Aula 11 - Rupturas e Revoluções
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Thomas Kuhn:<br />
a prática da<br />
ciência normal<br />
Nesta e na próxima<br />
seção, apresentamos<br />
uma reelaboração<br />
de um texto escrito<br />
anteriormente por<br />
um de nós e que pode<br />
ser encontrado em<br />
Martins (1998).<br />
Thomas Kuhn: a prática<br />
da ciência normal<br />
Em “A Estrutura das Revoluções Científi cas”, Kuhn faz uma análise do conhecimento<br />
científi co fundamentado, muitas vezes, em passagens da História da Ciência. Ele<br />
defende que o desenvolvimento da ciência não se dá de uma forma linear, contínua<br />
e cumulativa (embora não tenha sido o primeiro fi lósofo a propor algo desse tipo). Isso<br />
signifi ca que a construção do conhecimento científi co não se assemelha à de um edifício,<br />
onde, “tijolo por tijolo”, o trabalho de uma geração é simplesmente acrescentado ao da<br />
anterior. O “desenho mágico” da ciência emerge de um processo em que há lugar para<br />
rupturas, crises e revoluções.<br />
Para compreendermos como essa visão é possível, devemos, antes, voltar nossos olhos<br />
para o trabalho cotidiano e para a educação dos cientistas. Esses, durante toda ou a maior<br />
parte de seu tempo, trabalham no que Kuhn denomina de ciência normal, uma atividade<br />
que não visa produzir novidades inesperadas. Ao contrário, a prática da ciência normal visa<br />
“articular” o conjunto de teorias, modelos e representações compartilhados pelos cientistas e<br />
que constituem sua particular “visão de mundo”. Esse conjunto de conhecimentos teóricos,<br />
equipamentos, técnicas, metodologias etc. compõe o que o autor chama de paradigma, um<br />
conceito fundamental em seu trabalho e estreitamente vinculado à ciência normal. É justamente<br />
a aceitação de um paradigma, por um determinado grupo de praticantes da ciência, que permite<br />
o desenvolvimento da ciência normal:<br />
Homens cuja pesquisa está baseada em paradigmas compartilhados estão comprometidos<br />
com as mesmas regras e padrões para a prática científica. Esse comprometimento e o<br />
consenso aparente que produz são pré-requisitos para a ciência normal, isto é, para a<br />
gênese e a continuação de uma tradição de pesquisa determinada. (KUHN, 1987, p. 30-31)<br />
O período anterior ao da aceitação de um paradigma por um grupo é denominado por<br />
Kuhn de fase “pré-paradigmática”, na qual diversos candidatos a paradigma concorrem,<br />
buscando a adesão de subgrupos cada vez maiores. O autor busca, na História da Ciência,<br />
exemplos que possam ilustrar esse período, como a óptica antes de Newton e a pesquisa de<br />
fenômenos elétricos na primeira metade do século XVIII. Em ambos os casos, diversas escolas<br />
com visões confl itantes procuravam enfatizar o conjunto de fenômenos que suas próprias<br />
teorias explicavam melhor. No entanto, é a firme adesão a um único paradigma que permite<br />
a “maturidade” de um campo de estudos. Durante esse processo, os demais candidatos a<br />
paradigma desaparecem:<br />
Quando, pela primeira vez no desenvolvimento de uma ciência da natureza, um indivíduo<br />
ou grupo produz uma síntese capaz de atrair a maioria dos praticantes de ciência da<br />
geração seguinte, as escolas mais antigas começam a desaparecer gradualmente.<br />
Seu desaparecimento é em parte causado pela conversão de seus adeptos ao novo<br />
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<strong>Aula</strong> <strong>11</strong> História e Filosofi a da Ciência