Carolina de Mattos Ricardo

(MUSUMECI, 1998), além de ter havido um grande desenvolvimento tecnológico para
aprimorar e expandir esses serviços. Essa ampliação do setor tem se dado,
fundamentalmente, num cenário em que o crime e a violência e, principalmente, o medo do
crime e da violência têm atingido cada vez mais as pessoas. Esse cenário é composto
também pela descrença na capacidade do Estado de promover segurança e pelo recurso a
formas privadas de resolução de questões públicas. Trata-se, portanto, de um serviço que
cresce e se fortalece na medida em que as pessoas sentem mais medo, a criminalidade
aumenta e que a polícia não dá conta de controlá-la.
No entanto, além desse cenário negativo que contribui para a expansão do setor, é
preciso ter em conta dois pontos: que existem demandas por segurança que não cabem ao
Estado responder e que a segurança privada é criada e regulamentada pela lei, ou seja, é um
serviço legal e estruturado dentro dos mecanismos institucionais do Estado brasileiro.
Verifica-se, então, uma ambigüidade. De um lado, tem-se um serviço de segurança
privada inserido na lógica do mercado, criado e regulamentado por lei, que supre demandas
específicas de segurança e que está cada vez mais presente nas ruas das cidades, nos
edifícios, nos condomínios, nas vilas, nas empresas e nos bancos e que, em alguma medida,
fornece segurança e ajuda a acalmar o medo tão crescente na realidade brasileira. De outro
lado, trata-se de um serviço que também acarreta mais medo e insegurança, uma vez que
lida com situações de tensão, de desconfiança, de violência e de crimes, exercendo uma
atividade que se confunde com o poder de polícia do Estado e para o qual não há um
mecanismo de regulação organizado e estruturado, contando com funcionários (armados ou
não) sobre os quais não se tem clareza das responsabilidades, dos limites para atuação e
nem da sua formação.
Além dessa ambigüidade, é um serviço que permite uma relação confusa entre o
público e o privado, já que é notório o fato de que policiais se envolvem com atividades de
segurança privada, seja realizando o “bico”, seja ocupando cargos de direção em empresas
de segurança.
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