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geraldo sarno - Instituto Moreira Salles

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Coronel Delmiro Gouveia de Geraldo Sarno<br />

<strong>geraldo</strong> <strong>sarno</strong><br />

A LINGUAGEM DO CINEMA


LA LUNA, A SENHoRA DAS EMOÇÕES | WALTER BOECHAT<br />

Introdução: Psicanálise e cinema<br />

“O cinema, como<br />

uma estória de<br />

detetive, nos permite<br />

vivenciar sem perigo<br />

para nós todos<br />

os excitamentos,<br />

paixões, e fantasias<br />

que devem ser<br />

reprimidos em uma<br />

era humanística.”<br />

C. G. Jung<br />

Já se disse por diversas vezes que cinema e psicanálise nasceram juntos, por volta<br />

de 1895, se quisermos situar uma data. E mesmo que Freud ou Jung nunca<br />

tivessem tido um interesse especial por cinema, desde então esses dois campos<br />

de atividade estiveram sempre juntos. A intimidade do cinema com a psicologia<br />

profunda aparece nos filmes carregados de conteúdo psicológico, como também<br />

em críticas de cinema com abordagem bastante psicanalítica. Mesmo em filmes<br />

sem uma influência tão evidente da psicanálise, os conteúdos inconscientes estão<br />

presentes nas telas, os dramas íntimos inconfessáveis, aspectos que não queremos<br />

ver de nós mesmos e tudo o mais que constitui a alma.<br />

O ir ao cinema é quase como ir a uma consulta com o analista. É curioso que um<br />

termo essencial para a psicologia, a projeção (de conteúdos psicológicos, base do<br />

fenômeno da transferência) também é importante para o cinema, quando uma<br />

máquina projeta na tela imagens em movimento. Enquanto a projeção em psicologia<br />

é o fenômeno pelo qual conteúdos do inconsciente são projetados no outro,<br />

no cinema as imagens são projetadas na tela e a plateia por sua vez projeta nessas<br />

imagens suas próprias imagens subjetivas. Trata-se de uma dupla projeção que<br />

ocorre em vários níveis entre o diretor do filme, o autor do roteiro e os espectadores.<br />

Um outro aspecto importante a ser lembrado é que as imagens projetadas são<br />

sempre simbólicas, e nao apenas semióticas. Isto é, as imagens na tela têm sempre<br />

um polissemia de sentidos, alguns mais conhecidos outros desconhecidos, sentidos<br />

que cada espectador vai dar a um símbolo do filme. Isso porque um símbolo<br />

é sempre a melhor expressão possível de algo relativamente desconhecido que<br />

não pode ser expresso de forma melhor. Nesse aspecto, as intenções conscientes<br />

do diretor não esgotam todos os significados da imagem. Isso é particularmente<br />

válido para um diretor tão criativo como Bernardo Bertolucci, que ao lado de<br />

uma estética apurada tem uma fina sensibilidade para os símbolos. Em La Luna<br />

diversos símbolos estão presentes, símbolos que não só obedecem às intenções<br />

conscientes do diretor, mas que são também capazes de mobilizar os conteúdos do<br />

inconsciente da plateia.<br />

Bertolucci e La Luna<br />

2<br />

Bernardo Bertolucci declarou em entrevista que o filme La Luna aconteceu depois<br />

de ele ter analisado durante vários anos e de forma exaustiva a imagem do pai. E<br />

resolveu adentrar o problema da mãe. A textura básica do filme é aparentemen-


Transcrição da<br />

palestra de<br />

Walter Boechat<br />

no debate Bertolucci<br />

à luz da lua,<br />

na sexta-feira<br />

25 de janeiro no<br />

lançamento de<br />

La Luna de<br />

Bernardo Bertolucci,<br />

segundo título da<br />

coleção dvd do<br />

<strong>Instituto</strong><br />

<strong>Moreira</strong> <strong>Salles</strong>.<br />

Jill Clayburgh: La Luna de Bernardo Bertolucci<br />

te simples: uma mãe dominadora, Diva operística, um falso pai fraco, que logo<br />

morre, o pai biológico aparece, também é fraco e dominado por sua vez por sua<br />

mãe. Mas a abordagem de Bertolucci é complexa, sutil, densa, altamente psicológica.<br />

Entramos em contato com uma sequência de mulheres fortes dominadores e<br />

homens ausentes, sensíveis e dominados. Mulheres solares e homens lunares. Há<br />

uma inversão no acento no domínio da luz, quem ilumina e quem é iluminado.<br />

Em ambiente assim, Joe, o jovem, é sugado para o mundo incestuoso do materno.<br />

Bertolucci consegue aproximar o delicado tema do incesto de forma poética, ajudado<br />

por sua elevada sensibilidade e refinado senso estético já presente em outros<br />

filmes. Os belos trechos das óperas verdianas que compõem o roteiro ajudam a<br />

realçar esteticismo ao conjunto e contrabalançam a crueza dos temas do incesto<br />

e droga.<br />

Joe, o menino, fica sem referência masculina em um ambiente agitado entre dois<br />

países. Na Itália, não conhece a língua e os costumes, nem mesmo os esportes<br />

locais como é enfatizado em certo momento. Caterina, a mãe americana estudou<br />

o bel canto na Itália e depois voltou a Nova York. Na Itália teve um caso amoroso<br />

com Giuseppe, o pai de Joe. Entretanto, Joe não sabe da existência de seu pai verdadeiro.<br />

Convive com Douglas, companheiro de Caterina em Nova York julgando<br />

ser ele seu pai.<br />

3


As cenas iniciais<br />

As cenas iniciais são de grande densidade simbólica e contêm as sementes para todo<br />

o desdobrar da estória. Bertolucci, obedecendo à forte tradição poética em sua família<br />

– seu pai foi um importante poeta e ele próprio dedicou-se à poesia antes de ser cineasta<br />

– desenvolve um roteiro permeado de analogias simbólicas, verdadeiras rimas<br />

imagéticas*. As imagens mostram Caterina ainda jovem, com Joe muito pequeno.<br />

Ainda participam também o pai Giuseppe e sua mãe.O bebê entorna um pouco de<br />

mel pelo corpo, a mãe sorve o mel pelo corpo do bebê, em cena com dose de erotismo<br />

incestuoso que reaparecerá mais tarde. Em certo momento, enquanto Giuseppe<br />

e Caterina dançam twist ao som de Pepino di Capri, o novelo de lã se desenrola. A<br />

criança nua caminha chorando, desconsolada enquanto os pais dançam. O novelo<br />

se desfaz, puxado pelo garoto. O menino perde acesso à mãe, os pais dançam eroticamente.<br />

A avó, mãe de Giuseppe, segura Joe no colo tentando apaziguá-lo.Pouco<br />

depois a mãe anda de bicicleta pela estrada, o bebê na grade da bicicleta, a belíssima<br />

lua dominando a cena idílica.<br />

A linguagem de Bertolucci é onírica e lança mão de diversos símbolos. As cenas de<br />

início se baseiam em recordação de infância de Bertolucci. O cineasta, ainda muito<br />

criança, “em torno dos dois ou três anos” passeando com sua mãe de carro, vê por trás<br />

dela a imagem da lua. Essa cena reaparece no filme, quando o carro é transformado<br />

em bicicleta, compondo uma cena de grande lirismo, com a lua cheia ao fundo, belíssima,<br />

e o rosto da mãe em primeiro plano.<br />

4<br />

*<br />

Agradeço<br />

à cineasta<br />

Rose Lacreta<br />

a lembrança<br />

das rimas imagéticas<br />

em Bertolucci.<br />

A lua<br />

A lua dá seu brilho luminoso a momentos cruciais do filme do princípio ao fim. Na<br />

belíssima cena inicial, lua e mãe se confundem. A lua é o arquétipo do materno e o<br />

inconsciente, senhora das marés, dos líquidos e dos humores. Na memória de Bertolucci,<br />

um ponto de partida inicial para o filme, a superposição da mãe pessoal e da<br />

mãe arquetípica, a lua, já se evidencia. Ela reaparece na cena em Roma, na qual Joe<br />

está no cinema comAriana, uma amiga de sua idade, prestes a iniciar com ela um jogo<br />

sexual. Na tela, Marilyn Monroe, dublada em italiano, canta em inglês. Uma confusão<br />

de línguas para Joe que fala de sua confusão de afetos. No momento em que Joe<br />

irá iniciar-se na sexualidade , o teto do cinema se abre e a lua surge, mágica, poderosa.<br />

A libido retorna a suas origens nas águas maternais. A mágica do encontro amoroso<br />

inicial e da iniciação sexual se desfaz.<br />

A lua permanece também nos cenário de óperas que compõe o roteiro. Na re-estreia<br />

de Caterina em Roma Joe assiste extasiado ao final do primeiro ato de Il Trovatore:<br />

dois homens duelam e a personagem feminina principal encenada por Caterina,


os domina, soberana. Uma mulher forte e dominando o mundo do masculino. Joe<br />

aplaude sua mãe encantando, fascinado. E ao final, a lua aparece poderosa no cenário<br />

das termas de Caracalla nos ensaios para Il ballo en Maschera. Constitui assim o<br />

princípio e o fim, um círculo que se fecha. Há um momento, entretanto, no qual a lua<br />

faz sua presença de forma bastante particular: é quando Caterina, pressionada pelo<br />

mergulho de Joe no mundo da heroína, resolve procurar o verdadeiro pai de Joe. O<br />

momento é de belo entardecer, Caterina se aproxima da casa de Giuseppe e chama<br />

por ele. O sol se põe, sol e lua estão ao mesmo tempo no céu, uma conjunção de<br />

opostos que estavam separados, um presságio de salvação para Joe. Bertolucci lança<br />

mão do simbolismo dos astros para descrever um processo psíquico.<br />

O fio condutor e o Labirinto<br />

O fio de lã no início da estória é explorado por Bertolucci com grande sensibilidade.<br />

O fio reaparece em imagem análoga, quando em momento de grande desamparo,<br />

deambulando pelas ruas de Roma, Joe desenha uma lista, uma marca nos muros,<br />

assinalando o caminho percorrido como se procurasse a saída de volta. Termina em<br />

local abandonado, um prédio labiríntico, onde pode se injetar com a droga. (Aliás<br />

a temática do labirinto reaparece em diversos momentos do filme; a belíssima casa<br />

romana de Caterina, com seus pátios e jardins internos, torna-se na verdade um labirinto<br />

de morte para Joe.) Os gregos antigos representaram o próprio destino humano<br />

pelo fio. As três Queres são as deusas do destino, Cloto tece o fio, Láquesis separa o<br />

fio, Átropo, corta o fio, determinando a nossa morte. Mesmo Zeus devia obediência<br />

às deusas do destino, diziam os gregos. No caso de Joe, a redescoberta do pai o coloca<br />

em contato com o fio de seu destino, o fio que havia perdido. O fio reaparece ao final,<br />

o mesmo fio de Ariadne que ajudou um dia o herói Teseu a descobrir o caminho<br />

para fora do labirinto após matar o minotauro. Joe ao entrar na casa de Giuseppe se<br />

depara com o mesmo fio e o contempla como que perdido em uma lembrança antiga.<br />

Começa nesse momento da estória a redescobrir o caminho de saída do labirinto do<br />

incesto e da prisão no inconsciente.<br />

A deusa-mãe<br />

A mãe é a origem de tudo, o inconsciente é anterior à consciência, e a mãe rege<br />

o inconsciente e é a senhora e origem da vida e da morte. A lua, a droga heroína,<br />

Caterina, o mel derramado sobre a criança, todas essas instâncias têm o simbolismo<br />

do oceanomaternal. Caterina opta por personificar, com seu narcisismo extremo, a<br />

grande mãe como morte, a lua negra, Lilith. Ela é incapaz de dar atenção e amor a<br />

Joe, fato fundamental para sua sanidade. Em certo momento do filme fica-se sabendo<br />

5


que ela não se lembra mesmo da data de aniversário de Joe, não se dá conta da<br />

presença dele, de sua carência e abandono. No papel de Diva operística, os elogios<br />

do público afastam Caterina cada vez mais de seu papel de mãe.<br />

Distante de sua mãe, em profundo abandono, Joe vaga pela cidade e busca afeto<br />

em Mustafá um traficante marroquino. Uma amizade homoerótica – revelando<br />

talvez as influências de Pier Paolo Pasolini sobre Bertolucci. (Lembremos que<br />

Bertolucci começou no cinema como assistente de Pasolini e sempre teve profunda<br />

admiração por ele. Em diversos momentos da filmografia de Bertolucci<br />

Pasolini se faz presente).<br />

Enquanto Caterina não sofre sua própria crise pessoal ela não se torna capaz de<br />

ajudar Joe. Ao descobrir a dependência de Joe por heroína entra em profunda<br />

crise, diz mesmo que está disposta a parar de cantar, como confessa à sua amiga<br />

Marina. Só então procura colocar Joe em contato com seu pai verdadeiro.<br />

6<br />

As figuras masculinas<br />

As figuras masculinas são muito frágeis, lamentavelmente frágeis em todo o filme,<br />

se nos detivermos com atenção em todos eles. Primeiramente Douglas, o pai<br />

adotivo, não parece exercer grande influência sobre Joe. Fica evidente que ele é<br />

inteiramente dominado por Caterina, figurará como acompanhante dela em próxima<br />

viagem de apresentações. Não tem maior importância e sua morte no início<br />

do filme é mais sentida por Joe. (Posteriormente ele irá se queixar disso com a mãe<br />

antes dela lhe comunicar que seu pai biológico é Giuseppe).<br />

O próprio Giuseppe é frágil e dominado pela sua mãe. Ao ser perguntada por Joe<br />

por que ela e Giuseppe se separaram, Caterina diz que ele não gostava que ela<br />

cantasse e “amava demais à sua mãe.” Uma afirmativa que trás um doloroso insight<br />

a Joe, que se vê parecido com o pai, repetindo mesmo o pai, com sua ligação patológica<br />

com a mãe. Giuseppe só consegue sair de seu imobilismo ao final do filme,<br />

quando atua como o pai que interdita o incesto. O tapa no rosto de Joe simboliza<br />

a instauração da figura paterna como limite, organizador da consciência.<br />

Outras figuras masculinas que aparecem de forma rápida, como o amigo de Caterina<br />

que sempre chega atrasado (na apresentação em Roma e no ensaio em Caracala)<br />

expressa enorme fraqueza. Marina (a amiga de Caterina) chega a dizer em<br />

sua última aparição: “você não entende nada mesmo”... (isto é, do que está acontecendo<br />

com Caterina, seu enorme problema com o filho adicto). Diz também que<br />

ele “está sempre atrasado...” Certamente a figura paterna está sempre atrasada para<br />

Joe, e daí ele ter se perdido no submundo das ruas e da droga. Aliás, perambulando<br />

em seu abandono, Joe encontra também nas ruas outra figura masculina negativa,


um pedófilo que inicia com ele um jogo de sedução em um bar. Joe executa uma<br />

dança bem coreografada, simbolizando talvez suas defesas últimas para lidar com<br />

aquela situação extrema. (Em diversos momentos, Bertolucci lança mão do nonsense<br />

para quebrar momentos de grande tensão, quase insuportáveis. A figura paterna falida<br />

aparece de surpresa na figura de um médico. Este aparece para atender Joe em<br />

crise grave de abstinência da droga. Caterina está desesperada. Espera-se o médico<br />

clássico, paternal, que trará segurança e orientação, aliviando o medo e a incerteza.<br />

Em vez disso o episódio termina com o médico dizendo que Caterina não lhe deve<br />

nada, ao invés disso, retira do bolso uma máquina Polaroid e fotografa a deusa-diva<br />

Caterina. O masculino novamente se submete à grande deusa.<br />

A única figura masculina preservada em toda a trama é o antigo professor de canto<br />

de Caterina. Quando esta o visita, recolhido em sua aposentadoria e velhice, ainda<br />

mostra uma vitalidade de forma mágica. O professor aparece em mítica viagem de<br />

Caterina ao seu passado, onde também visita a casa de Verdi. O Mestre de canto e<br />

Verdi dominam como foco de interesse de Caterina, que reage com grande agressividade<br />

narcísica quando Joe diz não se interessar por aqueles valores simbolizados pela<br />

casa onde Verdi morou.<br />

As roupas e os sapatos<br />

Bertolucci joga com o simbolismo das roupas para expressar questões identitárias e<br />

psicológicas. Quando Caterina parte em busca de Mustafá, o traficante, para tentar<br />

afastá-lo de Joe usa as roupas do filho tentando uma aproximação. Há ai uma confusão<br />

de papéis. As roupas expressam os papéis sociais, a persona. Em situação incestuosa,<br />

mãe e filho estão com papéis misturados. Caterina é incapaz de exercer um papel<br />

de mãe organizadora e doadora de afeto para seu filho, mas antes se mistura com ele,<br />

incapaz de estabelecer limites no espaço incestuoso.<br />

O simbolismo das roupas reaparece na busca do pai. Revelado a Joe seu pai verdadeiro,<br />

ele parte em busca do referencial paterno. Ao encontrá-lo em seu trabalho como<br />

arte-terapeuta de crianças, há uma simbólica troca de sapatos. Joe calça os sapatos do<br />

pai, este é obrigado a calçar os sapatos de Joe. Quando Joe o segue em direção à sua<br />

casa, as roupas de Joe são iguais às de seu pai, paletó e calças idênticos e de mesma<br />

cor. Joe imita o caminhar e gestos do pai. Chegando à casa de Giuseppe, há a troca<br />

simbólica de sapatos. Embora, de imediato o rapaz não seja aceito – novamente a influência<br />

negativa da mãe de Giuseppe que pressiona para que Joe não tenha entrada<br />

na casa – há um ritual simbólico de troca de sapatos, troca de energia, um processo de<br />

assimilação da energia do pai. As roupas simbolizam uma nova atitude para o mundo,<br />

o social que só a figura paterna é capaz de plasmar no filho. Os sapatos têm também<br />

simbolismo específico, são fálicos, e associados a uma inserção no mundo, pois eles<br />

7


falam de como pisamos a realidade. É a figura paterna que vai plasmar a entrada<br />

de Joe no social.<br />

A morte e o renascimento sob a luz da lua<br />

O final do filme é de grande beleza e ilustra a constelação final do pai, elemento<br />

ausente durante todo o filme. Desde o início a falta do pai predomina, ilustrada<br />

pela morte de Douglas e pelos homens frágeis. Está em questão uma verdadeira<br />

relação dual simbiótica. Só ao final temos o verdadeiro ritual de passagem, do<br />

matriarcado ao patriarcado, da lua para o sol. Bertolucci escolheu para ilustrar o<br />

processo a ópera Un Ballo in Maschera, de Verdi, mas poderia perfeitamente ter<br />

escolhido A flauta mágica, de Mozart. Em vez da magnífica lua cheia, teríamos a<br />

Rainha da Noite, em vez do Rei Ricardo, talvez o Sacerdote Sarrastro, o arquétipo<br />

do pai. De qualquer modo, na ópera de Verdi estão diversos símbolos importantes,<br />

como as máscaras que são retiradas, representando que os papéis verdadeiros serão<br />

assumidos e os personagens deixarão de cumprir um jogo neurótico.<br />

Todos os personagens principais do filme se reúnem na platéia e no palco de<br />

Caracalla para expressar a grande mudança. Joe está lá, aplaudindo o tão esperado<br />

encontro de Caterina e Giuseppe, Ariana aparece para lhe dizer que Mustafá partiu,<br />

expressando a idéia de que a droga está superada.<br />

Uma volta ao princípio<br />

Desejamos terminar relembrando a memória de infância de Bertolucci que deu<br />

origem ao filme: o passeio com o rosto da mãe e a lua ao fundo, quando o cineasta<br />

tinha dois a três anos. Não será de estágio de consciência pré-edípico, bi-pessoal,<br />

anterior ao pai, de que trata o filme? Mas também não é esse estágio no qual o<br />

homem criativo, a pessoa de gênio, transita com frequência? Bertolucci frequentou<br />

sempre com desenvoltura os espaços lunares da criação e com esse seu La Luna<br />

resgata o mundo do materno lunar, com suas possibilidades criativas e seus perigos.<br />

(*) Agradeço à cineasta Rose Lacreta a lembrança das rimas imagéticas em Bertolucci.<br />

Walter Boechat é analista Junguiano, diplomado pelo <strong>Instituto</strong> C. G. Jung de Zurique. Escritor,<br />

autor de Mitopoese da Psique, editora Vozes.<br />

8


ANOTAçÕES PRÓPRIAS E IMPRÓPRIAS | do caderno de notas de <strong>geraldo</strong> <strong>sarno</strong><br />

Viramundo, de Geraldo Sarno<br />

Eu sou eu,<br />

licuri é coco.<br />

Dito popular entre<br />

os meninos que,<br />

década de 50,<br />

brincavam nas ruas<br />

de Poções, sudoeste<br />

da Bahia, próximo<br />

de Conquista,<br />

quase fronteira<br />

com Minas.<br />

S/data: Em princípio, a obra é dada por acabada pelo artista quando os meios para<br />

sua realização foram plenamente utilizados e esgotados. De modo que, antes de<br />

iniciá-la, ele deve possuir uma avaliação exata dos meios de que dispõe e aproximar<br />

a Imagem que formulou a esses meios. Isso o torna meio artista – meio artesão.<br />

A carência de meios o conduz necessariamente a resgatar a “atitude criativa”<br />

durante o processo de realização/produção, que, assim, deixa de ser uma simples<br />

confecção a partir de um molde, de uma forma, de um roteiro. Construir ou compor<br />

a obra até alcançar a forma final poderia então se dar aceitando-se incorporar<br />

o imprevisto, admitindo-se o improviso, e assim estabelecendo-se uma dialética,<br />

um jogo, entre o esboço de forma que está na mente, a proto Imagem, e está refletida<br />

no roteiro escrito, e a que começa a ser captada pela câmara.<br />

Esse processo de criação que, no cinema, remete diretamente a Vertov, lembra os<br />

poetas cantadores de improviso do sertão nordestino, os payadores do pampa argentino.<br />

O improviso no cinema significa que o realizador parte para a realização<br />

com uma grande margem de obscuridade.<br />

Ou, segundo a fórmula de Godard: “Minha fórmula é simples e permite fazer o<br />

que se quer: fazer o que se quer a partir do se pode fazer, fazer o que se quer a<br />

partir do que se tem e não sonhar o impossível”.<br />

9


15/09/2012:<br />

Yo no soy cantor letrao,<br />

mas si me pongo a cantar<br />

no tengo cuando acabar<br />

y me envejezco cantando:<br />

las coplas me van brotando<br />

como água de manantial.<br />

José Hernandez, Martín Fierro.<br />

04/11/2012: O improviso ocorre quando se dá o imprevisto. Exemplo: a rima imprevista<br />

lançada pelo contendor obriga o cantador ao improviso.<br />

20/09/2012: O nascimento do documentário. Nietzsche e Eisenstein: apolíneo e<br />

dionisíaco, orgânico e patético. O que têm de comum esses dois pares de conceitos?<br />

05/03/2012: Aquiles não evitou seu destino, ou, dito de outra maneira, permaneceu<br />

na memória dos homens em troca da morte na juventude. Agamenon tampouco<br />

driblou o seu: Clitemnestra e Egisto o sacrificaram assim que retornou vitorioso<br />

de Tróia. Os gregos sabiam que o destino do homem é trágico. “Antes não haver<br />

nascido e, se nasceu, morrer o mais cedo”, advertia Sileno. Dom Quixote é ainda<br />

mais trágico porque nos rimos dele. Cervantes nos mostra como seu herói pode<br />

ser fiel a si mesmo, no extremo do ridículo, do desprezível; e do divino. Creio que<br />

foi isto que Dostoievski buscou retratar nos personagens de seus romances como<br />

O idiota, Os demônios, Noites brancas.<br />

23/12/2009: “Comprendió que un destino no es mejor que otro, pero que todo hombre<br />

debe acatar el que lleva adentro. Comprendió que las jinetas y el uniforme<br />

ya le estorbaban. Comprendió su íntimo destino de lobo, no de perro gregário;<br />

comprendió que el otro era él. Amanecia en la desaforada llanura; Cruz arrojó por<br />

tierra el kepí, gritó que no iba a consentir el delito de que se matara a un valiente<br />

y se puso a pelear contra los soldados, junto al desertor Martín Fierro.”<br />

Borges, Biografia de Tadeu Isodoro Cruz (1829 – 1874), em El Aleph.<br />

30/06/2005: “Diversos soldados que inquiri afirmam, surpreendidos, que o jagunço<br />

degolado não verte uma xícara de sangue”. “Afirmam ainda que o fanático morto<br />

não pesa mais que uma criança.”.<br />

Euclides, Aguilar, p. 499.<br />

10<br />

15/12/2005: As abelhas do Raso da Catarina, segundo o cacique Afonso, dos Pankararé:<br />

uruçu, papa-terra, mosquito, jataí, cupira, que dá no cupim, arapuá, que é


abelha branca, dá igual cupim nas árvores, a jatobá dá em pau oco, e o tatu peba<br />

fura por baixo, e mandassaia; as abelhas voam na reta; na seca, sem flor, bebem da<br />

água dos gravatás. Baixio do Murici, na Pedra do Urubu, é muito bonito. Lampião<br />

se escondia lá.<br />

07/10/2004: Enfim, o documentário existe para documentar o impossível, o que não<br />

se pode documentar. O desafio é exatamente este: filmar o que se vê para mostrar<br />

o que não pode ser visto.<br />

26/01/2005: “Todo bom documentário parece uma ficção.Toda boa ficção parece um<br />

documentário.” Godard. (Onde li isto?)<br />

31/01/2005: “O cinema produz memória. A tv produz esquecimento.” Godard.<br />

1 o ./03/2005: Fiz do cinema meu encontro comigo mesmo.<br />

24/01/2010: Para Um sonho na tormenta, a ficção sobre Abreu e Lima: Como trazer<br />

do passado, da história, imagens significativas que brilhem como um clarão, como<br />

um raio e, por um momento, o presente se esclareça?<br />

16/02/2010: O novo sempre se apresenta como disforme. É diferente, estranha, a sua<br />

“forma”. Terá propriamente uma forma? É um monstrengo irreconhecível, não se<br />

assemelha a nada existente. A forma nova, de início, não encontra uma linguagem<br />

que a acomode. Como se fosse um ente bruto. Não se reconhece um ser a esse ente.<br />

Essa forma nova somente deixa o rastro da diferença. É preciso que, a partir dela,<br />

funde-se uma nova linguagem, novos paradigmas, para que seja compreendida e<br />

aceita.<br />

18/02/2010: Surpreso, encontro-me onde estou. Não elaborei um projeto para estar<br />

onde me encontro. Mas o caminho – necessário? – me levou até onde não desejei,<br />

ou não esperava estar. Que seja!<br />

12/01/2013: Houve um tempo em que, na defesa de suas convicções políticas, cineastas<br />

criaram obras de valor permanente que estão incorporadas à história do cinema<br />

e das artes. Basta lembrar Eisenstein, Vertov, nas primeiras décadas do século<br />

xx. Hoje a linguagem audiovisual, que tem como matriz o cinema, tornou-se a<br />

maneira preponderante de comunicação entre os partidos políticos e seus adeptos.<br />

Sobretudo nos períodos eleitorais. Esse sistema de comunicação é universal, embora<br />

mantenha feudos regionais e nacionais; sua característica fundamental: identidade<br />

de formas, formatos, identidade de linguagem. Essa identidade tem suporte<br />

na perfeita adequação dessa linguagem à existência e funcionamento do mercado<br />

em escala global. Os fundamentos dessa linguagem estão em Hollywood e na<br />

11


propaganda. As mensagens são dirigidas a consumidores de sabonetes, tratores,<br />

idéias e crenças; e não a um público que se quer livre, culto e criativo. Essas redes<br />

de comunicação funcionam como vasos sanguíneos que alimentam e mantêm a<br />

dinâmica da maquinaria global do mercado. Pois bem, os partidos conservadores<br />

se beneficiam desse sistema que está montado para eles e, em grande parte, por<br />

eles. Os partidos e movimentos políticos que não se conformam a esse sistema<br />

talvez devessem reunir seus marqueteiros para meditar sobre essas questões.<br />

03/11/2007: “Se a opinião pública atingiu um estado em que o pensamento inevitavelmente<br />

se converte em mercadoria e a linguagem em seu sobrepreço, então<br />

a tentativa de por a nu semelhante depravação tem de recusar lealdade às convenções<br />

lingüísticas e conceituais em vigor, antes que suas conseqüências para a<br />

história universal frustrem completamente essa tentativa.”<br />

Adorno/Horkheimer, em Dialética do Esclarecimento.<br />

12/01/2013: Os evangélicos no mercado mediático vendem arrimo, proteção, segurança,<br />

para esta e para a próxima vida. Saúde, prosperidade, cura do câncer, acesso<br />

aos templos de consumo (supermercados, shoppings) e aos bens produzidos pela<br />

indústria local, se a China permitir. E o mais precioso dos bens que têm na prateleira,<br />

intangível: a expulsão do demônio! Esse anjo que foi da desobediência, da<br />

rebeldia, da inconformidade.<br />

12/01/2013: Como formar uma geração culta, informada, com domínio das ciências<br />

de ponta, que seja capaz de levar a nação a posicionar-se, num futuro próximo, de<br />

forma competitiva e independente, entre as grandes? Como mobilizar recursos em<br />

educação, cultura, comunicação, arte de forma que ocorra esse salto, e em tempo<br />

hábil? Como estimular filmes de ficção, documentários, programas de tv, jogos e<br />

entretenimentos que proponham temas e formas instigantes, inteligentes capazes<br />

de participar na formação de uma mentalidade liberta, independente, culta, criadora?...<br />

12<br />

15/03/2004: Ensino o que sei. Faço o que não sei.<br />

08/08/2006: Marx em Crítica da dialética de Hegel e de sua filosofia em geral, Manuscritos<br />

de 1844: “A modo pelo qual a consciência é e pelo qual algo é para ela é o saber.<br />

O saber é seu ato único. Daí por que algo é para a consciência na medida em que<br />

ela conhece esse algo. Saber é seu único comportamento objetivo.”<br />

E continua, expondo o pensamento de Hegel: “O objeto é apenas a aparência de<br />

um objeto, uma fantasmagoria mentirosa, pois em seu ser não é outra coisa senão


o próprio saber que se opõe a si mesmo e, portanto, que a si opôs uma nadidade<br />

(um nada, que é o objeto), algo que não tem nenhuma objetividade fora do saber;<br />

ou dito de outro modo, o saber sabe que, ao relacionar-se com o objeto, está apenas<br />

fora de si, que se exterioriza, que ele mesmo só aparece ante si como objeto ou que<br />

aquilo que se lhe aparece como objeto só é ele mesmo.”<br />

Estamos no campo do puro idealismo. Mas o objeto do documentário é a forma<br />

imprecisa e nem sempre facilmente apreensível que surge da maneira de ver, de<br />

saber o mundo em movimento no qual se está inserido e que nos perpassa, a forma<br />

na qual se manifesta o saber artístico, a Imagem. Parece-me que Marx concebeu<br />

estatuto distinto para arte. Na introdução de Para a critica da economia política,<br />

(Gundrisse), pode-se ler: “Para a consciência, pois, o movimento das categorias<br />

aparece como o ato de produção efetivo – que recebe infelizmente apenas um<br />

impulso do exterior – cujo resultado é o mundo, e isto é certo (aqui temos de novo<br />

uma tautologia) na medida em que a totalidade concreta, como totalidade de pensamentos,<br />

como um concreto de pensamentos, é de fato um produto do pensar, do<br />

conceber; não é de modo nenhum um produto do conceito que pensa separado e<br />

acima da intuição e da representação, e que se engendra a si mesmo, mas da elaboração<br />

da intuição e da representação em conceitos. O todo, tal como aparece no<br />

cérebro, como um todo de pensamentos, é um produto do cérebro pensante que<br />

se apropria do mundo do único modo que lhe é possível, modo que difere do modo<br />

artístico, religioso e prático-mental de se apropriar dele.”(Grifo meu).<br />

Portanto há um modo diferenciado da arte apreender o mundo. Porém não tenho<br />

certeza de que, em sua obra, haja momento em que se detenha sobre esta questão.<br />

04/06/2008: “Somos artistas porque consideramos conteúdo os que não-artistas chamam<br />

de forma. Por isso pertencemos a um mundo ao inverso: o conteúdo torna-se<br />

para nós alguma coisa de puramente formal, inclusive nossa vida.”<br />

Nietzsche, Gallimard, XIII, p. 213.<br />

15/04/2008: “ O oleiro deixa a marca de sua mão no vaso de argila”.<br />

Walter Benjamin.<br />

07/10/2008: “A ambigüidade é a manifestação imagética da dialética, a lei da dialética<br />

na imobilidade. Esta imobilidade é utopia e a imagem dialética, portanto,<br />

imagem onírica. Tal imagem é dada pela mercadoria, como fetiche. Tal imagem é<br />

representada pelas passagens, que são tanto casa quanto rua. Tal imagem é representada<br />

também pela prostituta, que é vendedora e mercadoria numa só pessoa.”<br />

Benjamin, Passagens, p. 48.<br />

13


24/12/2009: “ Os objetos devem ser lidos como Freud lê os sonhos. No capitalismo,<br />

os próprios objetos são sonhos coletivos que extraem seu poder alucinatório da<br />

produção em massa e do merchandising.”<br />

George Steiner sobre Walter Benjamin, em Folha de S. Paulo, Caderno Mais, de 04/02/2001.<br />

02/10/2007: Meu desassossego com o texto. Incômodo. Momentos sombreados. Os<br />

tropeços. Pra que serve relembrar isto? Divulgar isto? Documentário ou ficção?<br />

20/07/2007: Gavião, o cangaceiro, dança um forró solitário na caatinga imensa e<br />

seca. Os pés ligeiros do dançarino levantam poeira no ritmo do xaxado.<br />

“Eta! mundo véio sem porteira!”.<br />

06/07/2004: Depoimento de Ambroîse Vollard sobre Cézanne: “Em meu retrato<br />

existem, sobre minha mão, dois pequenos pontos em que a tinta não cobriu a<br />

tela. Comentei isto com Cézanne: “Entenda, Senhor Vollard, se cubro esses dois<br />

pontos com alguma cor “au hasard”, serei forçado a repintar todo o quadro a partir<br />

desses pontos”.<br />

10/08/2008: Curiosamente Tudo isto me parece um sonho, que documenta as vicissitudes<br />

de sua filmagem e que nada mostra do processo de montagem, é, no entanto,<br />

um filme de montagem. Foi na montagem que se construiu o filme tal qual é. O<br />

olhar criador se fez ver na montagem quando organizou a massa de material captado<br />

por duas câmaras.<br />

05/04/2007: Fez de tudo para não ir. Somente a astúcia driblou a fingida loucura<br />

que o impediria de seguir Agamenon e Menelau. Foram dez anos de guerra e<br />

mais dez para retornar à casa, à mulher e ao filho que deixara no berço. Voltou só<br />

e mendigo, que os companheiros todos morreram, as naus naufragaram e os bens<br />

conseguidos nos saques se perderam. Teve que voltar a usar o arco e a espada para<br />

retomar o reino, a mulher e a casa. Velho e cansado, Dante o fez sair mais uma vez<br />

per l’alto mare aperto. Uma tormenta o espera, Ulisses naufraga e o mar se fecha<br />

em definitivo sobre ele. “O frati”, havia dito aos companheiros desta permanente<br />

aventura, que é a busca do conhecimento:<br />

“Considerate la vostra semenza<br />

fatti no foste a viver come bruti,<br />

ma per seguir virtute e conoscenza.<br />

14


OS FILMES DE MARÇO : CÉSAR DEVE MORRER<br />

SEXTA 1<br />

14h00, 15h30, 17h00 18h30 e 20h00 :<br />

César deve morrer (Cesare deve morire)<br />

de Paolo e Vittorio Taviani (Itália, 2012. 76’)<br />

Com Antonio Frasca no papel de Marco Antonio,<br />

Cosimo Rega como Cassius, Salvatore Striano<br />

como Brutus e Giovanni Arcuri como Júlio César.<br />

“Com todo o respeito por Shakespeare (que sempre foi<br />

um pai, um irmão, e, depois – conforme envelhecemos<br />

–, um filho para nós), desmontamos e reconstruímos<br />

o Júlio César dele”, dizem os Taviani. “É claro, mantivemos<br />

o espírito original assim como a narrativa,<br />

mas, ao mesmo tempo, tiramos um pouco do ritmo do<br />

trabalho de um palco tradicional. Tentamos construir<br />

um organismo audiovisual, isso que chamamos de<br />

filme, filho degenerado de todas as artes que antecederam<br />

o cinema – um filho degenerado que com certeza<br />

Shakespeare teria amado!”<br />

SÁBADO 2<br />

14h00 e 20h00 :<br />

César deve morrer (Cesare deve morire)<br />

de Paolo e Vittorio Taviani (Itália, 2012. 76’)<br />

César deve morrer de Paolo e Vittorio Taviani<br />

DOMINGO 3<br />

14h00, 15h30, 17h00, 18h30 e 20h00 :<br />

César deve morrer (Cesare deve morire)<br />

de Paolo e Vittorio Taviani (Itália, 2012. 76’)<br />

TERÇA 5<br />

14h00 : Júlio César (Julius Caesar)<br />

Direção e roteiro de Joseph Mankiewicz, com Marlon<br />

Brando no papel de Marco Antônio, James Mason<br />

como Brutus, John Gielgud como Cassius<br />

e Louis Calhern como Júlio César (EUA, 1953. 121’)<br />

16h30, 18h30 e 20h00 :<br />

César deve morrer (Cesare deve morire)<br />

de Paolo e Vittorio Taviani (Itália, 2012. 76’)<br />

Marlon Brando: Júlio César de Joseph Mankiewicz<br />

Programa sujeito a alterações.<br />

Confira a programação completa do<br />

<strong>Instituto</strong> <strong>Moreira</strong> <strong>Salles</strong> em www.ims.com.br<br />

ou pelo telefone 3206 2500<br />

15


OS FILMES DE MARÇO : CÉSAR DEVE MORRER<br />

QUARTA 6<br />

14h00 : Júlio César ( Julius Caesar)<br />

Roteiro de Robert Furnival e direção de Stuart Burge,<br />

com Charlton Heston no papel de Marco Antônio,<br />

Jason Robards como Brutus, Richard Johnson como<br />

Cassius e John Gielgud como Júlio César (EUA, 1970. 117’)<br />

16h30, 18h30 e 20h00 :<br />

César deve morrer (Cesare deve morire)<br />

de Paolo e Vittorio Taviani (Itália, 2012. 76’)<br />

QUINTA 7<br />

14h00 : Júlio César (Julius Caesar)<br />

Direção e roteiro de Joseph Mankiewicz,<br />

com Marlon Brando no papel de Marco Antônio,<br />

James Mason como Brutus, John Gielgud como Cassius<br />

e Louis Calhern como Júlio César (EUA, 1953. 121’)<br />

16h30, 18h30 e 20h00 :<br />

César deve morrer (Cesare deve morire)<br />

de Paolo e Vittorio Taviani (Itália, 2012. 76’)<br />

SEXTA 8<br />

14h00 : Júlio César ( Julius Caesar)<br />

Roteiro de Robert Furnival e direção de Stuart Burge,<br />

com Charlton Heston no papel de Marco Antônio,<br />

Jason Robards como Brutus, Richard Johnson como<br />

Cassius e John Gielgud como Júlio César (EUA, 1970. 117’)<br />

16h30, 18h30 e 20h00 :<br />

César deve morrer (Cesare deve morire)<br />

de Paolo e Vittorio Taviani (Itália, 2012. 76’)<br />

SÁBADO 9<br />

14h00 e 20h00 :<br />

César deve morrer (Cesare deve morire)<br />

de Paolo e Vittorio Taviani (Itália, 2012. 76’)<br />

DOMINGO 10<br />

13h30 : Júlio César (Julius Caesar)<br />

Direção e roteiro de Joseph Mankiewicz, com Marlon<br />

Brando no papel de Marco Antônio, James Mason como<br />

Brutus, John Gielgud como Cassius e Louis Calhern como<br />

Júlio César (EUA, 1953. 121’)<br />

15h40, 17h10 18h30 e 20h00 :<br />

César deve morrer (Cesare deve morire)<br />

de Paolo e Vittorio Taviani (Itália, 2012. 76’)<br />

TERÇA 12<br />

14h00 : Júlio César ( Julius Caesar)<br />

Roteiro de Robert Furnival e direção de Stuart Burge,<br />

com Charlton Heston no papel de Marco Antônio,<br />

Jason Robards como Brutus, Richard Johnson como<br />

Cassius e John Gielgud como Júlio César (EUA, 1970. 117’<br />

16h30, 18h30, 20h00 :<br />

César deve morrer (Cesare deve morire)<br />

de Paolo e Vittorio Taviani (Itália, 2012. 76’)<br />

QUARTA 13<br />

14h00 : Júlio César (Julius Caesar)<br />

Direção e roteiro de Joseph Mankiewicz, com Marlon<br />

Brando no papel de Marco Antônio, James Mason como<br />

Brutus, John Gielgud como Cassius e Louis Calhern como<br />

Júlio César (EUA, 1953. 121’)<br />

16h30, 18h30 e 20h00 :<br />

César deve morrer (Cesare deve morire)<br />

de Paolo e Vittorio Taviani (Itália, 2012. 76’)<br />

QUINTA 14<br />

14h00 : Júlio César (Julius Caesar)<br />

Direção e roteiro de Joseph Mankiewicz, com Marlon<br />

Brando no papel de Marco Antônio, James Mason como<br />

Brutus, John Gielgud como Cassius e Louis Calhern como<br />

Júlio César (EUA, 1953. 121’)<br />

16h30, 18h30 e 20h00 :<br />

César deve morrer (Cesare deve morire)<br />

de Paolo e Vittorio Taviani (Itália, 2012. 76’)<br />

16<br />

Charlton Heston: Júlio César de Stuart Burge


Ao contrário de, por exemplo, Romeu e Julieta,<br />

Rei Lear, Othelo, Macbeth, Hamlet, A tempetade<br />

ou A megera domada, já adaptados para o cinema<br />

e para a televisão um sem número de vezes,<br />

existem poucas versões cinematográficas do<br />

Julius Caesar de William Shakespeare. Duas<br />

encenações feitas para a televisão inglesa, uma<br />

de Stuart Burge, em 1959; outra de Herbert<br />

Wise, em 1979; adaptações do período do cinema<br />

mudos, uma de 1908, de J. Stuart Blackston<br />

e William Ranouws, outra de 1911 de Frank<br />

Benson; uma transposição do conflito para o<br />

universo dos filmes de gangster, de Blake Smith<br />

em 2009 – e pouco mais que isso. Adaptações cinematográficas<br />

do texto de Shakespeare a rigor,<br />

antes do César deve morrer dos irmãos Taviani,<br />

existem apenas três. A primeira é uma produção<br />

norte-americana de 1950, com direção e roteiro<br />

de David Bradley, Charlton Heston no papel de<br />

Marco Antônio, Harold Tasker como Júlio César,<br />

Grosvernor Glenn como Cassius e Bradley<br />

como Brutus. A segunda, realizada três anos depois,<br />

tem direção e roteiro de Joseph Mankiewicz,<br />

Marlon Brando no papel de Marco Antônio,<br />

James Mason como Brutus, John Gielgud como<br />

Cassius e Louis Calhern como Júlio César. A<br />

terceira é uma produção inglesa, de 1970, com<br />

direção de Stuart Burge (que retorna ao texto<br />

que encenara em 1959 para televisão) e roteiro<br />

de Robert Furnival, Uma outra vez Charlton<br />

Heston no papel de Marco Antônio, que interpretou<br />

vinte anos antes para o filme de Bradley.<br />

Ao lado de Heston, Jason Robards como Brutus,<br />

Richard Johnson como Cassius e John Gielgud<br />

como Júlio César.<br />

SEXTA 15<br />

14h00 : Júlio César ( Julius Caesar) roteiro de Robert<br />

Furnival e direção de Stuart Burge, com Charlton<br />

Heston no papel de Marco Antônio, Jason Robards<br />

como Brutus, Richard Johnson como Cassius e John<br />

Gielgud como Júlio César (EUA, 1970. 117’)<br />

16h30, 18h30 e 20h00 :<br />

César deve morrer (Cesare deve morire)<br />

de Paolo e Vittorio Taviani (Itália, 2012. 76’)<br />

SÁBADO 16<br />

14h00 : Júlio César (Julius Caesar)<br />

Direção e roteiro de Joseph Mankiewicz, com Marlon<br />

Brando no papel de Marco Antônio, James Mason<br />

como Brutus, John Gielgud como Cassius e Louis<br />

Calhern como Júlio César (EUA, 1953. 121’)<br />

16h30, 18h30 e 20h00 :<br />

César deve morrer (Cesare deve morire)<br />

de Paolo e Vittorio Taviani (Itália, 2012. 76’)<br />

DOMINGO 17<br />

14h00 : Júlio César ( Julius Caesar) roteiro de Robert<br />

Furnival e direção de Stuart Burge, com Charlton<br />

Heston no papel de Marco Antônio, Jason Robards<br />

como Brutus, Richard Johnson como Cassius e John<br />

Gielgud como Júlio César (EUA, 1970. 117’)<br />

16h30, 18h30 e 20h00 :<br />

César deve morrer (Cesare deve morire)<br />

de Paolo e Vittorio Taviani (Itália, 2012. 76’)<br />

Um set de filmagens – sublinham Paolo e Vittorio – “é<br />

um lugar onde a amizade e a cumplicidade brotam e<br />

esse filme não foi exceção. Um dos guardas murmurou<br />

para nós: ‘Não fiquem muito íntimos deles; eu tenho relações<br />

excelentes com eles, e às vezes também sinto uma ponta de<br />

pena, até amizade… Mas depois tenho que me lembrar<br />

de manter uma distância e pensar naqueles que sofreram<br />

e sofrem mais do que eles: as vítimas de seus crimes e suas<br />

famílias’. Isso é verdade, mas, quando as filmagens<br />

acabaram e deixamos a prisão e os nossos atores, foi<br />

uma despedida dolorosa. Subindo as escadas de volta<br />

para sua cela, Cosimo Rega – que interpreta Cássius<br />

– levantou os braços e gritou: ‘Paolo, Vittorio: a partir<br />

de amanhã, nada mais será o mesmo!’. Ele está na prisão<br />

há muito tempo, mas naquela noite a cela pareceu<br />

diferente, hostil. Ele nos disse: ‘Desde que eu conheci a<br />

arte, essa cela virou uma prisão’.<br />

17


OS FILMES DE MARÇO : sibila | A LINGUAGEM DO CINEMA<br />

SEXTA 22<br />

14h00 : <strong>geraldo</strong> <strong>sarno</strong>, a linguagem do cinema<br />

Tudo isto me parece um sonho (Brasil. 2008. 146')<br />

Anotações para a realização de um filme inspirado na vida do<br />

General José Ignácio de Abreu e Lima, é o subtítulo desse<br />

filme. Nesse quase um roteiro filmado, documentário<br />

e ficção se unem para realizar pesquisa sobre a vida do<br />

General Abreu e Lima, pernambucano que participou,<br />

ao lado de Bolívar, de batalhas que libertaram Colômbia,<br />

Venezuela e Peru da coroa espanhola. O filme, ao mesmo<br />

tempo, discute o processo dessa pesquisa e o processo de<br />

construção do próprio filme. O título, aqui, não apenas<br />

se refere ao tema, a Abreu e Lima, nem apenas toma por<br />

empréstimo uma frase dele. Traduz a sensação que toma<br />

conta do realizador diante dos fragmentos da realidade que<br />

na projeção passam com a força de coisa viva de verdade:<br />

tudo isso me parece um sonho. Sonho, não como uma fuga<br />

da realidade mas como uma interpretação da realidade,<br />

como cinema. Para falar de Abreu e Lima, simultaneamente<br />

falar de cinema: trazer em fusão sobre a história que se<br />

conta os procedimentos usados para contá-la: uma segunda<br />

câmera filma a primeira que filma os depoimentos; uma<br />

entrevista conta quem foi Abreu e Lima, a seguinte como<br />

avança o processo de trabalho – parte da equipe entrevista<br />

a outra parte ou entrevista o realizador, dentro da imagem<br />

já não mais como quem dirige o filme e sim como quem é<br />

dirigido por ele.<br />

16h30, 18h15 e 20h00 :<br />

Sibila (Sibila) de Teresa Arredondo<br />

(Chile, Espanha, França, 2011. 95’)<br />

A personagem central desse documentário é a filha da<br />

escritora chilena Matilde Ladrón de Guevara, afilhada de<br />

Gabriela Mistral, casada com o poeta chileno Jorge Teillier<br />

e logo com o escritor peruano José María Arguedas: Sybila<br />

Arredondo Arguedas, presa entre 1987e 2002 no Peru,<br />

durante o regime de Alberto Fujimori, por pertencer ao<br />

grupo terrorista Sendero Luminoso. Teresa Arredondo, a<br />

realizadora, é sobrinha de Sybila, e a documentação, desse<br />

modo, é ao mesmo tempo política, poética e pessoal: ao<br />

mesmo tempo em que é um reflexo da vida política no<br />

Peru na década de 1990, retrata os os conflitos familiares<br />

causados pelo compromisso político de Sibila em sua<br />

família, especialmente em sua mãe, de nacionalidade<br />

peruana, e em seu pai, irmão de Sibila, exilado chileno que<br />

chegou a Lima na metade da década de 1970.<br />

SÁBADO 23<br />

14h00, 15h45 e 20h00 :<br />

Sibila (Sibila) de Teresa Arredondo<br />

(Chile, Espanha, França, 2011. 95’)<br />

“Uma noite recebemos um telefonema do Peru para nos<br />

dizer que minha tia Sybila estava presa acusada de ser<br />

integrante do Sendero Luminoso. Eu tinha sete anos, e<br />

o silêncio de meus pais contribuiu para que sua figura se<br />

tornasse um grande mistério para mim”. Teresa procura<br />

recuperar em seu filme os conflitos familiares provocados<br />

pela escolha política de Sybila. “Filmei meus pais, meus<br />

primos, minha tia. Creio que a partir de uma questão<br />

familiar, totalmente familiar, podemos falar melhor de<br />

uma questão universal. Estou convencida de que os<br />

documentários familiares podem fazer isso, e de uma<br />

maneira que me interessa especialmente: uma identificação<br />

e compreensão maior da História. Devemos partir da coisa<br />

familiar”. Para Teresa, isso permite “investigar melhor os<br />

fatos históricos, dar-se conta de que participamos deles<br />

de algum modo. Isto é: podemos perceber que nos fatos<br />

particulares da vida em família encontram-se os grandes<br />

temas universais”.<br />

17h30 : <strong>geraldo</strong> <strong>sarno</strong>, a linguagem do cinema<br />

Viva Cariri! (Brasil, 1969. 36’);<br />

Coronel Delmiro Gouveia (Brasil, 1979. 90’)<br />

A história no é contada por quatro (talvez cinco) diferentes<br />

personagens-narradores: Eulina, Ulisses, Iona e Zé Pó<br />

(e talvez o personagem invisível que organiza os quatro<br />

relatos). Em cada narração, duas informações simultâneas,<br />

uma sobre Delmiro outra sobre o personagem narrador, que<br />

se revela no tom que imprime á narração, pelo jeito de falar.<br />

A primeira parte da história, contada por Eulina, descreve<br />

Delmiro como um herói romântico, admirado em todo o<br />

Recife pela coragem de enfrentar os poderosos e de abrir<br />

um mercado para vender tudo a preços baixos. Depois, o<br />

Coronel Ulisses, o grande senhor de terras, mostra Delmiro<br />

como um homem de valentia, apesar da aparência frágil de<br />

jabuti de cidade. Em seguida, Iona, o sócio, o encarregado<br />

das contas, descreve Delmiro como um sonhador dominado<br />

por impulsos e ideias disparatadas. E finalmente Zé Pó, o<br />

retirante que empurrado pela miséria até a fábrica da Pedra,<br />

comenta a relação entre o trabalhador e os donos da fábrica<br />

para concluir que o erro de Delmiro foi ter procurado fazer<br />

tudo sozinho. O quinto e invisível narrador, o que monta os<br />

depoimentos, nos fala do país da primeira metade do século<br />

20, do tempo em que Delmiro fundou a fábrica de linhas<br />

de costura na cidade que hoje tem o seu nome.<br />

18<br />

Também no programa o média metragem Viva Cariri!


Sibila, de Teresa Arredondo<br />

“Primeiro pensei em filmar uma<br />

biografia de Sybila Arredondo Arguedas,<br />

e pronto. Não me incluía no projeto.<br />

Pensava num documentário sobre ela,<br />

sobre a sua vida, a sua história. Depois<br />

percebi que deveria aparecer, porque a<br />

história dela tinha um forte significado<br />

pessoal para mim. Na verdade, só me<br />

dei conta disso no processo de realização<br />

do filme. Cheguei a pensar que o filme<br />

poderia chamar-se Minha tia Sibila, ou<br />

Sibila e eu, e não somente Sibila”. O que<br />

parece um erro de grafia, Sibila em lugar<br />

de Sybila, resulta de fato de um pedido<br />

da protagonista do documentário. “Ela<br />

queria que o título do filme tivesse um<br />

significado universal” –conta Teresa –,<br />

queria o título escrito com i, como o das<br />

mitológicas profetisas greco-romanas,<br />

as sibilas”.<br />

DOMINGO 24<br />

14h00, 15h45 e 20h00 :<br />

Sibila (Sibila) de Teresa Arredondo<br />

(Chile, Espanha, França, 2011. 95’)<br />

17h30 : <strong>geraldo</strong> <strong>sarno</strong>, a linguagem do cinema<br />

Vitalino Lampião (Brasil, 1969. 9’)<br />

Aruanda visto por Linduarte Noronha<br />

(Brasil,1999. 26’);<br />

Por um cinema artesanal e do sentimento<br />

(Brasil, 1998. 48’);<br />

50 minutos e 23 segundos com Júlio Bressane<br />

(Brasil, 1999. 51’).<br />

O primeiro filme é um documentário com o artista<br />

popular Manoel Vitalino Filho; mostra como ele prepara<br />

uma figura de barro de Lampião, em continuidade ao<br />

estilo criado por seu pai. Na observação do trabalho<br />

de Vitalino, o filme documenta ao mesmo tempo a<br />

criatividade do ceramista e a criação do mito do cangaço.<br />

Os outros três filmes fazem parte da série de conversas<br />

sobre o mecanismo da criação cinematográfica. Linduarte<br />

Noronha conta os desafios enfrentados para realizar<br />

Aruanda. Reichenbach reafirma sua crença num cinema<br />

carregado de sentimentos e feito com meios artesanais e<br />

Júlio Bressane, num plano contínuo, sem cortes, divide a<br />

tela entre comentários e fragmentos de seus filmes.<br />

19


OS FILMES DE MARÇO : SIBILA | a linguagem do cinema<br />

TERÇA 26<br />

14h00, 15h45 e 20h00:<br />

Sibila (Sibila) de Teresa Arredondo<br />

(Chile, Espanha, França, 2011. 95’)<br />

20<br />

17h30: <strong>geraldo</strong> <strong>sarno</strong>, a linguagem do cinema<br />

Uma conversa sobre David Neves<br />

(Brasil, 2001, 47’)<br />

O realizador vai à luta<br />

(Brasil, 2000, 45’)<br />

Eu carrego um sertão dentro de mim<br />

(Brasil, 1980. 14’)<br />

Dois filmes da série de conversas sobre a linguagem<br />

cinematográfica. O primeiro, uma introdução aos filmes<br />

de David Neves; o segundo, acompanha Murilo <strong>Salles</strong><br />

enquanto ele explica como gostaria de ver fórmulas de<br />

estímulo à produção que privilegiassem a qualidade. O<br />

terceiro filme do programa é um documentário poético<br />

sobre o sertão com um título tirado de uma frase de<br />

Guimarães Rosa.<br />

QUARTA 27<br />

14h00, 15h45 e 20h00 :<br />

Sibila (Sibila) de Teresa Arredondo<br />

(Chile, Espanha, França, 2011. 95’)<br />

17h30: <strong>geraldo</strong> <strong>sarno</strong>, a linguagem do cinema<br />

Viramundo (Brasil, 1965. 36’);<br />

Enciclopédia visual da cultura popular - 1<br />

(Brasil, 1970. 80’)<br />

Primeiro, o clássico documentário sobre a chegada e<br />

adaptação dos migrantes nordestinos a São Paulo, os<br />

viramundos expulsos do campo para a cidade pela seca e<br />

pela estrutura fundiária realizado em 1965. Depois, sete<br />

filmes sobre a cultura popular do Nordeste realizados<br />

quatro anos mais tarde: Os imaginários, Jornal do sertão,<br />

Vitalino Lampião, O engenho, A cantoria, Casa de farinha<br />

e Padre Cícero – os ceramistas, os gravadores, os poetas<br />

e cantadores, a produção de farinha de mandioca, os<br />

fazedores de imagens e a religiosidade popular em torno do<br />

mito do padre Cícero, um conjunto que o realizador define<br />

como uma enciclopédia visual da cultura popular.<br />

Sibila de Teresa Arredondo<br />

QUINTA 28<br />

14h00, 15h45 e 20h00 :<br />

Sibila (Sibila) de Teresa Arredondo<br />

(Chile, Espanha, França, 2011. 95’)<br />

Trabalhava como psicóloga, mas vivia no cinema, era a<br />

minha paixão. E sempre gostei de ver filmes de família, era<br />

como abrir uma janela para ver a casa por dentro. Além<br />

disso, os silêncios que existem em todas as famílias me<br />

marcaram muito. Com Sibila consegui com uma câmera<br />

quebrar esses silêncios. Além disso, estou segura de que a<br />

partir de uma coisa familiar, totalmente familiar, podemos<br />

falar melhor de um tema universal. Creio que é preciso<br />

partir daí, do familiar, para uma identificação maior com a<br />

história, para permitir que cada um identifique um ponto<br />

de contato entre o familiar e o geral.<br />

17h30 : <strong>geraldo</strong> <strong>sarno</strong>, a linguagem do cinema<br />

Ilha das Flores visto por Jorge Furtado<br />

(Brasil, 1999. 26’)<br />

O baile pernambucano<br />

(Brasil, 1999. 50’)<br />

A construção do filme em torno de uma imagem<br />

(Brasil, 1999. 50’).<br />

Três filmes da série de conversas sobre os mecanismos da<br />

criação cinematográfica filmadas por Geraldo Sarno entre<br />

1998 e 2001. No primeiro, Jorge Furtado fala do cinema<br />

documentário e da realização de seu Ilha das Flores. No<br />

segundo, Paulo Caldas e Marcelo Luna comentam as<br />

sucessivas gerações de cineastas pernambucanos e de sua<br />

experiência na ficção, O baile perfumado, co-direção de<br />

Lírio Ferreira, e no documentário, O rap do pequeno príncipe<br />

contra as almas sebosas . No terceiro, Walter <strong>Salles</strong> e Daniela<br />

Thomaz falam da importância da imagem na elaboração<br />

dramatúrgica de um filme, tomando como exemplos, em<br />

especial, Terra estrangeira, O primeiro dia e Central do Brasil.


O último romance de Balzac de Geraldo Sarno<br />

SEXTA 29<br />

14h00, 15h45 e 20h00 :<br />

Sibila (Sibila) de Teresa Arredondo<br />

(Chile, Espanha, França, 2011. 95’)<br />

17h30: <strong>geraldo</strong> <strong>sarno</strong>, a linguagem do cinema<br />

O último romance de Balzac (Brasil, 2010. 74’)<br />

Em 1965, Waldo Vieira, médico, médium espírita<br />

que trabalhava próximo a Chico Xavier, psicografa o<br />

romance “Cristo espera por ti”, ditado pelo espírito do<br />

escritor francês Honoré de Balzac. Muitos anos depois,<br />

o livro cai nas mãos do psicólogo Osmar Ramos Filho,<br />

recém chegado da Universidade Louvain, na Bélgica, que<br />

lhe dedica 10 anos de estudos, ao final dos quais escreve<br />

e publica um livro com o resultado de suas pesquisas: O<br />

Avesso de um Balzac Contemporâneo – Arqueologia de um<br />

Pasticho”. Essa é a história contada em O último romance de<br />

Balzac (prêmio especial do Juri em Gramado, 2010) para<br />

compor uma reflexão sobre o processo de criação.<br />

Sarno diz que “um possível subtítulo para esse filme seria<br />

A palavra e a imagem. É sabido que o Balzac dava primazia<br />

à imagem, inclusive por sua aproximação da pintura. Tanto<br />

que o Osmar, a partir do livro psicografado, identifica um<br />

quadro do século 17, feito pelo pintor holandês Paul Potter,<br />

mais ou menos contemporâneo de Rembrandt. Osmar,<br />

depois de levantar a história do quadro, fez uma análise<br />

entre a pintura e a A pele de onagro (La peau de chagrin),<br />

escrito por Balzac em 1831, algo absolutamente original e,<br />

aparentemente, nunca realizado por nenhum estudioso de<br />

Balzac”.<br />

Não há, na jornada pelo processo de criação artística de O<br />

último romance de Balzac, “intenção de questionar ou de verificar<br />

o quanto há de verdade ou de invenção (pois, mesmo<br />

se não duvidamos de sua autenticidade, há um pouco<br />

dos dois) no relato de Waldo Vieira de como Balzac teria<br />

lhe aparecido e soprado, palavra a palavra, o livro em seu<br />

ouvido. Mediado pela pesquisa acerca do livro de Waldo/<br />

Balzac feita por Osmar Ramos Filho (essa sim uma investigação<br />

mais tradicional), o filme ouve seus relatos apenas<br />

para afirmar o mistério do próprio ato criativo. A cada<br />

nova ‘coincidência’ entre o romance de Waldo e a obra<br />

de Balzac, importa menos o quanto há de religioso ou de<br />

charlatanismo no processo, e mais o quanto esse processo<br />

– opaco e impenetrável – é sempre misterioso (daí o<br />

filme nunca voltar a Waldo com as conclusões do professor<br />

Osmar para conferi-las, ou para questioná-lo). Interessa,<br />

portanto, menos uma verdade por trás do fato, e mais o fato<br />

em si: um filme feito a partir de uma pesquisa, a partir de<br />

um livro que, mesmo que falso, contribui na compreensão<br />

do objeto ‘verdadeiro’ (...) O que Geraldo Sarno faz – com<br />

uma vitalidade absolutamente contagiante – é justamente<br />

emaranhar ainda mais esse espelhamento. O último romance<br />

de Balzac se firma, dessa maneira, como um filme de empréstimo,<br />

dedicado não só ao empilhamento de camadas,<br />

mas principalmente à maneira como cada uma – mesmo<br />

quando exposta em plena falsidade – é capaz de enriquecer<br />

as outras. O filme não questiona a autenticidade de uma<br />

obra, mas sim o autêntico dentro do conceito de obra de<br />

arte. (...) O interesse de Sarno é justamente evidenciar o<br />

quanto essas distorções não só são inerentes ao processo de<br />

criação e entendimento, mas também o quanto são essenciais<br />

na conservação do espírito original das obras. Isso fica<br />

claro na sequência em que um pintor, convidado por Osmar<br />

Ramos Filho para recriar a tela de Potter mencionada<br />

no romance psicografado, explica seu processo de pastiche:<br />

há muito de cópia, de imitação, mas também de leitura,<br />

compreensão e criação. Nesse sentido, O último romance de<br />

Balzac é, de fato, um filme de absoluta imanência: para a<br />

conservação plena do espírito, é sempre preciso moldar-lhe<br />

um corpo ideal”.<br />

(Fábio Andrade em www.revistacinetica.com.br)<br />

Como parte dessa mostra de<br />

filmes em sua maioria dedicados<br />

à análise do processo criativo,<br />

Geraldo Sarno<br />

participa de um debate<br />

no sábado dia 30 às 17h00<br />

com entrada franca:<br />

A linguagem do cinema<br />

21


OS FILMES DE MARÇO : SIBILA | a linguagem do cinema<br />

SÁBADO 30<br />

14h00 e 20h00 :<br />

Sibila (Sibila) de Teresa Arredondo<br />

(Chile, Espanha, França, 2011. 95’)<br />

16h00: <strong>geraldo</strong> <strong>sarno</strong>, a linguagem do cinema<br />

Espaço e tempo no cinema de Ruy Guerra<br />

(1999. 55’)<br />

Ruy Guerra repensa a sua trajetória de cineasta em<br />

ordem inversa da realização, partindo de Estorvo em<br />

direção a Os cafajestes.<br />

17h00: A linguagem do cinema<br />

Debate com Geraldo Sarno<br />

Entrada franca<br />

“Tudo isto me parece um sonho, prêmio de melhor direção<br />

no Festival de Brasília de 2008, é um ensaio documental<br />

sobre como fazer um filme sobre um general brasileiro<br />

(nordestino) que participou de lutas de libertação na<br />

América Latina. Já O último romance de Balzac, prêmio<br />

especial do júri em Gramado 2010, é uma investigação<br />

sobre criação literária e psicografia. Os mecanismos<br />

da criação, seja em cinema ou na literatura, ocupam<br />

o centro do interesse do baiano Sarno. Pensador<br />

longe ou perto da câmera, ele foi um dos fundadores<br />

da revista Cinemais e parece estar de novo caindo<br />

nas graças dos jovens estudantes e praticantes de<br />

cinema. Historicamente, Sarno é um gigante do<br />

cinema brasileiro. A partir do clássico Viramundo, ele<br />

se tornou um dos principais documentaristas críticos<br />

da cultura popular no ciclo produzido por Thomaz<br />

Farkas. Prosseguiu com filmes penetrantes sobre<br />

religiosidade e política, como Iaô, A terra queima e<br />

Deus é um fogo. Entre seus trabalhos de ficção, destacase<br />

Coronel Delmiro Gouveia (1977). Dono de vasta<br />

cultura cinematográfica, literária e filosófica, estudou<br />

com paixão as relações entre o neorrealismo italiano, o<br />

cinema latino-americano e o Cinema Novo brasileiro.<br />

É autor de dois livros: Glauber Rocha e o Cinema Latinoamericano<br />

(ciec/Riofilme, 1995) e Cadernos do Sertão<br />

(nau, Bahia, 2006)”.<br />

[Carlos Alberto de Mattos em carmattos.com]<br />

19h00: <strong>geraldo</strong> <strong>sarno</strong>, a linguagem do cinema<br />

Ana Carolina no país do cinema<br />

(Brasil, 1998. 47’)<br />

Uma conversa sobre a relação visceral de Ana Carolina<br />

com a expressão cinematográfica.<br />

DOMINGO 31<br />

14h00, 15h45 e 20h00:<br />

Sibila (Sibila) de Teresa Arredondo<br />

(Chile, Espanha, França, 2011. 95’)<br />

“Primeiro pensei em filmar uma biografia de Sybila,<br />

e pronto. Não me incluía no projeto. Pensava num<br />

documentário sobre ela, sobra a sua vida, a sua história.<br />

Depois percebi que deveria aparecer, porque a história dela<br />

tinha um forte significado pessoal para mim. Mas só me dei<br />

conta disso no processo de realização do filme: a história<br />

tem a ver com o que se passou comigo. Na verdade, cheguei<br />

a pensar que o filme poderia chamar-se Minha tia Sibila, ou<br />

Sibila e eu, e não somente Sibila”. O que parece um erro de<br />

grafia, Sibila em lugar de Sybila Arredondo, resulta de fato<br />

de um pedido da protagonista do documentário. “Ela queria<br />

que o título do filme tivesse um significado universal” –<br />

conta Teresa –, queria o título escrito com i, como o das<br />

mitológicas profetisas greco-romanas, as sibilas”.<br />

17h30 :<br />

Introdução (Brasil, 2010. 4’)<br />

A imagem cinematográfica e o artista plástico<br />

Hélio de Oliveira (Brasil, 2010. 90’)<br />

Pesquisa e roteiro filmado para a realização de um<br />

documentário sobre o artista plástico baiano e Assobá<br />

do terreiro do Ogunjá, Hélio de Oliveira (1929-1962).<br />

Depoimentos da irmã, D. Edna, e dos sobrinhos do artista,<br />

Gilmar e Itamar, e também de Ângelo Roberto, Humberto<br />

Gato, Cid Teixeira, Juarez Paraíso, Orlando Senna, Santo<br />

Scaldaferri, Vivaldo Costa Lima e de Mãe Filhinha.<br />

A mostra<br />

A linguagem do cinema<br />

prossegue até a quinta-feira<br />

4 de abril com a exibição de outros<br />

filmes de Geraldo Sarno:<br />

Diálogo, Iaô, Deus é um fogo,<br />

Casa grande e senzala<br />

e o segundo programa da série<br />

Enciclopédia visual<br />

da cultura popular.<br />

22


Ingressos<br />

Para as sessões de César deve morrer e de Sibila<br />

Terça, quarta e quinta<br />

R$ 18,00 (inteira) R$ 9,00 (meia)<br />

Sexta, sábado, domingo e feriados<br />

R$ 22,00 (inteira) e R$ 11,00 (meia)<br />

Para todos os outros programas de março,<br />

de terça a domingo:<br />

R$ 16,00 (inteira) e R$ 8,00 (meia)<br />

Passaporte: R$ 40,00 valido para 10 sessões das<br />

mostras organizadas pelo IMS<br />

Capacidade da sala: 113 lugares.<br />

Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala.<br />

Ingressos disponíveis também em<br />

www.ingresso.com<br />

O programa de cinema de março tem apoio da<br />

Cinemateca do mam do Rio de Janeiro,<br />

Cinemateca da Embaixada da França, da Saruê Filmes,<br />

da Europa Filmes e da Mares Filmes O programa conta<br />

ainda com a parceria do Espaço Itaú de Cinema, da<br />

Videofilmes, da www.revistacinetica.com.br<br />

e da Associação Brasileira de Cineastas.<br />

Curadoria: José Carlos Avellar.<br />

Coordenação do IMS - RJ : Elizabeth Pessoa.<br />

Assessoria de coordenação : Laura Liuzzi<br />

As seguintes linhas de ônibus passam em frente ao IMS:<br />

158 – Central-Gávea<br />

(via Praça Tiradentes, Flamengo, São Clemente)<br />

170 – Rodoviária-Gávea<br />

(via Rio Branco, Largo do Machado, São Clemente)<br />

592 – Leme-São Conrado<br />

(via Rio Sul, São Clemente)<br />

593 – Leme-Gávea<br />

(via Prudente de Morais, Bartolomeu Mitre)<br />

Ônibus executivo Praça Mauá - Gávea<br />

Rua Marquês de São Vicente, 476. Gávea.<br />

Telefone: (21) 3206-2500<br />

Fundado em 1990, o ims é uma entidade civil sem fins<br />

lucrativos que tem por finalidade exclusiva a promoção e o<br />

desenvolvimento de programas culturais.<br />

O ims possui um acervo de fotografia, com mais de 550<br />

mil imagens, de música, com cerca de 28 mil gravações,<br />

de literatura e de artes plásticas, instalado em reservas<br />

técnicas com padrões e tecnologia para a conservação e a<br />

restauração.<br />

Entre as coleções destacam-se as fotografias de Marc<br />

Ferrez, Marcel Gautherot e José Medeiros, as discotecas de<br />

Humberto Franceschi e José Ramos Tinhorão, os arquivos<br />

pessoais de Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Chiquinha<br />

Gonzaga, Elizeth Cardoso e Mário Reis, e as bibliotecas<br />

dos escritores Ana Cristina César, Rachel de Queiroz,<br />

Otto Lara Rezende e Carlos Drummond de Andrade.<br />

Parte deste acervo está disponível para consulta em<br />

www.ims.com.br.<br />

No site, também está hospedada a Rádio Batuta, um<br />

ponto de seleção, análise entretenimento e análise da<br />

música popular brasileira.<br />

O <strong>Instituto</strong> edita uma revista quadrimestral de ensaios,<br />

Serrote, uma revista semestral de fotografia, Zum, e<br />

desde de outubro de 2012, uma coleção dvd, inaugurada<br />

com a edição de Shoah de Claude Lanzmann e de<br />

La Luna de Bernardo Bertolucci<br />

A sede do <strong>Instituto</strong> no Rio de Janeiro (o ims tem centros<br />

culturais em São Paulo e Poços de Caldas) abriga espaços<br />

expositivos, sala de cinema, sala de aula, biblioteca,<br />

cafeteria, loja de arte e ateliê. Sua programação inclui<br />

mostras de artes plásticas e fotografia, ciclos de filmes,<br />

espetáculos musicais, palestras e cursos.<br />

O ims funciona de terça a domingo das 11h às 20h<br />

Acesso a portadores de necessidades especiais.<br />

Estacionamento gratuito no local. Café WiFi.<br />

O cinema do <strong>Instituto</strong> <strong>Moreira</strong> <strong>Salles</strong> recebeu o prêmio<br />

O Melhor do Rio de Janeiro 2012 / 2013<br />

conferido pela revista Época<br />

23


|<br />

DVD IMS<br />

La Luna de Bernardo Bertolucci Shoah de Claude Lanzmann<br />

INSTITUTO MOREIRA SALLES • CINEMA • MARÇO DE 2013

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