Faça o download da revista completa - UniFil
Faça o download da revista completa - UniFil
Faça o download da revista completa - UniFil
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Eliane Belloni e Olga Ceciliato Mattioli<br />
Encontramos na obra de BERGER (2004), também sociólogo, uma proposta similar<br />
à de Bourdieu sobre a inserção do homem na socie<strong>da</strong>de. “Estar localizado na socie<strong>da</strong>de significa<br />
estar no ponto de interseção de forças sociais específicas. Geralmente quem ignora essas<br />
forças age com risco.” (BERGER, 2004, p.79).<br />
De acordo com o autor, a socie<strong>da</strong>de estabelece papéis sociais. Sendo assim, Berger<br />
refere-se aos padrões implícitos nos papéis e afirma: “Um papel, portanto, pode ser definido como<br />
uma resposta tipifica<strong>da</strong> a uma expectativa tipifica<strong>da</strong> [...]. O papel oferece o padrão segundo o qual<br />
o indivíduo deve agir na situação.” (BERGER, 2004, p.108-109).<br />
A teoria sociológica do autor citado tem uma base filosófica que também reside na<br />
categorização do indivíduo pela estrutura social do mesmo, isto é, BOURDIEU (1999) se refere a<br />
um conjunto de disposições incorpora<strong>da</strong>s pelo indivíduo de uma determina<strong>da</strong> estrutura social. Já<br />
BERGER (2004) se refere aos sentimentos de identi<strong>da</strong>de e aos papéis que se espera que um<br />
indivíduo localizado em uma determina<strong>da</strong> estrutura social desempenhe. Para ele é a socie<strong>da</strong>de que<br />
atribui identi<strong>da</strong>de ao indivíduo e, além de atribuí-la, é preciso que ela a sustente com regulari<strong>da</strong>de.<br />
Ambos os autores se fun<strong>da</strong>mentam em um determinismo social, e podemos pressupor a partir <strong>da</strong>s<br />
duas teorias que o Homem existe na sua positivi<strong>da</strong>de, em um movimento constante de inter-relacionamento<br />
com o meio social no qual vive, o que destoa totalmente <strong>da</strong> idéia do objetivismo e do<br />
subjetivismo.<br />
Contrapondo-se ao subjetivismo, BOURDIEU (1999) ressalta que o indivíduo não<br />
é autônomo nem tampouco determinado objetivamente pelo ambientalismo, mas se faz sujeito<br />
histórico pela herança social. Para ele essa herança está composta por alguns componentes objetivos,<br />
tais como o capital econômico, o capital cultural e o capital social.<br />
Segundo o autor, é através do capital econômico que o indivíduo tem acesso ao<br />
capital social e ao capital cultural, os quais, por se constituírem nos títulos escolares recebidos pelo<br />
indivíduo, estão atrelados ao capital econômico.<br />
Para BOURDIEU (1999) é o capital cultural, viabilizado pela família que fará a<br />
grande diferença no produto final <strong>da</strong> escolarização. A explicação <strong>da</strong><strong>da</strong> por ele em defesa desta<br />
tese é que, ao ser detentor do capital cultural viabilizado pela família, o indivíduo já entraria no<br />
sistema escolar com vantagens, uma vez que este capital favoreceria a compreensão dos conteúdos<br />
propostos nos currículos, bem como o desempenho do indivíduo na escola.<br />
Poderíamos, partindo desta concepção, dizer que a escola não traria um conhecimento<br />
novo, mas aprender o código cultural passado pela escola seria uma espécie de continui<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> cultura familiar trazi<strong>da</strong> pela criança <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s mais favoreci<strong>da</strong>s pelo capital econômico e<br />
social. À criança <strong>da</strong>s classes desprivilegia<strong>da</strong>s, porém, caberia um desafio a mais: o de decifrar o<br />
código cultural <strong>da</strong>s classes dominantes difundido pela escola como “cultura geral”.<br />
A idéia central <strong>da</strong> Sociologia <strong>da</strong> Educação de Pierre Bourdieu poderia ser sintetiza<strong>da</strong><br />
<strong>da</strong> seguinte maneira: o indivíduo que possui capital cultural tem infinitamente mais chances de<br />
conseguir êxito escolar, porque o currículo institucionalizado é um currículo que se constitui em um<br />
autêntico julgamento sobre o aluno.<br />
R<br />
E<br />
V<br />
I<br />
S<br />
T<br />
A<br />
37<br />
TERRA E CULTURA - Nº 43 - Ano 22 - Julho a Dezembro 2006