Campos de Vetores Polinomiais Planares: Análise ... - Unesp
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<strong>Campos</strong> <strong>de</strong> <strong>Vetores</strong> <strong>Polinomiais</strong><br />
<strong>Planares</strong>: Análise Detalhada das<br />
Singularida<strong>de</strong>s<br />
Fábio Secches Bueno<br />
Orientador: Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva<br />
Dissertação apresentada ao Departamento <strong>de</strong><br />
Matemática do IBILCE - UNESP, como parte<br />
dos requisitos para obtenção do título <strong>de</strong> Mestre<br />
em Matemática.<br />
São José do Rio Preto - SP<br />
Fevereiro - 2005
Aos meus pais, Marcos e Maria José<br />
à minha tia Isabel, à minha familia,<br />
e à meu avô Pedro, em memória<br />
<strong>de</strong>dico.
Agra<strong>de</strong>cimentos<br />
Ao Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva que projetou este trabalho, pela disponibilida<strong>de</strong> no<br />
atendimento <strong>de</strong> minhas dúvidas e pela confiança em mim <strong>de</strong>positada.<br />
Aos professores do Departamento <strong>de</strong> Matemática da UNESP- S.J.R. Preto, em particular<br />
à Profa. Dra. Neuza Kazuko Kakuta, ao Prof. Dr. Claudio Aguinaldo Buzzi e ao Prof. Dr.<br />
Wan<strong>de</strong>rlei Minori Horita, pela formação, estímulo e amiza<strong>de</strong>.<br />
Aos amigos da pós-graduação e graduação, que estiveram presentes em todos os momentos<br />
<strong>de</strong>sta jornada e <strong>de</strong> minha vida social durante à faculda<strong>de</strong>.<br />
À Camila pelo carinho, compreensão, incentivo e apoio em muitos dos momentos <strong>de</strong>sta<br />
caminhada.<br />
Aos meus pais, por compreen<strong>de</strong>rem minha ausência durante as horas <strong>de</strong> estudo em casa e<br />
na faculda<strong>de</strong>, pelo apoio e incentivo inestimado que sempre me transmitiram.<br />
À toda minha família pelo estímulo e torcida para que tudo <strong>de</strong>sse certo em todos estes<br />
momentos.<br />
A Deus por tudo.
Resumo<br />
Neste trabalho apresentamos os Fundamentos da Teoria Qualitativa. Realizamos uma<br />
análise <strong>de</strong>talhada do retrato <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> sistemas polinomiais planares usando varieda<strong>de</strong>s invariantes<br />
e processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>singularização.<br />
Além disso, fazemos uma análise do retrato <strong>de</strong> fase no infinito representando o mesmo no<br />
Disco <strong>de</strong> Poincaré.<br />
Finalmente exibimos um algoritimo no programa P4 para retratos <strong>de</strong> fase.<br />
Palavras-chave: Compactificação, Desingularização, Varieda<strong>de</strong>s Invariantes, Fluxos e Retratos<br />
<strong>de</strong> Fase.
Abstract<br />
In this work we present basic effects of Qualitative Theory of Differential Equations. We<br />
give a <strong>de</strong>tailed analysis of the phase portrait of planar polinomial differential systems using<br />
invariant manifolds and blow-ups.<br />
Moreover, we analise the phase portrait at infinity using the Poincaré Disc.<br />
Finally we exibe an algorithm used by P4 program to draw the phase portrait.<br />
Keywords: Compactification, Blow-up, Invariant Manifolds, Flows, Phase Portrait.
Sumário<br />
Introdução 13<br />
1 Fundamentos da Teoria Qualitativa 15<br />
1.1 Fluxos no Plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15<br />
1.2 Primeiros Exemplos: <strong>Campos</strong> <strong>de</strong> <strong>Vetores</strong> Lineares no Plano . . . . . . . . . . . . 18<br />
1.3 O Teorema do Fluxo Tubular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28<br />
1.4 Estrutura Local dos Pontos Singulares Hiperbólicos: Teorema <strong>de</strong> Grobman-<br />
Hartman . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31<br />
1.5 Estrutura Local <strong>de</strong> Órbitas Periódicas e Ciclos<br />
Limites no Plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32<br />
1.6 Conjuntos α-limites e ω-limites <strong>de</strong> uma Órbita: O Teorema <strong>de</strong> Poincaré-Bendixson 36<br />
2 Varieda<strong>de</strong>s Invariantes 41<br />
2.1 O Teorema da Varieda<strong>de</strong> Estável Local . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41<br />
2.2 Singularida<strong>de</strong>s Hiperbólicas e Não Hiperbólicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49<br />
2.2.1 Selas, Nós, Focos e Centros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49<br />
2.2.2 Singularida<strong>de</strong>s Não Hiperbólicas no R 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59<br />
2.3 Teoria da Varieda<strong>de</strong> Central . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63<br />
3 Blow-up Polar e Blow-up Direcional 67<br />
3.0.1 Blow-up Quase-homogêneo e o Diagrama <strong>de</strong> Newton . . . . . . . . . . . 74<br />
4 Compactificação <strong>de</strong> Poincaré e <strong>de</strong> Poincaré-Liapunov 90<br />
4.1 Projeção Estereográfica e Compactificação <strong>de</strong> Poincaré . . . . . . . . . . . . . . 90<br />
4.2 Compactificação <strong>de</strong> Poincaré-Liapunov . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99<br />
5 O Programa P4 100<br />
5.1 Tratamento dos exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111<br />
11
Referências Bibliográficas 115<br />
12
Introdução<br />
A Teoria Qualitativa das Equações Diferenciais Ordinárias foi inaugurada por H. Poincaré no<br />
memorável trabalho “Sur les courbes définies par une équation différentielle”[P].<br />
A Teoria Qualitativa estuda o Retrato <strong>de</strong> Fase <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> equações diferenciais ordinárias<br />
autônomas, <strong>de</strong>terminando os diferentes tipos <strong>de</strong> órbitas e <strong>de</strong> conjuntos limites e ainda<br />
investigando a configuração em torno <strong>de</strong> pontos singulares.<br />
Neste projeto vamos nos restringir ao estudo <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> equações diferenciais polinomiais<br />
planares<br />
X :<br />
{<br />
ẋ = p(x, y)<br />
ẏ = q(x, y) .<br />
Iremos concentrar nossa atenção no esboço do retrato <strong>de</strong> fase em torno dos pontos singulares,<br />
já que em torno dos pontos regulares o Teorema do Fluxo Tubular po<strong>de</strong> ser aplicado.<br />
Vamos supor, sem perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong>, que o campo apresenta uma singularida<strong>de</strong> na<br />
origem (0, 0).<br />
Para analisarmos o retrato <strong>de</strong> fase em uma vizinhança da origem, inicialmente consi<strong>de</strong>ramos<br />
a parte linear do campo JX(0, 0) e verificamos se a singularida<strong>de</strong> é ou não hiperbólica,<br />
calculando os autovalores. Caso seja aplicamos o Teorema <strong>de</strong> Grobman-Hartman.<br />
O primeiro caso on<strong>de</strong> não temos a hiperbolicida<strong>de</strong> ocorre quando um dos autovalores da<br />
parte linear é não nulo e o outro é nulo: λ 1 = 0 e λ 2 ≠ 0. Nesse caso utilizamos o Teorema da<br />
Varieda<strong>de</strong> Central e o Princípio da Redução à Varieda<strong>de</strong> Central para analisarmos o retrato <strong>de</strong><br />
fase. Neste trabalho não trataremos o caso em que ambos os autovalores são imaginários puros.<br />
Para completarmos a análise precisamos tratar do caso on<strong>de</strong> ambos os autovalres são nulos.<br />
Neste caso usaremos o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>singularização conhecido como ”BLOW UP”.<br />
Outra questão <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para o entendimento do retrato <strong>de</strong> fase é o estudo do<br />
comportamento do campo no infinito. Para campos <strong>de</strong> vetores polinomiais, isto po<strong>de</strong> ser feito<br />
<strong>de</strong> pelo menos duas maneiras: uma <strong>de</strong>las utilizando a Compactificação <strong>de</strong> Poincaré e a outra<br />
utilizando a Compactificação <strong>de</strong> Poincaré-Lyapunov.<br />
O estudo <strong>de</strong> campos <strong>de</strong> vetores polinomiais planares é um estudo riquíssimo.<br />
Em uma<br />
primeira leitura sobre o assunto po<strong>de</strong>ríamos julgar extremamante restritiva essa abordagem,<br />
13
mas logo nos convencemos da complexida<strong>de</strong> dos problemas no plano. Por exemplo, a questão<br />
da finitu<strong>de</strong> do número <strong>de</strong> ciclos <strong>de</strong> sistemas polinomiais planares e o 16 o Problema <strong>de</strong> Hilbert<br />
são problemas que ainda não atingiram seu <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>finitivo. Po<strong>de</strong>mos ainda relatar<br />
estudos sobre problemas relacionados à dinâmica <strong>de</strong> populações (mo<strong>de</strong>lo predador x presa ou<br />
o comportamento da população <strong>de</strong> virus em algum organismo) na área da biologia, além <strong>de</strong><br />
diversos problemas na área da Física.<br />
Além da natureza intrínseca do assunto outro fator que nos fez escolhermos este tema foi a<br />
recente publicação <strong>de</strong> um artigo, escrito por Freddy Dumortier e Chris Herssens [DH], sobre um<br />
programa computacional, chamado <strong>de</strong> P4, que essencialmente possibilita a análise <strong>de</strong>talhada<br />
das singularida<strong>de</strong>s e o esboço do retrato <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> campos polinomiais planares, no Disco <strong>de</strong><br />
Poincaré.<br />
O programa P4 foi elaborado por 4 matemáticos: Jaume Llibre e Freddy Dumortier, responsáveis<br />
pelo suporte matemático e Joan Carlos Artés e Chris Herssens, responsáveis pela<br />
elaboração do programa computacional. (Ver [DH]).<br />
Julgo ser <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valia para o estudo o conhecimento <strong>de</strong>ste programa, pois além <strong>de</strong><br />
estudar resultados matemáticos profundos, também irei apren<strong>de</strong>r a utilizar uma ferramenta<br />
computacional <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> no meu futuro como pesquisador.<br />
14
Capítulo 1<br />
Fundamentos da Teoria Qualitativa<br />
1.1 Fluxos no Plano<br />
Neste capítulo apresentaremos os resultados básicos da Teoria Qualitativa das Equações Diferenciais<br />
Ordinárias (EDO). Como nosso intuito é chegar em um algorítimo que nos auxilie no<br />
esboço do retrato <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> um campo polinomial, restringiremos nosso estudo à classe dos campos<br />
<strong>de</strong> vetores polinomiais planares. Para isto necessitamos <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>finições e teoremas<br />
que <strong>de</strong>senvolveremos a seguir.<br />
Um campo <strong>de</strong> vetores polinomial em R 2 é uma aplicação X : R 2 → R 2 tal que X(x, y) =<br />
(p(x, y), q(x, y)), com p, q sendo polinômios.<br />
Uma trajetória <strong>de</strong> um campo <strong>de</strong> vetores polinomial X : R 2 → R 2 é uma curva diferenciável<br />
γ : I → R 2 <strong>de</strong>finida em um intervalo real não <strong>de</strong>generado, tal que<br />
˙γ(t) = X(γ(t)), ∀t ∈ I.<br />
Uma trajetória maximal <strong>de</strong> um campo <strong>de</strong> vetores polinomial é uma trajetória γ : I ⊂ R → R 2<br />
tal que, se ψ : J ⊂ R → R 2 for outra trajetória, então:<br />
J ⊂ I e γ/J = ψ.<br />
O estabelecimento da existência e unicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trajetórias <strong>de</strong> um problema <strong>de</strong> valor inicial<br />
é dado pelo resultado seguinte.<br />
Teorema 1.1 (Picard). Sejam (x 0 , y 0 ) ∈ R 2 , r > 0, M > 0, k > 0 e X : B((x 0 , y 0 ), r) ⊂<br />
R 2 → R 2 , satisfazendo:<br />
(a)‖X(x, y)‖ ≤ M, ∀(x, y) ∈ B((x 0 , y 0 ), r);<br />
(b)‖X(x 1 , y 1 ) − X(x 2 , y 2 )‖ ≤ k‖(x 1 , y 1 ) − (x 2 , y 2 )‖ ∀(x 1 , y 1 ), (x 2 , y 2 ) ∈ B((x 0 , y 0 ), r);<br />
15
então, para 0 < a < r M<br />
que<br />
e t 0 ∈ R, existe uma trajetória γ : [t 0 − a, t 0 + a] → B((x 0 , y 0 ), r) tal<br />
˙γ(t) = X(γ(t)) e γ(t 0 ) = (x 0 , y 0 ).<br />
Observemos que um campo <strong>de</strong> vetores polinomial satisfaz as condições do Teorema <strong>de</strong><br />
Picard.<br />
De fato,<br />
(a) Do Teorema <strong>de</strong> Weierstrass, temos que a imagem <strong>de</strong> uma função contínua X <strong>de</strong>finida<br />
em um compacto B((x 0 y 0 ), r) é limitada em B((x 0 , y 0 ), r), isto é,<br />
∃M > 0, ‖X(x, y)‖ ≤ M,<br />
∀(x, y) ∈ B((x 0 , y 0 ), r).<br />
(b) Da Desigualda<strong>de</strong> do Valor Médio segue que se U ⊂ R 2 , U aberto, X : U → R 2 é<br />
diferenciável e se o segmento <strong>de</strong> reta fechado [a, a + h] ⊂ U, então<br />
Daí, temos:<br />
|X(a + h) − X(a)| ≤ |h| sup |JX(a + th)|.<br />
0≤t≤1<br />
(<br />
)<br />
‖X(x 2 , y 2 ) − X(x 1 , y 1 )‖ ≤ sup |JX[(x 1 , y 1 ) + t((x 2 , y 2 ) − (x 1 , y 1 ))]|<br />
0≤t≤1<br />
‖(x 1 , y 1 ) − (x 2 , y 2 )‖ =<br />
= k‖(x 1 , y 1 ) − (x 2 , y 2 )‖.<br />
Assim sendo, dado um ponto em R 2 , sempre existe uma trajetória maximal passando por<br />
este ponto. Prova-se que o intervalo <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição da trajetória maximal é sempre aberto. A<br />
<strong>de</strong>monstração completa <strong>de</strong>ste teorema está feita em [S2].<br />
Seja Ω X = {(t, (x, y)) ∈ R × R 2 , t ∈ I(x, y)}. O fluxo <strong>de</strong> X é a aplicação ϕ : Ω → R 2<br />
<strong>de</strong>finida por<br />
ϕ(t, (x, y)) = ϕ (x,y) (t),<br />
on<strong>de</strong> ϕ (x,y) é a trajetória que no tempo 0 está em (x, y), avaliada no tempo t. Conforme ([S1],<br />
pg.20, corolário 4) se I(x, y) = (α, β) ≠ R, então ϕ(t, (x, y)) → ∞ quando t → β, se β ≠ ∞ e<br />
ϕ(t, (x, y)) → ∞ quando t → α se α ≠ −∞. Agora dado (x, y) ∈ R 2 , a imagem ϕ (x,y) (I(x, y))<br />
da trajetória maximal <strong>de</strong> X por (x, y) é <strong>de</strong>nominada órbita <strong>de</strong> (x, y) e <strong>de</strong>notada por<br />
O(x, y) = ϕ (x,y) (I(x, y)).<br />
O espaço <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> X é o R 2 .<br />
<strong>de</strong>composição em órbitas do campo.<br />
O retrato <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> X é o espaço <strong>de</strong> fase munido da<br />
16
Consi<strong>de</strong>rando (x, y) ∈ R 2 um ponto dado, dizemos que este ponto (x, y) é um ponto regular<br />
<strong>de</strong> X se X((x, y)) ≠ (0, 0); (x, y) é uma singularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> X se X((x, y)) = (0, 0). Analisando as<br />
órbitas, temos que O(x, y) é uma órbita regular <strong>de</strong> X se ϕ (x,y) é injetiva, O(x, y) é uma órbita<br />
singular <strong>de</strong> X se (x, y) é uma singularida<strong>de</strong> e O(x, y) é uma órbita periódica <strong>de</strong> X se ϕ (x,y) é<br />
periódica (Teorema 2, pg 217, em [S2]).<br />
Vamos fazer um breve comentário histórico. O estudo clássico das Equações Diferenciais<br />
Ordinárias (EDO´s) propunha resolver explicitamente as equações do tipo<br />
dx<br />
dt<br />
= ẋ = f(t, x)<br />
d m x<br />
dt m = x(m) = f(t, x, ẋ, ..., x (m−1) )<br />
e ao longo dos séculos, foi <strong>de</strong>senvolvida uma quantida<strong>de</strong> enorme <strong>de</strong> técnicas para resolver vários<br />
tipos <strong>de</strong> EDO´s. É interessante lembrar, por exemplo, que a função exponencial nasceu como<br />
solução do Problema <strong>de</strong> Cauchy autônomo:<br />
ẋ = x x(0) = 1.<br />
Teorias <strong>de</strong>senvolvidas para resolver algumas equações, como a da Transformada Integral, em<br />
particular a Transformada <strong>de</strong> Laplace, transformam a EDO em uma equação algébrica: se esta<br />
for solúvel então a Transformada Integral Inversa produz as soluções da EDO. Abel (1802-<br />
1829), por exemplo, entre tantas outras coisas, trabalhou em tais transformadas; acontece que<br />
se a equação algébrica resultante da transformada for <strong>de</strong> grau maior ou igual a 5, Abel mostrou<br />
que não se po<strong>de</strong> encontrar soluções explícitas por meio <strong>de</strong> radicais, o que invalida esse tipo <strong>de</strong><br />
abordagem do problema. Inúmeros casos <strong>de</strong> EDO´s continuam sendo estudados até hoje, mas<br />
foi Poincaré (1854-1912) que unificou a teoria das EDO´s, <strong>de</strong>senvolvendo o que se passou a<br />
<strong>de</strong>nominar a Teoria Qualitativa. O problema <strong>de</strong> Poincaré era que para as EDO´s da Mecânica<br />
Celeste que estudava, os métodos quantitativos não eram suficientes sequer para começar o<br />
estudo. O que Poincaré <strong>de</strong>tectou é que, se por um lado a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> EDO´s que se po<strong>de</strong><br />
resolver no sentido estrito é relativamente pequeno, por outro lado, em compensação, com novos<br />
conceitos <strong>de</strong> análise, geometria e topologia, po<strong>de</strong>-se estudar uma equação no sentido qualitativo,<br />
ou seja, enten<strong>de</strong>r as leis gerais do comportamento das soluções, mesmo quando estas não são<br />
obtidas explicitamente.<br />
17
1.2 Primeiros Exemplos: <strong>Campos</strong> <strong>de</strong> <strong>Vetores</strong> Lineares<br />
no Plano<br />
Nesta seção, vamos estudar, inicialmente os campos <strong>de</strong> vetores da forma X : R 2 → R 2 dados por<br />
X(x, y) = (ax + by, cx + dy) on<strong>de</strong> a, b, c, d são constantes reais. Tais campos são <strong>de</strong>nominados<br />
Lineares.<br />
Encontrar trajetórias <strong>de</strong> campos <strong>de</strong> vetores <strong>de</strong>ste tipo é equivalente a resolver o sistema <strong>de</strong><br />
EDO’s lineares com coeficientes constantes<br />
{<br />
ẋ = ax + by<br />
ẏ = cx + dy .<br />
Exemplo 1.2. O sistema linear {<br />
ẋ = 2x<br />
ẏ = −y<br />
tem fluxo dado por<br />
ϕ : R × R 2 → R 2<br />
A única singularida<strong>de</strong> é o ponto (0, 0).<br />
ϕ(t, (x, y)) = (xe 2t , ye −t ).<br />
Exemplo 1.3. O sistema linear {<br />
ẋ = αx<br />
ẏ = βy<br />
tem fluxo dado por<br />
ϕ : R × R 2 → R 2<br />
ϕ(t, (x, y)) = (xe αt , ye βt ).<br />
(i) α = 0, β > 0 ou α = 0, β < 0: neste caso o eixo 0X é composto <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s do sistema.<br />
Figura 1.1: α = 0, β > 0 e α = 0, β < 0.<br />
18
(ii) α > 0, β = 0 ou α < 0, β = 0: neste caso o eixo 0Y é composto <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s do<br />
sistema.<br />
Figura 1.2: α > 0, β = 0 e α < 0, β = 0.<br />
(iii) α = β > 0 ou α > β > 0 ou 0 < α < β: neste caso a origem (0, 0) é a única<br />
singularida<strong>de</strong>. O primeiro é conhecido como fonte e os seguintes nós repulsores. Se α > β > 0<br />
as trajetórias (exceto as que possuem traço contido no eixo 0X) tangenciam o eixo 0Y e se<br />
0 < α < β as trajetórias (exceto as que possuem traço contido no eixo 0Y ) tangenciam o eixo<br />
0X.<br />
Figura 1.3: α = β > 0, α > β > 0 e 0 < α < β.<br />
(iv) α = β < 0 ou α < β < 0 ou β < α < 0: neste caso a origem (0, 0) é a única<br />
singularida<strong>de</strong>. O primeiro é conhecido como poço e os seguintes nós atratores. Se α < β < 0<br />
as trajetórias (exceto as que possuem traço contido no eixo 0X) tangenciam o eixo 0Y e se<br />
β < α < 0 as trajetórias (exceto as que possuem traço contido no eixo 0Y ) tangenciam o eixo<br />
0X.<br />
19
Figura 1.4: α = β < 0, α < β < 0 e β < α < 0.<br />
(v) β < 0 < α ou α < 0 < β: neste caso a origem (0, 0) é a única singularida<strong>de</strong>. Este caso<br />
é conhecido como sela. No primeiro caso as trajetórias aproximam-se do eixo 0Y quando o<br />
parâmetro t aproxima-se <strong>de</strong> −∞ e aproximam-se do eixo 0X quando o parâmetro t aproximase<br />
<strong>de</strong> ∞; no segundo caso as trajetórias aproximam-se do eixo 0X quando o parâmetro t<br />
aproxima-se <strong>de</strong> −∞ e aproximam-se do eixo 0Y quando o parâmetro t aproxima-se <strong>de</strong> ∞.<br />
Figura 1.5: β < 0 < α e α < 0 < β.<br />
A NOTAÇÃO MATRICIAL<br />
Para simplificar a notação representaremos os sistemas lineares na forma vetorial, tomandose<br />
[ ] [ ] [ ]<br />
x<br />
a b<br />
ẋ<br />
X = , A = , Ẋ =<br />
y<br />
c d<br />
ẏ<br />
tem-se<br />
Ẋ = AX. (1.1)<br />
Nosso objetivo é estudar todos os tipos possíveis <strong>de</strong> sistemas lineares no plano. Para isso é<br />
necessário que façamos uma classificação das matrizes 2 × 2. O polinômio característico <strong>de</strong> A<br />
é o polinômio dado por<br />
a − λ b<br />
p(λ) =<br />
∣ c d − λ ∣ = λ2 − (trA)λ + <strong>de</strong>tA.<br />
20
Assim as soluções <strong>de</strong> p(λ) = 0 po<strong>de</strong>m ser: duas raízes reais e distintas, λ 1 , λ 2 ; uma raiz real<br />
dupla λ ou um par complexo conjugado α + iβ, α − iβ.<br />
No primeiro caso dizemos que λ 1 , λ 2 são auto-valores e po<strong>de</strong>mos encontrar uma base B do<br />
plano formada por autovetores <strong>de</strong> tal forma que<br />
[A] B =<br />
[<br />
]<br />
λ 1 0<br />
.<br />
0 λ 2<br />
No segundo caso temos duas possibilida<strong>de</strong>s. Se a multiplicida<strong>de</strong> geométrica <strong>de</strong> λ for igual a 2<br />
então po<strong>de</strong>mos encontrar uma base B do plano formado por autovetores <strong>de</strong> tal forma que<br />
[A] B =<br />
[<br />
Se a multiplicida<strong>de</strong> geométrica <strong>de</strong> λ for igual a 1 então po<strong>de</strong>mos encontrar uma base B do<br />
λ 0<br />
0 λ<br />
plano formada por vetores ⃗u e ⃗v obtidos da seguinte maneira<br />
]<br />
.<br />
A⃗u = λ⃗u<br />
A⃗v = ⃗u + λ⃗v.<br />
A matriz <strong>de</strong> A nesta base é:<br />
[A] B =<br />
[<br />
λ 1<br />
0 λ<br />
]<br />
.<br />
No terceiro caso encontramos um vetor <strong>de</strong> C 2 satisfazendo A(u + iv) = (α + iβ)(u + iv). Além<br />
disso B = {u, v} é uma base do plano satisfazendo<br />
[A] B =<br />
Consi<strong>de</strong>rando o sistema [ (1.1), ] tem-se então os seguintes casos possíveis.<br />
λ 1 0<br />
(i) Se [A] B =<br />
, então o fluxo <strong>de</strong> (1.1) é dado por<br />
0 λ 2<br />
[<br />
α<br />
β<br />
−β<br />
α<br />
ϕ : R × R 2 → R 2<br />
]<br />
.<br />
ϕ(t, (x, y)) = (xe λ 1t , ye λ 2t ).<br />
21
(ii) Se [A] B =<br />
[<br />
λ 1<br />
0 λ<br />
]<br />
, então o fluxo <strong>de</strong> (1.1) é dado por<br />
ϕ : R × R 2 → R 2<br />
ϕ(t, (x, y)) = ((x + yt)e λt , ye λt ).<br />
Se λ < 0, a única singularida<strong>de</strong> (0, 0) é chamada <strong>de</strong> nó impróprio atrator:<br />
Figura 1.6: campo x = y = 1, λ = −1 x = y = −1, λ = −1<br />
Se λ > 0, a única singularida<strong>de</strong> (0, 0) é chamada <strong>de</strong> nó impróprio repulsor:<br />
Figura 1.7: campo x = y = 1, λ = 1 x = y = −1, λ = 1<br />
[ ]<br />
α −β<br />
(iii) Vamos analisar o caso [A] =<br />
.<br />
β α<br />
Vamos utilizar coor<strong>de</strong>nadas polares para encontrarmos explicitamente o fluxo. Começamos<br />
com a mudança x = rcosθ e y = rsenθ.<br />
Assim temos<br />
x = rcosθ ⇒ ẋ = ṙcosθ − r ˙θsenθ<br />
y = rsenθ ⇒ ẏ = ṙsenθ + r ˙θcosθ.<br />
(1.2)<br />
Multiplicando a primeira linha por (cosθ) e a segunda por (senθ) e em seguida somando as<br />
duas linhas obtemos<br />
ẋcosθ + ẏsenθ = ṙ. (1.3)<br />
22
Multiplicando a primeira linha por (−senθ) e a segunda por (cosθ) e em seguida somando<br />
as duas linhas obtemos<br />
−ẋsenθ + ẏcosθ = r ˙θ. (1.4)<br />
Substituindo (1.2) em (1.3) e em (1.4) obtemos<br />
{<br />
ṙ = αr<br />
˙θ = β<br />
.<br />
A solução do sistema acima é dada por<br />
Voltando para x e y, temos<br />
{<br />
r = r 0 e αt<br />
θ = θ 0 + βt .<br />
x(t) = e αt (x 0 cosβt − y 0 senβt)<br />
y(t) = e αt (y 0 cosβt + x 0 senβt).<br />
O fluxo então é dado por<br />
ϕ : R × R 2 → R 2<br />
ϕ(t, (x, y)) = e αt (xcosβt − ysenβt, ycosβt + xsenβt).<br />
Se α = 0 a singularida<strong>de</strong> (0, 0) é chamada <strong>de</strong> centro.<br />
Se β > 0 o campo <strong>de</strong> vetores é do tipo mostrado na figura 1.8<br />
Figura 1.8: campo e (cost − sent, cost + sent)<br />
23
Se β < 0 o campo <strong>de</strong> vetores é do tipo mostrado na figura 1.9<br />
Figura 1.9: campo e (cost + sent, cost − sent)<br />
Note que a diferença entre as órbitas ou soluções mostradas nas figuras 1.8 e 1.9 está na<br />
orientação.<br />
Se α > 0 a singularida<strong>de</strong> (0, 0) é chamada foco repulsor, no sentido anti-horário se β > 0 e<br />
no sentido horário se β < 0.<br />
Se β > 0 o campo <strong>de</strong> vetores é do tipo mostrado na figura 1.10<br />
Figura 1.10: campo e e t (cost − sent, cost + sent)<br />
Se β < 0 o campo <strong>de</strong> vetores é do tipo mostrado na figura 1.11<br />
Figura 1.11: campo e e t (cost + sent, cost − sent)<br />
Se α < 0 a singularida<strong>de</strong> (0, 0) é chamada <strong>de</strong> foco atrator, no sentido anti-horário se β > 0<br />
e no sentido horário se β < 0.<br />
24
Se β > 0 o campo <strong>de</strong> vetores é do tipo mostrado na figura 1.12<br />
Figura 1.12: campo e e −t (cost − sent, cost + sent)<br />
Se β < 0 o campo <strong>de</strong> vetores é do tipo mostrado na figura 1.13<br />
Figura 1.13: campo e e −t (cost + sent, cost − sent)<br />
Observe que o sinal <strong>de</strong> α <strong>de</strong>termina se a singularida<strong>de</strong> é atratora ou repulsora. Já o sinal<br />
<strong>de</strong> β está relacionado com o sentido da rotação.<br />
Exemplos on<strong>de</strong> A não está na forma canônica:<br />
1) Consi<strong>de</strong>re o seguinte sistema<br />
Ẋ =<br />
[<br />
1 −1<br />
−2 0<br />
]<br />
X.<br />
Seu polinômio característico é dado por p(λ) = λ 2 − λ − 2, e as raízes <strong>de</strong>ste polinômio são 2 e<br />
−1. Os autovetores associados aos autovalores são respectivamente (1, −1) e (1, 2).<br />
Consi<strong>de</strong>rando a base formada por estes autovetores: B = {(1, −1), (1, 2)}. Temos então<br />
Y =<br />
[<br />
]<br />
[<br />
y 1<br />
= P X = P<br />
y 2<br />
] [<br />
x 1<br />
, P −1 =<br />
x 2<br />
1 1<br />
−1 2<br />
]<br />
.<br />
25
Assim,<br />
Ẏ = P Ẋ = P [<br />
1 −1<br />
−2 0<br />
] [<br />
X = P<br />
1 −1<br />
−2 0<br />
] [<br />
P −1 Y =<br />
2 0<br />
0 −1<br />
]<br />
Y.<br />
Logo,<br />
(y 1 (t), y 2 (t)) = (ae 2t , be −t ).<br />
E o fluxo é dado por<br />
( 2x − y<br />
ϕ(t, (x, y)) =<br />
3<br />
ϕ : R × R 2 → R 2<br />
e 2t + x + y<br />
3<br />
e −t , 2x − y<br />
3<br />
e 2t + 2 x + y )<br />
e −t .<br />
3<br />
Figura 1.14: campo e e −t (cost + sent, cost − sent)<br />
2) Consi<strong>de</strong>re o seguinte sistema<br />
Ẋ =<br />
[<br />
0 −2<br />
1 2<br />
]<br />
X.<br />
Seu polinômio característico é dado por p(λ) = λ 2 − 2λ + 2, e as raízes <strong>de</strong>ste polinômio são 1 + i<br />
e 1 − i. O autovetor complexo associado ao autovalor 1 + i é (1 + i, −i).<br />
então<br />
Assim,<br />
Logo,<br />
Consi<strong>de</strong>ramos a base formada pelas partes real e imaginária: B = {(1, 0), (1, −1)}. Temos<br />
Y =<br />
[<br />
Ẏ = P Ẋ = P [<br />
]<br />
[<br />
y 1<br />
= P X = P<br />
y 2<br />
0 −2<br />
1 2<br />
]<br />
X = P<br />
] [<br />
x 1<br />
, P −1 =<br />
x 2<br />
[<br />
0 −2<br />
1 2<br />
]<br />
P −1 Y =<br />
1 1<br />
0 −1<br />
[<br />
]<br />
.<br />
1 −1<br />
1 1<br />
(y 1 (t), y 2 (t)) = (ae t cost − be t sent, be t cost + ae t sent)).<br />
(x 1 (t), x 2 (t)) = ((a + b)e t cost + (a − b)e t sent, −be t cost − ae t sent)<br />
]<br />
Y.<br />
26
e o fluxo é dado por<br />
ϕ : R × R 2 → R 2<br />
ϕ(t, (x, y)) = (xe t cost + (x + 2y)e t sent, ye t cost − (x + y)e t sent).<br />
Figura 1.15: campo e e −t (cost + sent, cost − sent)<br />
Classificação dos Sistemas Lineares<br />
Dado um sistema linear no plano<br />
Ẋ = AX<br />
po<strong>de</strong>mos classificar a singularida<strong>de</strong> (0, 0), supondo qua esta é a única singularida<strong>de</strong>, a partir<br />
do polinômio característico <strong>de</strong> A (<strong>de</strong>tA ≠ 0).<br />
p(λ) = λ 2 − (trA)λ + <strong>de</strong>tA<br />
∆ = (trA) 2 − 4<strong>de</strong>tA<br />
∆ <strong>de</strong>t tr (0, 0)<br />
> 0 < 0 ∈ R SELA<br />
> 0 > 0 < 0 NÓ ATRATOR<br />
> 0 > 0 > 0 NÓ REPULSOR<br />
< 0 ∈ R = 0 CENTRO<br />
< 0 ∈ R < 0 FOCO ATRATOR<br />
< 0 ∈ R > 0 FOCO REPULSOR<br />
= 0 ∈ R > 0 NÓ REPULSOR<br />
= 0 ∈ R < 0 NÓ ATRATOR<br />
Nosso interesse neste trabalho é o estudo <strong>de</strong> campos <strong>de</strong> vetores do tipo<br />
X(x, y) = (p(x, y), q(x, y))<br />
27
on<strong>de</strong> p e q são polinômios <strong>de</strong> grau m qualquer.<br />
Equivalentemente, queremos estudar o comportamento das soluções do sistema autônomo<br />
{<br />
ẋ = p(x, y)<br />
ẏ = q(x, y) .<br />
Alguns casos particulares po<strong>de</strong>m ser resolvidos explicitamente. No entanto, não existe nenhum<br />
método geral <strong>de</strong> solução como no caso linear.<br />
1.3 O Teorema do Fluxo Tubular<br />
Nesta seção veremos que o esboço do retrato <strong>de</strong> fase é trivial numa vizinhança <strong>de</strong> um ponto<br />
regular. Assim po<strong>de</strong>mos concentrar nossa atenção no estudo em vizinhanças <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s.<br />
Definição 1.4. Dado (x 0 , y 0 ) ∈ R 2 , uma secção transversal local (STL) <strong>de</strong> X em (x 0 , y 0 ), <strong>de</strong><br />
classe C k , é uma aplicação diferenciável ξ : A → R 2 <strong>de</strong> classe C k tal que A ⊆ R é aberto, 0 ∈ A,<br />
ξ(0) = (x 0 , y 0 ) e [ξ ′ (t)] ⊕ [X(ξ(t))] = R 2 , ∀t ∈ A.<br />
Definição 1.5. Dois campos <strong>de</strong> vetores polinomiais X, Y <strong>de</strong>finidos em U, V ⊂ R 2 , com U, V<br />
sendo abertos, são ditos topologicamente equivalentes quando existir um homeomorfismo h :<br />
U → V que leva órbitas <strong>de</strong> X em órbitas <strong>de</strong> Y preservando a orientação. Se <strong>de</strong>notarmos ϕ e ψ<br />
os fluxos <strong>de</strong> X e Y , respectivamente, dizemos que h é uma conjugação topológica entre X e Y<br />
se<br />
h(ϕ(t, (x, y))) = ψ(t, h(x, y)).<br />
Vamos enunciar e <strong>de</strong>monstrar um lema que será utilizado na <strong>de</strong>monstração do nosso próximo<br />
teorema:<br />
Lema 1.6. Se (x 0 , y 0 ) ∈ R 2 é um ponto regular <strong>de</strong> um campo vetorial polinomial X, então<br />
existe uma STL <strong>de</strong> X em (x 0 , y 0 ).<br />
Demonstração: Sejam (x 0 , y 0 ) = v 0 ≠ (0, 0) e π = [v 0 ] ⊥ .<br />
Como dimπ = 1, existe um isomorfismo<br />
s : R → π<br />
<strong>de</strong> modo que a transformação<br />
T : R → R 2 ,<br />
T (y) = (x 0 , y 0 ) + s(y)<br />
é <strong>de</strong> classe C ∞ e é um homeomorfismo sobre sua imagem T (R) = (x 0 , y 0 ) + π.<br />
28
Afirmamos que existe A ⊆ R, A aberto, 0 ∈ A tal que ξ = T/A é uma STL <strong>de</strong> X em<br />
(x 0 , y 0 ).<br />
De fato, seja<br />
η : R → R, η(y) =< v 0 , X(T (y)) ><br />
contínua com η(0) =< v 0 , X(T (0)) >=< v 0 , X(x 0 , y 0 ) >=< v 0 , v 0 >= |v 0 | 2 ≠ 0.<br />
Daí,<br />
∃0 ∈ A ⊆ R A: aberto tal que η(y) ≠ 0, ∀y ∈ A.<br />
Mas, para y ∈ R, temos:<br />
ou seja,<br />
T ′ (y) = s ′ (y) = s,<br />
Im(T ′ (y)) = Im(s) = π,<br />
<strong>de</strong> modo que, para algum y ∈ A, temos:<br />
X(T (y)) /∈ [v 0 ] ⊥ = π,<br />
já que 0 ≠ η(y) =< v 0 , X(T (y)) >, ou seja,<br />
Im(T ′ (y)) ⊕ [X(T (y))] = π ⊕ [X(T (y))] = R 2 .<br />
Assim, ξ = T/A é uma STL <strong>de</strong> X em (x 0 , y 0 ).<br />
Agora, vamos enunciar e <strong>de</strong>monstrar o Teorema do Fluxo Tubular, que é o nosso objetivo<br />
neste momento:<br />
Teorema 1.7 (Fluxo Tubular). Sejam X : R 2 → R 2 um campo vetorial polinomial e<br />
(x 0 , y 0 ) ∈ R 2 um ponto regular <strong>de</strong> X. Então existe um difeomorfismo <strong>de</strong> classe C ∞ que conjuga<br />
X em uma vizinhança <strong>de</strong> (x 0 , y 0 ) com o campo constante Y = (1, 0) restrito a uma vizinhança<br />
da origem (0, 0).<br />
29
Geometricamente, temos:<br />
Figura 1.16: interpretação geométrica do Teorema do Fluxo Tubular<br />
Demonstração: Dados X : R 2 → R 2 e (x 0 , y 0 ) ∈ R 2 um ponto regular, sabemos pelo Lema<br />
1.6, que existe ξ : A → R 2 uma STL <strong>de</strong> X em (x 0 , y 0 ) ∈ R 2 .<br />
Seja 0 ∈ C ⊆ A, um aberto e limitado, com C ⊆ A. Então ξ(C) ⊆ R 2 é compacto e<br />
po<strong>de</strong>mos encontrar um intervalo 0 ∈ J ⊆ R tal que J × ξ(C) ⊆ Ω X <strong>de</strong> modo que a aplicação<br />
H : J × C,<br />
H(s, y) = ϕ(s, ξ(y))<br />
está bem <strong>de</strong>finida e é <strong>de</strong> classe C k , com<br />
H(0, 0) = ϕ(0, ξ(0)) = (x 0 , y 0 ).<br />
Além disso,<br />
e como<br />
temos que<br />
Logo,<br />
o que significa que<br />
∂H ∂ϕ<br />
(0, 0) =<br />
∂s ∂t (0, (x 0, y 0 )) = X(x 0 , y 0 )<br />
H(0, y) = ϕ(0, ξ(y)) = ξ(y), ∀y ∈ C<br />
∂H<br />
∂y (0, 0) = ξ′ (0).<br />
H ′ (0, 0)(λ, v) = λX(x 0 , y 0 ) + ξ ′ (0)v<br />
ImH ′ (0, 0) = [X(x 0 , y 0 )] + Im(ξ ′ (y)) = R 2 ,<br />
30
ou seja, H ′ (0, 0) : R × R → R 2 é uma transformação linear sobrejetiva, e portanto um isomorfismo.<br />
Do Teorema da Aplicação Inversa <strong>de</strong>corre que H é um difeomorfismo <strong>de</strong> classe C ∞ em<br />
(0, 0), isto é, existem um intervalo I = (−δ, δ) ⊆ J ⊂ R, uma vizinhança 0 ∈ B ⊆ C ⊆ A ⊂ R<br />
e uma vizinhança W 0 <strong>de</strong> (x 0 , y 0 ) em R 2 tal que<br />
h : I × B → W 0 <strong>de</strong>finida pela restrição h(s, y) = H(s, y)<br />
é um difeomorfismo <strong>de</strong> classe C k .<br />
Daí, temos que:<br />
h(0, 0) = (x 0 , y 0 ),<br />
h(0, y) = ξ(y),<br />
h({0} × B) = ξ(B).<br />
Agora como<br />
temos que h conjuga X e Y .<br />
h ′ (s, y)Y (s, y) = H ′ (s, y)(1, 0) = ∂H<br />
∂s<br />
∂ϕ<br />
(s, y) = (0, ξ(y)) =<br />
∂t<br />
= X(ϕ(s, ξ(y))) = X(h(s, y)), ∀(s, y) ∈ I × B<br />
1.4 Estrutura Local dos Pontos Singulares Hiperbólicos:<br />
Teorema <strong>de</strong> Grobman-Hartman<br />
Pelo Teorema do Fluxo Tubular, sabemos que existe um difeomorfismo (<strong>de</strong> classe C r ) que<br />
conjuga X em uma vizinhança <strong>de</strong> um ponto regular (x 0 , y 0 ) com o campo constante Y = (1, 0).<br />
Daí, dois campos X e Y são localmente conjugados em torno <strong>de</strong> pontos regulares. Por esse<br />
motivo, temos um conhecimento satisfatório das órbitas <strong>de</strong> um campo vetorial polinomial planar<br />
em torno dos pontos regulares, visto que existe apenas uma classe <strong>de</strong> conjugação diferencial<br />
local.<br />
Se (x 0 , y 0 ) é uma singularida<strong>de</strong>, a situação é bem mais complicada. Vamos então analisar<br />
nesta seção as singularida<strong>de</strong>s hiperbólicos, isto é, os pontos on<strong>de</strong> todos os autovalores da<br />
JX(x 0 , y 0 ) tem parte real diferente <strong>de</strong> 0 e também o Teorema <strong>de</strong> Grobman-Hartman:<br />
Teorema 1.8 (Grobman-Hartman). Seja X : R 2 → R 2 um campo vetorial polinomial e<br />
(x 0 , y 0 ) um ponto singular hiperbólico. Então existem V ⊂ R 2 , com (x 0 , y 0 ) ∈ V e W ∈ R 2 ,<br />
com (0, 0) ∈ W tal que X/V é topologicamente equivalente a JX(x 0 , y 0 )/W .<br />
31
Geometricamente, temos:<br />
(<br />
0<br />
x 0<br />
, y )<br />
(0,0)<br />
Figura 1.17: Interpretação geométrica do Teorema <strong>de</strong> Grobman-Hartman<br />
Como a <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong>ste teorema é <strong>de</strong>masiadamente extensa e além disso não é um dos<br />
nossos objetivos neste trabalho, <strong>de</strong>mos apenas uma interpretação geométrica do que ele está<br />
dizendo. O leitor encontrará a <strong>de</strong>monstração em [Pa].<br />
1.5 Estrutura Local <strong>de</strong> Órbitas Periódicas e Ciclos<br />
Limites no Plano<br />
A transformação <strong>de</strong> Poincaré associada a uma órbita fechada γ <strong>de</strong> um campo vetorial polinomial<br />
planar X é um difeomorfismo π, o qual vamos <strong>de</strong>finir mais a frente. Esta transformação <strong>de</strong>screve<br />
o comportamento do campo X em uma vizinhança <strong>de</strong> γ.<br />
Sejam γ = {ϕ(t, (p, q)), 0 ≤ t ≤ τ 0 } uma órbita periódica <strong>de</strong> período τ 0 <strong>de</strong> um campo<br />
vetorial polinomial planar X e Σ uma secção transversal a X em (p, q).<br />
Como o fluxo <strong>de</strong> X, ϕ, é contínuo, para todo ponto (p 1 , q 1 ) ∈ Σ próximo <strong>de</strong> (p, q) a trajetória<br />
ϕ(t, (p 1 , q 1 )) está próxima à γ, com t ∈ I, com I um intervalo pré-estabelecido.<br />
Definiremos π(p 1 , q 1 ) como sendo o primeiro ponto on<strong>de</strong> esta órbita irá interceptar Σ. Sendo<br />
Σ 0 o domínio <strong>de</strong> π, teremos que (p, q) ∈ Σ 0 e π(p, q) = (p, q).<br />
Muitas proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> X perto <strong>de</strong> γ se refletem em π. Por exemplo, as órbitas periódicas<br />
<strong>de</strong> X próximas <strong>de</strong> γ correspon<strong>de</strong>m aos pontos fixos <strong>de</strong> π, que são pontos (p 1 , q 1 ) ∈ Σ 0 para os<br />
quais π(p 1 , q 1 ) = (p 1 , q 1 ). O comportamento assintótico das órbitas <strong>de</strong> X próximo <strong>de</strong> γ também<br />
é <strong>de</strong>scrito por π.<br />
Assim,<br />
lim<br />
n→∞ πn (p 1 , q 1 ) = (p, q) ⇒ lim d(ϕ(t, (p 1 , q 1 )), γ) = 0.<br />
t→∞<br />
32
Prova-se que π : Σ → Σ 0 é um difeomorfismo <strong>de</strong> classe C r sobre sua imagem Σ 1 .(Ver [S1]).<br />
Definição 1.9. Seja X : R 2 → R 2 um campo vetorial polinomial. Uma órbita periódica γ <strong>de</strong><br />
X é chamada ciclo limite se existe uma vizinhança V <strong>de</strong> γ tal que γ é a única órbita fechada<br />
<strong>de</strong> X que intercepta V .<br />
Proposição 1.10. Os ciclos limites são do seguinte tipo:<br />
(a) Estável, quando<br />
(b) Instável, quando<br />
(c) Semi-estável, quando<br />
lim d(ϕ(t, (p 1, q 1 )), γ) = 0, ∀(p 1 , q 1 ) ∈ V ;<br />
t→∞<br />
lim d(ϕ(t, (p 1, q 1 )), γ) = 0, ∀(p 1 , q 1 ) ∈ V ;<br />
t→−∞<br />
lim d(ϕ(t, (p 1, q 1 )), γ) = 0, ∀(p 1 , q 1 ) ∈ V ∩ ext(γ)<br />
t→∞<br />
e<br />
ou o contrário.<br />
lim d(ϕ(t, (p 1, q 1 )), γ) = 0, ∀(p 1 , q 1 ) ∈ V ∩ int(γ),<br />
t→−∞<br />
<br />
(p1,<br />
q1)<br />
(p1,<br />
q1)<br />
<br />
Figura 1.18: Caso (a), ciclo limite estável<br />
Demonstração: Suponha que a vizinhança V não contenha pontos singulares. Sejam (p, q) ∈<br />
γ, ∑ uma secção transversal a X em (p, q) e π : Σ 0 → Σ a transformação <strong>de</strong> Poincaré.<br />
Suponha que Σ esteja or<strong>de</strong>nada, sendo o sentido positivo do exterior <strong>de</strong> (γ) para o interior<br />
<strong>de</strong> γ.<br />
Dado (p 1 , q 1 ) ∈ Σ ∩ ext(γ), temos π(p 1 , q 1 ) > (p 1 , q 1 ) ou π(p 1 , q 1 ) < (p 1 , q 1 ). Suponhamos<br />
que π(p 1 , q 1 ) > (p 1 , q 1 ).<br />
Consi<strong>de</strong>re a região A limitada por γ, pelo arco <strong>de</strong> trajetória (p 1 , q 1 )π(p 1 , q 1 ) e pelo segmento<br />
(p 1 , q 1 )π(p 1 , q 1 ) ∈ Σ 0 . A é positivamente invariante, isto é, dado (x, y) ∈ A, ϕ(t, (x, y)) ∈ A,<br />
33
para todo t ≥ 0.<br />
Ainda ϕ(t, (x, y)) intercepta Σ em uma sequência estritamente monótona <strong>de</strong> pontos (x n , y n )<br />
que converge para (p, q).<br />
Daí concluímos que<br />
lim d(ϕ(t, (x, y)), γ) = 0<br />
t→∞<br />
Agora, se π(p 1 , q 1 ) < (p 1 , q 1 ), consi<strong>de</strong>re o campo −X que ficará provado que<br />
lim d(ϕ(t, (x, y)), γ) = 0,<br />
t→−∞<br />
∀(x, y) ∈ A<br />
Po<strong>de</strong>mos provar <strong>de</strong> maneira análoga se tomarmos (p 1 , q 1 ) ∈ Σ 0 ∩ int(γ). Assim, combinando<br />
estas possibilida<strong>de</strong>s provamos a proposição.<br />
Po<strong>de</strong>mos observar que γ é um ciclo limite se, e somente se, (p, q) é um ponto fixo isolado<br />
<strong>de</strong> π.<br />
Note ainda que:<br />
(a) γ é estável se, e somente se, |π(x, y) − (p, q)| < |(x, y) − (p, q)|, qualquer que seja<br />
(x, y) ≠ (p, q), próximo <strong>de</strong> (p, q);<br />
(b) γ é instável se, e somente se, |π(x, y) − (p, q)| > |(x, y) − (p, q)|, qualquer que seja<br />
(x, y) ≠ (p, q), próximo <strong>de</strong> (p, q);<br />
(c) γ é semi-estável se, e somente se, |π(x, y) − (p, q)| < |(x, y) − (p, q)|, qualquer que seja<br />
(x, y) ∈ Σ ∩ ext(γ), próximo <strong>de</strong> (p, q) e |π(x, y) − (p, q)| > |(x, y) − (p, q)|, qualquer que seja<br />
(x, y) ∈ Σ ∩ int(γ), próximo <strong>de</strong> (p, q), ou o contrário.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Figura 1.19: (a) estável; (b) instável e (c) semi-estável<br />
O teorema que iremos apresentar agora vai estabelecer uma condição suficiente para que<br />
uma órbita periódica seja um ciclo limite estável. Vejamos o que ele nos diz.<br />
Teorema 1.11. Sejam X = (X 1 , X 2 ) : R 2 → R 2 um campo vetorial polinomial planar, γ uma<br />
órbita periódica <strong>de</strong> X <strong>de</strong> período T e π : Σ 0 → Σ a transformação <strong>de</strong> Poincaré em uma secção<br />
transversal Σ em (p, q) ∈ γ.<br />
34
on<strong>de</strong><br />
Então,<br />
Em particular, se<br />
Demonstração: Ver [S2] pg 229.<br />
(∫ T<br />
)<br />
˙π(p, q) = exp divX(γ(t))dt ;<br />
0<br />
divX(x, y) = ∂<br />
∂x X 1(x, y) + ∂ ∂y X 2(x, y).<br />
∫ T<br />
0<br />
∫ T<br />
0<br />
divX(γ(t))dt < 0, γ é estável;<br />
divX(γ(t))dt > 0, γ é instável.<br />
Um problema bastante interessante e muito famoso que po<strong>de</strong>mos encontrar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta<br />
teoria e que ainda não foi resolvido é o 16 o Problema <strong>de</strong> Hilbert. Na virada do século, o<br />
famoso matemático mundial David Hilbert apresentou uma lista com 23 notáveis problemas<br />
matemáticos para o Segundo Congresso Internacional <strong>de</strong> Matemática. O 16 o Problema <strong>de</strong><br />
Hilbert pe<strong>de</strong> a <strong>de</strong>terminação do número máximo <strong>de</strong> ciclos limites, H n , em um sistema polinomial<br />
<strong>de</strong> n-ésimo grau<br />
⎧<br />
⎪⎨<br />
⎪⎩<br />
ẋ =<br />
ẏ =<br />
n∑<br />
i+j=0<br />
n∑<br />
i+j=0<br />
a ij x i y j<br />
b ij x i y j (1.5)<br />
Para um dado (a, b) ∈ R (n+1)(n+2) , seja H n (a, b) o número <strong>de</strong> ciclos limites <strong>de</strong> n-ésimo<br />
grau do sistema polinomial (1.5) com coeficientes (a, b). Um teorema <strong>de</strong>vido a Dulac afirma<br />
que H n (a, b) < ∞. O número <strong>de</strong> Hilbert H n é então igual ao supH n (a, b) para todo (a, b) ∈<br />
R (n+1)(n+2) .<br />
Agora, como sistemas lineares em R 2 não tem nenhum ciclo limite, segue que H 1 = 0.<br />
Entretanto, mesmo para as classes mais simples <strong>de</strong> sistemas não lineares, (1.5) com n = 2,<br />
o número <strong>de</strong> Hilbert H 2 , não foi <strong>de</strong>terminado. Em 1962, o matemático russo N. V. Bautin<br />
provou que qualquer sistema quadrático, (1.5) com n = 2, tem no máximo três ciclos limites.<br />
E por algum tempo acreditou-se que H 2 = 3. Contudo, em 1979, os matemáticos chineses S. L.<br />
Shi, L. S. Chen e M. S. Wang produziram exemplos <strong>de</strong> sistemas quadráticos com quatro ciclos<br />
limites. Então, H 2 ≥ 4. Baseado nestas várias evidências, acreditou-se que H 2 = 4 e em 1982,<br />
X. Y. Chin <strong>de</strong>clarou ter provado este resultado, entretanto, foram encontrados erros em seu<br />
trabalho por Y. L. Cao.<br />
35
1.6 Conjuntos α-limites e ω-limites <strong>de</strong> uma Órbita: O<br />
Teorema <strong>de</strong> Poincaré-Bendixson<br />
Sejam X : R 2 → R 2 um campo vetorial polinomial e ϕ(t) = ϕ(t, (p, q)) a trajetória <strong>de</strong> X<br />
passando pelo ponto (p, q) <strong>de</strong>finida no seu intervalo maximal I (p,q) = (ω − (p, q), ω + (p, q)).<br />
Se ω + (p, q) = ∞, <strong>de</strong>finimos o conjunto<br />
ω(p, q) = {(p 1 , q 1 ) ∈ R 2 ; ∃(t n ), t n → ∞ e ϕ(t n , (p, q)) → (p 1 , q 1 ), n → ∞}<br />
como sendo o conjunto ω-limite <strong>de</strong> (p, q).<br />
Se ω − (p, q) = −∞, <strong>de</strong>finimos o conjunto<br />
α(p, q) = {(p 1 , q 1 ) ∈ R 2 ; ∃(t n ), t n → −∞ e ϕ(t n , (p, q)) → (p 1 , q 1 ), n → ∞}<br />
como sendo o conjunto α-limite <strong>de</strong> (p, q).<br />
Observemos que, em termos <strong>de</strong> α-limites e ω-limites, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir os ciclos no plano<br />
como as órbitas periódicas que são α-limites ou ω-limites <strong>de</strong> todas as trajetórias passando por<br />
pontos suficientemente próximos.<br />
No entanto, se γ (p,q) é a órbita <strong>de</strong> X pelo ponto (p, q) e (p 1 , q 1 ) ∈ γ (p,q) então ω(p, q) =<br />
ω(p 1 , q 1 ).<br />
De fato,<br />
(p 1 , q 1 ) ∈ γ (p,q) ⇒ ∃c ∈ R : ϕ(t, (p 1 , q 1 )) = ϕ(t + c, (p, q)).<br />
Da mesma forma, temos que α(p, q) = α(p 1 , q 1 ).<br />
Daí, temos que o conjunto ω-limite <strong>de</strong> uma órbita fechada γ é o conjunto ω(p, q), para<br />
qualquer (p, q) ∈ γ e o conjunto α-limite <strong>de</strong> uma órbita γ é o conjunto α(p, q), para qualquer<br />
(p, q) ∈ γ.<br />
Notemos que se ϕ(t) = ϕ(t, (p, q)) é a trajetória do campo vetorial polinomial X pelo ponto<br />
(p, q) e se ψ(t) = ψ(t, (p, q)) é a trajetória do campo vetorial polinomial −X pelo ponto (p, q),<br />
temos que ψ(t, (p, q)) = ϕ(−t, (p, q)).<br />
Logo, temos que<br />
ω-limite <strong>de</strong> ϕ(t) = α-limite <strong>de</strong> ψ(t)<br />
ω-limite <strong>de</strong> ψ(t) = α-limite <strong>de</strong> ϕ(t).<br />
Por isso iremos restringir nosso estudo das proprieda<strong>de</strong>s gerais dos conjuntos α-limites e ω-<br />
limites ao conjunto ω-limite. Faremos isto para facilitar e enunciar o teorema que vem a seguir<br />
<strong>de</strong> uma forma mais resumida.<br />
36
Teorema 1.12. Sejam X : R 2 → R 2 um campo vetorial polinomial, (p, q) tal que [0, ∞) ⊂ I (p,q) ,<br />
γ + (p,q) = {ϕ(t, (p, q)), t ≥ 0} a semi-órbita positiva do campo X pelo ponto (p, q). Se γ+ (p,q) esta<br />
contida em K ⊂ R 2 , K compacto, então:<br />
(a) ω(p, q) ≠ ∅;<br />
(b) ω(p, q) é compacto;<br />
(c) ω(p, q) é invariante por X, isto é, se (p 1 , q 1 ) ∈ ω(p, q), então a trajetória <strong>de</strong> X por (p 1 , q 1 )<br />
esta contida em ω(p, q);<br />
(d) ω(p, q) é conexo.<br />
Resultado análogo po<strong>de</strong> ser obtido para α(p, q).<br />
Indicamos [Pa] para a prova do teorema acima.<br />
Vamos apresentar nesta seção o Teorema <strong>de</strong> Poincaré-Bendixson. Mas antes, para facilitar<br />
a <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong>ste teorema, vamos estudar alguns lemas.<br />
No que segue, estamos assumindo que (p, q) ∈ R 2 é tal que [0, ∞) ⊂ I (p,q) .<br />
Lema 1.13. Sejam X : R 2 → R 2 um campo vetorial polinomial, Σ uma secção transversal a<br />
X e γ = {ϕ(t)} uma órbita <strong>de</strong> X. Se (p, q) ∈ Σ ∩ ω(γ), então (p, q) po<strong>de</strong> ser expresso como<br />
limite <strong>de</strong> uma seqüência <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> Σ, ϕ(t), on<strong>de</strong> t n → ∞.<br />
Demonstração: Suponhamos que γ = {ϕ(t)} = {ϕ(t, (p 1 , q 1 ))} e (p, q) ∈ Σ ∩ ω(γ).<br />
Consi<strong>de</strong>remos uma vizinhança V <strong>de</strong> (p, q) e a aplicação τ : V → R tal que τ(V ∩ Σ) = 0.<br />
Como (p, q) ∈ ω(p, q) existe uma seqüencia (˜t n ) tal que ˜t n → ∞ e ϕ(˜t n ) → (p, q) quando<br />
n → ∞.<br />
<br />
~<br />
( t n<br />
) ( t n<br />
)<br />
(p,q)<br />
V<br />
(P ,q )<br />
1 1<br />
<br />
Figura 1.20: interpretação geométrica do Lema 1.13<br />
Logo, existe n 0 ∈ N tal que ϕ(˜t n ) ∈ V , qualquer que seja n ≥ n 0 . Se t n = ˜t n + τ(ϕ(˜t n )),<br />
qualquer que seja n ≥ n 0 , temos<br />
ϕ(t n ) = ϕ(t n , (p 1 , q 1 )) = ϕ(˜t n + τ(ϕ(˜t n ))), (p 1 , q 1 )) = ϕ(τ(ϕ(˜t n )), ϕ(˜t n ))<br />
e por <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> τ, temos que ϕ(t n ) ∈ Σ.<br />
37
Como τ é contínua, temos que<br />
lim ϕ(t n) = lim ϕ(τ(ϕ(˜t n )), ϕ(˜t n )) = ϕ(0, (p, q)) = (p, q)<br />
n→∞ n→∞<br />
pois,<br />
ϕ(˜t n ) → (p, q) e τ(ϕ(˜t n )) → τ(p, q) = 0, n → ∞.<br />
Lema 1.14. Sejam X : R 2 → R 2 um campo vetorial polinomial e Σ uma secção transversal a<br />
X. Se γ é uma órbita <strong>de</strong> X e (p, q) ∈ Σ ∩ γ, então γ + (p,q)<br />
= {ϕ(t, (p, q)); t ≥ 0} intercepta Σ<br />
numa seqüência monótona (p 1 , q 1 ), (p 2 , q 2 ), ..., (p n , q n ), ....<br />
Demonstração: Seja D = {t ∈ R + , ϕ(t, (p, q)) ∈ Σ}. Como D é discreto (pelo Teorema do<br />
Fluxo Tubular), po<strong>de</strong>mos or<strong>de</strong>nar o conjunto<br />
D = {0 < t 1 < t 2 < ... < t n < ...}.<br />
Seja (p 1 , q 1 ) = (p, q). Definamos, caso exista, (p 2 , q 2 ) = ϕ(t, (p 1 , q 1 )). Por indução, <strong>de</strong>finiremos<br />
(p n , q n ) = ϕ(t n−1 , (p, q)).<br />
Se (p 1 , q 1 ) = (p 2 , q 2 ), então γ é uma trajetória fechada <strong>de</strong> período τ = t 1 , e (p, q) = (p n , q n ),<br />
para todo n.<br />
Se (p 1 , q 1 ) ≠ (p 2 , q 2 ), digamos (p 1 , q 1 ) < (p 2 , q 2 ) e se existir (p 3 , q 3 ) vamos mostrar que<br />
(p 3 , q 3 ) > (p 2 , q 2 ).<br />
De fato, vamos então orientar Σ conforme a figura 1.21(a). Observemos que <strong>de</strong>vido ao fato<br />
<strong>de</strong> Σ ser conexo e pela continuida<strong>de</strong> do campo X, as órbitas <strong>de</strong> X cruzam a secção sempre no<br />
mesmo sentido, digamos da esquerda para a direita, conforme a figura 1.21(b).<br />
(a)<br />
<br />
(b)<br />
<br />
Figura 1.21: (a) orientação <strong>de</strong> Σ, (b) órbitas <strong>de</strong> X cruzando Σ.<br />
Como em R 2 vale o Teorema da Curva Fechada <strong>de</strong> Jordan, que diz o seguinte: ”Se J é uma<br />
curva fechada, contínua e simples (J é a imagem homeomorfa <strong>de</strong> um círculo), então R 2 /J tem<br />
duas componentes conexas; S i (limitada) e S e (não-limitada), as quais tem J como fronteira comum”,<br />
consi<strong>de</strong>remos então a Curva <strong>de</strong> Jordan formada pela união do segmento (p 1 , q 1 )(p 2 , q 2 ) ⊂<br />
Σ com o arco (p1 , q̂<br />
1 )(p 2 , q 2 ) da órbita, temos que (p1 , q̂<br />
1 )(p 2 , q 2 ) = {ϕ(t, (p 1 , q 1 )); 0 < t ≤ t 1 },<br />
da figura 1.22.<br />
38
(<br />
1<br />
p,<br />
q)<br />
( p 1<br />
, q )<br />
S<br />
E<br />
S<br />
I<br />
(<br />
2<br />
p 2<br />
, q )<br />
S i .<br />
Figura 1.22: Curva <strong>de</strong> Jordan<br />
Em particular, a órbita γ, a partir <strong>de</strong> (p 2 , q 2 ), isto é, para valores <strong>de</strong> t > t 1 , fica contido em<br />
De fato, ela não po<strong>de</strong> interceptar o arco<br />
̂ (p1 , q 1 )(p 2 , q 2 ) <strong>de</strong>vido à unicida<strong>de</strong> das órbitas e não<br />
po<strong>de</strong> interceptar o segmento (p 1 , q 1 )(p 2 , q 2 ), pois iria contrariar o sentido do fluxo.<br />
Daí, caso (p 3 , q 3 ) exista, <strong>de</strong>vemos ter (p 1 , q 1 ) < (p 2 , q 2 ) < (p 3 , q 3 ). Seguindo este raciocínio,<br />
obteremos (p 1 , q 1 ) < (p 2 , q 2 ) < ... < (p n , q n ) < ...<br />
Portanto, {(p n , q n )} é uma seqüência monótona.<br />
Caso (p 2 , q 2 ) < (p 1 , q 1 ) a <strong>de</strong>monstração é análoga.<br />
Lema 1.15. Sejam X : R 2 → R 2 um campo vetorial polinomial, Σ uma secção transversal ao<br />
campo X em (p, q) ∈ R 2 . Então Σ intercepta ω(p, q) no máximo em um ponto.<br />
Demonstração: Pelo lema anterior, o conjunto <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> γ + (p,q)<br />
em Σ tem no máximo um<br />
ponto limite, pois o mesmo forma uma seqüência monótona. Daí, o resultado segue do primeiro<br />
lema, pois Σ ∩ ω(p, q) = (p, q).<br />
Lema 1.16. Se o ω-limite <strong>de</strong> uma trajetória γ não contém singularida<strong>de</strong>s, então ω(γ) é uma<br />
órbita fechada. Se (p, q) ∈ γ, as órbitas por pontos próximos a (p, q) tem esta mesma órbita<br />
fechada como ω-limite.<br />
Demonstração: Seja (p 1 , q 1 ) ∈ ω(γ). Mostremos que a órbita <strong>de</strong> (p 1 , q 1 ) é fechada. Tomemos<br />
(x, y) ∈ ω(p 1 , q 1 ) e, portanto, (x, y) não é uma singularida<strong>de</strong>.<br />
Consi<strong>de</strong>remos uma secção<br />
transversal Σ contendo (x, y). Sabemos por lema anterior que a órbita positiva <strong>de</strong> (p 1 , q 1 )<br />
intercepta Σ segundo uma seqüência monótona, com (p n , q n ) → (x, y). Como (p n , q n ) ∈ ω(γ),<br />
temos que (p n , q n ) = (x, y), para todo n, isto pelo lema anterior. Logo, a órbita <strong>de</strong> (p 1 , q 1 )<br />
é fechada. Tomando agora um segmento transversal contendo (p 1 , q 1 ), concluímos, pelo lema<br />
1.12, que ω(γ) se reduz à órbita <strong>de</strong> (p 1 , q 1 ).<br />
Vamos agora enunciar e <strong>de</strong>monstrar o Teorema <strong>de</strong> Poincaré-Bendixson.<br />
Teorema 1.17 (Poincaré-Bendixson). Sejam X : R 2 → R 2 um campo polinomial e ϕ(t) =<br />
ϕ(t, (p, q)) uma trajetória <strong>de</strong> X, <strong>de</strong>finida para qualquer t ≥ 0, tal que γ + (p,q)<br />
esteja contida num<br />
compacto K ⊂ R 2 .<br />
39
Suponha que o campo X possua um número finito <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s em ω(p, q). Então<br />
temos as seguintes situações:<br />
(a) Se ω(p, q) contém somente pontos regulares, então ω(p, q) é uma órbita periódica;<br />
(b) Se ω(p, q) contém pontos regulares e singulares, então ω(p, q) é formado por um conjunto<br />
<strong>de</strong> órbitas, on<strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las ten<strong>de</strong> a um <strong>de</strong>sses pontos singulares quando t → ±∞;<br />
(c) se ω(p, q) não contém pontos regulares, então ω(p, q) é um ponto singular.<br />
Demonstração: (a) Por hipótese, temos que ω(p, q) tem somente pontos regulares e se<br />
(p 1 , q 1 ) ∈ ω(p, q), então a órbita γ (p1 ,q 1 ) ∈ ω(p, q).<br />
Sendo ω(p, q) compacto, temos que ω(γ (p1 ,q 1 )) ≠ ∅. Daí, do lema 1.14, temos que ω(p, q) =<br />
γ (p1 ,q 1 ), que é uma órbita fechada e conseqüentemente periódica.<br />
(b) Como, por hipótese, temos que ω(p, q) contém pontos regulares e singulares, seja γ uma<br />
trajetória regular contida em ω(p, q). Afirmamos que ω(γ) é uma singularida<strong>de</strong>. Se ω(γ) possui<br />
algum ponto regular (p 1 , q 1 ), tomemos uma secção transversal Σ a X, passando pelo ponto<br />
(p 1 , q 1 ). Como γ ⊂ ω(p, q), temos pelo lema 1.13, que γ intercepta apenas um ponto. Pelo<br />
lema 1.14, γ é uma trajetória fechada e ω(p, q) = γ. Isto é um absurdo, pois ω(p, q) possui<br />
singularida<strong>de</strong>s. Logo, ω(γ) é uma singularida<strong>de</strong>.<br />
(c) Se ω(p, q) não contém pontos regulares, então ω(p, q) é uma singularida<strong>de</strong>, pois X tem<br />
um número finito <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s e ω(p, q) é conexo.<br />
40
Capítulo 2<br />
Varieda<strong>de</strong>s Invariantes<br />
2.1 O Teorema da Varieda<strong>de</strong> Estável Local<br />
O Teorema da Varieda<strong>de</strong> Estável é um dos mais importantes resultados da teoria qualitativa<br />
local <strong>de</strong> EDO´s. Ele mostra que perto <strong>de</strong> um ponto hiperbólico (x 0 , y 0 ), o sistema não linear<br />
(ẋ, ẏ) = X(x, y) = (p(x, y), q(x, y)) (2.1)<br />
tem varieda<strong>de</strong>s estável e instável S e U tangentes em (x 0 , y 0 ) aos subespaços estável e instável<br />
E S e E U do sistema linearizado<br />
(ẋ, ẏ) = A(x, y) (2.2)<br />
on<strong>de</strong> A = JX(x 0 , y 0 ).<br />
Mas vamos primeiramente <strong>de</strong>finir subespaços estável, instável e central E S ,E U e E C , respectivamente,<br />
para um sistema linear do tipo (2.2) acima.<br />
Seja w j = u j + iv j um autovetor generalizado da matriz A correspon<strong>de</strong>nte a um autovalor<br />
λ j = a j + ib j , com j = 1, 2. Note que se b j = 0, então v j = 0 e [u 1 , v 1 ] = [u 2 , v 2 ] se b j ≠ 0. E<br />
seja<br />
B = {u 1 , v 1 }<br />
uma base <strong>de</strong> R 2 .<br />
Definição 2.1. Sejam λ j = a j + ib j , w j = u j + iv j e B <strong>de</strong>scritos como acima. Então,<br />
E S = [{u j , v j }/a j < 0]<br />
E C = [{u j , v j }/a j = 0]<br />
41
e<br />
E U = [{u j , v j }/a j > 0]<br />
isto é, E S ,E U<br />
e E C são os subespaços <strong>de</strong> R 2 gerados pelas partes real e imaginárias dos autovetores<br />
generalizados w j correspon<strong>de</strong>ntes aos autovalores λ j com partes real negativa, nula e<br />
positiva, respectivamente.<br />
As varieda<strong>de</strong>s S e U tem a mesma dimensão <strong>de</strong> E S e E U , e se ϕ é o fluxo do sistema não<br />
linear (2.1), então S e U são positiva e negativamente invariantes por ϕ, respectivamente e<br />
satisfazem<br />
e<br />
lim ϕ(t, (c 1, c 2 )) = (x 0 , y 0 ), ∀(c 1 , c 2 ) ∈ S<br />
t→∞<br />
lim ϕ(t, (c 1, c 2 )) = (x 0 , y 0 ), ∀(c 1 , c 2 ) ∈ U.<br />
t→−∞<br />
Vamos apresentar estas idéias com um exemplo. Assumiremos que a singularida<strong>de</strong> (x 0 , y 0 ) está<br />
localizada na origem. Se este não for o caso, po<strong>de</strong>mos transladar (x 0 , y 0 ) para a origem.<br />
Teorema 2.2 (Varieda<strong>de</strong> Estável). Seja X : R 2<br />
→ R 2 um campo vetorial polinomial e<br />
ϕ o fluxo do sistema não linear (2.1) associado a X. Suponhamos que X(0, 0) = (0, 0) e que<br />
JX(0, 0) tenha k autovalores com parte real negativa e 2−k autovalores com parte real positiva.<br />
Então, existe uma varieda<strong>de</strong> k-diferenciável S tangente ao subespaço E S do sistema linear (2.2)<br />
na origem tal que para todo t ≥ 0, ϕ t (S) ⊂ S e para todo (x, y) ∈ S<br />
lim ϕ(t, (x, y)) = (0, 0).<br />
t→∞<br />
Analogamente, existe uma varieda<strong>de</strong> (2 − k)-diferenciável U tangente ao subespaço E U<br />
sistema linear (2.2) na origem tal que para todo t ≤ 0, ϕ t (U) ⊂ U e para todo (x, y) ∈ U<br />
do<br />
Exemplo 2.3. Consi<strong>de</strong>remos o sistema<br />
{<br />
lim ϕ(t, (x, y)) = (0, 0).<br />
t→−∞<br />
ẋ = p(x, y) = ax + by + φ(x, y)<br />
ẏ = q(x, y) = cx + dy + ψ(x, y) ,<br />
isto é, (<br />
ẋ<br />
ẏ<br />
)<br />
=<br />
(<br />
a<br />
c<br />
b<br />
d<br />
) (<br />
x<br />
y<br />
)<br />
+<br />
(<br />
φ(x, y)<br />
ψ(x, y)<br />
)<br />
.<br />
42
Mais precisamente, vamos tomar o sistema<br />
{<br />
ẋ = λ 1 x + φ(x, y)<br />
ẏ = λ 2 y + ψ(x, y)<br />
(2.3)<br />
on<strong>de</strong> λ 1 < 0 e λ 2 > 0.<br />
Assim, (<br />
ẋ<br />
ẏ<br />
)<br />
=<br />
(<br />
λ 1 0<br />
0 λ 2<br />
) (<br />
x<br />
y<br />
)<br />
+<br />
(<br />
φ(x, y)<br />
ψ(x, y)<br />
)<br />
.<br />
Notemos que se (x, y) é solução <strong>de</strong> (2.3), então<br />
x(t) = e λ 1t x 0 +<br />
y(t) = e λ 2t y 0 +<br />
∫ t<br />
0<br />
∫ t<br />
De fato, vamos escrever x(t) <strong>de</strong> uma maneira diferente<br />
x(t) = e λ 1t x 0 +<br />
= e λ 1t x 0 +<br />
∫ t<br />
= e λ1t x 0 + e λ 1t<br />
Derivando x(t) em relação a t, temos:<br />
0<br />
0<br />
∫ t<br />
0<br />
e λ 1(t−s) φ(x(s), y(s))ds<br />
e λ 2(t−s) ψ(x(s), y(s))ds.<br />
e λ 1(t−s) φ(x(s), y(s))ds =<br />
e λ 1t e −λ 1s φ(x(s), y(s))ds =<br />
∫ t<br />
0<br />
e −λ 1s φ(x(s), y(s))ds.<br />
ẋ(t) = λ 1 e λ 1t x 0 + e λ 1t e −λ 1t φ(x(t), y(t)) + λ 1 e λ 1t<br />
∫ t<br />
0<br />
e −λ 1s φ(x(s), y(s))ds =<br />
Isto é,<br />
= λ 1 e λ 1t x 0 + φ(x(t), y(t)) + λ 1 e λ 1t<br />
= λ 1 (e λ 1t x 0 + e λ 1t<br />
∫ t<br />
0<br />
∫ t<br />
0<br />
e −λ 1s φ(x(s), y(s))ds =<br />
e −λ 1s φ(x(s), y(s))ds) + φ(x(t), y(t)) =<br />
∫ t<br />
)<br />
= λ 1<br />
(e λ1t x 0 + e λ1(t−s) φ(x(s), y(s))ds +φ(x(t), y(t)).<br />
}<br />
0<br />
{{ }<br />
x(t)<br />
ẋ(t) = λ 1 x(t) + φ(x(t), y(t)).<br />
43
Portanto, temos que x(t) = e λ 1t x 0 + ∫ t<br />
0 eλ 1(t−s) φ(x(s), y(s))ds é realmente uma solução <strong>de</strong> (2.3).<br />
Vamos verificar agora que y(t) = e λ 2t y 0 + ∫ t<br />
0 eλ 2(t−s) ψ(x(s), y(s))ds também é uma solução do<br />
sistema (2.3).<br />
y(t) = e λ 2t y 0 +<br />
= e λ 2t y 0 +<br />
∫ t<br />
0<br />
= e λ 2t y 0 + e λ 2t<br />
Derivando y(t) em relação a t, temos:<br />
∫ t<br />
0<br />
e λ 2(t−s) ψ(x(s), y(s))ds =<br />
e λ 2t e −λ 2s ψ(x(s), y(s))ds =<br />
∫ t<br />
0<br />
e −λ 2s ψ(x(s), y(s))ds.<br />
ẏ(t) = λ 2 e λ 2t y 0 + e λ 2t e −λ 2t ψ(x(t), y(t)) + λ 2 e λ 2t<br />
∫ t<br />
0<br />
e −λ 2s ψ(x(s), y(s))ds =<br />
Isto é,<br />
= λ 2 e λ 2t y 0 + ψ(x(t), y(t)) + λ 2 e λ 2t<br />
= λ 2 (e λ 2t y 0 + e λ 2t<br />
∫ t<br />
0<br />
∫ t<br />
0<br />
e −λ 2s ψ(x(s), y(s))ds =<br />
e −λ 2s ψ(x(s), y(s))ds) + ψ(x(t), y(t)) =<br />
∫ t<br />
)<br />
= λ 2<br />
(e λ1t y 0 + e λ2(t−s) ψ(x(s), y(s))ds +ψ(x(t), y(t)).<br />
}<br />
0<br />
{{ }<br />
y(t)<br />
ẏ(t) = λ 2 y(t) + ψ(x(t), y(t)).<br />
Portanto, temos que y(t) = e λ 2t y 0 + ∫ t<br />
0 eλ 2(t−s) ψ(x(s), y(s))ds é solução <strong>de</strong> (2.3).<br />
Afirmação: Se (x(t), y(t)) é uma solução contida em W S então<br />
y(t) = −<br />
∫ ∞<br />
t<br />
e λ 2(t−s) ψ(x(s), y(s))ds.<br />
De fato, se (x(t), y(t)) ∈ W S então y(t) → 0 quando t → ∞. Assim,<br />
‖y(t)‖ = ‖e λ 2t y 0 +<br />
= ‖e λ 2t ‖‖y 0 +<br />
∫ t<br />
∫ t<br />
0<br />
0<br />
e λ 2(t−s) ψ(x(s), y(s))ds‖ =<br />
e −λ 2s ψ(x(s), y(s))ds‖ =<br />
44
=<br />
1<br />
‖e −λ 2t<br />
‖ ‖y 0 +<br />
Agora quando t → ∞, temos que<br />
1<br />
‖e −λ 2 t ‖<br />
Logo,<br />
o que verifica a afirmação.<br />
Então,<br />
Assim,<br />
−<br />
∫ ∞<br />
t<br />
(<br />
y(t) = e λ 2t<br />
−<br />
= −<br />
∫ ∞<br />
y 0 +<br />
∫ ∞<br />
0<br />
y 0 = −<br />
∫ t<br />
0<br />
e −λ 2s ψ(x(s), y(s))ds‖.<br />
→ ∞. E como lim y(t) = 0, temos que<br />
t→∞<br />
e λ 2(t−s) ψ(x(s), y(s))ds = 0.<br />
∫ ∞<br />
0<br />
x(t) = e λ 1t x 0 +<br />
∫ ∞<br />
e λ 2(t−s) ψ(x(s), y(s))ds = −<br />
0<br />
0<br />
e λ 2(t−s) ψ(x(s), y(s))ds<br />
∫ t<br />
)<br />
e −λ2s ψ(x(s), y(s))ds +<br />
e λ 2(t−s) ψ(x(s), y(s))ds +<br />
∫ ∞<br />
0<br />
0<br />
e λ 1(t−s) φ(x(s), y(s))ds<br />
∫ t<br />
0<br />
∫ t<br />
e λ 2(t−s) ψ(x(s), y(s))ds +<br />
0<br />
e λ 2(t−s) ψ(x(s), y(s))ds =<br />
e λ 2(t−s) ψ(x(s), y(s))ds.<br />
∫ t<br />
0<br />
e λ 2(t−s) ψ(x(s), y(s))ds.<br />
Logo,<br />
ϕ(t, (x, y)) =<br />
[<br />
e λ 1t<br />
0<br />
0 0<br />
] [<br />
x<br />
y<br />
]<br />
+<br />
∫ t<br />
0<br />
[<br />
e λ 1(t−s)<br />
0<br />
0 0<br />
]<br />
ds<br />
[<br />
φ<br />
ψ<br />
]<br />
−<br />
∫ ∞<br />
t<br />
[<br />
0 0<br />
0 e λ 2(t−s)<br />
]<br />
ds<br />
[<br />
φ<br />
ψ<br />
]<br />
.<br />
Agora, vamos tomar um caso particular, on<strong>de</strong> λ 1 = −1, λ 2 = 1, φ = −y 2 e ψ = x 2 .<br />
Daí, temos o seguinte sistema:<br />
{<br />
ẋ = −x − y 2<br />
ẏ = y + x 2 .<br />
Portanto, temos<br />
[<br />
ϕ(t, (x, y)) =<br />
e λ 1t<br />
0<br />
0 0<br />
] [<br />
x<br />
y<br />
]<br />
+<br />
∫ t<br />
0<br />
[<br />
e λ 1(t−s)<br />
0<br />
0 0<br />
]<br />
ds<br />
[<br />
−y 2<br />
x 2 ]<br />
−<br />
∫ ∞<br />
t<br />
[<br />
0 0<br />
0 e λ 2(t−s)<br />
]<br />
ds<br />
[<br />
−y 2<br />
x 2 ]<br />
.<br />
45
Temos que o primeiro valor é dado por<br />
ϕ 0 (t, (x, y)) = (0, 0).<br />
Continuando o processo, po<strong>de</strong>mos obter o restante dos valores substituindo<br />
valores encontrados nas próximas iterações.<br />
Logo,temos<br />
ϕ (1) (t, (x, y)) =<br />
[<br />
e −t 0<br />
0 0<br />
A próxima iteração será<br />
ϕ (2) (t, (x, y)) =<br />
[<br />
e −t 0<br />
0 0<br />
] [<br />
] [<br />
=<br />
[<br />
x<br />
y<br />
x<br />
y<br />
]<br />
]<br />
+<br />
−<br />
e −t x<br />
0<br />
∫ t<br />
0<br />
∫ ∞<br />
t<br />
[<br />
[<br />
e −(t−s) 0<br />
=<br />
[<br />
]<br />
− x 2 e t [<br />
0 0<br />
e −t x<br />
0<br />
]<br />
]<br />
.<br />
ds<br />
[<br />
0<br />
0<br />
]<br />
] [<br />
0<br />
ds =<br />
e (t−s) e −2s x 2<br />
0<br />
e −3t<br />
3<br />
]<br />
=<br />
[<br />
e −t x<br />
−<br />
−e −2t x 2<br />
3<br />
∫ ∞<br />
t<br />
e −t x<br />
Para melhorarmos a aproximação, vamos fazer ainda mais duas iterações<br />
ϕ (3) (t, (x, y)) =<br />
A próxima será<br />
[<br />
e −t 0<br />
0 0<br />
] [<br />
x<br />
y<br />
]<br />
+ e−t x 4<br />
9<br />
∫ t<br />
0<br />
[<br />
e s e −4s<br />
[ ] [ ] [<br />
e −t x<br />
= + e−t x 4 −1 + e −3t<br />
− x 2 e t<br />
0 9.3 0<br />
[ ] [<br />
] [<br />
=<br />
e −t x<br />
+ 1 −(e −t x 4 ) + e −4t x 4<br />
0 27 0<br />
−<br />
[<br />
]<br />
=<br />
e −t x + 1<br />
27 (e−4t − e −t )x 4<br />
.<br />
ϕ (4) (t, (x, y)) =<br />
[<br />
e −t 0<br />
0 0<br />
] [<br />
e −2t x 2<br />
3<br />
x<br />
y<br />
]<br />
0<br />
+ e−t x 4<br />
9<br />
0<br />
]<br />
.<br />
]<br />
[<br />
−<br />
[<br />
−y 2<br />
x 2 ]<br />
] [<br />
0 0<br />
ds<br />
0 e (t−s)<br />
∫ ∞<br />
] ∫ [<br />
∞<br />
ds − e t x 2<br />
∫ t<br />
0<br />
[<br />
0<br />
e −3t<br />
3<br />
0<br />
e −2t x 2<br />
3<br />
e −3s<br />
0<br />
]<br />
]<br />
]<br />
t<br />
t<br />
=<br />
=<br />
ds−<br />
x 2 e t [<br />
0<br />
e −3t<br />
3<br />
0<br />
0<br />
pelos<br />
]<br />
=<br />
]<br />
0<br />
ds =<br />
e −3s<br />
]<br />
ds =<br />
46
− et x 2 ∫ [<br />
]<br />
∞<br />
0<br />
ds =<br />
27 2 t 27 2 e −s (e −2s + 2.27e −2s (e −3s − 1)x 3 + (e −8s − 2e −5s + e −2s )x 6 )<br />
[ ] [ ] [<br />
]<br />
e −t x<br />
= − e−t x 4 e −3t<br />
3<br />
− x2 e t<br />
( ( )<br />
0<br />
(<br />
) )<br />
0 9 0 27 2 27 2 e −3t 1<br />
+ =<br />
2.27 e −3t<br />
− 1 x 3 + 1 e −6t<br />
− e −3t + 1 x 6 3 3 2 3 3<br />
[ ] [ ] [<br />
]<br />
e −t x e −4t x 4<br />
27<br />
= − − ( ( ))<br />
0<br />
(<br />
) =<br />
e<br />
0 0<br />
−2t x 2<br />
e<br />
1 + 2.27<br />
−3t<br />
− 1 x 3 e<br />
+<br />
−6t<br />
− e −3t + 1 x 6 3<br />
2 3<br />
[<br />
=<br />
e −2t<br />
3<br />
( (<br />
e<br />
1 + 2.27<br />
−3t<br />
− 1<br />
2<br />
e −t x + e−4t x 4<br />
)) 27<br />
x 5 +<br />
(<br />
e −6t<br />
3<br />
− e −3t + 1<br />
]<br />
) .<br />
x 8<br />
U<br />
E U<br />
E S<br />
S<br />
Figura 2.1: Varieda<strong>de</strong>s do exemplo 2.3<br />
As varieda<strong>de</strong>s estável e instável S e U são <strong>de</strong>finidas somente em uma pequena vizinhança<br />
da origem na prova do Teorema da Varieda<strong>de</strong> Estável. S e U são além disso referidas como as<br />
varieda<strong>de</strong>s estável e instável locais <strong>de</strong> (2.1) na origem ou simplesmente as varieda<strong>de</strong>s estável e<br />
instável da origem. Definimos as varieda<strong>de</strong>s estável e instável globais <strong>de</strong> (2.1) em (0, 0) <strong>de</strong>ixando<br />
os pontos <strong>de</strong> S correrem o tempo no passado e aqueles <strong>de</strong> U correrem o tempo no futuro.<br />
Definição 2.4. Seja ϕ o fluxo do sistema não linear (2.1). As varieda<strong>de</strong>s globais estável e<br />
instável <strong>de</strong> (2.1) no (0, 0) (na origem) são dadas por<br />
W S (0, 0) = ⋃ ϕ(t, S)<br />
t≤0<br />
e<br />
W U (0, 0) = ⋃ t≥0<br />
ϕ(t, U)<br />
47
espectivamente. Po<strong>de</strong> ser mostrado que as varieda<strong>de</strong>s estável e instável globais, W S (0, 0) e<br />
W U (0, 0), são únicas e invariantes pelo fluxo ϕ.<br />
e<br />
Além disso,<br />
∀(x, y) ∈ W S (0, 0), lim<br />
t→∞<br />
ϕ(t, (x, y)) = 0<br />
∀(x, y) ∈ W U (0, 0), lim ϕ(t, (x, y)) = 0.<br />
t→−∞<br />
Po<strong>de</strong> também ser mostrado (como na prova do Teorema da Varieda<strong>de</strong> Estável) que numa<br />
pequena vizinhança, N, <strong>de</strong> uma singularida<strong>de</strong> hiperbólica na origem, as varieda<strong>de</strong>s locais estável<br />
e instável, S e U, <strong>de</strong> (2.1) na origem são dadas por<br />
S = {(x, y) ∈ N/ϕ(t, (x, y)) → 0 quando t → ∞ e ϕ(t, (x, y)) ∈ N, ∀t > 0}<br />
e<br />
U = {(x, y) ∈ N/ϕ(t, (x, y)) → 0 quando t → −∞ e ϕ(t, (x, y)) ∈ N, ∀t ≤ 0},<br />
respectivamente.<br />
Figura 2.2: trajetória para o sistema no exemplo (2.3).<br />
A figura 2.2 mostra uma trajetória computada numericamente para o sistema no exemplo<br />
(2.2). A varieda<strong>de</strong> estável global e a varieda<strong>de</strong> instável global para este exemplo é mostrada na<br />
figura 2.3. Note que W S (0, 0) e W U (0, 0) se interceptam em um laço homoclínico.<br />
48
U<br />
S<br />
W (0) W (0)<br />
Figura 2.3: A varieda<strong>de</strong> instável global e a varieda<strong>de</strong> estável global para o exemplo 2.2<br />
Com as hipóteses do Teorema da Varieda<strong>de</strong> Estável, se S e U são as varieda<strong>de</strong>s estável<br />
e instável <strong>de</strong> (2.1) na origem e se Re(λ j ) < −α < 0 < β < Re(λ m ) para j = 1, ..., k e<br />
m = k + 1, ..., 2 então dado ɛ > 0 existe δ > 0 tal que<br />
(x 0 , y 0 ) ∈ N δ (0, 0) ∩ S ⇒ ‖ϕ(t, (x 0 , y 0 ))‖ ≤ ɛe −αt , ∀t ≥ 0<br />
e<br />
(x 0 , y 0 ) ∈ N δ (0, 0) ∩ U ⇒ ‖ϕ(t, (x 0 , y 0 ))‖ ≤ ɛe βt , ∀t ≤ 0<br />
on<strong>de</strong> N δ (0, 0) é uma bola aberta <strong>de</strong> centro (0, 0) e raio δ.<br />
2.2 Singularida<strong>de</strong>s Hiperbólicas e Não Hiperbólicas<br />
2.2.1 Selas, Nós, Focos e Centros<br />
Como vimos, um sistema linear<br />
(ẋ, ẏ) = A(x, y), (x, y) ∈ R 2 (2.4)<br />
apresenta uma sela, um nó, um foco ou um centro na origem se existe uma transformação linear<br />
não singular que reduz a matriz A a uma matriz canônica B = P −1 AP apresentando uma das<br />
seguintes formas<br />
B =<br />
[<br />
] [<br />
λ 1 0<br />
, B =<br />
0 λ 2<br />
λ 1<br />
0 λ<br />
]<br />
, ou B =<br />
[<br />
a<br />
b<br />
−b<br />
a<br />
]<br />
.<br />
49
Definição 2.5. Uma singularida<strong>de</strong> (x 0 , y 0 ) do sistema não linear<br />
(ẋ, ẏ) = X(x, y), (x, y) ∈ R 2 (2.5)<br />
é chamada <strong>de</strong> poço se todos os autovalores da matriz JX(x 0 , y 0 ) tem parte real negativa; é<br />
chamada <strong>de</strong> fonte se todos os autovalores da matriz JX(x 0 , y 0 ) tem parte real positiva; e é<br />
chamada <strong>de</strong> sela se JX(x 0 , y 0 ) tem um autovalor com parte real positiva e um autovalor com<br />
parte real negativa.<br />
Agora, vamos <strong>de</strong>finir o conceito topológico <strong>de</strong> sela para o sistema não linear (2.5) com<br />
(x, y) ∈ R 2 e mostrar que se (x 0 , y 0 ) é uma singularida<strong>de</strong> hiperbólica <strong>de</strong> (2.5) então ele é uma<br />
sela topológica se, e somente se, é uma sela <strong>de</strong> (2.5); isto é, uma singularida<strong>de</strong> hiperbólica<br />
(x 0 , y 0 ) é uma sela topológica para (2.5) se, e somente se, a origem é uma sela para (2.4) com<br />
A = JX(x 0 , y 0 ).<br />
Po<strong>de</strong>mos refinar a classificação dos poços do sistema não linear (2.5) para nós estáveis e<br />
focos, e po<strong>de</strong>mos mostrar que uma singularida<strong>de</strong> hiperbólica (x 0 , y 0 ) é um nó estável ou um<br />
foco para o sistema (2.5) se, e somente se, ele é respectivamente um nó estável ou um foco para<br />
o sistema linear (2.4) com A = JX(x 0 , y 0 ). Similarmente, uma fonte <strong>de</strong> (2.5) po<strong>de</strong> ser tanto um<br />
nó instável quanto um foco <strong>de</strong> (2.5) como <strong>de</strong>finiremos abaixo. Finalmente, <strong>de</strong>finiremos centros<br />
e centro-focos para o sistema não linear (2.5) e mostraremos que com a adição <strong>de</strong> termos não<br />
lineares o centro do sistema linear (2.4) po<strong>de</strong> se tornar um centro, um centro-foco, uma sela ou<br />
um foco instável <strong>de</strong> (2.5).<br />
Vamos então dar <strong>de</strong>finições geométricas precisas para um centro, um centro-foco, um foco<br />
estável e instável, um nó estável e instável e para uma sela topológica <strong>de</strong> um sistema não linear<br />
{<br />
ẋ = p(x, y)<br />
ẏ = q(x, y) . (2.6)<br />
Vamos assumir que (x 0 , y 0 ) ∈ R 2 é uma singularida<strong>de</strong> isolada do sistema (2.6) que foi transladada<br />
para a origem. As soluções do sistema não linear<br />
ou seja,<br />
dr<br />
dθ<br />
{<br />
ṙ = p(rcosθ, rsenθ)cosθ + q(rcosθ, rsenθ)senθ<br />
r ˙θ = q(rcosθ, rsenθ)cosθ − p(rcosθ, rsenθ)senθ<br />
= F (r, θ) =<br />
r[p(rcosθ, rsenθ)cosθ + q(rcosθ, rsenθ)senθ]<br />
q(rcosθ, rsenθ)cosθ − p(rcosθ, rsenθ)senθ<br />
serão <strong>de</strong>notadas por r(t, r 0 , θ 0 ) e θ(t, r 0 , θ 0 ), com r(0) = r 0 e θ(0) = θ 0 .<br />
(2.7)<br />
(2.8)<br />
Escrevendo o sistema <strong>de</strong> equações diferenciais (2.7) em coor<strong>de</strong>nadas polares vamos revelar<br />
50
a natureza da singularida<strong>de</strong> na origem. Isto é ilustrado pelos três exemplos seguintes<br />
Exemplo 2.6. Escreva o sistema {<br />
ẋ = −y − xy<br />
ẏ = x + x 2<br />
em coor<strong>de</strong>nadas polares. Para r > 0 temos,<br />
ṙ =<br />
xẋ + yẏ<br />
r<br />
= −xy − x2 y + xy + x 2 y<br />
r<br />
= 0<br />
e<br />
˙θ =<br />
xẏ − yẋ<br />
r 2 = x2 + x 3 + y 2 + xy 2<br />
r 2 = 1 + x > 0<br />
para x > −1. Assim, ao longo <strong>de</strong> qualquer trajetória <strong>de</strong>ste sistema no semi-plano x > −1, r(t)<br />
é constante e θ(t) cresce sem limite quando t → ∞. Isto é, o retrato <strong>de</strong> fase numa vizinhança<br />
da origem é um centro para este sistema não linear.<br />
Exemplo 2.7. Consi<strong>de</strong>re o sistema<br />
{<br />
ẋ = −y − x 3 − xy 2<br />
ẏ = x − y 3 − x 2 y<br />
em coor<strong>de</strong>nadas polares. Para r > 0 temos,<br />
ṙ = −r 3<br />
e<br />
˙θ = 1.<br />
Assim, r(t) = r 0 (1 + 2r0t) 2 −1/2 para t > −1/(2r0) 2 e θ(t) = θ 0 + t. Vemos que r(t) → 0 e<br />
θ(t) → ∞ quando t → ∞. O retrato <strong>de</strong> fase para este sistema não linear em uma vizinhança<br />
da origem é um foco estável.<br />
Exemplo 2.8. Consi<strong>de</strong>re o sistema<br />
{<br />
ẋ = −y + x 3 + xy 2<br />
ẏ = x + y 3 + x 2 y<br />
em coor<strong>de</strong>nadas polares. Para r > 0 temos,<br />
ṙ = r 3<br />
51
e<br />
˙θ = 1.<br />
Assim, r(t) = r 0 (1−2r0t) 2 −1/2 para t < 1/(2r0) 2 e θ(t) = θ 0 +t. Vemos que r(t) → 0 e |θ(t)| → ∞<br />
quando t → −∞. O retrato <strong>de</strong> fase para este sistema não linear em uma vizinhança da origem<br />
é um foco instável.<br />
Vamos agora dar as <strong>de</strong>finições geométricas precisas <strong>de</strong> um centro, um centro-foco, um foco<br />
estável e instável, um nó estável e instável e <strong>de</strong> uma sela topológica para o sistema não linear<br />
(2.7). Iremos assumir que (x 0 , y 0 ) ∈ R 2 é uma singularida<strong>de</strong> isolada do sistema (2.7) que foi<br />
transladada para a origem; r(t, r 0 , θ 0 ) e θ(t, r 0 , θ 0 ) vão <strong>de</strong>notar as soluções do sistema não linear<br />
(2.8) com r(0) = r 0 e θ(0) = θ 0 .<br />
Definição 2.9. A origem é chamada <strong>de</strong> centro para o sistema não linear (2.5) se existe um<br />
δ > 0 tal que toda trajetória <strong>de</strong> (2.5) numa <strong>de</strong>terminada vizinhança N δ (0, 0) − {(0, 0)} é uma<br />
curva fechada com (0, 0) no interior.<br />
(0,0)<br />
Figura 2.4: centro para (2.5).<br />
Definição 2.10. A origem é chamada <strong>de</strong> centro-foco para (2.5) se existe uma seqüência <strong>de</strong><br />
trajetórias fechadas γ n com γ n+1 no interior <strong>de</strong> γ n tal que γ n → 0 quando n → ∞ e tal que<br />
toda trajetória entre γ n e γ n+1 se espirala na direção <strong>de</strong> γ n ou γ n+1 quando t → ±∞.<br />
(0,0)<br />
Figura 2.5: centro-foco para (2.5).<br />
52
Definição 2.11. A origem é chamada <strong>de</strong> foco estável para (2.5) se existe δ > 0 tal que para<br />
0 < r 0 < δ e δ 0 ∈ R, r(t, r 0 , θ 0 ) → 0 e |θ(t, r 0 , θ 0 )| → ∞ quando t → ∞. É chamado foco<br />
instável se r(t, r 0 , θ 0 ) → 0 e |θ(t, r 0 , θ 0 )| → ∞ quando t → −∞. Qualquer trajetória <strong>de</strong> (2.5)<br />
que satisfaz r(t) → 0 e |θ(t)| → ∞ quando t → ±∞ é dita espiral na direção da origem quando<br />
t → ±∞.<br />
(0,0)<br />
Figura 2.6: foco estável para (2.5).<br />
Definição 2.12. A origem é chamada <strong>de</strong> nó estável para (2.5) se existe δ > 0 tal que para<br />
0 < r 0 < δ e δ 0 ∈ R, r(t, r 0 , θ 0 ) → 0 quando t → ∞ e lim<br />
t→∞<br />
θ(t, r 0 , θ 0 ) existe; isto é, cada<br />
trajetória em uma dada vizinhança da origem se aproxima da origem ao longo <strong>de</strong> uma tangente<br />
bem <strong>de</strong>finida quando t → ∞. A origem é chamada nó instável se 0 < r 0 < δ e δ 0 ∈ R,<br />
r(t, r 0 , θ 0 ) → 0 quando t → −∞ e lim θ(t, r 0, θ 0 ) existe para qualquer r 0 ∈ (0, δ) e θ 0 ∈ R.<br />
t→−∞<br />
A origem é chamada <strong>de</strong> nó próprio para (2.5) se é um nó e se todo raio através da origem é<br />
tangente a alguma trajetória <strong>de</strong> (2.5).<br />
Figura 2.7: nó estavel para (2.5).<br />
Definição 2.13. A origem é uma sela topológica para (2.5) se existirem duas trajetórias γ 1 e<br />
γ 2 que se aproxima <strong>de</strong> (0, 0) quando t → ∞ e duas trajetórias γ 3 e γ 4 que se aproximam <strong>de</strong><br />
(0, 0) quando t → −∞ e se existir um δ > 0 tal que qualquer outra trajetória que comece numa<br />
vizinhança <strong>de</strong>terminada da origem N δ (0, 0) − {(0, 0)} afasta-se <strong>de</strong> N δ (0, 0) quando t → ±∞.<br />
As trajetórias γ i , i = 1, ..., 4 são chamadas <strong>de</strong> separatrizes.<br />
53
(0,0)<br />
Figura 2.8: sela topológica para (2.5).<br />
Para uma sela topológica, a varieda<strong>de</strong> estável na origem é S = γ 1 ∪γ 2 ∪{(0, 0)} e a varieda<strong>de</strong><br />
instável na origem é U = γ 3 ∪γ 4 ∪{(0, 0)}. Se a trajetória γ i se aproxima da origem ao longo <strong>de</strong><br />
um raio fazendo um ângulo θ i com o eixo-x on<strong>de</strong> θ i ∈]−π, π], para i = 1, ..., 4, então θ 2 = θ 1 ±π<br />
e θ 4 = θ 3 ± π. Isto segue por consi<strong>de</strong>ramos as possíveis direções nas quais a trajetória <strong>de</strong> (2.5),<br />
escritas em formas polares (2.7), po<strong>de</strong> se aproximar da origem.<br />
Os seguintes teoremas, provados em [A], são úteis nesta observação. O primeiro teorema é<br />
<strong>de</strong>vido a Bendixson [B].<br />
Teorema 2.14 (Bendixson). Seja X : R 2 → R 2 um campo vetorial polinomial. Se a origem é<br />
uma singularida<strong>de</strong> isolada <strong>de</strong> (2.5), então ou toda vizinhança da origem contém uma trajetória<br />
fechada com (0, 0) no seu interior ou existe uma trajetória se aproximando <strong>de</strong> (0, 0) quando<br />
t → ±∞.<br />
Teorema 2.15. Suponhamos que p(x, y) e q(x, y) em (2.6) sejam polinômios <strong>de</strong> x e y contendo<br />
a origem e que a Expansão <strong>de</strong> Taylor <strong>de</strong> p e q sobre (0, 0) comecem com termos <strong>de</strong> grau m<br />
p m (x, y) e q m (x, y) com m ≥ 1. Então qualquer trajetória <strong>de</strong> (2.6) que se aproxima da origem<br />
quando t → ∞ ou se espirala em direção à origem quando t → ∞ ou ten<strong>de</strong> para a origem numa<br />
direção <strong>de</strong>finida θ = θ 0 quando t → ∞. Se xq m (x, y) − yp m (x, y) não é i<strong>de</strong>nticamente nulo,<br />
então todas as direções, θ 0 , satisfazem a aquação<br />
cosθ 0 q m (cosθ 0 , senθ 0 ) − senθ 0 p m (cosθ 0 , senθ 0 ) = 0.<br />
Além disso, se uma trajetória <strong>de</strong> (2.6) se espiraliza em direção à origem quando t → ∞ então<br />
todas as trajetórias <strong>de</strong> (2.6) numa <strong>de</strong>terminada vizinhança da origem se espiralizam na direção<br />
<strong>de</strong> (0, 0) quando t → ∞.<br />
54
Segue <strong>de</strong>ste teorema que se p e q começam com termos <strong>de</strong> grau um, isto é,<br />
p 1 (x, y) = ax + by e q 1 (x, y) = cx + dy<br />
com a, b, c, d ≠ 0, então as únicas direções possíveis na qual as trajetórias po<strong>de</strong>m se afastar da<br />
origem são dadas por direções que satisfazem<br />
bsen 2 θ + (a − d)senθcosθ − acos 2 θ = 0. (2.9)<br />
Para cosθ ≠ 0, isto é, se b ≠ 0, esta equação é equivalente a<br />
btg 2 θ + (a − d)tgθ − c = 0. (2.10)<br />
Esta equação tem ao menos duas soluções θ ∈ ( −π<br />
2 , π 2<br />
]<br />
e se θ = θ1 é uma solução, então<br />
θ = θ 1 ± π também são soluções. Encontrar as soluções <strong>de</strong> (2.10) é equivalente a encontrar as<br />
direções <strong>de</strong>terminadas pelos autovetores da matriz<br />
A =<br />
[<br />
a<br />
c<br />
O próximo teorema segue imediatamente do Teorema da Varieda<strong>de</strong> Estável e do Teorema <strong>de</strong><br />
Grobman-Hartman. Ele estabelece que se a origem é um ponto hiperbólico para o sistema não<br />
linear (2.5), então existe uma sela topológica para (2.5) se, e somente se, é uma sela para a sua<br />
linearização na origem. Além disso, as direções θ j ao longo <strong>de</strong> cada separatriz γ j que se afasta<br />
da origem são soluções <strong>de</strong> (2.9).<br />
Teorema 2.16. Seja X : R 2 → R 2 um campo polinomial vetorial do sistema não linear (2.5),<br />
com a origem sendo uma singularida<strong>de</strong> hiperbólica. Então a origem é uma sela topológica para<br />
(2.5) se, e somente se, a origem é uma sela para o sistema linear (2.4) com A = JX(0, 0).<br />
Exemplo 2.17. De acordo com o teorema anterior, a origen é uma sela topológica ou uma sela<br />
b<br />
d<br />
]<br />
.<br />
para o sistema não linear {<br />
ẋ = x + 2y + x 2 − y 2<br />
ẏ = 3x + 4y − 2xy<br />
visto que o <strong>de</strong>terminante da parte linear é −2. Além disso, as direções nas quais as separatrizes<br />
se aproximam da origem quando t → ±∞ são dados pelas soluções <strong>de</strong> (2.10):<br />
2tg 2 θ − 3tgθ − 3 = 0<br />
55
isto é,<br />
θ = tg −1 (<br />
3 ± √ )<br />
33<br />
4<br />
e temos θ 1 ⋍ 65, 42 o , θ 3 ⋍ 34, 46 o . Em qualquer ponto do eixo positivo x perto da origem, o<br />
campo <strong>de</strong> vetores é <strong>de</strong>finido por este sistema <strong>de</strong> pontos acima. Des<strong>de</strong> que ẏ > 0. Isto <strong>de</strong>termina<br />
as direções do fluxo <strong>de</strong>finido pelo sistema acima. O retrato <strong>de</strong> fase local para a parte linear<br />
<strong>de</strong>ste campo <strong>de</strong> vetores, bem como a parte não linear, esta mostrado na figura abaixo.<br />
Figura 2.9: Uma sela para o sistema linear e uma sela topológica para o sistema não linear no<br />
exemplo 2.17.<br />
O comportamento qualitativo numa vizinhança da origem é o mesmo para cada sistema.<br />
O próximo teorema, provado em [A], mostra que como p(x, y) e q(x, y) são dois polinômios<br />
e por isso tem <strong>de</strong>rivadas parciais <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m contínuas numa vizinhança da origem,<br />
po<strong>de</strong>mos notar que nós e focos <strong>de</strong> um sistema linear persistem com a adição <strong>de</strong> termos não<br />
lineares.<br />
Teorema 2.18. Seja X : R 2 → R 2 um campo vetorial polinomial. Suponhamos que a origem<br />
é uma singularida<strong>de</strong> hiperbólica <strong>de</strong> (2.5). A origem é um nó estável (instável) para o sistema<br />
não linear (2.5) se, e somente se, é um nó estável (instável) para o sistema linear (2.4) com<br />
A = JX(0, 0). E a origem é um foco estável (instável) para o sistema não linear (2.5) se, e<br />
somente se, é um foco estável (instável) para o sistema linear (2.4) com A = JX(0, 0).<br />
Observação 2.19. De acordo com o teorema anterior, segue que a origem é um nó próprio<br />
para o sistema não linear (2.5) se, e somente se, é um nó próprio para o sistema linear (2.4)<br />
com A = JX(0, 0).<br />
Os exemplos <strong>de</strong> 2.5 a 2.7 acima mostram que um centro para um sistema linear po<strong>de</strong> tanto<br />
continuar um centro quanto po<strong>de</strong> se tornar um foco estável ou instável com a adição <strong>de</strong> um<br />
56
termo não linear. Além disso, po<strong>de</strong>mos encontrar exemplos on<strong>de</strong> a adição <strong>de</strong> termos não lineares<br />
faz com que o centro se torne um centro-foco; e o próximo teorema mostra que estas são as<br />
únicas possibilida<strong>de</strong>s. (Provado em [P])<br />
Teorema 2.20. Seja X : R 2 → R 2 um campo vetorial polinomial com X(0, 0) = (0, 0).<br />
Suponhamos que a origem é um centro para o sistema linear (2.4) com A = JX(0, 0). Então a<br />
origem po<strong>de</strong> ser um centro, um centro-foco, ou um foco para o sistema não linear (2.5).<br />
Demonstração: Po<strong>de</strong>mos assumir que a matriz A = JX(0, 0) tenha sido transformada na<br />
seguinte forma canônica<br />
A =<br />
[<br />
0 −b<br />
b 0<br />
com b ≠ 0. Assuma b > 0; caso contrário, po<strong>de</strong>mos aplicar a transformação linear t → −t. O<br />
sistema não linear (2.6) então tem a forma<br />
Como X é diferenciável, segue que<br />
{<br />
∣<br />
∣ p(x,y)<br />
r<br />
]<br />
ẋ = −by + p(x, y)<br />
ẏ = bx + q(x, y)<br />
∣ → 0 e<br />
∣<br />
∣ q(x,y)<br />
r<br />
q = O(r) quando r → 0. Assim, em coor<strong>de</strong>nadas polares temos,<br />
ṙ = O(r) e ˙θ = b + O(r)<br />
.<br />
∣ → 0 quando r → 0; isto é, p = O(r) e<br />
quando r → 0. Por isso, existe um δ > 0 tal que ˙θ ≥ b > 0 para 0 < r < δ. Assim,<br />
2<br />
para 0 < r 0 < δ e θ 0 ∈ R, θ(t, r 0 , θ 0 ) ≥ bt + θ 2 0 → ∞ quando t → ∞; e θ(t, r 0 , θ 0 ) é uma<br />
função monótona crescente <strong>de</strong> t. Seja t = h(θ) a inversa <strong>de</strong>sta função monótona. Defina<br />
˜r(θ) = r(h(θ), r 0 , θ 0 ) para 0 < r 0 < δ e θ 0 ∈ R. Então ˜r satisfaz a equação diferencial (2.8) que<br />
tem a seguinte forma<br />
dr<br />
dθ<br />
= F (r, θ) =<br />
cosθp(˜rcosθ,<br />
˜rsenθ) + senθq(˜rcosθ, ˜rsenθ)<br />
b + (cosθ/˜r)q(˜rcosθ, ˜rsenθ) − (senθ/˜r)p(˜rcosθ, ˜rsenθ) .<br />
Suponha que a origem não é um centro nem um centro-foco para o sistema (2.6). Então para<br />
δ > 0 suficientemente pequeno, não existem trajetórias fechadas <strong>de</strong> (2.6) numa <strong>de</strong>terminada<br />
vizinhança N δ (0, 0) − {(0, 0)}. Assim, para 0 < r 0 ≤ δ e θ 0 ∈ R, tanto ˜r(θ 0 + 2π) < ˜r(θ 0 )<br />
quanto ˜r(θ 0 + 2π) > ˜r(θ 0 ). Vamos assumir que o primeiro caso ocorre. O segundo caso é<br />
tratado <strong>de</strong> maneira semelhante. Se ˜r(θ 0 + 2π) < ˜r(θ 0 ) então ˜r(θ 0 + 2kπ) < ˜r(θ 0 + 2(k − 1)π)<br />
para k = 1, 2, 3, ... Por outro lado, teremos três trajetórias <strong>de</strong> (2.6) passando pelo mesmo ponto,<br />
o que é impossível. A seqüência ˜r(θ 0 + 2kπ) é monótona <strong>de</strong>crescente e limitada inferiormente<br />
57
por zero; além disso, o seguinte limite existe e é não negativo:<br />
˜r 1 = lim<br />
k→∞<br />
˜r(θ 0 + 2kπ).<br />
Se ˜r 1 = 0, então ˜θ → 0 quando θ → ∞; isto é, r(t, r 0 , θ 0 ) → 0 e θ(t, r 0 , θ 0 ) → ∞ quando t → ∞<br />
e a origem é um foco estável para (2.6). Se ˜r 1 > 0, então tomando | ˜F (r, θ)| ≤ M para 0 ≤ r ≤ δ<br />
e 0 ≤ θ ≤ 2π, a seqüência ˜r(θ 0 + θ + 2kπ) é equicontínua em [0, 2π].<br />
Além disso, pelo Lema <strong>de</strong><br />
Áscoli e pelo Teorema 7.25 em [R] existe uma subseqüência<br />
convergente uniforme ˜r(θ 0 + θ + 2kπ) convergindo para uma solução ˜r 1 (θ) que satisfaz ˜r 1 (θ) =<br />
˜r 1 (θ 0 + 2kπ); isto é, ˜r 1 (θ) é uma solução periódica não nula <strong>de</strong> (2.8). Isto contradiz o fato <strong>de</strong><br />
que não existem trajetórias <strong>de</strong> (2.6) em N δ (0, 0) − {(0, 0)} quando a origem não é um centro<br />
ou um centro foco <strong>de</strong> (2.6). Portanto, a origem não é um centro ou um centro-foco <strong>de</strong> (2.6),<br />
˜r 1 = 0 e a origem é um foco para (2.6).<br />
Definição 2.21. O sistema (2.6) é dito simétrico com respeito ao eixo-x se ele é invariante<br />
pela transformação (t, y) → (−t, −y), em outras palavras, ϕ(t, (x, y)) = −ϕ(−t, (x, −y)); ele é<br />
simétrico com respeito ao eixo-y se ele é invariante pela transformação (t, x) → (−t, −x), em<br />
outras palavras, ϕ(t, (x, y)) = −ϕ(−t, (−x, y)).<br />
Note que o sistema no exemplo (2.4) é simétrico com respeito ao eixo-x, mas não com<br />
respeito ao eixo-y.<br />
Teorema 2.22. Seja X : R 2 → R 2 um campo vetorial polinomial com X(0, 0) = (0, 0). Se o<br />
sistema não linear (2.5) é simétrico com respeito ao eixo-x ou ao eixo-y, e se a origem é um<br />
centro para o sistema linear (2.4) com A = JX(0, 0), então a origem é um centro para o sistema<br />
não linear (2.5).<br />
A idéia da prova <strong>de</strong>ste teorema que po<strong>de</strong> ser vista em [Pe] é a mesma do teorema anterior:<br />
qualquer trajetória <strong>de</strong> (2.6) em N δ (0, 0) que cruza o eixo positivo x vai sempre cruzar o eixo<br />
negativo x. Se o sistema (2.6) é simétrico com respeito ao eixo-x, então as trajetórias <strong>de</strong> (2.6)<br />
em N δ (0, 0) vão ser simétricas com respeito ao eixo-x e daí, todas as trajetórias <strong>de</strong> (2.6) em<br />
N δ (0, 0) vão ser fechadas; isto é, a origem vai ser um centro para (2.6).<br />
58
2.2.2 Singularida<strong>de</strong>s Não Hiperbólicas no R 2<br />
Nesta seção vamos apresentar alguns resultados sobre singularida<strong>de</strong>s não hiperbólicos <strong>de</strong> sistemas<br />
planares. Este trabalho originou-se com Poincaré [P] e foi estendido por Bendixson [B]<br />
e mais recentemente por Andronov em [A]. Vamos assumir que a origem é uma singularida<strong>de</strong><br />
isolada do sistema planar {<br />
ẋ = p(x, y)<br />
ẏ = q(x, y)<br />
(2.11)<br />
on<strong>de</strong> p e q são polinômios. Aqui daremos alguns resultados estabelecidos em [A] para o caso<br />
em que a matriz A = JX(0, 0) tenha um ou dois autovalores zero, mas A ≠ 0.<br />
Primeiramente, notemos que se p e q começam com termos <strong>de</strong> grau m, p m e q m , então segue<br />
do teorema 2.15 da subseção anterior que se a função<br />
g(θ) = cosθq m (cosθ, senθ) − senθp m (cosθ, senθ)<br />
não é i<strong>de</strong>nticamente nula, então existe ao menos 2(m + 1) direções θ = θ 0 tangenciando trajetórias<br />
que se aproximam da origem. Estas direções são dadas por soluções da equação g(θ) = 0.<br />
Suponhamos que g(θ) não é i<strong>de</strong>nticamente nula, então as trajetórias <strong>de</strong> (2.11) que se aproximam<br />
da origem ao longo <strong>de</strong>stas linhas tangentes divi<strong>de</strong>m a vizinhança da origem em um número finito<br />
<strong>de</strong> regiões abertas chamadas setores. Estes setores serão <strong>de</strong> três tipos e vamos <strong>de</strong>screve-los em<br />
<strong>de</strong>finições mais à frente. As trajetórias que ”morrem”nas limitações <strong>de</strong> um setor hiperbólico<br />
são chamdas separatrizes.<br />
Definição 2.23. Um setor que é topologicamente equivalente ao setor da figura na parte (a) é<br />
chamado <strong>de</strong> setor hiperbólico. Um setor que é topologicamente equivalente ao setor mostrado<br />
na figura na parte (b) é chamado <strong>de</strong> setor elíptico. E um setor que é topologicamente equivalente<br />
ao setor mostrado na figura na parte (c) é chamado <strong>de</strong> setor parabólico.<br />
Figura 2.10: (a) um setor hiperbólico. (b) um setor elíptico. (c) setores parabólicos.<br />
Na “<strong>de</strong>finição”acima, o homeomorfismo estabelecendo a equivalência topológica <strong>de</strong> um dos<br />
setores da figura (2.11) não precisa preservar a direção do fluxo; isto é, cada setor da figura (2.11)<br />
com as flechas reversas são setores do mesmo tipo. Por exemplo, a sela tem uma <strong>de</strong>terminada<br />
vizinhança consistindo <strong>de</strong> quatro setores hiperbólicos e quatro separatrizes. E um nó próprio<br />
59
tem uma <strong>de</strong>terminada vizinhança consistindo <strong>de</strong> um setor parabólico. De acordo com o teorema<br />
2.14 da subseção anterior, o sistema<br />
{<br />
ẋ = y<br />
ẏ = −x 3 + 4xy<br />
tem um setor hiperbólico na origem. O retrato <strong>de</strong> fase para este sistema é mostrado na figura<br />
2.11. Toda trajetória que se aproxima da origem é tangente ao eixo-x.<br />
Uma vizinhança próxima da origem consiste <strong>de</strong> um setor elíptico, um setor hiperbólico, dois<br />
setores parabólicos e quatro separatrizes. Este tipo <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong> é chamada singularida<strong>de</strong><br />
com um domínio elíptico.<br />
Figura 2.11: Uma singularida<strong>de</strong> com um domínio elíptico na origem.<br />
Um outro tipo <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong> não hiperbólica para um sistema planar é uma sela-nó. Uma<br />
sela-nó consiste <strong>de</strong> dois setores hiperbólicos e um setor parabólico (bem como três separatrizes<br />
e a singularida<strong>de</strong> por si mesma). De acordo com o teorema 2.13 anterior, o sistema<br />
{<br />
ẋ = x 2<br />
ẏ = y<br />
tem uma sela-nó na origem. Mesmo sem o teorema ( 2.13, ) este sistema é <strong>de</strong> fácil discussão pois<br />
ele po<strong>de</strong> ser resolvido <strong>de</strong> forma explícita x(t) = e y(t) = y 0 e t . O retrato <strong>de</strong> fase <strong>de</strong>ste<br />
sistema é mostrado na figura 2.12 abaixo.<br />
1<br />
x 0 −t<br />
60
Figura 2.12: Uma sela-nó na origem.<br />
Um outro tipo <strong>de</strong> comportamento que po<strong>de</strong> ocorrer em uma singularida<strong>de</strong> não hiperbólica<br />
é ilustrado pelo seguinte exemplo {<br />
ẋ = y<br />
ẏ = x 2<br />
O retrato <strong>de</strong> fase <strong>de</strong>ste sistema é mostrado na figura 2.13. Vemos que uma <strong>de</strong>terminada vizinhança<br />
da origem consiste <strong>de</strong> dois setores hiperbólico e duas separatrizes. Este tipo <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong><br />
é chamada <strong>de</strong> cúspi<strong>de</strong>.<br />
Figura 2.13: Uma cúspi<strong>de</strong> na origem.<br />
Como po<strong>de</strong>mos ver, além dos tipos familiares <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s para sistemas polinomiais<br />
planares discutidos na subseção anterior, isto é, focos, nós, selas topológicas e centros, os<br />
outros únicos tipos <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>m ocorrer para (2.11) quando A ≠ 0 são selasnó,<br />
singularida<strong>de</strong>s com domínios elípticos e cúspi<strong>de</strong>s. Primeiramente consi<strong>de</strong>ramos o caso em<br />
que a matriz A tenha autovalores diferentes <strong>de</strong> zero, isto é, quando <strong>de</strong>tA = 0, mas trA ≠ 0.<br />
Neste caso e como mostrado em [A] na pag 338, o sistema (2.11) po<strong>de</strong> ser colocado na forma,<br />
{<br />
ẋ = p 2 (x, y)<br />
(2.12)<br />
ẏ = y + q 2 (x, y)<br />
61
on<strong>de</strong> p 2 e q 2 são polinômios e tem expressões que começam com termos <strong>de</strong> segundo grau em x<br />
e y. O próximo teorema é provado na página 340 em [A].<br />
Teorema 2.24. Consi<strong>de</strong>remos a origem uma singularida<strong>de</strong> isolada para o sistema (2.12). Seja<br />
y = θ(x) a solução da equação y + q 2 (x, y) = 0 em uma <strong>de</strong>terminada vizinhança da origem<br />
e seja a expansão da função ψ(x) = p 2 (x, θ(x)) em uma vizinhança <strong>de</strong> x = 0 com a forma<br />
ψ(x) = a m x m + ... on<strong>de</strong> m ≥ 2 e a m ≠ 0. Então,<br />
(1) para m ímpar e a m > 0, a origem é um nó instável,<br />
(2) para m ímpar e a m < 0, a origem é uma sela topológica,<br />
(3) para m par, a origem é uma sela-nó.<br />
Agora, vamos consi<strong>de</strong>rar o caso em que A tenha dois autovalores nulos, isto é, <strong>de</strong>tA = 0,<br />
trA = 0, mas A ≠ 0. Neste caso é mostrado em [A], pg.356, que o sistema (2.11) po<strong>de</strong> ser<br />
colocado na forma matricial,<br />
{<br />
ẋ = y<br />
(2.13)<br />
ẏ = a k x k [1 + h(x)] + b n x n y[1 + g(x)] + y 2 R(x, y)<br />
on<strong>de</strong> h(0) = g(0) = 0, k ≥ 2, a k ≠ 0 e n ≥ 1. Os dois próximos teoremas estão provados nas<br />
pgs.357 − 362 em [A].<br />
Teorema 2.25. Seja k = 2m + 1 com m ≥ 1 em (2.13) e seja λ = b 2 n + 4(m + 1)a k . Então,<br />
se a k > 0 a origem é uma sela topológica; se a k < 0 a origem é<br />
(1) um foco ou um centro se b m = 0 e também se b n ≠ 0 e n > m ou se n = m e λ < 0,<br />
(2) um nó se b n ≠ 0, n é um número par e n < m e também se b n ≠ 0, n é um número par,<br />
n = m e λ ≥ 0,<br />
(3) uma singularida<strong>de</strong> com domínio elíptico se b n ≠ 0, n é um número ímpar e n < m e<br />
também se b n ≠ 0, n é um número ímpar e λ ≥ 0.<br />
Teorema 2.26. Seja k = 2m com m ≥ 1 em (2.13). Então a origem é<br />
(1) uma cúspi<strong>de</strong> se b n = 0 e também se b n ≠ 0 e n ≥ m,<br />
(2) uma sela-nó se b n ≠ 0 e n < m.<br />
Vimos que se JX(0, 0) tem um autovalor zero, então a singularida<strong>de</strong> (x 0 , y 0 ) é um nó, uma<br />
sela topológica, ou uma sela-nó; e se JX(0, 0) tem dois autovalores zero, então a singularida<strong>de</strong><br />
(x 0 , y 0 ) é um foco, um centro, um nó, uma sela topológica, uma sela-nó, uma cúspi<strong>de</strong>, ou uma<br />
singularida<strong>de</strong> com domínio eliptico.<br />
Finalmente, e se a matriz A = 0 Neste caso, o comportamente próximo da origem po<strong>de</strong><br />
ser muito complexo. Se p e q começam com termos <strong>de</strong> grau m, então as separatrizes po<strong>de</strong>m<br />
62
dividir uma vizinhança da origem em 2(m + 1) setores <strong>de</strong> vários tipos. O número <strong>de</strong> setores<br />
elípticos menos o número <strong>de</strong> setores hiperbólicos é sempre um número par.<br />
Por exemplo, o sistema quadrático homogêneo<br />
{<br />
ẋ = x 2 + xy<br />
ẏ = 1 2 y2 + xy<br />
tem o retrato <strong>de</strong> fase mostrado na figura 2.14 abaixo. Existem dois setores elípticos e dois<br />
setores parabólicos na origem. Todos os tipos possíveis <strong>de</strong> retratos <strong>de</strong> fase para sistemas<br />
quadráticos homogêneos foram classificados pelo matemático russo L.S. Lyagina [Ly]. Para<br />
maiores informações sobre o assunto, ver [N/S].<br />
Figura 2.14:<br />
parabólicos.<br />
Uma singularida<strong>de</strong> não-hiperbólica com dois setores elípticos e dois setores<br />
2.3 Teoria da Varieda<strong>de</strong> Central<br />
Vamos agora adicionar um resultado importante que estabelece a existência <strong>de</strong> uma varieda<strong>de</strong><br />
central W C (0, 0) tangente a E C na origem.<br />
Teorema 2.27 (Varieda<strong>de</strong> Central). Seja X : R 2 → R 2 um campo vetorial polinomial.<br />
Suponhamos que X(0, 0) = (0, 0) e que JX(0, 0) tem k autovalores com parte real negativa; j<br />
autovalores com parte real positiva e m = 2 − k − j autovalores com parte real zero. Então<br />
existe uma varieda<strong>de</strong> central m-dimensional W C (0, 0) tangente ao subespaço central E C do<br />
sistema não linear (2.5) em (0, 0), uma varieda<strong>de</strong> estável k-dimensional W S (0, 0) tangente<br />
ao subespaço estável E S do sistema não linear (2.5) em (0, 0) e uma varieda<strong>de</strong> instável j-<br />
dimensional W U (0, 0) tangente ao subespaço instável E U do sistema não linear (2.5) em (0, 0).<br />
Além disso, W C (0, 0),W S (0, 0) e W U (0, 0) são invariantes pelo fluxo ϕ do sistema linear (2.4).<br />
63
Exemplo 2.28. Consi<strong>de</strong>re o sistema<br />
{<br />
ẋ = x 2<br />
ẏ = −y<br />
(2.14)<br />
Cada equação <strong>de</strong>ste sistema po<strong>de</strong> ser integrada separadamente, a partir das condições iniciais<br />
x(0) = x 0 e y(0) = y 0 , resultando nas soluções<br />
x(t) = x 0<br />
1 − tx 0<br />
e<br />
y(t) = y 0 e −t .<br />
Combinando estas duas expressões <strong>de</strong> maneira a eliminar t, obtemos a fórmula y = y(x), que<br />
resultam nas trajetórias <strong>de</strong>scritas no espaço <strong>de</strong> fases<br />
y(x) =<br />
(y 0 e −1<br />
x 0<br />
)<br />
e 1 x .<br />
Essa fórmula permite esboçar o retrato <strong>de</strong> fase do sistema (2.14). A expressão y(t) mostra que<br />
para qualquer valor <strong>de</strong> y 0 , y → 0 quando t → ∞. A expressão x(t) revela que se x 0 < 0, temos<br />
que x → 0 quando t → ∞; e se x 0 > 0, então x → ∞ quando t → 1 x 0<br />
.<br />
S<br />
W (0,0)<br />
(0,0)<br />
C<br />
W (0,0)<br />
Figura 2.15: retrato <strong>de</strong> fase do sistema (2.14).<br />
A singularida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse sistema é o ponto (0, 0). A matriz jacobiana calculada nesse ponto é<br />
tal que os autovalores são λ 1 = 0 e λ 2 = −1. Portanto, como existe um autovalor com parte<br />
real nula, não <strong>de</strong>ve haver equivalência topológica com relação ao sistema linear correspon<strong>de</strong>nte.<br />
Teorema 2.29 (Varieda<strong>de</strong> Central Local). Seja X : R 2 → R 2 um campo vetorial polinomial.<br />
Suponhamos que X(0, 0) = (0, 0) e que JX(0, 0) tenha um autovalor nulo e um autovalor<br />
64
negativo. Como (ẋ, ẏ) = X(x, y) = (p(x, y), q(x, y)), temos<br />
{<br />
ẋ = p(x, y)<br />
ẏ = q(x, y)<br />
mas ele po<strong>de</strong> ser escrito na forma<br />
{<br />
ẋ = f(x, y)<br />
ẏ = −αy + g(x, y)<br />
(2.15)<br />
on<strong>de</strong> f(0, 0) = g(0, 0) = 0.<br />
Além disso, existe h ∈ C w (V δ (0, 0)) que <strong>de</strong>fine a varieda<strong>de</strong> central local W C loc(0, 0) =<br />
{(x, y)/y = h(x), |x| < δ} e satisfaz<br />
h ′ (x)[f(x, h(x))] + αh(x) − g(x, h(x)) = 0 (2.16)<br />
com fluxo na varieda<strong>de</strong> central<br />
Exemplo 2.30. Consi<strong>de</strong>re o sistema<br />
{<br />
ẋ = f(x, h(x)). (2.17)<br />
ẋ = x 2 y − x 5<br />
ẏ = −y + x 2 .<br />
Neste caso, temos f(x, y) = x 2 y − x 5 e g(x, y) = x 2 . Vamos substituir a expansão<br />
h(x) = ax 2 + bx 3 + o(x 4 ) e Dh(x) = 2ax + 3bx 2 + o(x 3 )<br />
na equação (2.16) para obter<br />
(2ax + 3bx 2 + ...)(ax 4 + bx 3 + ... − x 5 ) + ax 2 + bx 3 + ... − x 2 = 0<br />
Fixando os coeficientes <strong>de</strong> mesmo grau <strong>de</strong> x igual a zero, segue que a − 1 = 0, b = 0, c = 0, ...<br />
Então,<br />
h(x) = x 2 + o(x 5 ).<br />
Substituindo este resultado na equação (2.17), temos então<br />
ẋ = x 4 + o(x 5 ).<br />
65
C<br />
W (0)<br />
S<br />
S<br />
E = W (0)<br />
E<br />
C<br />
Figura 2.16: retrato <strong>de</strong> fase do sistema do exemplo 2.30.<br />
66
Capítulo 3<br />
Blow-up Polar e Blow-up Direcional<br />
No estudo das singularida<strong>de</strong>s existe uma técnica po<strong>de</strong>rosa, o “blow-up”. O “blow-up”é utilizado<br />
quando temos singularida<strong>de</strong>s não elementares, isto é, quando ambos os autovalores são nulos e<br />
o princípio <strong>de</strong> redução ao comportamento central não se aplica. Ele também serve para estudar<br />
pontos fixos <strong>de</strong> difeomorfismos, mas vamos apresentar essencialmente para singularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
campos <strong>de</strong> vetores.<br />
Seja X : R 2 → R 2 um campo vetorial polinomial com X(0, 0) = (0, 0). Consi<strong>de</strong>remos a<br />
aplicação<br />
Φ : S 1 × R → R 2<br />
(θ, r) ↦→ (rcosθ, rsenθ).<br />
Então po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir um campo <strong>de</strong> vetores ˆX em S 1 × R com Φ ∗ ( ˆX) = X, <strong>de</strong> modo que<br />
DΦ ∗ ( ˆX(θ, r)) = X(Φ(θ, r)). Isto é chamado <strong>de</strong> pull back <strong>de</strong> X por Φ. Não é nada mais do que<br />
X escrito em coor<strong>de</strong>nadas polares. Se o k-jato (polinômio <strong>de</strong> Taylor <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m k) j k (X(0, 0)) é<br />
zero, então j k ( ˆX(θ, 0)) = (0, 0) para qualquer (θ, 0) ∈ S 1 × {0}.<br />
Na prática, contudo, em vez <strong>de</strong> utilizarmos coor<strong>de</strong>nadas polares, usamos o chamado “blowup”direcional.<br />
Na direção do eixo-x:<br />
(¯x, ȳ) → (¯x, ȳ¯x) <strong>de</strong>notado por ˆX x . (3.1)<br />
Na direção do eixo-y:<br />
(¯x, ȳ) → (¯xȳ, ȳ) <strong>de</strong>notado por ˆX y . (3.2)<br />
Quando {x ≠ 0}, (3.1) é o mesmo que o “blow-up”polar, a menos <strong>de</strong> uma mudança analítica<br />
<strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas: θ ≠ π 2 , 3π 2 .<br />
(θ, r) → (rcosθ, tgθ) → (rcosθ, tgθrcosθ) = (rcosθ, rsenθ).<br />
67
Quando {y ≠ 0}, (3.2) também será o mesmo que o “blow-up”polar, a menos <strong>de</strong> uma<br />
mudança analítica <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas: θ ≠ 0, π.<br />
(θ, r) → (cotgθ, rsenθ) → (cotgθrsenθ, rsenθ) = (rcosθ, rsenθ).<br />
Neste caso, com j k (X(0, 0)) = (0, 0) e j k+1 (X(0, 0)) ≠ (0, 0) po<strong>de</strong>mos ganhar informações<br />
consi<strong>de</strong>rando ¯X como<br />
¯X = 1 r k ˆX.<br />
Então ¯X também é um campo <strong>de</strong> vetores sobre S 1 × R. Esta divisão não altera as órbitas<br />
<strong>de</strong> ˆX, nem os seus sentidos, mas somente a parametrização por t.<br />
Para o “blow-up”direcional usamos<br />
1<br />
ˆx k ˆX x no caso (3.1) e 1 ŷ k ˆX y no caso (3.2). Quando<br />
{x ≠ 0},<br />
1<br />
ˆr k ˆX e 1ˆx k ˆX x são os mesmos a menos <strong>de</strong> uma mudança analítica <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas e <strong>de</strong><br />
uma multiplicação por uma função analítica positiva.<br />
Vamos analisar dois exemplos.<br />
Exemplo 3.1. Neste exemplo, on<strong>de</strong> vamos utilizar um “blow-up”, obteremos facilmente o<br />
retrato <strong>de</strong> fase numa vizinhança da singularida<strong>de</strong>.<br />
{<br />
ẋ = x 2 − 2xy<br />
ẏ = y 2 − xy<br />
Tomando x = rcosθ e y = rsenθ, no sistema acima, teremos<br />
{<br />
. (3.3)<br />
ẋ = ṙcosθ − rsenθ ˙θ . (3.4)<br />
ẏ = ṙsenθ + rcosθ ˙θ<br />
Agora substituindo x = rcosθ e y = rsenθ no sistema (3.3), teremos<br />
{<br />
ẋ = r 2 cos 2 θ − 2r 2 cosθsenθ<br />
ẏ = r 2 sen 2 θ − r 2 senθcosθ<br />
. (3.5)<br />
Assim, igualando (3.4) a (3.5), temos<br />
{<br />
ṙcosθ − rsenθ ˙θ = r 2 cos 2 θ − 2r 2 cosθsenθ<br />
ṙsenθ + rcosθ ˙θ = r 2 sen 2 θ − r 2 senθcosθ<br />
.<br />
O que precisamos é encontrar ṙ e ˙θ. Para encontrarmos ṙ multiplicamos a primeira equação<br />
acima por cosθ e a segunda por senθ. E para encontrarmos ˙θ multiplicamos a primeira equação<br />
68
por senθ e a segunda equação por −cosθ. Assim, obtemos o sistema<br />
{ ˙θ = cosθsenθ(3senθ − 2cosθ)<br />
ṙ = (cos 3 θ − 2cos 2 θsenθ − cosθsen 2 θ + sen 3 θ)r .<br />
Vamos analisar as singularida<strong>de</strong>s. As singularida<strong>de</strong>s com r = 0 estão localizados em θ =<br />
0, π 2 , π, 3π 2 e tgθ = 2 3 .<br />
De fato, quando r = 0, temos<br />
θ = 0, π ⇒ cos0sen0(3sen0 − 2cos0) = 0<br />
θ = π 2 , 3π 2 ⇒ cos π 2 sen π 2 (3sen π 2 − 2cos π 2 ) = 0<br />
θ ≠ 0, π, π 2 , 3π 2<br />
senθ<br />
⇒ cosθsenθ(3senθ − 2cosθ) = 0 ⇒ 3senθ = 2cosθ ⇒ = tgθ = 2.<br />
cosθ 3<br />
Agora, como tgθ = 2 , temos que os valores <strong>de</strong>stes ângulos, em radianos, são: θ = 0, 5880 ou<br />
3<br />
θ = 3, 7295.<br />
O autovalor relacionado à direção r é dito radial e à direção θ angular. Eles são obtidos<br />
encontrando a matriz jacobiana JX(r, θ), para todos os valores <strong>de</strong> θ obtidos <strong>de</strong> (3.1) e (3.2) e<br />
com r = 0 anteriores. Vamos calcular, primeiramente JX(0, θ) e <strong>de</strong>pois substituímos os valores<br />
<strong>de</strong> θ que temos:<br />
=<br />
[<br />
JX(0, θ) =<br />
[<br />
∂ṙ<br />
∂r<br />
∂ ˙θ<br />
∂r<br />
∂ṙ<br />
∂θ<br />
∂ ˙θ<br />
∂θ<br />
cos 3 θ − 2cos 2 θsenθ − cosθsen 2 θ + sen 3 θ 0<br />
]<br />
=<br />
0 −3sen 3 θ + 6cos 2 θsenθ + 4cosθsen 2 θ − 2cos 3 θ<br />
]<br />
.<br />
Para θ = 0, temos:<br />
Para θ = π 2 , temos:<br />
JX(0, 0) =<br />
JX<br />
[<br />
[<br />
(<br />
0, π )<br />
=<br />
2<br />
1 0<br />
0 −2<br />
1 0<br />
0 −3<br />
]<br />
.<br />
]<br />
.<br />
Para θ = π, temos:<br />
JX(0, π) =<br />
[<br />
−1 0<br />
0 2<br />
]<br />
.<br />
Para θ = 3π 2 , temos:<br />
JX<br />
(<br />
0, 3π 2<br />
) [<br />
=<br />
−1 0<br />
0 3<br />
]<br />
.<br />
69
Para θ = 0, 5880, temos:<br />
[<br />
JX(0; 0, 5880) =<br />
−0, 33 0<br />
0 1, 66<br />
]<br />
.<br />
Para θ = 3, 7295, temos:<br />
[<br />
JX(0; 3, 7295) =<br />
0, 33 0<br />
0 −1, 66<br />
]<br />
.<br />
Assim encontramos,<br />
Figura 3.1: retrato <strong>de</strong> fase após o “blow-up”.<br />
A figura 3.2 representa o retrato <strong>de</strong> fase após o “blow-down”. Todas as singularida<strong>de</strong>s são<br />
hiperbólicas, tipo sela.<br />
Figura 3.2: retrato <strong>de</strong> fase após o “blow-down”.<br />
Agora vamos exibir um exemplo on<strong>de</strong> um “blow-up”não é suficiente para <strong>de</strong>singularizar a<br />
singularida<strong>de</strong>, mas on<strong>de</strong> nós precisamos repetir a construção (“blow-up”sucessivo).<br />
Exemplo 3.2. Consi<strong>de</strong>remos o sistema não linear<br />
{<br />
ẋ = y<br />
ẏ = x 2 + xy .<br />
70
Um “blow-up”na direção do eixo-y não vai gerar nenhuma singularida<strong>de</strong> em {y = 0}; na<br />
verda<strong>de</strong>, as singularida<strong>de</strong>s (assim como seus autovalores) <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m somente do 1-jato não<br />
nulo, portanto em ẋ = y.<br />
vamos tomar {<br />
Nós iremos realizar um “blow-up”na direção do eixo-x, ou seja,<br />
x = ¯x<br />
y = ȳ¯x .<br />
Vamos encontar então ˙¯x e ˙ȳ a partir <strong>de</strong>sta mudança.<br />
Assim,<br />
˙¯x = ẋ = y = ¯xȳ<br />
e<br />
Logo, temos<br />
˙ȳ = ẏx − y ˙¯x<br />
x 2<br />
= x + y − y2<br />
x 2 = ¯x + ¯xȳ − ȳ2 .<br />
{<br />
˙¯x = ¯xȳ<br />
˙ȳ = ¯x + ¯xȳ − ȳ 2 .<br />
Vamos analisar as singularida<strong>de</strong>s. Para ȳ = 0, temos que ¯x = 0 e para ¯x = 0 temos que ȳ = 0.<br />
Portanto a única singularida<strong>de</strong> é (0, 0). Assim,<br />
[ ]<br />
J ¯X(0, 0 0<br />
0) =<br />
1 0<br />
e os autovalores são λ 2 − 0 = 0 o que implica em λ = 0. Mostrando que a singularida<strong>de</strong> não é<br />
elementar.<br />
Como a singularida<strong>de</strong> não é hiperbólica (com uma possível redução à varieda<strong>de</strong> central)<br />
vamos realizar um “blow-up”extra para estuda-la. Com um “blow-up”na direção do eixo-x não<br />
obteremos singularida<strong>de</strong>s. Vamos então fazer um “blow-up”na direção do eixo-y, tomando<br />
{<br />
¯x = ȳ¯x<br />
.<br />
ȳ = ȳ<br />
Vamos encontar então ˙¯x e ˙ȳ a partir <strong>de</strong>sta mudança.<br />
Assim,<br />
˙ȳ = ˙ȳ = ¯x + ¯xȳ − ȳ 2 = ȳ¯x + ȳ 2¯x − ȳ 2<br />
e<br />
˙¯x = ˙¯xȳ − ¯x ˙ȳ = ȳ¯xȳ − ȳ¯x(¯x + ¯xȳ − ȳ 2 )<br />
ȳ 2 ȳ 2<br />
= −¯x 2 − ȳ¯x 2 + 2ȳ¯x.<br />
71
Logo, temos<br />
{ ˙¯x = −¯x 2 − ȳ¯x 2 + 2ȳ¯x<br />
˙ȳ = ȳ¯x + ȳ 2¯x − ȳ 2 .<br />
Vamos analisar as singularida<strong>de</strong>s. Para ˙¯x = 0, temos<br />
¯x(−¯x − ȳ¯x + 2ȳ) = 0 ⇒ ¯x = 0 ou − ¯x − ȳ¯x + 2ȳ = 0.<br />
Tomando −¯x − ȳ¯x + 2ȳ = 0 obtemos a seguinte relação: ¯x = 2ȳ . Se substituirmos este valor<br />
1+ȳ<br />
<strong>de</strong> ¯x em ˙ȳ = 0 obteremos que ȳ = −1 e este valor não po<strong>de</strong> ser substituido em ¯x. Portanto o<br />
único valor que po<strong>de</strong>mos tomar para ¯x é zero. Dai, temos que ȳ = 0.<br />
Logo, a única singularida<strong>de</strong> é (0, 0). Assim,<br />
JX(0, 0) =<br />
e os autovalores são λ 2 − 0 = 0 o que implica em λ = 0. Mostrando que a singularida<strong>de</strong> não é<br />
elementar.<br />
O 2-jato é agora<br />
[<br />
0 0<br />
0 0<br />
]<br />
{ ˙¯x = −¯x 2 + 2¯xȳ<br />
˙ȳ = ¯x¯− ȳ 2 .<br />
Como vimos (exemplo anterior), esta singularida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser estudada com um “blow-up”polar.<br />
A sucessão <strong>de</strong> “blow-ups”é a seguinte:<br />
Figura 3.3: retrato <strong>de</strong> fase no plano (¯x, ȳ).<br />
A figura 3.3 representa o retrato <strong>de</strong> fase no plano (¯x, ȳ) após o “blow-up”polar.<br />
72
Figura 3.4: retrato <strong>de</strong> fase no plano (¯x, ȳ).<br />
Na figura 3.4 encontramos o retrato <strong>de</strong> fase no plano (¯x, ȳ), obtido do anterior pela aplicação<br />
(¯x = cotgθ, ȳ = rsenθ).<br />
Figura 3.5: retrato <strong>de</strong> fase no plano (x, y).<br />
Já na figura 3.5 está representado o retrato <strong>de</strong> fase no plano (x, y) obtido do anterior pela<br />
aplicação (¯x = rcosθ, ȳ = tgθ).<br />
Figura 3.6: retrato <strong>de</strong> fase após o “blow-down”.<br />
Por fim, a figura 3.6 representa o retrato <strong>de</strong> fase após o “blow-down”. Esta é uma singularida<strong>de</strong><br />
do tipo cúspi<strong>de</strong>.<br />
73
3.0.1 Blow-up Quase-homogêneo e o Diagrama <strong>de</strong> Newton<br />
Definição 3.3. Um campo <strong>de</strong> vetores X : R 2 → R 2 satisfaz a Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lojasiewicz em<br />
(0, 0) se<br />
em alguma vizinhança <strong>de</strong> (0, 0).<br />
∃k ∈ N ∗ e ∃c > 0 tal que ‖X(x, y)‖ ≥ c‖(x, y)‖ k<br />
Um campo <strong>de</strong> vetores analítico sempre satisfaz a Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lojasiewicz em uma<br />
singularida<strong>de</strong> isolada.<br />
Conforme [Du], foi provado que se X satisfaz uma Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Lojasiewicz, então existe uma seqüência finita <strong>de</strong> “blow-ups”produzindo um campo <strong>de</strong> vetores<br />
¯X n com todas as singularida<strong>de</strong>s elementares.<br />
Como estamos trabalhando com campos polinomiais, todas as conclusões acima são satisfeitas.<br />
Além disso, a posição e as proprieda<strong>de</strong>s das singularida<strong>de</strong>s mencionadas acima <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />
somente <strong>de</strong> um jato finito <strong>de</strong> X.<br />
O “blowing-up locus”é dividido em um número finito <strong>de</strong> zonas, as quais, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um<br />
“blow-down”, proporcionam uma <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> uma vizinhança da singularida<strong>de</strong> em setores<br />
hiperbólicos (ou selas), setores elípticos e setores parabólicos do tipo atratores ou repulsores.<br />
Figura 3.7: setor hiperbólico, setor elíptico e setor parabólico.<br />
Na figura 3.7 temos uma representação topológica dos possíveis setores.<br />
As linhas invariantes C ∞ na fronteira <strong>de</strong>stes setores, incluindo a singularida<strong>de</strong>, são chamadas<br />
órbitas características (ou linhas características), as quais ten<strong>de</strong>m para a singularida<strong>de</strong> com uma<br />
inclinação bem <strong>de</strong>finida quando o tempo ten<strong>de</strong> para +∞ ou −∞.<br />
As linhas C ∞ tendo um contato finito com o “blowing-up locus”dão origem a linhas características<br />
<strong>de</strong> tipo finito; isto significa que as linhas características possuem uma parametrização<br />
C ∞ , γ : [0, ɛ) → R 2 com j r γ(0, 0) ≠ (0, 0) para algum r ∈ N.<br />
Apesar do método do “blow-up”sucessivo ser eficiente no estudo das singularida<strong>de</strong>s isoladas,<br />
apresentaremos um método que revela-se mais eficiente no momento da implementação<br />
computacional: o “blow-up”quase-homogêneo.<br />
Definição 3.4. Uma função f : R 2 → R é chamada <strong>de</strong> quase-homogênea do tipo (α, β) ∈ N 2<br />
e grau k se<br />
f(r α x, r β y) = r k f(x, y), ∀r ∈ R<br />
74
Um campo <strong>de</strong> vetores X = (f 1 (x, y), f 2 (x, y)) é chamado <strong>de</strong> quase-homogêneo do tipo (α, β) e<br />
grau k + 1 se f 1 é quase-homogênea do tipo (α, β) e grau k + α e f 2 é quase-homogênea do tipo<br />
(α, β) e grau k + β.<br />
Exemplo 3.5. O campo <strong>de</strong> vetores<br />
{<br />
ẋ = x 2 − 2xy<br />
ẏ = y 2 − xy<br />
é quase-homogênea do tipo (1, 1) e grau 2.<br />
De fato, da <strong>de</strong>finição anterior temos que f 1 (x, y) = x 2 − 2xy e f 2 (x, y) = y 2 − xy.<br />
Daí,<br />
f 1 (rx, ry) = r 2 x 2 − 2r 2 xy = r 2 (x 2 − 2xy) = r 2 f 1 (x, y)<br />
é uma função quase-homogênea do tipo (1, 1) e grau 2.<br />
Agora,<br />
f 2 (rx, ry) = r 2 y 2 − r 2 xy = r 2 (y 2 − xy) = r 2 f 2 (x, y)<br />
também é uma função quase-homogênea do tipo (1, 1) e grau 2.<br />
Logo, o campo <strong>de</strong> vetores X é quase-homogêneo do tipo (1, 1) e grau 2.<br />
Exemplo 3.6. O campo <strong>de</strong> vetores {<br />
ẋ = y<br />
ẏ = x 2<br />
é quase-homogêneo do tipo (2, 3) e grau 2.<br />
De fato, da <strong>de</strong>finição anterior temos que f 1 (x, y) = y e f 2 (x, y) = x 2 .<br />
Assim,<br />
f 1 (rx, ry) = r 3 y = r 3 f 1 (x, y)<br />
é uma função quase-homogênea do tipo (2, 3) e grau 3.<br />
E,<br />
f 2 (rx, ry) = (r 2 x) 2 = r 4 x 2 = r 4 f 2 (x, y)<br />
também é uma função quase-homogênea do tipo (2, 3), mas <strong>de</strong> grau 4.<br />
Logo, o campo <strong>de</strong> vetores X é quase-homogêneo do tipo (2, 3) e grau 2.<br />
No caso quase-homogêneo do tipo (α, β) tentaremos o seguinte “blow-up”:<br />
Ψ : S 1 × R → R 2<br />
((¯x, ȳ), r) ↦→ (r α¯x, r β ȳ)<br />
75
com ¯x 2 + ȳ 2 = 1.<br />
Vamos testar isto no campo vetorial X(x, y) = (y, x 2 ); usando a versão direcional.<br />
Na direção do eixo-x, ¯x = 1: (x, y) = (r 2 , r 3 ȳ)<br />
{<br />
ẋ = y<br />
ẏ = x 2 .<br />
Como estamos usando a mudança (x, y) = (r 2 , r 3 ȳ), temos também que<br />
{<br />
ẋ = 2rṙ<br />
ẏ = 3r 2 ȳṙ + r 3 ˙ȳ .<br />
Daí,<br />
e<br />
2rṙ = ẋ = y = r 3 ȳ ⇒ ṙ = r2 ȳ<br />
2<br />
3r 2 ȳṙ + r 3 ˙ȳ = ẏ = x 2 = r 4 ⇒ r 2 ˙ȳ = r 4 − 3r 2 ȳṙ ⇒ ˙ȳ =<br />
(1 − 3 2ȳ2 )<br />
r.<br />
Logo, o novo sistema fica {<br />
ṙ = r2 ȳ<br />
2<br />
˙ȳ = ( 1 − 3 2ȳ2) r .<br />
E como o campo <strong>de</strong> vetores é <strong>de</strong> grau 2, dividimos por r e encontramos o sistema<br />
{<br />
ṙ = rȳ 2<br />
˙ȳ = 1 − 3 2ȳ2 .<br />
As singularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste sistema são: (0, − √ 0, 6) e (0, √ 0, 6).<br />
E calculando a sua matriz jacobiana, temos<br />
JX(r, ȳ) =<br />
[<br />
∂ṙ<br />
∂r<br />
∂ ˙ȳ<br />
∂r<br />
∂ṙ<br />
∂ȳ<br />
∂ ˙ȳ<br />
∂ȳ<br />
]<br />
=<br />
[<br />
ȳ<br />
2<br />
r<br />
2<br />
0 −3ȳ<br />
]<br />
.<br />
Agora, substituindo os valores das singularida<strong>de</strong>s nesta matriz temos,<br />
JX<br />
(<br />
0, − √ [<br />
)<br />
0, 6 =<br />
−2 √ 0, 6 0<br />
0 3 √ 0, 6<br />
]<br />
e JX<br />
(<br />
0, √ [<br />
)<br />
0, 6 =<br />
2 √ 0, 6 0<br />
0 −3 √ 0, 6<br />
]<br />
.<br />
Assim, temos o seguinte retrato <strong>de</strong> fase para o sistema<br />
76
Figura 3.8: retrato <strong>de</strong> fase do “blow-up”na direção do eixo-x.<br />
Na direção do eixo-y, ȳ = 1: (x, y) = (r 2¯x, r 3 )<br />
{<br />
ẋ = y<br />
ẏ = x 2 .<br />
Como estamos usando a mudança (x, y) = (r 2¯x, r 3 ), temos também que<br />
{<br />
ẋ = 2rṙ¯x + r 2 ˙¯x<br />
ẏ = 3r 2 ṙ<br />
.<br />
Daí,<br />
e<br />
3r 2 ṙ = ẏ = x 2 = (r 2¯x) 2 = r 4¯x 2 ⇒ ṙ = r2¯x 2<br />
2r¯xṙ + r 2 ˙¯x = ẋ = y = r 3 ⇒ r 2 ˙¯x = r 3 − 2r¯xṙ ⇒ ˙¯x =<br />
3<br />
(1 − 2 3 ¯x3 )<br />
r 3 .<br />
Logo, o novo sistema fica {<br />
ṙ = r2¯x 2<br />
3<br />
˙¯x = ( 1 − 2 3 ¯x3) r 3 .<br />
Dividindo outra vez por r, encontramos<br />
{<br />
ṙ = r¯x2<br />
3<br />
˙¯x = 1 − 2 3 ¯x3 .<br />
A singularida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste sistema é : (0; 3√ 1, 5).<br />
77
Calculando a sua matriz jacobiana, temos<br />
JX(r, ȳ) =<br />
[<br />
∂ṙ<br />
∂r<br />
∂ ˙ȳ<br />
∂r<br />
∂ṙ<br />
∂ȳ<br />
∂ ˙ȳ<br />
∂ȳ<br />
]<br />
=<br />
[ ]<br />
1<br />
3 ¯x2 2r¯x<br />
3<br />
.<br />
0 −2¯x 2<br />
Substituindo o valor da singularida<strong>de</strong> nesta matriz obtemos,<br />
JX<br />
(<br />
0, √ [<br />
1, 5 3) 1<br />
3<br />
=<br />
( 3√ ]<br />
1, 5) 2 0<br />
0 −2( 3√ .<br />
1, 5) 2<br />
Logo, o retrato <strong>de</strong> fase para o sistema é dado por<br />
Figura 3.9: retrato <strong>de</strong> fase do “blow-up”na direção do eixo-y.<br />
Em contraste com o caso homogêneo on<strong>de</strong> estes cálculos bastariam, nós agora também<br />
precisamos olhar para o blow-up na direção {¯x = −1}. A direção {ȳ = −1} não precisamos<br />
analisar, pois po<strong>de</strong>mos olhar para a direção {ȳ = 1} mas para r ≤ 0 que será análoga.<br />
Na direção do eixo-x, ¯x = −1: (x, y) = (−r 2 , r 3 ȳ)<br />
{<br />
ẋ = y<br />
ẏ = x 2 .<br />
Como estamos usando a mudança (x, y) = (−r 2 , r 3 ȳ), temos também que<br />
{<br />
ẋ = −2rṙ<br />
ẏ = 3r 2 ȳṙ + r 3 ˙ȳ .<br />
Daí,<br />
e<br />
−2rṙ = ẋ = y = r 3 ȳ ⇒ ṙ = − r2 ȳ<br />
2<br />
3r 2 ȳṙ + r 3 ˙ȳ = ẏ = x 2 = r 4 ⇒ r 2 ˙ȳ = r 4 − 3r 2 ȳṙ ⇒ ˙ȳ =<br />
(1 + 3 2ȳ2 )<br />
r.<br />
78
Logo, o novo sistema fica {<br />
ṙ = − r2 ȳ<br />
2<br />
˙ȳ = ( 1 + 3 2ȳ2) r .<br />
Dividindo este sistema por r, encontramos o campo <strong>de</strong> vetores<br />
sem singularida<strong>de</strong>s em r = 0.<br />
{<br />
ṙ = − rȳ 2<br />
˙ȳ = 1 + 3 2ȳ2<br />
Figura 3.10: retrato <strong>de</strong> fase do “blow-up”na direção do eixo-x.<br />
A figura completa (em ((¯x, ȳ), r)) resulta na figura 3.10, e as singularida<strong>de</strong>s são ambas<br />
hiperbólicas. Temos uma <strong>de</strong>singularização <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um “blow-up”.<br />
Aplicando Ψ para {<br />
ẋ = y<br />
ẏ = x 2 + xy<br />
vemos que a situação não se altera.<br />
po<strong>de</strong>ríamos ter trabalhado diretamente com ((¯x, ȳ), r) ou<br />
De fato, no lugar <strong>de</strong> usarmos o “blow-up”direcional<br />
(r, θ) → (r 2 cosθ, r 3 senθ).<br />
Depois <strong>de</strong> uma divisão por r, teríamos<br />
(2cos 2 θ + 3sen 2 θ)ṙ = rcosθsenθ(1 + cosθ) + O(r 2 )<br />
(2cos 2 θ + 3sen 2 θ) ˙θ = (−3sen 2 θ + 2cos 3 θ) + O(r)<br />
e po<strong>de</strong>ríamos eliminar (2cos 2 θ + 3sen 2 θ) para estudos mais à frente.<br />
A seguir apresentamos um método, formulado por Liapunov para a análise <strong>de</strong> campos <strong>de</strong><br />
vetores quase-homogêneos do tipo (α, β).<br />
79
Consi<strong>de</strong>remos o problema <strong>de</strong> Cauchy<br />
{<br />
ẋ = −y 2α−1<br />
ẏ = x 2β−1<br />
com x(0) = 1 e y(0) = 0 e chamemos as soluções (analíticas) Csθ e Snθ, isto é,<br />
{<br />
d<br />
dθ Csθ = −Sn2α−1 θ<br />
d<br />
Snθ = dθ Cs2β−1 θ<br />
com Cs(0) = 1 e Sn(0) = 0.<br />
Claramente,<br />
βSn 2α θ + αCs 2β θ = α.<br />
De fato, {<br />
Daí temos que<br />
dy<br />
dx =<br />
ẋ = −y 2α−1<br />
ẏ = x 2β−1<br />
Integrando <strong>de</strong> ambos os lados, obtemos<br />
x 2β<br />
2β + c 1 = − y2α<br />
2α + c 2 ⇒ x2β<br />
β<br />
⇒<br />
{<br />
dx<br />
= dt −y2α−1<br />
dy<br />
= .<br />
dt x2β−1<br />
x2β−1<br />
−y 2α−1 ⇒ x2β−1 dx = −y 2α−1 dy.<br />
+<br />
y2α<br />
α = c ⇒ αx2β + βy 2α = c.<br />
Como x(0) = 0 e y(0) = 1, temos que c = α. Logo, temos a igualda<strong>de</strong>.<br />
Temos também que Cs e Sn são periódicas, já que parametrizam os níveis <strong>de</strong> f(x, y) =<br />
αx 2β + βy 2α . Usamos então a “quase-coor<strong>de</strong>nada polar”<br />
{<br />
x = r α Csθ<br />
y = r β Snθ .<br />
Exemplo 3.7. No caso {<br />
ẋ = y<br />
ẏ = x 2<br />
usamos (x = r 2 Csθ, y = r 3 Snθ) com 3Sn 4 θ + 2Cs 6 θ = 2, e vamos ver o que encontramos<br />
(<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> dividirmos por r).<br />
80
Como x = r 2 Csθ e y = r 3 Snθ, temos que<br />
{<br />
ẋ = 2rṙCsθ + r 2 (−Sn 3 θ) ˙θ<br />
ẏ = 3r 2 ṙSnθ + r 3 Cs 5 θ ˙θ<br />
.<br />
Agora, substituindo estes valores <strong>de</strong> ẋ e ẏ que acabamos <strong>de</strong> encontrar nos valores que tinhamos<br />
antes, já substituindo (x, y) por (r 2 Csθ, r 3 Snθ), obtemos o seguinte sistema<br />
Vamos encontrar ṙ e ˙θ.<br />
{<br />
r 3 Snθ = 2rṙCsθ − r 2 Sn 3 θ ˙θ<br />
r 4 Cs 2 θ = 3r 2 ṙSnθ + r 3 Cs 5 θ ˙θ .<br />
Para encontrarmos ṙ multiplicamos a primeira equação acima por<br />
rCs 5 θ e a segunda por Sn 3 θ. Já para encontrarmos ˙θ multiplicamos a primeira equação por<br />
−3rSnθ e a segunda equação por 2Csθ. Fazendo isso temos o seguinte sistema<br />
{<br />
ṙ = 1 2 r2 SnθCs 2 θ(Cs 3 θ + Sn 2 θ)<br />
˙θ = r ( − 3 2 Sn2 θ + Cs 3 θ ) .<br />
Dividindo ambas as equações por r, obtemos a relação<br />
{<br />
ṙ = 1 2 rSnθCs2 θ(Cs 3 θ + Sn 2 θ)<br />
˙θ = Cs 3 θ − 3 2 Sn2 θ<br />
.<br />
Encontramos, é claro, o mesmo retrato que anteriormente. O método não é necessariamente<br />
um melhoramento; ele <strong>de</strong>finitivamente será no próximo exemplo.<br />
Exemplo 3.8. Consi<strong>de</strong>remos o campo <strong>de</strong> vetores<br />
ele é quase-homogêneo do tipo (1, 2) e grau 2.<br />
{<br />
ẋ = −y<br />
ẏ = x 3<br />
Usando agora (x = rCsθ, y = r 2 Snθ) com 2Sn 2 θ + Cs 4 θ = 1 e<br />
{<br />
d<br />
Csθ = −Snθ<br />
dθ<br />
d<br />
Snθ = dθ Cs3 θ<br />
com Cs(0) = 1 e Sn(0) = 0, vamos encontrar qual será a redução do campo.<br />
81
Como x = rCsθ e y = r 2 Snθ, temos que<br />
{<br />
ẋ = ṙCsθ + r(−Snθ) ˙θ<br />
ẏ = 2rṙSnθ + r 2 Cs 3 θ ˙θ .<br />
Agora, substituindo estes valores <strong>de</strong> ẋ e ẏ que acabamos <strong>de</strong> encontrar nos valores que tinhamos<br />
antes, já substituindo (x, y) por (rCsθ, r 2 Snθ), obtemos o seguinte sistema<br />
{<br />
−r 2 Snθ = ṙCsθ − rSnθ ˙θ<br />
r 3 Cs 3 θ = 2rṙSnθ + r 2 Cs 3 θ ˙θ .<br />
Vamos encontrar ṙ e ˙θ. Para encontrarmos ṙ multiplicamos a primeira equação acima por rCs 3 θ<br />
e a segunda por Snθ. Já para encontrarmos ˙θ multiplicamos a primeira equação por −2rSnθ<br />
e a segunda equação por Csθ. Fazendo isso temos o seguinte sistema<br />
{<br />
rṙ = 0<br />
˙θ = r<br />
Dividindo ambas as equações por r, obtemos a relação<br />
{<br />
.<br />
ṙ = 0<br />
˙θ = 1 .<br />
Se usássemos, (x = rcosθ, y = r 2 senθ), iríamos encontrar<br />
{<br />
(cos 2 θ + 2sen 2 θ)ṙ = −r 2 cosθsen 3 θ<br />
r 2 (cos 2 θ + 2sen 2 θ) ˙θ = r 3 (2sen 2 θ + cos 4 θ) .<br />
Multiplicando por (cos 2 θ + 2sen 2 θ) e dividindo por r encontramos:<br />
{<br />
ṙ = 2sen 2 θ + cos 4 θ<br />
˙θ = −rcosθsen 3 θ<br />
Este campo <strong>de</strong> vetores também não possui singularida<strong>de</strong>s em r = 0 mas é mais complicado do<br />
que o obtido na redução anterior.<br />
Para usarmos (x = rcosθ, y = rsenθ) introduziríamos singularida<strong>de</strong>s e necessitaríamos <strong>de</strong><br />
“blow-up”sucessivos.<br />
Nos dois exemplos a parte quase-homogênea é <strong>de</strong>terminada <strong>de</strong> modo que o retrato <strong>de</strong> fase do<br />
“blow-up”não se altera quando adicionarmos termos <strong>de</strong> “grau maior”, on<strong>de</strong> o grau é calculado<br />
.<br />
82
usando a substituição (x = r α¯x, y = r β ¯x). Em ambos os casos os termos não irão afetar a<br />
posição das singularida<strong>de</strong>s nem os autovalores das singularida<strong>de</strong>s.<br />
A maneira <strong>de</strong> <strong>de</strong>tectar se alguma parte quase-homogênea po<strong>de</strong> ser interessante é baseada<br />
no Diagrama <strong>de</strong> Newton.<br />
Para introduzirmos este conceito, é mais conveniente trabalharmos com a forma dual ω ao<br />
invés do próprio campo <strong>de</strong> vetores X. Seja<br />
ω =<br />
∑<br />
a ij x i y j dx +<br />
∑<br />
b ij x i y j dy.<br />
i, j ≥ 0<br />
i + j ≥ 1<br />
i, j ≥ 0<br />
i + j ≥ 1<br />
Em R 2 , o suporte <strong>de</strong> ω (que é igual ao suporte <strong>de</strong> X) é <strong>de</strong>finida como<br />
S = {(i + 1, j)/a ij ≠ 0} ∪ {(i, j + 1)/b ij ≠ 0}.<br />
O poliedro <strong>de</strong> Newton <strong>de</strong> ω ou <strong>de</strong> X é o fecho convexo do conjunto<br />
P =<br />
⋃<br />
({(r, s)} + R 2 +).<br />
(r,s)∈S<br />
O Digrama <strong>de</strong> Newton <strong>de</strong> X é a união γ das faces compactas γ k do Poliedro <strong>de</strong> Newton Γ,<br />
que enumeramos da esquerda para a direita.<br />
A “parte principal” <strong>de</strong> ω é <strong>de</strong>finida por<br />
ω ∆ =<br />
∑<br />
a ij x i y j dx +<br />
∑<br />
b ij x i y j dy.<br />
(i+1,j)∈γ<br />
(i,j+1)∈γ<br />
Foi provado em [Bru] que a componente quase-homogênea <strong>de</strong>termina, a menos <strong>de</strong> uma<br />
conjugação topológica, o retrato <strong>de</strong> fase do campo original quando a origem é uma singularida<strong>de</strong><br />
isolada e o campo possui órbitas características, isto é, órbitas tais que a <strong>de</strong>rivada do vetor<br />
tangente possui limite quando ela se aproxima da singularida<strong>de</strong>.<br />
Vejamos alguns exemplos <strong>de</strong> campos <strong>de</strong> vetores tendo uma componente quase-homogênea<br />
com uma singularida<strong>de</strong> isolada<br />
Exemplo 3.9. Consi<strong>de</strong>remos o seguinte sistema <strong>de</strong> equações<br />
{<br />
ẋ = x 2 − 2xy<br />
.<br />
ẏ = y 2 − xy<br />
83
Passando este sistema <strong>de</strong> equações para a forma dual, temos<br />
ω = (y 2 − xy)dx − (x 2 − 2xy)dy.<br />
Daí, os coeficientes não nulos são: a 02 , a 11 , b 20 e b 11 .<br />
Logo, o conjunto S é dado por<br />
S = {(1, 2), (2, 1)} ∪ {(2, 1), (1, 2)} = {(1, 2), (2, 1)}<br />
e o conjunto P é<br />
P = {(1, 2) + R 2 +} ∪ {(2, 1) + R 2 +}.<br />
Assim, temos<br />
Figura 3.11: Poliedro <strong>de</strong> Newton e Diagrama <strong>de</strong> Newton.<br />
Temos que sua componente quase-homogênea é<br />
{<br />
ẋ = x 2 − 2xy<br />
X qh (x, y) =<br />
ẏ = y 2 − xy<br />
.<br />
E o seu retrato <strong>de</strong> fase é dado pela figura 3.12 abaixo.<br />
Figura 3.12: Retrato <strong>de</strong> fase do campo <strong>de</strong> vetores do exemplo 3.9.<br />
84
Exemplo 3.10. Consi<strong>de</strong>remos o campo <strong>de</strong> vetores<br />
X :<br />
{<br />
ẋ = y<br />
ẏ = x 2 + xy .<br />
Passando este campo <strong>de</strong> vetores para a forma dual, temos<br />
ω = x 2 dx − ydy.<br />
Portanto, os coeficientes não nulos são: a 02 e b 01 .<br />
Logo, o conjunto S é dado por<br />
S = {(3, 0)} ∪ {(0, 2)}<br />
e o conjunto P é dado por<br />
P = {(3, 0) + R 2 +} ∪ {(0, 2) + R 2 +}.<br />
Assim, temos<br />
Figura 3.13: Poliedro <strong>de</strong> Newton e Diagrama <strong>de</strong> Newton.<br />
Temos que sua componente quase-homogênea é<br />
X qh (x, y) =<br />
{<br />
ẋ = y<br />
ẏ = x 2 .<br />
85
E o seu retrato <strong>de</strong> fase é dado pela figura 3.14 abaixo.<br />
Figura 3.14: Retrato <strong>de</strong> fase docampo <strong>de</strong> vetores do exemplo 3.10.<br />
Exemplo 3.11. Consi<strong>de</strong>rando o campo <strong>de</strong> vetores<br />
{<br />
ẋ = −y<br />
ẏ = x 3 .<br />
Passando este campo <strong>de</strong> vetores para a 1-forma, temos<br />
ω = x 3 dx + ydy.<br />
Portanto, os coeficientes não nulos são: a 30 e b 01 .<br />
Logo, o conjunto S é dado por<br />
S = {(4, 0)} ∪ {(0, 2)}<br />
e o conjunto P é dado por<br />
P = {(4, 0) + R 2 +} ∪ {(0, 2) + R 2 +}.<br />
Assim, temos<br />
Figura 3.15: Poliedro <strong>de</strong> Newton e Diagrama <strong>de</strong> Newton.<br />
86
Temos que a componente quase-homogênea é<br />
X qh (x, y) =<br />
{<br />
ẋ = −y<br />
ẏ = x 3 .<br />
Neste último exemplo, a componente quase-homogênea é um centro e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um “blowup”quase-homogêneo<br />
não encontramos singularida<strong>de</strong>s em {r = 0}.<br />
Os termos <strong>de</strong> “or<strong>de</strong>m<br />
superior”irão <strong>de</strong>cidir se lidaremos com um centro ou com um foco atrator (ou repulsor). No<br />
Diagrama <strong>de</strong> Newton po<strong>de</strong>mos também ver o tipo (α, β) da componente quase-homogênea<br />
<strong>de</strong>finida por γ k . Ela correspon<strong>de</strong> às coor<strong>de</strong>nadas relativamente primas do vetor ortogonal à<br />
face γ k .<br />
Como a origem é uma singularida<strong>de</strong> isolada, temos ao menos que um dos pontos (0, s) ou<br />
(1, s) é um elemento <strong>de</strong> S e também (r, 1) ou (r, 0) é um elemento <strong>de</strong> S para algum r. Então<br />
sempre existe uma face γ 1 no Diagrama <strong>de</strong> Newton.<br />
Suponhamos que γ 1 tem equação αr + βs = d, com mdc(α, β) = 1. Para um primeiro passo<br />
no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>singularização, usamos um “blow up” quase-homogêneo <strong>de</strong> grau (α, β).<br />
Denotemos X qh = ∑ j≥dX j com X j (x, y) = (p j (x, y), q j (x, y)) a componente quase-homogênea<br />
do tipo (α, β) e grau (quase-homogêneo) j, isto é,<br />
p j (r α x, r β y) = r j+α p j (x, y) e q j (r α x, r β y) = r j+β q j (x, y).<br />
Dividimos <strong>de</strong>pois por r d . Na prática, primeiro fazemos o blow-up no eixo-x positivo do<br />
campo <strong>de</strong> vetores resultando, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> multiplicarmos o resultado por α¯x −d ,<br />
⎧<br />
⎪⎨<br />
˙¯x = ∑<br />
¯X + x δ≥d<br />
:<br />
⎪⎩<br />
˙ȳ = ∑ δ≥d<br />
¯x δ+1−d p δ (1, ȳ)<br />
¯x δ−d (αq δ (1, ȳ) − βȳp δ (1, ȳ)) .<br />
Determinamos as singularida<strong>de</strong>s na linha {¯x = 0}.<br />
(1) Se αq d (1, ȳ) − βȳp d (1, ȳ) ≠ 0, os pontos (0, ȳ 0 ) satisfazendo a equação αq d (1, ȳ) −<br />
βȳp d (1, ȳ) = 0 são singularida<strong>de</strong>s isoladas <strong>de</strong> ¯x na linha {¯x = 0}, para as quais<br />
JX x +(0, ȳ 0 ) =<br />
(<br />
pd (1, ȳ 0 ) 0<br />
<strong>de</strong>terminando imediatamente os autovalores na diagonal.<br />
∗<br />
α ∂q d<br />
∂ȳ (1, ȳ 0) − β(p d (1, ȳ 0 )) + ȳ 0<br />
∂p d<br />
∂ȳ (1, ȳ 0)<br />
)<br />
No caso das singularida<strong>de</strong>s serem<br />
hiperbólicas, aplicamos o Teorema <strong>de</strong> Grobman-Hartman. No caso <strong>de</strong>las serem semi-hiperbólicas,<br />
temos que <strong>de</strong>terminar o comportamento através da varieda<strong>de</strong> central. No caso <strong>de</strong>las serem não<br />
87<br />
,
elementares, introduzimos ŷ = ȳ − ȳ 0 , e fazemos um novo “blow-up”no eixo-x positivo para<br />
este campo <strong>de</strong> vetores, bem como na direção do eixo-y positiva e negativa com um certo grau<br />
(α ′ , β ′ ), <strong>de</strong>terminado do Diagrama <strong>de</strong> Newton associado ao campo <strong>de</strong> vetores.<br />
(2) Se αq d (1, ȳ) − βȳp d (1, ȳ) = 0, temos uma linha <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s. Como<br />
JX + x (0, ȳ 0 ) =<br />
(<br />
p d (1, ȳ 0 ) 0<br />
∗ 0<br />
todas as singularida<strong>de</strong>s são semi-hiperbólicas, exceto aquelas singularida<strong>de</strong>s (0, ȳ 0 ) para as quais<br />
p d (1, ȳ 0 ) = 0. Estas, mais tar<strong>de</strong>, irão precisar <strong>de</strong> um outro “blow-up”.<br />
Depois faremos um “blow-up”no eixo-x negativo do campo <strong>de</strong> vetores e o estudaremos da<br />
mesma maneira do caso positivo.<br />
Finalmente, teremos que fazer um “blow-up”no eixo-y nas direções positiva e negativa do<br />
campo <strong>de</strong> vetores, e <strong>de</strong>terminarmos quando (0, 0) é uma singularida<strong>de</strong> ou não, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que as<br />
outras tenham sido estudadas nos casos anteriores.<br />
É fácil vermos que (0, 0) é uma singularida<strong>de</strong> se γ 1 está completamente no semi-plano {r ≥<br />
0}. Se este for o caso, então a singularida<strong>de</strong> (0, 0) é elementar. Dessa forma, fazemos um “blowup”na<br />
direção do eixo-y positivo do campo <strong>de</strong> vetores resultando, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> multiplicarmos por<br />
βȳ −d ,<br />
⎧<br />
⎪⎨<br />
˙¯x = ∑<br />
¯X y δ≥d<br />
+ =<br />
⎪⎩<br />
˙ȳ = ∑ δ≥d<br />
)<br />
ȳ δ−d (βp δ (¯x, 1) − α¯xq δ (¯x, 1))<br />
ȳ δ+1−d q δ (¯x, 1)<br />
Assim, (0, 0) é uma singularida<strong>de</strong> se p d (0, 1) = 0, isto é, se p d (x, y) = xF (x, y), implicando que<br />
γ 1 está completamente no semi-plano {r ≥ 0}. Suponhamos agora que (0, 0) é uma singularida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> ¯X y +, então temos:<br />
J ¯X y +(0, 0) =<br />
(<br />
β ∂p d<br />
Seja (0, s) a intersecção da linha γ 1 com r = 0, então<br />
)<br />
(0, 1) − αq ∂¯x d(0, 1) ∗<br />
.<br />
0 q d (0, 1)<br />
,<br />
.<br />
p d (x, y) = axy s + G(x, y) e q d (x, y) = by s+1 + H(x, y)<br />
com a 2 + b 2 ≠ 0, o grau x <strong>de</strong> G(x, y) ≥ 2 e o grau x <strong>de</strong> H(x, y) ≥ 1.<br />
Assim,<br />
β ∂p d<br />
∂¯x (0, 1) − αq d(0, 1) = aβ − bα.<br />
Então, se aβ − bα ≠ 0, temos que (0, 0) é uma singularida<strong>de</strong> elementar; se aβ − bα = 0, temos<br />
88
que q d (0, 1) = b ≠ 0, e que (0, 0) também é uma singularida<strong>de</strong> elementar.<br />
Em [Pel] foi provado que o algorítimo, como apresentado aqui, é mais eficiente que o usual.<br />
Utilizando o programa P4 po<strong>de</strong>m ser estudadas as singularida<strong>de</strong>s no infinito, além das<br />
singularida<strong>de</strong>s existentes nas partes compactas do R 2 .<br />
No próximo capítulo vamos <strong>de</strong>screver como um campo <strong>de</strong> vetores polinomial po<strong>de</strong> ser estudado<br />
no infinito.<br />
89
Capítulo 4<br />
Compactificação <strong>de</strong> Poincaré e <strong>de</strong><br />
Poincaré-Liapunov<br />
Quando estudamos um campo <strong>de</strong> vetores, em muitos casos é importante analisar o seu comportamento<br />
no infinito. No caso <strong>de</strong> campos <strong>de</strong> vetores polinomiais este estudo po<strong>de</strong> ser feito<br />
<strong>de</strong> duas maneiras, mais especificamente, po<strong>de</strong>mos esten<strong>de</strong>r o campo <strong>de</strong> vetores em um Disco<br />
<strong>de</strong> Poincaré ou em um Disco <strong>de</strong> Poincaré-Liapunov. No primeiro caso compactificamos o R 2<br />
acrescentando um círculo, já no segundo esten<strong>de</strong>mos o campo <strong>de</strong> vetores polinomial para um<br />
campo analítico <strong>de</strong>finido em uma esfera. Vamos <strong>de</strong>screver primeiramente como esten<strong>de</strong>r o R 2<br />
por uma Esfera <strong>de</strong> Poincaré.<br />
4.1 Projeção Estereográfica e Compactificação <strong>de</strong> Poincaré<br />
O comportamento <strong>de</strong> trajetórias distantes da origem po<strong>de</strong> ser estudado consi<strong>de</strong>rando o comportamento<br />
<strong>de</strong> trajetórias próximas <strong>de</strong> um ponto no infinito, isto é, próximas do pólo norte da<br />
esfera unitária utilizando-se a Projeção Estereografica (ver figura 4.1). Tal ponto geralmente<br />
representa uma singularida<strong>de</strong> muito complicada para o fluxo induzido na esfera.<br />
Figura 4.1: Projeção Estereográfica.<br />
90
A idéia <strong>de</strong> analisar o comportamento global <strong>de</strong> sistemas dinâmicos planares usando a<br />
projeção estereográfica se <strong>de</strong>ve a Bendixson; <strong>de</strong>ste fato diz-se que a esfera, incluindo a singularida<strong>de</strong><br />
no infinito, é chamada <strong>de</strong> Esfera <strong>de</strong> Bendixson.<br />
Entretanto, a melhor forma <strong>de</strong> estudar o comportamento <strong>de</strong> trajetórias “no infinito”é<br />
usando, a Esfera <strong>de</strong> Poincaré, on<strong>de</strong> a projeção é feita do centro da esfera<br />
S 2 = {(X, Y, Z) ∈ R 3 ; X 2 + Y 2 + Z 2 = 1}<br />
no plano (x, y) tangente a S 2 em um <strong>de</strong> seus pólos.<br />
Figura 4.2: Projeção Central.<br />
Este tipo <strong>de</strong> projeção central foi introduzido por Poincaré e tornou-se melhor porque as<br />
singularida<strong>de</strong>s no infinito são estendidas ao longo do equador da esfera e são, por essa razão, <strong>de</strong><br />
natureza mais simples <strong>de</strong> que o único ponto no infinito da Esfera <strong>de</strong> Bendixson; mas salientamos<br />
que mesmo assim, o comportamento dos pontos no equador da Esfera <strong>de</strong> Poincaré po<strong>de</strong> ser<br />
complicado.<br />
Se o plano (x, y) estiver tangenciando o pólo norte da esfera S 2 , então por uma relação <strong>de</strong><br />
congruência <strong>de</strong> triângulos, teremos que (ver figura 4.4)<br />
x = X Z<br />
e y = Y Z . (4.1)<br />
Da mesma forma<br />
X =<br />
x<br />
√<br />
1 + x2 + y 2 , Y =<br />
y<br />
√<br />
1 + x2 + y e Z = 1<br />
√ 2 1 + x2 + y .<br />
2<br />
91
Z<br />
y<br />
(x,y)<br />
x<br />
(X,Y,Z)<br />
Y<br />
X<br />
(X`,Y`,Z`)<br />
Figura 4.3: Projeção Central do hemisfério superior <strong>de</strong> S 2 sobre o plano (x, y).<br />
Essas equações estabelecem uma correspondência biunívoca entre os pontos (X, Y, Z) do<br />
hemisfério superior <strong>de</strong> S 2 , on<strong>de</strong> Z > 0, e os pontos (x, y) do plano.<br />
A origem (0, 0) ∈ R 2 correspon<strong>de</strong> ao polo norte (0, 0, 1) ∈ S 2 ; pontos no círculo x 2 + y 2 = 1<br />
correspon<strong>de</strong>m a pontos no círculo X 2 + Y 2 = 1 on<strong>de</strong> Z = √ 1 2 2<br />
; e os pontos no infinito do R 2<br />
correspon<strong>de</strong>m aos pontos no equador <strong>de</strong> S 2 .<br />
Figura 4.4: Secção da Esfera.<br />
Quaisquer dois pontos antípodas (X, Y, Z) e (X ′ , Y ′ , Z ′ ) pertencentes a S 2 , que não estão<br />
no equador, correspon<strong>de</strong>m ao mesmo ponto (x, y) ∈ R 2 . É por essa razão que consi<strong>de</strong>ramos<br />
quaisquer dois pontos antípodas no equador <strong>de</strong> S 2 como sendo oriundos do mesmo ponto no<br />
infinito.<br />
Consi<strong>de</strong>remos um fluxo <strong>de</strong>finido por um sistema dinâmico em R 2<br />
{<br />
ẋ = p(x, y)<br />
(4.2)<br />
ẏ = q(x, y)<br />
on<strong>de</strong> p e q são funções polinomiais <strong>de</strong> x e y.<br />
Seja m o grau máximo <strong>de</strong> p e q. Esse sistema po<strong>de</strong> ser escrito como uma equação diferencial<br />
92
da forma<br />
ou ainda<br />
dy<br />
dx<br />
=<br />
q(x, y)<br />
p(x, y)<br />
q(x, y)dx − p(x, y)dy = 0. (4.3)<br />
Observe que, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> termos eliminado o tempo, as duas últimas equações fazem com<br />
que percamos a direção do fluxo ao longo das trajetórias <strong>de</strong> (4.2), pois as informações relativas<br />
ao tempo são perdidas.<br />
Segue então <strong>de</strong> (4.1) que<br />
dx =<br />
ZdX − XdZ<br />
Z 2 e dy =<br />
ZdY − Y dZ<br />
Z 2 . (4.4)<br />
Logo, temos que (4.3) po<strong>de</strong> ser escrito como<br />
q(ZdX − XdZ) − p(ZdY − Y dZ) = 0<br />
on<strong>de</strong><br />
e<br />
( X<br />
p = p(x, y) = p<br />
Z , Y )<br />
Z<br />
( X<br />
q = q(x, y) = q<br />
Z , Y )<br />
.<br />
Z<br />
Com o objetivo <strong>de</strong> eliminar Z dos <strong>de</strong>nominadores, multiplicamos toda a equação acima por<br />
Z m e obtemos<br />
Zq ∗ dX − Zp ∗ dY − (Y p ∗ + Xq ∗ )dZ = 0 (4.5)<br />
on<strong>de</strong><br />
e<br />
( X<br />
p ∗ (X, Y, Z) = Z m p<br />
Z , Y )<br />
Z<br />
( X<br />
q ∗ (X, Y, Z) = Z m q<br />
Z , Y )<br />
Z<br />
são polinômios em (X, Y, Z).<br />
Essa equação po<strong>de</strong> ser escrita na forma <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminante, como segue<br />
dX dY dZ<br />
X Y Z<br />
= 0. (4.6)<br />
∣ p ∗ q ∗ 0 ∣<br />
93
A equação diferencial (4.5) <strong>de</strong>fine uma família <strong>de</strong> trajetórias ou um fluxo em S 2 . Cada trajetória<br />
no hemisfério superior <strong>de</strong> S 2 <strong>de</strong>finida por (4.5) correspon<strong>de</strong> a exatamente uma trajetória<br />
do sistema (4.2) em R 2 .<br />
Mais ainda, o fluxo na Esfera <strong>de</strong> Poincaré <strong>de</strong>finido por (4.5) nos permite estudar o comportamento<br />
do fluxo <strong>de</strong>finido por (4.2) no infinito, isto é, po<strong>de</strong>mos estudar o fluxo <strong>de</strong>finido por<br />
(4.5) nas vizinhanças do equador <strong>de</strong> S 2 .<br />
O equador <strong>de</strong> S 2 consiste <strong>de</strong> trajetórias regulares e singularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> (4.5). Isso segue do<br />
fato <strong>de</strong> que para Z = 0 em (4.5), temos<br />
(Y p ∗ − Xq ∗ )dZ = 0<br />
don<strong>de</strong> temos os seguintes casos<br />
(Y p ∗ − Xq ∗ ) ≠ 0 ⇒ dZ = 0. (4.7)<br />
Neste caso temos uma trajetória regular no equador <strong>de</strong> S 2 .<br />
Y p ∗ − Xq ∗ = 0. (4.8)<br />
Teremos as singularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> (4.5) no equador <strong>de</strong> S 2 on<strong>de</strong> Z = 0.<br />
Observamos que o que caracteriza uma singularida<strong>de</strong> é a nulida<strong>de</strong> das coor<strong>de</strong>nadas em<br />
relação à base {dX, dY, dZ}.<br />
Se<br />
p(x, y) = p 1 (x, y) + ... + p m (x, y)<br />
e<br />
q(x, y) = q 1 (x, y) + ... + q m (x, y),<br />
on<strong>de</strong> p j e q j são polinômios homogêneos <strong>de</strong> grau j em x e y, então<br />
Y p ∗ − Xq ∗ =<br />
( X<br />
= Z m Y p 1<br />
Z , Y )<br />
( X<br />
+ ... + Z m Y p m<br />
Z<br />
Z , Y ) ( X<br />
− Z m Xq 1<br />
Z<br />
Z , Y )<br />
( X<br />
− ... − Z m Xq m<br />
Z<br />
Z , Y )<br />
=<br />
Z<br />
= Z m−1 Y p 1 (X, Y ) + ... + Y p m (X, Y ) − Z m−1 Xq 1 (X, Y ) − ... − Xq m (X, Y ) =<br />
= Y p m (X, y) − Xq m (X, Y ).<br />
94
on<strong>de</strong> fizemos Z = 0 na última passagem, don<strong>de</strong> temos também que<br />
X 2 + Y 2 = 1.<br />
Desse modo, para Z = 0, X = cosθ e Y = senθ, (4.8) é equivalente a<br />
senθp m (cosθ, senθ) − cosθq m (senθ, cosθ) = 0.<br />
Fica então provado o seguinte resultado visto em [Pe].<br />
Teorema 4.1. As singularida<strong>de</strong>s no infinito <strong>de</strong> um sistema polinomial <strong>de</strong> grau m ocorrem nos<br />
pontos (X, Y, 0) sobre o equador da esfera X 2 + Y 2 = 1 e<br />
Y p m (X, y) − Xq m (X, Y ) = 0, (4.9)<br />
ou equivalentemente em coor<strong>de</strong>nadas polares, teremos que encontrar ângulos θ tais que<br />
G m+1 (θ) = senθp m (cosθ, senθ) − cosθq m (senθ, cosθ) = 0. (4.10)<br />
Esta equação tem m + 1 pares <strong>de</strong> raízes θ j e θ j + π se G m+1 não for i<strong>de</strong>nticamente nulo.<br />
Se G m+1 não é i<strong>de</strong>nticamente nulo, então o fluxo no equador da Esfera <strong>de</strong> Poincaré é orientado<br />
no sentido anti-horário se, quando escrito em coor<strong>de</strong>nadas polares, a função G m+1 é tal que<br />
G m+1 (θ) > 0 e caso G m+1 (θ) < 0 a orientação será no sentido horário.<br />
O comportamento das singularida<strong>de</strong>s no equador da esfera, ou seja, das singularida<strong>de</strong>s “no<br />
infinito,” po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>terminado projetando a vizinhança <strong>de</strong>ste ponto num plano tangente a S 2<br />
por este ponto. Na realida<strong>de</strong>, é necessário projetar apenas o hemisfério com X > 0 sobre o<br />
plano X = 1 e projetar o plano Y > 0 sobre o plano Y = 1 para <strong>de</strong>terminar o comportamento<br />
do fluxo em tal singularida<strong>de</strong>. Isto acontece porque o fluxo em S 2 <strong>de</strong>finido pela equação (4.5)<br />
é topologicamente equivalente em pontos antípodas <strong>de</strong> S 2 se m é ímpar e é topologicamente<br />
equivalente, com a direção do fluxo invertida, se m é par.<br />
95
Figura 4.5: Projeção <strong>de</strong> S 2 nos planos X = 1 e Y = 1.<br />
Teorema 4.2. O fluxo <strong>de</strong>finido pela equação (4.5) em uma vizinhança <strong>de</strong> uma singularida<strong>de</strong><br />
no equador da Esfera <strong>de</strong> Poincaré S 2 , exceto os pontos (0, ±1, 0), é topologicamente equivalente<br />
à singularida<strong>de</strong> <strong>de</strong>finida pelo sistema<br />
{<br />
±ẏ = yz m p( 1 z , y z ) − zm q( 1 z , y z )<br />
±ż = z m+1 p( 1 z , y z ) , (4.11)<br />
sendo que o sinal é <strong>de</strong>terminado pelo fluxo no equador <strong>de</strong> S 2 segundo o comentário após o<br />
Teorema 4.1. Da mesma forma, o fluxo <strong>de</strong>finido pela equação (4.5) em uma vizinhança <strong>de</strong> uma<br />
singularida<strong>de</strong> no equador <strong>de</strong> S 2 , exceto nos pontos (±1, 0, 0), é topologicamente equivalente ao<br />
fluxo <strong>de</strong>finido pelo sistema<br />
sendo que o sinal é <strong>de</strong>terminado como acima.<br />
{<br />
±ẋ = xz m p( 1 z , x z ) − zm q( 1 z , x z )<br />
±ż = z m+1 p( 1 z , x z ) , (4.12)<br />
Demonstração: Para <strong>de</strong>monstrar este teorema basta observar que se projetarmos o fluxo em<br />
S 2 <strong>de</strong>finido pela equação (4.5) sobre o plano X = 1 teremos que X = 1 e dX = 0 e da mesma<br />
forma, a projeção do fluxo sobre o plano Y = 1 acarreta que Y = 1 e que dY = 0; daí então<br />
basta operarmos com a expressão (4.5) para obtermos as expressões (4.11) e (4.12)<br />
Exemplo 4.3. Descreva o fluxo na Esfera <strong>de</strong> Poincaré S 2 <strong>de</strong>finido pela projeção do sistema<br />
planar {<br />
ẋ = x<br />
ẏ = −y .<br />
Este sistema linear tem uma sela na origem, a qual correspon<strong>de</strong> à única singularida<strong>de</strong> do<br />
96
sistema. A sela está localizada na origen do sistema planar (x, y) e conseqüentemente no pólo<br />
norte da esfera; disso concluímos também que há uma outra sela no pólo sul da esfera, por ser<br />
este o ponto antípoda, na esfera, do pólo norte.<br />
De acordo com o Teorema 4.1, as singularida<strong>de</strong>s no infinito são <strong>de</strong>terminadas pelas soluções<br />
<strong>de</strong><br />
Xq 1 (X, Y ) − Y p 1 (X, Y ) = X(−Y ) − Y X = −2XY = 0,<br />
ou melhor,<br />
cosθq 1 (cosθ, senθ) − senθp 1 (cosθ, senθ) = −2senθcosθ = 0.<br />
Don<strong>de</strong> temos que X = cosθ = 0 e Y = senθ = ±1 ou X = cosθ = ±1 e Y = senθ = 0. Logo,<br />
as singularida<strong>de</strong>s no equador <strong>de</strong> S 2 são:<br />
±(1, 0, 0) e ± (0, 1, 0).<br />
Po<strong>de</strong>mos ver também, diante <strong>de</strong> discussão já feita, que para pontos no equador <strong>de</strong> S 2 on<strong>de</strong><br />
XY > 0 <strong>de</strong>vemos orientar o fluxo no sentido horário e para pontos on<strong>de</strong> XY < 0 o sentido será<br />
anti-horário. Usando a relação X = cosθ e Y = senθ, temos que para 0 < θ < π a expressão<br />
2<br />
−2XY é negativa e portanto o sentido é horário; proce<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> maneira análoga, <strong>de</strong>scobrimos<br />
que o comportamento do fluxo em todo o equador <strong>de</strong> S 2 , como vemos na figura 4.5.<br />
Figura 4.6: exemplo 4.3.<br />
Exemplo 4.4. Determine, na esfera <strong>de</strong> Poincaré, o retrato <strong>de</strong> fase do sistema quadrático<br />
{<br />
ẋ = x 2 + y 2 − 1<br />
.<br />
ẏ = 5(xy − 1)<br />
Usando o Teorema 4.1, temos que o comportamento no equador é dado por<br />
Xq 2 (X, Y ) − Y p 2 (X, Y ) = X(5XY ) − Y (X 2 + Y 2 ) = Y (4X 2 − Y 2 ) = 0<br />
e também temos que X 2 + Y 2 = 1 pois estamos sobre o equador.<br />
97
Disto concluímos que os pontos críticos no infinito são:<br />
(±1, 0, 0), ± 1 √<br />
5<br />
(1, 2, 0) e ± 1 √<br />
5<br />
(1, −2, 0).<br />
Também temos que para X = 0 a quantida<strong>de</strong> acima é negativa se Y > 0 e positiva se Y < 0,<br />
com isso po<strong>de</strong>mos orientar o equador <strong>de</strong> S 2 .<br />
1<br />
De acordo com o Teorema 4.2 o comportamento dos pontos críticos (1, 0, 0), √5 (1, 2, 0) e<br />
1√<br />
5<br />
(1, −2, 0) é <strong>de</strong>terminado segundo o comportamento dos pontos críticos do sistema<br />
{<br />
ẏ = 4y − 5z 2 − y 3 = yz 2<br />
ż = −z − zy 2 + z 3<br />
os quais são (0, 0), (2, 0) e (−2, 0), respectivamente. Examinando o comportamento <strong>de</strong>stes<br />
pontos, segundo o Teorema <strong>de</strong> Grobman-Hartman, temos<br />
( )<br />
( )<br />
4 0<br />
−8 0<br />
JX(0, 0) =<br />
e JX(±2, 0) =<br />
.<br />
0 −1<br />
0 −5<br />
Como o comportamento <strong>de</strong> cada ponto crítico no equador <strong>de</strong> S 2 é topologicamente equivalente,<br />
a menos <strong>de</strong> orientação, ao respectivo ponto <strong>de</strong>scrito acima e usando a observação feita <strong>de</strong> que<br />
para sistemas <strong>de</strong> grau par os pontos antípodas têm orientação reversa, temos que o sistema<br />
original apresenta comportamento semelhante ao <strong>de</strong>scrito na figura 4.6 como segue<br />
Figura 4.7: exemplo 4.4.<br />
Resumindo, para esten<strong>de</strong>rmos algo no infinito para um disco <strong>de</strong> Poincaré, essencialmente<br />
usamos<br />
( cosθ<br />
(x, y) =<br />
z<br />
, senθ )<br />
,<br />
z<br />
e multiplicamos o campo <strong>de</strong> vetores resultante por s m−1 , on<strong>de</strong> m é o grau do campo <strong>de</strong> vetores.<br />
E é esta <strong>de</strong>scrição que utilizaremos no programa P4.<br />
98
4.2 Compactificação <strong>de</strong> Poincaré-Liapunov<br />
As vezes, é melhor trabalharmos com a Compactificação <strong>de</strong> Poincaré-Liapunov, isto é, utilizamos<br />
uma compactificação quase-homogênea no infinito, essencialmente dada ”próximo”ao<br />
infinito por<br />
⎧<br />
⎪⎨<br />
x = cosθ<br />
z α<br />
⎪ ⎩ y = senθ , (4.13)<br />
z β<br />
para alguma boa escolha <strong>de</strong> (α, β) ∈ N ∗ × N ∗ . As vezes preferimos não utilizar a função usual<br />
(cosθ, senθ), mas utilizarmos as funções periódicas Csθ e Snθ, soluções do Problema <strong>de</strong> Cauchy<br />
⎧<br />
⎨<br />
⎩<br />
d<br />
dθ Csθ = −Sn2α−1 θ<br />
d<br />
dθ Snθ = Cs2β−1 θ<br />
, (4.14)<br />
com Cs(0) = 1, Sn(0) = 0 e satisfazendo a realção βSn 2α θ + αCs 2β θ = α. Usando tal transformação<br />
para uma boa escolha <strong>de</strong> α e β, faz-se possível em diversos casos que ao invés <strong>de</strong><br />
tomarmos uma singularida<strong>de</strong> não elementar no infinito (numa Compactificação <strong>de</strong> Poincaré)<br />
encontramos somente singularida<strong>de</strong>s elementares. Para fazermos estes cálculos é melhor fazermos<br />
com cartas diferentes e isto será feito no próximo capítulo.<br />
99
Capítulo 5<br />
O Programa P4<br />
O programa P4 é um software usado no estudo <strong>de</strong> campos polinomiais planares (ver [DH]). O<br />
programa <strong>de</strong>senha o retrato <strong>de</strong> fase tanto no Disco <strong>de</strong> Poincaré quanto no Disco <strong>de</strong> Poincaré-<br />
Liapunov, ou ainda próximo <strong>de</strong> uma singularida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada usuário<br />
do programa.<br />
Primeiramente ele checa quando o campo <strong>de</strong> vetores tem um conjunto contínuo <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s<br />
ou não, isto é, quando as duas componentes do polinômio do campo <strong>de</strong> vetores tem um<br />
fator comum ou não. Se eles tem um fator comum, ele divi<strong>de</strong> este campo <strong>de</strong> vetores por este<br />
fator comum e estuda o novo campo <strong>de</strong> vetores. As vezes, o pacote computacional algébrico<br />
usado não consegue encontrar este termo comum. Nestes casos o P4 trabalhará incorretamente.<br />
Se o usuário sabe o fator comum (por intuição ou por um outro pacote computacional algébrico<br />
tal como o Maple, Mathematica, Axion,...), ele po<strong>de</strong> evitar este problema dando este fator,<br />
juntamente com o campo <strong>de</strong> vetores reduzido (isto é, o campo <strong>de</strong> vetores <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> dividido<br />
pelo fator comum), para o P4.<br />
Então, no que segue, seja {<br />
com mdc(p, q) = 1.<br />
ẋ = p(x, y)<br />
ẏ = q(x, y)<br />
Agora, o programa <strong>de</strong>terminará as singularida<strong>de</strong>s isoladas finitas. Isto po<strong>de</strong> ser feito por<br />
métodos algébricos ou por métodos numéricos. Se o grau do campo <strong>de</strong> vetores é alto, <strong>de</strong>terminar<br />
estas singularida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong> levar muito tempo, nestes casos é melhor utilizar métodos numéricos.<br />
Para cada singularida<strong>de</strong> (x 0 , y 0 ), o P4 <strong>de</strong>termina o retrato <strong>de</strong> fase da seguinte maneira.<br />
Primeiramente ele calcula a matriz jacobiana em cada singularida<strong>de</strong>, isto é,<br />
JX(x 0 , y 0 ) =<br />
(<br />
∂p<br />
(x ∂x 0, y 0 )<br />
∂q<br />
(x ∂x 0, y 0 )<br />
∂p<br />
(x )<br />
∂y 0, y 0 )<br />
∂q<br />
(x ,<br />
∂y 0, y 0 )<br />
100
e calcula o valor <strong>de</strong> seus autovalores λ 1 e λ 2 . Ele distingue diferentes casos, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo quando<br />
ambos os autovalores são reais, ambos os autovalores são imaginários puros ou quando ambos<br />
os autovalores são complexos.<br />
1) λ 1 e λ 2 são reais. Se λ 1 e λ 2 tem o mesmo sinal, então (x 0 , y 0 ) é um nó estável (instável)<br />
e está resolvido o problema. Se eles tem sinais diferentes, então (x 0 , y 0 ) é uma sela, e ele calcula<br />
uma aproximação <strong>de</strong> Taylor <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m n das varieda<strong>de</strong>s estável e instável como segue.<br />
Consi<strong>de</strong>re as transformações {<br />
¯x = x − x 0<br />
ȳ = y − y 0<br />
e {<br />
¯x = w 11 u + w 21 v<br />
ȳ = w 12 u + w 22 v<br />
com (w 11 , w 12 ) ( respectivamente (w 21 , w 22 )) um autovetor associado ao autovalor λ 1 (respectivamente<br />
λ 2 ).<br />
Usando estas transformações ele obtem o campo <strong>de</strong> vetores<br />
{<br />
˙u = λ 1 u + p(u, v)<br />
˙v = λ 2 v + q(u, v)<br />
(5.1)<br />
com gr p ≥ 2 e gr q ≥ 2. Escrevendo as varieda<strong>de</strong>s invariantes como um gráfico (u, f(u)) e<br />
usando a invariância do fluxo, resultará em<br />
f(u) =<br />
n∑<br />
a i u i + o(u n ), (5.2)<br />
i=2<br />
com<br />
a i =<br />
b i<br />
, i = 2, ..., n<br />
(iλ 1 − λ 2 )<br />
on<strong>de</strong> b i é o coeficiente <strong>de</strong> u i na expressão q(u, f(u)) − f ′ (u)p(u, f(u)). A varieda<strong>de</strong> (v, g(v)) é<br />
calculada <strong>de</strong> forma análoga.<br />
Se λ 1 = 0 e λ 2 ≠ 0 então a singularida<strong>de</strong> (x 0 , y 0 ) é semi-hiperbólica. Neste caso existe uma<br />
varieda<strong>de</strong> central que é tangente à linha v 2 (x − x 0 ) − v 1 (y − y 0 ) = 0, com (v 1 , v 2 ) um autovetor<br />
associado ao autovalor nulo. Para calcular a varieda<strong>de</strong> central, ele simplifica o campo <strong>de</strong> vetores<br />
da mesma forma que no caso da sela. Então o novo campo <strong>de</strong> vetores satisfaz<br />
{<br />
˙u = p(u, v)<br />
˙v = λ 2 v + q(u, v)<br />
(5.3)<br />
com gr p ≥ 2 e gr q ≥ 2. Ele escreve a varieda<strong>de</strong> central como um gráfico <strong>de</strong> (u, f(u)), e<br />
101
utilizando a invariância do fluxo, resulta em<br />
f(u) =<br />
n∑<br />
a i u i + o(u n ),<br />
i=2<br />
on<strong>de</strong> a i é o coeficiente <strong>de</strong> u i na expressão −[q(u, f(u)) − f ′ (u)p(u, f(u))]/λ 2 . Isto resulta no<br />
comportamento<br />
˙u = c m u m + o(u m ).<br />
Usando estas informações a origem será<br />
(i) um nó estável se c m < 0, m ímpar e λ 2 < 0,<br />
(ii) um nó instável se c m > 0, m ímpar e λ 2 > 0,<br />
(iii) uma sela-nó se m é par,<br />
(iv) uma sela se c m > 0, m ímpar e λ 2 < 0 ou c m < 0, m ímpar e λ 2 > 0.<br />
Se a singularida<strong>de</strong> é uma sela-nó ou uma sela, então ele po<strong>de</strong> calcular uma aproximação <strong>de</strong><br />
Taylor para as varieda<strong>de</strong>s instável e estável.<br />
No caso dos dois autovalores serem nulos, o ponto (x 0 , y 0 ) é não elementar. Para estudar<br />
o campo <strong>de</strong> vetores próximo a singularida<strong>de</strong>, ele <strong>de</strong>singulariza a singularida<strong>de</strong> fazendo um<br />
“blow-up”quase-homogêneo.<br />
O algorítimo da <strong>de</strong>singularização consiste na construção <strong>de</strong> uma lista S <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s<br />
elementares, junto com a varieda<strong>de</strong> invariante, no “blow-up locus”que será or<strong>de</strong>nado no sentido<br />
anti-horário. Cada elemento <strong>de</strong> S é da forma<br />
[[T 1 , ..., T m ], x, y, Y, sep, type],<br />
on<strong>de</strong> (x, y) é uma singularida<strong>de</strong> elementar no “blow-up locus”, Y é o campo <strong>de</strong> vetores após<br />
o “blow-up”. A variável m é o número <strong>de</strong> “níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>singularização” que ele precisará e<br />
T 1 , ..., T m são as transformações, isto é, T i é da forma (x, y) ↦→ (c 1 x d 1<br />
y d 2<br />
+ x i−1 , c 2 x d 3<br />
y d 4<br />
+ y i−1 ),<br />
com (x i−1 , y i−1 ) a singularida<strong>de</strong> não elementar no “nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>singularização”i − 1. A varieda<strong>de</strong><br />
sep é a aproximação <strong>de</strong> Taylor da varieda<strong>de</strong> invariante e type é o tipo da singularida<strong>de</strong> que<br />
temos (ver figura 5.1)<br />
102
Figura 5.1: diferentes tipos <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s no “blow-up locus”.<br />
Na seguinte construção usaremos “Gosub” seguida por um número romano, significando que<br />
primeiramente ele elaborará o procedimento indicado pelo número romano, <strong>de</strong>pois continuará<br />
com a próxima linha. A construção <strong>de</strong> S é como segue:<br />
I. Entre com o campo <strong>de</strong> vetores X com uma singularida<strong>de</strong> não elementar (x 0 , y 0 ).<br />
• Se (x 0 , y 0 ) ≠ (0, 0) então consi<strong>de</strong>re a transformação ¯x = x − x 0 , ȳ = y − y 0 .<br />
• Determine o Diagrama <strong>de</strong> Newton e γ 1 : αr + βs = d, com mdc(α, β) = 1.<br />
• Seja N p = 0, l = 1 e T 1 : (x, y) ↦→ (x α + x 0 , x β y + y 0 ).<br />
• Faça um “blow-up”na direção do eixo-x positivo. Resultando em um campo <strong>de</strong> vetores<br />
Y .<br />
• Gosub II<br />
• Seja N n = 0, l = 1 e T 1 : (x, y) ↦→ (−x α + x 0 , x β y + y 0 ).<br />
• Faça um “blow-up”na direção do eixo-x negativo. Resultando em um campo <strong>de</strong> vetores<br />
Y .<br />
• Gosub III<br />
• Se γ 1 está completamente no semi-plano {r ≥ 0}, então<br />
- Seja T : (x, y) ↦→ (xy α + x 0 , y β + y 0 ).<br />
- Faça um “blow-up”na direção do eixo-y positivo. Resultando em um campo <strong>de</strong> vetores<br />
Y com (0, 0) uma singularida<strong>de</strong> elementar. Da mesma maneira como em II construa a lista<br />
V = [[T ], 0, 0, Y, sep, type].<br />
- Seja T : (x, y) ↦→ (xy α + x 0 , −y β + y 0 ).<br />
- Faça um “blow-up”na direção do eixo-y negativo. Resultando em um campo <strong>de</strong> vetores<br />
Y com (0, 0) uma singularida<strong>de</strong> elementar. Da mesma maneira como em II construa a lista<br />
V = [[T ], 0, 0, Y, sep, type].<br />
- S = [W, L p 1, ..., L n N p<br />
, V, L p 1, ..., L n N n<br />
].<br />
103
senão S = [L p 1, ..., L n N p<br />
, L p 1, ..., L n N n<br />
].<br />
• Imprima todas as separatrizes e o tipo <strong>de</strong> setores como segue.<br />
- Para i = 2 até o comprimento <strong>de</strong> (S) faça<br />
∗ Se S[i − 1][6] ∈ {1, 7, 10} e S[i][6] ∈ {2, 6, 12} então será um setor hiperbólico.<br />
∗ Se S[i − 1][6] ∈ {2, 6, 11} e S[i][6] ∈ {1, 7, 9} então será um setor hiperbólico.<br />
∗ Se S[i − 1][6] ∈ {3, 5, 9} e S[i][6] ∈ {4, 8, 11} então será um setor elíptico.<br />
∗ Se S[i − 1][6] ∈ {4, 8, 12} e S[i][6] ∈ {3, 5, 10} então será um setor elíptico.<br />
∗ Se S[i − 1][6] ∈ {2, 6, 11} e S[i][6] ∈ {4, 8, 12} então será um setor atrator.<br />
∗ Se S[i − 1][6] ∈ {4, 8, 12} e S[i][6] ∈ {2, 6, 12} então será um setor atrator.<br />
∗ Se S[i − 1][6] ∈ {1, 7, 10} e S[i][6] ∈ {3, 5, 10} então será um setor repulsor.<br />
∗ Se S[i − 1][6] ∈ {3, 5, 9} e S[i][6] ∈ {1, 7, 9} então será um setor repulsor.<br />
- Determine o tipo <strong>de</strong> setor entre o último elemento <strong>de</strong> S e o primeiro.<br />
• Fim.<br />
II. Entre com o campo <strong>de</strong> vetores Y , o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>singularização l e a lista [T 1 , ..., T l ].<br />
(1) Se x = 0 não é uma linha <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s então <strong>de</strong>termine as singularida<strong>de</strong>s em Y na<br />
linha x = 0.<br />
• Classifique as singularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tal forma que [y 1 , ..., y n ] estejam em or<strong>de</strong>m crescente.<br />
• Para i = 1 até n faça<br />
- Sejam λ 1 e λ 2 os autovalores <strong>de</strong> JY (0, y i ).<br />
- Transla<strong>de</strong> o ponto (0, y i ) para a origem. Resultando no campo <strong>de</strong> vetores Ȳ .<br />
- Se λ 1 = λ 2 = 0 então é necessário fazer um “blow-up”em Ȳ na origem. Gosub IV.<br />
Senão<br />
∗ Se λ 1 > 0 e λ 2 < 0 então sep é a aproximação <strong>de</strong> Taylor da varieda<strong>de</strong> instável e tipo 1.<br />
∗ Se λ 1 < 0 e λ 2 > 0 então sep é a aproximação <strong>de</strong> Taylor da varieda<strong>de</strong> instável e tipo 2.<br />
∗ Se λ 1 = 0 então sep é a aproximação <strong>de</strong> Taylor da varieda<strong>de</strong> central. Depen<strong>de</strong>ndo do<br />
comportamento da varieda<strong>de</strong> central será tipo 5 ou 6 (respectivamente 7 ou 8) se λ 2 > 0<br />
(respectivamente λ 2 < 0).<br />
∗ Se λ 2 = 0 então sep é a aproximação <strong>de</strong> Taylor da varieda<strong>de</strong> instável (respectivamente<br />
estável) <strong>de</strong> tipo 1, 3, 9 ou 10 (respectivamente 2, 4, 11 ou 12) se λ 1 > 0 (respectivamente λ 1 < 0).<br />
∗ Se λ 1 > 0 e λ 2 < 0 será tipo 3. Se λ 1 ≠ λ 2 então sep é a aproximação <strong>de</strong> Taylor da órbita<br />
que é tangente com a linha y = vx, com v um autovetor associado ao autovalor λ 1 . Se λ 1 = λ 2<br />
então sep é a linha y = 0.<br />
∗ Se λ 1 > 0 e λ 2 < 0 será tipo 4. Se λ 1 ≠ λ 2 então sep é a aproximação <strong>de</strong> Taylor da órbita<br />
que é tangente com a linha y = vx, com v um autovetor associado ao autovalor λ 1 . Se λ 1 = λ 2<br />
então sep é a linha y = 0.<br />
∗ N p = N p + 1, L p N p<br />
= [[T 1 , ..., T l ], 0, y i , Ȳ , sep, type].<br />
104
• Volte<br />
(2) Se x = 0 é uma linha <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s então <strong>de</strong>termine todas as singularida<strong>de</strong>s não<br />
elementares na linha x = 0.<br />
• Classifique as singularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tal forma que [y 1 , ..., y n ] estejam em or<strong>de</strong>m crescente.<br />
• Para i = 1 até n faça<br />
- Transla<strong>de</strong> o ponto (0, y i ) para a origem. Resultando no campo <strong>de</strong> vetores Ȳ .<br />
- Determine o Diagrama <strong>de</strong> Newton <strong>de</strong> Ȳ e γ 1 : αr + βs = d.<br />
- Seja T l+1 (x, y) ↦→ (x α , x β y + y i ).<br />
- Faça um “blow-up”na direção do eixo-x.<br />
- Gosub II com l → l + 1.<br />
• Volte<br />
III. O mesmo que II, mas classifique as singularida<strong>de</strong>s em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente. Troque as<br />
variáveis N p e L p N p<br />
com N n e L n N n<br />
, e II e IV com III e V.<br />
IV. Entre com o campo <strong>de</strong> vetores Ȳ , o ponto (0, y i) e [T 1 , ..., T l ].<br />
• Determine o Diagrama <strong>de</strong> Newton e γ 1 : αr + βs = d.<br />
• Faça um “blow-up”na direção do eixo-x. Resultando no campo <strong>de</strong> vetores Y p .<br />
• Determine o comportamento <strong>de</strong> Y p perto da origem.<br />
• Se o comportamento perto da origem é como na figura 5.2(a) então<br />
<br />
(a)<br />
<br />
(b)<br />
Figura 5.2: segundo “blow-up”na direçãdo eixo-y.<br />
- tipo 4 e sep é a linha y = x.<br />
- N p = N p + 1.<br />
- L p N p<br />
= [[T 1 , ..., T l , (x, y) ↦→ (xy α , y β + y i )], 0, 0, y i , Y p , sep, type].<br />
• Se o comportamento da origem é como na figura 5.2(b) então<br />
- tipo 3 e sep é a linha y = x.<br />
- N p = N p + 1.<br />
105
- L p N p<br />
= [[T 1 , ..., T l , (x, y) ↦→ (xy α , y β + y i )], 0, 0, y i , Y p , sep, type].<br />
• Seja T l+1 : (x, y) ↦→ (x α , x β y + y i )<br />
• Faça um “blow-up”na direção do eixo-x. Resultando no campo <strong>de</strong> vetores Y .<br />
• Gosub II com l → l + 1.<br />
• Faça um “blow-up”na direção do eixo-y. Resultando no campo <strong>de</strong> vetores Y n .<br />
• Determine o comportamento <strong>de</strong> Y n perto da origem.<br />
• Se o comportamento perto da origem é como na figura 9(a) então<br />
- tipo 4 e sep é a linha y = x.<br />
- N p = N p + 1.<br />
- L p N p<br />
= [[T 1 , ..., T l , (x, y) ↦→ (xy α , −y β + y i )], 0, 0, y i , Y p , sep, type].<br />
• Se o comportamento da origem é como na figura 9(b) então<br />
- tipo 3 e sep é a linha y = x.<br />
- N p = N p + 1.<br />
- L p N p<br />
= [[T 1 , ..., T l , (x, y) ↦→ (xy α , y β + y i )], 0, 0, y i , Y p , sep, type].<br />
• Volte<br />
V. O mesmo que IV, mas primeiramente faça um “blow-up”na direção do eixo-y negativo<br />
e <strong>de</strong>pois na direção do eixo-y negativo. Troque as variáveis N p e L p N p<br />
III.<br />
com N n e L n N n<br />
, e II com<br />
2) Se os autovalores são imaginários puros, então o ponto (x 0 , y 0 ) é um foco fraco ou um centro.<br />
Para <strong>de</strong>terminar seu tipo, calcula-se as constantes <strong>de</strong> Liapunov usando a técnica atribuída<br />
a Torregrosa [To]. No caso <strong>de</strong> um campo <strong>de</strong> vetores quadrático ou <strong>de</strong> um campo <strong>de</strong> vetores<br />
linear somado a um homogêneo cúbico, P4 está pronto para <strong>de</strong>terminar quando o ponto é um<br />
centro, um foco fraco estável ou instável <strong>de</strong> uma certa or<strong>de</strong>m ou não. Em todos os outros casos<br />
o P4 calcula o valor pela ausência das quatro primeiras constantes <strong>de</strong> Lyapunov. Se elas são<br />
todas nulas o ponto é um foco fraco in<strong>de</strong>terminado, no outro caso tem-se um foco fraco estável<br />
ou instável. O algoritmo está escrito em linguagem C então os cálculos são feitos numericamente.<br />
Então as constantes <strong>de</strong> Lyapunov são calculadas sob uma certa precisão. Diz-se então<br />
que a constante <strong>de</strong> Lyaponov V é nula se |V | < 10 −8 .<br />
3) No caso dos autovalores serem complexos mas não imaginários puros, o ponto (x 0 , y 0 ) é<br />
um foco forte estável (instável) se T r(JX (x0 ,y 0 )) < 0 (respectivamante T r(JX (x0 ,y 0 )) > 0).<br />
Agora <strong>de</strong>terminam-se as singularida<strong>de</strong>s no infinito, estudando-se o campo <strong>de</strong> vetores no<br />
Disco <strong>de</strong> Poincaré. Primeiramente transforma-se o campo <strong>de</strong> vetores usando a transformação<br />
{<br />
x = 1 z 2<br />
y = z 1<br />
z 2<br />
106
Isto resulta no campo <strong>de</strong> vetores (<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> multiplicar o resultado por z d−1<br />
2 )<br />
⎧<br />
⎨<br />
⎩<br />
(<br />
ẋ = z2(−z d 1 p<br />
(<br />
ẏ = −z2 d+ p<br />
1<br />
z 2<br />
, z 1<br />
1<br />
z 2<br />
, z 1<br />
(<br />
z 2<br />
)) + q<br />
z 2<br />
))<br />
1<br />
z 2<br />
, z 1<br />
com d o grau do campo <strong>de</strong> vetores. Suponha que q d (1, z 1 ) − z 1 p d (1, z 1 ) ≢ 0. O ponto (z 1 , 0)<br />
que satisfaz q d (1, z 1 ) − z 1 p d (1, z 1 ) = 0 são as singularida<strong>de</strong>s no infinito <strong>de</strong> X. Estes pontos são<br />
estudados da mesma forma que nos casos finitos. No caso que q d (1, z 1 )−z 1 p d (1, z 1 ) ≡ 0, a linha<br />
no infinito é uma linha <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s. Para estudar as singularida<strong>de</strong>s no infinito dividi-se<br />
o campo <strong>de</strong> vetores por z 2 , e estuda-se este campo <strong>de</strong> vetores perto da linha z 2 = 0.<br />
z 2<br />
))<br />
Depois transforma-se o campo <strong>de</strong> vetores usando a transformação<br />
{<br />
x = z 1<br />
z 2<br />
y = 1 z 2<br />
.<br />
Com isso obtem-se o campo <strong>de</strong> vetores (<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> multiplicar o resultado por z d−1<br />
2 )<br />
⎧<br />
⎨<br />
⎩<br />
z˙<br />
1 = z2(−z d 1 p<br />
z˙<br />
2 = −z2 d+ q<br />
(<br />
z 1<br />
z 2<br />
, 1 z 2<br />
)) + q<br />
(<br />
z 1<br />
z 2<br />
, 1 z 2<br />
))<br />
(<br />
z 1<br />
z 2<br />
, 1 z 2<br />
))<br />
Falta somente <strong>de</strong>terminar quando (0, 0) é uma singularida<strong>de</strong> ou não, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que as outras tenham<br />
sido estudadas nas primeiras cartas.<br />
Se existe uma singularida<strong>de</strong> no infinito que é não elementar, é melhor, as vezes, estudar o<br />
campo <strong>de</strong> vetores em um Disco <strong>de</strong> Poincaré-Lyapunov <strong>de</strong> algum grau (α, β), isto é, usar uma<br />
transformação da forma<br />
⎧<br />
⎪⎨<br />
⎪ ⎩<br />
x = cosθ<br />
.<br />
r α<br />
y = senθ<br />
r β<br />
para o estudo “no infinito”, que resulta (<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> multiplicar o resultado por r c )<br />
⎧<br />
⎪⎨<br />
⎪⎩<br />
ṙ = −r c+1∑ δ≤cr −δ (cosθp δ (cosθ, senθ) + senθq δ (cosθ, senθ))<br />
˙θ = r c∑ δ≤cr −δ (−βsenθp δ (cosθ, senθ) + αcosθq δ (cosθ, senθ)<br />
(5.4)<br />
com {<br />
ẋ = p δ (x, y)<br />
ẏ = q δ (x, y)<br />
a componente quase-homogênea do tipo (α, β) e grau quase-homogêneo δ; c é escolhido <strong>de</strong><br />
107
forma a ser o máximo <strong>de</strong> δ.<br />
Com uma escolha apropriada <strong>de</strong> (α, β) encontra-se apenas singularida<strong>de</strong>s elementares no<br />
infinito. Para simplificar os cálculos ele prefere trabalhar com cartas.<br />
Primeiramente transforma-se o campo <strong>de</strong> vetores usando a transformação<br />
⎧<br />
⎨<br />
⎩<br />
x = 1<br />
z α 2<br />
y = z 1<br />
z β 2<br />
Com isso obtem-se o campo <strong>de</strong> vetores (<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> multiplicar o resultado por αz c 2)<br />
⎧<br />
⎪⎨<br />
⎪⎩<br />
∑<br />
z˙<br />
1 = z2<br />
c (z2 −δ (αq(1, z 1 ) − βz 1 p δ (1, z 1 ))<br />
δ≤c<br />
∑<br />
z˙<br />
2 = −z2<br />
c+1 (z2 −δ p δ (1, z 1 ))<br />
δ≤c<br />
.<br />
. (5.5)<br />
Se αq c (1, z 1 )−βz 1 p c (1, z 1 ) ≢ 0, então o ponto (z 1 , 0) que satisfaz αq c (1, z 1 )−βz 1 p c (1, z 1 ) = 0<br />
são singularida<strong>de</strong>s no infinito <strong>de</strong> X. Estes pontos são estudados da mesma forma que nos casos<br />
finitos.<br />
Nos casos em que αq(1, z 1 ) − βz 1 p δ (1, z 1 ) ≡ 0, a linha no infinito é uma linha <strong>de</strong><br />
singularida<strong>de</strong>s. Para estudar o comportamento “no infinito” dividi-se o campo <strong>de</strong> vetores por<br />
z 2 e estuda-se este campo <strong>de</strong> vetores na linha z 2 = 0.<br />
Depois transforma-se o campo <strong>de</strong> vetores usando a transformação<br />
⎧<br />
⎨<br />
⎩<br />
x = −1<br />
z α 2<br />
y = z 1<br />
z β 2<br />
Com isso obtem-se o campo <strong>de</strong> vetores (<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> multiplicar o resultado por αz c 2)<br />
⎧<br />
⎪⎨<br />
⎪⎩<br />
∑<br />
z˙<br />
1 = z2<br />
c (z2 −δ (αq(−1, z 1 ) + βz 1 p δ (−1, z 1 ))<br />
δ≤c<br />
∑<br />
z˙<br />
2 = −z2<br />
c+1 (z2 −δ p δ (−1, z 1 ))<br />
Este campo <strong>de</strong> vetores po<strong>de</strong> ser estudado da mesma forma que o anterior.<br />
δ≤c<br />
Finalmente consi<strong>de</strong>remos as duas transformações<br />
⎧<br />
⎨<br />
⎩<br />
x = 1<br />
z α 2<br />
y = z 1<br />
z β 2<br />
.<br />
. (5.6)<br />
108
e<br />
⎧<br />
⎨<br />
⎩<br />
x = −1<br />
z α 2<br />
y = z 1<br />
z β 2<br />
.<br />
Para estes dois campos <strong>de</strong> vetores é necessário somente <strong>de</strong>terminar quando o ponto (0, 0) é uma<br />
singularida<strong>de</strong> ou não, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que os outros tenham sido estudados nas duas primeiras cartas.<br />
Neste estágio po<strong>de</strong>-se já <strong>de</strong>senhar uma gran<strong>de</strong> parte do retrato <strong>de</strong> fase do campo <strong>de</strong> vetores.<br />
Primeiro <strong>de</strong>senha-se as separatrizes invariantes da seguinte maneira. No caso das singularida<strong>de</strong>s<br />
serem uma sela ou uma sela-nó, utiliza-se a aproximação <strong>de</strong> Taylor da varieda<strong>de</strong> invariante até<br />
encontrar-se a fronteira <strong>de</strong> um círculo <strong>de</strong> raio ɛ, para um certo ɛ ≥ 0. A partir <strong>de</strong>ste ponto,<br />
integra-se as separatrizes com o método <strong>de</strong> Runge-Kutta <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns 7 e 8. Para prevenir um<br />
“overflow”numérico na aproximação <strong>de</strong> Taylor, normaliza-se os campos <strong>de</strong> vetores (5.1) e (5.3)<br />
antes <strong>de</strong> calcular a aproximação <strong>de</strong> Taylor como segue.<br />
Seja a o maior coeficiente em valor absoluto do campo <strong>de</strong> vetores. Reescalona-se o tempo <strong>de</strong><br />
tal forma que este coeficiente se torne igual a 1000.sign(a). No começo da integração numérica<br />
das separatrizes tem-se um erro que vem da aproximação <strong>de</strong> Taylor. Tomamos ɛ = 0, 01 e uma<br />
or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> aproximação n = 6. Então tem-se um erro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 10 −14 . Para o programa ter<br />
certeza que este erro não é tão gran<strong>de</strong>, faz-se um teste para <strong>de</strong>cidir quando a aproximação <strong>de</strong><br />
Taylor “aproxima-se”da varieda<strong>de</strong> invariante real ou não. Seja f(t) a aproximação <strong>de</strong> Taylor<br />
da varieda<strong>de</strong> invariante, que é tangente a linha v = 0. Suponha que t 2 1 + f(t 1 ) 2 = ɛ 2 e consi<strong>de</strong>re<br />
o ponto (ih, f(ih)), ( i = ) 1, ..., 100, com h = t 1 /100. Consi<strong>de</strong>re o ângulo α i = arctg( f(ih)) ˙<br />
e β i = arctg ˙v(ih,f(ih))<br />
, i = 1, ..., 100. Se ‖α<br />
˙u(ih,f(ih))<br />
i − β i ‖ < 10 −18 , ∀i = 1, ..., 100, aceita-se a<br />
aproximação <strong>de</strong> Taylor, caso contrário, calcula-se a aproximação <strong>de</strong> Taylor <strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m<br />
maior e faz-se o teste outra vez. Tomamos por or<strong>de</strong>m máxima n = 20. Neste caso, o erro<br />
é <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 10 −42 . Este teste funciona muito bem para as varieda<strong>de</strong>s estável e instável, mas<br />
para a varieda<strong>de</strong> central po<strong>de</strong> falhar as vezes, especialmente se o autovalor não nulo, em valor<br />
absoluto, é gran<strong>de</strong>.<br />
Se a singularida<strong>de</strong> é não elementar, dividi-se o ponto em diversas singularida<strong>de</strong>s elementares.<br />
Para cada um <strong>de</strong>stes pontos <strong>de</strong>senha-se a varieda<strong>de</strong> invariante (que correspon<strong>de</strong> a uma separatriz<br />
da singularida<strong>de</strong> não elementar) como segue. Primeiro utiliza-se a aproximação <strong>de</strong> Taylor<br />
na carta do “blow-up”que correspon<strong>de</strong> a singularida<strong>de</strong> elementar, a uma distância ɛ da singularida<strong>de</strong>.<br />
Então esten<strong>de</strong>-se a separatriz nesta carta por integração numérica, a uma distância 1<br />
da singularida<strong>de</strong>. Depois esten<strong>de</strong>-se, por integração numérica, para o plano real. O número <strong>de</strong><br />
passos tem que ser <strong>de</strong>cidido <strong>de</strong> um modo interativo pelo usuário.<br />
Para prevenir um “overflow”numérico quando o programa tiver integrando o campo <strong>de</strong><br />
vetores, nem sempre integra-se o campo <strong>de</strong> vetores no plano real e projeta-se na Esfera <strong>de</strong><br />
Pincaré, ele utiliza cartas diferentes para cobrir a Esfera <strong>de</strong> Poincaré, como segue. Seja (X, Y, Z)<br />
109
um ponto da Esfera <strong>de</strong> Poincaré com Z > 0, e seja (θ, ϕ) uma coor<strong>de</strong>nada esférica do ponto,<br />
isto é, X = cosθsenϕ, Y = senθsenϕ e Z = cosϕ.<br />
Se 0 ≤ ϕ ≤ π 4 transformamos o ponto para o plano real, isto é, consi<strong>de</strong>ra-se o ponto ( X Z , Y Z )<br />
e integra-se o campo <strong>de</strong> vetores original. Se ϕ > π então consi<strong>de</strong>ra-se os 4 casos seguintes<br />
4<br />
(i) Se − π ≤ θ ≤ π, consi<strong>de</strong>ra-se o ponto (z 4 4 1, z 2 ) = ( Y<br />
, ) Z<br />
X X e integra-se o campo <strong>de</strong> vetores<br />
{<br />
z˙<br />
1 = z2(−z d 1 p( 1 z 2<br />
, z 1<br />
z 2<br />
) + q( 1 z 2<br />
, z 1<br />
z 2<br />
))<br />
z˙<br />
2 = −z2 d+1 p( 1 z 2<br />
, z 1<br />
z 2<br />
)<br />
. (5.7)<br />
(ii) Se π ≤ θ ≤ 3π, consi<strong>de</strong>ra-se o ponto (z 4 4 1, z 2 ) = ( X<br />
, ) Z<br />
Y Y e integra-se o campo <strong>de</strong> vetores<br />
{<br />
z˙<br />
1 = z2(p( d z 1<br />
z 2<br />
, 1 z 2<br />
) − z 1 q( z 1<br />
z 2<br />
, 1 z 2<br />
))<br />
z˙<br />
2 = −z2 d+1 p( z 1<br />
z 2<br />
, 1 z 2<br />
)<br />
. (5.8)<br />
(iii) Se 3π 4<br />
(iv) Se 5π 4<br />
≤ θ ≤ 5π 4 , consi<strong>de</strong>ra-se o ponto (z 1, z 2 ) = ( Y<br />
X , Z X<br />
)<br />
e integra-se o campo <strong>de</strong> vetores<br />
{<br />
z˙<br />
1 = (−1) d−1 z2(−z d 1 p( 1 z 2<br />
, z 1<br />
z 2<br />
) + q( 1 z 2<br />
, z 1<br />
z 2<br />
))<br />
z˙<br />
2 = (−1) d z2 d+1 p( 1 z 2<br />
, z 1<br />
z 2<br />
)<br />
. (5.9)<br />
≤ θ ≤ 7π, consi<strong>de</strong>ra-se o ponto (z 4 1, z 2 ) = ( X<br />
, ) Z<br />
Y Y e integra-se o campo <strong>de</strong> vetores<br />
{<br />
z˙<br />
1 = (−1) d−1 z2(p( d z 1<br />
z 2<br />
, 1 z 2<br />
) − z 1 q( z 1<br />
z 2<br />
, 1 z 2<br />
))<br />
z˙<br />
2 = (−1) d z2 d+1 p( z 1<br />
z 2<br />
, 1 z 2<br />
)<br />
. (5.10)<br />
O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s, tanto as finitas como as infinitas, juntamente com as separatrizes,<br />
darão uma boa idéia do retrato <strong>de</strong> fase global (ver [Ma] e [Ne]). É claro que não vê-se o<br />
número exato e a localização das órbitas fechadas, mas tem-se a região em que os ciclos limites<br />
ou anéis <strong>de</strong> órbitas fechadas po<strong>de</strong>m ocorrer. Se tem-se a impressão <strong>de</strong> que órbitas fechadas ou,<br />
especialmente, ciclos limites vão ocorrer, po<strong>de</strong>-se pedir ao P4 para localizar estes ciclos limites<br />
como segue. Primeiramente <strong>de</strong>vemos selecionar dois pontos x e y. Estes dois pontos <strong>de</strong>vem<br />
estar próximos à região on<strong>de</strong> preten<strong>de</strong>-se encontrar ciclos limites, e a linha L conectando ambos<br />
os pontos <strong>de</strong>ve cortar o ciclo limite esperado. O P4 tenta <strong>de</strong>terminar o ciclo limite como segue.<br />
Primeiro ele divi<strong>de</strong> a linha em segmentos [p i , p i+1 ] <strong>de</strong> comprimento h e começamos integrando<br />
pelo último segmento da linha L até o primeiro. Toda órbita próxima ao ciclo limite supostamente<br />
corta a linha L outra vez. Desta forma, <strong>de</strong>tecta-se a existência do ciclo limite quando<br />
encontra-se uma mudança na aplicação retorno <strong>de</strong> Poincaré. O P4 <strong>de</strong>tecta tal mudança como<br />
segue. Suponha que a integração começa <strong>de</strong> um ponto p i em L, e que a órbita corta a linha L<br />
outra vez em um ponto q i com p i < q i . O P4 toma agora o ponto p j mais próximo <strong>de</strong> q i com<br />
110
p j > q i e começa a integração na mesma direção. Se esta órbita corta L em um ponto q j com<br />
q j < p j então existe um ciclo limite entre os pontos q i e q j . Tomamos h = 10 −4 . É claro que,<br />
<strong>de</strong>sta forma, a única coisa que po<strong>de</strong>mos dizer é que em uma região <strong>de</strong> comprimento 10 −4 existe<br />
pelo menos um ciclo limite. As vezes é possível que o P4 não encontre nenhum ciclo limite. A<br />
razão é que nestes casos a aplicação retorno <strong>de</strong> Poincaré é muito próxima da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />
No caso em que estuda-se o campo <strong>de</strong> vetores em um Disco <strong>de</strong> Poincaré-Liapunov <strong>de</strong> grau<br />
(α, β), o P4 <strong>de</strong>senha as órbitas do campo <strong>de</strong> vetores como segue<br />
y<br />
X<br />
<br />
1<br />
Figura 5.3: representação do disco <strong>de</strong> Poincaré-Liapunov <strong>de</strong> grau (α, β).<br />
Seja (x, y) ∈ R 2 . Se x 2 + y 2 ≤ 1, então (x, y) vai ser esboçada no interior do círculo<br />
unitário em torno da origem, por integração do campo <strong>de</strong> vetores original (é claro que fazendo<br />
a análise <strong>de</strong>talhada das singularida<strong>de</strong>s finitas como apresentadas no caso da Compactificação<br />
<strong>de</strong> Poincaré). Se x 2 + y 2 > 1, o P4 faz a seguinte transformação, x = cosθ/r α e y = senθ/r β ,<br />
para esboçar no anel limitado pelos ciclos limites <strong>de</strong> raio 1 e pelos ciclos no infinito, integrando<br />
o campo <strong>de</strong> vetores (5.4), para esten<strong>de</strong>r a informação próximo das singularida<strong>de</strong>s. Infelizmente,<br />
órbitas cruzando o círculo <strong>de</strong> raio 1 dão a impressão <strong>de</strong> terem uma <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong>scontínua. Isto é<br />
<strong>de</strong>vido ao fato do programa P4 estar usando duas transformações diferentes que não se encaixam<br />
no caminho diferenciável no circulo unitário.<br />
5.1 Tratamento dos exemplos<br />
Vamos consi<strong>de</strong>rar o campo <strong>de</strong> vetores<br />
X :<br />
{<br />
ẋ = y<br />
ẏ = −x − y(1 + 2x) .<br />
Primeiro o programa P4 estuda este campo <strong>de</strong> vetores no Disco <strong>de</strong> Poincaré. Assim, a origem é<br />
uma singularida<strong>de</strong> do campo <strong>de</strong> vetores que é um foco estável forte. Para o estudo no infinito,<br />
111
o P4 primeiro consi<strong>de</strong>ra o campo <strong>de</strong> vetores em uma carta U 1 . Este campo <strong>de</strong> vetores tem a<br />
equação<br />
X 1 :<br />
{<br />
z˙<br />
1 = −2z 1 − z 2 − z 1 z 2 − z2z 2 2<br />
z˙<br />
2 = −z 1 z2<br />
2<br />
Daí, a origem é uma singularida<strong>de</strong> que é uma sela semi-hiperbólica. Depois ele vai consi<strong>de</strong>rar<br />
o campo <strong>de</strong> vetores em uma carta U 2 que tem a equação<br />
X 2 :<br />
cuja origem é uma singularida<strong>de</strong> não-elementar.<br />
{<br />
z˙<br />
1 = z 2 + z 1 z 2 + 2z2 2 + z1z 2 2<br />
z˙<br />
2 = 2z 1 z 2 + z2 2 + z 1 z2<br />
2<br />
,<br />
.<br />
Para saber o comportamento próximo da<br />
origem <strong>de</strong>ve-se fazer uma <strong>de</strong>singularização na origem, usando um “blow-up”quase-homogêneo<br />
<strong>de</strong> grau (1, 2). Este procedimento é <strong>de</strong>scrito na figura 5.4.<br />
Figura 5.4: “Blow-up”do campo <strong>de</strong> vetores X 2 próximo à origem.<br />
Usando esta informação, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>senhar o retrato <strong>de</strong> fase no Disco <strong>de</strong> Poincaré (ver figura<br />
5.5).<br />
Des<strong>de</strong> que exista uma singularida<strong>de</strong> não-elementar no infinito, po<strong>de</strong>-se estudar o campo <strong>de</strong><br />
vetores no Disco <strong>de</strong> Poincaré-Liapunov. Usando um Disco <strong>de</strong> Poincaré-Liapunov <strong>de</strong> grau (1, 2)<br />
encontra-se 4 singularida<strong>de</strong>s no infinito, dois nós e duas selas semi-hiperbólicas. Usando esta<br />
informação, po<strong>de</strong>-se agora <strong>de</strong>senhar o retrato <strong>de</strong> fase no Disco <strong>de</strong> Poincaré-Liapunov <strong>de</strong> grau<br />
(1, 2) (ver figura 5.6)<br />
112
Figura 5.5: Retrato <strong>de</strong> fase do campo <strong>de</strong> vetores X no disco <strong>de</strong> Poincaré.<br />
Figura 5.6: Retrato <strong>de</strong> fase do campo <strong>de</strong> vetores X no disco <strong>de</strong> Poincaré-Liapunov <strong>de</strong> grau<br />
(1, 2).<br />
Consi<strong>de</strong>re o campo <strong>de</strong> vetores<br />
X 2 :<br />
{<br />
ẋ = y − x 2<br />
ẏ = − 1<br />
20 − x − x2 .<br />
Estudar este campo <strong>de</strong> vetores no Disco <strong>de</strong> Poincaré-Liapunov <strong>de</strong> grau (1, 2). Usando o P4<br />
encontra-se que ((5 + √ 30)/10, (11 + 2 √ 30)/20) é um ponto <strong>de</strong> sela e ((5 − √ 30)/10, (11 −<br />
2 √ 30)/20) é um foco instável forte.<br />
No infinito encontram-se 4 singularida<strong>de</strong>s, dois pontos na carta U 1 , o ponto (0, 0) que é um<br />
nó repulsor e (1, 0) que é uma sela-nó e dois pontos na carta U 2 , (0, 0) que é um nó atrator e<br />
(1, 0) que é uma sela-nó.<br />
Usando esta informação, po<strong>de</strong>-se agora <strong>de</strong>senhar o retrato <strong>de</strong> fase no Disco <strong>de</strong> Poincaré-<br />
Liapunov <strong>de</strong> grau (1, 2) (ver figura 5.7). Também <strong>de</strong>scobre-se que o campo <strong>de</strong> vetores tem<br />
113
um ciclo limite na circunferência menor (ver figura 5.8).<br />
Figura 5.7: Retrato <strong>de</strong> fase do campo <strong>de</strong> vetores Y no disco <strong>de</strong> Poincaré-Liapunov <strong>de</strong> grau<br />
(1, 2).<br />
Figura 5.8: Ciclo limite do campo <strong>de</strong> vetores Y .<br />
114
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