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ANDRIZA ANDRADE<br />

JORDANA BELO<br />

“FÉ NA TERRA -<br />

DOCUMENTÁRIO SOBRE A<br />

TROCA DE SABERES 2011”<br />

Viçosa – MG<br />

Curso de Comunicação Social/<strong>Jornalismo</strong> <strong>da</strong> <strong>UFV</strong><br />

Novembro, 2011


ANDRIZA ANDRADE<br />

JORDANA BELO<br />

“FÉ NA TERRA -<br />

DOCUMENTÁRIO SOBRE A<br />

TROCA DE SABERES 2011”<br />

Projeto experimental apresentado ao Curso<br />

de Comunicação Social/ <strong>Jornalismo</strong> <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Viçosa, como<br />

requisito parcial para obtenção do título de<br />

Bacharel em <strong>Jornalismo</strong>.<br />

Orientadora: Soraya Maria Ferreira Vieira<br />

Co-orientação: Marcelo Loures dos Santos<br />

Viçosa - MG<br />

Curso de Comunicação Social/<strong>Jornalismo</strong> <strong>da</strong> <strong>UFV</strong><br />

Novembro, 2011<br />

2


Universi<strong>da</strong>de Federal de Viçosa<br />

Departamento de Comunicação Social<br />

Curso de Comunicação Social/<strong>Jornalismo</strong><br />

Projeto experimental intitulado “Fé na Terra- documentário sobre a Troca de<br />

Saberes 2011”, de autoria <strong>da</strong> estu<strong>da</strong>nte Andriza Maria Teodolindo de Andrade e Jor<strong>da</strong>na<br />

Diógenes Belo, aprova<strong>da</strong> pela banca examinadora constituí<strong>da</strong> pelos seguintes professores:<br />

____________________________________________________<br />

Profa. Dra. Soraya Maria Ferreira Veira – Orientadora<br />

Departamento de Comunicação Social/ <strong>Jornalismo</strong> <strong>da</strong> <strong>UFV</strong><br />

____________________________________________________<br />

Prof. Dr. Willer Araujo Barbosa<br />

Departamento de Educação <strong>da</strong> <strong>UFV</strong><br />

_____________________________________________________<br />

Profa. Mª. Laene Mucci Daniel<br />

Departamento de Comunicação Social/ <strong>Jornalismo</strong> <strong>da</strong> <strong>UFV</strong><br />

Viçosa, 24 de novembro de 2011<br />

3


RESUMO<br />

“Fé na Terra” é um documentário sobre a Troca de Saberes 2011, evento que ocorre na<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Viçosa e busca resgatar e valorizar o conhecimento popular<br />

dialogando com o conhecimento científico, de forma a quebrar a hierarquia que existe entre<br />

esses saberes. Contado por seus protagonistas, o documentário mostra como juntos os<br />

movimentos sociais, agricultores, sindicalistas, mulheres, jovens, pesquisadores e técnicos<br />

tentam gerar uma nova plataforma de conhecimento.<br />

Através de temas pertinentes aos seus cotidianos- como agricultura familiar, a luta pela<br />

permanência na terra, o cui<strong>da</strong>do com o meio ambiente, as questões de gênero, a construção<br />

de uma educação que aten<strong>da</strong> aos jovens do campo e a cultura popular – numa perspectiva<br />

agroecológica, esses 'personagens' <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> real propõem um novo modelo de socie<strong>da</strong>de.<br />

Uma socie<strong>da</strong>de mais justa, mais igualitária, que respeite as diferenças, mas que<br />

principalmente respeite a natureza e o meio ambiente.<br />

PALAVRAS-CHAVE:<br />

Comunicação, agroecologia, movimentos sociais, documentário.<br />

ABSTRACT<br />

“Fé na Terra” is a documentary about the event “Troca de Saberes 2011” that happens<br />

annually in Viçosa Federal University. This event intends to rescue and value folk<br />

knowledge and its interaction with formal scientific knowledge seeking to break the<br />

hierarchic gap between them. Told by its protagonists, the documentary shows the<br />

interaction between social movements, farmers, union members, women, youth, researchers<br />

and technicians trying to engender a new platform of knowledge.<br />

Through subjects related to their <strong>da</strong>ily activities – like family agriculture, the struggle to<br />

keep their rural property, gender related matters, an education system that fits rural youth<br />

and folk culture – in an agro ecologic approach, these real life characters suggest a new<br />

society model. A society with more equal opportunities and fairness, respecting the<br />

differences and mostly respecting nature and environment.<br />

KEY-WORDS:<br />

Communication, Agro ecology, Social Movements, Documentary.<br />

4


SUMÁRIO<br />

01. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................... 11<br />

1.0 OS SABERES PRESENTES NA TROCA DE SABERES ............................................................. 11<br />

1.1 COMUNICAÇÃO E MUDANÇAS SOCIAIS ............................................................................ 20<br />

02. RELATÓRIO TÉCNICO ................................................................................................. 23<br />

2.0 PRÉ-PRODUÇÃO ................................................................................................................. 23<br />

2.0.1 Pesquisa ............................................................................................................................. 23<br />

2.0.2 Reuniões pré-Troca de Saberes ........................................................................................ 24<br />

2.0.3 Elaboração do Roteiro de Filmagem ............................................................................... 24<br />

2.0.4 O pré-roteiro ...................................................................................................................... 25<br />

2.1 PRODUÇÃO ......................................................................................................................... 26<br />

2.2 PÓS-PRODUÇÃO ................................................................................................................. 28<br />

2.2.1 Edição, Montagem e finalização ...................................................................................... 28<br />

2.3 EQUIPE TÉCNICA ................................................................................................................ 29<br />

2.4 EQUIPAMENTOS ................................................................................................................. 30<br />

2.5 ORÇAMENTO ...................................................................................................................... 30<br />

2.6 DURAÇÃO DO VÍDEO: ......................................................................................................... 30<br />

01:02:39................................................................................................................................... 30<br />

2.7 TRILHA SONORA ................................................................................................................ 30<br />

03. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 31<br />

04. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 33<br />

ANEXOS .................................................................................................................................... 34<br />

5


AGRADECIMENTOS<br />

Agradeço primeiramente a pessoa responsável pelo meu envolvimento no<br />

documentário, o professor Marcelo Loures, que se mostrou muito mais que um orientador,<br />

mas uma pessoa que passei e admirar e por quem tenho um imenso carinho. Aos professores<br />

do Departamento de Educação, Edgar Coelho e Willer Araujo, que considero também<br />

orientadores desse trabalho.<br />

Á minha queri<strong>da</strong> orientadora e amiga, Soraya Ferreira, pela paciência aos infinitos<br />

desabafos, dedicação e por acreditar no meu trabalho. Com certeza uma <strong>da</strong>s pessoas que<br />

mais influenciaram na minha formação, obriga<strong>da</strong> pelo carinho!<br />

Á tod@s participantes <strong>da</strong> Troca de Saberes, por quem eu me apaixonei. Participar<br />

do mundo de vocês com certeza mudou o meu mundo também, quero que saibam que tenho<br />

um respeito enorme por todos vocês. Aos participantes, coordenadores e parceiros <strong>da</strong> Troca<br />

de Saberes que estão na luta por um mundo melhor, menos desigual e mais justo.<br />

Á minha família que sempre me apoiou e que fizeram parte desse trabalho<br />

acompanhando ca<strong>da</strong> etapa, ca<strong>da</strong> angústia, ca<strong>da</strong> alívio e ca<strong>da</strong> alegria! Sem vocês sempre ao<br />

meu lado, me apoiando eu não teria conseguido. Aos meus pais por serem muito pais, no<br />

sentido mais completo <strong>da</strong> palavra. Aos meus amados irmãos, meus melhores amigos e<br />

companheiros.<br />

Aos amigos que aju<strong>da</strong>ram com conversas, opiniões e críticas. Em especial agradeço<br />

aos amigos que aju<strong>da</strong>ram na concretização desse documentário: Alessandra Stropp, Thiago<br />

Padovan, Raul Gondim, Kelen Ribeiro, Paula Machado e Vitor Secchin. Sem vocês<br />

realmente seria difícil. Ás amigas Carol, Myrna, Kênia, Poli, Nathi pelo apoio, amizade e<br />

amor.<br />

Ao Museu de Ciências <strong>da</strong> Terra que nos abrigou por diversas noites durante to<strong>da</strong> a<br />

graduação. Foram milhares de cafés, cigarros e ás vezes até uma cervejinha para <strong>da</strong>r conta.<br />

Aos amigos integrantes do pequeno “gueto <strong>da</strong> comunicação” por me<br />

acompanharem, pelos rocks e por construirmos juntos uma nova visão de jornalismo.<br />

Aramis Assis, Eloah Barreto, Geanini Hackbardt e Talita Aquino.<br />

Á Tchaikovsky por me inspirar com suas composições.<br />

Á mãe Terra!!<br />

Andriza Andrade<br />

6


Agradeço, primeiramente, a todos aqueles que participaram <strong>da</strong> Troca de Saberes 2011, desde<br />

acadêmicos, passando por autori<strong>da</strong>des políticas, até os moradores rurais <strong>da</strong> Zona <strong>da</strong> Mata<br />

Mineira, que vieram à <strong>UFV</strong> representar e defender, humildemente, o conhecimento popular,<br />

o saber <strong>da</strong>queles que dia a dia trabalham com a terra.<br />

Agradeço a todo o apoio <strong>da</strong> orientadora Soraya Ferreira, que foi um auxílio fun<strong>da</strong>mental<br />

para mim, tanto para as conversas de orientação como para a montagem do vídeo. Obriga<strong>da</strong><br />

pela atenção, pela compreensão e pela confiança.<br />

Agradeço ao Museu de Ciências <strong>da</strong> Terra e ao Vitor Secchin, que disponibilizaram para nós<br />

o espaço, os computadores e as ferramentas necessárias para que longas horas fossem<br />

dedica<strong>da</strong>s à edição e produção deste vídeo, bem como outros profissionais <strong>da</strong> área de<br />

comunicação que me aju<strong>da</strong>ram a responder pequenas dúvi<strong>da</strong>s acerca do trabalho que<br />

realizei. Foi uma troca de aprendizados.<br />

E, por último, os agradecimentos aos que mais importam para mim: minha família e amigos.<br />

Agradeço pelos abraços e pelas palavras sem os quais seria impossível encerrar esta etapa.<br />

Todos os choros, os momentos de desespero, as noites sem dormir de ansie<strong>da</strong>de... desde o<br />

começo de todo o procedimento, quando meus planos para o TCC eram outros, estavam<br />

sempre ao meu lado, <strong>da</strong>ndo o apoio que acalentou minhas tristezas e amenizou a ansie<strong>da</strong>de.<br />

Obriga<strong>da</strong>!<br />

Jor<strong>da</strong>na Belo<br />

7


INTRODUÇÃO<br />

Logo nos primeiros dias de gravação do documentário <strong>da</strong> Troca de Saberes<br />

ouvimos a Dona Conceição, de Paula Cândido, dizer por repeti<strong>da</strong>s vezes que tinha muita fé<br />

na terra. Na hora não entendemos muito porque ela estava dizendo aquilo, mas aquela frase<br />

marcou muito. Quando terminaram as gravações <strong>da</strong> semana de realização <strong>da</strong> Troca de<br />

Saberes entendemos perfeitamente o que a Dona Conceição queria dizer com aquela frase. A<br />

terra para ela, a mãe-terra, é muito mais que um meio de se sustentar e sustentar a sua<br />

família. A terra é de onde ela tira sua cura, seus remédios, onde ela cui<strong>da</strong> com respeito, onde<br />

ela respeita os animais e os ciclos. A agroecologia assim é mais que uma ciência, é um<br />

movimento social e um modo de viver. É uma forma de respeitar a vi<strong>da</strong>, os ciclos naturais, a<br />

natureza, as águas, os animais, o sol, a lua, as estações do ano, o meio ambiente. E, por isso<br />

“Fé na Terra” se tornou o nome do documentário.<br />

O projeto <strong>da</strong> Troca de Saberes foi iniciado com o programa TEIA, que sempre<br />

buscou estabelecer, através de projetos de extensão, o diálogo fora <strong>da</strong> academia. Como<br />

programa, o TEIA busca articular diferentes projetos de extensão em diálogo com os<br />

movimentos sociais fomentando a cultura e a participação popular. Apresentam em seu<br />

corpo docente e discente os princípios <strong>da</strong> interdisciplinari<strong>da</strong>de em ativi<strong>da</strong>des de ensino,<br />

pesquisa e extensão. Tal proposta transformadora pretende incidir pela própria organização<br />

acadêmica, reconhecendo o saber popular como um outro saber possível. Em acordo com<br />

Boaventura de Sousa Santos, a invisibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s práticas populares traria <strong>da</strong>nos também<br />

para a teoria produzi<strong>da</strong> dentro <strong>da</strong> academia.<br />

Hoje vivemos um problema complicado, uma discrepância entre teoria e prática<br />

social que é nociva para a teoria e também para a prática. Para uma teoria cega, a<br />

prática social é invisível; para uma prática cega, a teoria social é irrelevante. E essa<br />

é uma situação que temos de atravessar se tentamos entrar no âmbito <strong>da</strong><br />

articulação entre os movimentos sociais. (...) não é simplesmente de um<br />

conhecimento novo que necessitamos; o que necessitamos é de um novo modo de<br />

produção de conhecimento. Não necessitamos de alternativas, necessitamos é de<br />

um pensamento alternativo ás alternativas. (BOAVENTURA, 2007, p.20)<br />

A partir desse diálogo democrático e horizontalizado produzido pelo TEIA nas<br />

comuni<strong>da</strong>des, foi se percebendo a necessi<strong>da</strong>de de estabelecer esse intercâmbio com a<br />

8


universi<strong>da</strong>de, para que a construção de um novo conhecimento inclua as partes <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

que antes era excluí<strong>da</strong>s. Foi assim, que aos poucos surgiu a Troca de Saberes, com o intuito<br />

de promover esse diálogo que já existia. É difícil precisar quando começou a Troca de<br />

Saberes, mas o encontro com esse nome surgiu em 2009. Hoje, a Troca de Saberes é um<br />

encontro que acontece anualmente na Universi<strong>da</strong>de Federal de Viçosa, durante a realização<br />

<strong>da</strong> Semana do Fazendeiro, no mês de julho. A idéia não é trazer essas pessoas como um<br />

objeto de estudo ou uma experiência, a idéia é aprender, trocar e adquirir conhecimentos que<br />

muitas vezes a ciência não possui, e também que o conhecimento científico sirva para<br />

melhorar a vi<strong>da</strong> dessas pessoas. A ideia é <strong>da</strong>r voz a quem não tinha voz, presença a quem<br />

estava ausente para gerar o novo com o novo. Boaventura de Sousa Santos defende a idéia<br />

de utilizar a Sociologia <strong>da</strong>s Ausências, caracteriza<strong>da</strong> por ele como:<br />

muito do que não existe em nossa reali<strong>da</strong>de é produzido ativamente como não<br />

existente, e por isso a armadilha maior pra nós é reduzir a reali<strong>da</strong>de ao que existe.<br />

Assim, de imediato compartimos essa racionali<strong>da</strong>de preguiçosa, que realmente<br />

produz como ausente muita reali<strong>da</strong>de que poderia estar presente. A Sociologia <strong>da</strong>s<br />

Ausências é um procedimento transgressivo, uma sociologia insurgente para tentar<br />

mostrar que o que não existe é produzido ativamente como não existente, como<br />

uma alternativa não crível, como uma alternativa descartável, invisível á reali<strong>da</strong>de<br />

hegemônica do mundo. (idem, 2007, p.28-29)<br />

Envolvendo os movimentos sociais, os sindicatos e trabalhadores rurais e os<br />

estu<strong>da</strong>ntes do campo a Troca de Saberes traz temas que fazem parte do cotidiano dos<br />

participantes para que a interação e o diálogo seja mais convi<strong>da</strong>tivo e horizontalizado.<br />

Estando familiarizado com esses temas conseguem debatê-los e contribuir ativamente. Os<br />

temas centrais dessa edição <strong>da</strong> Troca de Saberes foram economia popular solidária, gênero,<br />

saúde integral, cultura, educação do campo e soberania alimentar, todos discutidos numa<br />

perspectiva agroecológica.<br />

A colocação <strong>da</strong> proposta <strong>da</strong> Troca de Saberes dentro do contexto <strong>da</strong> Semana do<br />

Fazendeiro tem por objetivo realizar uma crítica a <strong>UFV</strong>. Tradicionalmente agrária, a <strong>UFV</strong><br />

forma profissionais voltados para o trabalho em grandes latifúndios e sem conhecer outra<br />

reali<strong>da</strong>de de quem vive <strong>da</strong> terra e pratica a agroecologia, modelo de agricultura sustentável,<br />

que trabalha agricultura e meio ambiente juntos, respeitando todos os seres vivos que vivem<br />

naquele lugar de forma mais saudável. Grande parte dos participantes <strong>da</strong> Troca de Saberes<br />

são trabalhadores e trabalhadoras rurais, donos de pequenas proprie<strong>da</strong>des de terra, alguns<br />

ligados ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais, integrantes do Movimento dos<br />

Trabalhadores Rurais Sem- Terra- MST, do Movimento dos Atingidos pelas Barragens-<br />

9


MAB, <strong>da</strong> Via Campesina e também integrantes do movimento pelo direito a educação no<br />

campo, mais especificamente alunos, diretores, pais e educadores <strong>da</strong>s Escolas Família-<br />

Agrícola- EFA‟s.<br />

A participação desses grupos levanta a importância de autori<strong>da</strong>des e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

civil reconhecer o papel dessas pessoas dentro <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de que está mais preocupa<strong>da</strong> com o<br />

meio ambiente, com as mu<strong>da</strong>nças climáticas e sociais, a maneira como li<strong>da</strong>mos com o nosso<br />

espaço. Discutir o direito a terra, a agroecologia, o direito a educação no campo, são<br />

assuntos que aparentemente não dizem respeito a quem mora na região urbana, mas se<br />

tornam indispensáveis para mu<strong>da</strong>r o atual modelo de socie<strong>da</strong>de. Este modelo excludente<br />

coloca como relevante o global e não o particular. Boaventura de Sousa Santos afirma que<br />

“o global e universal é hegemônico; o particular e local não conta, é invisível, descartável,<br />

desprezível.” (BOAVENTURA, 2007, p.31)<br />

Nesse sentido, o material audiovisual produzido para o documentário terá um papel<br />

fun<strong>da</strong>mental na divulgação <strong>da</strong> Troca de Saberes. A ideia é <strong>da</strong>r visibili<strong>da</strong>de a esses grupos<br />

que foram renegados ao longo dos anos pela socie<strong>da</strong>de, sendo seu conhecimento desprezado<br />

pelo conhecimento científico. A Troca de Saberes, ao se constituir como um projeto pioneiro<br />

dentro <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de Viçosa, seja um exemplo para que outras instituições de<br />

ensino abram seus horizontes para uma nova forma de pesquisa e extensão. É uma<br />

experiência que ao ser compartilha<strong>da</strong> pode servir de inspiração para futuros projetos, dentro<br />

e fora <strong>da</strong> <strong>UFV</strong>. O audiovisual é um meio que ao usar de recursos de imagens e áudio facilita<br />

o entendimento atingindo o objetivo <strong>da</strong> divulgação acerca do que é a Troca de Saberes.<br />

Outro importante objetivo é o registro, a importância de que esse evento não se perca ao<br />

longo dos anos, e que no futuro outras pessoas também tenham acesso ao que já aconteceu, a<br />

forma como as coisas aconteceram e foram construí<strong>da</strong>s.<br />

É um registro contado pelas pessoas que participam, coordenam, constroem a Troca<br />

de Saberes mostrando que todos têm papel protagonista dentro dessa discussão e construção.<br />

O documentário retrata a multiplici<strong>da</strong>de de vozes e diferentes saberes presentes na Troca de<br />

Saberes, e que, apesar de to<strong>da</strong> essa diversi<strong>da</strong>de conseguem estabelecer um diálogo,<br />

trocando, interagindo e compartilhando o conhecimento.<br />

10


01. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA<br />

1.0 Os Saberes presentes na Troca de Saberes<br />

A Troca de Saberes possui uma metodologia inovadora que promove a interação e<br />

o compartilhamento de conhecimentos. A Troca de Saberes tem um momento prévio de<br />

elaboração e preparação que é construído coletivamente, junto com os parceiros e<br />

envolvidos. Esse ano se concretizou a ideia de construir o que foi o grande ponto de<br />

encontro, onde acontecem algumas instalações e apresentações culturais, onde também são<br />

feitas as discussões coletivas. A idéia do Empório <strong>da</strong>s Matas é criar um lugar interativo com<br />

elementos que suscitava a troca, a criativi<strong>da</strong>de e a discussão que assumiu o lugar de grande<br />

ponto de socialização dentro <strong>da</strong> Troca de Saberes.<br />

Os participantes <strong>da</strong> Troca de Saberes gostam de caracterizar essa interação também<br />

como Ecologia de Saberes, por ser uma forma mais ampla e global de designar o que<br />

realmente ocorre nessa interação entre conhecimento científico e popular. O termo foi criado<br />

pelo sociólogo Boaventura de Sousa Santos, que ele caracteriza como<br />

A ecologia de saberes são conjuntos de práticas que promovem uma nova<br />

convivência activa de saberes no pressuposto que todos eles, incluindo o saber<br />

científico, se podem enriquecer nesse diálogo. Implica uma vasta gama de acções<br />

de valorização, tanto do conhecimento científico, como de outros conhecimentos<br />

práticos, considerados úteis, cuja partilha por pesquisadores, estu<strong>da</strong>ntes e grupos<br />

de ci<strong>da</strong>dãos serve de base á criação de comuni<strong>da</strong>des epistêmicas mais amplas que<br />

convertem a universi<strong>da</strong>de num espaço público de interconhecimento onde os<br />

ci<strong>da</strong>dãos e os grupos sociais podem intervir sem ser exclusivamente na posição de<br />

aprendizes. (BOAVENTURA, 2005, p. 77-78)<br />

Como já foi dito anteriormente, a Troca de Saberes possui alguns temas centrais<br />

como: agroecologia, que busca debater também economia popular solidária e soberania<br />

alimentar; gênero que debate o assunto também no âmbito <strong>da</strong> agroecologia e <strong>da</strong> situação <strong>da</strong><br />

mulher no campo; saúde integral; os movimentos sociais e suas lutas; cultura que busca não<br />

só o resgate, mas também a valorização <strong>da</strong> cultura popular; questões diversas liga<strong>da</strong>s a terra;<br />

e educação do campo que debate a importância <strong>da</strong> metodologia <strong>da</strong> alternância¹ educativa<br />

¹ Metodologia <strong>da</strong> alternância se caracteriza com momentos de formação dentro <strong>da</strong> escola e nas comuni<strong>da</strong>des onde os estu<strong>da</strong>ntes estão<br />

inseridos, por isso eles passam parte do tempo nas Escolas Famílias-Agrícola e uma parte nas comuni<strong>da</strong>des.<br />

11


para as EFA´s e as escolas que atendem o MST, considerando que esses alunos possuem<br />

uma reali<strong>da</strong>de diferente dos alunos do meio urbano.<br />

A metodologia <strong>da</strong> Troca de Saberes apresenta como um dos elementos principais as<br />

instalações pe<strong>da</strong>gógicas. Trata-se de dispositivos de diálogo em construção, em que através<br />

de um tema específico, provocado por um de seus agentes busca-se a discussão entre<br />

pesquisadores, estu<strong>da</strong>ntes, agricultores e parceiros. Ao compartilhar suas experiências<br />

busca-se a construção de uma nova percepção através dessas informações compartilha<strong>da</strong>s.<br />

Isso se torna fun<strong>da</strong>mental para que os envolvidos coloquem as suas reali<strong>da</strong>des, pois segundo<br />

Boaventura de Sousa Santos “nossa racionali<strong>da</strong>de se baseia na idéia <strong>da</strong> transformação do<br />

real, mas não na compreensão do real. E este é nosso problema hoje: a transformação sem<br />

compreensão está nos levando a situações de desastre.” (BOAVENTURA, 2007, p. 28).<br />

Estes dispositivos possibilitam<br />

que a ciência entre não como uma monocultura mas como parte de uma ecologia<br />

mais ampla de saberes, em que o saber científico possa dialogar com o saber laico,<br />

com o saber popular, com o saber dos indígenas, com o saber <strong>da</strong>s populações<br />

urbanas marginais, com o saber camponês. (...) Somos contra as hierarquias<br />

abstratas de conhecimento, <strong>da</strong>s monoculturas que dizem, por princípio, “a ciência<br />

é a única, não há outros saberes”. Vamos iniciar, nesta ecologia, afirmando que o<br />

importante não é ver como o conhecimento representa o real, mas conhecer o que<br />

determinado conhecimento produz na reali<strong>da</strong>de; a intervenção no real. Estamos<br />

tentando uma concepção pragmática do saber. (idem, 2007, p.32-33)<br />

Nesse contexto é imprescindível discutir e valorizar a cultura desse povo, pois não<br />

há transformação sem cultura e cultura sem transformação. O termo cultura aqui toma um<br />

conceito muito mais amplo do que simples conjunto de práticas de um povo liga<strong>da</strong>s a<br />

reali<strong>da</strong>de de uma determina<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e sim como uma força social capaz de transformar<br />

aquela socie<strong>da</strong>de. Para Maria <strong>da</strong> Glória Gohn, “a cultura popular foi redefini<strong>da</strong> como<br />

sinônimo de resistência popular.” (GOHN, 2001, p.42) A cultura popular ao se definir<br />

enquanto práticas sociais produzi<strong>da</strong>s pelo povo, toma sentidos mais amplos e torna o<br />

papel <strong>da</strong> cultura presente no folclore e nas reivindicações <strong>da</strong>s associações<br />

populares, como elementos fun<strong>da</strong>mentais para a construção de uma nova<br />

hegemonia política de determina<strong>da</strong> nação. Como sabemos, o conceito de<br />

hegemonia gramsciniano inclui a cultura como processo social global e o<br />

transforma em ferramenta fun<strong>da</strong>mental para o processo de transformação social, á<br />

medi<strong>da</strong> que ele forma a visão de mundo dos grupos sociais. Construir visões de<br />

mundo diferencia<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s elites dominantes é tarefa do novo intelectual orgânico.<br />

Desenvolver as práticas de resistência embuti<strong>da</strong>s na cultura popular faz parte desse<br />

processo. A cultura popular assume, portanto, uma concepção estratégica, parte do<br />

processo de busca de mu<strong>da</strong>nças e transformações sociais. (GOHN, 2001, p. 43)<br />

12


Dentro <strong>da</strong> discussão sobre a cultura popular busca-se o reconhecimento <strong>da</strong> cultura<br />

enquanto prática social, a cultura que é passa<strong>da</strong> de pai pra filho, os costumes, a comi<strong>da</strong>,<br />

enfim todos os elementos culturais presentes na reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>quelas pessoas. Uma forma de<br />

mostrar que a cultura não está presente somente em espetáculos de <strong>da</strong>nça, teatro, no clube,<br />

na televisão ou no cinema, essa arte elitiza<strong>da</strong> e espetaculariza<strong>da</strong>, mas a arte e a cultura<br />

enquanto prática cultural e conjunto de costumes de um determinado lugar. Em uma <strong>da</strong>s<br />

entrevistas realiza<strong>da</strong>s o artista popular conhecido como Tião Farinha<strong>da</strong>² conta que os<br />

movimentos começaram a perceber que não há como trabalhar a mobilização do povo sem<br />

trabalhar a cultura e as manifestações artísticas <strong>da</strong>quele lugar. As pessoas passam a se<br />

reconhecer mais, e assim enxergam e se posicionam de forma diferente frente ao mundo, se<br />

valorizam mais e reconhecem o valor <strong>da</strong> sua cultura. Dentro <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des os mestres<br />

griôs são fun<strong>da</strong>mentais, pois eles sintetizam seus valores, a sua cultura que faz parte <strong>da</strong><br />

tradição popular e é passado de pai para filho, reconhecendo e valorizando a cultura de seus<br />

ancestrais. Esses mestres não possuem o conhecimento acadêmico, mas a sua sabedoria e<br />

conhecimento são transmitidos para a comuni<strong>da</strong>de. A palavra é de origem africana e<br />

indígena que significa o mais velho que tem o conhecimento popular. Esses papéis são<br />

fun<strong>da</strong>mentais, pois segundo Paulo Freire<br />

os camponeses desenvolvem sua maneira de pensar e de visualizar o mundo de<br />

acordo com pautas culturais que, obviamente, se encontram marca<strong>da</strong>s pela<br />

ideologia dos grupos dominantes <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de global que fazem parte. Sua<br />

maneira de pensar, condiciona<strong>da</strong> por seu atuar ao mesmo tempo em que a este<br />

condiciona, de há muito e não de hoje, se vem constituindo, cristalizando. E se<br />

muitas destas formas de pensar e atuar persistem hoje, mesmo em áreas em que os<br />

camponeses se experimentam em conflitos na defesa de seus direitos, com mais<br />

razão permanecem aquelas em que não tiveram uma tal experiência. (FREIRE,<br />

2001, p.37)<br />

A valorização <strong>da</strong> cultura do povo é muito importante para que eles sintam o valor<br />

<strong>da</strong> sua cultura. A partir do momento que eles percebem a importância <strong>da</strong>queles costumes<br />

desenvolvidos nas comuni<strong>da</strong>des, do que é passado entre as gerações, entre outras<br />

manifestações culturais, essas pessoas passam a ver o valor <strong>da</strong> sua cultura também no<br />

mundo. Trabalhar a cultura é fun<strong>da</strong>mental para que essas pessoas se questionem mais e<br />

busquem o seu reconhecimento e o seu espaço dentro <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, por isso os movimentos<br />

sociais vêm percebendo a importância de valorizar e resgatar a cultura popular.<br />

.<br />

² Entrevista realiza<strong>da</strong> com o artista popular Tião Farinha<strong>da</strong> durante as gravações <strong>da</strong> Troca de Saberes. Entrevista concedi<strong>da</strong> a Andriza<br />

Andrade no dia 13 de julho de 2011 na ci<strong>da</strong>de de Viçosa.<br />

13


Outro assunto muito discutido foi o direito a educação, a educação volta<strong>da</strong> para a<br />

reali<strong>da</strong>de dos alunos do campo e de grupos como o MST. Os alunos <strong>da</strong>s Escolas Família-<br />

Agrícola (EFA‟s) trouxeram seus levantamentos e a necessi<strong>da</strong>de de avançar nessa discussão<br />

para que tanto a socie<strong>da</strong>de como o Estado reconheçam as reais necessi<strong>da</strong>des desses alunos.<br />

A partir <strong>da</strong> busca pela reforma do aparelho educacional, pretende-se que essa<br />

mu<strong>da</strong>nça parta <strong>da</strong> base e chegue ás universi<strong>da</strong>des. É necessário que a educação se<br />

transforme para que permita o acesso e permanência dessas pessoas dentro <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de,<br />

se não continuaremos a propagar o velho modelo excludente e por isso,<br />

A resistência tem de envolver a promoção de alternativas de pesquisa, de<br />

formação, de extensão e de organização que apontem para a democratização do<br />

bem público universitário, ou seja, para o contributo específico <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de na<br />

definição e solução colectivas dos problemas sociais, nacionais e globais.<br />

(BOAVENTURA, 2005, p. 62)<br />

E acrescenta ain<strong>da</strong>, que<br />

A responsabili<strong>da</strong>de social <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de tem de ser assumi<strong>da</strong> pela universi<strong>da</strong>de,<br />

aceitando ser permeável ás deman<strong>da</strong>s sociais, sobretudo áquelas oriun<strong>da</strong>s de<br />

grupos sociais que não têm poder para as impor. A autonomia universitária e a<br />

liber<strong>da</strong>de académica- que, no passado, foram esgrimi<strong>da</strong>s para desresponsabilizar<br />

socialmente a universi<strong>da</strong>de- assumem agora uma nova premência, uma vez que só<br />

elas podem garantir uma resposta empenha<strong>da</strong> e criativa aos desafios <strong>da</strong><br />

responsabili<strong>da</strong>de social. (BOAVENTURA, 2005, p. 91)<br />

Esse debate traz vários elementos como a educação enquanto instrumento de<br />

transformação social. Esse novo modelo de educação deve surgir <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de discutir<br />

um modelo voltado para a reali<strong>da</strong>de de quem vive no campo. As EFA‟s assumem assim um<br />

modelo alternativo de educação. Esse novo modelo de educação vem também para combater<br />

o êxodo rural, pois à partir do momento que o jovem vê a importância <strong>da</strong> sua reali<strong>da</strong>de, a<br />

valorização do seu trabalho e <strong>da</strong> sua cultura, ele passa a enxergar que há meios de sobreviver<br />

ali vivendo <strong>da</strong> terra.<br />

Outros vários temas permearam a Troca de Saberes, também liga<strong>da</strong>s as questões <strong>da</strong><br />

terra. Nesse sentido a agroecologia é o principal tema do encontro, na ver<strong>da</strong>de todos os<br />

temas são discutidos sob a perspectiva agroecológica. Nesta Troca de Saberes surgiram<br />

temas que foram os eixos transversais <strong>da</strong> agroecologia e fazem parte intrinsecamente <strong>da</strong><br />

temática como economia popular solidária, saúde integral e soberania alimentar. Como já foi<br />

14


dito, para muitas pessoas a agroecologia é considera<strong>da</strong> um movimento social, pois significa<br />

a luta pela vi<strong>da</strong>, a luta por um mundo mais justo, por uma agricultura sustentável que não se<br />

embase no ganho do capital e político. Nesse sentido, a agroecologia é pratica<strong>da</strong> pelos<br />

agricultores familiares que tiram <strong>da</strong> natureza apenas o que precisam para seu sustento, e<br />

assim não esgotam todos os recursos <strong>da</strong> natureza como é realizado na agricultura<br />

convencional. O conhecimento técnico aju<strong>da</strong> muitos os camponeses a praticarem a<br />

agroecologia, que os auxilia em situações de risco <strong>da</strong> lavoura, portanto<br />

Subestimar a capaci<strong>da</strong>de criadora e recriadora dos camponeses, desprezar seus<br />

conhecimentos, não importa o nível em que se achem, tentar “enchê-los” com o<br />

que aos técnicos lhe parece certos são expressões, em última análise, <strong>da</strong> ideologia<br />

dominante. Não queremos, contudo, com isto dizer que os camponeses devam<br />

permanecer no estado em que se encontram com relação a seu enfrentamento com<br />

o mundo natural e á sua posição em face <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> política do país. Queremos<br />

afirmar que eles não devem ser considerados como “vasilhas” vazias nas quais se<br />

vá depositando o conhecimento dos especialistas, mas, pelo contrário, sujeitos,<br />

também, do processo de sua capacitação. (FREIRE, 2001, p. 36)<br />

Outro tema de grande importância foi saúde integral, entendido como sendo a saúde<br />

<strong>da</strong>s águas, dos animais, <strong>da</strong> terra, <strong>da</strong>s plantas, do meio ambiente e <strong>da</strong>s pessoas que vivem<br />

naquele espaço. O assunto está ligado a agroecologia, pois é muito comum hoje no campo o<br />

número de pessoas doentes, principalmente com câncer, devido o uso de agrotóxicos e<br />

insumos agrícolas. Isso traz ain<strong>da</strong> uma mu<strong>da</strong>nça cultural, pois antigamente as pessoas se<br />

curavam mais através de medi<strong>da</strong>s naturais como chás, homeopatia e florais e, devido a<br />

invisibili<strong>da</strong>de e preconceito <strong>da</strong><strong>da</strong> a estes meios de cura as pessoas recorrem mais aos<br />

remédios alopáticos deixando de acreditar nas curas alternativas.<br />

A soberania alimentar também foi um tema recorrente dentro <strong>da</strong> Troca de Saberes,<br />

pois o modelo latifundiário-hegemônico pelo qual a agricultura tem se desenvolvido não<br />

leva em consideração a quali<strong>da</strong>de em que os alimentos chegam a população e apenas no<br />

ganho econômico. Para Laércio Meirelles<br />

O conceito foi inicialmente postulado pela Via Campesina e pode ser intitulado<br />

como “o direito dos povos a alimentos nutritivos e culturalmente adequados,<br />

acessíveis, produzidos de forma sustentável e ecológica, e o direito de decidir seu<br />

próprio sistema alimentar e produtivo.” Apesar deste direito ser incontestável e<br />

exigível, o modelo de desenvolvimento adotado de maneira hegemônica pouco<br />

tem colaborado para seu alcance. (MEIRELLES, 2008, p.1)<br />

15


A partir do momento que se discute uma nova forma de produção e quali<strong>da</strong>de de<br />

vi<strong>da</strong> é importante que se considere as outras formas de economia existente nessas<br />

comuni<strong>da</strong>des. A Economia Popular Solidária surge dentro <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des, pois é muito<br />

comum no processo agroecológico os agricultores trocarem seus produtos e desenvolverem<br />

outras relações de trabalho e comercialização.<br />

Economia popular solidária é o reconhecimento de que existem outras formas de<br />

economia e de organização do trabalho, crédito, comercialização que resistem aos<br />

padrões hegemônicos <strong>da</strong> economia capitalista. Por quê que é importante discutir<br />

economia solidária quando se fala de agroecologia? Porque na agroecologia tem a<br />

dimensão econômica que os agricultores estabelecem as relações econômicas antes<br />

inclusive de existir capitalismo. São outras manifestações de mercado, outras<br />

relações de trabalho, outras relações sociais que envolvem relação de proximi<strong>da</strong>de<br />

entre as pessoas e de confiança nas relações econômicas que elas estabelecem.<br />

(MÁRCIO GOMES DA SILVA) ³<br />

A importância desse tipo de relação é que ela simplesmente extrapola as formas de<br />

comercialização convencional imposta pela socie<strong>da</strong>de capitalista. Os agricultores<br />

extrapolam esse conceito e consideram que a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de deve se estender aos animais, aos<br />

vizinhos, à terra e ou lugar onde estão inseridos. Isso gera uma economia de troca, como no<br />

caso <strong>da</strong>s mulheres que trocam doces, o que uma produz e a outra não, o excesso de produção<br />

e como elas estão diretamente liga<strong>da</strong>s ao trabalho do quintal trocam alimentos entre si.<br />

Boaventura de Sousa Santos propõe que assim façamos uma ecologia <strong>da</strong>s produtivi<strong>da</strong>des<br />

que dentro <strong>da</strong> Sociologia <strong>da</strong>s Ausências<br />

consiste na recuperação e valorização dos sistemas alternativos de produção, <strong>da</strong>s<br />

organizações econômicas populares, <strong>da</strong>s cooperativas operárias <strong>da</strong>s empresas<br />

autogestiona<strong>da</strong>s, <strong>da</strong> economia solidária etc., que a ortodoxia produtivista<br />

capitalista ocultou ou desacreditou. (BOAVENTURA, 2007, p. 36)<br />

Todos esses debates estão intimamente ligados á questão agroecológica, que<br />

defende exatamente um novo modelo de produção, que seja mais humana e menos<br />

excludente. Ao trazer esses temas para dentro <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de questionam os modelos<br />

disseminados dentro <strong>da</strong> academia, e colocam temas que são invisíveis como de fun<strong>da</strong>mental<br />

importância para transformar o modelo predominante<br />

A necessi<strong>da</strong>de de uma nova institucionali<strong>da</strong>de de democracia externa é<br />

fun<strong>da</strong>mental para tornar transparentes, mensuráveis, reguláveis e compatíveis as<br />

pressões sociais sobre as funções <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de. E sobretudo para as debater no<br />

³ Entrevista Márcio Gomes <strong>da</strong> Silva sobre Economia Popular Solidária. Márcio é mestre em Gestão de Cooperativas e é técnico do Centro<br />

de Tecnologias Alternativas <strong>da</strong> Zona <strong>da</strong> Mata (CTA-ZM). Entrevista concedi<strong>da</strong> a Andriza Andrade no dia 07 de outubro de 2011 na ci<strong>da</strong>de<br />

de Viçosa.<br />

16


espaço público <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de e torná-las objecto de decisões democráticas. Esta<br />

é uma <strong>da</strong>s vias de democracia participativa para o novo patamar de legitimi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

universi<strong>da</strong>de pública. (BOAVENTURA, 2005, p.102)<br />

A universi<strong>da</strong>de deve valorizar as diferentes formas de conhecimento que existem.<br />

Ter um espaço como a Troca de Saberes dentro de uma universi<strong>da</strong>de pública vem mostrar<br />

como o reconhecimento do saber popular tem mu<strong>da</strong>do. Trazer os movimentos sociais para<br />

dentro <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de é também uma forma de construir a democracia coletivamente já que<br />

esses grupos vêm se mobilizando em busca que seus interesses sejam reconhecidos.<br />

A questão de gênero foi um tema que trouxe relevantes discussões. O que mais<br />

impressionou foi a força com que as mulheres vieram a Troca de Saberes, trazendo suas<br />

questões e as colocando como fun<strong>da</strong>mental para avançar na construção de uma socie<strong>da</strong>de<br />

mais justa que não exclua as mulheres como vem acontecendo através dos séculos. O<br />

sofrimento que essa exclusão traz também na auto-estima, na forma com que essas mulheres<br />

se vêem dentro <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de é muito grande. Boaventura de Sousa Santos caracteriza essa<br />

exclusão de grupos minoritários, por algum tipo de diferença física ou biológica como<br />

monocultura <strong>da</strong> naturalização <strong>da</strong>s diferenças<br />

que ocultam hierarquias, <strong>da</strong>s quais a classificação racial, a étnica, a sexual (...) são<br />

as mais persistentes. Ao contrário <strong>da</strong> relação capital/ trabalho, aqui a hierarquia<br />

não é causa <strong>da</strong>s diferenças mas sua conseqüência, porque os que são inferiores<br />

nessas classificações naturais, o são “por natureza”, e por isso a hierarquia é uma<br />

conseqüência de sua inferiori<strong>da</strong>de; desse modo se naturalizam as diferenças.<br />

(idem, 2007, p. 30)<br />

As mulheres têm exigido que seu trabalho e seu valor dentro do conjunto <strong>da</strong><br />

agricultura familiar sejam reconhecidos, pois muitas vezes o trabalho delas é renegado<br />

apenas como uma aju<strong>da</strong> ou apoio. Esse preconceito também vem do fato dessas mulheres<br />

serem as responsáveis pelo trabalho de beneficiamento do excesso de produção como<br />

produção de doces e compotas e o próprio artesanato. Esse trabalho não é considerado<br />

rentável ou como parte <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> doméstica. Muitas vezes, as mulheres são excluí<strong>da</strong>s do<br />

processo de comercialização e gerenciamento <strong>da</strong> produção, mas nesse processo em que as<br />

mulheres vêm se organizando em cooperativas, no próprio trabalho desenvolvido nos<br />

quintais, isso tem mu<strong>da</strong>do. As mulheres têm entrado também no mercado e assumido cargos<br />

que antes eram exclusivos dos homens, como fazer parte dos sindicatos rurais. Além delas<br />

estarem assumindo esses cargos, elas também tem se articulado criando os sindicatos de<br />

mulheres, em que elas debatem suas questões e aju<strong>da</strong>m umas as outras. Esta é a prova de<br />

17


que as mulheres estão buscando o seu espaço, estão em movimento para que seus direitos<br />

sejam reconhecidos, e vencem assim a cultura opressora do silêncio que vem <strong>da</strong>ndo ao longo<br />

de séculos invisibili<strong>da</strong>de ás mulheres. Para Paulo Freire<br />

Esta “cultura do silêncio”, gera<strong>da</strong> nas condições objetivas de uma reali<strong>da</strong>de<br />

opressora, não somente condiciona a forma de estar sendo dos camponeses<br />

enquanto se acha vigente a infra-estrutura que a cria, mas continua condicionandoos,<br />

por largo tempo, ain<strong>da</strong> quando sua infra-estrutura tenha sido modifica<strong>da</strong>.<br />

(FREIRE, 2001, p.37)<br />

A participação dessas mulheres nos sindicatos e em outros movimentos mais<br />

globais como a Marcha Mundial <strong>da</strong>s Mulheres as coloca em contato com outras<br />

possibili<strong>da</strong>des de enfrentar essa reali<strong>da</strong>de. É claro que vivemos outro contexto, em que as<br />

mulheres têm a responsabili<strong>da</strong>de de cui<strong>da</strong>r dos filhos e do lar e ao mesmo tempo, trabalham<br />

e geram ren<strong>da</strong>. Esse movimento faz com que elas se reconheçam e principalmente,<br />

reconheçam o seu valor dentro do conjunto familiar, e não de uma forma isola<strong>da</strong>. É o<br />

princípio <strong>da</strong> legitimação <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças, mesmo que de forma lenta, <strong>da</strong>s<br />

diferenças históricas <strong>da</strong><strong>da</strong>s a homens e mulheres. Boaventura de Sousa Santos ressalta a<br />

importância <strong>da</strong> ecologia do reconhecimento<br />

O procedimento que proponho é descolonizar nossas mentes para poder produzir<br />

algo que distinga, em uma diferença, o que é produto <strong>da</strong> hierarquia e o que não é.<br />

Somente devemos aceitar as diferenças que restem depois que as hierarquias forem<br />

descarta<strong>da</strong>s. Ou seja: mulher e homem são distintos depois que fizermos uma<br />

sociologia ecológica para ver o que não está conectado com a hierarquia.<br />

(BOAVENTURA, 2007, p. 35)<br />

O grande problema que as mulheres ain<strong>da</strong> enfrentam na socie<strong>da</strong>de contemporânea é<br />

o preconceito socialmente construído ao longo de séculos, em que não sabemos mais<br />

diferenciar o que foi imposto para as mulheres do papel que a mulher deve desempenhar.<br />

Ain<strong>da</strong> é difícil romper com a socie<strong>da</strong>de patriarcal, mas vivemos sem dúvi<strong>da</strong> um momento<br />

em que as mulheres têm mostrado o seu poder de decisão e capaci<strong>da</strong>de. A força <strong>da</strong><br />

participação <strong>da</strong>s mulheres dentro <strong>da</strong> Troca de Saberes vem legitimar isso, pois como o<br />

intuito de trazer essas pessoas para dentro <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de é construir um novo<br />

conhecimento é importante que eles atentem para que esse novo conhecimento garanta o<br />

espaço <strong>da</strong>s mulheres e seja mais democrático que o atual modelo.<br />

Hoje convivemos com diversos movimentos sociais que buscam um lugar ao sol.<br />

Depois de tantos séculos de opressão e de uma constante luta de classes, ain<strong>da</strong> presenciamos<br />

na nossa socie<strong>da</strong>de essa luta, caracteriza<strong>da</strong> por grandes desigual<strong>da</strong>des e a exclusão social. Os<br />

18


movimentos sociais lutam contra a ordem vigente e buscam através <strong>da</strong> mobilização mu<strong>da</strong>r<br />

alguns padrões sociais, por lutarem por direitos “incomuns” aos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de colocam<br />

alguns assuntos em pauta exigindo do governo e socie<strong>da</strong>de civil uma maior discussão acerca<br />

do assunto.<br />

Todos os temas colocados até o momento são considerados como movimentos<br />

sociais atuais. A agroecologia por lutar pela vi<strong>da</strong>, as EFA‟s por lutar por um outro modelo<br />

de educação, a cultura popular por se constituir enquanto força mobilizadora agente <strong>da</strong>s<br />

transformações, se constituem enquanto movimentos sociais por lutarem por outro modelo<br />

de socie<strong>da</strong>de.<br />

Nessa perspectiva outros grupos também trouxeram contribuições significativas no<br />

contexto <strong>da</strong> elaboração de um novo conhecimento: o Movimento dos Trabalhadores Rurais<br />

Sem-Terra- MST, o Movimento dos Atingidos pelas Barragens- MAB, os militantes <strong>da</strong><br />

Comissão Pastoral <strong>da</strong> Terra- CPT, Via Campesina, entre outros. A presença dessas pessoas<br />

que vem se movimentando dentro <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de em busca de seus direitos se constituem<br />

como forças <strong>da</strong> emancipação social desses grupos. Para Boaventura de Sousa Santos o único<br />

problema é que<br />

esta tem sido organiza<strong>da</strong> por meio de uma tensão entre regulação e emancipação<br />

social, entre ordem e progresso, entre uma socie<strong>da</strong>de com muitos problemas e a<br />

possibili<strong>da</strong>de de resolvê-los em outra melhor, que são as expectativas. Então, é<br />

uma socie<strong>da</strong>de que pela primeira vez cria essa tensão entre experiências correntes<br />

do povo, que ás vezes são ruins, infelizes, desiguais, opressoras, e a expectativa de<br />

uma vi<strong>da</strong> melhor, de uma socie<strong>da</strong>de melhor. (idem, 2007, p.17-18)<br />

O autor ain<strong>da</strong> coloca que os instrumentos que regulam essas diferenças estão em<br />

crise, “entretanto, não está em crise a ideia de que necessitamos de uma socie<strong>da</strong>de melhor,<br />

de que necessitamos de uma socie<strong>da</strong>de mais justa. As promessas <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de- a<br />

liber<strong>da</strong>de, a igual<strong>da</strong>de e a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de- continuam sendo uma aspiração mundial.”<br />

(BOAVENTURA, 2007, p.18-19)<br />

A presença desses grupos é exatamente para que eles tragam as suas contribuições<br />

para gerar um novo patamar de conhecimento e claro <strong>da</strong>r visibili<strong>da</strong>de a essas pessoas que<br />

são excluí<strong>da</strong>s desse modelo de educação universitária, que não propõe um ensino voltado<br />

para outras reali<strong>da</strong>des. Trazer essas pessoas é a possibili<strong>da</strong>de, quem sabe, <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de<br />

fazer uma inversão e apren<strong>da</strong> também com outras reali<strong>da</strong>des. Os movimentos sociais tem se<br />

colocado como um ótimo exemplo em ganho de força política.<br />

19


Consideramos a participação dos atores sociais nas políticas sociais um elemento<br />

vivo e atuante nas socie<strong>da</strong>des modernas. Sua presença é elemento crucial para a<br />

consoli<strong>da</strong>ção do processo democrático, principalmente no que se refere ás<br />

estruturas locais. Certamente as formas de manifestação e o modo de mobilização<br />

<strong>da</strong>s pessoas têm se transformado. (GOHN, 2001, p.83-84)<br />

O MST na luta pela reforma agrária, por exemplo, mostra que essa luta é também<br />

dos estu<strong>da</strong>ntes e técnicos <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de, que em sua maioria se formam e trabalham para<br />

os grandes latifundiários. A própria produção do conhecimento é sempre volta<strong>da</strong> para os<br />

donos do poder econômico. O MAB ao lutar pelos direitos de quem é expulso de sua terra<br />

em situações de barragem, mostra que essa é também uma luta que envolve to<strong>da</strong> a<br />

socie<strong>da</strong>de, pois estão destruindo a natureza e o meio ambiente. Aliás, colocar a luta do MAB<br />

é muito pertinente também por questão de justiça, pois muitas <strong>da</strong>s pessoas que são expulsas<br />

de suas terras para que sejam construí<strong>da</strong>s as barragens, tem uma relação muito mais<br />

profun<strong>da</strong> com a terra do que a própria geração de ren<strong>da</strong>. São pessoas que vivem <strong>da</strong> terra,<br />

gostam de estar no campo e isso nenhuma empresa nunca vai conseguir indenizar. É assim<br />

que essas forças sociais que surgem dos movimentos sociais conquistam aos poucos seu<br />

espaço e assim, transformam também os conceitos de justiça e ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Maria <strong>da</strong> Glória<br />

Gohn coloca<br />

que é necessário refun<strong>da</strong>r a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e redefinir os direitos porque estamos<br />

numa nova era política e social, na qual os conflitos sociais não são apenas pela<br />

distribuição <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>, mas são, fun<strong>da</strong>mentalmente, conflitos de interpretação sobre<br />

o sentido de justiça. Isto confere um papel importante a todos os processos de<br />

gestão social e política. Deve-se fazer um esforço para buscar um consenso entre o<br />

justo e o injusto. Assim, a questão <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia ganha centrali<strong>da</strong>de. (idem, 2001, p.<br />

89)<br />

A generosi<strong>da</strong>de, soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e digni<strong>da</strong>de são conceitos subjetivos, mas sem<br />

dúvi<strong>da</strong> são termos que a nossa socie<strong>da</strong>de precisa resignificar para avançarmos no atual<br />

modelo de socie<strong>da</strong>de muito liga<strong>da</strong> as questões materiais e que se esquece dos aspectos<br />

humanos.<br />

1.1 Comunicação e Mu<strong>da</strong>nças Sociais<br />

Historicamente, os grandes meios de comunicação sempre pertenceram á uma<br />

pequena parcela <strong>da</strong> população, o que dificultava o acesso de classes menos privilegia<strong>da</strong>s a<br />

esses meios. A concentração dos grandes meios de comunicação reproduz uma lógica de<br />

20


marginalização <strong>da</strong>queles discursos que se apresentam como um contraponto aos interesses<br />

dos detentores destes meios. Os movimentos sociais aparecem assim, como um dos sujeitos<br />

mais desfavorecidos nessa relação, sendo constantemente criminalizados pela grande mídia.<br />

Porém, as novas tecnologias têm afetado diretamente a forma de relacionamento e<br />

interação <strong>da</strong>s pessoas. A comunicação tem sofrido grandes transformações e outras formas<br />

de fazer o jornalismo têm colocado em questão se somente os profissionais de comunicação<br />

detém o poder de informar. Os novos meios de comunicação como a utilização de rádios<br />

comunitárias, jornais, boletins e a popularização de câmeras digitais, câmera de telefone<br />

celular, bem como o uso crescente <strong>da</strong>s redes sociais, como facebook e twitter, tem<br />

possibilitado ás pessoas outras formas de se comunicar e isso interfere também na forma de<br />

fazer o jornalismo. Esses novos canais possibilitam que os movimentos e outros grupos<br />

marginalizados <strong>da</strong> nossa socie<strong>da</strong>de façam uma contraposição á grande mídia. Abre<br />

caminhos para outros diálogos com a socie<strong>da</strong>de, acentuando-lhes a visibili<strong>da</strong>de pública,<br />

tendo como conseqüência a constituição de “coletivos em redes por aproximação temáticas,<br />

anseios e práticas comuns de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia” (MORAES, 2000, p.154).<br />

É importante que os meios de comunicação dêem visibili<strong>da</strong>de a certas práticas que<br />

ocorrem dentro <strong>da</strong> nossa socie<strong>da</strong>de. O modelo de conhecimento produzido pela socie<strong>da</strong>de<br />

ocidental, segundo Boaventura, perdeu legitimi<strong>da</strong>de no último século em função <strong>da</strong> sua<br />

distância para a socie<strong>da</strong>de. Sendo assim ele considera que não é possível invisibilizar o<br />

conhecimento produzido pelos movimentos sociais, sob a pena de ampliar essa distância e<br />

persistir em um conhecimento empobrecido e insuficiente para responder as deman<strong>da</strong>s<br />

cotidianas. Para tanto é preciso construir um espaço de reconhecimento e legitimação dos<br />

processos de luta e de mobilização destes grupos, que lutam por uma transformação <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de e pelo futuro.<br />

Então me pareceu que, provavelmente, o mais preocupante no mundo de hoje é<br />

que tanta experiência social fique desperdiça<strong>da</strong>, porque ocorre em lugares remotos.<br />

Experiências muito locais, não muito conheci<strong>da</strong>s nem legitima<strong>da</strong>s pelas ciências<br />

sociais hegemônicas, são hostiliza<strong>da</strong>s pelos meios de comunicação social e por<br />

isso têm permanecido invisíveis, “desacredita<strong>da</strong>s”. (BOAVENTURA, 2007, p.23-<br />

24)<br />

Nesse contexto a produção audiovisual assume um significativo papel ao retratar<br />

essas experiências, para que elas não se percam ao longo do tempo. O conceito de<br />

representação se baseia no fato de que por mais que pareça que um produto audiovisual<br />

21


mostre a reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>quela imagem e som, na ver<strong>da</strong>de é a re-apresentação do real. Para Bill<br />

Nichols<br />

Se o documentário fosse uma reprodução <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, esses problemas seriam<br />

bem menos graves. Teríamos simplesmente a réplica ou cópia de algo já existente.<br />

Mas ele não é uma reprodução <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, é uma representação do mundo em<br />

que vivemos. Representa uma determina<strong>da</strong> visão do mundo, uma visão com a qual<br />

talvez nunca tenhamos deparado antes, mesmo que os aspectos do mundo nela<br />

representados nos sejam familiares. (NICHOLS, 2005, p. 47)<br />

O gênero documentário é o que mais se aproxima <strong>da</strong> reprodução do real, pois<br />

diferente do gênero ficção, em que os atores são dirigidos e já têm dimensão do que vão<br />

representar, no documentário as pessoas dão depoimentos <strong>da</strong> sua reali<strong>da</strong>de, nos seus<br />

ambientes e portanto,<br />

As “pessoas” são trata<strong>da</strong>s como atores sociais: continuam a levar a vi<strong>da</strong> mais ou<br />

menos como fariam sem a presença <strong>da</strong> câmera. Continuam a ser atores culturais e<br />

não artistas teatrais. Seu valor para o cineasta consiste não no que promete uma<br />

relação contratual, mas no que a própria vi<strong>da</strong> dessas pessoas incorpora. Seu valor<br />

reside não nas formas pelas quais disfarçam ou transformam comportamento e<br />

personali<strong>da</strong>de habituais, mas nas formas pelas quais comportamento e<br />

personali<strong>da</strong>de habituais servem às necessi<strong>da</strong>des do cineasta. (idem, 2005, p.31)<br />

O documentário possui um caráter informativo que muito se aproxima do modelo<br />

<strong>da</strong>s reportagens televisivas, porém com mais detalhes e mais vozes retrata<strong>da</strong>s e envolvi<strong>da</strong>s,<br />

não apenas uma visão de determinado fato, acontecimento ou reali<strong>da</strong>de. Assim, como uma<br />

reportagem deve mostrar diversas visões de um fato, o documentário também possui essa<br />

característica de retratar um fato e documentar a história. O documentário “Fé na Terra”<br />

mostra claramente esta característica, pois exibe a percepção do encontro não só do ponto de<br />

vista de quem o elabora, mas também dos participantes, autori<strong>da</strong>des políticas envolvi<strong>da</strong>s, e o<br />

que ca<strong>da</strong> um desses “personagens” pensa dos temas que permeiam o encontro <strong>da</strong> Troca de<br />

Saberes. Isso fica bem claro nos capítulos temáticos do documentário que intercala as falas<br />

dos agricultores e agricultoras com as falas dos militantes de diversos movimentos sociais,<br />

dos técnicos, professores, estu<strong>da</strong>ntes e pesquisadores que fazem parte desse processo.<br />

Porém, uma grande diferença <strong>da</strong>s reportagens televisivas e os documentários é a<br />

aproximação que um documentário exige entre quem filma e os envolvidos. Numa<br />

reportagem televisiva, pela efemeri<strong>da</strong>de que a caracteriza, e mesmo sendo um produto<br />

também audiovisual que exige certo aprofun<strong>da</strong>mento, pelo tempo e rapidez que é feito não<br />

consegue estabelecer uma relação tão profun<strong>da</strong>. O documentário exige uma relação mais<br />

22


próxima, um envolvimento maior para conseguir representar aquela reali<strong>da</strong>de. É necessário<br />

ouvir várias vozes que vivem aquele fato que se pretende documentar.<br />

Há normas e convenções que entram em ação, no caso dos documentários, para<br />

aju<strong>da</strong>r a distingui-los: o uso de comentário com voz de Deus, as entrevistas, a<br />

gravação de som direto, os cortes para introduzir imagens que ilustrem ou<br />

compliquem a situação mostra<strong>da</strong> numa cena e o uso de atores sociais, ou de<br />

pessoas em suas ativi<strong>da</strong>des e papéis cotidianos, como personagens principais do<br />

filme. Todos estão entre as normas e convenções comuns a muitos documentários.<br />

Outra convenção é a predominância de uma lógica informativa, que organiza o<br />

filme no que diz respeito às representações que ele faz do mundo histórico. (idem,<br />

2005, p.54)<br />

O documentário é assim uma releitura dessa reali<strong>da</strong>de documenta<strong>da</strong> através do<br />

audiovisual. No processo de produção de um produto audiovisual, há várias etapas como<br />

filmagem, edição, montagem o que permite que o filme construa argumentos, gere<br />

questionamentos e discussão. O uso de sons e imagens combina<strong>da</strong>s facilita o entendimento<br />

do que o documentário procura documentar, constrói uma ponte para o entendimento e por<br />

isso, o documentário tem uma capaci<strong>da</strong>de de provocar e suscitar uma discussão mais<br />

reflexiva.<br />

02. RELATÓRIO TÉCNICO<br />

2.0 Pré-Produção<br />

Para a realização deste Projeto Experimental, desde o início desse ano foi realizado<br />

uma pesquisa bibliográfica sobre os movimentos sociais e a forma como eles vem se<br />

articulando dentro <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Tivemos ain<strong>da</strong> a participação em algumas reuniões na<br />

semana pré-Troca de Saberes e com integrantes do projeto, e ain<strong>da</strong> e elaboração de um<br />

roteiro de filmagens.<br />

2.0.1 Pesquisa<br />

O primeiro semestre letivo desse ano foi dedicado a pesquisa bibliográfica que<br />

resultou no projeto de monografia exigido pela disciplina COM 390. O tempo de pesquisa<br />

serviu como base teórica para desenvolvimento do trabalho, o que nos ajudou a entender<br />

23


como a Troca de Saberes funciona tendo essas pessoas como protagonistas desse encontro.<br />

Essa pesquisa contribuiu para entendermos também o processo de produção de um<br />

documentário enquanto produto jornalístico, e importância dessa prática tanto para o<br />

jornalismo como para a socie<strong>da</strong>de e as futuras gerações.<br />

2.0.2 Reuniões pré-Troca de Saberes<br />

Durante uma semana antes <strong>da</strong> realização do encontro <strong>da</strong> Troca de Saberes,<br />

participamos de algumas reuniões com os coordenadores e pessoas que constroem<br />

coletivamente esse encontro. Essas reuniões foram fun<strong>da</strong>mentais para entendermos o<br />

processo de construção, a relevância dos temas abor<strong>da</strong>dos para os participantes, como<br />

acontece a estruturação <strong>da</strong>s instalações pe<strong>da</strong>gógicas, além de to<strong>da</strong> logística como transporte,<br />

alojamento, alimentação e etc.<br />

Essa participação nos ajudou a entender a importância de ca<strong>da</strong> um <strong>da</strong>queles agentes<br />

dentro do espaço de estruturação <strong>da</strong> Troca de Saberes, como vivenciar o que havíamos<br />

pesquisado e estreitar os laços como assuntos que antes pareciam muito distantes <strong>da</strong> nossa<br />

reali<strong>da</strong>de. Essa inserção ajudou ain<strong>da</strong> a entender a reali<strong>da</strong>de e a necessi<strong>da</strong>de de discutir<br />

determinados assuntos, para que conseguíssemos documentar de forma mais fidedigna essas<br />

reali<strong>da</strong>des. Entender esse processo facilitou bastante a elaboração do roteiro de filmagem.<br />

2.0.3 Elaboração do Roteiro de Filmagem<br />

O roteiro de filmagem foi construído junto com o professor do Departamento de<br />

Educação, Marcelo Loures. De acordo com o que foi visto nas reuniões, conseguimos<br />

visualizar o que era realmente relevante e o que gravaríamos apenas para fins de registro.<br />

Durante a elaboração do roteiro, tentamos visualizar como seria o vídeo, quais os<br />

pontos centrais e como usaríamos essas imagens. Foi pensado inicialmente em casarmos o<br />

que aconteceu na semana anterior ao encontro, com a semana de realização <strong>da</strong> Troca de<br />

Saberes. No pré-roteiro definimos ain<strong>da</strong> quais os depoimentos seriam fun<strong>da</strong>mentais para o<br />

desenvolvimento do documentário, as pessoas que entrevistaríamos e as rotas mais<br />

importantes já que várias coisas aconteciam simultaneamente e seria impossível gravarmos<br />

24


to<strong>da</strong>s. Pensamos ain<strong>da</strong> em gravar após a Troca de Saberes nas comuni<strong>da</strong>des participantes do<br />

encontro, para mostrar como esse conhecimento é levado para lá, porém, por questão de<br />

tempo do documentário vimos que não seria possível.<br />

2.0.4 O pré-roteiro<br />

- Abertura oficial- domingo á noite. 10 de julho.<br />

- Montagem do empório- sábado e domingo pela manhã. 09 e 10 de julho.<br />

- Gravar: alojamentos e a chega<strong>da</strong> dos participantes.<br />

- Interlocução do conhecimento universi<strong>da</strong>de/comuni<strong>da</strong>de<br />

- Trabalho <strong>da</strong> relatoria<br />

- Documentário não linear- Intercalar imagens do que aconteceu na preparação e execução.<br />

Na parte final, o pós Troca de Saberes.<br />

Depoimentos:<br />

Irene: os entraves dentro <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de/ dificul<strong>da</strong>des.<br />

Willer: entendimento/concepção <strong>da</strong> Troca de Saberes.<br />

Marcelo: metodologia/ formação/ processo<br />

Nina- organização<br />

Padeiro- cultura<br />

Bete- CTA: questão de gênero.<br />

Depoimentos agricultores/ representantes dos movimentos sociais.<br />

- Amauri- Espera Feliz- agricultor/poeta/homeopata- vinculação dele com a universi<strong>da</strong>de,<br />

como construiu sua relação, qual o papel <strong>da</strong> Troca de Saberes dentro dessa relação dele com<br />

a comuni<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de com a comuni<strong>da</strong>de.<br />

- Seu Nenê- Sindicato dos Trabalhadores Rurais Araponga<br />

- Abatiá- Agricultor de Tombos<br />

- Gilmar- sobre as EFAS<br />

- Vera- Agricultora familiar de Paula Cândido<br />

- Ermelin<strong>da</strong>- agricultora familiar<br />

- Irene- Agricultora familiar- sindicato de Tombos<br />

Instalações:<br />

Apiário<br />

25


Animais Silvestres: realiza<strong>da</strong> no Instituto Mineiro de Agropecuária- IMA<br />

Movimentos Sociais: GAO<br />

Cultura: Casa <strong>da</strong> Paz<br />

Plenárias:<br />

Durante a segun<strong>da</strong>, terça e quarta são realiza<strong>da</strong>s as mesas redon<strong>da</strong>s com intuito de<br />

aprofun<strong>da</strong>r as discussões.<br />

Após as instalações pe<strong>da</strong>gógicas são realizados grupos de discussão em que os participantes<br />

apontam os principais temas levantados pelo grupo.<br />

2.1 Produção<br />

O documentário sobre a Troca de Saberes começou a ser gravado na primeira semana<br />

de julho, uma semana antes do encontro. Nessas primeiras gravações foram registra<strong>da</strong>s as<br />

reuniões gerais, em que estava presente grande parte dos envolvidos na organização do<br />

encontro: pesquisadores, professores, alunos, estagiários e voluntários. Ain<strong>da</strong> nessa semana<br />

foi grava<strong>da</strong> a oficina de relatoria, ofereci<strong>da</strong> ás pessoas responsáveis pelo registro escrito do<br />

que acontece. Além do trabalho de preparação <strong>da</strong>s instalações, que foi registra<strong>da</strong> com o<br />

intuito de ser usado no documentário mostrando a organização <strong>da</strong> instalação e como ela<br />

ocorre de fato, foram feitas imagens <strong>da</strong> reunião <strong>da</strong> instalação que ocorreu no IMA sobre<br />

saúde animal e sobre cultura que ocorreu na Casa <strong>da</strong> Paz.<br />

Além <strong>da</strong> importância de se registrar uma parte do trabalho de preparação do<br />

encontro, essas imagens registra<strong>da</strong>s na primeira semana foram usa<strong>da</strong>s de forma não-linear<br />

no documentário. Essas imagens serão intercala<strong>da</strong>s com aquelas grava<strong>da</strong>s semana de<br />

realização <strong>da</strong> Troca de Saberes tornando o documentário mais dinâmico.<br />

A segun<strong>da</strong> semana de gravação começou no domingo, 10 de julho de 2011, no<br />

primeiro dia <strong>da</strong> Troca de Saberes. Foram feitas imagens <strong>da</strong> abertura oficial <strong>da</strong> Semana do<br />

Fazendeiro, <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> á Viçosa dos participantes do encontro, do ca<strong>da</strong>stramento e<br />

apresentação cultural de Tião Farinha<strong>da</strong>. Na segun<strong>da</strong>-feira, houve a abertura oficial <strong>da</strong> Troca<br />

de Saberes com apresentação de Thyaga e ban<strong>da</strong> que começou o dia com uma <strong>da</strong>nça no pau<br />

de fita, um momento de interação entre todos os participantes, pessoas <strong>da</strong> organização e as<br />

crianças. Nesse dia teve ain<strong>da</strong> uma mesa-redon<strong>da</strong> composta pelo sub-secretário de<br />

agricultura familiar do estado de Minas Gerais, Edmar Gadelha, um representante do<br />

26


Ministério <strong>da</strong> Agricultura, professores, pesquisadores e alunos <strong>da</strong> <strong>UFV</strong> e representantes dos<br />

movimentos sociais, que junto com os participantes discutiram e levantaram as seguintes<br />

questões. A falta de apoio do governo com esses agricultores familiares e a burocracia por<br />

eles enfrenta<strong>da</strong> para conseguir financiamento, a certificação de produto agroecológico, o uso<br />

do agrotóxico, foram algumas questões levanta<strong>da</strong>s e discuti<strong>da</strong>s com as autori<strong>da</strong>des presente.<br />

Na terça-feira iniciaram as instalações pe<strong>da</strong>gógicas espalha<strong>da</strong>s em diversas partes <strong>da</strong><br />

<strong>UFV</strong>. Foram registra<strong>da</strong>s as instalações que ocorreram no Empório: dos movimentos sociais,<br />

do papel <strong>da</strong> mulher na comuni<strong>da</strong>de e as relações de gênero e dos integrantes <strong>da</strong>s Escolas<br />

Família- Agrícola, as EFA‟s. Na Villa Gianetti foi grava<strong>da</strong> a instalação de cultura que<br />

ocorreu na Casa <strong>da</strong> Paz. Depois <strong>da</strong>s instalações todos os grupos se reuniram no Empório e<br />

trouxeram os levantamentos e questões para serem discutidos coletivamente. Um momento<br />

em que todos compartilham seus conhecimentos, o conhecimento assim não é egoísta, ele é<br />

dividido e serve para ca<strong>da</strong> um de uma forma. Ain<strong>da</strong> na terça houve mesa redon<strong>da</strong> no<br />

Departamento de Economia Rural, mais uma vez os grupos se dividiram e trouxeram<br />

questões a serem debati<strong>da</strong>s. No Empório teve apresentações culturais, com o grupo de<br />

Congado de Airões que também participaram <strong>da</strong> Troca de Saberes e de Tião Farinha, mestre<br />

griô de Espera Feliz.<br />

Na quarta-feira foi o último dia do encontro. A dinâmica de gravação foi pareci<strong>da</strong><br />

com a terça, pois também houve instalações pe<strong>da</strong>gógicas e discussão no Empório. Porém, na<br />

quarta foram realizados os registros de depoimentos dos participantes, extremamente<br />

importantes para o documentário. Esses depoimentos foram feitos com representantes dos<br />

movimentos, os agricultores, alunos, diretores e pais de alunos <strong>da</strong>s Escolas Família-<br />

Agrícola. O evento encerrou com a apresentação <strong>da</strong>s alunas do curso de Dança, Rafaela<br />

Grupioni e Aline Villaça. Nesse dia gravamos os alojamentos, que foi um dos grandes<br />

problemas enfrentados pela organização <strong>da</strong> Troca de Saberes, pois foi cancelado de último<br />

hora por parte <strong>da</strong> <strong>UFV</strong> os alojamentos destinados aos participantes do encontro. Os<br />

alojamentos foram improvisados em diversas partes <strong>da</strong> <strong>UFV</strong>, como o Parque <strong>da</strong> Ciência,<br />

ITCP e diversas casas <strong>da</strong> Villa Gianetti, e também na ci<strong>da</strong>de na casa de pessoas que cederam<br />

suas casas generosamente e no Centro de Tecnologias Alternativas- CTA localiza<strong>da</strong> na<br />

Violeira.<br />

27


2.2 Pós-produção<br />

Depois do acontecimento do encontro, o mês de agosto foi dedicado a capturar o<br />

material audiovisual e fazer a seleção de toma<strong>da</strong>s. Parte desse material foi descartado devido<br />

a problemas de áudio, causado por um mau contato no microfone utilizado nas gravações.<br />

O mês de setembro foi utilizado para resgatar parte desse material perdido, e no<br />

término <strong>da</strong>s gravações. Foram feitas as últimas entrevistas com a organização do encontro,<br />

como também estagiários e parceiros. Esses depoimentos foram o fio condutor do<br />

documentário, em que, para que não fosse necessária a utilização de off’s para narrar<br />

determinados acontecimentos. O documentário se constitui-se como um relato dos próprios<br />

participantes sem uma terceira pessoa.<br />

Após o término <strong>da</strong>s gravações realizamos o trabalho de decupagem do material<br />

coletado, o que foi um processo bem demorado devido a quanti<strong>da</strong>de de material audiovisual<br />

capturado. Através <strong>da</strong> decupagem, fizemos a seleção de cenas, finalizamos o roteiro de<br />

edição e iniciamos a edição em outubro.<br />

2.2.1 Edição, Montagem e finalização<br />

A edição do documentário foi feita em cima de capítulos com os temas <strong>da</strong> Troca de<br />

Saberes. Inicialmente foi pensado em intercalar momentos anteriores a Troca de Saberes,<br />

como as reuniões e pré-instalações pe<strong>da</strong>gógicas. Porém decidimos que mostrar os principais<br />

temas de discussão era fun<strong>da</strong>mental, exibindo através dos temas os levantamentos dos<br />

participantes o porquê desses temas serem tão relevantes dentro do cotidiano de onde estão<br />

inseridos. Assim, os capítulos têm as temáticas dos principais temas do encontro como<br />

movimentos sociais, agroecologia, saúde integral, soberania alimentar, economia popular<br />

solidária, gênero, educação do campo e cultura popular. A partir desses temas foi mostrado<br />

como eles foram desenvolvidos ao longo <strong>da</strong> Troca de Saberes, através <strong>da</strong>s instalações<br />

pe<strong>da</strong>gógicas, grupos de discussão e plenárias. Além dos capítulos temáticos dois capítulos<br />

também foram fun<strong>da</strong>mentais: o primeiro que caracteriza o que é a Troca de Saberes e o<br />

segundo que explica a metodologia utiliza<strong>da</strong>.<br />

Com os capítulos e temas definidos, os separamos em bloco. O primeiro bloco<br />

contém os capítulos: o que é Troca de Saberes, a metodologia utiliza<strong>da</strong> e a importância de<br />

28


envolver os movimentos sociais. O segundo bloco foi direcionado às questões <strong>da</strong> terra:<br />

agroecologia, soberania alimentar, saúde integral e economia popular solidária. O terceiro<br />

bloco ficou com as temáticas: gênero, educação do campo e cultura popular.<br />

A edição foi realiza<strong>da</strong> no programa de edição Premiere. Depois de realiza<strong>da</strong> essa<br />

primeira edição pensamos em colocar uma animação para ca<strong>da</strong> bloco. No primeiro bloco foi<br />

feita a animação com a arte do documentário. Na segun<strong>da</strong> um homem entra jogando<br />

agrotóxico na plantação e outro homem entra dizendo que ele não pode fazer aquilo. Na<br />

terceira uma mulher leva seu filho a escola e depois vai trabalhar, que caracteriza a educação<br />

do campo e o movimento <strong>da</strong>s mulheres. Esteticamente, decidimos por uma animação mais<br />

simples, com cores vivas e desenhos lúdicos, com elementos mais simples aproximando <strong>da</strong><br />

característica do encontro.<br />

A montagem e finalização do documentário foi realizado no programa Final Cut,<br />

momento em que arrumamos todos os áudios <strong>da</strong> mesma altura, acrescentamos legen<strong>da</strong>,<br />

músicas e os créditos finais. Ao colocar todos os capítulos em sequência foi possível<br />

visualizar o produto geral e ver o que precisava ser melhorado, por exemplo, algumas falas<br />

considera<strong>da</strong>s redun<strong>da</strong>ntes foram retira<strong>da</strong>s e a diferença de áudio de uma fala para outra. Esse<br />

processo foi realizado no Rio de Janeiro em uma produtora profissional, utilizando<br />

computadores Macintosh, onde podemos usufruir de mais recursos junto ao programa final<br />

cut. Foi realiza<strong>da</strong> a edição de ca<strong>da</strong> imagem separa<strong>da</strong>mente colocando to<strong>da</strong>s do mesmo<br />

tamanho, consertamos a luz, demos magnitude para que as imagens ficassem mais reais e<br />

clareamos imagens que estavam escuras.<br />

Para finalizar foi criado um menu contendo o vídeo do documentário e as fotografias<br />

Still que registraram os diversos momentos <strong>da</strong> Troca de Saberes. Foi colocado ain<strong>da</strong> o<br />

contato <strong>da</strong> diretora do documentário.<br />

2.3 Equipe técnica<br />

Direção: Andriza Andrade<br />

Produção: Andriza Andrade, Paula Machado, Vitor Secchin<br />

Roteiro: Andriza Andrade e Marcelo Loures<br />

Operadores de câmera: Andriza Andrade, Giuliano Sales, Kelen Ribeiro, Paula Machado,<br />

Vitor Sechin, Wanessa Marinho<br />

Transporte: Andriza Andrade<br />

Fotografia Still: Carolina Félix, Giuliano Sales e Paula Machado<br />

29


Entrevistas: Andriza Andrade<br />

Edição e Montagem: Andriza Andrade e Jor<strong>da</strong>na Belo<br />

Assistente de Montagem: Alessandra Stropp<br />

Finalização: Alessandra Stropp e Andriza Andrade<br />

Arte Gráfica: Felipe Rhein, Giuliano Sales e Thiago Padovan<br />

Animação: Léo Faria<br />

Orientação: Soraya Ferreira<br />

Co-orientação: Marcelo Loures<br />

2.4 Equipamentos<br />

Câmera filmadora Sony<br />

Câmera filmadora Panasonic<br />

Câmera fotográfica Sony<br />

Computadores: Dell e Macintosh<br />

2.5 Orçamento<br />

Alimentação:<br />

Transporte: 500,00<br />

Fitas mini dv‟s: 130,00<br />

Dvd‟s: 20,00<br />

Capas para Dvd: 20,00<br />

Impressões: 40,00<br />

Impressões etiquetas e capa Dvd: 27,00<br />

Capa personaliza<strong>da</strong>: 175,00<br />

Finalização:<br />

2.6 Duração do vídeo:<br />

01:02:39<br />

2.7 Trilha Sonora<br />

30


- A música tema que está no menu do DVD, no início do documentário e nas animações<br />

chama-se Oslodum, de autoria de Gilberto Gil e está disponível no site Domínio Público.<br />

- A música “Peneirei Fubá” é de Domínio público e está neste documentário na<br />

interpretação do artista popular <strong>da</strong> Zona <strong>da</strong> Mata Mineira, Tião Farinha<strong>da</strong>.<br />

- As outras músicas são de autoria de Tião Farinha<strong>da</strong> e as concessões de autorização de uso<br />

e reprodução foram devi<strong>da</strong>mente autoriza<strong>da</strong>s pelo artista.<br />

03. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A Troca de Saberes se constitui com um espaço de abertura para que a universi<strong>da</strong>de<br />

abra caminhos para o conhecimento popular, um conhecimento que já foi muito<br />

desvalorizado e marginalizado. A interação <strong>da</strong> academia com esses conhecimentos é<br />

fun<strong>da</strong>mental, porque vivemos uma época em que as pessoas estão ca<strong>da</strong> vez mais se<br />

mobilizando em busca de seus direitos, em busca de seu espaço. Esse contato é essencial<br />

para que a academia dê visibili<strong>da</strong>de á certas práticas e movimentos que vem ocorrendo e<br />

nem sempre as pessoas têm sensibili<strong>da</strong>de para buscar entender esses conhecimentos,<br />

aprender e trocar com essas pessoas. Entender essas visões de mundo se torna importante<br />

para uma socie<strong>da</strong>de que está ca<strong>da</strong> vez mais preocupa<strong>da</strong> com as questões ambientais, com um<br />

modo de vi<strong>da</strong> sustentável e assim, consequentemente com outras formas de vi<strong>da</strong>. Nesse<br />

sentido, entendermos o mundo e sua multiplici<strong>da</strong>de de vozes é importante para<br />

conseguirmos transformá-lo.<br />

A agroecologia e os diversos temas que a permeiam, mostrado no documentário, é<br />

um movimento social e um modelo alternativo de produção, de cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong> terra e <strong>da</strong> natureza.<br />

Mas, sem dúvi<strong>da</strong> a agroecologia para quem a pratica é um estilo de vi<strong>da</strong> e uma escolha. Por<br />

isso, a realização do documentário “Fé na Terra” tentou imergir no mundo dos participantes,<br />

entender a reali<strong>da</strong>de deles para que to<strong>da</strong>s essas reali<strong>da</strong>des fossem demonstra<strong>da</strong>s <strong>da</strong> forma<br />

mais próxima dos envolvidos.<br />

Foi extremamente relevante para o processo de consoli<strong>da</strong>ção do documentário<br />

participar de algumas reuniões do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Araponga, encontro<br />

de mulheres e algumas reuniões <strong>da</strong> Associação Mineira de Agroecologia realiza<strong>da</strong>s no<br />

Centro de Tecnologia Alternativa <strong>da</strong> Zona <strong>da</strong> Mata (CTA-ZM). Foi a partir desse contato<br />

31


que passamos a entender melhor o cotidiano e porque essas temáticas retrata<strong>da</strong>s no filme<br />

estão tão liga<strong>da</strong>s a vi<strong>da</strong> dos participantes <strong>da</strong> Troca de Saberes.<br />

Ao longo do processo de construção do documentário “Fé na Terra” passamos<br />

também a questionar o modo de se fazer o jornalismo e a comunicação de massa, que muitas<br />

vezes não dá visibili<strong>da</strong>de aos movimentos sociais e a outros estilos de vi<strong>da</strong> que prevalecem<br />

além dos padrões hegemônicos que nos são colocados pela socie<strong>da</strong>de capitalista. Ver como<br />

a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, a generosi<strong>da</strong>de, a preocupação com a coletivi<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong> existe nos faz<br />

acreditar que é possível construir um outro modelo de socie<strong>da</strong>de, que não se baseia apenas<br />

no ganho do capital, que seja mais justo e igual.<br />

Por fim, participar <strong>da</strong> Troca de Saberes e ao longo do documentário questionamos<br />

as universi<strong>da</strong>des públicas brasileiras que nunca deu muita possibili<strong>da</strong>de para que o povo<br />

ocupasse esses espaços de fato, por se constituírem enquanto espaço de construção de<br />

conhecimento para as elites. Assim, falta identi<strong>da</strong>de desses espaços com o povo e trazer<br />

essas pessoas para dentro <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de e valorizar o conhecimento popular é também a<br />

possibili<strong>da</strong>de de fazer <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de um espaço realmente democrático.<br />

32


04. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

ESTEVÃO, Sebastião Augusto. Cultura popular e transformações sociais. Entrevista<br />

realiza<strong>da</strong> no dia 13 de julho de 2011 em Viçosa. Entrevista concedi<strong>da</strong> a Andriza Andrade.<br />

FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liber<strong>da</strong>de e outros escritos. São Paulo: Paz e Terra,<br />

2001 (9ª edição).<br />

GOHN, Maria <strong>da</strong> Glória. Educação não-formal e cultura política. São Paulo: Cortez,<br />

2001.<br />

MEIRELLES, Laércio. Soberania Alimentar e a construção de mercados locais para<br />

produtos <strong>da</strong> Agricultura Familiar. v. 1. Edição 1. Outubro de 2008.<br />

MORAES, Dênis de. Comunicação virtual e ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia: Movimentos sociais e políticos<br />

na internet. Revista Brasileira de Ciências <strong>da</strong> Comunicação. Rio de Janeiro, nº. 2,<br />

julho/dezembro de 2000.<br />

NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário; tradução Mônica Saddy Martins-<br />

Campinas, SP: Papirus, 2005.<br />

SANTOS, Boaventura Sousa. A universi<strong>da</strong>de no século XXI: Para uma Reforma<br />

Democrática e Emancipatória <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de. São Paulo: Cortez Editora, 2005 (3ª<br />

edição).<br />

SANTOS, Boaventura Sousa. Renovar a teoria crítica e reinventar a emancipação social.<br />

São Paulo: Boitempo Editorial, 2007.<br />

SILVA, Márcio Gomes. Economia Popular Solidária. Entrevista realiza<strong>da</strong> no dia 07 de<br />

outubro de 2011 em Viçosa. Entrevista concedi<strong>da</strong> a Andriza Andrade.<br />

33


ANEXOS<br />

Fotos:<br />

Segundo dia de gravação: abertura oficial <strong>da</strong> Troca de Saberes.<br />

34


Segundo dia de gravação: <strong>da</strong>nça <strong>da</strong> fita, grande ro<strong>da</strong> no Empório.<br />

Empório <strong>da</strong>s Matas.<br />

35


Segundo dia de gravação: debate no Espaço Fernando Sabino.<br />

Terceiro dia de gravação: debate no Empório.<br />

36


Terceiro dia de gravação: debate no Departamento de Economia Rural.<br />

Quarto dia de gravação: debate no Empório.<br />

37


Quarto dia de gravação: entrevista Mestre Boi, Congado de Airões.<br />

Quarto dia de gravação: apresentação Folia de Reis do Estouro- Araponga.<br />

38


Termo de autorização de direito de uso de imagem<br />

Termo de Compromisso<br />

Eu,<br />

abaixo-assinado, residente á<br />

portador <strong>da</strong> cédula de identi<strong>da</strong>de<br />

e CPF<br />

, concedo para livre utilização,<br />

direitos sobre a minha imagem e som <strong>da</strong> minha voz a qualquer tempo para integrar<br />

o vídeo documentário intitulado “Fé na Terra- documentário sobre a Troca de<br />

Saberes 2011”, sob a direção de Andriza Maria Teodolino de Andrade, portadora<br />

<strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de MG- 13.240.444 e CPF 077.743.666-36.<br />

Declaro ain<strong>da</strong> estar ciente <strong>da</strong> proposição do projeto e que aceito participar do<br />

mesmo autorizando consequentemente e universalmente qualquer exploração<br />

comercial, distribuição e exibição <strong>da</strong> obra por todo e qualquer veículo, ou meio de<br />

comunicação e publici<strong>da</strong>de existente para exibição pública ou domiciliar,<br />

reprodução no Brasil ou no Exterior, podendo as cenas <strong>da</strong> obra em questão ser<br />

utiliza<strong>da</strong>s para fins comerciais ou não, exibições em festivais ou outros meios que<br />

se fizerem necessários.<br />

Assinatura<br />

Nome<br />

Viçosa, de de 2011.<br />

39


TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE TRILHA SONORA<br />

Eu, abaixo assinado, na quali<strong>da</strong>de de titular dos direitos autorais <strong>da</strong>s músicas (música e<br />

letra) relaciona<strong>da</strong>s abaixo, <strong>da</strong> ban<strong>da</strong> musical _____________________________<br />

autorizo o aluno(a) ________________________________________portador do<br />

RG__________________ e CPF_________________________, a utilizar as músicas de<br />

minha autoria como trilha sonora do documentário intitulado “Fé na Terra” por ele(a)<br />

desenvolvido, na categoria de Trabalho de Conclusão de Curso, ou ain<strong>da</strong> em outros canais<br />

de TV ou mídias por ela autorizados, sem limitação de tempo ou de número de exibições,<br />

no Brasil e/ou Exterior. Esta autorização inclui o uso do programa que contenham as<br />

músicas cita<strong>da</strong>s abaixo, em todo o tipo de transmissão e reprodução de imagens, em<br />

televisão aberta, fecha<strong>da</strong>, por assinatura e internet, bem como qualquer outro processo de<br />

transporte de sinal de vídeo como DVD´s e fitas VHS ou em futuras mídias por meio <strong>da</strong>s<br />

quais os programas possam ser exibidos.<br />

Na condição de Realizador e Produtor dos programas que contenham as músicas cujo uso<br />

ora é cedido, o aluno (a) ____________________________________________, poderá<br />

dispor livremente do programa que contenham as músicas abaixo lista<strong>da</strong>s a título gratuito,<br />

inclusive estando autoriza<strong>da</strong> a ceder sua exibição a terceiros, não cabendo a mim qualquer<br />

direito e/ou remuneração, a qualquer tempo e título.<br />

Músicas com direitos de utilização cedidos:<br />

1) _________________________________<br />

2) _________________________________<br />

3) _________________________________<br />

___________________, _____ de ________________ 2011.<br />

Nome: _____________________________________________<br />

Assinatura: _________________________________________<br />

End.: ______________________________________________<br />

Fone:______________________________________________<br />

e-mail:_____________________________________________<br />

CPF: _____________________/ CI_____________________<br />

40


Falas iniciais<br />

Bloco 1: O que é a<br />

Troca de Saberes, a<br />

Metodologia utiliza<strong>da</strong> e<br />

a importância dos<br />

Movimentos Sociais<br />

para a Troca de<br />

Saberes.<br />

Irene<br />

Gumercindo<br />

ROTEIRO FINAL<br />

E a gente aí, tá nessa luta pela agroecologia, isso aí tem sido<br />

fun<strong>da</strong>mental pra nós que é a luta pela vi<strong>da</strong>.<br />

As universi<strong>da</strong>des precisam dialogar com os saberes, com as<br />

diferentes formas de saber popular.<br />

Valorização <strong>da</strong> pessoa, do sujeito, então educação é pensar<br />

num todo.<br />

O agronegócio não está nem aí pras pessoas, simplesmente<br />

pro dinheiro e agroecologia pra vi<strong>da</strong>, pra diversi<strong>da</strong>de.<br />

Porque tudo nós temos que avaliar, tudo faz parte de uma<br />

vi<strong>da</strong> de agroecologia. A agroecologia nasce dentro <strong>da</strong> gente,<br />

não é difícil não.<br />

Fazer um agregado de conhecimento e força de vontade pra<br />

coisa poder an<strong>da</strong>r.<br />

Terra pra gente ela é viva e ela é mãe, é como se fosse uma<br />

mãe.<br />

Se a gente negar a mata, nós estamos negando a nossa<br />

ancestrali<strong>da</strong>de, nós temos o pé fincado o terra, temos o pé<br />

fincado na mata.<br />

Enquanto nós organizamos pra libertar, os poderosos<br />

organiza pra oprimir, então a nossa luta sempre vai existir,<br />

agora a nossa vitória depende de nós<br />

Animação com a logo do documentário em movimento.<br />

Música Oslodum de Gilberto Gil ao fundo.<br />

Porque o que nós queremos na ver<strong>da</strong>de não é a troca, mas a<br />

interação de saberes. Que saberes são esses? Saberes dos<br />

acadêmicos com os saberes dos não acadêmicos. No nosso<br />

caso em especial, o conhecimento acadêmico com o<br />

conhecimento dos agricultores e agricultoras familiares.<br />

Então trazer todos vocês que estão aqui para dentro <strong>da</strong><br />

universi<strong>da</strong>de para nós é uma satisfação muito grande,<br />

especialmente porque nós não estamos trazendo as pessoas<br />

aqui pra dentro para que possam nos ouvir falar, nós estamos<br />

trazendo vocês aqui pra dentro para que vocês possam falar e<br />

para que nós aprendemos a ouvir, porque infelizmente os<br />

cientistas, os pesquisadores estu<strong>da</strong>m muito, nós todos né,<br />

professores que estamos aqui, fazemos nosso curso de<br />

graduação, fazemos o mestrado, fazemos o doutorado,<br />

entramos nas nossas pesquisas e ficamos cegos e surdos.<br />

Então a universi<strong>da</strong>de precisa aprender a ouvir, a Troca de<br />

Saberes é isso, é compartilhar é falar e escutar, é trocar to<strong>da</strong>s<br />

as experiências que a gente precisa para que realmente a<br />

gente possa trazer desenvolvimento para aqueles que<br />

41


Willer<br />

Luís Cláudio<br />

Irene<br />

Willer<br />

Irene<br />

Gumercindo<br />

Irene<br />

precisam, o desenvolvimento pro campo, mas o<br />

desenvolvimento realmente sustentável, que seja um<br />

desenvolvimento equilibrado, não com base no ganho<br />

político, não com base no capital, mas que seja um<br />

desenvolvimento justo, solidário e que dê oportuni<strong>da</strong>de a<br />

todos.<br />

Somos sujeitos dessa Troca de Saberes. Todos que<br />

participarem são construtores desses saberes. Obviamente,<br />

que à medi<strong>da</strong> em que nós vamos estar recebendo aqui em<br />

torno de 200 trabalhadores e trabalhadoras rurais dessa<br />

região, a gente quer entender que essas pessoas são sujeitos<br />

grandes e significativos dessa Troca de Saberes. Não<br />

significa que eu deixe de ser também sujeito disso, mas<br />

significa que na lógica <strong>da</strong> hierarquização dos saberes, dos<br />

poderes, nós temos que diminuir o nosso poder e temos que<br />

aumentar o poder <strong>da</strong>s pessoas com quem vai estar interagido,<br />

para que a gente possa buscar um diálogo mais<br />

horizontalizado.<br />

O que nós devemos nos perguntar aqui nesse momento é: a<br />

quem serve a universi<strong>da</strong>de brasileira? Se a universi<strong>da</strong>de<br />

brasileira falhar em servir ao seu povo, a sua gente, se a<br />

universi<strong>da</strong>de brasileira falhar em acabar com a miséria não<br />

adianta ela produzir todos os artigos científicos do mundo.<br />

E nessa perspectiva a gente quer construir uma agricultura<br />

diferente, um modo diferente de li<strong>da</strong>r com a agricultura, que<br />

no nosso caso a gente trabalha segundo os princípios <strong>da</strong><br />

agroecologia.<br />

Nós não estamos querendo reforçar a lógica do discurso do<br />

agronegócio, <strong>da</strong> monocultura, se não que <strong>da</strong> ecologia de<br />

saberes, se não que de uma perspectiva popular.<br />

Essa interação entre os conhecimentos acadêmicos e não<br />

acadêmicos ele já vem acontecendo há muito tempo e<br />

principalmente dentro <strong>da</strong> perspectiva agroecológica e em<br />

2009 a gente teve então a oportuni<strong>da</strong>de junto de construir um<br />

evento que a gente chama de Troca de Saberes dentro <strong>da</strong><br />

Semana do Fazendeiro, junto, em articulação com a Semana<br />

do Fazendeiro e com o apoio aí mais explícito <strong>da</strong> pró-reitoria<br />

de extensão.<br />

A extensão deve ser a ativi<strong>da</strong>de universitária que articula o<br />

ensino e a pesquisa e viabiliza a relação com a socie<strong>da</strong>de, <strong>da</strong>í<br />

o chamado para o diálogo <strong>da</strong> pesquisa cientifica com o<br />

conhecimento popular.<br />

E na Troca de Saberes o que na ver<strong>da</strong>de nós queremos é um<br />

sinergismo entre os conhecimentos e quando isso aconteceu,<br />

o processo é um processo longo, então a gente já vem nessa<br />

construção há muito tempo. Então nessa interação com os<br />

agricultores <strong>da</strong> região buscando respeitar e valorizar os<br />

conhecimentos deles e buscando momentos em que esse<br />

conhecimento possa interagir com o conhecimento<br />

42


Sara<br />

Abatiá<br />

Irene<br />

Elza Ilza<br />

Irene Alves<br />

Início capítulo de<br />

metodologia: Marcelo<br />

Marcelo (Semana pré-<br />

Troca de Saberes)<br />

acadêmico também pra gerar um conhecimento novo.<br />

A valorização dos saberes, seria <strong>da</strong>r mais valor a aquilo que a<br />

gente aprende, ao todo, a história de vi<strong>da</strong> de ca<strong>da</strong> um, prestar<br />

mais atenção no que aconteceu com ca<strong>da</strong> pessoa, o que<br />

aconteceu com ca<strong>da</strong> ou o que aconteceu comigo, é conhecer<br />

mais as pessoas, compreendê-las.<br />

Eu acho o mais interessante dessa Troca de Saberes que os<br />

saberes, né, você nunca esquece <strong>da</strong>quilo que você aprende e<br />

hoje um dos maiores ganhos é você estar informado, estar<br />

capacitado, e sair, que a gente tem ganhado muito com isso.<br />

E a Troca de Saberes desperta muito para que isso aconteça.<br />

Você não pode se eternizar naquilo que você aprende, porque<br />

todos nós sabemos que somos mortais, mas o projeto<br />

continua vivo. Então isso é um grande objetivo para nós,<br />

você compartilha aquilo que você vêm que é o objetivo de<br />

trocar os saberes e leva muitos conhecimentos para a nossa<br />

comuni<strong>da</strong>de.<br />

Eles possuem um conhecimento muito valioso e esse<br />

conhecimento por muito tempo ele foi desvalorizado e<br />

desrespeitado. Então um dos objetivos é valorizar e resgatar<br />

esses conhecimentos.<br />

O que mudou, o que eu vejo é o interesse <strong>da</strong> ampliação,<br />

inclusive de multiplicação através <strong>da</strong> Troca de Saberes<br />

chegando até na ponta esses conhecimentos para os<br />

agricultores e agricultoras que mesmo não participando aqui<br />

que chegam até eles, e até elas agriculturas esse trabalho que<br />

vem se desenvolvendo que é essa Troca de Saberes, que pra<br />

gente é um troca de experiência <strong>da</strong>quilo que nós sabemos e<br />

levando e multiplicando não só para as pessoas, mas também<br />

aqui pros participantes.<br />

Então essa troca de conhecimento, quando se reúne, ela frui,<br />

ela cresce. Por quê? Porque junta os dois, e a gente entra com<br />

a teoria e com a prática e a gente consegue. Então, às vezes<br />

as pessoas <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de não têm tanta informação naquilo<br />

que a gente faz no dia a dia, que é as plantas, que é a geração<br />

de ren<strong>da</strong>, que é a gente produzir de quali<strong>da</strong>de, sem veneno,<br />

então a gente vem para a prática trocar essa experiência.<br />

Aquilo que a gente não sabe lá a gente aprende aqui e aquilo<br />

que a gente pode trazer, a gente troca umas com as outras.<br />

A metodologia <strong>da</strong> Troca de saberes, como to<strong>da</strong> Troca de<br />

Saberes na ver<strong>da</strong>de, ela foi construí<strong>da</strong> nos coletivos, então a<br />

gente tinha os grupos de trabalho que dividiam as tarefas e<br />

que foram decididos lá nas primeiras reuniões <strong>da</strong> Troca de<br />

Saberes, a gente juntou os movimentos sociais, a gente<br />

juntou os professores envolvidos nas Trocas de Saberes<br />

anteriores, os professores do programa TEIA e lá a gente<br />

começou a discutir como seria a Troca de Saberes desse ano<br />

A ideia é que a gente fizesse uma mobilização dessas<br />

comuni<strong>da</strong>des falando um pouco, ééé, fazendo uma avaliação<br />

43


Edmar Gadelha<br />

Marcelo<br />

Irene<br />

Marcelo<br />

Marcelo (Semana pré-<br />

Troca de Saberes)<br />

Vladimir<br />

Marcelo<br />

do que foi a Troca de Saberes do ano passado e propor,<br />

tirando propostas.<br />

Nós temos ai a metodologia <strong>da</strong> ação extensionista que veio ai<br />

há muitos anos atrás para modernizar a agricultura no país<br />

que trouxe vários tipos de conseqüência para a agricultura<br />

familiar e agora nós temos essa metodologia <strong>da</strong> Troca de<br />

Saberes.<br />

Que uma <strong>da</strong>s características principais <strong>da</strong> Troca de Saberes é<br />

ter um formato diferenciado <strong>da</strong>quele modelo tradicional, de<br />

uma fala expositiva, de uma fala verticaliza<strong>da</strong>, de alguém<br />

que sabe pra alguém que não sabe. Então a grande<br />

preocupação nossa é construir uma metodologia que fosse<br />

mais participativa possível e o mais próxima possível de uma<br />

reali<strong>da</strong>de dos agricultores.<br />

A gente pensou então que seria: a fala rápi<strong>da</strong> dessas pessoas;<br />

depois uma fala de dez minutos, só para suscitar o debate;<br />

depois nós dividiríamos em grupos: dez grupos, oito grupos,<br />

essas pessoas nos grupos elas escolheriam dois a três temas<br />

para elas debaterem; e, depois que elas debatessem esses dois<br />

a três temas, a gente <strong>da</strong>ria um tempo pro trabalho em grupo e<br />

voltaria para fazer a plenária. Imagens em off dos grupos de<br />

discussão.<br />

Então a gente fomentava muito uma metodologia dialógica<br />

assim, muito de conversa, muito de contar.<br />

Na terça-feira e na quarta começam as instalações<br />

pe<strong>da</strong>gógicas. As instalações pe<strong>da</strong>gógicas, para quem não<br />

sabe, são aqueles espaços onde ou o movimento social ou o<br />

programa ou o professoro qualquer instituição que seja<br />

parceira vai apresentar uma proposta de discussão. A<br />

proposta <strong>da</strong> instalação pe<strong>da</strong>gógica é estabelecer uma<br />

interlocução entre as pessoas que tem um saber específico<br />

sobre um tema e as outras pessoas que vivem esse problema<br />

nas questões do cotidiano. (Imagens em off <strong>da</strong>s instalações<br />

pe<strong>da</strong>gógicas) Feita essa discussão nas instalações<br />

pe<strong>da</strong>gógicas reúne todo mundo no Empório, um espaço que<br />

vai ter em frente o DCE e ali faz-se uma discussão, se<br />

vincula essas temáticas com diversos temas transversais, que<br />

é agroecologia, educação do campo, gênero, economia<br />

popular solidária, e outras temáticas.<br />

O ideal é que isso seja feito durante o, que tenha dentro<br />

encontro um momento de avaliação, onde as pessoas, os<br />

participantes mesmo, discutam se aquela ativi<strong>da</strong>de cumpriu<br />

ou não os objetivos, o que ela cumpriu, o que ela não<br />

cumpriu.<br />

Outra coisa que aconteceu nessa Troca de Saberes que foi<br />

muito bacana, foi a idéia do Empório (imagens em off do<br />

Empório e <strong>da</strong>s discussões que lá ocorreram). A proposta do<br />

Empório era um espaço, era uma própria instalação<br />

pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> Troca de Saberes de to<strong>da</strong> Troca de Saberes.<br />

44


Início capítulo<br />

Movimentos Sociais:<br />

Tião Farinha<strong>da</strong> canta<br />

no Empório<br />

Willer<br />

Edmar Gadelha<br />

Gumercindo<br />

Então era um espaço ambientado onde você tinha vários<br />

elementos que suscitava nos trabalhadores, nos pequenos<br />

agricultores, nas pessoas dos movimentos, nos estu<strong>da</strong>ntes<br />

todo mundo que participava, era elementos que suscitava o<br />

cotidiano. Se você for pegar as filmagens, se você for pegar<br />

as fotos, os registros, você tem no fundo sempre muitas<br />

pessoas se encontrando e conversando e falando de coisas<br />

que tem a ver com os movimentos, tem a ver sobre o dia-adia<br />

ou contando pia<strong>da</strong>. Então era um espaço muito rico de<br />

encontro, um manancial de muitas idéias, de muitas<br />

propostas, e que talvez a gente desenvolva ou repita no<br />

próximo ano. A idéia não é manter um formato que tá sendo<br />

bem sucedido, mas é sempre uma possibili<strong>da</strong>de de provocar.<br />

Traga a bandeira de luta<br />

Deixa a bandeira passar<br />

Essa é a nossa conduta<br />

Vamos unir pra mu<strong>da</strong>r<br />

O processo universitário tem que refazer a curva do diálogo.<br />

A universi<strong>da</strong>de brasileira, uma universi<strong>da</strong>de nova com<br />

menos de 100 anos é uma universi<strong>da</strong>de fortemente elitiza<strong>da</strong>.<br />

É uma universi<strong>da</strong>de que vem se constituindo enquanto<br />

construção de conhecimento para as elites e agora já se<br />

percebe que não é possível apenas esse viés<br />

Desde a época que a gente passou ai trabalhando a criação do<br />

movimento sindical, <strong>da</strong>s organizações sindicais, <strong>da</strong>s<br />

organizações dos movimentos sociais, do próprio CTA e isso<br />

aqui era como se fosse um palácio cercado com muros muito<br />

altos onde o povo ficava do lado de fora. E isso então é<br />

significativo um movimento aqui como esse dentro <strong>da</strong> <strong>UFV</strong>,<br />

tão de parabéns.<br />

Nós já em articulação com os movimentos sociais<br />

começamos a repensar o formato <strong>da</strong> Semana do Fazendeiro,<br />

inclusive para trazer para dentro desse espaço aqueles que<br />

não tinham presença aqui na universi<strong>da</strong>de. Nós também<br />

desenvolvemos dentro <strong>da</strong> pró-reitoria de Extensão e Cultura<br />

um trabalho de maior aproximação com os movimentos<br />

sociais, á partir <strong>da</strong> criação <strong>da</strong> Assessoria de Movimentos<br />

Sociais. A avaliação que nós tínhamos até<br />

entrarmos/participarmos <strong>da</strong> administração <strong>da</strong> <strong>UFV</strong> é aquilo<br />

que todos os professores que estão aqui, estu<strong>da</strong>ntes sabem<br />

que o histórico dessa universi<strong>da</strong>de é de uma ótima relação<br />

com as empresas, uma ótima relação com os<br />

empreendedores, mas que não tinha uma aproximação<br />

adequa<strong>da</strong> e o diálogo adequado com os movimentos sociais,<br />

com os trabalhadores e as trabalhadoras. Então nós estamos<br />

recomeçando, iniciando uma nova fase dentro <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Viçosa, que é <strong>da</strong> aproximação com<br />

os movimentos sociais, com os trabalhadores e as<br />

trabalhadoras. Então a Troca de Saberes na Semana do<br />

45


Willer<br />

Marta<br />

Sônia<br />

Marta<br />

Sônia<br />

Kênio<br />

Fazendeiro vem <strong>da</strong>r esse formato, vem <strong>da</strong>r voz a quem não<br />

tinha, vem <strong>da</strong>r presença a quem não estava presente, vem <strong>da</strong>r<br />

espaço a aqueles que realmente precisam <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de<br />

pública.<br />

E é nessa perspectiva que a gente convi<strong>da</strong> os movimentos e<br />

organizações pra conhecerem a nossa dinâmica universitária.<br />

Ao convi<strong>da</strong>r os movimentos e organizações sociais, a gente<br />

constitua um novo patamar de construção do conhecimento<br />

de geração dos saberes. A importância dos movimentos<br />

sociais é para que a gente faça um pouco a inversão dessa<br />

dívi<strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gógica, dessa dívi<strong>da</strong> social que a universi<strong>da</strong>de<br />

brasileira tem com a população desse país.<br />

Ain<strong>da</strong> até hoje ain<strong>da</strong> vejo a dúvi<strong>da</strong> de muitos companheiros<br />

aí que perguntam o que é o MAB? (imagens em off <strong>da</strong><br />

bandeira do MAB) O MAB somos nós trabalhadores né que<br />

quando chega a empresa ou até mesmo antes de chegar as<br />

empresas barrageiras, onde que nós temos que se organizar<br />

né. O MAB hoje somos nós os trabalhadores, as pessoas<br />

comuns, mas somos aquelas pessoas que vivem mexendo.<br />

Eu faço parte <strong>da</strong> Marcha Mundial <strong>da</strong>s Mulheres e também é<br />

pauta <strong>da</strong> marcha tá discutindo isso, de tá levando<br />

reivindicação, de denúncia nessa coisa, porque é uma<br />

situação que traz muito sofrimento pras famílias e<br />

principalmente as mulheres, porque as mulheres na situação<br />

que tem mineração, que tem barragem as mulheres é umas<br />

<strong>da</strong>s que são muito atingi<strong>da</strong>s também, por vários tipos mais de<br />

violência.<br />

E foi quando no ano passado pra nossa surpresa e nem foi<br />

surpresa, pra alguns sim, mas pra nós do movimento não foi,<br />

quando o pessoal dos Direitos Humanos visitou Fumaça e<br />

realmente constata neh Kênio, como ta aí no relatório de<br />

Direitos Humanos que em Fumaça nossos direitos foi<br />

violado. Primeiramente, porque a empresa ela foca quando<br />

vê um militante, ela fala que nóis somos liderança, ela passa<br />

a ameaçar nóis de morte na região, ela coloca pessoas na<br />

comuni<strong>da</strong>de, escolhe pessoas dentro <strong>da</strong> igreja e assim, nóis<br />

somos trabalhador, nóis sabe que nós temos direito, e é<br />

aonde que nóis trabalhadores não podemos ter medo <strong>da</strong>s<br />

grandes empresas.<br />

Agricultoras que viveu a vi<strong>da</strong> to<strong>da</strong> na roça, gosta de tá na<br />

roça, sendo ameaça<strong>da</strong>s de ser expulsa <strong>da</strong> sua terra, de ser<br />

expulsa sem direito a na<strong>da</strong>. Eles falando que indenizam, mas<br />

não indenizam porque a indenização as vezes ela dá um valor<br />

de pagar a terra, mas a gente não é só o valor <strong>da</strong> terra que é<br />

que tem valor pra gente, o valor de tá ali, de tá junto, de ter<br />

uma alimentação saudável, é um lugar onde a gente vive bem<br />

com a família.<br />

To<strong>da</strong>s as pessoas que de alguma forma tiravam o sustento<br />

<strong>da</strong>quela comuni<strong>da</strong>de, hoje também é reconhecido enquanto<br />

46


Lucas<br />

Seu Nenê<br />

Edmar Gadelha<br />

Reinaldo<br />

Edilei<br />

atingido. Mas, nós do movimento temos a ideologia que não<br />

somente essas pessoas que são atingi<strong>da</strong>s, mas as pessoas <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de também são atingi<strong>da</strong>s, por causa do preço <strong>da</strong> luz que é<br />

muita cara.<br />

Sem a organização popular a gente não vai ter as conquistas<br />

que a gente teve esse tempo todo, nessas pequenas<br />

conquistas que a gente teve a nível de Estado. A gente tá<br />

chegando no limite já que a pequena fatia do bolo sobra pro<br />

pobre não vai ter mais, então a gente vai ter que romper com<br />

o modelo latifundiário, o modelo que é predominate no<br />

Brasil desde 1.500. (Imagens em off <strong>da</strong> bandeira do MST)<br />

A reforma agrária foi abandona<strong>da</strong> no Brasil e por isso o lema<br />

do último Congresso do MST foi reforma agrária por justiça<br />

social e por soberania alimentar. Sem justiça social e<br />

soberania alimentar a gente não vai te reforma agrária, a<br />

gente não vai ter um modelo que não seja excludente como é<br />

o do Brasil.<br />

Então nós resolvemos criar o Sindicato dos Trabalhadores<br />

Rurais em 89, já criamos o Sindicato dos Trabalhadores<br />

Rurais com esse perfil, pra que ele lutasse por terra. Então<br />

nós criamos a secretaria dos Sem-Terra dentro do sindicato<br />

quase todos os sindicatos não tem essa secretaria, o nosso<br />

tem, secretaria do Sem-Terra. E o nosso modelo que nós<br />

conseguimos lá é <strong>da</strong>r nome de conquista de terra, porque<br />

terra na ver<strong>da</strong>de a gente acha que ela pode ser vendi<strong>da</strong> e a<br />

terra ela não é compra<strong>da</strong> e nem vendi<strong>da</strong>, ela é conquista<strong>da</strong>,<br />

então nós conquistamos a terra com aju<strong>da</strong> solidária de um<br />

todo.<br />

A sub-secretaria <strong>da</strong> agricultura familiar foi cria<strong>da</strong> agora<br />

recentemente pelo governador e é uma reivindicação<br />

histórica dos movimentos sociais diga-se de passagem. Há<br />

muitos e muitos anos os movimentos, o movimento sindical<br />

principalmente vinha lutando pra ter uma secretaria de<br />

agricultura familiar. Infelizmente não conseguimos a<br />

secretaria, mas conseguimos a sub-secretaria e a luta<br />

continua ai pra gente conseguir uma secretaria a altura <strong>da</strong><br />

agricultura familiar de Minas Gerais.<br />

Temos que rever muita coisa o movimento sindical tem<br />

muitos desafios ain<strong>da</strong>... Mas <strong>da</strong>qui uns anos a avaliação do<br />

seu trabalho, os desafios, os trabalhos, algumas coisas por<br />

necessi<strong>da</strong>de mesmo e outras coisas por opção. Mas a gente<br />

sabe que ain<strong>da</strong> tem muitos problemas sociais, visto o que o<br />

companheiro colocou a questão <strong>da</strong>s águas né, e tem outros<br />

vários, quem milita ai sabe.<br />

A gente tem que aproveitar esses momentos, foram vários<br />

que aconteceu pra sair <strong>da</strong>qui com alguma coisa né Ronaldo,<br />

alguma ação em conjunta, porque os movimentos sociais<br />

estão respirando por canudinho. Mas diz que a situação não<br />

tá tão ruim, que não possa piorar, então piorar mais não tem<br />

47


Willer<br />

Tião Farinha<strong>da</strong> canta<br />

Bloco 2: Agroecologia,<br />

Soberania Alimentar,<br />

Saúde Integral e<br />

Economia Popular<br />

Solidária.<br />

Dadinho<br />

Martín<br />

jeito, isso serve se consolo pra nós. Então a gente vai ficar<br />

muito atento desses fenômenos e vamos tentar construir uma<br />

síntese á partir desses encontros dos movimentos sociais para<br />

que algumas ações a gente possa fazer em conjunto.<br />

Há saberes populares que nós ain<strong>da</strong> estamos invisibilizando,<br />

não <strong>da</strong>ndo inteligibili<strong>da</strong>de pra ele, é essa perspectiva <strong>da</strong>s<br />

organizações e dos movimentos na Troca de Saberes. Não é<br />

possível que a universi<strong>da</strong>de continue de costas pra um<br />

conjunto de saberes dessa população. Então repetindo é<br />

necessário que á partir desses saberes, nós configuremos uma<br />

plataforma de pesquisa onde participativamente as pessoas<br />

vão sendo consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s desde o seu processo de deman<strong>da</strong> até<br />

o seu processo de implementação.<br />

Arroz de praxe e o feijão<br />

Feijão na palha coração cheio de amor (2x)<br />

Peguei na palha gritando a reforma agrária<br />

Porque a luta não pára quando se conquista o chão<br />

Fazendo estudo juntando a companheira<strong>da</strong><br />

Fazendo cooperativa pra avançar na produção<br />

Arroz de praxe e o feijão<br />

Feijão na palha coração cheio de amor<br />

Animação sobre Agroecologia: dois agricultores, um jogando<br />

agrotóxico na terra e outra fala que não pode. Música<br />

Oslodum de Gilberto Gil ao fundo.<br />

Eu penso assim que quando eu quero ser produtor<br />

agroecológico, eu vejo a agroecologia com meu vizinho, com<br />

meu companheiro, eu vejo a agroecologia dentro <strong>da</strong> minha<br />

casa na educação dos filhos, em todos os setor <strong>da</strong> minha<br />

vi<strong>da</strong>. Agroecologia quando você fala do mundo melhor em<br />

uma socie<strong>da</strong>de transforma<strong>da</strong> eu tenho que começar a<br />

transformar dentro de mim. Uma coisa muito importante que<br />

venho analisando desde o inicio <strong>da</strong>s falas que parece que há<br />

um obstáculo dentro do setor político, uma política agrícola<br />

volta<strong>da</strong> para agroecologia, parece que há um impacto aí que<br />

a gente não consegue avançar, parece que é isso que nos<br />

impede. Mas eu começo a analisar dentro <strong>da</strong> gente: o quê que<br />

eu quero? Será que o dinheiro somente? A solução pra nós<br />

no momento? Talvez eu tenho recurso dentro <strong>da</strong> minha<br />

proprie<strong>da</strong>de dentro <strong>da</strong> minha casa e talvez eu não aproveito.<br />

Tem os nossos recursos: praticar a agroecologia. Eu lembro<br />

que o companheiro falou que é difícil, não é difícil, não é, eu<br />

provo. É só você respeitar, ter sabedoria e paciência, esperar<br />

que aquilo vai acontecer. E nós temos o recurso na mão,<br />

temos, porque temos a terra, aqueles pegam na terra, ali tá o<br />

começo <strong>da</strong> agroecologia.<br />

Não, o cara fica lá fica na fé, no coração, na ralação<br />

trabalhando com a terra, porque respeita e se o Estado tivesse<br />

48


Geraldo<br />

Edmar Gadelha<br />

Irene<br />

Lucas<br />

Mariana<br />

Seu Nenê<br />

Hermínio<br />

sensibili<strong>da</strong>de pra olhar pra isso e pra valorizar á partir de<br />

política pública e trabalhando essa questão: meio ambiente e<br />

agricultura juntos.<br />

A comi<strong>da</strong> aqui no Brasil é garanti<strong>da</strong> pela agricultura familiar,<br />

então meu filho se você puder me aju<strong>da</strong>r ai, porque eu já tô<br />

cansado de ser chamado de jeca tatu com essa mixaria por<br />

que não tem dinheiro pra agricultura familiar aí. Obrigado!<br />

Eu acho que umas <strong>da</strong>s questões aqui extremamente<br />

relevantes e com certeza já é um problema que aflige a<br />

agricultura familiar é a forma de execução <strong>da</strong>s políticas<br />

públicas. A gente até consegue fazer um bom diagnóstico <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>de, nós conseguimos definir ações que possam ser<br />

importante, propostas, a formulação do programa <strong>da</strong> política,<br />

mas a execução é um grande desafio e nós não temos<br />

instrumentos ain<strong>da</strong> no Brasil para fazer a execução eficiente<br />

dessas políticas públicas na minha opinião.<br />

Eu queria fazer minha as palavras do Seu Nenê e man<strong>da</strong>r um<br />

recado pro MDA: agroecologia não dá pra esperar, estamos<br />

perdendo vi<strong>da</strong>s, pássaros, borboletas, minhocas, gente, onça<br />

pinta<strong>da</strong>, onça par<strong>da</strong>, lobo guará, estamos perdendo bactérias,<br />

fungos, estamos perdendo vi<strong>da</strong> com essa agricultura<br />

convencional que não respeita o meio ambiente, que usa<br />

agrotóxico, que usa adubo químico sem dó nem pie<strong>da</strong>de, que<br />

corta as matas, estraga o solo e polui as nossas águas.<br />

Ver como algumas campanhas, alguns elementos centrais pra<br />

gente trabalhar, uma campanha que foi lança<strong>da</strong> pela Via<br />

Campesina agora, uma campanha permanente contra o<br />

agrotóxico, uma campanha permanente porque ela só vai<br />

acabar quando acabar o agrotóxico e quando acabar esse<br />

modelo de produção que a gente não concor<strong>da</strong>, o modelo<br />

convencional.<br />

Discutimos que outra coisa que vem contribuir e fortalecer<br />

essa questão <strong>da</strong> saúde, e eliminar ca<strong>da</strong> vez mais o uso do<br />

agrotóxico é a questão <strong>da</strong> diversificação <strong>da</strong> produção, que é<br />

onde a gente coloca que um grande potencial e<br />

fortalecimento disso é agroecologia, porque eu até disse no<br />

grupo que quando a gente vivencia essa questão <strong>da</strong><br />

agroecologia, não é só dizer agroecologia, mas pra viver e<br />

fazer a agroecologia acontecer só consegue á partir do<br />

momento que a gente trabalha a agroecologia com o coração,<br />

com amor e aí tudo passa a ser mais saudável.<br />

Quando eu vejo jogar o Ran<strong>da</strong>p lá na terra, tem técnico<br />

infelizmente formado nessa universi<strong>da</strong>de que costuma falar<br />

que aquilo pode até beber, mas nunca vi ele tomar <strong>da</strong>quele<br />

troço, pra nós é o mesmo que botar fogo na roupa <strong>da</strong> mãe, tá,<br />

é mesma coisa, pega sua mãe e bota fogo na roupa dela é a<br />

mesma coisa de um Ran<strong>da</strong>p lá na terra. É assim que a gente<br />

enxerga as coisas.<br />

Tem uns produtor ai de herbici<strong>da</strong> produzindo agora uns<br />

49


Capítulo Soberania<br />

Alimentar: Pedro<br />

Edmar<br />

Abatiá<br />

Lucas<br />

Início capítulo Saúde<br />

Integral: Ivo<br />

herbici<strong>da</strong> seletivo na nossa região aqui, tá chegando lá no<br />

nosso município: o ci<strong>da</strong>dão planta o milho e usa esse<br />

produto, cabou não precisa de capinar mais não. Cebola,<br />

você planta cebola passa o herbici<strong>da</strong>, cabou não precisa mais<br />

de capinar cebola é só colher, só irrigar e colher. Então isso<br />

aí vai alastrando duma tal maneira que o veneno lá vai<br />

tomando conta, é um inferno. E a ca<strong>da</strong> dia havendo menos<br />

gente na roça pra trabalhar a solução é essa mesmo.<br />

Que a roça é um grande lugar, um ótimo lugar a roça pra se<br />

viver, boas águas, boas quali<strong>da</strong>de de alimento, então se<br />

tivesse o incentivo talvez até alguém <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de iria pra roça<br />

também, mas não só tem discriminação aí acaba tirando a<br />

motivação <strong>da</strong> pessoa.<br />

Trazer para vocês a notícia de que sob a minha ótica, sob o<br />

meu entendimento, hoje no Brasil, hoje em Minas, nós<br />

estamos vivendo um momento que eu acho que é um dos<br />

mais significativos. Eu sou do Instituto Mineiro de<br />

Agropecuária e eu trabalho com certificação, fiscalização de<br />

produtos, é questão de segurança alimentar e que agora passa<br />

a ser tratado sob a perspectiva de inclusão social, de<br />

valorização dos produtos <strong>da</strong> agroecologia, <strong>da</strong> produção<br />

orgânica.<br />

A questão de como é que a gente trabalha a soberania<br />

alimentar dentro desse contexto, sendo que dentro <strong>da</strong>s<br />

próprias escolas estaduais tem resistência de o pessoal aceitar<br />

os nossos alimentos.<br />

Que nem to<strong>da</strong> comi<strong>da</strong> ela é alimento, mas quando se diz<br />

agroecologia, a gente esta aí para <strong>da</strong>r o aval. Está sempre<br />

nessa discussão... comi<strong>da</strong> você acha em todo lugar, agora<br />

alimento são poucos lugares. Quando está dentro do sistema<br />

agroecológico, então quer dizer que a gente pode fazer esse<br />

trabalho de conscientização.<br />

Tentar trazer um pouco do elemento que a gente tem<br />

construído dentro do MST sobre agroecologia, que na<br />

ver<strong>da</strong>de a gente vai trazer um pouco <strong>da</strong> agroecologia a gente<br />

traz muito o debate <strong>da</strong> soberania alimentar. Então trazendo<br />

um pouco dessa questão <strong>da</strong> autonomia e <strong>da</strong> soberania<br />

alimentar, quando a gente fala de autonomia eu prestei muita<br />

atenção quando ouvi o Paulinho de Araponga falando sobre<br />

autonomia, a questão <strong>da</strong> terra. A terra ela traz autonomia,<br />

como que a gente vai ter autonomia senão domina a<br />

produção na terra.<br />

Se falar <strong>da</strong> saúde integral como sendo a saúde <strong>da</strong> terra, a<br />

saúde <strong>da</strong> água, a saúde <strong>da</strong>s plantas, a saúde dos animais.<br />

Uma boa água é também reflexo de uma boa saúde, cui<strong>da</strong>r<br />

<strong>da</strong>s artérias do solo, <strong>da</strong>s artérias <strong>da</strong> terra, cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong>s águas <strong>da</strong><br />

terra passa a ser importante, para que as águas não precisam<br />

ser trata<strong>da</strong>s nesses tratamentos que são feitos na ci<strong>da</strong>de, são<br />

colocados outros ingredientes que não são, como cloro e<br />

50


Edmar<br />

Sara<br />

Mariana<br />

Início capítulo<br />

Economia Popular<br />

Solidária<br />

Márcio<br />

Bin<br />

outras coisas que não são tão boas pra saúde. Uma outra<br />

coisa que se mostrou pra saúde integral é a consciência,<br />

então quanto mais consciência a gente tiver em relação a<br />

esses elementos: o sol, a terra, o ar e a água nos temos mais<br />

indicadores de saúde.<br />

Dentro de saúde integral tem as questões que são culturais.<br />

Por que antigamente as famílias usavam os chás naturais,<br />

resolviam problema e hoje não? Será que é só psicológico?<br />

Que fatores estão por trás disso?<br />

O uso <strong>da</strong> homeopatia: ele era muito mais utilizado do que<br />

hoje, hoje nós temos ai drogas, drogas ai com os remédios, a<br />

pessoa se entope de remédio. A homeopatia é sempre foi<br />

mais utilizado antes, hoje não é tanto.<br />

Quando a gente discutiu essa questão do agrotóxico a gente<br />

colocou muito essa questão <strong>da</strong> saúde <strong>da</strong> família e a gente vê<br />

que dentro <strong>da</strong> família, uma <strong>da</strong>s pessoas que mais sofre com o<br />

uso dos resíduos dos agrotóxicos são as mulheres. As vezes<br />

quantos abortos acontecem, quantas situação de depressão, a<br />

questão de pressão, quantos câncer tem sido diagnosticado ai<br />

causado pelos agrotóxicos.<br />

Bandeira <strong>da</strong> Economia Solidária com música Oslodum de<br />

Gilberto Gil ao fundo.<br />

Economia popular solidária, reconhecimento de que existem<br />

outras formas de economia e de organização do trabalho,<br />

crédito, comercialização que resistem aos padrões<br />

hegemônicos <strong>da</strong> economia capitalista. Na Troca de Saberes,<br />

economia solidária foi um eixo transversal <strong>da</strong>s discussões,<br />

relacionando com cultura, com agroecologia, com gênero.<br />

Por quê que é importante discutir economia solidária quando<br />

se fala de agroecologia? Porque na agroecologia tem a<br />

dimensão econômica que os agricultores estabelecem as<br />

relações econômicas antes inclusive de existir capitalismo.<br />

São outras manifestações de mercado, outras relações de<br />

trabalho, outras relações sociais que envolvem relação de<br />

proximi<strong>da</strong>de entre as pessoas e de confiança nas relações<br />

econômicas que elas estabelecem, tanto a nível comunitário<br />

quanto a níveis mais amplos, como é o exemplo que a gente<br />

tem aqui na Zona <strong>da</strong> Mata <strong>da</strong>s cooperativas de crédito,<br />

cooperativa de produção e associações.<br />

Nós discutimos lá economia popular solidária e ai assim, o<br />

pessoal do Movimento pela Vi<strong>da</strong> passou por lá, falaram que<br />

discutiram na oficina deles a cultivação do alface em estufa e<br />

falaram a importância disso e que tem tudo a ver com<br />

economia popular solidária. Passaram por lá várias<br />

instalações que falaram pra importância <strong>da</strong> economia popular<br />

solidária, o uso <strong>da</strong> medicina alternativa, como se produzir<br />

alimentos saudáveis, maior conscientização nas escolas, no<br />

caso <strong>da</strong> estética e dos produtos pra alimentação que muitos<br />

51


Irene<br />

Dadinho<br />

Irene<br />

Dadinho<br />

Irene<br />

Dadinho<br />

Bin<br />

Márcio<br />

Valdeci<br />

nutricionistas pegam ai a questão dos produtos serem as<br />

vezes pequeno, então isso tudo foi discutido. Discutimos<br />

também a ligação do Código Florestal e Economia Popular<br />

Solidária que ás vezes garra alguma coisa aí e discutimo<br />

também o papel <strong>da</strong>s políticas públicas para o fortalecimento<br />

<strong>da</strong> Economia Popular Solidária que entra aí o PENAE e o<br />

PAA. Discutimo a importância <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de dentro <strong>da</strong><br />

economia popular solidária.<br />

A economia solidária com os animais silvestres, por<br />

exemplo, vender um papagaio pra comprar uma bala?<br />

Eu deixei até um recado com ele: nós vamos pagar caro com<br />

isso, nós vamos pagar caro, o homem vai pagar caro com<br />

isso, porque eu vejo quantos fazem isso diz que é solidário.<br />

Talvez até aju<strong>da</strong> o outro, dá uma cesta ou até um boi o outro,<br />

mas elimina a natureza. Eu vejo que nóis precisa melhorar<br />

demais, muito. Tem gente fazendo? Tem, tem, tem muita<br />

coisa boa já pratica<strong>da</strong>.<br />

Por exemplo, quando você planta uma banana e deixa pros<br />

animais comerem lá, penduradinha lá, que eu conheço a<br />

proprie<strong>da</strong>de dele ele pendura o cacho de banana pros animais<br />

silvestres comerem. Isso é ser solidário?<br />

Sim, sim é solidário.<br />

Então soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de não é só com a gente não?<br />

Não, não é só comigo não. Não é só eu <strong>da</strong>r a luz, a água meu<br />

vizinho não. É esperar ele também, porque se eu fosse brigar<br />

com ele tinha arrumado um inimigo, queria que ele sesse<br />

solidário comigo obrigado, é soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de também.<br />

Discutimos também a importância dos animais, temos que<br />

ser solidários com os animais, com os seres que estão ao<br />

nosso redor, senão a gente não tá vivendo aí a economia<br />

popular solidária.<br />

Então falar de Economia Solidária é valorizar essas outras<br />

manifestações econômicas que ocorrem nos meios populares.<br />

E a gente no nosso município, muitas vezes a gente acha que<br />

a gente tá pautando muita coisa, mas tem município que não<br />

tem nem aquilo que a gente tem. E essa troca de saberes tem<br />

um papel muito importante de sair <strong>da</strong>qui com propostas<br />

concretas para que isso aconteça nos municípios. Hoje a<br />

questão do CONAB e o PENAE virou mo<strong>da</strong>. Virou mo<strong>da</strong><br />

por quê? Porque realmente isso faz a Economia Popular<br />

Solidária acontecer, porque o recurso chega lá na ponta, para<br />

quem realmente precisa. E quem tá mais organizado em<br />

associações, cooperativas, consegue assimilar isso melhor e<br />

fazer isso acontecer no dia a dia. E aí eu acho que o<br />

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de ca<strong>da</strong> município desse<br />

tem um papel muito importante para fazer essas políticas<br />

públicas acontecer, porque precisa de estrutura, precisa de<br />

pessoas e capacitar também essas pessoas, buscar parceria<br />

para que essa Economia Popular Solidária aconteça.<br />

52


Elza Ilza<br />

Valdeci<br />

Bloco 3: Gênero,<br />

Educação do Campo e<br />

Cultura Popular<br />

Beth<br />

Mariana<br />

Elza Ilza<br />

Marta<br />

Nós mulheres, enquanto mulheres, vivenciamos isto,<br />

fazemos isto, nessa troca de mercadoria, até no panhar<br />

emprestado com a vizinha e muitas vezes a gente não<br />

reconhece isso, não vê isso como economia solidária. A troca<br />

de produtos... não tenho dinheiro para comprar um produto,<br />

ou que seja um doce etc que eu não sei fazer, mas a outra<br />

sabe fazer outro tipo de doce. Para que comprar? a gente<br />

troca! Isso também é uma economia solidária. E dentro desse<br />

processo, na economia solidária, o processo agroecológico,<br />

nós mulheres temos uma forma de produzir não pensando de<br />

fato, em primeiro lugar, o comércio em si, mas sim a<br />

quali<strong>da</strong>de dos arredores: de ter isso no fundo do quintal, o<br />

cui<strong>da</strong>do com o quintal. Isso é economia solidária. Então é<br />

uma forma de estar pensando, em primeiro lugar, essa<br />

quali<strong>da</strong>de.<br />

E também aqui, né, pelas instalações, o que deu para<br />

perceber que liga isso de economia solidária; ou isso não tem<br />

na<strong>da</strong> a ver e nós estamos ficando doido de armar uma ten<strong>da</strong><br />

numa universi<strong>da</strong>de federal e ficar aqui, numa época de<br />

colheita, uma época aperta<strong>da</strong>, ficar aqui 3, 4 dias discutindo<br />

isso. Ou nós somos doidos ou nós estamos certos mesmo.<br />

Animação <strong>da</strong> mãe levando filho a escola e indo trabalhar.<br />

Música Oslodum de Gilberto Gil ao fundo.<br />

A gente trabalha com gênero né e trabalha principalmente<br />

fortalecendo o trabalho <strong>da</strong>s mulheres, até porque assim já<br />

existe uma coisa na socie<strong>da</strong>de que é meio que <strong>da</strong>do isso, que<br />

as pessoas acham que isso é natural quando não é né, ele é<br />

construído socialmente que tem assim, homens e mulheres<br />

com papéis diferenciados, sendo que os papéis que as<br />

mulheres cumprem ele tem menos importância, ele tem<br />

menos valor que o dos homens né.<br />

Nós discutimos a questão de gênero no nosso grupo né e a<br />

primeira pergunta que surgiu lá foi o que é gênero? E ai a<br />

gente definindo diferenças entre homens e mulheres, na<br />

discussão a gente vê que a única diferença ela é biológica,<br />

porque socialmente dizendo não há diferença, na ver<strong>da</strong>de a<br />

gente aprende a conviver com essa diferença, mas<br />

caminhando junto, sabendo que não tem isso é de mulher e<br />

isso é de homem.<br />

E agroecologia vem contribuindo também pra essas mulheres<br />

perceberem essa relação de gênero mulher e homem<br />

percebam que a questão doméstica não é só afazeres pra<br />

mulher, é o conjunto, por isso que fala conjunto <strong>da</strong><br />

agricultura familiar, se é conjunto <strong>da</strong> agricultura familiar ali<br />

está o homem, está a mulher, está os filhos nesse conjunto.<br />

Nós vimos que trabalhar a consciência <strong>da</strong> nossa família,<br />

dentro <strong>da</strong> agroecologia, é o que mais está nos instigando, nos<br />

levando a ter mais essa consciência, porque nós é quem sabe<br />

53


Beth<br />

Margari<strong>da</strong><br />

Mariana<br />

Lucas<br />

Beth<br />

o que o nosso menino come. É nessa questão de que nós<br />

mulheres é quem sabe. Porque nós é que sabe o dia em que o<br />

feijão tá pouco; é nós mulheres é que sabe quando a coberta<br />

tá fina e que tem um que está lá sem descobrir; nós é que<br />

sabe que o chinelo do outro arrebentou; é nós que sabe tudo.<br />

Então, se nós é que sabe tudo, é nós quem tem que man<strong>da</strong>r<br />

no trem.<br />

E aí na agricultura familiar é onde a gente vê isso se<br />

expressando mais claramente, porque se confunde um pouco<br />

o que que é o trabalho doméstico, o trabalho dito reprodutivo<br />

com o trabalho produtivo, aquele que gera ren<strong>da</strong>, que gera o<br />

dinheiro pras famílias né? Então existe uma certa confusão<br />

entre esses papéis, porque na agricultura familiar o espaço do<br />

quintal e <strong>da</strong> casa também são espaços produtivos né, não são<br />

espaços só dos trabalhos domésticos e tal. E isso nem sempre<br />

é visível.<br />

Na valorização do trabalho invisível <strong>da</strong> mulher, como já foi<br />

falado por outro grupo; esse trabalho que garante a economia<br />

<strong>da</strong> família, que é o trabalho invisível dos quintais, que<br />

realmente tem-se soberania alimentar e que esse trabalho não<br />

é aparecido, ele é invisível. Então ali que a gente vai se, que<br />

aparece na nossa vi<strong>da</strong>. E no poder de decisão e autonomia<br />

<strong>da</strong>s mulheres, porque ela não pode ser só aquela pessoa que<br />

está ali, „mais um‟; mas que tem que participar e tem que ter<br />

poder de decisão também.<br />

A mulher tem gerado ren<strong>da</strong> dentro de casa e antes <strong>da</strong> ren<strong>da</strong><br />

ela tem gerado a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e isso gera saúde, porque<br />

a mulher se potencializa, a alta estima dela vai lá em cima,<br />

sabe que além de pensar na criação do filho, na educação do<br />

filho ela também tá contribuindo financeiramente e isso<br />

muito assim nos orgulha e faz com que a gente ca<strong>da</strong> vez mais<br />

se doa nesse sentido.<br />

A produção no campo é a produção <strong>da</strong> família. Se a gente<br />

não traz essa autonomia também pra mulher, pra ela<br />

produzir, pra ela ter seu ganha-pão e ter de onde tira o<br />

alimento, enquanto a gente não conseguir isso vai continuar<br />

acontecendo <strong>da</strong> mulher, até reproduzir e de nós<br />

reproduzirmos de que a mulher não produz na<strong>da</strong>, que ela não<br />

traz na<strong>da</strong> de bom, sendo que na ver<strong>da</strong>de, a mulher sempre tá<br />

ali no dia-a-dia trazendo muito equilíbrio, muita produção<br />

pra casa.<br />

Então assim, as mulheres elas lutam muito pra conseguir<br />

expressar o valor do trabalho delas e que ele seja<br />

reconhecido. E dentro <strong>da</strong> Troca de Saberes é fun<strong>da</strong>mental a<br />

gente manter esse espaço, um espaço <strong>da</strong>s mulheres e o<br />

espaço, e e e e, não é só a gente pensar nos eventos: ah, tem<br />

um espaço pras mulheres e o resto do evento os homens<br />

conduzem, acho que a gente tem que, por uma questão de<br />

democracia, a gente tem que garantir que as mulheres<br />

54


Mariana<br />

Elza Ilza<br />

Beth<br />

Capítulo sobre<br />

Educação no Campo.<br />

Rosânia<br />

Gilmar<br />

estejam presentes em todos os espaços. Então na construção<br />

já <strong>da</strong> Troca de Saberes a gente tá lá o tempo todo preocupado<br />

com isso.<br />

Acho que em to<strong>da</strong> convivência, todo relacionamento tem<br />

uma palavrinha que é muito mágica né, que é o respeito né?<br />

A partir do momento que a gente se respeita e respeita o<br />

outro você dá oportuni<strong>da</strong>de de se conhecer. Eu acho que<br />

muitas vezes o que falta dessa relação homem e a mulher é<br />

um respeitar o direito e deveres de ca<strong>da</strong> um.<br />

Então quando ela fala assim, essa questão do respeito, essa é<br />

até uma questão muito forte, essa relação do poder, por mais<br />

que essa mulher não está inseri<strong>da</strong> nessa discussão, nesse<br />

conjunto <strong>da</strong> agricultura familiar, mas ela tem aquilo como o<br />

espaço dela de poder.<br />

A gente tem aí, uma socie<strong>da</strong>de que é desigual né, a gente<br />

percebe isso né, a socie<strong>da</strong>de patriarcal, extremamente<br />

machista, onde as mulheres não têm as mesmas<br />

oportuni<strong>da</strong>des que os homens né. Então se a gente tá<br />

construindo um espaço de construção do conhecimento e<br />

esse espaço ele é diferenciado, a gente tá querendo fazer algo<br />

revolucionário, então assim, o mais democrático possível é<br />

importante que a gente esteja preocupado com as inserção<br />

<strong>da</strong>s mulheres nesses espaços. Então quando a gente faz uma<br />

abor<strong>da</strong>gem de gênero num espaço como o Troca de Saberes<br />

qual é a intencionali<strong>da</strong>de disso? É garantir espaços de poder<br />

iguais para homens e mulheres.<br />

Tião Farinha<strong>da</strong> e Gilmar cantam:<br />

Não vou sair do campo pra poder ir pra escola<br />

Educação no Campo é direito e não esmola<br />

O povo agricultor, o homem e a mulher<br />

O negro quilombola com seu canto de afoxé<br />

de cunha caeté, castanheira e seringueira<br />

pescadores e você, e com certeza estão de pé.<br />

Não vou sair do campo pra poder ir pra escola<br />

Educação no Campo é direito e não esmola.<br />

Se houver educação e não houver transformação também aí<br />

não funciona. Então a educação para nós é levar em conta o<br />

ser humano, a pessoa. E quando a gente fala <strong>da</strong> prática e<br />

teoria de uma escola, que a gente quer mu<strong>da</strong>r, a gente fala de<br />

modelo de educação, porque pra mim o problema está em<br />

todo o sistema de educação, tem muita coisa para melhorar e<br />

ser adequa<strong>da</strong> à reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s pessoas e onde ela está inseri<strong>da</strong>.<br />

Eu acho que a educação do campo vem como uma forma,<br />

como um exemplo de mu<strong>da</strong>nça.<br />

Ca<strong>da</strong> Escola Família Agrícola, ela surge a partir de uma<br />

necessi<strong>da</strong>de de uma comuni<strong>da</strong>de, <strong>da</strong>s famílias, <strong>da</strong>s enti<strong>da</strong>des<br />

<strong>da</strong>quela região. A partir <strong>da</strong>í eles percebem a necessi<strong>da</strong>de de,<br />

além de discutir a terra, a água, a produção, é importante<br />

também discutir a educação.<br />

55


Lucas<br />

Rosânia<br />

Natália<br />

Aluna EFA<br />

Sara<br />

Carolina<br />

Rosânia<br />

Acho que a educação do campo tem a importância primordial<br />

quando a gente vai falar em dominar o conhecimento,<br />

quando a gente vai falar em uma educação que mantenha a<br />

pessoa no campo, que mantenha o agricultor no campo e o<br />

jovem.<br />

A missão <strong>da</strong>s EFA‟s ser instrumento para propagandear a<br />

agroecologia, é de tá trabalhando isso mesmo, mostrar os<br />

princípios básicos e fazer com que essa juventude enten<strong>da</strong> o<br />

que realmente quer dizer agroecologia, aprender a fazer<br />

agroecologia e tá propagandeando esse instrumento.<br />

Entrando também na questão <strong>da</strong> educação do campo, eu acho<br />

que é a tentativa, de como foi dito: Não é a gente ficar aqui<br />

cultuando eternamente o passado, mas é de resgatar esse<br />

conhecimento e valorizar. Informação tem sim, o agricultor<br />

familiar, tem sim o estu<strong>da</strong>nte, tem sim o professor, mas<br />

porque ela tá sendo <strong>da</strong><strong>da</strong> pra gente? Pra que? Pra gente<br />

trabalhar para os latifundiários? Pra esse pessoal que man<strong>da</strong><br />

a gente jogar agrotóxico?<br />

Eu fui lá pra EFA, porque a escola estadual não tava batendo<br />

com minha reali<strong>da</strong>de, porque eu sou filha de agricultor<br />

familiar. E assim o que eu via lá na escola estadual não batia<br />

com a reali<strong>da</strong>de, porque eu queria tipo continuar no campo<br />

aju<strong>da</strong>ndo meus pais e eles... Primeiro o preconceito que<br />

existe que é muito grande com qualquer pessoa, até que<br />

comigo não foi tanto, porque eu moro na ci<strong>da</strong>de mesmo. Mas<br />

quem vem <strong>da</strong> zona rural estu<strong>da</strong>r lá é muito ruim e é mais<br />

engraçado ain<strong>da</strong> quando você fala: eu quero estu<strong>da</strong>r na EFA.<br />

Aí fala: você vai estu<strong>da</strong>r lá? Você vai pra roça aprender a<br />

capinar? Tá bom, você aprende a capinar, você aprende a<br />

trabalhar na roça, mas você aprende muito mais com a<br />

convivência. Tanto que to<strong>da</strong>s as matérias que você aprende<br />

na Estadual, você aprende na Escola Família Agrícola.<br />

A educação do campo está volta<strong>da</strong> para o estudo do meio<br />

ambiente, <strong>da</strong> atmosfera, tá volta<strong>da</strong> também para a cultura do<br />

campo, para as pessoas do campo. A educação do campo<br />

ensina a plantar, ensina formas de cui<strong>da</strong>r do alimento como<br />

que não se utiliza química; assim a alimentação fica bem<br />

melhor.<br />

Imagem em off do cartaz “Fechar escola é crime”. O<br />

movimento tai com o cartaz “Fechar escola é crime” eu to<br />

procurando um cartaz nosso aqui e é isso que a Zil<strong>da</strong> trouxe.<br />

Lá tinha uma escola muito boa há muitos anos atrás, que<br />

atendia quando o movimento nem tava lá, fecharam a escola<br />

e agora o movimento tem três áreas próximas que tem<br />

condições de abrir escola e a luta é essa, porque o Estado<br />

vem no processo de fechar escola, pra ca<strong>da</strong> uma que o<br />

Governo Federal abre os Estados fecham dez.<br />

E aqui nós temos jovens <strong>da</strong> zona rural, mas também <strong>da</strong> zona<br />

urbana, que está lá nas escolas agrícolas, <strong>da</strong> educação do<br />

56


Capítulo Cultura<br />

Popular<br />

Guilherme (Padeiro)<br />

Apresentação <strong>da</strong> Folia<br />

de Reis do Estouro-<br />

Araponga<br />

Rafaela<br />

Tião Farinha<strong>da</strong><br />

Márcio<br />

campo. E aí eu lanço para eles uma pergunta: entre as nossas<br />

dificul<strong>da</strong>des enfrenta<strong>da</strong>s e o modelo convencional, se eles<br />

gostariam de ficar com a gente ou de voltar para uma escola<br />

convencional? Porque a gente consegue ver com eles lá, a<br />

olhos vistos, apesar <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des, as transformações que<br />

esses jovens fazem durante esse processo de formação e que<br />

aí, pra mim, a educação pega a agroecologia, cultura e todo o<br />

contexto do meio ambiente. Não existe educação sem<br />

transformação, e nem transformação sem educação. E é isso<br />

que eu queria deixar aqui.<br />

Cantoria<br />

Não vou sair do campo pra poder ir pra escola<br />

Educação no campo é direito e não esmola.<br />

Imagens em off <strong>da</strong> bandeira <strong>da</strong> EFA.<br />

Thyaga: Bom dia para vocês e agradecer a oportuni<strong>da</strong>de de<br />

estarmos aqui, nesse momento e a gente vai fazer uma<br />

brincadeira, liga<strong>da</strong> a tantos movimentos indígenas e também<br />

de várias culturas de pessoas que se unem em volta de uma<br />

ro<strong>da</strong> e também as crianças nas suas brincadeiras de ro<strong>da</strong>, nos<br />

seus cancioneiros populares.<br />

Adê e Thyaga cantam<br />

Nossas mãos estão liga<strong>da</strong>s carregando a cultura, a amizade e<br />

alegria<br />

Gira Girô, nossa ro<strong>da</strong> já chegou (4x)<br />

Fazer um pouco do relato de como surgiu essa idéia de ter<br />

uma instalação de cultura. Quando a gente veio desde o ano<br />

passado, no primeiro Troca de Saberes, com o ciclo de<br />

cultura, a gente trouxe pro círculo mestres <strong>da</strong> cultura, artistas<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> região; pessoas que estavam envolvi<strong>da</strong>s com a<br />

arte, com a cultura.<br />

Música instrumental.<br />

O que eu vivi é minha tradição, o que minha mãe viveu que<br />

eu aprendi é isso assim <strong>da</strong> gente pensar que cultura primeiro<br />

é na gente assim, a gente tem muita coisa dentro <strong>da</strong> gente que<br />

vem pra gente não perder nossa própria identi<strong>da</strong>de, não<br />

esquecer <strong>da</strong>s nossas memórias, ancestrais, vô, vó, <strong>da</strong> onde a<br />

gente veio, tá na gente, como que a gente aprendeu, que que<br />

a gente come, não tá distante, não tá em lugar pago, não tá<br />

em clube, não tá na escola apenas, tá na gente primeiro.<br />

Esse espaço nosso aqui é exatamente pra fomentar isso na<br />

gente, provocar. E o mais importante é a gente entender que<br />

nós somos um ser cultural, nós somos um ser cultural, o que<br />

nós temos nos pertence, foi nos <strong>da</strong>do her<strong>da</strong>do de família.<br />

A gente trazer isso pra dentro <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de é importante,<br />

aí trago tá aqui o Sebastião Farinha<strong>da</strong>, é um agente cultural,<br />

ele não tem diploma superior pra trabalhar com isso, agora<br />

olha o trabalho que é feito em Espera Feliz nas comuni<strong>da</strong>des.<br />

57


Tião Farinha<strong>da</strong><br />

Tião Farinha<strong>da</strong> canta<br />

Gilmar<br />

Tião Farinha<strong>da</strong><br />

Mestre Boi<br />

Apresentação Congado<br />

de Airões na Troca de<br />

Saberes.<br />

Mãe Dú<br />

Tião Farinha<strong>da</strong><br />

O meu trabalho é desenvolvido em parceria com o<br />

movimento social, com o sindicato, com as cooperativas. E o<br />

movimento percebeu, no decorrer <strong>da</strong> história, a gente<br />

começou a bancar isso também, dentro <strong>da</strong>s agen<strong>da</strong>s de luta<br />

que não dá para trabalhar a organização do povo sem<br />

trabalhar a cultura, sem trabalhar a arte. Então eu faço esse<br />

trabalho. To<strong>da</strong> a nossa pauta de luta a gente prioriza trabalhar<br />

a cultura, o resgate <strong>da</strong> cultura, criar espaços e eventos para as<br />

pessoas se apresentarem e acompanhar, também, as<br />

manifestações culturais que existem no município.<br />

Peneirei fubá, fubá caiu<br />

Eu tornei peneirar, fubá subiu<br />

Ai, ai, ai a nossa vez chegou<br />

Ai, ai, ai que não te tem amor<br />

Nós temos que potencializar isso que esse povo tá fazendo,<br />

potencializar folias, congados, os clubes, o povo que trabalha<br />

com artesanato, o povo que trabalha com as barracas na<br />

festa, o povo que canta as músicas regionais.<br />

Esse espaço que a gente vem construindo ia ser muito<br />

importante para a gente fazer o debate, porque assim eu<br />

acredito muito que a cultura é um elemento muito importante<br />

pra transformação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. E ele tem que ser pros<br />

grupos culturais também bandeira política.<br />

Há uns anos atrás estava muito desligado o povo <strong>da</strong> roça com<br />

o povo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Com o pequeno conhecimento, hoje, pela<br />

terceira vez já desse encontro, alguém já tem conhecimento<br />

do sofrimento do indivíduo <strong>da</strong> roça né. E é muito bom esse<br />

Troca de Saberes, eu venho aqui e eu estou ouvindo vocês,<br />

vocês também estão ouvindo o meu sofrimento e tem que ver<br />

(entra imagem em off <strong>da</strong> apresentação do Congado de<br />

Airões) os 'gravata' para eles observar o que pode fazer,<br />

porque de papel todo mundo já está cheio de papel e a prática<br />

não vê na<strong>da</strong>.<br />

Música do Congado.<br />

Cultura é solução nos nossos ancestrais. Que todo mundo<br />

aqui, a maioria, é descendente de africano. Mesmo quem não<br />

for brasileiro e de outros países também tem descendência<br />

africana. Então isso aí é cultura. O que é nosso está ficando<br />

para trás e as coisas novatas estão entrando. Então, quer<br />

dizer, a gente está aceitando mais as culturas dos outros<br />

países e esquecemos <strong>da</strong> nossa.<br />

O mestre griô são essas personali<strong>da</strong>des que a gente encontra<br />

nas comuni<strong>da</strong>des e que têm o conhecimento popular. São<br />

pessoas que não têm conhecimento acadêmico mas a sua<br />

sabedoria vem sendo repassa<strong>da</strong> de tradição a tradição, são<br />

esses o mestre griô. É um dialeto <strong>da</strong> cultura popular mesmo,<br />

indígena e africana.<br />

58


Apresentação Grupo<br />

Gengibre- Rafaela<br />

Grupioni e Aline<br />

Villaça.<br />

Aline Villaça recita<br />

uma poesia<br />

Continua áudio Aline<br />

recitando poesia.<br />

Apresentação realiza<strong>da</strong> no último dia <strong>da</strong> Troca de Saberes,<br />

quarta-feira.<br />

Queria ter <strong>da</strong> flor a essência para perfumar o campo e ci<strong>da</strong>de,<br />

queria ter a capaci<strong>da</strong>de de germinar <strong>da</strong> semente para<br />

alimentar a fome do povo para não deixar que existam<br />

indigentes (volta imagens em off <strong>da</strong> apresentação <strong>da</strong> Aline e<br />

Rafaela) , queria ter <strong>da</strong> flor a essência para perfumar campo<br />

e ci<strong>da</strong>de, acreditando que somos flor e semente. Flores que<br />

perfumam a vi<strong>da</strong> e sementes que alimentam sonhos, queria<br />

ter <strong>da</strong> flor a essência para perfumar campo e ci<strong>da</strong>de, queria<br />

ter a capaci<strong>da</strong>de de germinar <strong>da</strong> semente para alimentar a<br />

fome do povo para não deixar que existam indigentes,<br />

acreditando que somos flor e semente. Flores que perfumam<br />

a vi<strong>da</strong> e sementes que alimentam sonhos, queria ter <strong>da</strong> flor a<br />

essência para perfumar campo e ci<strong>da</strong>de, com seu perfume<br />

aniquilar os odores <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de. Queria ter a capaci<strong>da</strong>de<br />

de germinar <strong>da</strong> semente para alimentar a fome do povo e não<br />

deixar que existam indigentes, acreditando que somos flor e<br />

semente, flores que perfumam a vi<strong>da</strong> e sementes que<br />

alimentam sonhos.<br />

Créditos finais.<br />

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