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racionais são <strong>de</strong> valor absoluto, não há diferença essencial entre eles, <strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />
provém sua igualda<strong>de</strong>.<br />
Entretanto, ao se manifestar no mundo sensível, os seres racionais se<br />
sujeitam a toda sorte <strong>de</strong> inclinações, impulsos e instintos, que tentam corromper a<br />
pureza e a autonomia <strong>de</strong> sua vonta<strong>de</strong>. O ser racional, então, se vê obrigado, por<br />
<strong>de</strong>ver, a agir <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com a razão, contra suas próprias inclinações<br />
pessoais, para aten<strong>de</strong>r à lei <strong>de</strong> sua vonta<strong>de</strong> livre. Isto porque, enquanto ser sensível,<br />
não reflete o que é <strong>em</strong> si mesmo, pois é apenas um produto da experiência<br />
condicionada pela sua sensibilida<strong>de</strong> e entendimento. A lei <strong>de</strong> sua vonta<strong>de</strong> livre<br />
passa a ser então um imperativo, um <strong>de</strong>ver ser, que or<strong>de</strong>na a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />
ação pela própria forma da lei, incondicionalmente, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente dos seus<br />
resultados.<br />
O hom<strong>em</strong>, portanto, enquanto ser racional, já é um fim <strong>em</strong> si mesmo, um<br />
valor absoluto, possuidor <strong>de</strong> uma vonta<strong>de</strong> livre e autônoma, essencialmente igual<br />
aos d<strong>em</strong>ais, pois as diferenças sensíveis não reflet<strong>em</strong> o que eles são <strong>em</strong> si. Se a lei<br />
<strong>de</strong> sua vonta<strong>de</strong> livre, que reflete a verda<strong>de</strong> do que ele é <strong>em</strong> si mesmo, é<br />
transgredida, não é por falta <strong>de</strong> reconhecimento <strong>de</strong> sua autorida<strong>de</strong>, mas <strong>de</strong>vido às<br />
influências do mundo sensível, pois, como diz <strong>Kant</strong>:<br />
[...] não há ninguém, n<strong>em</strong> mesmo o pior facínora, se habituado a usar a<br />
razão, que não <strong>de</strong>seje, quando se lhe apresentam ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> retidão nas<br />
intenções, <strong>de</strong> perseverança na obediência <strong>de</strong> boas máximas, <strong>de</strong> compaixão<br />
e universal benevolência (ainda por cima unidas essas virtu<strong>de</strong>s a gran<strong>de</strong>s<br />
sacrifícios <strong>de</strong> interesses e <strong>de</strong> b<strong>em</strong>-estar), que não <strong>de</strong>seje, digo, ter também<br />
esses bons sentimentos. Mas não po<strong>de</strong> consegui-lo <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas<br />
inclinações e apetites, <strong>de</strong>sejando todavia, ao mesmo t<strong>em</strong>po, libertar-se <strong>de</strong><br />
tais tendências que a ele mesmo oprim<strong>em</strong>. [...] ele t<strong>em</strong> consciência <strong>de</strong><br />
possuir uma boa vonta<strong>de</strong>, a qual constitui, segundo sua própria confissão, a<br />
lei para sua má vonta<strong>de</strong>, como m<strong>em</strong>bro do mundo sensível, reconhecendo<br />
a autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa lei ao transgredi-la. (KANT, 2006, p. 87)<br />
Para <strong>Hegel</strong>, pelo contrário, a liberda<strong>de</strong> é um produto da necessida<strong>de</strong>. A<br />
razão, no hom<strong>em</strong>, serve apenas para “purificar” seus instintos, civilizando-os,<br />
retirando-lhes a brutalida<strong>de</strong> para lhes conferir um grau <strong>de</strong> universalida<strong>de</strong> necessário<br />
à sua sobrevivência <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong>, s<strong>em</strong> que <strong>de</strong>strua a si mesmo e aos d<strong>em</strong>ais. O<br />
hom<strong>em</strong>, nesta perspectiva, é um animal civilizado, um ser instintivo que, pelo uso da