NOV | DEZ 2008 UNIVERSIDADE METODISTA DE ... - Unimep

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10 CAPA Foto: StockXpert Angela Rodrigues anrsanto@unimep.br Estabelecer uma alimentação saudável é uma maneira de prevenir doenças e manter a produtividade intelectual em alta. Entretanto, com os compromissos acadêmicos, alguns dos universitários colocam esta recomendação em segundo plano. “Com a correria do dia-a-dia, às vezes não janto. Nessas horas caio em tentação e opto por salgadinhos e refrigerantes”, diz Rachel Faria, 32, que cursa o 1º semestre do curso de administração e é funcionária do setor de Planejamento de Pessoal da Unimep. Pular as refeições é um dos hábitos freqüentes do estudante do 4º semestre de educação física, Renato Cardoso, 21. “O tempo é escasso e muitas vezes passo o dia apenas com o almoço”, conta ele. Sua rotina alimentar não inclui nada ou apenas uma fruta no café da manhã seguido de um almoço bem reforçado. “Só me alimento novamente após chegar da faculdade, mas nem sempre faço essa última refeição”, completa Cardoso. Para Míriam Coelho de Souza, doutora em ciências dos alimentos pela University of Reading da Inglaterra, professora do curso de nutrição da Unimep e superintendente do Nutricentro da Unimep, é comum o fato de os alunos do período da manhã freqüentarem as aulas sem tomar o café matinal. Já entre os que estudam à noite, a grande maioria emenda o trabalho à faculdade. “Dessa forma, viciam-se em sanduíches e salgadinhos. Com uma alimentação inadequada, os universitários têm o rendimento acadêmico prejudicado”, ressalta Miriam. Cardoso opta por frutas no café da manhã Entre os prejuízos está a falta de energia. “Uma alimentação rica em açúcares refinados acarreta cansaço a curto prazo”, destaca Pollyana Patriota, professora do curso de nutrição da Unimep. Segundo ela, os estudantes de forma geral alimentam-se de lanches rápidos como frituras, salgados, biscoitos, chocolates e refrigerantes, os chamados “junk foods”, alimentos ricos em açúcares simples, sódio, gordura, calorias e quase nenhum nutriente benéfico (vitaminas e minerais). “Este tipo de alimentação está associada ao desenvolvimento da obesidade, hipertensão e diabetes tipo 2”, ressalta. Para fugir desses males, a docente recomenda uma alimentação que integre alimentos de grupos reguladores (frutas e vegetais), construtores (carnes e leite) e energéticos (feijão, arroz e óleos) em porções adequadas. “Ainda que haja correria, se o indivíduo prioriza uma alimentação balanceada pode organizar-se. Ações como tomar água, comer fruta ou barra de cereal já contribuem para evitar o ataque às guloseimas”, diz Pollyana. “Uma alimentação rica em açúcares refinados acarreta cansaço a curto prazo”
CAPA 11 “Com uma alimentação inadequada, os universitários têm o rendimento prejudicado” Unimep Pesquisa As pesquisas e projetos desenvolvidos pelo curso de nutrição da universidade hoje são direcionados ao diagnóstico nutricional e de intervenção junto à população, de acordo com Patrícia Nogueira, coordenadora da graduação. Agrupados nas áreas alimentação e saúde coletiva; alimentação escolar; área clínica; ciência e tecnologia de alimentos e atividade motora, estão vinculados aos estágios supervisionados e à disciplina projetos interdisciplinares. O objetivo é aproximar a prática profissional à teoria da sala de aula. “Todos os trabalhos desenvolvidos colaboram com a comunidade externa, já que se aplicam a este segmento. Busca-se, com isso, suprir uma demanda na área e em parceria com o setor público, promover a saúde e prevenir doenças crônicas”, afirma. Alguns dos novos projetos em planejamento são o Educar com Gosto, direcionado às crianças com o intuito de orientá-las a se alimentar melhor, e que deverá ser implantado junto à merenda escolar; um trabalho em parceria com o Núcleo de Estudos em Educação Popular (Nepep) e o Instituto Harpia Harpya, que prevê ensinar pessoas com deficiências visuais residentes no bairro Santa Rita, produzirem e venderem, além do preparo do próprio alimento e também, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), está um estudo que avaliará o consumo alimentar dos adolescentes com a promoção de uma educação nutricional em virtude da crescente obesidade nessa faixa etária. Terra da Pamonha Em Piracicaba, os projetos empreendidos pelo curso de nutrição da Unimep já influenciaram a alimentação de parte da população. Míriam conta que entre os anos de 2000 e 2003, um estudo elaborado em parceria com órgãos e instituições municipais, avaliou a dieta do piracicabano. Constatou-se que a alimentação de bairros periféricos era carente de frutas e verduras, ao contrário da região central, bem abastecida por esses tipos de alimentos. No ano seguinte, uma lei municipal favoreceu a abertura de varejões nesses núcleos. “Isso melhorou o estado nutricional das pessoas, mas não a saúde. Hoje percebo que ainda há muitos hábitos errados, principalmente relacionados ao descuido com a saúde e à compra de alimento baratos. Alimentos processados se tornaram mais baratos. O carrinho de compras de um indivíduo de classe média é o mesmo de um membro da classe baixa, ou seja, muito sal, gordura, refrigerante e poucos alimentos saudáveis”, compara Míriam. Ações para a mudança do cenário têm sido planejadas, como a implantação de uma lei municipal de segurança alimentar e nutricional sustentável, atualmente em estudo, que prevê a vigilância nutricional, o acompanhamento e a orientação à população, por meio de políticas públicas. “Piracicaba é muito consciente. Assim, agrônomos, nutricionistas, técnicos e engenheiros de alimentos têm promovido muitas discussões. Há vários movimentos que fazem repensar a alimentação”, garante. Um deles é o Slow Food (fundado em 1989 em contraponto ao fastfood e ao desaparecimento das tradições alimentares locais), implantado no município há dois anos e integrado por Míriam. Nesse ponto, a professora conta que os universitários têm um papel fundamental. “Se os jovens só consomem lanches rápidos de grandes redes, que associações de passado e de identidade podem ter? Trata-se do mesmo cheiro, sabor e até embalagem em todos os pontos do mundo. A produção local tem de se fortalecer, a exemplo das variedades de laranja que sumiram, além de alimentos como milho, pamonha e outros da safra de Piracicaba. Há também de se despoluir o rio para voltar a ter peixe. Ações como essas têm de ser repensadas e os estudantes devem se envolver, entender e participar”, avalia. Foto: StockXpert Professora Miriam Coelho
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