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agulha e ligas, de perna aberta. Seria demasiado violento. Percebem-se todos estes aspectos no filme mas não se vêem. Esse era o meu limite. Estabeleci a distância na minha ferida pessoal. O filme assenta em ideias muito visuais de encenação. O filme assenta, sobretudo, em conceitos que me tocam e que, na sua essência, não têm nada a ver com ideias visuais. Acontece, simplesmente, que eu gosto de vários géneros e do espectacular. O que foi difícil neste filme foi saber como filmar fotografia. Absteve-se, intencionalmente, de dotar os seus personagens de um ponto de vista moral? É verdade. Ainda assim, a história é um pouco moralista. Acho que a rapariga precisa dessa moralidade. É fundamental para a sua sobrevivência.
Em que é que a sua experiência enquanto actriz a ajudou na sua primeira longa-metragem? Filmámos com uma actriz muito nova, Anamaria Vartolomei, de dez anos e meio. Para mim, era muito importante explicar-lhe muito bem todas as situações. Ensaiámos bastante com ela, em conjunto com os outros actores. Dei-lhe a ver Zazie dans le Métro (Louis Malle, 1960), de modo a que, entre outras coisas, ela pudesse trabalhar a sua impertinência… Fizemos muitas improvisações em torno do ódio, das relações entre mãe e filha e de uma série de emoções relacionadas com o conflito. O que eu aprendi enquanto actriz foi verdadeiramente útil no trabalho com os actores. Como é que descobriu a Anamaria? Avaliámos 500 meninas durante quatro meses. A Anamaria viu um anúncio num sítio romeno na internet e veio fazer o casting. Fizemos uma série de testes e ela percebeu rapidamente a forma como eu queria trabalhar. Cada vez que lhe dei uma orientação, ela evoluiu e sabia intuitivamente o que era para fazer, ao contrário das outras candidatas. Será que o filme vai reacender, inevitavelmente, o debate em torno da arte e da pornografia infantil? O assunto já era um grande tabu nos anos 1980. Para muitos artistas, era um campo de transgressão. Não nos podemos esquecer que eram os primeiros anos de Mitterrand. Era uma coisa mais de esquerda do que de direita, isso é certo. E também havia o punk… É verdade que o filme pode desencadear um debate em torno dos limites da arte mas não pode reacender o debate em torno do “Até onde se pode ir no que toca a despir crianças?” De facto, a controvérsia nasce do facto de estas fotografias extremamente sofisticadas mostrarem uma menina nua. Sem isso, não haveria polémica. Pode falar-nos do personagem que reflecte as suas origens, Mamie? Mamie está sempre a rezar diante dos seus ícones. Está trancada, como se estivesse em adoração. Para mim, havia a Mamie com os seus ícones e a Hanna com as suas imagens, ambas devotadas às suas representações. Essa é a ligação entre as três gerações de mulheres no filme. A Mamie é romena. É ela que dá raízes ao filme. Quando ela morre, tudo se desmorona. Era ela que protegia Violetta, como as velhas nos contos de fadas.
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