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é sórdido mas vemo-lo através dos olhos ora maravilhados, ora aterrados da menina, que passa do interior aconchegado<br />
e medíocre da avó para o antro negro como a noite da mãe, decorado como um templo dedicado à perversidade. Quanto<br />
mais o filme avança, mais o olhar da criança se desflora, mais ela sofre com a perversidade e inconsciência da mãe.<br />
Isabelle Huppert, actriz de uma inteligência superior, decidiu reconhecer no seu personagem a tolice como circunstância<br />
atenuante. Na verdade, Hanna é uma artista que se embriaga com a desmesura que instila constantemente na sua<br />
vida, incluindo nas coisas mais banais (infligindo na filha, de passagem, as humilhações inerentes ao espectáculo de um<br />
progenitor excêntrico que não se esconde dos coleguinhas da sua criança).<br />
Mas Hanna é mais do que imperfeita: intelectualmente, ela não consegue perceber que o que está em jogo é mais do que<br />
a satisfação imediata dos seus próprios desejos; afectivamente, ela não consegue admitir a existência do outro enquanto<br />
ser autónomo; moralmente, ela desliza na esteira das revoluções dos anos 1960 para que a sua depravação seja aceite.