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Matéria Matéria Técnica<br />
24<br />
A atual evolução da população<br />
humana t<strong>em</strong> mostrado que, <strong>em</strong> um<br />
futuro próximo, haverá uma crise<br />
extr<strong>em</strong>amente acentuada <strong>em</strong> conseqüência<br />
da degradação e destruição<br />
dos recursos naturais que são a<br />
base da sustentabilidade de seu sist<strong>em</strong>a<br />
produtivo.<br />
Assim, é cada vez mais necessário<br />
falar-se de meio ambiente e portanto,<br />
<strong>em</strong> novas formas de atuação no<br />
que se refere aos aspectos<br />
econômicos e <strong>em</strong>presariais por<br />
meio de um eficaz sist<strong>em</strong>a de<br />
gerenciamento ecológico.<br />
Nos últimos anos t<strong>em</strong>-se notado um<br />
crescente interesse por matériasprimas<br />
renováveis. As causas <strong>para</strong><br />
tal interesse são:<br />
• a limitação dos recursos naturais;<br />
• os processos da engenharia<br />
genética, aperfeiçoando cada vez<br />
mais as plantas, direcionando assim<br />
a produção de produtos;<br />
• a exploração de novas fontes de<br />
rendimentos <strong>para</strong> a população do<br />
campo além da produção de alimentos.<br />
Os países do H<strong>em</strong>isfério Norte,<br />
preocupados com a crescente<br />
produção de lixos não recicláveis e<br />
não biodegradáveis, v<strong>em</strong> adotando<br />
uma política de taxa sobre produtos<br />
que ger<strong>em</strong> resíduos de difícil<br />
degradação, promovendo incentivo<br />
aos produtos de origens renováveis,<br />
biodegradáveis e recicláveis. Em<br />
nível de Brasil, o governo federal vai<br />
lançar ainda este ano um programa<br />
<strong>para</strong> incentivar a reciclag<strong>em</strong> de resíduos,<br />
reduzindo a carga tributária<br />
dos reciclados, criando linhas de<br />
crédito específicas e fomentando<br />
cooperativas de catadores de lixo.<br />
Desta forma, a pesquisa visa oferecer<br />
a esse mercado uma alternativa<br />
<strong>para</strong> o aproveitamento de resíduos<br />
<strong>em</strong> um novo produto, o "Elastômero<br />
com Resíduo de Fibra de Coco<br />
Aglomerada com Látex Natural da<br />
Amazônia" utilizado <strong>para</strong> a produção de<br />
encosto <strong>para</strong> a cabeça <strong>em</strong> automóveis<br />
da Mercedes Benz do Brasil.<br />
I. CONSIDERAÇÕES GERAIS<br />
SOBRE FIBRAS VEGETAIS<br />
A importância das fibras vegetais<br />
é antiga, sua utilização r<strong>em</strong>onta<br />
ao hom<strong>em</strong> primitivo, das quais<br />
muitas das fibras comercializadas<br />
atualmente já eram utilizadas<br />
comercialmente pelo hom<strong>em</strong> há<br />
3 mil anos A.C., na Europa e no<br />
Egito, como por ex<strong>em</strong>plo o linho,<br />
assim como, o cânhamo e o rami,<br />
na China. Desta forma, pode-se<br />
atribuir ao desenvolvimento da<br />
utilização industrial das fibras vegetais<br />
pelo hom<strong>em</strong> através dos<br />
t<strong>em</strong>pos, uma relação cronológica<br />
como o progresso da civilização.<br />
A produção de fibras vegetais ocupa<br />
ainda um papel relevante na economia<br />
agrícola mundial, mesmo com a<br />
intensa produção de fibras sintéticas.<br />
Matérias primas de origens<br />
renováveis, recicláveis e biodegradáveis,<br />
apontam como uma<br />
das alternativas <strong>para</strong> a produção<br />
de manufaturados ecologicamente<br />
corretos, <strong>em</strong> conseqüência do acúmulo<br />
nos descartes de materiais não<br />
biodegradáveis, os quais tend<strong>em</strong> a<br />
aumentar com o crescimento populacional<br />
nos centros urbanos.<br />
A substituição de materiais derivados<br />
do petróleo (negro de fumo, borracha)<br />
na produção de compostos<br />
elastoméricos por matéria-prima<br />
renovável, v<strong>em</strong> de encontro à<br />
estes ideais.<br />
As fibras sintéticas destacam-se<br />
pela elevada resistência, baixas<br />
densidades e elevada produção.<br />
Entretanto as fibra animais e vegetais<br />
são as de maior importância,<br />
principalmente <strong>para</strong> atender os<br />
apelos ecológicos e pelo número<br />
de plantas e animais produtores<br />
de fibras.<br />
As plantas produtoras de fibras<br />
utilizáveis foram quantificadas por<br />
vários autores e <strong>em</strong> diferentes<br />
épocas, sendo enumerado 2 mil<br />
plantas fibrosas e estimado o seu<br />
total <strong>em</strong> 2.300 (SCHILLING apud<br />
MEDINA, 1959), destacando-se as<br />
florestas tropicais que encerra recursos<br />
inesgotáveis <strong>em</strong> potencial.<br />
Entretanto, pouco explorado até o<br />
presente, devendo-se a isto as<br />
seguintes causas:<br />
1. desconhecimento das exigências<br />
e o comportamento das plantas<br />
quando introduzidas <strong>em</strong> cultivo;<br />
2. falta de melhorias nos processos<br />
de obtenção e beneficiamento<br />
das fibras;<br />
3. falta de incentivos à pesquisa e<br />
desenvolvimento de tecnologias<br />
apropriadas as outras plantas<br />
fibrosas, além das já existentes<br />
no mercado;<br />
4. descontinuidade de oferta<br />
comercial do produtor,<br />
consequent<strong>em</strong>ente, incapacidade<br />
de estabelecer uma tradição<br />
no mercado;<br />
5. falta de melhoramento genético<br />
das plantas <strong>em</strong> cultivo.<br />
Exist<strong>em</strong> diversos tipos de fibra<br />
natural porém, segundo Eberhard<br />
De acordo com os dados obtidos<br />
com Karan-carpets da Índia<br />
(http://karan-carpets.com/coir.htm),<br />
a composição química da fibra de<br />
coco <strong>em</strong> questão é a seguinte:<br />
- celulose 43,44%<br />
- lignina 45,84%<br />
- solúveis <strong>em</strong> água 5,25%<br />
- pectina 3,00%<br />
- resíduo mineral 2,22%<br />
- h<strong>em</strong>icelulose 0,25%<br />
Kübler, do centro de pesquisa da<br />
Daimler-Benz, as vegetais são mais<br />
adequadas <strong>para</strong> aplicações técnicas.<br />
A fibra de coco utilizada provém<br />
do coco tipo Cocos nucifera, CK<br />
segundo a simbologia da ABNT.<br />
Essas fibras são constituídas<br />
basicamente de polissacarídeos,<br />
como a celulose que é um polímero<br />
linear constituído de unidades<br />
D-glicopiranosídios ligados de modo<br />
1:4 por ligações b-glicosídicas<br />
(figura 1), h<strong>em</strong>icelulose que são<br />
grupo de pentoses D-Xilose e<br />
L-arabinose, de hexoses D-glucose,<br />
D-galactose, D-manose e ácido<br />
4-O-metilglucurônico, sendo estes<br />
não cristalinos, bastante ramificados,<br />
mas com menor grau<br />
de polimerização que a celulose,<br />
lignina que são compostos<br />
derivados de álcoois aromáticos<br />
(ROWELL, 1990), e de pectinas<br />
polissacarídeos ácidos, de peso<br />
molecular elevado, tendo como<br />
constituinte básico o ácido (a-Dgalacturônico,<br />
polimerizado <strong>em</strong><br />
moléculas lineares ligadas entre si<br />
pelos carbonos 1 e 4.<br />
Fibras vegetais são todas as células<br />
esclerenquimatosas de forma<br />
tipicamente prosenquimatosa, isto é,<br />
de comprimento igual a muitas vezes<br />
a largura. Dessa forma, de um ponto<br />
de vista estritamente histológico, o<br />
termo fibra t<strong>em</strong> sido usado <strong>para</strong> designar<br />
uma grande variedade de tipos<br />
de células que se caracterizam pela<br />
forma alongada, parede secundária<br />
espessa e regular ocorrência de pontuações<br />
(MEDINA, 1959). Entretanto,<br />
<strong>em</strong> relação aos termos <strong>em</strong>pregados<br />
no comércio verifica-se que existe um<br />
sentido muito vago, seja <strong>para</strong> indicar<br />
pêlos unicelulares, como o algodão,<br />
ou feixes de tecidos multisseculares,<br />
constatando-se que no campo<br />
comercial o termo fibras não<br />
apresenta usualmente o significado<br />
botânico estrito de células individuais<br />
de certa categoria de esclerenquima.<br />
II PROCESSAMENTO DA<br />
FIBRA E OBTENÇÃO<br />
DOS ENCOSTOS<br />
Para a produção destes encostos,<br />
as fibras de coco são: 1º)<br />
trançadas <strong>em</strong> cordas de espessura<br />
de um braço; 2º) entumecidas<br />
com água e trabalhada <strong>em</strong> moinho<br />
de martelos <strong>para</strong> retirar os<br />
solúveis (lignina, solúveis <strong>em</strong><br />
água); 3º) enovela-se a fibra<br />
submantendo-a a uma torção<br />
(foto 1); 4º) coloca-se esse "novelo"<br />
<strong>em</strong> uma autoclave onde a<br />
fibra vai adquirir uma "m<strong>em</strong>ória<br />
elástica"; 5º) a fibra é pulverizada<br />
com uma composição de látex; 6º)<br />
prensada e por fim vulcanizada<br />
<strong>em</strong> estufa. A rebarba obtida<br />
(foto 2) é descartada como resíduo<br />
sendo por isso o objetivo do<br />
estudo.<br />
No momento <strong>em</strong> que os veios de<br />
fibra de coco são impregnados<br />
com látex através de uma pistola<br />
que pulveriza a fibra, parte deste é<br />
desperdiçado junto com a fibra de<br />
coco. Esse material, rico <strong>em</strong> látex<br />
natural é também o objetivo do<br />
estudo.<br />
Foto1: manta de fibra de coco <strong>para</strong><br />
montag<strong>em</strong> de "apoio de cabeça"<br />
<strong>para</strong> veículos da Mercedes Benz<br />
Foto 2. Acabamento final de<br />
"apoios de cabeça" <strong>para</strong> veículos<br />
Fonte: Po<strong>em</strong>atropic v.1, n.1,<br />
jan./jun.1998<br />
25
Tabela I - Formulas <strong>para</strong> o solado<br />
Fórmula Solado 10 Solado 20 Solado 30Solado 40<br />
padrão phr phr phr phr<br />
GEB 1 100,00 100,00 100,00 100,00 100.00<br />
Ácido Esteárico 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00<br />
Óxido de Zinco 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00<br />
TMQ (1) 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00<br />
N 339 (2) 60,00 60,00 60,00 60,00 60,00<br />
CBS (2) 0,70 0,70 0,70 0,70 0,70<br />
Enxofre 2,25 2,25 2,25 2,25 2,25<br />
Resíduo - 10,00 20,00 30,00 40,00<br />
Total 170,95 180,95 190,95 200,95 210,95<br />
(1) 2,2,4 - Trimetil - 1,2 - dihidroquinolina polimerizada = Vulcanox HS<br />
(2) negro-de-fumo de fornalha<br />
(3) N - Ciclorexil - 2- benzotiazol sulfenamida = Vulkacit CZ<br />
corretos forçou as indústrias a se<br />
adequar<strong>em</strong> a esse novo perfil de<br />
consumo. A indústria calçadista,<br />
s<strong>em</strong>pre preocupada <strong>em</strong> atender<br />
melhor ao seu consumidor, investe<br />
<strong>em</strong> novas tecnologias e é receptora<br />
de grande número dos projetos<br />
envolvendo produtos ecológicos.<br />
Desta forma, o trabalho é direcionado<br />
à produção de solado <strong>para</strong> botinas<br />
de combate, tendo <strong>em</strong> vista a<br />
necessidade de fornecimento desse<br />
produto <strong>para</strong> a segurança pública do<br />
Estado do Pará, estado onde os<br />
encostos estão sendo produzidos.<br />
Salienta-se que a utilização do resíduo<br />
nas botinas de combate é<br />
somente uma referência <strong>para</strong> o<br />
desenvolvimento do trabalho, sendo<br />
que pode-se reutilizar o resíduo na<br />
produção de diversos outros<br />
artefatos de borracha.<br />
• resistência à abrasão, mm3<br />
máximo de 200<br />
Partindo-se de uma fórmula padrão<br />
desenvolv<strong>em</strong>os 4 fórmulas (Tabela<br />
I) que atend<strong>em</strong> aos requisitos exigidos<br />
pela especificação.<br />
Os resultados obtidos são com<strong>para</strong>dos<br />
com os especificados conforme<br />
Tabela II.<br />
CONCLUSÕES<br />
Na medida <strong>em</strong> que adicionamos<br />
mais resíduo a t<strong>em</strong>po ótimo de cura<br />
diminui, o que se justifica pelo<br />
sist<strong>em</strong>a de vulcanização utilizado no<br />
látex.<br />
Sendo assim é possível diminuir a<br />
quantidade de acelerador (CBS) na<br />
medida <strong>em</strong> que aumenta-se a quantidade<br />
de resíduo, diminuindo o<br />
preço do produto final.<br />
AGRADECIMENTOS<br />
Agradec<strong>em</strong>os ao IBAMA pelo apoio técnico e<br />
financeiro dado ao trabalho, pois s<strong>em</strong> o apoio<br />
dessa instituição, trabalhos deste gênero não<br />
seriam possíveis.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
• SCHREIBER, Vichy (Org.). Vias de<br />
Desenvolvimento Sustentável; As Dimensões<br />
do Desafio. Belém: UFBA, NUMA, POEMA,<br />
IDESP, 1998. 495p. (POEMA, 6)<br />
• RICUPERO, Rubens. Biodiversity as an<br />
engine of trade and sustainable development.<br />
Po<strong>em</strong>atropic. Belém: V.1, n.1, p. 9-13.<br />
• FOLSTER, Thomas; Benz, Damiler. Uso<br />
Técnico de Fibras Naturais. In: POEMA<br />
• MITSCHEIN, Thomas A.; MIRANDA,<br />
Pedro S. POEMA: A Proposal of Sustainable<br />
Development in Amazônia. Belém: UFPA,<br />
POEMA, 1996. 79p. il. (POEMA, 4)<br />
• FARIA, Lênio José G. de, COSTA,<br />
Cristiane Maria L. Tópicos Especiais <strong>em</strong><br />
Tecnologia de Produtos Naturais. Belém:<br />
III QUALIFICAÇÃO E<br />
QUANTIFICAÇÃO DOS<br />
RESÍDUOS<br />
Para janeiro do próximo ano, será<br />
inaugurada uma fábrica de porte<br />
médio no Distrito Industrial de Belém,<br />
com uma capacidade instalada de<br />
processar almofadas diversas <strong>para</strong><br />
automóveis <strong>em</strong> fibra de coco aglomerada<br />
com látex. Assim sendo pode-se<br />
projetar:<br />
• resíduo de fibra + látex<br />
±0,9 toneladas/mês<br />
• resíduo pré-vulcanizado<br />
±1,3 toneladas/mês<br />
(a<strong>para</strong>s e sobras laterais)<br />
• peças rejeitadas (2%)<br />
±0,18 toneladas/mês<br />
• total de resíduos<br />
±2,38 toneladas/mês<br />
IV DESENVOLVIMENTO DE<br />
FORMULAÇÕES DE COMPOSTOS<br />
ELASTOMÉRICOS PARA<br />
FABRICAÇÃO DOS ARTEFATOS<br />
A crescente exigência <strong>em</strong> nível<br />
global de produtos ecologicamente<br />
O Departamento de Suprimento<br />
do Exército - Centro Tecnológico do<br />
Exército determina a seguinte<br />
especificação <strong>para</strong> o solado <strong>em</strong><br />
questão:<br />
• tensão de ruptura, N/cm2<br />
mínimo de 1.300<br />
• alongamento na ruptura,<br />
%mínimo de 400<br />
Nota-se que nas dosagens de 10 a<br />
40 phr de resíduo não houveram<br />
alterações significativas.<br />
A produção de outros artefatos <strong>para</strong><br />
a indústria é tecnicamente viável,<br />
uma vez que os resultados obtidos<br />
mostram que o produto obtido<br />
com a adição do resíduo t<strong>em</strong><br />
propriedades s<strong>em</strong>elhantes ao<br />
composto original.<br />
UFPA,<br />
POEMA, 1998. 302p. il. (POEMA, 7)<br />
ARTIGO TÉCNICO<br />
ELABORADO POR:<br />
• Edmundo Cidade da Rocha / Diretor do<br />
Centro Tecnológico de Polímeros SENAI<br />
• Jordão Gheler Júnior / Técnico<br />
Químico do Centro Tecnológico de<br />
Polímeros SENAI<br />
Tabela II - Resultados<br />
Especificação Fórmula Padrão Solado 10 Solado 20 Solado 30 Solado 40<br />
T<strong>em</strong>po ótimo de cura - t90,<br />
min, 160 o C<br />
- 06 04 03 03 02<br />
Tensão de Ruptura, N/cm2 1.300, mínimo 2.480 2.460 2.500 2.210 2.420<br />
Psi 1.880, mínimo 3.590 3.560 3.620 3.200 3.500<br />
Alongamento na Ruptura, % 400, máximo 380 380 380 380 400<br />
Resistência à abrasão, mm3 200, máximo 99 101 113 123 125<br />
Densidade, g/cm3 1,15 a 1,20 1,148 1,146 1,149 1,150 1,150<br />
26<br />
Dureza Shore A 68 ± 5 69 71 70 69 68<br />
27