
plano <strong>de</strong> recepção<br />
<strong>de</strong>cifra<strong>do</strong>res<br />
(especta<strong>do</strong>res)<br />
plano <strong>de</strong> expressão<br />
cifra<strong>do</strong>res<br />
(joga<strong>do</strong>res)<br />
Neste senti<strong>do</strong>, sua “semiologia <strong>do</strong> futebol” se aproximaria daquela <strong>de</strong>finição geral<br />
proposta mais tar<strong>de</strong> por Umberto Eco, que <strong>de</strong>finiu a semiótica como o estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os<br />
processos culturais enquanto “processos <strong>de</strong> comunicação” (ECO apud NÖTH, 1999:169),<br />
sen<strong>do</strong> que “o critério <strong>do</strong> comunicativo, na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Eco, pressupõe uma mensagem<br />
codificada em um código convenciona<strong>do</strong> entre os participantes <strong>de</strong> uma mesma cultura”<br />
(NÖTH, 1999:170).<br />
Além disso, Pasolini enfatiza a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se partilhar da mesma linguagem – uma<br />
outra característica <strong>de</strong> toda e qualquer linguagem – para que se possa enten<strong>de</strong>r os<br />
significa<strong>do</strong>s por ela comunica<strong>do</strong>s: “Quem não conhece o código <strong>do</strong> futebol não enten<strong>de</strong> o<br />
‘significa<strong>do</strong>’ <strong>de</strong> suas palavras (os passes) nem o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu discurso (um conjunto <strong>de</strong><br />
passes)” (PASOLINI, 2005:4). 12<br />
Por um la<strong>do</strong>, Pasolini aplica ao futebol categorias semelhantes àquelas utilizadas pelo<br />
cineasta no intuito <strong>de</strong> estabelecer uma distinção entre “cinema <strong>de</strong> prosa” e “cinema <strong>de</strong><br />
poesia”. Em seus célebres ensaios “Il cinema di poesia” (“O cinema <strong>de</strong> poesia”; 1965) e “Il<br />
cinema come lingua scritta <strong>de</strong>lla realità” (“O cinema como língua escrita da realida<strong>de</strong>”; 1966),<br />
11<br />
“I cifratori di questo linguaggio sono i giocatori, noi, sugli spalti, siamo i <strong>de</strong>cifratori: in comune dunque<br />
poesediamo un codice” (PASOLINI, 1999:2547).<br />
12<br />
“Chi non conosce il codice <strong>de</strong>l calcio non capisce il ‘significato’ <strong>de</strong>lle sue parole (i passaggi) né il senso <strong>de</strong>l suo<br />
discorso (un insieme di passaggi)” (PASOLINI, 1999:2548).