14.11.2012 Views

A QUESTÃO DO DUPLO EM DUAS NARRATIVAS BRASILEIRAS

A QUESTÃO DO DUPLO EM DUAS NARRATIVAS BRASILEIRAS

A QUESTÃO DO DUPLO EM DUAS NARRATIVAS BRASILEIRAS

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Ângelo se mata, atirando-se em um abismo, mas antes mata também a frei<br />

Ozéas, arrancando uma cruz do chão e cravando-lhe no pescoço – numa cena (que não<br />

deixa nada a dever aos melhores romances góticos) permeada de escuridão e angústia,<br />

únicos elementos capazes de transmitir o estágio último de desespero e morte que irão<br />

se desenrolar na vida dos desafortunados personagens.<br />

3. O <strong>DUPLO</strong> <strong>EM</strong> ESFINGE<br />

Coelho Neto, talvez, seja um desses escritores sobre o qual se tenha, ainda, que<br />

lançar mão de estudos de caráter mais efetivo e aprofundado. O seu isolamento<br />

paulatino nas Letras nacionais começou a se dar, primeiramente, por meio dos ataques a<br />

ele desferidos por alguns modernistas em ascensão. Posteriormente, o fato de não mais<br />

se publicar a maioria das obras do escritor, acabou por isolá-lo, quase que por completo,<br />

do público leitor das últimas décadas do século XX.<br />

A historiografia e a crítica fazem menção ao autor, destacando, inclusive,<br />

alguns de seus textos. Em meio às rajadas de críticas disparadas contra ou a favor de<br />

Coelho Neto, descobre-se que ele transitou por entre os mais variados gêneros o que<br />

conferiu a sua obra momentos “altos” e “baixos” na visão de alguns críticos, como é o<br />

caso de Lúcia Miguel Pereira.<br />

Nesse transitar por gêneros diversos, Coelho Neto produz uma parcela de<br />

textos que tratam de temas ligados ao fantasmagórico, ao terror/horror ou ao<br />

sobrenatural que não é percebida com mérito pela historiografia ou pela crítica.<br />

Esses temas são oriundos das influências distintas que o escritor sofreu. Dentre<br />

essas influências, reconhecidas pelo próprio Coelho Neto, está a vivência no sertão,<br />

povoada por lendas, contos e histórias de negros cheios de pavores e lendas de caboclos<br />

palpitando encantamentos.<br />

Dentre as outras influências, percebidas pelos historiadores e pela crítica, estão<br />

a Bíblia, Shakespeare, Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Maupassant e Flaubert,<br />

sem contar os clássicos gregos e As mil e uma noites.<br />

Pereira (1973) vê o ecletismo do autor com temor e desfere, acidamente,<br />

lampejos sobre a produção dele de cunho mais fantasista ou sobrenatural “(...) resvalou<br />

pelo romance de aventuras no Rajá de Pendjab, atolou-se, levado pela sedução de um<br />

orientalismo de bazar, nos mistérios do ocultismo, abordados em Saldunes e Esfinge”<br />

(p.266).<br />

Já Bosi (1999) ao tratar do mesmo assunto, procura manter-se um pouco mais<br />

neutro em suas aferições:<br />

Depois de Miragem, o escritor lançou-se a uma criação ficcional<br />

febril, datando de 1895 seu primeiro romance-lenda (O Rei<br />

Fantasma), experiência que se mostrou fecunda ao longo de sua<br />

carreira literária e que se mesclaria a vagas tendências para o<br />

espiritismo, desde O Rajá de Pendjab (1898) até Imortalidade (1923),<br />

passando por Esfinge (1908), além de várias coleções de novelas e de<br />

contos que não cabe aqui analisar. (p.201)<br />

Algo interessante dito nessa citação faz referência às vagas tendências para o<br />

espiritismo. Tais tendências são fruto de uma “conversão do escritor” às doutrinas<br />

espíritas, decorrente de uma experiência bastante particular. Vale lembrar que as<br />

736

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!