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Imprima - Slow Food

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Setembro de 2009<br />

Editorial<br />

Estava no Canadá no final de abril, e me deparei com uma coisa que provocou uma reação parecida<br />

com a que ocorre quando encontramos um velho amigo numa cidade estrangeira: uma sorridente<br />

maravilha, poderíamos defini-la. No meu caso, o amigo era uma tábua de queijos de leite cru.<br />

Há uns dez anos atrás, um encontro como este não teria sido possível e, ainda hoje, raramente<br />

encontram-se bons queijos de leite cru nas ex-colônias britânicas (sobretudo EUA, Canadá e<br />

Austrália) e mesmo na Inglaterra.<br />

No Canadá, quem vende leite fresco cru ou produtos derivados deste tipo de leite é processado. E<br />

não se entende o motivo: os estudos mostram que – se os padrões de higiene são respeitados, se os<br />

animais são criados de forma saudável, sem antibióticos e hormônios de crescimento, e se o<br />

processo de envasamento ou de processamento respeita determinadas normas – o leite cru não só<br />

pode ser consumido sem qualquer receio, mas também é mais rico em nutrientes.<br />

A pasteurização do leite é uma consequência da mudança dos métodos de criação de gado da<br />

primeira metade do século passado: expulsas das pastagens, as vacas foram confinadas nos<br />

estábulos em número cada vez maior e a produção diária média passou de 25 para 60 litros de leite.<br />

A qualidade de vida decaiu rapidamente e aumentaram os riscos de propagação de doenças.<br />

Nestas condições, é normal que se recorra à pasteurização para tornar o leite seguro.<br />

Na Inglaterra, através da produção de leite e derivados, se pode observar o impacto da indústria no<br />

meio-ambiente, na paisagem, nas técnicas de produção e na vida social destes 150 anos. Num país<br />

rico em tradições, a ponto de constar na Summa lacticiniorum de Pantaleone da Confienza (o mais<br />

antigo tratado científico sobre queijos), tradições de séculos foram jogadas fora. O cheddar, por<br />

exemplo, de típico queijo inglês, produzido segundo normas centenárias, se tornou o protótipo do<br />

queijo industrial, redefinido até mesmo na forma: de cilindro a paralelepípedo, somente para<br />

obedecer à nova necessidade dos operários, que faziam sanduíches com duas fatias de cheddar<br />

industrial, cuja forma era feita exatamente na medida do pão de forma. Uma solução perfeita<br />

orientada para o mercado, diriam hoje os especialistas em marketing.<br />

Este modelo está mostrando os seus limites, a crise econômica é um claro testemunho disto.<br />

Durante minhas viagens, tenho encontrado cada vez mais uma nova atitude, pessoas que acreditam<br />

na terra, na produção tradicional, na qualidade em oposição à quantidade. A campanha que o <strong>Slow</strong><br />

<strong>Food</strong> lançou durante o Cheese 2001 em defesa do leite cru foi certamente uma gota em meio ao<br />

mar, mas acho que contribuiu de forma significativa para dar dignidade aos produtores que mesmo


correndo o risco de ir para a prisão, continuaram a produzir queijos como se deve.<br />

Nos últimos dez anos, especialistas, comerciantes e produtores redefiniram a produção e o consumo<br />

de laticínios nestes países, indicando um caminho que pouco tempo antes parecia utópico.<br />

E não posso deixar de citar as Fortalezas <strong>Slow</strong> <strong>Food</strong> dedicadas aos queijos americanos de leite cru e<br />

ao cheddar artesanal de Somerset.<br />

Ao nos encontrarmos durante o Cheese, brindamos à visão e ao bom exemplo deles e comemos um<br />

pedaço de um ótimo queijo. A crise pareceu ter ficado um pouco mais longe.<br />

Carlo Petrini<br />

Presidente do <strong>Slow</strong> <strong>Food</strong> Internazionale<br />

Campanhas<br />

Terra Madre Day<br />

Comemorar o Terra Madre Day no dia 10 de dezembro contribuirá para<br />

difundir a importância dos hábitos alimentares locais e proclamar o direito de<br />

todas as comunidades do mundo ao acesso a um alimento bom, limpo e justo.<br />

Organizar um evento é uma ótima oportunidade para criar relações, conhecer<br />

pessoas unidas pelos mesmos objetivos, encontrar convivia, comunidades do<br />

alimento Terra Madre, simpatizantes, amigos, família, organizações. O Terra<br />

Madre Day será também o momento certo para divulgar um novo projeto ou<br />

mostrar um novo produto bom, limpo e justo da região. Mesmo pequeno e<br />

simbólico, o seu evento servirá para encorajar o trabalho da nossa associação<br />

a nível local e será uma peça importante do nosso empenho global pela<br />

mudança.<br />

Para registrar o seu evento no site da Madre Terra, clique aqui:<br />

www.slowfood.com/terramadreday – em italiano, inglês, francês, alemão,<br />

espanhol, português, japonês e russo – ou escreva para<br />

tmday@slowfood.com .<br />

cada evento registrado aparecerá no nosso mapa global de eventos para que<br />

todos possam conhecer os eventos do Terra Madre Day da própria área.<br />

O site inclui um kit com ferramentas para ajudar na organização do evento:<br />

material gráfico para posters, bandeiras, cartões, buttons e camisetas, e<br />

muitas outras idéias para criar e promover o seu evento.<br />

Projeto do mês<br />

A Fortaleza do slatko de ameixa pozegaca<br />

Apoie um projeto organizado por mulheres corajosas que lutam em defesa da


própria cultura e das tradições locais.<br />

Bósnia Herzegóvina – No idioma bósnio, slatko quer dizer “doce”, mas a palavra se<br />

refere também a uma conserva de ameixas em calda. Ainda hoje é produzida em<br />

diversas regiões da Bósnia, Sérvia e Croácia, mas faz parte das tradições que estão se<br />

perdendo rapidamente.<br />

No vilarejo de Filipovici (perto do enclave muçulmano de Gorazde), o slatko de<br />

ameixas pozegaca é produzido por um grupo de mulheres que, com a ajuda das mais<br />

idosas, recuperou a receita tradicional: o slatko é preparado em fogo à lenha com<br />

ameixas cultivadas às margens do rio Drina, sendo cozidas, descascadas à mão e<br />

desencaroçadas com um pequeno ferro.<br />

Antes da Fortaleza, o slatko era produzido em casa e não tinha nenhum valor<br />

econômico para as famílias. O sucesso alcançado no Salone del Gusto de 2004<br />

encorajou as produtoras, que decidiram formar uma associação e angariar fundos para<br />

realizar um laboratório de manipulação e armazenagem do produto.<br />

De 2005 até hoje, o número de potes de slatko vendidos aumentou constantemente: a<br />

associação Emina começou a vender no mercado de Sarajevo (junto a duas redes de<br />

grande distribuição) e tentou com sucesso o caminho da exportação (França e Itália).<br />

Com o sucesso do produto e o consequente aumento da demanda, surgiu o problema<br />

do abastecimento da matéria prima (escassa e irregular) e a necessidade de recuperar<br />

e reintegrar os antigos pomares ficou evidente. O objetivo para o ano que vem é a<br />

realização de um novo pomar de meio hectare ao qual se agregarão outros três<br />

hectares de antigos pomares podados e restabelecidos com a assistência de um<br />

agrônomo local. A associação organizará também cursos de formação itinerantes para<br />

envolver novas produtoras no projeto, aumentando assim o alcance social e<br />

econômico da Fortaleza.<br />

Além disso, nos dias 25 e 26 de setembro de 2009, a Fortaleza dará vida ao<br />

convivium <strong>Slow</strong> <strong>Food</strong> Gora!de e organizará o Festival Okusa, o primeiro festival do<br />

gosto reservado a pequenas produções de qualidade da Bósnia-Herzegóvina, que<br />

acontecerá em Ustikolina, com o patrocínio da prefeitura. Durante dois dias, as ruas<br />

do centro se transformarão num grande mercado, onde os pequenos produtores do<br />

país poderão expor e vender seus próprios produtos. Será, sobretudo, uma ocasião de<br />

festa, com muita comida de rua e música, na melhor tradição balcânica.<br />

Também participarão do festival outras Fortalezas <strong>Slow</strong> <strong>Food</strong> e as comunidades do<br />

alimento da Bósnia, Croácia e Macedônia, junto a uma delegação de produtores e<br />

chefs da <strong>Slow</strong> <strong>Food</strong> Vêneto, Friuli-Venezia Giulia e Emilia-Romagna.<br />

Para dar sua contribuição para a manutenção deste projeto, acesse o site da<br />

Madre Terra e clique em “Ajude-nos”.<br />

http://www.terramadre.info/pagine/fundraising/donate/welcome.lasso


Da terra à mesa...<br />

As novas Fortalezas durante o evento Cheese<br />

A Fundação <strong>Slow</strong> <strong>Food</strong> para a Biodiversidade criou oito novas fortalezas<br />

dedicadas ao queijo.<br />

Itália – As Fortalezas dos queijos são um dos projetos mais importantes (em número<br />

e valor social, ambiental e cultural) da Fundação <strong>Slow</strong> <strong>Food</strong> para a Biodiversidade.<br />

Durante o Cheese, uma rua inteira do centro histórico (via Principi) foi dedicada a<br />

eles, junto a alguns Laboratórios do Gosto e a muitas conferências, que aconteceram<br />

na igreja de San Rocco. Entre as instâncias promovidas por estes projetos, a defesa<br />

das pastagens das montanhas, a proteção das raças autóctones, a proteção das técnicas<br />

e dos locais de produção tradicionais, a defesa da produção de laticínios de leite cru...<br />

O setor mais numeroso foi o italiano (com 43 Fortalezas), mas as novidades<br />

chegaram principalmente de outros países europeus (França, Espanha, Noruega,<br />

Bulgária).<br />

Uma seção significativa foi dedicada às Fortalezas transfronteiriças, na fronteira entre<br />

Itália e França (e foi realizada no âmbito do projeto europeu Promo Terroir).<br />

Esta é uma breve descrição das novas Fortalezas presentes durante o Cheese:<br />

Bulgária – Ovelha karakachan<br />

Houve um tempo em que a raça ovina karakachan (cujo nome é originário de uma<br />

antiga etnia balcânica) estava presente em toda a Bulgária: no início do século XX<br />

havia 500 mil cabeças, mas no final dos anos 50, o número baixou para 150 mil e<br />

hoje sobrevivem apenas 400. Trata-se de uma ovelha de pequeno porte, de pelagem<br />

grossa e longa, e coloração que muda com a idade: primeiro preta, depois marrom e<br />

por fim quase cinzenta. Com o seu leite, particularmente rico em gordura e de ótima<br />

qualidade, se faz o sirene branco, um queijo em salmoura parecido com o feta, e um<br />

iogurte extraordinário.<br />

Área de produção: Vlahi, Montes Pirin, província de Blagoevgrad, sudoeste da<br />

Bulgária.<br />

Bulgária – Queijo verde de Tcherni Vit<br />

O tradicional sirene de ovelha, queijo branco similar ao feta e presente em toda a<br />

região balcânica, nesta área é preparado de forma particular. Parte do queijo<br />

produzido pelos pastores próximos ao vilarejo de Tcherni Vit é conservado, para<br />

amadurecer, em pequenos barris de madeira nas adegas. O contato com a madeira, a<br />

lenta evaporação da salmoura, mas principalmente o micro-clima do estreito vale de<br />

Tcherni Vit, tornam possível o desenvolvimento de fungos nobres que transformam<br />

este queijo de ovelha em um queijo azul (ou melhor, “verde”, como é chamado<br />

localmente) e picante.<br />

Área de produção: vilarejo de Tcherni Vit, município de Teteven, distrito de


Lovech, massiço dos Bálcãs.<br />

França - Brousse de cabra de Rove<br />

Tradicionalmente preparado a partir do leite de cabra de Rove, uma raça<br />

extremamente rústica, símbolo do interior provençal, o brousse é um queijo<br />

fresquíssimo, de massa macia, quebradiça e sem sal. É obtido aquecendo-se o leite a<br />

90°, deixando esfriar (não menos de 70°) e adicionando umas gotas de vinagre para<br />

que coagule. Há alguns anos é possível encontrar nas prateleiras desta região versões<br />

industriais de brousse, preparadas até com leite de vaca, mas na região de Rove,<br />

nasceu um pequeno movimento para defender o brousse original homônimo, feito<br />

exclusivamente com leite cru obtido de cabras da raça rove criadas no pasto.<br />

Área de produção: departamentos de Bouches-du-Rhône, sul de Vaucluse e oeste do<br />

Var, região Provence-Alpes-Côte d’Azur.<br />

França - Queijos dos vales do Béarn<br />

Todos os anos, em junho, cerca de oitenta pastores dos três vales do Béarn (Ossau,<br />

Aspe e Barétous) levam os rebanhos de ovelhas (da raça basco-bearnesa) para as<br />

pastagens abundantes do lado francês dos Pirineus Ocidentais, de 900 a dois mil<br />

metros de altura. Durante três meses eles vivem em pequenas refúgios de pedra e<br />

produzem os tommes tradicionais: queijos de leite cru feitos com massa prensada, que<br />

podem ter mais de cinco quilos. Alguns pastores também levam algumas vacas para<br />

as pastagens alpinas e continuam a produzir um queijo “misto” de outros tempos,<br />

mais delicado, mas macio e de sabor intenso. Depois de uma temporada de pelo<br />

menos quatro meses em locais úmidos, o queijo adquire uma bela coloração begealaranjada,<br />

torna-se pastoso e atraente e desenvolve um aroma delicado (vegetal de<br />

leite, fruta seca, cogumelos) e persistente.<br />

Área de produção: Vales de Ossau, Aspe e Barétous (entre 900 e 2000 metros),<br />

departamento dos Pirineus do Atlântico, região Aquitaine.<br />

Noruega – Pultost dos condados de Hedmark e<br />

Oppland<br />

Há centenas de anos o pultost era produzido em toda a Noruega, especialmente nos<br />

condados de Hedmark e Oppland, no sudeste do país: Típico das saeter, as fazendas<br />

de montanha, era conservado durante todo o inverno. A técnica de produção usada<br />

era uma das mais antigas da Noruega: se trata, de fato, de um queijo de fermentação<br />

ácida, obtido do leite de vaca desnatado e não-pasteurizado, sem adição de coalho. O<br />

leite acidificado é aquecido a uma temperatura que vai de 45° a 65°C. A coalhada é<br />

então pendurada num pano para escorrer, depois despedaçada e deixada fermentar.<br />

Por último, são adicionadas sementes de cominho, que além de aromatizar, têm o<br />

efeito de bloquear a fermentação. O pultost pode ser consumido fresco ou pode curar<br />

até um ano.<br />

Área de produção: condados de Hedmark e Oppland, sudeste da Noruega.


Espanha - Queijos de ovelha carranzana cara negra<br />

A carranzana cara negra é una ovelha basca caracterizada pela cabeça preta e é objeto<br />

de um programa de recuperação da raça. É muito rústica e habituada à vida nas<br />

montanhas nas verdejantes, mas inacessíveis pastagens da província de Bilbao. Com<br />

o leite cru se faz um tradicional queijo semi-curado, de baixo peso. A coalhada, feita<br />

com coalho de cordeiro desta mesa raça, é manualmente enformada e salgada com sal<br />

das salinas de Añana, produto basco da Arca do Gosto. A maturação mínima é de<br />

dois meses, mas o gosto se torna mais característico depois de quatro meses.<br />

Área de produção: Las Encartaciones, província de Biscaia, Países Bascos.<br />

Suiça - Manteiga de leite cru<br />

A Fortaleza nasceu para proteger e promover um produto raríssimo: a manteiga de<br />

leite cru feita com nata acidificada e culturas láticas produzidas na fazenda. Na Suiça,<br />

um dos últimos produtores remanescentes é Marco Eicher, que, em sua pequena<br />

fábrica de laticínios de Wernetshausen (Zurique Oberland), produz pouco mais de 60<br />

quilos de manteiga uma ou duas vezes por semana. Eicher usa exclusivamente leite<br />

orgánico: quando a nata é acidificada no ponto exato (o que ocorre em geral de dois a<br />

quatro dias) é posta na batedeira de onde se transforma em um bloco que será lavado<br />

e depois amassado e modelado em rolinhos.<br />

Área de produção: Wernetshausen, cantão Oberland de Zurique.<br />

Suiça - Emmentaler curado de forma tradicional<br />

No Vale do Emme ainda existe uma produção tradicional de Emmentaler, um queijo<br />

antiquíssimo (provavelmente do século XIII) e conhecido em todo o mundo. O<br />

Emmentaler da Fortaleza é produzido com leite cru local, proveniente de vacas<br />

alimentadas sem ração ensilada. A técnica utilizada é a de fermentos lácteos naturais,<br />

o que requer grande experiência do produtor de laticínios. O elemento mais<br />

importante é a maturação prolongada: o queijo é curado por pelo menos doze meses<br />

em câmaras úmidas onde, graças às curas contínuas, desenvolve uma casca escura e<br />

um sabor marcado e harmonioso.<br />

Área de produção: Vale do Emme, cantão de Berna.<br />

Suiça - Vacherin fribourgeois de leite cru<br />

O vacherin fribourgeois é um queijo de leite de vaca de massa semi-dura e semicozida,<br />

cuja área de origem fica no cantão suíço de língua francesa de Friburgo. Com<br />

cerca de 2.500 toneladas anuais, somente 2% são feitos com leite cru. A Fortaleza<br />

nasceu para valorizar o vacherin de leite cru (sobretudo o produzido no verão nos<br />

pastos de montanha) curado por pelo menos três meses. Depois de 90 dias este queijo<br />

expressa todas as suas especificidades, em particular a doce consistência na boca<br />

devida à técnica da delactosage, isto é, da lavagem da coalhada.<br />

Área de produção: cantão de Friburgo<br />

A biodiversidade do leite


Do leite dos Peul...<br />

Senegal – Não é à toa que se diz que o povo Peul tem “uma relação de leite com os<br />

seus animais”. Awa Diallo é uma produtora da comunidade Terra Madre dos<br />

criadores Peul da região de Louga no Senegal e é membro do novo convivium<br />

Suxaali Sunnu Goxx. Ela cuida de um rebanho de 80 bovinos e produz leite desde<br />

1973, quando passou a tomar conta dos animais de seu marido, também criador há<br />

muitas gerações. O povo Peul tem uma ligação muito particular com os animais, pois<br />

estes são os responsáveis por sua segurança alimentar. As vacas são um elemento<br />

central na vida dos Peul.<br />

Embora muitas vezes a propriedade dos animais seja do marido e dos filhos homens,<br />

são as mulheres que administram o leite. Dizem que, ao provar, um Peul pode<br />

reconhecer de que vaca saiu o leite. Awa descreve os vários tipos de leite de sua<br />

região:<br />

“Aqui no Senegal há três tipos de leite. O primeiro é o das vacas que pastam na zona<br />

silvopastoral (ou região do Ferlo no Sahel) que vai de Louga a St Louis. O segundo é<br />

o leite dos rebanhos da região de Dakar. O terceiro é o das vacas que pastam no<br />

sudeste do país. É um leite com menos gordura e, portanto, se for transformado, dá<br />

origem a um bom produto. Se usa também para obter manteiga”. Sempre segundo<br />

Awa, o melhor gosto é o do leite “da vaca em gestação que ainda amamenta o seu<br />

bezerro. Chama-se Kosam Mopi Diegome em peul, ou seja, leite que tem seis<br />

orelhas: as da vaca, do seu bezerro e do pequeno que ainda está no ventre. É doce e<br />

cremoso. Há também alguns alimentos que mudam o gosto do leite, principalmente<br />

no período que precede a colheita, o chamado período da soudure, quando se dá ao<br />

rebanho hortaliças compradas para suprir a falta de pasto. Pimentões e melões, por<br />

exemplo, perfumam o leite.”<br />

Graças a Terra Madre, Awa e sua associação aprenderam a promover o próprio<br />

produto. “Visitei o Salone del Gusto e vi todos aqueles produtos. No Terra Madre<br />

encontrei novos parceiros e contei sobre as nossas atividades. Aprendemos muito lá.”<br />

Awa trabalha muito com as comunidades em torno dela. Está satisfeita porque os<br />

criadores começam a organizar feiras de leite mesmo a nível regional. No início de<br />

agosto aconteceu a primeira feira de Tambacounda, o tema era “leite local: desafios e<br />

oportunidades”.<br />

Awa Diallo, awapoulo@yahoo.fr<br />

Para ler um estudo aprofundado de Sada-Mamadou Ba, (etnóloga do CEMAF,<br />

Centre d'Etudes des Mondes Africanes) sobre o leite dos Peul, clique aqui.<br />

http://www.lemangeur-ocha.com/fileadmin/images/dossiers/Le-lait-des-Peuls.pdf<br />

...ao leite de alce<br />

Ainda que a domesticação de espécies unguladas como o alce seja muito rara, russos<br />

e escandinavos têm uma longa tradição na criação destes animais para leite. Animal<br />

solitário, o alce não sobrevive em estábulos e deve ser deixado solto para que possa


se movimentar. Hoje somente duas fazendas produzem leite de alce em toda a<br />

Federação Russa: a Fazenda de Alces de Kostroma e uma outra na reserva natural de<br />

Pechora-Ilych, na república de Komi (uma república autônoma da Rússia a oeste dos<br />

Urais). Os animais adultos destas fazendas passam a maior parte do tempo pastando<br />

na floresta. No entanto, as fêmeas grávidas sempre voltam para parir na fazenda,<br />

onde são ordenhadas durante todo o período de lactação que dura de três a cinco<br />

meses. Uma fêmea produz de 300 a 500 litros de leite por estação, muito menos que o<br />

rendimento médio de uma vaca. Mas o leite de alce é de qualidade excelente, com<br />

alto teor de gordura (12-14%) e rico em vitaminas e micro-elementos que o tornam<br />

resistente ao congelamento. O gosto é menos doce do que o do leite de vaca.<br />

...até o de dromedário<br />

O leite produzido pela camela é o alimento mais importante e completo para os<br />

nômades do Saara, habituados a viver somente disto por semanas. E orgulha-se de<br />

uma longuíssima tradição mesmo entre as comunidades sedentárias destes territórios.<br />

O zrig é uma bebida refrescante a base de leite fermentado diluído com água, que é<br />

oferecida em todos os lugares da África saariana, servida na calebasse, uma<br />

cumbuca, um recipiente comum, feito de cabaça, que é passado entre os comensais.<br />

O leite de camela tem excelentes propriedades alimentícias: não é apenas o melhor<br />

veículo de vitamina C para milhões de pessoas que se nutrem raramente de frutas e<br />

verduras; comparado ao leite de vaca, tem colesterol e percentuais de gordura mais<br />

baixos (na Mauritânia, por exemplo, entre 2,5 e 3,5% dependendo da estação).<br />

Caracterizado por um baixo teor de açúcares (lactose) e um elevado conteúdo de<br />

minerais, não coagula naturalmente e é, portanto, de fácil digestão.<br />

Segundo Mohamed Ould Tati, criador de dromedários de uma comunidade Terra<br />

Madre da Mauritânia, o leite da dromedária é muito leve e pode curar a diabetes.<br />

Mohamed, que conhece bem outras realidades da África, afirma que “em outras<br />

épocas, no Senegal, não se consumia o leite de dromedária porque as pessoas<br />

achavam que o leite fosse reservado para os marabu. Agora o leite é consumido e<br />

apreciado por suas propriedades salutares. Não é como o leite de vaca ou de<br />

ovelha...acho que é mais parecido com o leite materno.”<br />

Alguma coisa acontece na Bélgica<br />

Semana nacional <strong>Slow</strong> <strong>Food</strong> em toda a Bélgica<br />

Inspirados pelo evento Goûter Bruxelles organizado no ano de 2008 pelo Convivium<br />

Karikol, os dez Convivia belgas apresentaram numerosas iniciativas por ocasião da<br />

semana <strong>Slow</strong> <strong>Food</strong>, de 20 a 27 de setembro de 2009. As atividades foram dirigidas a um<br />

público muito maior e aconteceram em toda a Bélgica, das planíces de Anverse à região<br />

de Namur, do vilarejo de Herve à Vallon na região de Picardie, sem esquecer Bruxelas.<br />

O público belga foi conduzido através da biodiversidade, dos produtos e dos sabores<br />

locais, de novas e antigas receitas e foi apresentado a um enfoque virtuoso da<br />

alimentação.


O Convivium Karikol de Bruxelas convidou, entre outros, dois chefs do Terra Madre.<br />

Durante o evento, 25 restauranteurs de Bruxelas criaram um menu <strong>Slow</strong> <strong>Food</strong> a base de<br />

produtos “bons, limpos e justos”. Foram servidos petiscos nos parques, nos pomares e<br />

nos hortas da cidade. Houve cursos de jardinagem orgânica para ensinar a plantar nas<br />

sacadas e a criar pequenas hortas urbanas. Foram realizadas palestras sobre as refeições<br />

sustentáveis e atividades sobre a descoberta do mel de Bruxelas e o futuro da apicultura<br />

urbana. Foi realizado um grande piquenique de encerramento no parque real, onde cada<br />

um levou um prato ou uma bebida para compartilhar… Ao mesmo tempo, <strong>Slow</strong> <strong>Food</strong><br />

Dijle organizou um passeio de bicicleta para descobrir os produtos flamengos locais. O<br />

novíssimo Convivium de Namur Les P’tits Gris promoveu uma série de atividades,<br />

desde a descoberta de plantas selvagens à organização de uma feirinha de produtos<br />

locais. Em Pays de Liège, alguns restauranteurs, orientados pelo Convivium local,<br />

prepararam um cardápio <strong>Slow</strong> <strong>Food</strong> em homenagem à biodiversidade local, organizaram<br />

Laboratórios do Gosto e também visitas a hortas e pomares. <strong>Slow</strong> <strong>Food</strong> Les vertes<br />

vallées (St Sauveur) organizou uma feira de produtores. Em Silly foram realizadas<br />

múltiplas atividades, como um jantar-conferência com receitas tradicionais a base de<br />

produtos locais e sazonais, em colaboração com as cidades “slow” de Enghien e Lens, e<br />

a promoção de um produto local diferente a cada dia, especialmente nos cardápios das<br />

escolas. <strong>Slow</strong> <strong>Food</strong> Vlaanderen participou do Cheese, apresentando queijos e cervejas da<br />

Bélgica.<br />

Vozes do Terra Madre<br />

Leite cega<br />

James Dorey é um produtor de leite associado à <strong>Slow</strong> <strong>Food</strong> Perth. A sua<br />

descrição de uma degustação de leite, nos dá uma idéia de como podem ser<br />

complexas e diversas as características deste produto, da mesma forma que as<br />

do vinho. O aroma e o gosto podem indicar o que as vacas comem e como o<br />

leite foi processado.<br />

As chuvas de inverno já haviam passado e era um dia quente e ensolarado quando<br />

entrei no pavilhão do <strong>Slow</strong> <strong>Food</strong> Perth, durante o festival da trufa de Mundaring.<br />

Uma agradável fragrância de folhas secas e terra úmida invadiu meu olfato. Fui<br />

apresentado aos meus companheiros de mesa redonda - Daran Thompson da Avon<br />

Valley Dairy; Sophie Zalokar, chef e escritora de gastronomia; a especialista em<br />

azeite de oliva, Jill James; Anthony Georgeff, editor da Spice Magazine e Matt<br />

O’Donoghue da Abstract Gourmet – e sem mais demora, fui posto diante de seis<br />

amostras de leite.<br />

A degustação do leite pode parecer uma coisa um pouco bizarra se comparada, por<br />

exemplo, com a do vinho. O ser humano é composto em sua maior parte por água,<br />

por isso digo que estamos “equipados” para distinguir nuances sutis de aroma e sabor<br />

um pouco mais facilmente nas soluções aquosas do que nas que contém gordura.


O aroma e o copo de leite são avaliados de modo similar ao vinho, dando particular<br />

ênfase ao retro-olfativo. Sendo o leite essencialmente uma emulsão de água, proteína,<br />

açúcares e gorduras, devemos prestar atenção para que ele não “inunde”as nossas<br />

papilas gustativas se quisermos fazer uma avaliação objetiva e, portanto, cuspir,<br />

mesmo sendo um gesto pouco atraente, é praticamente indispensável.<br />

A análise olfativa é um pouco mais difícil. Como produtor de leite, preciso<br />

frequentemente enfiar a cabeça na abertura do container de leite cru e inspirar a<br />

plenos pulmões os vapores concentrados de milhares de litros de leite fresco da<br />

ordenha. Isto é suficiente para me dar uma idéia bastante precisa do estado de<br />

lactação dos animais, o que comeram, se sofrem de mastite. Com os produtos<br />

acondicionados, não podemos nos permitir este luxo, então precisei aquecer as<br />

amostras um pouco com as mãos antes de poder obter qualquer impressão dos aromas<br />

olfativos.<br />

Naturalmente, a degustação era cega, o único modo para que se tenha certeza de que<br />

eventuais preconceitos não nos induzam a imaginar características inexistentes.<br />

Recebi uma grade de avaliação muito informal que atribuía um total de trinta pontos,<br />

dos quais dez para o aroma, dez para o gosto e dez para o corpo. Todas as amostras<br />

eram de leite integral.<br />

O primeiro vinha da Margaret River Creameries. Tinha um excelente perfil gustativo,<br />

bom corpo e um conteúdo generoso de gordura: 23 pontos.<br />

A seguir, o leite integral de Bannister Downs: além de um agradável frescor “de<br />

noz”, no seu aroma se percebia um toque herbáceo : porém não a ponto de constituir,<br />

na minha opinião, um defeito, especialmente numa época em que muitos criadores<br />

usam a forragem invernal. O corpo era excelente, com um teor de gordura bem<br />

integrado: 24,5 pontos.<br />

A terceira amostra vinha de Ravenhill. Foi uma surpresa: um leite de qualidade<br />

excelente tinha sido “queimado” pela pasteurização. Mais tarde ouvi alguém<br />

descrevê-lo como “igual ao leite que eu tomava quando era pequena”. Evidentemente<br />

ela comia mais pudim do que eu quando criança... Fora isso, o leite deixava uma boca<br />

oleosa devido a um generoso teor de gordura: 19 pontos.<br />

A amostra número quatro revelou-se uma proposta surpreendentemente fraca da<br />

Harvey Fresh. Dava a impressão de ter sido processado excessivamente durante a<br />

separação ou pasteurização ou mesmo diluído com água: era gordo e insípido.<br />

Considerando o padrão geralmente alto deste produtor, posso apenas imaginar que se<br />

tratava de uma amostra defeituosa.<br />

O número cinco era um produto anônimo, completamente homogeneizado,<br />

comercializado com a marca Coles. Nenhuma surpresa aqui: um leite “sem infâmia e<br />

sem louvor”. Aroma quase ausente: 15 pontos.


A última amostra era outro produto anônimo, mas de nível levemente superior,<br />

comercializado pela Browne. Não tenho motivo para pensar que o leite original fosse<br />

muito diferente daquele da amostra anterior, mas a Peter e Browne devem ter<br />

procurado manter um pouco do sabor e do aroma inicial no produto final: 17 pontos.<br />

Esta degustação foi muito instrutiva e diferente das outras: pela tipologia do produto<br />

(é decididamente pouco usual degustar leite) e porque todos puderam dar a sua<br />

opinião pessoal, sem serem influenciados pela leitura dos rótulos.<br />

Tradições alimentares<br />

Iogurte com cinzas, servido na cumbuca...<br />

Do Quênia, uma comunidade de pastores e agricultores<br />

São pastores e agricultores: altos, magros, com traços suaves e olhos grandes e<br />

negros. Quando um hóspede chega na comunidade, todos cantam e dançam juntos,<br />

vestindo os trajes tradicionais, com vistosos colares de contas amarelas e vermelhas,<br />

coroas de conchas e penas brancas, guizos e chifres de cabra amarrados nas canelas.<br />

O nome da comunidade – assim como o rio que atravessa o vilarejo, feito de cabanas<br />

redondas de lama e palha – é Terzoi, que significa pena branca, o ornamento<br />

tradicional.<br />

Com o leite das vacas locais (cruzamento entre raças locais e zebu) e das cabras,<br />

produzem leite fresco, manteiga e um iogurte especial com as cinzas.<br />

Para obter o iogurte, o leite é derramado em uma cumbuca vazia, longa e estreita,<br />

onde fica por pelo menos três dias. Depois escorrem o soro, fecham o recipiente,<br />

agitando-o regularmente. Quando o iogurte está pronto, são adicionadas as cinzas,<br />

retiradas de uma árvore local (o cromwo), que tem poderes desinfetantes, melhora o<br />

gosto (dando uma nota aromática) e confere ao iogurte uma coloração cinza clara.<br />

Quatro representantes desta comunidade – futura Fortaleza <strong>Slow</strong> <strong>Food</strong> – estiveram na<br />

Itália de 13 a 21 de setembro para um curso de formação (sobre a saúde animal e do<br />

leite): visitaram diversas fábricas artesanais de produção de iogurte e queijo e<br />

participaram do Cheese, contando sobre sua cultura milenar.<br />

Área de produção: West Pokot (Kenya ocidental)<br />

Contatos da comunidade:<br />

Jane Karanja Tel. +254715639223 Jane_karanja2001@yahoo.com<br />

Peter Namianya, Tel. +254711219873 Penami78@yahoo.com


Para saber mais<br />

Uma pequena molécula<br />

A molécula da lactose, que permite ao organismo humano assimilar o cálcio, pode ser<br />

absorvida pelas paredes do intestino somente se for decomposta por uma enzima<br />

chamada lactase.<br />

Esta enzima não tem nenhuma qualquer outra função e, portanto, torna-se supérflua<br />

depois do desmame. A exceção, naturalmente, é o homem, que é capaz de digerir o<br />

leite mesmo quando adulto. Isto, porém, é resultado de uma longa adaptação e ainda<br />

hoje, não acontece com todos. Os nutricionistas descobriram nos anos sessenta,<br />

quando se deram conta de que, enquanto a população ocidental com longa tradição de<br />

criação de gado (americanos e europeus essencialmente) bebia litros de leite por dia,<br />

os habitantes de outros países se queixavam que o leite lhes fazia mal. Na realidade,<br />

a capacidade de digerir o leite na idade adulta é exceção, cerca de 65% da população<br />

mundial tem intolerância. Bons níveis de tolerância são registrados entre os norteeuropeus<br />

e norte-americanos brancos (90%) e entre pastores nômades da África<br />

(80%). Na África, junto aos povos que não criam gado, a intolerância é de quase 90%<br />

da população (que chega a quase 100% entre os igbo e os yoruba da Nigéria).<br />

Fonte: John Reader, Africa. A biography of the continent, 1997, Vintage Books<br />

Todos os leites dão queijo?<br />

Não foi pouca a influência do leite no desenvolvimento da humanidade, garantindo<br />

um alimento econômico, saudável, rico. Um alimento que tinha – e tem – um grande<br />

defeito: a perecibilidade. Ao transformar o leite em queijo, a humanidade conseguiu<br />

um método de conservação bastante eficiente e agradável.<br />

Mas é possível fazer queijo com o leite de qualquer mamífero? Não: por exemplo,<br />

não é possível fazer queijo com o leite materno, suíno, de égua, etc.<br />

Para que possa ser caseificado, o leite deve conter uma quantidade suficiente de<br />

caseína, um tipo específico de proteína. As caseínas, estimuladas pelo coalho ou por<br />

um grande aumento de acidez, se precipitam, levando consigo muitas outras<br />

substâncias presentes no leite, particularmente a gordura: é assim que é formada a<br />

coalhada, a base de todos os queijos. E é por isso que o homem aprendeu com a<br />

experiência secular, a usar, sobretudo, o leite de ovelha, cabra, vaca e búfala. Pois são<br />

as espécies com a maior quantidade de caseína em relação ao volume total. O leite<br />

dos marsupiais, por exemplo, é o mais rico de todos em gorduras e caseína, mas a<br />

quantidade produzida é tão reduzida que não é possível processá-lo. Já as éguas<br />

produzem uma boa quantidade de leite, mas é pobre em caseína, podendo ser


transformado em bebidas fermentadas, muito difundidas nas estepes asiáticas, mas<br />

não em queijos.<br />

Romênia – Os pequenos produtores correrem o risco de<br />

desaparecer<br />

As possíveis consequências do ingresso na Europa<br />

Na Romênia, a adesão à União Européia foi muito almejada, batalhada, desejada e,<br />

por fim, festejada, mas desde o dia 1° de janeiro de 2007, a vida não melhorou por<br />

todos os outros 20 milhões de habitantes. Em particular, para os pequenos<br />

produtores, a adequação às normas européias vigentes, passagem obrigatória para<br />

produzir e vender legalmente tanto a nível nacional quanto no grande mercado da<br />

família européia alargada, pode obrigar os produtores a modificar as técnicas<br />

tradicionais, descaracterizando totalmente o produto final.<br />

Foram os próprios pastores, os “baci” (aqueles que no verão são responsáveis pela<br />

produção de queijo sem, porém, serem os proprietários dos animais) e os produtores<br />

da Fortaleza do Brânz" de Burduf que nos explicaram o que está acontecendo.<br />

O governo de Bucarest decidiu transpor o regulamento europeu uniformizando-se<br />

com o modelo da produção industrial, sem prever exceções e derrogações e, portanto,<br />

não dando espaço ao pequeno ou ao diverso. Esta escolha não foi declarada<br />

publicamente: foi decidido que seria dado um prazo de um ano para a adequação, ao<br />

final do qual todos os produtores e sistemas produtivos deveriam respeitar as leis e os<br />

regulamentos europeus. Quem desobedece as regras, fica realmente fora do<br />

mercado, pois pode vender somente a nível local (ou seja, dentro de um raio de 30<br />

quilômetros). Esta disposição se aplica também a feiras e eventos e, no caso de<br />

violações, estão previstas sanções econômicas particularmente pesadas, sobretudo<br />

porque afetam pequenas realidades produtivas do tipo familiar.<br />

As razões desta posição são múltiplas: de um lado, o temor de receber sanções de<br />

Bruxelas, e de outro, a aplicação de um enfoque hiper-higienista: soluções mais<br />

rápidas para o caminho do diálogo e para confrontos com os produtores.<br />

Mas é justamente este último caminho que a Fundação <strong>Slow</strong> <strong>Food</strong> para a<br />

Biodiversidade decidiu seguir, iniciando, com os produtores da Fortaleza do Brânz"<br />

de Burduf, um trabalho de identificação quer das técnicas tradicionais de produção,<br />

quer de adaptações estruturais e de equipamento necessários para garantir uma<br />

produção segura do ponto de vista sanitário, mas ao mesmo tempo tradicionais e de<br />

qualidade.<br />

Livros e filmes<br />

“Fromages entre ciel et terre” (queijos entre o céu e a terra)


Este livro, entre as emoções das imagens e os retratos intimistas dos pastores, permite<br />

entender o quanto estas paisagens mágicas são frágeis e ligadas à produção que<br />

queijo.<br />

Autores: Gilbert Dalla Rosa (texto) e Dominique Julien (fotos)<br />

Idioma: francês<br />

Editora: Gypaete<br />

Para saber mais ou para adquiri-lo, clicar aqui:<br />

http://www.gypaete.com/fromage.htm<br />

As formas do leite. Manual para conhecer o queijo<br />

Este manual dedicado à educação do gosto é dirigido aos consumidores que desejam<br />

aprofundar o próprio conhecimento sobre um dos setores mais ricos, variados e<br />

estimulantes da produção alimentar: o mundo dos queijos.<br />

Autores: Armando Gambera, Enrico Surra<br />

Idioma: italiano<br />

Editoria: <strong>Slow</strong> <strong>Food</strong> Editore, 2003<br />

Para maiores informações ou para adquiri-lo, clique aqui:<br />

http://www.slowfood.it/editore/ita/dettagli.lasso?cod=EA01FL01<br />

O queijo. Uma história verdadeira ou duas<br />

Este é o primeiro volume da coleção Para comer melhor, nascida para apresentar a<br />

um público bem jovem os temas caros ao <strong>Slow</strong> <strong>Food</strong>, especialmente o prazer de<br />

conhecer e degustar determinados alimentos: queijo, chocolate, pão, verduras, mel…<br />

Autores: Cinzia Ghigliano e Marco Tomatis<br />

Para saber mais ou para adquiri-lo, clique aqui:<br />

http://www.slowfood.it/editore/ita/dettagli.lasso?cod=9788884991713<br />

Dvd fundação Onlus: três fortalezas slow food na tela<br />

Manrique e a odisséia do café; Olga, a páprica e o porquinho crespo; Bitto, o queijo<br />

perene, são três documentários realizados em 2006 sobre projetos <strong>Slow</strong> <strong>Food</strong>.<br />

Direção: Annamaria Gallone<br />

Para saber mais ou para adquiri-lo, clique aqui:<br />

http://www.slowfood.it/store_it/pagine/dettagli.lasso?cod=DVDFOND<br />

Link TV, a televisão sem fronteiras<br />

Este site multimídia difunde programas sobre temas da sustentabilidade, com uma<br />

ampla seção dedicada ao alimento.<br />

Para saber mais, clique aqui:<br />

http://www.linktv.org/food

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