Língua Portuguesa e Literaturas em Língua ... - Colégio Platão
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GABARITO 1 - <strong>Língua</strong> <strong>Portuguesa</strong> e <strong>Literaturas</strong> <strong>em</strong><br />
<strong>Língua</strong> <strong>Portuguesa</strong>, <strong>Língua</strong> Estrangeira e Redação<br />
12. Leia o fragmento a seguir, retirado do conto “Onze de<br />
maio”, de Rub<strong>em</strong> Fonseca, integrante da coletânea O<br />
cobrador, e assinale o que for correto.<br />
“Volto para o meu cubículo. Nunca me senti tão b<strong>em</strong> na<br />
minha vida. Acho mesmo que a minha diarreia acabou.<br />
Sou mais inteligente do que eles. Já sei por que ninguém<br />
dura mais de seis meses aqui. Se o interno não morrer das<br />
humilhações e privações, do desespero e da solidão, eles<br />
o envenenam e matam. A chaminé! Aquele cheiro é de<br />
carne queimada! Nós não val<strong>em</strong>os a comida que com<strong>em</strong>os,<br />
n<strong>em</strong> um enterro decente. Não consigo sopitar a minha<br />
alegria. Não sinto medo, n<strong>em</strong> horror, dessas descobertas<br />
atrozes. Estou vivo, escapei, com minhas próprias forças,<br />
do destino torpe que eles armaram para mim, e isso me<br />
enche de euforia. Minha mente está cheia de l<strong>em</strong>branças e<br />
r<strong>em</strong>iniscências históricas dos grandes homens que lutaram<br />
contra a opressão, a iniquidade e o obscurantismo.”<br />
01) Sendo as tendências da prosa cont<strong>em</strong>porânea, a<br />
partir da década de 1970, marcadas pelo ecletismo,<br />
ou seja, pelo pluralismo de estilos, a linguag<strong>em</strong><br />
é igualmente plural e diversificada: vai desde os<br />
discursos mais simples até aqueles mais complexos.<br />
No fragmento acima, Rub<strong>em</strong> Fonseca vale-se de<br />
uma linguag<strong>em</strong> simples, direta e objetiva.<br />
02) A t<strong>em</strong>ática do conto a que pertence o fragmento<br />
acima, seguindo uma tendência da prosa brasileira<br />
cont<strong>em</strong>porânea, gira <strong>em</strong> torno da loucura. O<br />
narrador-protagonista é um dos internos de um<br />
conhecido manicômio paulistano que, <strong>em</strong> meio aos<br />
delírios provocados pela doença, engendra uma<br />
história de maus tratos e de perseguição, o que<br />
acaba por resultar <strong>em</strong> uma rebelião imaginária.<br />
Embora tudo não passe de delírio, o texto concentra<br />
<strong>em</strong> si um alto teor crítico relacionado às instituições<br />
oficiais de recuperação de doentes mentais.<br />
04) A ideologia que subjaz à construção do conto<br />
cujo fragmento é destacado acima gira <strong>em</strong> torno<br />
da contestação das relações de poder, de modo<br />
especial da probl<strong>em</strong>atização acerca do tratamento<br />
dispensado aos idosos na sociedade cont<strong>em</strong>porânea:<br />
seres humanos fragilizados pela idade e pela<br />
consequente falta de saúde são submetidos aos<br />
desmandos de funcionários <strong>em</strong>penhados <strong>em</strong> exercer<br />
burocraticamente uma função que requer valores<br />
humanitários. Entram também no âmbito dessa<br />
probl<strong>em</strong>atização as consequências do descaso e do<br />
abandono da família.<br />
08) O conto cujo fragmento está destacado pode<br />
ser analisado a partir do contexto da chamada<br />
pósmodernidade, período que compreende,<br />
aproximadamente, os últimos 40 anos, e que<br />
t<strong>em</strong> sido caracterizado fundamentalmente pelo<br />
questionamento de valores instituídos e pela reflexão<br />
e análise acerca do comportamento humano, com<br />
vistas à desestabilização de preconceitos e de<br />
moralizações hipócritas. Rub<strong>em</strong> Fonseca, <strong>em</strong><br />
consonância com o pensamento reformista da<br />
época, traz à baila, no referido conto, uma discussão<br />
envolvendo a legitimidade, a eficácia e a pertinência<br />
dos ironicamente chamados “lares” para idosos.<br />
16) Dentre as diversas tendências da prosa<br />
cont<strong>em</strong>porânea, a obra de Rub<strong>em</strong> Fonseca e,<br />
portanto, a narrativa cujo fragmento é destacado<br />
acima, é classificada pela crítica como prosa urbana.<br />
Isso porque o escritor retrata de forma hiperrealista<br />
as patologias humanas, consequências<br />
desastrosas da vida nos grandes centros urbanos:<br />
a desumanidade, a violência, a solidão, a<br />
marginalização, o vazio advindos da vida moderna,<br />
b<strong>em</strong> como a hipocrisia social, além do inevitável<br />
conflito de classes.<br />
Resposta: 29 - nível médio.<br />
01) CORRETA. A liberdade formal e de expressão é<br />
marca das produções cont<strong>em</strong>porâneas, e Rub<strong>em</strong><br />
Fonseca é um ex<strong>em</strong>plo desse ecletismo, afinal a<br />
obra <strong>em</strong> questão apresenta um estilo que destoa<br />
de autores como Nélida Pinõn e Lygia Fagundes<br />
Teles, por ex<strong>em</strong>plo, mais intimistas.<br />
02) INCORRETA. Não há tendência da prosa brasileira<br />
cont<strong>em</strong>porânea de se apoiar na loucura como<br />
t<strong>em</strong>a central de suas obras. Conforme atesta a<br />
proposição 01, o que marca a prosa cont<strong>em</strong>porânea<br />
é o pluralismo, obras marcadas pelo ecletismo de<br />
formas e ideias.<br />
04) CORRETA. A obra de Rub<strong>em</strong> Fonseca O Cobrador<br />
apresenta ao leitor as mais variadas formas de<br />
violência, d<strong>em</strong>onstrando, portanto, um caráter<br />
crítico, contestador, o que permite ao leitor uma<br />
conclusão absoluta: o <strong>em</strong>penho social e a fotografia<br />
da violência urbana. O conto <strong>em</strong> questão trata<br />
da violência com os idosos: “Seres humanos<br />
fragilizados pela idade e pela consequente falta de<br />
saúde”.<br />
08) CORRETA. A criação, <strong>em</strong> Fonseca, valoriza cada<br />
detalhe na construção de cenas e personagens,<br />
expondo de forma ímpar os dramas vivenciados por<br />
todos, quer sejam dramas psicológicos quer sejam<br />
cenas torpes de violência, que surpreend<strong>em</strong> pelo<br />
realismo alcançado. É interessante observar que a<br />
linguag<strong>em</strong> coloquial, num tom cotidiano e patético,<br />
cria a atmosfera necessária para a criticidade.<br />
A concisão e a falta de idealização ou situações<br />
pitorescas aproximam o leitor da realidade de que,<br />
às vezes, ele tenta fugir, como ocorre no conto Onze<br />
de Maio.<br />
16) CORRETA. O conto pertence à prosa urbana,<br />
notabilizada <strong>em</strong> Rub<strong>em</strong> Fonseca pela presença<br />
da metrópole como el<strong>em</strong>ento preponderante<br />
dado o isolamento, a desumanidade e a violência.<br />
Não há dúvidas de que a obra de Fonseca é<br />
questionadora, ou seja, o escritor não reproduz<br />
a fácil retórica de outros, não cede à tentação da<br />
convenção estabelecida, pois “consegue recolher os<br />
ingredientes que compõ<strong>em</strong> o contexto do hom<strong>em</strong><br />
moderno, captando suas angústias e frustrações, e<br />
dar-lhes uma transcendência simbólica que não se<br />
encontra nos relatos naturalistas da imprensa com<br />
toda a precisão de detalhes e verossimilhança”,<br />
conforme define Zuenir Ventura.<br />
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