Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
10<br />
3.2.1.1 Vonta<strong>de</strong> e Necessida<strong>de</strong><br />
Para <strong>Hegel</strong>, o conteúdo da vonta<strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre é <strong>de</strong>terminado inicialmente<br />
pela natureza, através <strong>de</strong> instintos, <strong>de</strong>sejos e tendências. A este nível, a liberda<strong>de</strong><br />
não se materializa (não se torna objeto para si mesma), pois t<strong>em</strong> existência apenas<br />
negativa (<strong>em</strong> si mesma). De acordo com o filósofo, “a realida<strong>de</strong> <strong>em</strong> si ou realida<strong>de</strong><br />
conceitual <strong>de</strong> algo é uma existência ou um fenômeno diferente do que é para si.”<br />
(HEGEL, 1997, p. 18). Enquanto não se materializa como objeto para si mesmo, a<br />
liberda<strong>de</strong> <strong>em</strong> si é apenas uma faculda<strong>de</strong>, pois representa somente a possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> se tornar ser para si. Isto porque, para <strong>Hegel</strong>, a verda<strong>de</strong> é a concretização do<br />
conceito, cuja realida<strong>de</strong> materializada é a Idéia. Por isto, nesta fase, “se limita o<br />
intelecto ao que há <strong>de</strong> abstrato na liberda<strong>de</strong> s<strong>em</strong> alcançar a sua idéia e a sua<br />
verda<strong>de</strong>.” (HEGEL, 1997, p. 19). A forma da vonta<strong>de</strong> é <strong>em</strong> si mesma racional e livre,<br />
mas seu conteúdo é estabelecido pela natureza.<br />
Somente quando a vonta<strong>de</strong> se manifesta no sujeito, a diversida<strong>de</strong><br />
in<strong>de</strong>terminada <strong>de</strong> instintos se singulariza <strong>em</strong> uma <strong>de</strong>cisão, na realização <strong>de</strong> instintos<br />
<strong>de</strong>terminados. No entanto, somente “para a inteligência que pensa, o conteúdo e o<br />
objeto são o universal, e ela mesma se comporta como ativida<strong>de</strong> universal.”<br />
(HEGEL, 1997, p. 19). Apenas quando a vonta<strong>de</strong> se ergue ao pensamento e dá aos<br />
seus fins a generalida<strong>de</strong> própria da universalida<strong>de</strong>, a liberda<strong>de</strong> <strong>em</strong> si se materializa<br />
para si, tornando-se conteúdo <strong>de</strong> si mesma <strong>em</strong> uma vonta<strong>de</strong> objetiva infinita. Isto<br />
porque, enquanto a vonta<strong>de</strong> estiver presa aos instintos, ela é finita para si,<br />
permanecendo infinita e universal apenas formalmente <strong>em</strong> si, acima <strong>de</strong> seu<br />
conteúdo instintivo, s<strong>em</strong> manifestar sua infinitu<strong>de</strong> como conteúdo objetivo para si na<br />
realida<strong>de</strong> exterior.<br />
O livre-arbítrio surge quando o sujeito reflete sobre si mesmo, tomando<br />
consciência <strong>de</strong> que sua vonta<strong>de</strong> é livre <strong>de</strong> todo e qualquer conteúdo, pois este, seja<br />
interno ou externo, lhe está subordinado. Por isso, “a reflexão, generalida<strong>de</strong> e<br />
unida<strong>de</strong> formais da consciência <strong>de</strong> si, é a certeza abstrata que a vonta<strong>de</strong> t<strong>em</strong> da sua<br />
liberda<strong>de</strong> [...].” (HEGEL, 1997, p. 22) Os instintos representam uma prisão, da qual o<br />
sujeito auto-reflexivo se reconhece como livre.