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AVALIAÇÃO DE EXTRATOS VEGETAIS E MÉTODOS DE ...

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Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.1, n.1, p.13-19, 1999<br />

ISSN 1517-8595<br />

13<br />

AVALIAÇÃO <strong>DE</strong> <strong>EXTRATOS</strong> <strong>VEGETAIS</strong> E MÉTODOS <strong>DE</strong> APLICAÇÃO NO<br />

CONTROLE <strong>DE</strong> Sitophilus spp 1<br />

Francisco de Assis Cardoso Almeida 2 , Ana Costa Goldfarb 3<br />

e Josivanda Palmeira Gomes de Gouveia 2<br />

RESUMO<br />

O objetivo do trabalho foi avaliar a eficácia de dez extratos vegetais de plantas da flora Paraibana<br />

no controle do inseto adulto Sitophilus spp, bem como as formas de aplicação diretamente sobre o<br />

inseto e por meio de vapor. Os extratos foram obtidos pelo método a frio com casca do fruto de Citrus<br />

vulgaris, sementes de Helianthus annus, Piper nigrum, folhas de Eucalyptus spp., Ruta graveolens<br />

e Coriandrum sativum, flores e folhas de Tagetes patula e Crysanthemum e flores de Croton<br />

tiglium e Anthemis spp. O estudo foi realizado com dois bioensaios, tendo por finalidade: a) definir<br />

o método de aplicação e o tempo para a avaliação da eficácia dos extratos em matar Sitophilus spp;<br />

b) avaliar a eficiência desses extratos aplicados logo após a sua obtenção (extrato com álcool) e depois<br />

de volatilizado todo o álcool (estrato sem álcool). Para estes bioensaios, o delineamento experimental<br />

foi o inteiramente casualizado, em esquema fatorial de 10 x 2, com quatro repetições. Para<br />

o trabalho, foi desenvolvido um método que leva os extratos até os insetos por meio de sistema de<br />

injeção na forma de vapor. A avaliação da eficácia dos extratos em matar Sitophilus spp, foi feita<br />

pela contagem do número de insetos adultos sobreviventes. Como conclusões, pode-se verificar<br />

que, os extratos aplicados na forma de vapor mataram com uma eficiência de 96 a 100% os insetos<br />

adultos e, quando estes são aplicados diretamente sobre os insetos, não provocam mortalidade.<br />

Palavras-chave: extratos, Sitophilus spp<br />

EVALUATION OF VEGETABLE EXTRACTS AND METHODS<br />

OF APPLICATION IN THE CONTROL OF Sitophilus spp 1<br />

ABSTRACT<br />

The objective of the work was to evaluate the effectiveness of ten vegetable extracts of natural<br />

Paraiba in the control of the insect adult Sitophilus spp, as well as the application forms: directly on<br />

the insect and by means of vapor. The extracts were obtained by the method to cold with peel of the<br />

fruit of Citrus vulgaris, seeds of Helianthus annus, Piper nigrum, leaves of Eucalyptus spp, Ruta<br />

graveolens and Coriandrum sativum, flowers and leaves of Tagetes patula and Crysanthemum<br />

and flowers of Croton tiglium and Anthemis spp. The study was accomplished with two biorehearsal<br />

tends for purpose: a) to define the application method and the time needed to evaluate<br />

the extracts effectiveness in killing Sitophilus spp and b) to evaluate theapplied extract efficiency<br />

soon after its obtaining (extract with alcohol) and after evaporating all the alcohol (extract<br />

without alcohol); for this bio-rehearsal, the experimental design was completely randomized in a of<br />

10 x 2 factorial scheme with four repetitions. For the work, a method was developed that carries the<br />

_________________________________<br />

Trabalho revisado pela Professora Leda Rita D’Antonino Faroni da Universidade Federal de Viçosa, Doutora pela Universidad<br />

Politécnica de Valencia<br />

1 Parte da Dissertação de Mestrado do segundo autor<br />

2 Professores Doutores, Departamento de Engenharia Agrícola do CCT/UFPB, Av. Aprígio Veloso, 882 58109-970 Campina<br />

Grande, PB, Brasil. E-mail: diassis@deag.ufpb.br<br />

3 Estudante de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola , <strong>DE</strong>Ag/CCT/UFPB, bolsista da CAPES


14<br />

Avaliação de extratos vegetais e métodos de aplicação no controle de Sitophilus spp<br />

Almeida et al.<br />

extracts to the insects by means of an injection system the vapor form. The evaluate of the extracts<br />

effectiveness in killing Sitophilus spp., was done by of the number of surviving adult insects. As<br />

conclusions, it can be verified that, the extracts applied in the vapor form killed with an efficiency<br />

from 96 to 100% of the adult insects and when these are directly applied on the insects, they don't<br />

provoke mortality.<br />

Keyword: extracts, Sitophilus spp<br />

INTRODUÇÃO<br />

Das espécies de pragas que atacam os grãos e<br />

sementes armazenadas, a espécie Sitophilus spp,<br />

de notada importância econômica, é tida como<br />

das mais severas. Os prejuízos causados decorrem<br />

de danos qualitativos e quantitativos (Braga<br />

et al., 1991), podem ser de perda parcial ou total<br />

do produto, dependendo do grau de infestação.<br />

Os adultos da espécie Sitophilus spp apresentam<br />

alto potencial biótico, infestação cruzada,<br />

polifagia e alta capacidade de adaptação; características<br />

que os tornam resistentes com relação a<br />

um controle alternativo.<br />

O controle às pragas dos produtos armazenados<br />

é feito de preferência com fumigantes liqüefeitos<br />

(bissulfeto de carbono, entre outros) ou<br />

solidificados a exemplo da fosfina. Entretanto, a<br />

utilização indevida da fosfina levou ao surgimento<br />

de populações de insetos resistentes e à detecção<br />

de resíduos em grão e sementes expurgados<br />

com alto teor de umidade. A partir de tal fato,<br />

outros fumigantes passaram a ser estudados (Faroni,<br />

1997).<br />

Além do uso de inseticidas químicos, os pesquisadores<br />

têm investigado formas alternativas de<br />

fazer o controle das pragas dos grão e sementes<br />

armazenadas. A utilização de extratos vegetais,<br />

como inseticida alternativo, é uma forma de prover<br />

um controle sem desencadear os problemas<br />

provocados pelos inseticidas sintéticos químicos,<br />

que causam desequilíbrios ambientais nas culturas<br />

e demais populações vegetais e animais presentes<br />

no ecossistema onde o inseticida foi aplicado,<br />

podendo, ainda, poluir os recursos hídricos,<br />

desencadear o surgimento de insetos resistentes e<br />

deixar resíduos tóxicos para o ser humano.<br />

O controle alternativo com inseticida natural<br />

pode ser considerado ecologicamente correto,<br />

pois não coloca em risco a existência do inseto<br />

que apresenta como uma de suas características a<br />

infestação cruzada, ou seja, se desenvolve tanto<br />

no campo quanto nos armazéns e esta forma de<br />

controle visa à eliminação da praga só nos produtos<br />

armazenados, permanecendo sua existência<br />

no campo.<br />

Couto & Sigrist (1995) apresentam a peretrina<br />

obtida de flores de numerosas espécies do<br />

gênero Chisantemum, principalmente da espécie<br />

C. cinerariaefolium, como um produto não tóxico<br />

a mamífero e efetivo contra largo espectro de<br />

insetos. Acrescente-se a este fato, ainda, que as<br />

propriedades inseticidas do piretro não deixam<br />

resíduos tóxicos nos alimentos (Guerra, 1985).<br />

Cabe ressaltar que o grupo dos organo-sintéticos,<br />

conhecidos como piretróides, nada têm a ver com<br />

o princípio ativo do piretro encontrado no Chisantemum.<br />

Oliveira et al. (1995) através de testes laboratoriais,<br />

comprovou que o extrato derivado de<br />

flores de Camelia sinensis é tóxico ao inseto<br />

praga Sitophilus zeamais quando aplicado diretamente<br />

sobre estes com pulverizador manual.<br />

Extrato de Piper niger L. foi eficiente em mais de<br />

90% no controle da Sitotroga cerealella, com<br />

efeito residual estável de até 90 dias depois da<br />

sua aplicação.<br />

Observou-se que sementes de feijão macassar<br />

tratadas com casca de laranja seca e moída não<br />

apresentaram alterações na cor e na qualidade<br />

durante o período de entressafra desse produto<br />

(6-8 meses) e que a ação do ácido cítrico presente<br />

na laranja foi repelente para os insetos, podendo,<br />

assim, não estar restrito apenas à manutenção da<br />

coloração das sementes (NTA, 1987; Almeida &<br />

Cavalcanti Mata, 1994). Resultados posteriores<br />

obtidos por Germano (1997) confirmam a eficiência<br />

da casca da laranja no controle de insetos e<br />

manutenção da qualidade fisiológica de semente<br />

de Vigna armazenadas.<br />

Atualmente, as plantas representam um considerável<br />

recurso para o controle alternativo de<br />

pragas, doenças e invasoras, porém esta informação<br />

é desconhecida pela grande maioria dos agricultores.<br />

Guerra (1985) coloca a importância<br />

desta área de pesquisa quando afirma existir uma<br />

lista, contendo cerca de duas mil plantas que<br />

apresentam possibilidades de uso no controle de<br />

pragas, doenças e invasoras, a qual foi obtida por<br />

mais de meia centena de organizações de vários<br />

países do mundo que trabalharam num projeto<br />

coordenado pelo Dr. Saleem Ahmed, com sede<br />

em Honolulu, Havaí.<br />

Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.1, n.1, p.13-19, 1999


Avaliação de extratos vegetais e métodos de aplicação no controle de Sitophilus spp<br />

Almeida et al.<br />

15<br />

Assim, o trabalho teve como objetivo avaliar<br />

formas de aplicação de extratos vegetais no controle<br />

do inseto praga dos grãos e sementes armazenadas,<br />

Sitophilus spp e seus efeitos tóxicos no<br />

controle efetivo desse inseto adulto.<br />

MATERIAIS E MÉTODOS<br />

O trabalho foi realizado no Laboratório de<br />

Armazenamento e Processamento de Produtos<br />

Vegetais do Departamento de Engenharia Agrícola<br />

da Universidade Federal da Paraíba.<br />

Criação dos insetos: quatrocentos insetos adultos<br />

foram inoculados em uma massa de milho<br />

(60kg) armazenada em condições de ambiente a<br />

25,7 0 C de temperatura média e umidade relativa<br />

do ar de 74,5%. Posteriormente, foi aguardado<br />

um período de 35 dias para a reprodução e produção<br />

de adultos. Depois, os insetos eram selecionados<br />

com o auxílio de uma peneira de 4mesh,<br />

deixando-se os grãos mais as posturas até a<br />

emergência de novos adultos. Os insetos que<br />

sobreviviam à ação dos extratos utilizados não<br />

retornavam à criação, sendo estes eliminados.<br />

Espécies botânicas: Os extratos (Tabela 1) foram<br />

obtidos de folhas, flores, sementes e cascas,<br />

conforme a planta, de dez espécies botânicas da<br />

flora paraibana. Optou-se por essas espécies vegetais<br />

devido a referências de uso caseiro como<br />

inseticidas ou como possuidoras de propriedades<br />

fitossanitárias.<br />

Com exceção do Crisântemo todas as demais<br />

espécies foram cultivadas especificamente para<br />

serem utilizadas no trabalho, não tendo recebido<br />

qualquer tratamento fitossanitário até a sua utilização.<br />

Depois da colheita, o material passava por<br />

um processo de limpeza para remoção das impurezas<br />

e, em seguida, era lavado em água destilada.<br />

Posteriormente, era acondicionado em embalagens<br />

de papel etiquetadas, submetidas a estufa<br />

de ventilação forçada a uma temperatura constante<br />

de 50 0 ±1 0 C para secagem. Depois, era moído<br />

em um triturador elétrico, pesado e abrigado da<br />

luz até a obtenção do extrato bruto.<br />

Obtenção dos extratos para os ensaios: a<br />

metodologia para a obtenção dos extratos a frio<br />

foi adaptada de Scramin et al. (1987). Cinqüenta<br />

gramas (50g) de cada espécie depois de passar<br />

pelo triturador era colocada em um recipiente<br />

contendo 200ml de solvente (álcool P.A.). A<br />

mistura era agitada em um liqüidificador por<br />

cinco minutos para homogeneização. Depois<br />

transportada para um Becker cuja boca era recoberta<br />

com papel alumínio preso por fita crepe e<br />

guardado ao abrigo da luz por 48 horas. Durante<br />

este período a mistura era agitada ocasionalmente<br />

e depois filtrada em papel de filtro, obtendo-se,<br />

assim, o extrato o qual foi guardado em vidros<br />

hermeticamente fechados a 5 0 ±1 0 C até ser utilizado.<br />

Tabela 1. Nome científico, nome vulgar, indicação de uso e a parte estudada de cada espécie botânica<br />

Nome científico Nome vulgar Indicação Parte estudada<br />

Ruta graveolens Arruda Inseticida Folha<br />

Coriandrum sativum Coentro Inseticida Folha<br />

Croton tiglium Cróton Inseticida Flores<br />

Chrysanthemum Crisântemo Inseticida Flor e folha<br />

Tagetes patula Cravo Inseticida Flor e folha<br />

Eucalyptus spp. Eucalipto Inseticida Folha<br />

Helianthus annus Girassol Repelente Semente<br />

Citrus vulgaris Laranja Repelente Casca<br />

Anthemis spp. Macela galega Inseticida Flor<br />

Piper nigrum Pimento do reino Inseticida Semente<br />

Testes de mortalidade: os ensaios de mortalidade<br />

foram realizados em duas etapas. Na primeira,<br />

com o objetivo de caracterizar a forma de aplicação<br />

(Costa et al. 1980), o extrato foi aplicado<br />

diretamente sobre o inseto com o auxilio de uma<br />

micropipeta e a resposta foi dada pelo número de<br />

insetos mortos.<br />

Na segunda etapa, o extrato era levado na<br />

forma de vapor onde se encontravam os insetos<br />

os quais inalavam o extrato pela traquéia e demais<br />

vias respiratórias. A metodologia foi desen-<br />

Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.1, n.1, p.13-19, 1999


16<br />

Avaliação de extratos vegetais e métodos de aplicação no controle de Sitophilus spp<br />

Almeida et al.<br />

volvida pelos autores do trabalho, com base na<br />

aplicação da fosfina, comumente utilizada no<br />

controle deste inseto.<br />

Na avaliação, foi considerado vivo todos os<br />

insetos que moviam qualquer parte do corpo,<br />

mesmo aqueles que permaneciam imóveis e só se<br />

moviam lentamente quando incomodados.<br />

Bioensaios da etapa I: foram realizados entre as<br />

11:00 e 15:00 horas (Phillips & Burjholder,<br />

1981) em placas de Petri contendo cada uma dez<br />

insetos adultos, aplicando-se através de uma pipeta<br />

automática uma gota do extrato no noto do<br />

inseto, conforme metodologia de Giannotti et al.<br />

(1972). A avaliação do número de insetos mortos<br />

foi feita depois de 24 e 48 horas, respectivamente.<br />

Igualmente foi realizado um teste, aplicandose<br />

apenas álcool P.A. A testemunha não recebeu<br />

aplicação do extrato e do álcool.<br />

Bioensaios da etapa II: os extratos foram aplicados<br />

com um compressor adaptado para levar,<br />

junto com o ar, o extrato diretamente onde se<br />

encontravam os insetos (Fig. 1). Estes recipientes<br />

de 19cm de altura e 12cm de diâmetro tinham a<br />

tampa perfurada em dois locais com furos de 3cm<br />

para a entrada e saída do vapor gerado pelo compressor.<br />

Figura 1. Aplicação dos extratos pelo método do<br />

vapor.<br />

A quantidade do extrato aplicado por repetição<br />

foi de 3ml e o recipiente que o continha era<br />

de 5ml. Os tratamentos constaram de quatro repetições<br />

de 100 insetos cada uma, mais uma testemunha<br />

que não recebeu a aplicação dos extratos.<br />

Depois das aplicações nas condições de temperatura<br />

e umidade relativa do ar ambiente (média de<br />

25,7 0 C e 74,5%UR), ao abrigo da luz, por um<br />

período de 48 horas, os recipientes eram abertos<br />

para a contagem dos insetos mortos.<br />

Quando do preparo dos extratos para serem<br />

utilizados nos bioensaios da etapa II, estes foram<br />

aplicados logo após a sua obtenção - extrato com<br />

álcool - e, depois de permanecerem em um recipiente<br />

aberto (Becker) por um período de 72<br />

horas para à volatilização de todo o álcool - extrato<br />

sem álcool.<br />

Análise estatística<br />

Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado,<br />

em esquema fatorial de 10 x 2, com<br />

quatro repetições, exceto no primeiro bioensaio<br />

que não foi analisado, estatisticamente, devido a<br />

este ter sido empregado com a finalidade de caracterizar<br />

o método de aplicação e o tempo de<br />

exposição dos extratos para o segundo bioensaio.<br />

Os dados obtidos foram submetidos a análise<br />

de variância com níveis de significância de 1 e<br />

5% e, as médias dos fatores comparados pelo<br />

teste de Tukey, a 5% de probabilidade.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />

Bioensaios da primeira etapa<br />

O álcool aplicado diretamente sobre o corpo<br />

do Sitophilus spp, método da micropipetagem,<br />

não foi capaz de matá-los, indicando que este não<br />

possui efeito tóxico sobre o inseto. Tendo, assim,<br />

sido escolhido para ser usado como solvente no<br />

preparo dos extratos vegetais.<br />

A porcentagem de mortalidade de insetos<br />

adultos, mediante a aplicação dos extratos diretamente<br />

sobre o noto do inseto variou de 0% a<br />

20% e apenas seis dos dez extratos mataram Sitophilus<br />

spp, sendo pimenta e cróton eficientes<br />

com 20% de mortalidade, arruda, macela e crisântemo<br />

com 10%, eucalipto com 12% e os demais<br />

não manifestaram seu poder tóxico, quando<br />

aplicados por este método (micropipetagem).<br />

Apoiado nesses resultados, eliminou-se, no<br />

bioensaio da segunda etapa, a aplicação dos extratos<br />

pelo método da micropipetagem e optou-se<br />

para avaliar o efeito dos extratos, depois de 48<br />

horas da sua aplicação, devido ao comportamento<br />

similar dos períodos estudados (24 e 48hs) e,<br />

também, aos fumigantes mais utilizados no expurgo<br />

do milho necessitarem desse tempo como<br />

mínimo para que o produto possa ser utilizado<br />

(Gastoxin, 1995).<br />

Bioensaios da segunda etapa<br />

Na Tabela 2, encontram-se os dados de<br />

mortalidade de Sitophilus spp em função da<br />

quantidade de álcool aplicada pelo método do<br />

vapor depois de um período de 48 horas da aplicação.<br />

Logo após a aplicação, verificou-se que o<br />

comportamento do inseto foi de agitação intensa,<br />

andando aleatoriamente pelo recipiente; depois<br />

Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.1, n.1, p.13-19, 1999


Avaliação de extratos vegetais e métodos de aplicação no controle de Sitophilus spp<br />

Almeida et al.<br />

17<br />

de aproximadamente 2 minutos, começavam a<br />

tentar sair pelos furos do recipiente; com 5<br />

minutos não tinham mais equilíbrio aparente e se<br />

desprendiam com facilidade das laterais do recipiente<br />

e as vezes não conseguiam chegar aos<br />

furos da parte superior do recipiente; ao final da<br />

aplicação de cada amostra quase todos os insetos<br />

já estavam imóveis e aparentemente mortos.<br />

Estes insetos respiram por meio de traquéias<br />

as quais, em número de 10 pares, abrem-se lateralmente<br />

através de pequenos orifícios denominados<br />

estigmas. Em função dessa estrutura física,<br />

o Sitophilus spp absorve e reage rapidamente à<br />

aplicação dos extratos na forma de vapor. Fato<br />

que se apoia em observações descritas por Lima<br />

& Racca (1987).<br />

Os resultados apresentados na Tabela 2 evidenciam<br />

a influência dos extratos que controlaram<br />

entre 85,75% (eucalipto) a 100% (pimenta) o<br />

Sitophilus spp frente à testemunha, cuja eficácia<br />

sobre adultos desse inseto foi nula (0,0%). Os<br />

dados revelam ainda igualdade estatística dos<br />

extratos eucalipto e girassol, sendo este estatisticamente<br />

tão eficiente quanto o cravo.<br />

Os extratos com álcool foram estatisticamente<br />

inferiores aos extratos sem álcool, no controle<br />

do inseto Sitophilus spp, apresentando um percentual<br />

de mortalidade de 84,8% contra 88%,<br />

respectivamente. Estes resultados indicam que os<br />

extratos, com e sem a presença do solvente álcool,<br />

podem interferir nos resultados, provocando<br />

mortalidade do inseto.<br />

Para a interação, extrato sem álcool x extratos<br />

com álcool (Tabela 3), tem-se que os extratos<br />

sem álcool de girassol e eucalipto foram estatisticamente<br />

inferiores ao extratos com álcool em<br />

25,5% e 22,5%, respectivamente. Observa-se<br />

também que o extrato sem álcool de macela foi<br />

superior ao extrato com álcool em 6,5% e que<br />

todos os tratamentos dentro e entre eles diferiram<br />

da testemunha.<br />

Observa-se ainda que os extratos sem álcool<br />

de laranja, pimenta e macela controlaram em<br />

100% o inseto Sitophilus spp. Controle igual deuse<br />

com os extratos com álcool de girassol e pimenta.<br />

O fato mostra que a pimenta possui princípios<br />

ativos que promove o controle deste inseto<br />

adulto pelo método do vapor, independente da<br />

composição do extrato (com e sem álcool). Resultados<br />

que colocam a pimenta como um dos<br />

materiais de origem vegetal estudados, mais eficaz<br />

no preparo dos extratos para controlar o Sitophilus<br />

spp. Estes resultados são concordantes<br />

com os obtidos por Oliveira et al. (1995) que<br />

afirma ter aplicado extrato de pimenta do reino<br />

sobre Sitophilus zeamais e controlado a população<br />

desse inseto-praga em 90%.<br />

Tabela 3 - Mortalidade final (%) de Sitophilus spp para a interação extrato sem álcool x extrato com<br />

álcool, pelo método do vapor, depois de um tempo de exposição de 48 horas da aplicação*<br />

Tratamentos Extrato sem álcool Extrato com álcool Médias<br />

Extratos<br />

Citrus vulgaris (Laranja) 100.00 aA 98.00 aA 99.00<br />

Coriandrum sativum (Coentro) 98.50 aA 93.25 aA 95.88<br />

Chrysanthemum (Crisântemo) 98.25 aA 95.25 aA 96.75<br />

Helianthus annus (Girassol) 74.50 bB 100.00 aA 87.25<br />

Eucalyptus spp. (Eucalipto) 74.50 bB 97.00 aA 85.75<br />

Piper nigrum (Pimenta) 100.00 aA 100.00 aA 100.00<br />

Anthemis spp. (Macela) 100.00 aA 93.50 abB 96.75<br />

Croton tiglium (Cróton) 97.25 aA 99.00 aA 98.13<br />

Tagetes patula (Cravo) 92.00 aA 94.50 aA 93.25<br />

Ruta graveolens (Arruda) 98.15 aA 93.10 aA 95.13<br />

Testemunha 0.00 cA 0.00 cA 0.00<br />

Médias 84.89 88.00 86.44<br />

dms/coluna 9.67 dms/linha 5.80<br />

*Médias seguidas pela mesma letra minúscula nas colunas e maiúscula nas linhas, não diferem estatisticamente<br />

pelo teste de Tukey (P>0,05)<br />

Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.1, n.1, p.13-19, 1999


18<br />

Avaliação de extratos vegetais e métodos de aplicação no controle de Sitophilus spp<br />

Almeida et al.<br />

Em valores médios, os extratos de cróton,<br />

laranja, crisântemo, além do de pimenta foram<br />

os que indicaram maior poder tóxico no controle<br />

eficaz do inseto em estudo. Tem-se para os<br />

extratos de macela, coentro, cravo, girassol e<br />

eucalipto, um índice médio de controle do Sitophilus<br />

spp acima de 85%, com diferença estatística<br />

para o girassol e o eucalipto, possuidores<br />

da mesma eficiência e, que diferiram do cravo<br />

que se igualou ao girassol estatisticamente.<br />

Germano (1997), estudando o emprego de<br />

produtos naturais no tratamento de sementes de<br />

Vigna unguiculata, encontrou que o extrato<br />

bruto de casca de laranja, foi mais eficiente no<br />

controle de pragas e na manutenção da qualidade<br />

fisiológica dessas sementes armazenadas, do<br />

que a casca de batatinha, resultados que estão<br />

de acordo com os obtidos por Almeida & Cavalcanti<br />

Mata (1994).<br />

O cróton é utilizado como inseticida em várias<br />

partes do mundo devido especialmente, ao<br />

poder inseticida de suas sementes que, segundo<br />

Guerra (1985) são mais tóxicas que o piretro,<br />

substância encontrada nas flores do crisântemo.<br />

Couto & Sigrist (1995) afirmam que a piretrina<br />

obtida do Chrysantemum cinerariaefolium é<br />

eficaz no controle de um largo espectro de insetos<br />

e não é tóxico a mamífero.<br />

Um estudo sobre a composição desses extratos<br />

por meio de cromatografia em camadas<br />

delgadas, poderá trazer informações muito boas<br />

para novas pesquisas.<br />

CONCLUSÕES<br />

Para as condições do presente trabalho<br />

pode-se concluir que:<br />

1. os adultos de Sitophilus spp são controlados<br />

por extratos de Piper nigrum em<br />

(100%), seguido pelos extratos de Citrus<br />

vulgaris (99%), Croton tiglium (98%) e<br />

Crysanthemum (97%), aplicados na forma<br />

de vapor;<br />

2. não foi obtido controle efetivo de mortalidade<br />

(0,0%) com o solvente orgânico álcool<br />

P.A., nem satisfatório com os extratos<br />

vegetais (0,0 a 20%), aplicados diretamente<br />

sobre Sitophilus adultos (micropipetagem);<br />

3. os extratos botânicos estudados podem ser<br />

obtidos pelo método de extração a frio,<br />

com o solvente orgânico álcool P.A.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

Almeida, F. de A.C., Cavalcanti Mata,<br />

M.E.R.M. Avaliação dos componentes químicos<br />

do feijão macassar armazenados com<br />

extratos de casca de laranja e limão. Campina<br />

Grande: Núcleo de Tecnologia em Armazenagem<br />

– UFPB, 1994. (NTA/UFPB. Boletim<br />

Técnico, 14).<br />

Braga, G.C., Guedes, R.N.C., Silva, F.A.P. et<br />

al. Avaliação da eficiência de inseticidas,<br />

isolados e em misturas, no controle de Sitophilus<br />

zeamais Motschulsky (Coleoptera:<br />

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