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Revista Letras ComVida, Número 2 - 2º Semestre de - LusoSofia

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38<br />

2 Rui Ramos, “Prólogo”, in Rui<br />

Ramos, Bernardo Vasconcelos<br />

Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro,<br />

História <strong>de</strong> Portugal. 3.ª ed., Lisboa:<br />

Esfera dos Livros, 2010, p. 11.<br />

dossiê temático António Castro Henriques<br />

No segundo caso, falta romper <strong>de</strong> forma mais radical com os hábitos adquiridos. Mesmo<br />

a nível das dissertações <strong>de</strong> doutoramento, o objecto <strong>de</strong> estudo continua a ser concebido<br />

sobretudo como o preenchimento <strong>de</strong> uma lacuna empírica. A problematização dos<br />

(maioritariamente portugueses) temas das teses como um caso concreto <strong>de</strong> um problema<br />

central ainda não se afirmou <strong>de</strong>cisivamente perante a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma investigação orientada<br />

para a monografia.<br />

No geral, po<strong>de</strong>-se afirmar que continuou o predomínio para o que Rui Ramos chamou<br />

“concentração positivista do trabalho em pequena escala” 2 . Para este facto, foi importante<br />

a explosão da oferta <strong>de</strong> mestrados e doutoramentos, alavancada no financiamento<br />

da FCT. Por outro lado, o número <strong>de</strong> títulos disponíveis aumentou exponencialmente.<br />

Do lado da oferta, um número galopante <strong>de</strong> alunos e <strong>de</strong> dissertações garante um conjunto<br />

<strong>de</strong> trabalho amplo e diferenciado com os requisitos críticos e académicos mínimos.<br />

Do lado da procura, ou seja, das editoras, publicar tornou-se muito mais simples.<br />

Assim, multiplicaram-se as dissertações <strong>de</strong> doutoramento, organizaram-se inúmeros<br />

congressos internacionais temáticos, publicaram-se centenas <strong>de</strong> revistas periódicas nacionais<br />

e <strong>de</strong> livros.<br />

Por outro lado, as políticas públicas, concebidas sobretudo à medida das ciências aplicadas,<br />

incentivam à especialização e à concentração dos centros <strong>de</strong> investigação; à criação<br />

<strong>de</strong> massa crítica. A política científica actual actua também no sentido <strong>de</strong> separar a investigação<br />

em História da docência universitária, duas dimensões fortemente imbricadas,<br />

tanto do ponto <strong>de</strong> vista institucional como intelectual. Esta questão, para as Ciências Sociais<br />

e Humanas, é particularmente <strong>de</strong>licada, uma vez que a sua investigação não produz<br />

patentes nem inspira start-ups e só excepcionalmente po<strong>de</strong>rá garantir retorno a um investimento<br />

privado. Nestes ramos da ciência, a investigação pura raramente faz sentido; a<br />

sua utilida<strong>de</strong> está na sua comunicação (seja na aula, seja nos media) e na sua contribuição<br />

para a formação do sentido crítico (seja dos alunos, seja dos cidadãos). Não se trata aqui<br />

<strong>de</strong> cair numa distinção grosseira entre conhecimentos úteis (ciências aplicadas ou experimentais)<br />

e inúteis. Esta é uma falsa dicotomia. É evi<strong>de</strong>nte que quase todas as gran<strong>de</strong>s<br />

priorida<strong>de</strong>s pragmáticas do país são indissociáveis do reforço da capacida<strong>de</strong> portuguesa<br />

<strong>de</strong> pensar, <strong>de</strong> criticar, <strong>de</strong> educar e <strong>de</strong> inovar. Para o árduo esforço <strong>de</strong> rebranding do país,<br />

para as exportações, para o <strong>de</strong>senvolvimento do espírito científico, para a vocação empreen<strong>de</strong>dora,<br />

para (re)criação <strong>de</strong> laços políticos e económicos com os países <strong>de</strong> língua<br />

portuguesa, o contributo da história e da cultura histórica é tão gran<strong>de</strong> quanto olvidado.<br />

Para tal, é indispensável que os historiadores sejam capazes <strong>de</strong> comunicar a sua investigação<br />

com um público que vá além dos seus pares ou dos estudantes universitários. Ora,<br />

a consciência <strong>de</strong> uma crescente especialização tem estimulado uma certa reacção por<br />

parte dos historiadores. Se a monografia continua a dominar sobre a síntese, os projectos<br />

<strong>de</strong> investigação em gran<strong>de</strong> escala, muitas vezes alicerçados em financiamentos da FCT,<br />

foram concebidos no sentido <strong>de</strong> abarcar objectos bastante alargados, fosse ao nível dos<br />

temas (história económica, história religiosa), dos grupos sociais (cleros, negociantes, <strong>de</strong>putados,<br />

etc.) ou até das unida<strong>de</strong>s regionais. Como se verá, esta década <strong>de</strong> especialização<br />

soube encontrar o seu contraponto.<br />

da possibilida<strong>de</strong> da síntese<br />

Surpreen<strong>de</strong>ntemente ou não para um período marcado pela continuida<strong>de</strong> da especialização,<br />

o <strong>de</strong>cénio 2000-2009 foi fértil em tentativas <strong>de</strong> síntese no campo das histórias<br />

temáticas (religiosa, eclesiástica, naval, militar, económica, da expansão, da população,<br />

dos reis e <strong>de</strong> outros chefes <strong>de</strong> estado). Aliás, a década culminou com uma obra <strong>de</strong> síntese<br />

por historiadores portugueses: a História <strong>de</strong> Portugal, da autoria <strong>de</strong> Rui Ramos, Bernardo<br />

<strong>de</strong> Vasconcelos e Sousa e Nuno Monteiro, da Esfera dos Livros. Tal como estes autores<br />

<strong>de</strong>clararam, a obra não <strong>de</strong>correu das suas agendas <strong>de</strong> investigação mas da “sugestão” do<br />

editor. Até então, duas das sínteses mais recentes sobre História <strong>de</strong> Portugal eram da autoria<br />

<strong>de</strong> F. Labour<strong>de</strong>tte e <strong>de</strong> D. Birmingham, integradas, respectivamente, na colecção <strong>de</strong><br />

sínteses históricas (<strong>de</strong> Inglaterra, <strong>de</strong> Espanha, dos Romenos, dos Albaneses, da Prússia,<br />

<strong>de</strong> Viena, <strong>de</strong> Lisboa, etc.) da editora francesa Fayard e na série Concise History da Cambridge<br />

University Press 3 . Ou seja, também aqui a iniciativa da síntese está do lado da avaliação

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