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Revista Letras ComVida, Número 2 - 2º Semestre de - LusoSofia

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dossiê temático João Santos<br />

Na última década e meia fez-se um percurso importante no sentido da clarificação <strong>de</strong><br />

alguns traços do <strong>de</strong>sempenho escolar e do seu significado. Na verda<strong>de</strong>, entre a análise dos<br />

resultados do PISA (Programme for International Stu<strong>de</strong>nt Assessment – OCDE) e a divulgação<br />

regular dos resultados das provas <strong>de</strong> aferição do Ensino Básico, a que se vieram juntar, a<br />

partir <strong>de</strong> 2001, sucessivos exercícios <strong>de</strong> divulgação dos resultados dos exames nacionais<br />

do Ensino Secundário, por escola, os especialistas e os opinion-makers foram tomando<br />

contacto com formas crescentemente rotinizadas <strong>de</strong> reiteração do mesmo, segundo a<br />

orientação i<strong>de</strong>ológica, a profissão e o gosto dos participantes no <strong>de</strong>bate. A avaliação dos<br />

professores e das escolas veio acrescentar algum picante à coisa, ainda e sempre pelas<br />

piores razões, mas o que é certo é que não se progrediu um átomo no <strong>de</strong>bate em torno<br />

dos factores, por assim dizer, estruturais do insucesso.<br />

Uma recente tentativa do Conselho das Escolas, pelo lado do dispositivo curricular, veio<br />

proporcionar a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prosseguir o <strong>de</strong>bate sobre a escola em termos um pouco<br />

mais aceitáveis, <strong>de</strong>ixando provisoriamente <strong>de</strong> lado os suspeitos do costume. Em documento<br />

aparentemente datado <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2010 1 , os membros do Conselho mandatados<br />

para trabalhar esta matéria <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m algumas medidas <strong>de</strong> reorganização dos percursos<br />

não superiores, <strong>de</strong> que <strong>de</strong>stacaria:<br />

1. Reorganização dos ciclos <strong>de</strong> ensino na forma 4 + 4 + 4 (Ensino Primário + Ensino<br />

Secundário geral + Ensino Secundário superior);<br />

2. No Secundário superior, 2 vias paralelas: cursos “gerais” + cursos profissionais;<br />

porém, os dois primeiros anos <strong>de</strong> todos os cursos apresentaria uma estrutura curricular<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senho idêntico, po<strong>de</strong>ndo os alunos ‘compor’ o seu plano <strong>de</strong> estudos,<br />

escolhendo 3 das quatro disciplinas da componente <strong>de</strong> formação científica (<strong>de</strong><br />

uma lista fixada pelo Ministério da Educação, mas “<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das possibilida<strong>de</strong>s<br />

da escola”);<br />

3. A avaliação dos alunos <strong>de</strong>terminaria o seu percurso escolar subsequente, primeiro<br />

no ingresso no Secundário superior – “os alunos que não obtenham aproveitamento<br />

escolar [no Ensino Secundário geral] a um <strong>de</strong>terminado conjunto <strong>de</strong><br />

disciplinas, englobando sempre a Língua Portuguesa e Matemática, apenas po<strong>de</strong>rão<br />

prosseguir cursos <strong>de</strong> Educação Formação” –, <strong>de</strong>pois no trânsito do 10.º para<br />

o 11.º ano, ficando a matrícula no 11.º ano sujeita a condições distintas segundo o<br />

curso frequentado: nos cursos científico-humanísticos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria “<strong>de</strong> uma classificação<br />

igual ou superior a 10 valores em Língua Portuguesa e nas disciplinas<br />

estruturantes <strong>de</strong> cada curso”; nos cursos profissionais, “<strong>de</strong> uma classificação superior<br />

a 10 valores em todas as disciplinas, ou em todas menos duas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não<br />

inferior a 8 valores”;<br />

4. Os alunos sem aproveitamento, nos termos fixados, em qualquer dos troços do<br />

Ensino Secundário, a partir do 8.º ano, seriam remetidos para cursos <strong>de</strong> educação<br />

e formação.<br />

5. A disciplina <strong>de</strong> Filosofia seria leccionada nos dois últimos anos do Secundário<br />

superior.<br />

6. Seriam eliminadas a Área <strong>de</strong> Projecto, o Estudo Acompanhado e a Formação<br />

Cívica.<br />

As propostas apresentadas revelam a consciência <strong>de</strong> três questões <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância:<br />

1. Um Secundário curtíssimo <strong>de</strong> 3 anos não está suficientemente articulado com<br />

o 3.º ciclo do Ensino Básico para permitir uma visibilida<strong>de</strong> e uma filtragem das<br />

competências dos alunos capazes <strong>de</strong> favorecer uma orientação consistente com<br />

as aprendizagens anteriores e um prognóstico razoável para o curto e o médio<br />

prazos, benéfico, em primeira instância, para o próprio aluno. Nesta perspectiva,<br />

o mo<strong>de</strong>lo 4+4+4 parece consistente com uma tentativa séria <strong>de</strong> resolução do problema<br />

em questão.<br />

2. Porém, e os autores do documento estão visivelmente cientes disso, o encaminhamento<br />

dos alunos para os diferentes percursos alternativos tem <strong>de</strong> assentar<br />

numa avaliação que, <strong>de</strong> início, comporte critérios razoáveis. O critério exibido<br />

como condição <strong>de</strong> acesso aos cursos “gerais” e profissionais parece razoável: aten<strong>de</strong><br />

à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fixar exigências <strong>de</strong> entrada compagináveis com a natureza do<br />

ciclo Secundário superior (9.º - 12.º ano) e, sendo comum a cursos “gerais” e profissionais,<br />

contribui, entre outras coisas, para contrariar uma <strong>de</strong>svalorização, por<br />

antecipação, <strong>de</strong>stes últimos cursos. Mas, à luz <strong>de</strong>sta mesma perspectiva, não estão<br />

1<br />

Só tivemos acesso a uma versão<br />

em pdf.<br />

57

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