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ACTAS DAS I JORNADAS as vias do Algarve da ... - Calçadinha

ACTAS DAS I JORNADAS as vias do Algarve da ... - Calçadinha

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<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong><br />

<strong>as</strong> vi<strong>as</strong> <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong><br />

<strong>da</strong> Época Romana à Actuali<strong>da</strong>de<br />

São Brás de Alportel - 2006


<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> - AS VIAS DO ALGARVE<br />

Edição<br />

Câmara Municipal de São Brás de Alportel / CCDR <strong>Algarve</strong><br />

Coordenação Editorial<br />

Angelina Pereira<br />

Apresentação<br />

Presidente <strong>da</strong> Câmara Municipal de São Brás de Alportel<br />

- António Eusébio<br />

Mensagem<br />

Vice-Presidente <strong>da</strong> Câmara Municipal de São Brás de Alportel<br />

- Vitor Guerreiro<br />

Mensagem de Abertura<br />

Representante <strong>da</strong> Direcção <strong>do</strong> IPA - Pedro Barros<br />

ficha técnica<br />

I JORNA<strong>DAS</strong> – AS VIAS DO ALGARVE<br />

Organização<br />

Câmara Municipal de São Brás de Alportel<br />

Gabinete de Arqueologia <strong>da</strong> Câmara Municipal<br />

de São Brás de Alportel<br />

Comissão Organiza<strong>do</strong>ra<br />

Angelina Pereira<br />

Pedro Barros<br />

Secretaria<strong>do</strong><br />

Claudia Guerreiro<br />

Elsa Narciso<br />

Fátima Guerreiro<br />

Audiovisuais<br />

Cristovão Vieg<strong>as</strong><br />

José Manuel Cristino<br />

O conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong>s artigos é <strong>da</strong> exclusiva<br />

responsabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s seus autores.<br />

Autores<br />

João Pedro Bernardes<br />

Sandra Rodrigues<br />

Francisco Gómez Toscano<br />

Ab<strong>da</strong>llah Khawli, Maria Alice Fernandes e Luís Fraga <strong>da</strong> Silva<br />

Luís Filipe Oliveira<br />

Manuel Maia<br />

Virgílio Lopes<br />

José d’Encarnação<br />

Angelina Pereira<br />

Fernan<strong>do</strong> Di<strong>as</strong> e Manuela Teixeira<br />

Bruno Silva, Susana Borges e José António Pereira<br />

Maria José Gonçalves<br />

Financiamento<br />

Comissão de Coordenação e Desenvolvimento <strong>da</strong><br />

Região <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong><br />

Pro<strong>Algarve</strong><br />

Fun<strong>do</strong> Europeu de Desenvolvimento Regional<br />

Câmara Municipal de São Brás de Alportel<br />

Design e Produção<br />

Idei<strong>as</strong> em Baú, Comunicação Marketing, L<strong>da</strong>.<br />

Impressão<br />

<br />

Tiragem<br />

1 000 exemplares<br />

Depósito legal<br />

251029/06<br />

Data<br />

Abril 2006


índice<br />

Agradecimentos<br />

Nota Introdutória - Técnica Superior de Arqueologia<br />

– Angelina Pereira<br />

Apresentação - Presidente <strong>da</strong> Câmara Municipal de São Brás de Alportel<br />

– António Paulo Jacinto Eusébio<br />

Mensagem - Vice-Presidente <strong>da</strong> Câmara Municipal de São Brás de Alportel<br />

– Vitor Manuel Martins Guerreiro<br />

Mensagem de Abertura - Representante <strong>da</strong> Direcção <strong>do</strong> IPA<br />

– Pedro Barros<br />

1º Painel<br />

.I João Pedro Bernardes<br />

Existem Pontes Roman<strong>as</strong> no <strong>Algarve</strong><br />

.II Sandra Rodrigues<br />

A Rede Viária Romana <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> Central<br />

.III Francisco Gómez Toscano<br />

Desde la desembocadura del río Guadiana.<br />

La continui<strong>da</strong>d del Itinerario hacia Oriente<br />

2º Painel<br />

.IV Ab<strong>da</strong>llah Khawli, Maria Alice Fernandes e Luís Fraga <strong>da</strong> Silva<br />

A Viagem de Ibn Ammar de São Brás a Silves<br />

.V Luís Filipe Oliveira<br />

Caminhos <strong>da</strong> terra e <strong>do</strong> mar no <strong>Algarve</strong> Medieval<br />

3º Painel<br />

.VI Manuel Maia<br />

De Baesuris a Pax Ivlia por Arannis<br />

.VII Virgílio Lopes<br />

O Território de Mértola e <strong>as</strong> Vi<strong>as</strong> de Comunicação no perío<strong>do</strong> romano<br />

.VIII José d'Encarnação<br />

Caminhos Antigos, Percursos Modernos<br />

4º Painel<br />

.IX Angelina Pereira<br />

A “Calçadinha” de São Brás de Alportel – Resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s Trabalhos<br />

Arqueológicos de Valorização de 2003-2005<br />

Posters<br />

.X Fernan<strong>do</strong> Di<strong>as</strong> e Manuela Teixeira<br />

Os Caminhos, <strong>as</strong> Ver<strong>da</strong>des e o Povoamento Antigo - <strong>do</strong> romano ao<br />

islâmico, os <strong>da</strong><strong>do</strong>s revela<strong>do</strong>s pela arqueologia <strong>do</strong> concelho de Alcoutim<br />

.XI Bruno Silva, Susana Borges e José António Pereira<br />

Ligação de São Brás de Alportel por Estói e Conceição à ETAR n<strong>as</strong>cente<br />

de Faro - trabalhos arqueológic<strong>as</strong> no âmbito <strong>do</strong> Sistema Multimunicipal<br />

de Saneamento <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong><br />

.XII Maria José Gonçalves<br />

Vi<strong>as</strong> Urban<strong>as</strong> de Silves: Mutações e Pervivênci<strong>as</strong><br />

5<br />

7<br />

8<br />

10<br />

11<br />

14<br />

20<br />

23<br />

31<br />

32<br />

39<br />

46<br />

54<br />

62<br />

70<br />

75<br />

80


agradecimentos<br />

Ao longo <strong>do</strong>s últimos quatro anos e meio, nos quais<br />

se desenvolveram os Projectos <strong>do</strong> Centro Explicativo<br />

e de Acolhimento <strong>da</strong> “Calçadinha” de São<br />

Brás de Alportel e de Estu<strong>do</strong> e Valorização <strong>da</strong><br />

“Calçadinha”, realizaram-se trabalhos arqueológicos<br />

de valorização e sua subsequente investigação,<br />

que resultaram em vári<strong>as</strong> publicações; foram<br />

muitos e imprescindíveis os apoios que nos foram<br />

concedi<strong>do</strong>s por divers<strong>as</strong> instituições, enti<strong>da</strong>des e<br />

pesso<strong>as</strong> que, de diferentes form<strong>as</strong> e por diferentes<br />

meios, nos acompanharam, no desbravar <strong>do</strong> terreno,<br />

na descoberta e valorização <strong>do</strong> Património<br />

histórico-arqueológico de São Brás de Alportel.<br />

Desejamos expressar os nossos sinceros<br />

agradecimentos:<br />

» À Comissão de Coordenação de Desenvolvimento<br />

Regional <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>, pelo imprescindível apoio,<br />

na concretização e desenvolvimento <strong>do</strong>s trabalhos<br />

<strong>do</strong> Projecto <strong>do</strong> Centro Explicativo e de Acolhimento<br />

<strong>da</strong> “Calçadinha” de São Brás de Alportel; e por<br />

tornar possível a publicação dest<strong>as</strong> Act<strong>as</strong>;<br />

» Ao Instituto Português de Arqueologia; ao Instituto<br />

Português <strong>do</strong> Património Arquitectónico (Direcção<br />

Regional de Faro) e ao Instituto Português de Museus,<br />

pela disponibili<strong>da</strong>de e valiosa aju<strong>da</strong>, para a realização<br />

<strong>do</strong> Projecto <strong>do</strong> Centro Explicativo e de Acolhimento<br />

<strong>da</strong> “Calçadinha” de São Brás de Alportel;<br />

» À Biblioteca Municipal de São Brás de Alportel<br />

Dr. Manuel Francisco <strong>do</strong> Estanco Louro, pela<br />

incondicional disponibili<strong>da</strong>de e cedência <strong>do</strong><br />

espaço, onde ao longo deste anos foram realizad<strong>as</strong><br />

divers<strong>as</strong> exposições temátic<strong>as</strong>, sobre o património<br />

histórico-arqueológico de São Brás de Alportel;<br />

» Ao Pedro Barros, companheiro de muit<strong>as</strong> “jornad<strong>as</strong>”,<br />

pel<strong>as</strong> muit<strong>as</strong> hor<strong>as</strong> dispendid<strong>as</strong> e pel<strong>as</strong><br />

profícu<strong>as</strong> discussões sobre <strong>as</strong> vári<strong>as</strong> temátic<strong>as</strong><br />

desenvolvid<strong>as</strong> ao longo <strong>do</strong> Projecto, pelo apoio<br />

incondicional, ao longo de to<strong>do</strong>s estes anos e pelo<br />

incentivo à edição dest<strong>as</strong> Act<strong>as</strong>;<br />

» A to<strong>do</strong>s os colabora<strong>do</strong>res, que se aliaram a este<br />

Projecto, ao participarem nos trabalhos arqueológicos<br />

de valorização, efectua<strong>do</strong>s na “Calçadinha” de<br />

São Brás de Alportel, entre 2002 e 2005: Alexander<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 5


Chilik; Adriana Afonso de Oliveira Pinto e Barata<br />

Marques; Bruno Miguel Lopes Graça; Christophe<br />

Horta Guerreiro; Cláudia Cristina Ramos Barros;<br />

Cristina Isabel Soares Tomé; Dinis Ribeiro Sancho<br />

Cruz; Filipa Alexandra Oliveira <strong>da</strong> Conceição; Filipe<br />

José Neves Martins; Hélio Mendes Graça Correia;<br />

James Carrusca McCowan; J<strong>as</strong>on Gago; Joana<br />

Barata Marques Silva Chaves; Joana Filipa <strong>da</strong> Conceição<br />

Carrusca; João Filipe Ramos Sancho; João<br />

Miguel Vieg<strong>as</strong> Gonçalves; Mag<strong>da</strong> <strong>da</strong> Cruz Barrote;<br />

Tino Reil e Vânia Cristina Rosa Martins;<br />

» Ao Paulo Sérgio G. Pires, pela amável colaboração<br />

presta<strong>da</strong> a este Projecto; muito em especial por<br />

haver cedi<strong>do</strong> ao futuro Centro diversos materiais<br />

arqueológicos e faculta<strong>do</strong> informações vári<strong>as</strong>, recolhid<strong>as</strong><br />

n<strong>as</strong> su<strong>as</strong> pesquis<strong>as</strong>, <strong>as</strong> quais permitiram<br />

enriquecer o conhecimento histórico-arqueológico<br />

<strong>do</strong> p<strong>as</strong>sa<strong>do</strong> de São Brás de Alportel;<br />

» Ao Director <strong>do</strong> Museu <strong>do</strong> Trajo de S. Brás de Alportel,<br />

Emanuel Andrade C. Sancho, ao Filipe Palma, ao José<br />

Pessoa (Instituto Português de Museus) e à Susana<br />

Estrela, pela amável disponibili<strong>da</strong>de, na cedência de<br />

<br />

<strong>as</strong> vári<strong>as</strong> publicações editad<strong>as</strong> ao longo <strong>do</strong> Projecto;<br />

» À Lígia Rafael (Campo Arqueológico de Mértola),<br />

pela gentil colaboração no tratamento <strong>da</strong> placa-<br />

-amuleto de época islâmica, importante elemento<br />

<strong>do</strong> património de São Brás de Alportel, e pela<br />

<br />

» À Maria Eugénia Narra, pela importante colaboração<br />

na tradução <strong>do</strong>s textos d<strong>as</strong> plac<strong>as</strong> informativ<strong>as</strong>,<br />

colocad<strong>as</strong> no início <strong>do</strong> troço A e ao longo <strong>do</strong><br />

troço B <strong>da</strong> “Calçadinha” de São Brás de Alportel;<br />

» À Angelina Lima e à Susana Valério, pelo incansável<br />

apoio, pela perseverança e pelo exemplar<br />

<br />

d<strong>as</strong> presentes Act<strong>as</strong>;<br />

» A to<strong>do</strong>s os coleg<strong>as</strong> e amigos <strong>da</strong> Câmara Municipal<br />

de São Brás de Alportel, pelo apoio, compreensão<br />

e incentivo, no desenvolvimento deste Projecto;<br />

muito especialmente à Fátima Guerreiro e ao Nelson<br />

Assunção, pel<strong>as</strong> inúmer<strong>as</strong> hor<strong>as</strong> dispendid<strong>as</strong> no<br />

tratamento de imagens e na concepção de material<br />

informativo e de divulgação, e à Marlene Guerreiro,<br />

pela árdua tarefa de rever os vários textos elabora<strong>do</strong>s<br />

ao longo <strong>do</strong> Projecto;<br />

» A to<strong>do</strong>s os investiga<strong>do</strong>res, que participaram<br />

como ora<strong>do</strong>res nest<strong>as</strong> I Jornad<strong>as</strong> sobre “As Vi<strong>as</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> – <strong>da</strong> época romana à actuali<strong>da</strong>de”:<br />

João Pedro Bernardes, Sandra Rodrigues, Francisco<br />

Gómez Toscano, Ab<strong>da</strong>llah Khawli, Alice Fernandes,<br />

Luís Fraga <strong>da</strong> Silva, Luís Filipe Oliveira, Manuel Maia,<br />

Virgílio Lopes, José d’Encarnação; Fernan<strong>do</strong> Di<strong>as</strong> e<br />

Manuela Teixeira (Câmara Municipal de Alcoutim);<br />

Bruno Silva, Susana Borges e José António Pereira<br />

(Novarqueologia) e Maria José Gonçalves (Câmara<br />

Municipal de Silves); cujo contributo foi fun<strong>da</strong>mental<br />

para o enriquecimento desta iniciativa;<br />

» O trabalho de investigação realiza<strong>do</strong> sobre a<br />

“Calçadinha” de São Brás de Alportel tem si<strong>do</strong>, de certa<br />

forma, um trabalho colectivo, no qual muitos autores<br />

têm participa<strong>do</strong>, aos quais desejamos aqui agradecer,<br />

muito em particular ao João Pedro Bernardes, ao Luís<br />

Filipe Oliveira, ao Ab<strong>da</strong>llah Khawli, à Sandra Rodrigues e<br />

ao Luís Fraga <strong>da</strong> Silva, pela imprescindível contribuição,<br />

para a investigação desenvolvi<strong>da</strong> e para a edição de<br />

publicações e material informativo;<br />

» Antes de concluir, não poderia deixar de agradecer,<br />

muito em especial, e com eleva<strong>da</strong> consideração aos<br />

Ex.mos Srs. Presidente <strong>da</strong> Câmara Municipal de São<br />

Brás de Alportel, Eng.º António Eusébio, e Vice-<br />

-Presidente, com funções n<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> <strong>do</strong> Património,<br />

<strong>da</strong> Cultura e Ciência, Vitor Guerreiro, por to<strong>do</strong><br />

o empenho, na preservação e valorização <strong>do</strong><br />

Património <strong>do</strong> concelho; pela aposta neste Projecto<br />

de Valorização <strong>da</strong> Calçadinha e por to<strong>do</strong> o apoio<br />

<br />

de concretização <strong>do</strong> Projecto, vital para ultrap<strong>as</strong>sar<br />

<br />

concretização <strong>do</strong>s trabalhos arqueológicos e sua<br />

subsequente investigação.<br />

Esperamos <strong>as</strong>sim que os resulta<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s<br />

esteja em conformi<strong>da</strong>de com <strong>as</strong> expectativ<strong>as</strong><br />

criad<strong>as</strong> com o Projecto <strong>do</strong> Centro Explicativo e<br />

de Acolhimento <strong>da</strong> “Calçadinha” de São Brás de<br />

Alportel e que esta seja uma contribuição váli<strong>da</strong><br />

<br />

A to<strong>do</strong>s, os meus sinceros agradecimentos.<br />

Angelina Pereira<br />

6<br />

AS VIAS DO ALGARVE


nota introdutória<br />

Os textos que ora se publicam neste volume<br />

correspondem às intervenções apresentad<strong>as</strong>,<br />

pelos vários investiga<strong>do</strong>res, n<strong>as</strong> I Jornad<strong>as</strong> “As<br />

Vi<strong>as</strong> <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> – <strong>da</strong> época romana à actuali<strong>da</strong>de”,<br />

realizad<strong>as</strong> nos di<strong>as</strong> 21 e 22 de Abril de 2006, no<br />

Cine-Teatro São Brás, por oc<strong>as</strong>ião <strong>do</strong> Dia Mundial<br />

<strong>do</strong> Património (18 de Abril).<br />

Esta iniciativa, promovi<strong>da</strong> pelo Município de São Brás<br />

de Alportel, surgiu no âmbito <strong>do</strong> desenvolvimento<br />

<strong>do</strong> Projecto <strong>do</strong> Centro Explicativo e de Acolhimento<br />

<strong>da</strong> “Calçadinha de São Brás de Alportel.<br />

A realização dest<strong>as</strong> I Jornad<strong>as</strong> teve como principal<br />

objectivo a criação de um espaço de debate sobre <strong>as</strong><br />

vi<strong>as</strong> de comunicação, sua evolução e importância,<br />

ao longo <strong>do</strong>s tempos; através <strong>do</strong> confronto de idei<strong>as</strong><br />

e de abor<strong>da</strong>gens de investigação, enquadrad<strong>as</strong> pela<br />

apresentação de diferentes técnicos especialist<strong>as</strong><br />

nesta área, que estu<strong>da</strong>m <strong>as</strong> vi<strong>as</strong> de comunicação<br />

<strong>da</strong> região. A realização deste encontro constituiu-se<br />

como o primeiro evento desta natureza, realiza<strong>do</strong><br />

<br />

de tão importante lega<strong>do</strong> <strong>do</strong> património cultural,<br />

de eleva<strong>do</strong> interesse histórico e turístico.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, a Câmara Municipal de São Brás de<br />

Alportel tem vin<strong>do</strong> a <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong>de a uma política<br />

de incentivo ao turismo cultural, perspectiva<strong>da</strong> na<br />

gestão, valorização e divulgação <strong>do</strong> património<br />

<strong>do</strong> concelho, com especial enfoque no património<br />

arqueológico.<br />

seu manto de terr<strong>as</strong> que a cobriam, pacientemente<br />

retirad<strong>as</strong>, em morosos trabalhos de limpeza e de<br />

valorização, revela uma história bem mais alarga<strong>da</strong><br />

no tempo.<br />

A memória <strong>do</strong>s nossos antep<strong>as</strong>sa<strong>do</strong>s (romanos<br />

e islâmicos), tem vin<strong>do</strong> a desven<strong>da</strong>r-se pouco a<br />

pouco, fruto <strong>do</strong> empenha<strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong> Gabinete<br />

de Arqueologia <strong>da</strong> Câmara Municipal de São Brás<br />

de Alportel, ao qual se deve a coordenação e<br />

a direcção <strong>do</strong>s trabalhos arqueológicos de<br />

valorização deste arqueo-sítio – a “Calçadinha” – e<br />

<br />

suporte e acompanhamento, que permitirão, num<br />

futuro próximo, a musealização de um conjunto<br />

de valiosos vestígios arqueológicos, a colocar de<br />

novo, à luz <strong>do</strong> dia, no futuro Centro Explicativo<br />

e de Acolhimento <strong>da</strong> Calçadinha de São Brás de<br />

Alportel.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, a Câmara Municipal de São Brás<br />

de Alportel congratula-se por ter viabiliza<strong>do</strong> a<br />

apresentação pública d<strong>as</strong> I Jornad<strong>as</strong> sobre “As<br />

Vi<strong>as</strong> <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> – <strong>da</strong> época romana à actuali<strong>da</strong>de”<br />

e a concretização dest<strong>as</strong> Act<strong>as</strong>.<br />

Angelina Pereira<br />

Técnica Superior de Arqueologia<br />

Desta forma, foram criad<strong>as</strong> <strong>as</strong> necessári<strong>as</strong><br />

condições de trabalho, cujo labor resultou já num<br />

<strong>as</strong>sinalável leque de resulta<strong>do</strong>s, cuja valia tem<br />

si<strong>do</strong> devi<strong>da</strong>mente reconheci<strong>da</strong> e <strong>as</strong>sinala<strong>da</strong>. São<br />

disso exemplos iniciativ<strong>as</strong> como “O Dia Mundial <strong>do</strong><br />

Património”, “As Jornad<strong>as</strong> Europei<strong>as</strong> <strong>do</strong> Património”,<br />

“O Atelier de Arqueologia”, entre outr<strong>as</strong> activi<strong>da</strong>des<br />

de divulgação.<br />

A “calçadinha” São Brás de Alportel foi referencia<strong>da</strong><br />

pela primeira vez numa obra de arqueologia<br />

romana <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>, por Maria Luísa E. <strong>da</strong> Veiga <strong>do</strong>s<br />

Santos (1971-1972). Hoje, depois de liberta<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 7


apresentação<br />

As vi<strong>as</strong> de comunicação constituem elementos<br />

fun<strong>da</strong>mentais, no percurso de desenvolvimento<br />

d<strong>as</strong> civilizações, são pontes entre cultur<strong>as</strong>, rios<br />

em constante movimento de pesso<strong>as</strong>, gerações,<br />

idei<strong>as</strong> e saberes. A história <strong>do</strong>s caminhos é pois a<br />

história <strong>do</strong>s povos, História viva, esculpi<strong>da</strong> pel<strong>as</strong><br />

civilizações que se sucederam no tempo.<br />

Acolher em São Brás de Alportel, a 1ª edição d<strong>as</strong><br />

Jornad<strong>as</strong> “As Vi<strong>as</strong> <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> – <strong>da</strong> época romana<br />

<br />

vi<strong>as</strong> de comunicação, realiza<strong>do</strong> na região, dedica<strong>do</strong><br />

<br />

lega<strong>do</strong> cultural, constituiu um momento de enorme<br />

<br />

sua história nos caminhos que a atravessam.<br />

As vi<strong>as</strong> desempenham um papel de importância fulcral<br />

em São Brás de Alportel, sobre el<strong>as</strong> se escreveu muito<br />

<strong>da</strong> nossa história, e sobre el<strong>as</strong> continuamos hoje a<br />

escrever o futuro, por novos caminhos, de que agora<br />

resultam est<strong>as</strong> Act<strong>as</strong>.<br />

Falar sobre <strong>as</strong> Vi<strong>as</strong> <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>, desde a longínqua<br />

presença romana até aos alvores <strong>do</strong> séc. XXI, por<br />

onde já vamos caminhan<strong>do</strong>, foi e será sempre um<br />

convite f<strong>as</strong>cinante a um p<strong>as</strong>seio de séculos, que nos<br />

transporta por tempos imemoriais, calcorrea<strong>do</strong>s<br />

pelos nossos antep<strong>as</strong>sa<strong>do</strong>s.<br />

Nest<strong>as</strong> terr<strong>as</strong> <strong>do</strong> Sul, <strong>as</strong> redes viári<strong>as</strong> milenári<strong>as</strong><br />

<strong>as</strong>sistiram, desde tempos imemoriais, a um constante<br />

movimento de sobreposição, que deixou n<strong>as</strong><br />

margens <strong>da</strong> evolução alguns vestígios sobreviventes<br />

<strong>do</strong> seu uso mais antigo. Vestígios que contribuem,<br />

de forma decisiva, para o conhecimento <strong>do</strong> decurso<br />

<strong>da</strong> história.<br />

Em 2002, ao prefaciar o livro de João Pedro Bernardes<br />

e Luís Filipe Oliveira “A Calçadinha de São Brás de<br />

Alportel e Antiga Rede Viária <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> Central”,<br />

deixava expresso o desejo de que a “Calçadinha de<br />

São Brás de Alportel” nos lev<strong>as</strong>se a novos caminhos<br />

de valorização <strong>do</strong> património e nos abrisse a porta<br />

ao estu<strong>do</strong> d<strong>as</strong> raízes de São Brás de Alportel.<br />

Desde então, um longo caminho tem si<strong>do</strong> percorri<strong>do</strong>,<br />

em prol <strong>do</strong> conhecimento e <strong>da</strong> valorização <strong>do</strong><br />

património <strong>do</strong> concelho, num trabalho longo<br />

e meticuloso, coordena<strong>do</strong> pelo Gabinete de<br />

Arqueologia <strong>da</strong> Câmara Municipal.<br />

O ambicioso projecto de valorização <strong>do</strong> património


– para a criação <strong>do</strong> Centro Explicativo e de<br />

Acolhimento <strong>da</strong> “Calçadinha de S. Brás de Alportel”,<br />

que esperamos ser em breve uma reali<strong>da</strong>de,<br />

começa a <strong>da</strong>r os seus frutos. Hoje encontram-se<br />

a descoberto cerca de 700 m desta antiga via,<br />

em 2 bonitos troços; e estamos mais certos <strong>da</strong><br />

origem deste ver<strong>da</strong>deiro tesouro arqueológico <strong>do</strong><br />

concelho, que diversos <strong>as</strong>pectos visíveis apontam<br />

para uma cronologia de época romana.<br />

A Calçadinha constitui o centro desta política<br />

de valorização <strong>do</strong> património, que se <strong>as</strong>sume<br />

prioritária na acção <strong>do</strong> município, num equilíbrio<br />

que se pretende constante entre o progresso e a<br />

preservação <strong>do</strong> p<strong>as</strong>sa<strong>do</strong>.<br />

<br />

<strong>da</strong> vila; a recuperação <strong>do</strong>s velhos caminhos; a<br />

valorização <strong>do</strong>s poços e d<strong>as</strong> fontes, que dão voz<br />

eterna à palavra <strong>do</strong>s poet<strong>as</strong>; a recuperação <strong>do</strong>s<br />

Moinhos, que voltam a girar para contar como<br />

outrora se moía o trigo, para fazer o pão de ca<strong>da</strong><br />

dia; constituem vectores deste trabalho, que<br />

procura defender a identi<strong>da</strong>de cultural de São Brás<br />

de Alportel e promover o desenvolvimento de um<br />

turismo diferente. Com história, tradição, natureza,<br />

<strong>as</strong>sente na defesa <strong>da</strong> nossa Identi<strong>da</strong>de Cultural.<br />

Fruto <strong>do</strong> trabalho <strong>da</strong> Câmara Municipal, ao que se<br />

junta uma intervenção activa de uma comuni<strong>da</strong>de<br />

ca<strong>da</strong> vez mais participativa e atenta à importância<br />

destes valores, hoje São Brás de Alportel é, sem<br />

dúvi<strong>da</strong> um município mais rico, porque conhece<br />

melhor a sua história. E é neste terreno fértil de<br />

cultura e conhecimento, que certamente queremos<br />

colher um futuro melhor.<br />

Em nome <strong>do</strong> Município de São Brás de Alportel,<br />

quero deixar expresso o meu agradecimento a<br />

to<strong>do</strong>s os participantes nest<strong>as</strong> I Jornad<strong>as</strong> “As Vi<strong>as</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Algarve</strong>”, muito especialmente a to<strong>do</strong>s os ora<strong>do</strong>res,<br />

pela amabili<strong>da</strong>de que tiveram em aceitar o nosso<br />

convite para partilhar <strong>do</strong> seu saber e experiência.<br />

Quero ain<strong>da</strong> agradecer à Comissão de Coordenação<br />

e Desenvolvimento Regional <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>, por to<strong>do</strong><br />

o apoio que tem si<strong>do</strong> presta<strong>do</strong> a este projecto de<br />

valorização <strong>da</strong> “Calçadinha de São Brás de Alportel”,<br />

à Extensão de Silves <strong>da</strong> Delegação Regional <strong>do</strong><br />

Instituto Português de Arqueologia, pelo empenho,<br />

no conhecimento desta via e às demais enti<strong>da</strong>des,<br />

<strong>as</strong>sociações e particulares, que têm colabora<strong>do</strong><br />

com este projecto.<br />

Por último, não posso deixar de expressar o meu<br />

reconhecimento à Dr.ª Angelina Pereira, que tem<br />

si<strong>do</strong> responsável pela coordenação <strong>do</strong> Gabinete de<br />

Arqueologia <strong>da</strong> Autarquia <strong>da</strong> Câmara Municipal, por<br />

to<strong>do</strong> o seu trabalho e dedicação a este projecto e por<br />

to<strong>da</strong> sua luta na defesa <strong>do</strong> património <strong>do</strong> concelho.<br />

O P<strong>as</strong>sa<strong>do</strong> é uma Herança Comum que<br />

partilhamos e que apen<strong>as</strong> Juntos poderemos<br />

defender e legar ao Futuro.<br />

O Presidente <strong>da</strong> Câmara Municipal de São Brás de Alportel<br />

António Paulo Jacinto Eusébio<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 9


mensagem<br />

Conhecer a história <strong>do</strong>s caminhos, para entender os<br />

<br />

lançar no Dia Mundial <strong>do</strong> Património 2006, ao<br />

realizar em São Brás de Alportel, a primeira edição<br />

d<strong>as</strong> Jornad<strong>as</strong> “As Vi<strong>as</strong> <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> – <strong>da</strong> época<br />

romana à actuali<strong>da</strong>de”. Um evento pioneiro, a Sul<br />

<strong>do</strong> Pais, dedica<strong>do</strong> a uma d<strong>as</strong> mais f<strong>as</strong>cinantes<br />

fontes de investigação histórica, que nos conduzem<br />

na descoberta <strong>do</strong> p<strong>as</strong>sa<strong>do</strong>.<br />

Este momento importante, para a região e para o<br />

município, no estu<strong>do</strong> d<strong>as</strong> Vi<strong>as</strong> <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>, marcou<br />

também um ponto de chega<strong>da</strong> (ou talvez uma<br />

estação de mu<strong>da</strong>, ao uso romano), num longo<br />

caminho vimos percorren<strong>do</strong>, de investigação e<br />

valorização <strong>da</strong> antiga via que constitui o núcleo<br />

de to<strong>do</strong> o trabalho de defesa <strong>do</strong> Património <strong>do</strong><br />

concelho – a “Calçadinha” de São Brás de Alportel.<br />

A existência de um conjunto importante de acha<strong>do</strong>s<br />

arqueológicos no concelho tornaram possível<br />

estu<strong>da</strong>r e conhecer melhor o perío<strong>do</strong> romano em<br />

São Brás de Alportel, um valioso lega<strong>do</strong> <strong>do</strong> p<strong>as</strong>sa<strong>do</strong><br />

que nos conduz ao conhecimento d<strong>as</strong> raízes <strong>da</strong><br />

nossa terra.<br />

Actualmente, encontra-se percorri<strong>da</strong> uma importante<br />

etapa <strong>do</strong> Projecto <strong>do</strong> Centro Explicativo e<br />

de Acolhimento <strong>da</strong> “Calçadinha” de S. Brás de<br />

Alportel, que nos conduziu já a novos resulta<strong>do</strong>s<br />

<br />

viária antiga <strong>do</strong> concelho, onde os caminhos são<br />

elementos fun<strong>da</strong>mentais, no decurso <strong>da</strong> História.<br />

A concretização deste projecto implicou a sua<br />

divisão em 2 f<strong>as</strong>es distint<strong>as</strong>: numa 1ª f<strong>as</strong>e, já<br />

concluí<strong>da</strong>, realizaram-se essencialmente trabalhos<br />

arqueológicos e de investigação <strong>do</strong> património<br />

arqueológico. Prossegue neste momento uma 2ª<br />

f<strong>as</strong>e, que inclui a implementação <strong>do</strong> novo Centro<br />

Explicativo e de Acolhimento <strong>da</strong> “Calçadinha”,<br />

espaço de reencontro com a história local, que será<br />

o culminar de to<strong>do</strong> este projecto e que constitui<br />

uma importante aposta na promoção <strong>do</strong> turismo<br />

cultural <strong>do</strong> concelho.<br />

Preservar a memória histórica d<strong>as</strong> populações, que<br />

ao longo <strong>do</strong>s séculos habitaram este território,<br />

compreender a importância de São Brás de Alportel<br />

no contexto <strong>da</strong> região e <strong>do</strong> país e potenciar o<br />

desenvolvimento de um turismo cultural no concelho<br />

são os principais objectivos deste projecto. O futuro<br />

centro será o ponto de parti<strong>da</strong> para <strong>as</strong> visit<strong>as</strong><br />

à “Calçadinha” e concentrará um conjunto de<br />

informações sobre o património <strong>do</strong> concelho.<br />

Esperamos <strong>as</strong>sim que, n<strong>as</strong> próxim<strong>as</strong> Jornad<strong>as</strong>,<br />

ten<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong> a última etapa, tão deseja<strong>da</strong>, deste<br />

projecto, possamos marcar encontro no Centro<br />

Explicativo e de Acolhimento <strong>da</strong> Calçadinha.<br />

O Vice-Presidente <strong>da</strong> Câmara Municipal,<br />

Com funções de gestão n<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> <strong>da</strong> cultura e <strong>do</strong> património<br />

Vítor Manuel Martins Guerreiro<br />

10 AS VIAS DO ALGARVE


mensagem de abertura<br />

Antes de mais, gostaria de agradecer o convite<br />

<strong>da</strong> câmara municipal de São Brás de Alportel<br />

endereça<strong>do</strong> ao Instituto Português de Arqueologia<br />

a estar presente nest<strong>as</strong> Jornad<strong>as</strong> sobre <strong>as</strong> Vi<strong>as</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Algarve</strong> – <strong>da</strong> época romana à actuali<strong>da</strong>de.<br />

Agradecimentos extensíveis à CCDR <strong>Algarve</strong> pelo<br />

apoio <strong>da</strong><strong>do</strong> aos primeiros p<strong>as</strong>sos, <strong>do</strong> que se espera<br />

ser uma longa caminha<strong>da</strong>, para a consoli<strong>da</strong>ção<br />

<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, conhecimento e valorização d<strong>as</strong> Vi<strong>as</strong> e<br />

Pontes <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>.<br />

As vi<strong>as</strong> e <strong>as</strong> pontes devem ain<strong>da</strong> ser entendid<strong>as</strong><br />

nos di<strong>as</strong> de hoje com a mesma funcionali<strong>da</strong>de de<br />

outrora, ou seja, serem elementos estruturantes<br />

na união e proximi<strong>da</strong>de de uma região e seus<br />

habitantes, m<strong>as</strong> agora numa óptica destina<strong>da</strong><br />

à criação de roteiros e à consoli<strong>da</strong>ção de uma<br />

rede regional <strong>do</strong> património cultural histórico e<br />

arqueológico valoriza<strong>do</strong>. Saliente-se que este elo<br />

de união regional também só fará senti<strong>do</strong> ser<br />

for implementa<strong>do</strong> de forma continua<strong>da</strong>, ou seja<br />

pensa<strong>do</strong> em parceria com o Baixo Alentejo e a<br />

An<strong>da</strong>luzia.<br />

Numa semana triste para a arqueologia gostaríamos<br />

de aqui deixar um profun<strong>do</strong> pesar pelo falecimento<br />

<strong>da</strong> Prof. Teresa Gamito. Recor<strong>da</strong>mos que além<br />

de ter si<strong>do</strong> fun<strong>da</strong>mental no desenvolvimento <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>, sobretu<strong>do</strong> na criação<br />

de condições para a existência de investigação<br />

e formação sobre o património cultural histórico-<br />

-arqueológico algarvio, foi percursora nalguns<br />

<strong>as</strong>pectos <strong>da</strong> gestão <strong>do</strong> ordenamento <strong>do</strong> território<br />

<strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>. Destaque-se que na déca<strong>da</strong> de<br />

80 realizou uma caracterização de elementos<br />

patrimoniais para o Plano de Urbanização <strong>da</strong> Vila<br />

de São Brás de Alportel onde referia a Calçadinha.<br />

<br />

apresentava para este sítio está a ser implementa<strong>do</strong>:<br />

a necessi<strong>da</strong>de desta ser devi<strong>da</strong>mente estu<strong>da</strong><strong>da</strong> e<br />

valoriza<strong>da</strong>, a sua integração no desenvolvimento<br />

urbano, o seu evidente interesse didáctico para a<br />

<br />

Ten<strong>do</strong> em consideração que a salvaguar<strong>da</strong><br />

de qualquer sítio arqueológico deve ser uma<br />

priori<strong>da</strong>de d<strong>as</strong> instituições centrais e regionais<br />

devi<strong>do</strong> à sua natureza irrepetível, congratulamos<br />

a autarquia pela realização deste evento, não só<br />

ten<strong>do</strong> em consideração que est<strong>as</strong> Jornad<strong>as</strong> se<br />

encontram integrad<strong>as</strong> num projecto de valorização<br />

<strong>do</strong> património cultural arqueológico, como também<br />

pela inserção <strong>da</strong> “Calçadinha”numa lógica mais<br />

ampla que promove to<strong>do</strong> o património arqueológico<br />

concelhio.<br />

<br />

integração <strong>do</strong> património cultural arqueológico<br />

num desenvolvimento sustenta<strong>do</strong> <strong>da</strong> vila e <strong>do</strong><br />

concelho: não só como um elemento de um turismo<br />

complementar, m<strong>as</strong> também como estímulo<br />

na criação de um elo de identi<strong>da</strong>de entre os<br />

Sambr<strong>as</strong>enses e o seu Património através <strong>da</strong> sua<br />

valorização, conhecimento, divulgação e usufruto.<br />

É <strong>as</strong>sim com naturali<strong>da</strong>de que os resulta<strong>do</strong>s deste<br />

Projecto integrem a planea<strong>da</strong> Rede de Património<br />

<strong>do</strong> futuro PROTAL numa lógica cooperante entre<br />

centros de interpretação de sítios arqueológicos,<br />

roteiros temáticos, museus complementares e<br />

centros históricos.<br />

Deseja-se que a “Calçadinha” continue a conseguir<br />

<strong>as</strong>sociar <strong>as</strong>pectos liga<strong>do</strong>s ao Património e ao<br />

Ambiente bem como mantenha a sua funcionali<strong>da</strong>de<br />

diacrónica de aproximar cert<strong>as</strong> reali<strong>da</strong>des: entre<br />

outr<strong>as</strong> cois<strong>as</strong>, ser uma via de ligação entre o<br />

interior e o litoral como espaço lúdico familiar,<br />

como lugar de interpretação ambiental e como sítio<br />

de promoção patrimonial.<br />

<br />

to<strong>do</strong>s um bom trabalho.”<br />

Discurso proferi<strong>do</strong> na apresentação d<strong>as</strong> I Jornad<strong>as</strong> “As Vi<strong>as</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Algarve</strong> – <strong>da</strong> época romana à actuali<strong>da</strong>de”, pelo Técnico <strong>da</strong><br />

Extensão de Silves <strong>do</strong> Instituto Português de Arqueologia, em<br />

representação <strong>da</strong> sua Direcção.<br />

Pedro Barros<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 11


<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 13


.I<br />

EXISTEM PONTES ROMANAS NO ALGARVE<br />

JOÃO PEDRO BERNARDES<br />

Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong><br />

Aresumo<br />

A atribuição aos Romanos de antig<strong>as</strong> infra-<br />

-estrutur<strong>as</strong> viári<strong>as</strong>, como pontes ou calçad<strong>as</strong>, é<br />

<strong>as</strong>saz frequente na tradição popular europeia e parte<br />

integrante <strong>do</strong> imaginário e <strong>da</strong> memória colectiva.<br />

Se é certo que a construção romana era, em regra,<br />

sóli<strong>da</strong> e robusta, os mitos que se criaram em seu<br />

torno, sobretu<strong>do</strong> durante o perío<strong>do</strong> ren<strong>as</strong>centista e<br />

neo-clássico, exageraram a durabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s eixos<br />

viários <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong>de, que se <strong>as</strong>sumiam, <strong>as</strong>sim,<br />

como obra humana resistente e inabalável ao<br />

p<strong>as</strong>sar <strong>do</strong>s tempos. A construção de vi<strong>as</strong>, pontes e<br />

outr<strong>as</strong> estrutur<strong>as</strong> viári<strong>as</strong> roman<strong>as</strong> são, porém, bem<br />

human<strong>as</strong> e, como tal, a esmaga<strong>do</strong>ra maioria não<br />

resistiu ao peso de <strong>do</strong>is milénios, às vicissitudes <strong>da</strong><br />

história ou aos caprichos <strong>da</strong> natureza. A insistência<br />

em atribuir ao p<strong>as</strong>sa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s primeiros quatro<br />

séculos <strong>da</strong> nossa Era tais estrutur<strong>as</strong>, acabam por<br />

ofuscar o mérito e engenho <strong>do</strong>s construtores <strong>do</strong>s<br />

quinze ou dez<strong>as</strong>seis séculos seguintes. De forma<br />

breve e concisa, e enquanto se procura responder<br />

à questão em epígrafe, abor<strong>da</strong>m-se alguns desses<br />

ícones de obr<strong>as</strong> de arte viári<strong>as</strong> antig<strong>as</strong>, como <strong>as</strong><br />

“pontes roman<strong>as</strong>” de Tavira, Silves ou Aljezur, que<br />

<br />

<br />

mais ou menos especializa<strong>da</strong> têm considera<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> época romana muit<strong>as</strong> d<strong>as</strong> pontes históric<strong>as</strong><br />

<strong>da</strong> região algarvia 1 . Esta atribuição cronológica<br />

às pontes históric<strong>as</strong> é, aliás, recorrente no país<br />

e mesmo no estrangeiro, decorren<strong>do</strong> <strong>da</strong> fama de<br />

grandes construtores de estrutur<strong>as</strong> viári<strong>as</strong> com que<br />

<br />

sem que, qu<strong>as</strong>e nunca, se discutam os fun<strong>da</strong>mentos<br />

<strong>da</strong> atribuição de tal origem. Se é certo que a<br />

robustez e elegância de muit<strong>as</strong> obr<strong>as</strong> de arte viári<strong>as</strong><br />

<br />

epítote de grandes construtores com que o povo<br />

<br />

construção de tais obr<strong>as</strong> eram car<strong>as</strong> e degradáveis,<br />

razão pela qual estes monumentos milenares são<br />

muito mais raros <strong>do</strong> que uma primeira análise<br />

pode fazer crer 2 . Com efeito, não se construíram<br />

tant<strong>as</strong> pontes em pedra na época romana como a<br />

<br />

a p<strong>as</strong>sagem d<strong>as</strong> linh<strong>as</strong> de água feit<strong>as</strong> em pontes<br />

de madeira, barc<strong>as</strong> ou jangad<strong>as</strong> que não deixaram<br />

vestígios ou, simplesmente, a vau 3 . Recorde-se que<br />

<strong>as</strong> pontes de alvenaria eram tão car<strong>as</strong> e complex<strong>as</strong><br />

que era frequente reunir o contributo de vários<br />

povos ou grupos étnicos de determina<strong>da</strong> região<br />

para se fazerem tais obr<strong>as</strong>, como aconteceu,<br />

<br />

Alcântara (Valência de Alcântara, Espanha) 4 ou de<br />

Aquae Flaviae (Chaves) que contou com o esforço<br />

1<br />

Entre <strong>as</strong> muit<strong>as</strong> obr<strong>as</strong> que abor<strong>da</strong>ram, ain<strong>da</strong> que de forma lacónica, o tema, veja-se, a título meramente exemplificativo, Santos, 1971/1972 e Marques, 1992.<br />

2<br />

M. Durán Fuentes (2004), analisan<strong>do</strong> com critérios bem defini<strong>do</strong>s o panorama geral d<strong>as</strong> pontes <strong>da</strong> Península Ibérica atribuíd<strong>as</strong> à época romana, conclui que<br />

apen<strong>as</strong> 35 del<strong>as</strong> poderão ser cl<strong>as</strong>sificad<strong>as</strong> como roman<strong>as</strong>. Ain<strong>da</strong> que se possa considerar que este número peca por defeito, não deixa de ser eluci<strong>da</strong>tivo<br />

quanto ao exageradíssimo número de pontes atribuíd<strong>as</strong> à época clássica cuja cl<strong>as</strong>sificação cronológica não resiste a uma análise séria e rigorosa.<br />

3<br />

As pontes de madeira ou de barc<strong>as</strong>, com carácter provisório ou permanente, eram frequentes mesmo sobre os grandes rios europeus como o Reno, Danúbio<br />

ou Tamisa (O’Connor, 1995). As pontes em alvenaria resumiam-se praticamente aos grandes eixos viários ou de importância estratégica para determinad<strong>as</strong><br />

regiões, sen<strong>do</strong> boa parte d<strong>as</strong> vezes a sua construção patrocina<strong>da</strong> pelos governos central ou provinciais, em virtude <strong>do</strong>s eleva<strong>do</strong>s custos e complexi<strong>da</strong>de.<br />

4<br />

Dos muitos estu<strong>do</strong>s em torno <strong>da</strong> ponte de Alcântara veja-se, por exemplo, Jorge de Alarcão, 2005.<br />

14 AS VIAS DO ALGARVE


de dez civitates para além <strong>da</strong> legião VII Gemina 5 .<br />

Por outro la<strong>do</strong>, boa parte d<strong>as</strong> pontes roman<strong>as</strong> foram<br />

sucessivamente remodelad<strong>as</strong> ou reconstruíd<strong>as</strong> ao<br />

longo <strong>do</strong>s tempos, o que leva a que hoje em dia<br />

muit<strong>as</strong> del<strong>as</strong> não apresentem característic<strong>as</strong> que<br />

permitam atribuir-lhes uma origem romana. Além<br />

<strong>do</strong> mais, construíram-se pontes ao longo de tod<strong>as</strong><br />

<strong>as</strong> époc<strong>as</strong> e o facto de hoje se denominar como<br />

romana uma ponte, tal não pode ser toma<strong>do</strong> como<br />

um indica<strong>do</strong>r <strong>da</strong> sua origem cronológica m<strong>as</strong> tão<br />

só um referente a um monumento <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de carga<br />

simbólica relevante decorrente <strong>da</strong> sua importância<br />

histórica, independentemente <strong>da</strong> época em que foi<br />

construí<strong>do</strong> 6 <br />

roman<strong>as</strong> prende-se ain<strong>da</strong> com a continui<strong>da</strong>de d<strong>as</strong><br />

técnic<strong>as</strong> de construção ou o retomar de muitos<br />

ensinamentos <strong>do</strong>s arquitectos <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong>de,<br />

como os difundi<strong>do</strong>s pelos dez livros de Arquitectura<br />

de Vitrúvio. Se é certo que estes ensinamentos<br />

e cânones <strong>da</strong> técnica construtiva romana foram<br />

frequentemente segui<strong>do</strong>s pelos obreiros d<strong>as</strong><br />

<br />

local e regional aplicaram-se técnic<strong>as</strong> e materiais<br />

locais em construções a cargo de construtores<br />

mais ou menos especializa<strong>do</strong>s. Isto permite que<br />

a técnica construtiva que se aplicou em muit<strong>as</strong><br />

<br />

replicad<strong>as</strong> praticamente até ao século XIX, tornan<strong>do</strong><br />

<br />

est<strong>as</strong> obr<strong>as</strong> de característic<strong>as</strong> qu<strong>as</strong>e intemporais<br />

no quadro histórico <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is últimos milénios.<br />

Tu<strong>do</strong> isto tem leva<strong>do</strong> a uma confusão qu<strong>as</strong>e<br />

generaliza<strong>da</strong> <strong>do</strong> que é ou não ponte romana o<br />

<br />

<strong>da</strong> investigação peninsular neste campo, como,<br />

de resto, já tem si<strong>do</strong> sublinha<strong>do</strong> 7 . Assim, qualquer<br />

exercício de estu<strong>do</strong> d<strong>as</strong> pontes históric<strong>as</strong> tendente<br />

<br />

com uma análise atenta e rigorosa <strong>as</strong>sente em<br />

<br />

<br />

característic<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong>, formais e até estétic<strong>as</strong> e<br />

ain<strong>da</strong> por intervenções arqueológic<strong>as</strong> pontuais, por<br />

forma a cruzar um conjunto de informações de<br />

onde decorrerá a avaliação <strong>da</strong> época construtiva.<br />

Em rigor, não há, pois, um único critério que permita<br />

<br />

destes monumentos m<strong>as</strong> antes uma multiplici<strong>da</strong>de<br />

com vista a vislumbrar um conjunto de factores<br />

e característic<strong>as</strong> que concorrem cumulativamente<br />

para essa atribuição cronológica. Entre esses<br />

factores e característic<strong>as</strong> que se podem <strong>as</strong>sumir,<br />

a priori, como distintiv<strong>as</strong> d<strong>as</strong> pontes de fábrica<br />

romana poderemos apontar <strong>as</strong> seguintes:<br />

1) Integrar-se num percurso viário reconheci<strong>do</strong><br />

inequivocamente como romano.<br />

2) Grandes silhares, frequentemente almofa<strong>da</strong><strong>do</strong>s,<br />

bem esquadrilha<strong>do</strong>s e com junt<strong>as</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong>samente<br />

recortad<strong>as</strong> por forma a permitir um ajuste perfeito<br />

entre si. Mesmo em pontes construíd<strong>as</strong> em tijolo é<br />

frequente a b<strong>as</strong>e ser constituí<strong>da</strong> por esses grandes<br />

blocos de pedra.<br />

3) Buracos de forceps ou perfurações (normalmente<br />

triangulares) que permitiam o encaixe d<strong>as</strong><br />

extremi<strong>da</strong>des de grandes tesour<strong>as</strong> metálic<strong>as</strong> (ferrei<br />

) integrad<strong>as</strong> em sistem<strong>as</strong> de elevação que<br />

permitiam transportar e elevar os blocos.<br />

4) Ausência de marc<strong>as</strong> de canteiro, sobretu<strong>do</strong><br />

nos blocos <strong>da</strong> b<strong>as</strong>e, bem como de vestígios bem<br />

expressivos deixa<strong>do</strong>s pel<strong>as</strong> ferrament<strong>as</strong> de canteiro<br />

(a erosão de qu<strong>as</strong>e <strong>do</strong>is milénios apagou ou tende a<br />

apagar estes testemunhos <strong>do</strong> trabalho <strong>da</strong> pedra).<br />

5) Robustez e uniformi<strong>da</strong>de (de tamanhos e<br />

espessur<strong>as</strong>) de arcos e aduel<strong>as</strong>, que se repetem n<strong>as</strong><br />

pontes de grande extensão de forma bem ritma<strong>da</strong>.<br />

6) Arcos de volta perfeita que prolongam <strong>as</strong> linh<strong>as</strong> <strong>do</strong>s<br />

<br />

de poderem apresentaram frisos ou cornij<strong>as</strong>.<br />

7) Arcos de descarga para aliviar a pressão d<strong>as</strong><br />

águ<strong>as</strong> sobre os pegões e espaço inter-vãos, que<br />

conferem à ponte um efeito estético mais elegante.<br />

8) Pegões protegi<strong>do</strong>s com talhamares, que podem<br />

5<br />

Veja-se, por exemplo, Colmenero 1997.<br />

6<br />

Sobre o desenvolvimento desta reflexão veja-se Durán Fuentes, 2004 e Acero Pérez & Vázquez Paredes.<br />

7<br />

Veja-se a este propósito o artigo de Durán Fuentes (2003) que apresenta um conjunto de nove critérios que realçam singulari<strong>da</strong>des d<strong>as</strong> pontes roman<strong>as</strong><br />

na Hispania.<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 15


<strong>as</strong>sumir diferentes formatos (triangulares, re<strong>do</strong>n<strong>do</strong>s<br />

ou quadrangulares) constituí<strong>do</strong>s em grandes blocos.<br />

9) Presença de opus caementitium sobretu<strong>do</strong> no<br />

intra-<strong>do</strong>rso <strong>do</strong>s arcos.<br />

10) Cornija no arranque <strong>do</strong>s arcos ou na parte<br />

externa <strong>do</strong> tabuleiro como que a marcar o arranque<br />

d<strong>as</strong> guard<strong>as</strong> <strong>do</strong> mesmo.<br />

11) Tabuleiro espesso e, a maior parte d<strong>as</strong> vezes,<br />

rectilíneo e plano, conferin<strong>do</strong> ao monumento um<br />

<strong>as</strong>pecto geral de grande solidez e robustez.<br />

Claro que qualquer um destes critérios por si só<br />

não é indica<strong>do</strong>r de se estar em presença de uma<br />

construção <strong>da</strong> época romana, até porque qualquer<br />

um deles pode estar presente em obr<strong>as</strong> de outr<strong>as</strong><br />

époc<strong>as</strong>. Assim, só quan<strong>do</strong> se encontram reunid<strong>as</strong><br />

vári<strong>as</strong> dest<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> é que poderemos com<br />

legitimi<strong>da</strong>de suspeitar <strong>da</strong> sua origem romana. Mais<br />

uma vez lembramos que para além de algum<strong>as</strong><br />

prátic<strong>as</strong> construtiv<strong>as</strong> roman<strong>as</strong> terem si<strong>do</strong> utilizad<strong>as</strong><br />

em diferentes époc<strong>as</strong>, muitos monumentos dess<strong>as</strong><br />

mesm<strong>as</strong> époc<strong>as</strong> reutilizaram materiais romanos<br />

que podem ou não estar relacionad<strong>as</strong> com uma<br />

pré-existência no local onde se encontra a ponte<br />

histórica em análise.<br />

Face ao exposto compreende-se que muit<strong>as</strong> pontes<br />

históric<strong>as</strong> <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> considerad<strong>as</strong> tradicionalmente<br />

<br />

outr<strong>as</strong> époc<strong>as</strong> bem mais recentes 8 . Vejamos o c<strong>as</strong>o de<br />

três pontes históric<strong>as</strong> <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> que, sistematicamente,<br />

têm si<strong>do</strong> conotad<strong>as</strong> com a época romana.<br />

nomea<strong>da</strong>mente a famosa crónica <strong>da</strong> conquista <strong>do</strong><br />

<strong>Algarve</strong>, <strong>as</strong>segura-nos que em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIII<br />

a ponte já existiria. Em 1600, diz-se que na “ponte há<br />

c<strong>as</strong><strong>as</strong>, em que vivem mora<strong>do</strong>res” 10 . O monumento<br />

encontrava-se parcialmente destruí<strong>do</strong> pouco depois,<br />

provavelmente em consequência de mais alguma<br />

violenta cheia, de tal forma que, de acor<strong>do</strong> com uma<br />

inscrição que se encontra sobre o portal <strong>da</strong> fortaleza<br />

de Caban<strong>as</strong>, o então Governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> e conde<br />

Val de Reis “man<strong>do</strong>u fazer”, a par <strong>da</strong>quela Fortaleza, a<br />

ponte de Tavira, em 1656 11 . Ora, a expressão “man<strong>do</strong>u<br />

<br />

Na ponte actual é bem visível a parte que “man<strong>do</strong>u<br />

Figura 1<br />

A ponte de Tavira nos finais <strong>do</strong> Século XVII (Panorama. Jornal Literário<br />

e Instrutivo, 2ª série, vol. II, nº 80, Julho, 8, 1843).<br />

A ponte velha de Tavira é, de acor<strong>do</strong> com a tradição,<br />

obra romana. Porém, <strong>as</strong> su<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> formais e<br />

técnic<strong>as</strong>, os <strong>da</strong><strong>do</strong>s arqueológicos e a <strong>do</strong>cumentação<br />

histórica contradizem essa ideia. Obr<strong>as</strong> concluíd<strong>as</strong> em<br />

1992 9 com vista a reforçar a ponte, depois de uma<br />

grande cheia a ter seriamente debilita<strong>do</strong>, permitiram<br />

<br />

que aparece <strong>as</strong>socia<strong>do</strong> aos seus alicerces não vai<br />

além <strong>da</strong> época medieval. A <strong>do</strong>cumentação histórica,<br />

Figura 2<br />

A ponte de Tavira por volta de 1800 em desenho de Sande de V<strong>as</strong>concelos.<br />

8<br />

O equacionamento deste problema já foi feito por Sandra Rodrigues (2004), que p<strong>as</strong>sa em revista de forma crítica a cl<strong>as</strong>sificação cronológica de boa<br />

parte d<strong>as</strong> pontes algarvi<strong>as</strong> tradicionalmente identificad<strong>as</strong> com a época romana.<br />

9<br />

Sobre os trabalhos de reabilitação <strong>do</strong> monumento veja-se Appleton & Silva, 2002.<br />

10<br />

A informação é de Henrique Fernandes Sarrão na sua “História <strong>do</strong> reino <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>”.<br />

11<br />

O traço <strong>da</strong> obra esteve a cargo de Mateus <strong>do</strong> Couto e de Pedro de Santa Colomba (cf. Mant<strong>as</strong>, 1997, p.316).<br />

16 AS VIAS DO ALGARVE


fazer” e que corresponde aos quatro arcos <strong>do</strong> la<strong>do</strong><br />

poente com os respectivos talhamares encima<strong>do</strong>s<br />

por balcões tão ao gosto d<strong>as</strong> obr<strong>as</strong> <strong>do</strong> género <strong>do</strong>s<br />

séculos XVII e XVIII, como por exemplo acontece com<br />

a reconstrução <strong>da</strong> ponte velha de Silves nos inícios <strong>do</strong><br />

século XVIII. Os restantes três arcos, <strong>do</strong>s sete que a<br />

ponte tem, são inquestionavelmente mais antigos, m<strong>as</strong>,<br />

com to<strong>da</strong> a probabili<strong>da</strong>de, devem ser posteriores à tal<br />

ponte de mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIII de que fala a crónica<br />

<strong>da</strong> conquista <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>. A traça, a reduzi<strong>da</strong> erosão<br />

<strong>do</strong>s silhares, mesmo <strong>da</strong>queles que são fustiga<strong>do</strong>s<br />

pel<strong>as</strong> águ<strong>as</strong>, a largura <strong>do</strong> tabuleiro, são apen<strong>as</strong> alguns<br />

indícios que apontam para que esta parte <strong>da</strong> ponte,<br />

sen<strong>do</strong> mais antiga <strong>do</strong> que os mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVII,<br />

deverá ser posterior aos mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> XIII.<br />

Figura 3<br />

A ponte de Silves nos finais <strong>do</strong> Século XVII (Panorama. Jornal Literário<br />

e Instrutivo, 2ª série, vol. II, nº 27, Julho, 1, 1842).<br />

A ponte velha de Silves também tem si<strong>do</strong><br />

recorrentemente atribuí<strong>da</strong> á época romana.<br />

Conforme recentemente demonstrámos, ela é<br />

obra medieval e moderna. O talhe <strong>do</strong>s blocos,<br />

mais pequenos e com marc<strong>as</strong> de canteiros, <strong>as</strong><br />

característic<strong>as</strong> d<strong>as</strong> aduel<strong>as</strong>, o grande vão <strong>do</strong>s seus<br />

arcos, tabuleiro pouco espesso e em cavalete e,<br />

<br />

robusto <strong>do</strong> que <strong>as</strong> pontes roman<strong>as</strong>, resultante em<br />

grande parte d<strong>as</strong> du<strong>as</strong> últim<strong>as</strong> característic<strong>as</strong>,<br />

aproximam-na claramente d<strong>as</strong> tipologi<strong>as</strong> d<strong>as</strong><br />

pontes medievais. Por outro la<strong>do</strong>, a ausência de<br />

característic<strong>as</strong> típic<strong>as</strong> d<strong>as</strong> pontes de fábrica romana<br />

já enunciad<strong>as</strong> reforçam desde logo essa convicção<br />

que é, de resto, comprova<strong>da</strong> pela <strong>do</strong>cumentação<br />

histórica. Referi<strong>da</strong> pela primeira vez em 1439, a<br />

ponte, construí<strong>da</strong> no século anterior, tinha caí<strong>do</strong><br />

em virtude de uma grande cheia. Em 1473, está de<br />

novo de pé m<strong>as</strong>, por volta de 1600, estão caí<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is<br />

arcos e o rio é p<strong>as</strong>sa<strong>do</strong> a vau. Em 1621, a travessia<br />

já se faz de novo pela ponte m<strong>as</strong>, ou porque a<br />

reconstrução <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is arcos não tivesse si<strong>do</strong> bem<br />

<br />

de novo estragos, em inícios <strong>do</strong> século seguinte o<br />

monumento necessita de profund<strong>as</strong> reparações e<br />

obr<strong>as</strong> de reconstrução, sen<strong>do</strong> construí<strong>do</strong>s de novo<br />

os tais <strong>do</strong>is arcos <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Em 2 de Março<br />

Figura 4<br />

A ponte de Silves em 1844 (Relação <strong>da</strong> Derrota Naval, Façanh<strong>as</strong> e<br />

Sucessos <strong>do</strong>s Cruza<strong>do</strong>s que Partirão <strong>do</strong> Escal<strong>da</strong> para a Terra Santa<br />

no Anno de 1189. Escrita em Latim por um <strong>do</strong>s Cruza<strong>do</strong>s, tradução e<br />

anotações de João Baptista <strong>da</strong> Silva Lopes, Lisboa, 1844).<br />

de 1716, é <strong>as</strong>sina<strong>do</strong> com Inácio Mendes o contrato<br />

de obr<strong>as</strong> que conferirá à ponte o <strong>as</strong>pecto actual.<br />

Dos cinco arcos <strong>do</strong> monumento, <strong>do</strong>is – os mais<br />

próximos <strong>da</strong> margem esquer<strong>da</strong> - serão com to<strong>da</strong> a<br />

<br />

sen<strong>do</strong> o que se lhes segue <strong>do</strong> século XV. Os <strong>do</strong>is<br />

restantes, os <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, já são resulta<strong>do</strong><br />

d<strong>as</strong> obr<strong>as</strong> <strong>do</strong> século XVIII 12. Como vemos, a ponte<br />

velha de Silves terá cerca de 600 anos, ain<strong>da</strong> que<br />

muitos <strong>do</strong>s elementos que hoje a compõem sejam<br />

bem mais recentes.<br />

Da antiga ponte de Aljezur, destruí<strong>da</strong> por forte<br />

<br />

12<br />

Para conhecer o desenvolvimento dest<strong>as</strong> diferentes f<strong>as</strong>es de reconstrução <strong>da</strong> velha ponte ver Bernardes e Gonçalves, 2005.<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 17


Figura 5<br />

Ponte antiga (“romana”) de Aljezur em foto de 1938<br />

localiza<strong>da</strong> a alguns metros para montante, pouco<br />

sabemos, a não ser que a tradição local lhe atribui<br />

<br />

amavelmente faculta<strong>da</strong> pelo Senhor José Manuel<br />

Marreiros, presidente <strong>da</strong> direcção <strong>da</strong> Associação<br />

de Defesa <strong>do</strong> Património Histórico e Arqueológico<br />

de Aljezur, detectam-se claramente du<strong>as</strong> f<strong>as</strong>es:<br />

uma primeira que deverá corresponder à época<br />

medieval denuncia<strong>da</strong> por uma estrutura em cavalete,<br />

que se percebe claramente <strong>do</strong> la<strong>do</strong> n<strong>as</strong>cente <strong>do</strong><br />

rio, e de que ain<strong>da</strong> subsistia um pequeno arco não<br />

visível na referi<strong>da</strong> foto; a segun<strong>da</strong>, com <strong>do</strong>is arcos<br />

de vãos desiguais, corresponderia, certamente, a<br />

uma reconstrução <strong>da</strong>quela estrutura medieval, feita<br />

provavelmente em perío<strong>do</strong> não anterior aos séculos<br />

XVII / XVIII, quan<strong>do</strong>, devi<strong>do</strong> aos fortes cau<strong>da</strong>is de<br />

qualquer torrente ou cheia invernal ou a qualquer<br />

cataclismo natural a ponte medieval ruiu. O talhamar<br />

no pilar central, cujo topo remata numa espécie de<br />

“esplana<strong>da</strong>” é, como vimos, característico de pontes<br />

<strong>da</strong>quela época.Também a restante estrutura <strong>da</strong> ponte,<br />

como os vãos constituí<strong>do</strong>s por arcos abati<strong>do</strong>s, se<br />

coaduna com aquela cronologia. Da antiga estrutura<br />

medieval manteve-se o arranque e o arco <strong>da</strong> margem<br />

direita <strong>do</strong> rio que se integrou na ponte reconstruí<strong>da</strong>.<br />

Salvaguar<strong>da</strong><strong>do</strong> o facto desta análise ser feita a partir<br />

de uma foto, na<strong>da</strong> no monumento aponta para que<br />

tenha uma origem romana.<br />

Como vimos, a pretensa cronologia romana d<strong>as</strong><br />

três pontes históric<strong>as</strong> analisad<strong>as</strong> não resiste a<br />

<br />

demonstrar que são antes construções de époc<strong>as</strong><br />

recentes. Poderíamos estender este tipo de análise<br />

a outros monumentos algarvios, como a ponte<br />

velha de Quelfes ou de Tôr e chegaríamos à mesma<br />

conclusão. Com efeito, é pouco provável que existam<br />

hoje pontes roman<strong>as</strong> conservad<strong>as</strong> no <strong>Algarve</strong>, o que<br />

se prende com uma série de razões, a saber:<br />

Em primeiro lugar o <strong>Algarve</strong> foi durante a época<br />

romana uma região periférica que só marginalmente<br />

<br />

protagoniza<strong>do</strong>s pelos governo central de Roma<br />

ou provincial de Méri<strong>da</strong>. Note-se que a grande via<br />

18 AS VIAS DO ALGARVE


imperial que partia de Roma em direcção ao su<strong>do</strong>este<br />

peninsular morria em Cádiz; o <strong>Algarve</strong> contava, pois,<br />

apen<strong>as</strong> com vi<strong>as</strong> secundári<strong>as</strong> à escala imperial<br />

ain<strong>da</strong> que regionalmente se possa considerar<br />

que algum<strong>as</strong> tivessem importância relevante, ao<br />

ponto de serem mencionad<strong>as</strong> em algum<strong>as</strong> fontes<br />

literári<strong>as</strong> antig<strong>as</strong> 13 . To<strong>da</strong>via, a grande via de ligação<br />

regional e inter-regional era, indubitavelmente, o<br />

mar. Face a isto, pode-se dizer que a região algarvia<br />

nunca <strong>as</strong>sumiu um papel estratégico na rede viária<br />

imperial ou mesmo provincial, razão b<strong>as</strong>tante para<br />

não ter recebi<strong>do</strong> grandes investimentos viários,<br />

nomea<strong>da</strong>mente em pontes. Não queremos, porém,<br />

negar a existência de pontes roman<strong>as</strong> no <strong>Algarve</strong>. É<br />

<br />

ou outra em pedra, nomea<strong>da</strong>mente nos percursos<br />

principais que ligavam <strong>as</strong> ci<strong>da</strong>des de Ossonoba a<br />

Balsa e est<strong>as</strong> às urbes <strong>do</strong> Alentejo, m<strong>as</strong>, de acor<strong>do</strong><br />

com o quadro regional e a sua inserção no espaço<br />

<strong>do</strong> Império e <strong>da</strong> província, podemos suspeitar<br />

que boa parte d<strong>as</strong> pontes existentes seriam de<br />

madeira ou que a travessia <strong>do</strong>s principais cursos<br />

de água se faria com recurso a barc<strong>as</strong> e jangad<strong>as</strong>.<br />

Obviamente que <strong>as</strong> pontes de madeira, decorri<strong>do</strong>s<br />

qu<strong>as</strong>e <strong>do</strong>is mil anos, não deixaram vestígios. M<strong>as</strong>,<br />

mesmo admitin<strong>do</strong> a existência de pontes de pedra,<br />

<br />

enxurrad<strong>as</strong> e torrentes invernais que, como vimos,<br />

sistematicamente destruíram <strong>as</strong> pontes medievais e<br />

modern<strong>as</strong>. É que só pontes como <strong>as</strong> de Alcântara<br />

ou de Chaves seriam, eventualmente, capazes de<br />

aguentar tais ímpetos d<strong>as</strong> águ<strong>as</strong> ao longo de <strong>do</strong>is<br />

milénios; m<strong>as</strong>, certamente, estrutur<strong>as</strong> monumentais<br />

<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

ACERO Pérez, Jesús & VÁZQUEZ Paredes, Sara (no prelo)<br />

<br />

<br />

de Alcántara (Cáceres)”, Act<strong>as</strong> <strong>do</strong> IV Congresso de<br />

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Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>/Comissão de Coordenação e<br />

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Portugueses.<br />

SARRÃO, Henrique Fernandes - “História <strong>do</strong> Reino <strong>do</strong><br />

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Século XVI (Apresentação, leitura, not<strong>as</strong> e glossário de<br />

Manuel Vieg<strong>as</strong> Guerreiro e Joaquim Romero de Magalhães)<br />

Cadernos <strong>da</strong> Revista de História Económica e Social,<br />

3, Lisboa: Sá <strong>da</strong> Costa Editora, 1983, p. 166.<br />

13<br />

Sobre <strong>as</strong> fontes literári<strong>as</strong> antig<strong>as</strong> que referem itinerários no <strong>Algarve</strong><br />

veja-se Rodrigues, 2004.<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 19


.II<br />

A REDE VIÁRIA ROMANA DO ALGARVE CENTRAL<br />

SANDRA RODRIGUES<br />

Mestre em Arqueologia Clássica (Facul<strong>da</strong>de de Letr<strong>as</strong> de Lisboa)<br />

Cresumo<br />

Com b<strong>as</strong>e no estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> sobre As Vi<strong>as</strong> Roman<strong>as</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> (RODRIGUES, 2004), concluímos que<br />

havia du<strong>as</strong> vi<strong>as</strong> de ligação ao Norte, pelo centro,<br />

que cruzavam o Barrocal e a Serra Algarvia, partin<strong>do</strong><br />

d<strong>as</strong> imediações <strong>da</strong> Civit<strong>as</strong> Ossonobensis (Faro).<br />

Assim, pretende-se com esta comunicação,<br />

traçar o quadro viário romano <strong>da</strong>quela área,<br />

destaca<strong>da</strong>mente <strong>as</strong> du<strong>as</strong> vi<strong>as</strong> supra referid<strong>as</strong>,<br />

sen<strong>do</strong> que de uma d<strong>as</strong> quais restam vestígios no<br />

concelho de São Brás de Alportel – A “Calçadinha”<br />

de São Brás de Alportel.<br />

<br />

dúbia hierarquização viária, tu<strong>do</strong> leva a crer que a<br />

“Calçadinha” correspon<strong>da</strong> a um diverticulum <strong>da</strong><br />

via principal que, por Loulé, ligaria a Olisipo (Lisboa)<br />

e Pax Iulia (Beja).<br />

20 AS VIAS DO ALGARVE


Uma d<strong>as</strong> principais questões suscitad<strong>as</strong> pela<br />

investigação de redes viári<strong>as</strong> antig<strong>as</strong> é, além<br />

<strong>da</strong> cronologia, a hierarquização <strong>do</strong>s eixos de<br />

circulação, nomea<strong>da</strong>mente na região algarvia. Esta<br />

problemática decorre essencialmente <strong>da</strong> esc<strong>as</strong>sez<br />

de vestígios viários e d<strong>as</strong> parc<strong>as</strong> referênci<strong>as</strong><br />

<br />

Porém, é conheci<strong>da</strong> uma alusão literária à existência<br />

de um eixo de ligação de Ossonoba a norte, pela<br />

serra <strong>do</strong> Caldeirão. Tal referência é faculta<strong>da</strong> pelo<br />

Itinerário de Antonino [418, 6], onde se diz que a<br />

estra<strong>da</strong> que ligava Baesuris a Ossonoba, por Balsa,<br />

Olisipo, por Salacia<br />

[Itin., 416, 4-417]. Com b<strong>as</strong>e nesta indicação, muitos<br />

autores fazem p<strong>as</strong>sar a via de ligação a norte por<br />

S. Brás de Alportel (vide Rodrigues, 2004: 67-68).<br />

No entanto, são inúmeros os <strong>da</strong><strong>do</strong>s que nos impelem<br />

a discor<strong>da</strong>r <strong>da</strong>quel<strong>as</strong> posições, pese embora a já<br />

<br />

viária. Importa pois considerar que se a ligação<br />

terrestre longitudinal de Baesuris a Ossonoba<br />

continu<strong>as</strong>se para ocidente, para Lacobriga, por<br />

<br />

um traça<strong>do</strong> que a levaria para norte, de acor<strong>do</strong><br />

com o Itinerário de Antonino. Com efeito, este<br />

traça<strong>do</strong> parece fazer mais senti<strong>do</strong>, <strong>da</strong><strong>do</strong> que se<br />

trata de um percurso cuja directriz é mais linear (cf.<br />

Mapa viário, in Rodrigues, 2004: 64).<br />

Consideran<strong>do</strong> o valor cumulativo <strong>do</strong>s eixos<br />

de circulação e reportan<strong>do</strong>-nos ao século XVI,<br />

<br />

Salir e <strong>da</strong>í ao Alentejo, era a mais importante <strong>do</strong><br />

<strong>Algarve</strong> central. Atente-se no topónimo “rua de<br />

Portugal”, em Loulé, já existente no século XVI<br />

(Magalhães, 1970: 186). Tratan<strong>do</strong>-se, contu<strong>do</strong>,<br />

de uma via terrena, como se pode inferir num<br />

<strong>do</strong>cumento de 1538 que diz que um vizinho de<br />

“Ator” (Tôr), Loulé, “lavrou a estra<strong>da</strong> que desta<br />

” (Arq. C.M.L., vereações<br />

<br />

Assim, a estra<strong>da</strong> deixaria o caminho de Lacobriga,<br />

por altur<strong>as</strong> de Almansil, que constituiria um ponto<br />

de cruzamento de vi<strong>as</strong>. Atenden<strong>do</strong> ao topónimo<br />

<br />

que ali tenha existi<strong>do</strong> uma mansio, com funções<br />

de estação de mu<strong>da</strong> (mutatio). Este facto pode<br />

<br />

continuação <strong>da</strong> via <strong>da</strong>li para norte.<br />

De Loulé, a via sairia pela actual rua de Portugal,<br />

que parte <strong>do</strong> c<strong>as</strong>telo <strong>da</strong> vila. N<strong>as</strong> cercani<strong>as</strong> desta<br />

rua foi encontra<strong>do</strong> um cemitério islâmico anterior<br />

à Reconquista (Luzia,1999-2000: 129-185), o que<br />

sugere que esta seria uma d<strong>as</strong> principais saíd<strong>as</strong> <strong>da</strong><br />

vila. Há ain<strong>da</strong> notícia de diversos acha<strong>do</strong>s romanos<br />

e islâmicos (Santos, 1972: 151-3; Alarcão, 1988:<br />

288; Marques, 1992: 245).<br />

Dali o percurso continuaria até Salir, vencen<strong>do</strong> a<br />

ribeira <strong>do</strong> Algibre na zona de Tôr, sensivelmente<br />

numa área próxima d<strong>as</strong> du<strong>as</strong> pontes que ali<br />

se encontram (a antiga e a actual), em cuj<strong>as</strong><br />

<br />

calça<strong>da</strong> (a cerca de 2 km <strong>da</strong> aldeia), corren<strong>do</strong><br />

mais ou menos paralelo à estra<strong>da</strong> actual. Este<br />

caminho é conheci<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> os locais, como<br />

“estra<strong>da</strong> de Portugal”, facto que, alia<strong>do</strong> à boa<br />

orientação que toma, pelo vale, atesta em favor <strong>da</strong><br />

sua antigui<strong>da</strong>de.<br />

A partir de Salir, a estra<strong>da</strong> parece mu<strong>da</strong>r<br />

<br />

<br />

locali<strong>da</strong>de, o que é vulgar no curso d<strong>as</strong> estrad<strong>as</strong><br />

roman<strong>as</strong> (Mant<strong>as</strong>, 1996: 65). Assim, o caminho<br />

<br />

por Barranco <strong>do</strong> Velho, tocan<strong>do</strong> Cortiçad<strong>as</strong> e,<br />

seguin<strong>do</strong> um percurso semelhante ao <strong>do</strong> actual<br />

I.C. 2, dirigin<strong>do</strong>-se para Almodôvar e <strong>da</strong>í para norte<br />

, até Lisboa (cf. Rodrigues, 2004: 65-67).<br />

As informações facultad<strong>as</strong> pela <strong>do</strong>cumentação<br />

antiga, a par <strong>da</strong> densi<strong>da</strong>de de vestígios romanos<br />

e medievais que acompanham o itinerário acima<br />

sugeri<strong>do</strong>, conduzem-nos a apontar aquele<br />

trajecto como sen<strong>do</strong> a proposta mais viável para<br />

a travessia principal <strong>da</strong> serra <strong>do</strong> Caldeirão. Ao<br />

propormos aquele traça<strong>do</strong>, partimos pois de uma<br />

hierarquização viária e, por conseguinte, relegamos<br />

para um plano secundário a via que partia de<br />

Ossonoba para norte, por S. Brás de Alportel.<br />

Assim, encaramos este trajecto como um diverticulum<br />

que serviria <strong>as</strong> villae a norte de Faro, acaban<strong>do</strong> por<br />

se ligar à via principal, por altur<strong>as</strong> de Salir.<br />

A saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Faro far-se-ia pela actual rua<br />

de Portugal, p<strong>as</strong>san<strong>do</strong> pela área <strong>do</strong> Lethes, onde<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 21


Viana, 1951), coincidin<strong>do</strong> neste nó com a estra<strong>da</strong><br />

de Balsa. A partir deste ponto e praticamente em<br />

linha recta, p<strong>as</strong>sava pela actual rua de S. Luís, pela<br />

estra<strong>da</strong> <strong>da</strong> Penha, até Vale carneiros (Bernardes e<br />

Oliveira, 2002), onde apareceram vestígios romanos<br />

de uma possível villa suburbana de Ossonoba<br />

(Santos, 1972: 171-2; Alarcão, 1988: 321).<br />

De Vale Carneiros, a estra<strong>da</strong> rumava pela<br />

Conceição, p<strong>as</strong>san<strong>do</strong> por Estoí, fazen<strong>do</strong>, deste<br />

mo<strong>do</strong>, a ligação à famosa villa romana de Milreu.<br />

Daí prosseguiria pela margem esquer<strong>da</strong> <strong>do</strong> rio<br />

Seco, alcança<strong>do</strong> Cancela e Macha<strong>do</strong>s, fazen<strong>do</strong> a<br />

travessia <strong>do</strong> rio Seco por altur<strong>as</strong> de Porto Velho,<br />

que se situa n<strong>as</strong> proximi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> sítio <strong>do</strong> Vale<br />

<strong>do</strong> Joio, onde surgiu uma grande densi<strong>da</strong>de de<br />

vestígios romanos e árabes, numa área que se<br />

estende por cerca de 20.000 metros quadra<strong>do</strong>s<br />

e que pode corresponder a uma villa <strong>da</strong> época<br />

romana (Bernardes e Oliveira, 2002).<br />

Após a travessia <strong>do</strong> rio Seco, o percurso viário seria<br />

análogo ao <strong>da</strong> E.N. 2 até S. Brás, provavelmente<br />

por uma via terrena, pelo menos até ao sítio de<br />

Hort<strong>as</strong> e Moinhos, onde existem <strong>do</strong>is troços de<br />

calça<strong>da</strong> cuj<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> impelem à atribuição<br />

de uma cronologia romana, a pelo menos um deles<br />

(Rodrigues, 2004: 69-73).<br />

<br />

à principal estra<strong>da</strong> de ligação a norte.<br />

<br />

de que a via Ossonoba – Loulé – Salir, e <strong>da</strong>í para<br />

norte, terá <strong>as</strong>sumi<strong>do</strong> a primazia, que aliás manteve<br />

ao longo <strong>do</strong>s séculos, inclusivamente até ao século<br />

XIX (Rodrigues, 2004: 72).<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

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VIANA, Abel, 1951. O cemitério Luso-Romano <strong>do</strong> bairro Letes<br />

(Faro), sep. Brotéria, Lisboa, p. 145-165.<br />

22 AS VIAS DO ALGARVE


.III<br />

DESDE LA DESEMBOCADURA DEL RÍO GUADIANA.<br />

LA CONTINUIDAD DEL ITINERARIO HACIA ORIENTE<br />

FRANCISCO GÓMEZ TOSCANO<br />

Universi<strong>da</strong>d de Huelva<br />

resumen<br />

D<br />

Durante mucho tiempo, en el estudio de la conexión<br />

viaria entre l<strong>as</strong> provinci<strong>as</strong> Baetica<br />

y Lusitania,<br />

<br />

algunos de sus tramos. En esta contribución, fruto<br />

de trabajos arqueológicos de campo, se muestra el<br />

traza<strong>do</strong> comprendi<strong>do</strong> entre la desembocadura del<br />

río Guadiana y Onoba en la ría de Huelva, <strong>as</strong>í como<br />

la localización de l<strong>as</strong> mansiones intermedi<strong>as</strong> para<br />

<br />

el extremo occidental<br />

de la provincia Baetica<br />

y su relación con<br />

la comunicación<br />

terrestre<br />

Ante el fenómeno de la romanización, el extremo<br />

más occidental de la futura Provincia Bética, <strong>do</strong>nde<br />

existió desde la Protohistoria una importante<br />

vinculación con el fenómeno urbano (CAMPOS y<br />

GÓMEZ, 1995; GÓMEZ y CAMPOS, e.p.; GÓMEZ,<br />

e.p.), y en cuya expresión física han busca<strong>do</strong> los<br />

investiga<strong>do</strong>res relaciones prerroman<strong>as</strong> con Siria-<br />

-Palestina, el Mun<strong>do</strong> Egeo o el Mediterráneo<br />

Central (GÓMEZ, 2004), fue sien<strong>do</strong> a<strong>da</strong>pta<strong>do</strong> con el<br />

tiempo a l<strong>as</strong> necesi<strong>da</strong>des que imponían l<strong>as</strong> nuev<strong>as</strong><br />

estrategi<strong>as</strong> de explotación comercial y <strong>do</strong>minio<br />

político de la Urbs por excelencia.<br />

Los primeros textos que describen a l<strong>as</strong> gentes que<br />

habitaban l<strong>as</strong> cost<strong>as</strong> occidentales de la Península<br />

Ibérica y en nuestro c<strong>as</strong>o del Golfo de Cádiz se<br />

menciona que fueron reputa<strong>do</strong>s como los más<br />

cultos de los iberos y, no en vano, ciu<strong>da</strong>des como<br />

Tucci, Ilipla y Onuba, aunque debieron a<strong>da</strong>ptar<br />

su urbanística previa a un<strong>as</strong> form<strong>as</strong> que ya serían<br />

comunes en el conjunto del mun<strong>do</strong> mediterráneo,<br />

llevaban una existencia de siglos cuan<strong>do</strong> fueron<br />

incorporad<strong>as</strong> por Roma.<br />

H<strong>as</strong>ta muy recientemente, debi<strong>do</strong> a una<br />

investigación no adecua<strong>da</strong>, es<strong>as</strong> ciu<strong>da</strong>des<br />

roman<strong>as</strong> situad<strong>as</strong> en el extremo más occidental<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 23


de la Baetica eran conocid<strong>as</strong> únicamente a través<br />

de los textos que l<strong>as</strong> nombraban en relación con<br />

determinad<strong>as</strong> circunstanci<strong>as</strong>, o forman<strong>do</strong> parte<br />

del grupo de mansiones por <strong>do</strong>nde discurrían<br />

l<strong>as</strong> principales ví<strong>as</strong> de comunicación construid<strong>as</strong><br />

para facilitar los movimientos de hombres, equipo<br />

y mercancí<strong>as</strong>. De hecho, en ese mismo orden,<br />

después de Hispalis se nombra a Tusci, Hilpula<br />

y Onoba en el Anónimo de Ravena antes de que<br />

el traza<strong>do</strong> de ese camino tome dirección hacia<br />

l<strong>as</strong> min<strong>as</strong> situad<strong>as</strong> más al norte (RUIZ ACEVEDO,<br />

1998: 35).<br />

En el Itinerario de Antonino, el más importante texto<br />

para conocer la estructura de l<strong>as</strong> comunicaciones<br />

del Imperio, l<strong>as</strong> ciu<strong>da</strong>des de Onoba, Ilipla y Tucci<br />

son mansiones <strong>do</strong>nde culminan cort<strong>as</strong> etap<strong>as</strong><br />

de unos miles de p<strong>as</strong>os, que muestran la ruta a<br />

seguir entre la desembocadura del río An<strong>as</strong> y<br />

Emerita Augusta a través de Italica (ROLDÁN,<br />

1975). No obstante, sólo h<strong>as</strong>ta muy recientemente<br />

(BENDALA, GÓMEZ y CAMPOS, 1999), precisamente<br />

la localización del tramo más occidental de la ruta<br />

Ostium Anae-Onuba, el que unía la desembocadura<br />

del río con la ciu<strong>da</strong>d portuaria situa<strong>da</strong> en la ría de<br />

Huelva, había si<strong>do</strong> objeto de controversia, to<strong>da</strong> vez<br />

que al no haberse investiga<strong>do</strong> con meto<strong>do</strong>logía<br />

arqueológica de campo, y por ello no se contaba<br />

con prueb<strong>as</strong> contr<strong>as</strong>tables, no existía unanimi<strong>da</strong>d<br />

entre los investiga<strong>do</strong>res a la hora de situar la ruta<br />

por <strong>do</strong>nde discurrió ese tramo ni l<strong>as</strong> mansiones en<br />

él mencionad<strong>as</strong>. En el c<strong>as</strong>o de Praesidium, situa<strong>do</strong><br />

a XXIIII m.p. de la desembocadura del río, éste<br />

había si<strong>do</strong> localiza<strong>do</strong> tanto en diferentes puntos<br />

del Andévalo occidental (CARO, 1634; MILLER, 1916;<br />

THOUVENOT, 1973; MUÑIZ, 1990; BENDALA, 1987),<br />

como en un hipotético camino cercano a la costa<br />

(BLÁZQUEZ, 1921; HERNÁNDEZ, 1958; ROLDÁN,<br />

1975; LUZÓN, 1975; SILLIÈRES, 1990). De la misma<br />

forma, Rubrae, la siguiente mansión situa<strong>da</strong> en este<br />

c<strong>as</strong>o a XXVIII m.p. de la anterior, fue <strong>as</strong>imismo<br />

situa<strong>da</strong> en varios puntos bien del camino norte o<br />

bien del camino costero, pero siempre cercana al<br />

curso del río Odiel para, una vez cruza<strong>do</strong> éste por<br />

la p<strong>as</strong>a<strong>da</strong> existente en Gibraleón, llegar a la ciu<strong>da</strong>d<br />

de Onoba.<br />

Del mismo mo<strong>do</strong> que en el conocimiento del traza<strong>do</strong><br />

de los caminos, la más reciente investigación<br />

realiza<strong>da</strong> por el Área de Arqueología de la<br />

Universi<strong>da</strong>d de Huelva nos acerca a una noción<br />

de la expresión física de sus principales ciu<strong>da</strong>des<br />

en época romana. Tanto la extensión de Ilipla,<br />

b<strong>as</strong>tante más pequeña en reali<strong>da</strong>d que el espacio<br />

ocupa<strong>do</strong> por el traza<strong>do</strong> almohade que se ha<br />

conserva<strong>do</strong> h<strong>as</strong>ta la actuali<strong>da</strong>d tal como se había<br />

interpreta<strong>do</strong>, como la localización de sus murall<strong>as</strong><br />

de sillares y en ell<strong>as</strong> una puerta monumental con<br />

<br />

<strong>do</strong>nde <strong>as</strong>entar la explicación física de la ciu<strong>da</strong>d,<br />

claramente favoreci<strong>da</strong> por su situación en la<br />

margen derecha del río Tinto, franqueable por<br />

el inmenso puente desde época romana (PÉREZ,<br />

CAMPOS y GÓMEZ, 2000).<br />

El c<strong>as</strong>o de Huelva es paradójico, to<strong>da</strong> vez que h<strong>as</strong>ta<br />

hace poco no existía cualquier <strong>da</strong>to arqueológico<br />

de relevancia que no se hubiese relaciona<strong>do</strong> con la<br />

ciu<strong>da</strong>d tartésica, el perío<strong>do</strong> fenicio o la presencia<br />

griega arcaica. El acueducto reitera<strong>da</strong>mente<br />

menciona<strong>do</strong> por los historia<strong>do</strong>res y sus moned<strong>as</strong>,<br />

<strong>as</strong>í como algunos restos de factorí<strong>as</strong> de salazones<br />

publica<strong>do</strong>s en la déca<strong>da</strong> de los setenta y poco<br />

más, eran los <strong>da</strong>tos romanos conoci<strong>do</strong>s h<strong>as</strong>ta su<br />

inscripción como Zona Arqueológica en el Catálogo<br />

General de Patrimonio Histórico de la Comuni<strong>da</strong>d<br />

An<strong>da</strong>luza. Sin embargo, l<strong>as</strong> excavaciones de<br />

salvamento más recientes están mostran<strong>do</strong><br />

<br />

delimitar fehacientemente el traza<strong>do</strong> ocupa<strong>do</strong><br />

por la pequeña ciu<strong>da</strong>d de Onoba, incluso con<br />

algunos ejemplos de arquitectura monumental,<br />

sus principales necrópolis y la ocupación periférica<br />

con villae rusticae (GÓMEZ y CAMPOS, 2000).<br />

Sin embargo, su estratégica localización en la ría<br />

de Huelva, conecta<strong>da</strong> con el resto del territorio<br />

por cómo<strong>do</strong>s caminos, hicieron de ella el lugar<br />

idóneo desde <strong>do</strong>nde controlar l<strong>as</strong> explotaciones<br />

miner<strong>as</strong> tal como debe deducirse del hallazgo del<br />

pecio de Planier, <strong>do</strong>nde aparece el nombre de sus<br />

magistra<strong>do</strong>s en unos lingotes de cobre, uni<strong>do</strong> con<br />

l<strong>as</strong> posibili<strong>da</strong>des de explotación de los recursos<br />

pesqueros, <strong>as</strong>í como del entorno de la ciu<strong>da</strong>d y<br />

24 AS VIAS DO ALGARVE


sus marism<strong>as</strong>, con fértiles tierr<strong>as</strong> para el mejor<br />

<br />

cumplien<strong>do</strong> con el papel de centro hegemónico y<br />

territorial que ya venía desempeñan<strong>do</strong> durante de<br />

to<strong>do</strong> el I Milenio a.C. (GOMEZ, e.p.).<br />

A pesar de to<strong>do</strong>, el papel de la vía 23 del<br />

Itinerario de Antonino, para la mayor parte de<br />

los investiga<strong>do</strong>res, siempre ha representa<strong>do</strong> un<br />

<strong>as</strong>pecto secun<strong>da</strong>rio, to<strong>da</strong> vez que el principal eje<br />

de comunicaciones que unía a Roma con Occidente<br />

era la Via Augusta que terminaba en Gades, por lo<br />

<br />

destaca<strong>do</strong> a pesar de ser la conjunción terrestre<br />

entre Baetica y Lusitania. En reali<strong>da</strong>d, a ambos<br />

la<strong>do</strong>s del Guadiana, l<strong>as</strong> ví<strong>as</strong> roman<strong>as</strong> serían los<br />

principales medios para acercar los metales<br />

obteni<strong>do</strong>s en la Franja Piritífera Ibérica a los<br />

puertos atlánticos.<br />

el tramo de la vía<br />

ostium Anae-<br />

-praesidium-<br />

-rubrae-onuba<br />

El traza<strong>do</strong> de este tramo en su conjunto no ha si<strong>do</strong><br />

recorri<strong>do</strong> por nosotros en su totali<strong>da</strong>d, aunque se<br />

hayan hecho diferentes comprobaciones a lo largo<br />

de su ruta para estimar que no existen lagun<strong>as</strong><br />

importantes y que a nivel planimétrico el itinerario<br />

propuesto deba ser prácticamente el original. No<br />

obstante, especialmente en el entorno de Sanlúcar de<br />

Guadiana, amplios tramos que to<strong>da</strong>vía conservan su<br />

empedra<strong>do</strong> han permiti<strong>do</strong> establecer característic<strong>as</strong><br />

Figura 1<br />

Traza<strong>do</strong> de la vía entre Ayamonte y Huelva.<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 25


generales y, <strong>as</strong>í mismo, una vez localiza<strong>da</strong> la primera<br />

mansio en un lugar exacto, estimar el rumbo de su<br />

continui<strong>da</strong>d hacia otr<strong>as</strong> zon<strong>as</strong>.<br />

Durante los trabajos de campo pudieron<br />

<strong>do</strong>cumentarse tramos empedra<strong>do</strong>s to<strong>da</strong>vía<br />

conserva<strong>do</strong>s que conforman un traza<strong>do</strong> continuo<br />

h<strong>as</strong>ta la población de El Grana<strong>do</strong>, los cuales fueron<br />

Global Positioning<br />

) e integra<strong>do</strong>s en planimetría del Mapa<br />

<br />

De la misma forma, la conexión hacia el sur está<br />

garantiza<strong>da</strong> h<strong>as</strong>ta San Silvestre de Guzmán y, desde<br />

allí, con un tramo que corresponde a la carretera<br />

actual h<strong>as</strong>ta Villablanca, continuar h<strong>as</strong>ta el entorno<br />

de Ayamonte. Una vez analizad<strong>as</strong> l<strong>as</strong> característic<strong>as</strong><br />

del traza<strong>do</strong> en la zona, puede concluirse, claramente<br />

<br />

constructivo, que estos tramos son el resulta<strong>do</strong> de<br />

<br />

uniforme, los ingenieros imperiales a<strong>da</strong>ptaron tanto<br />

a l<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> del paisaje <strong>do</strong>nde se construye<br />

como a un<strong>as</strong> necesi<strong>da</strong>des previst<strong>as</strong>. La continui<strong>da</strong>d<br />

desde El Grana<strong>do</strong> h<strong>as</strong>ta la zona minera de Tharsis-<br />

Alosno está <strong>do</strong>cumenta<strong>da</strong> en diversos tramos que<br />

conforman prácticamente una línea recta (RUIZ,<br />

1998). En la mayoría de los c<strong>as</strong>os el traza<strong>do</strong> puede<br />

seguirse a través de fotografía aérea en pares<br />

estereoscópicos <strong>da</strong><strong>do</strong> la buena conservación de<br />

la obra, <strong>as</strong>í como los topónimos perpetua<strong>do</strong>s en<br />

relación con el término plata (BENDALA, 1987).<br />

Un tramo perfectamente conserva<strong>do</strong> inmediatamente<br />

al sur de Sanlúcar (Lámina I), además de estimar su<br />

continui<strong>da</strong>d hacia el norte siguien<strong>do</strong> el curso del río<br />

Guadiana, permite observar cómo la vía empedra<strong>da</strong><br />

se ajusta perfectamente a la topografía de parti<strong>da</strong><br />

y, sólo en oc<strong>as</strong>iones, se realizaron trabajos de<br />

adecuación importantes. Hacia el Norte, y también<br />

desde San Silvestre de Guzmán más al Sur, el traza<strong>do</strong><br />

va amoldán<strong>do</strong>se a la topografía que corresponde<br />

al paisaje accidenta<strong>do</strong> de esta zona del Andévalo<br />

Occidental tan cercana a la margen derecha del<br />

río Guadiana. Da<strong>do</strong> que el sustrato del Paleozoico,<br />

forma<strong>do</strong> fun<strong>da</strong>mentalmente por pizarr<strong>as</strong> y<br />

<br />

actual, sólo se realizaron l<strong>as</strong> obr<strong>as</strong> necesari<strong>as</strong> para<br />

que el camino perdur<strong>as</strong>e en el tiempo, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> giros<br />

apreciables para evitar la construcción de grandes<br />

obr<strong>as</strong> de infraestructura cuan<strong>do</strong> era necesario salvar<br />

importantes pendientes, con muros de contención<br />

y terraplenes, o el curso de un buen número de<br />

serpenteantes barrancos estacionales con puentes<br />

o badenes que vierten sus agu<strong>as</strong> al gran colector<br />

del Guadiana. En cualquier c<strong>as</strong>o, desde nuestra<br />

perspectiva actual, algun<strong>as</strong> subid<strong>as</strong> y bajad<strong>as</strong><br />

pueden parecer incómod<strong>as</strong> pero, sin du<strong>da</strong>, eran l<strong>as</strong><br />

únic<strong>as</strong> posibles en consonancia con el relieve, pues<br />

Lámina I<br />

Tramo empedra<strong>do</strong> de la vía al sur de Sanlúcar de Guadiana.<br />

Figura 2<br />

Sección de la vía en el camino Sanlúcar-Huerta Torres.<br />

26 AS VIAS DO ALGARVE


los ingenieros imperiales siempre apostaron por<br />

los trayectos más cortos entre <strong>do</strong>s puntos, a pesar<br />

de que algunos tramos no fuesen tan llanos como<br />

hubiese si<strong>do</strong> necesario.<br />

Según hemos mostra<strong>do</strong> en trabajos anteriores<br />

(BENDALA, GÓMEZ y CAMPOS, 1999), los tramos<br />

empedra<strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong>s en el término municipal<br />

de Sanlúcar de Guadiana son similares estructural<br />

y técnicamente a los también conoci<strong>do</strong>s en el<br />

término municipal de San Silvestre de Guzmán,<br />

que debieron continuar al menos h<strong>as</strong>ta Villablanca,<br />

estan<strong>do</strong> éstos cubiertos hoy por la carretera que<br />

une ambos núcleos urbanos; el diseño del traza<strong>do</strong><br />

rectilíneo y el rebaje del sustrato pizarroso en<br />

algun<strong>as</strong> zon<strong>as</strong> elevad<strong>as</strong> por erosión diferencial son<br />

característicos de una obra romana de la enti<strong>da</strong>d<br />

de la Vía 23.<br />

Por ello, en su conjunto, est<strong>as</strong> estructur<strong>as</strong> viari<strong>as</strong><br />

conforman parte del tramo menciona<strong>do</strong> en<br />

el Itinerarium Antoninum, en lo que abun<strong>da</strong> su<br />

concor<strong>da</strong>ncia con l<strong>as</strong> veinticuatro mill<strong>as</strong> roman<strong>as</strong><br />

consignad<strong>as</strong> para la distancia entre Ayamonte en<br />

la desembocadura del Guadiana y Praesidium,<br />

equivalente a 35’5 kilómetros. Ante esta evidencia,<br />

ahora también es posible interpretar que el traza<strong>do</strong><br />

continúa, con l<strong>as</strong> mism<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> de una<br />

via silice strata, más al norte de la población<br />

de Sanlúcar h<strong>as</strong>ta Huerta Torres, alcanzan<strong>do</strong> la<br />

población de El Grana<strong>do</strong> desde <strong>do</strong>nde continúa<br />

hacia el Norte y Este.<br />

no se han realiza<strong>do</strong> sondeos comprobatorios, en<br />

algun<strong>as</strong> zon<strong>as</strong> destruid<strong>as</strong> ha si<strong>do</strong> posible detectar<br />

que, entre el margen corta<strong>do</strong> en el sustrato y<br />

el muro de cierre en el la<strong>do</strong> del río, primero se<br />

depositaba un nivel de piedra local de pequeñ<strong>as</strong><br />

dimensiones y arena que cumplía la función de<br />

rudus<br />

se aprecia está abomba<strong>da</strong> por su parte central para<br />

hacer desaguar hacia los márgenes, se dispuso un<br />

piso de bloques de tamaño variable construi<strong>do</strong><br />

con piedra caliza gris, grauvac<strong>as</strong> y los de pizarra<br />

de mejor cali<strong>da</strong>d, ya que ésta se exfolia y destruye<br />

rápi<strong>da</strong>mente. L<strong>as</strong> dimensiones de los bloques<br />

utiliza<strong>do</strong>s para conformar el piso son variables,<br />

desde medid<strong>as</strong> centimétric<strong>as</strong> a l<strong>as</strong> decimétric<strong>as</strong>,<br />

aunque en algunos c<strong>as</strong>os se han <strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong><br />

los<strong>as</strong> cercan<strong>as</strong> a los setenta centímetros. Nuestra<br />

impresión es que la mayor parte de los bloques, por<br />

su apariencia y el hecho de no presentar huell<strong>as</strong> de<br />

En to<strong>do</strong> el conjunto, la construcción de la vía se<br />

realiza a<strong>da</strong>ptan<strong>do</strong> en ca<strong>da</strong> c<strong>as</strong>o el traza<strong>do</strong> a la<br />

morfología local. Especialmente al norte de Sanlúcar<br />

de Guadiana, el traza<strong>do</strong> se ha a<strong>da</strong>pta<strong>do</strong> al talud del<br />

curso del río cortan<strong>do</strong> en ángulo recto dicho talud<br />

para alojar la vía (Figura 2). Da<strong>do</strong> que el sustrato<br />

<br />

constitución muy deleznable, incluso únicamente por<br />

<br />

el tránsito, puesto que la circulación de animales<br />

y carg<strong>as</strong> pesad<strong>as</strong> la podía deteriorar rápi<strong>da</strong>mente,<br />

especialmente con el uso de carros. Por contra,<br />

la roca local se utiliza en el muro de retención<br />

que cumple la función de uno de los margines,<br />

construi<strong>do</strong> con laj<strong>as</strong> de pizarra extraí<strong>da</strong>. Aunque<br />

Lámina II<br />

Zona maltrata<strong>da</strong> de la vía al norte de Sanlúcar de Guadiana.<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 27


cantería, se obtuvieron en cualquiera de los arroyos<br />

cercanos, o en el río Guadiana. De cualquier forma<br />

no se trata de los<strong>as</strong> cortad<strong>as</strong> siguien<strong>do</strong> un módulo<br />

más o menos homogéneo o saxum quadratum<br />

típico en algun<strong>as</strong> obr<strong>as</strong> roman<strong>as</strong> conocid<strong>as</strong>, sino<br />

que se han utiliza<strong>do</strong> piedr<strong>as</strong> naturales con l<strong>as</strong><br />

<br />

l<strong>as</strong> que no se observa ningún tipo de retoque para<br />

<br />

transitable, excepto algunos ejemplos que pudieron<br />

ser reutiliza<strong>do</strong>s de otr<strong>as</strong> zon<strong>as</strong>.<br />

En general, en cuanto a la obra del arrecife por<br />

<strong>do</strong>nde circulaba la vía, su tamaño no parece<br />

uniforme, puesto que varía entre medid<strong>as</strong> cercan<strong>as</strong><br />

a los tres metros y otr<strong>as</strong> b<strong>as</strong>tante más modest<strong>as</strong>. En<br />

el c<strong>as</strong>o de l<strong>as</strong> últim<strong>as</strong>, observad<strong>as</strong> en tramos muy<br />

tortura<strong>do</strong>s actualmente por diferentes motivos, es<br />

posible que l<strong>as</strong> dimensiones inferiores a los <strong>do</strong>s<br />

metros que se aprecian ahora sea el resulta<strong>do</strong><br />

<br />

construi<strong>da</strong>, habién<strong>do</strong>se acumula<strong>do</strong> piedr<strong>as</strong> de<br />

diferente tamaño en el fon<strong>do</strong> de la trinchera, se ha<br />

perdi<strong>do</strong> parte del muro de cierre original, o se hayan<br />

busca<strong>do</strong> soluciones improvisad<strong>as</strong> en momentos<br />

muy recientes para su uso como sen<strong>da</strong> transitable<br />

sólo por caballerí<strong>as</strong> o person<strong>as</strong> a pie (Lámina II).<br />

Demostra<strong>da</strong> su existencia claramente y su vinculación<br />

con lo descrito en el Itinerario de Antonino, en relación<br />

a la principal función de la vía, una vez localiza<strong>da</strong><br />

la situación del <strong>as</strong>entamiento romano de Huerta<br />

Torres (Lámina III), al cual hemos relaciona<strong>do</strong> con<br />

Praesidium de acuer<strong>do</strong> con el registro arqueológico<br />

<strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong>, la mansión que aparece descrita<br />

entre el río Guadiana y la Rubrae relaciona<strong>da</strong> l<strong>as</strong><br />

Min<strong>as</strong> de Tharsis por el color (BENDALA, GÓMEZ y<br />

Lámina III<br />

Situación de Praesidium en la margen izquier<strong>da</strong> del río Guadiana.<br />

28 AS VIAS DO ALGARVE


CAMPOS, 1999), Ruiz Aceve<strong>do</strong> (1998) ha propuesto<br />

que, en ver<strong>da</strong>d, la descripción literaria de la vía<br />

que conforma el tramo río Guadiana-Praesidium-<br />

Rubrae-Onuba como una reali<strong>da</strong>d continua<br />

corresponde a <strong>do</strong>s caminos diferentes, realiza<strong>do</strong>s<br />

tal vez en <strong>do</strong>s momentos, para que tuviesen <strong>do</strong>s<br />

funciones claramente diferenciad<strong>as</strong>. El primero,<br />

con rumbo suroeste, desde el área minera de<br />

Praesidium-,<br />

mientr<strong>as</strong> que el segun<strong>do</strong>, en este c<strong>as</strong>o dirección<br />

sureste opuesta, que conducía hacia la ría de<br />

Huelva -Onoba-, no sólo <strong>do</strong>nde existía como se ha<br />

dicho un puerto marítimo muy importante desde<br />

la Antigüe<strong>da</strong>d, sino desde <strong>do</strong>nde se podía acceder<br />

al bajo Gua<strong>da</strong>lquivir cruzan<strong>do</strong> la Tierra Llana de<br />

Huelva. Ésta sería también la forma más fácil de<br />

comunicarse, a través de Onuba, con l<strong>as</strong> min<strong>as</strong><br />

del Andévalo occidental desde Hispalis, la capital<br />

del conventus iuridicus, entre otros <strong>as</strong>pectos para<br />

ejercer el control administrativo de la zona, o ante<br />

cualquier otra contingencia de tipo económico o<br />

estratégico.<br />

Así, la ruta ostium Anae-Onuba, dividi<strong>da</strong> en ostium<br />

Anae-Praesidium-Rubrae por un la<strong>do</strong> y Onuba-<br />

-Rubrae por otro, cumplía de hecho <strong>do</strong>s funciones<br />

diferentes aunque fueron unid<strong>as</strong> en la descripción<br />

literaria del Itinerario e integrad<strong>as</strong> en un único<br />

traza<strong>do</strong>, la Vía 23 de Itinerario. El primer tramo unía<br />

el entorno de l<strong>as</strong> min<strong>as</strong> de Tharsis con Praesidium<br />

en el río Guadiana, mientr<strong>as</strong> que el segun<strong>do</strong> lo hacía<br />

con Onuba en la ría de Huelva desde <strong>do</strong>nde se<br />

podía partir hacia Hispalis a través de Ilipla-Tucci,<br />

una ruta que había cumpli<strong>do</strong> funciones parecid<strong>as</strong><br />

desde la Antigüe<strong>da</strong>d, tales como acceder al Andévalo<br />

oriental desde el Puerto de Huelva y del mismo mo<strong>do</strong><br />

conectar con el bajo Gua<strong>da</strong>lquivir (GÓMEZ, 1998).<br />

En este senti<strong>do</strong>, parece posible <strong>as</strong>egurar que la<br />

<br />

y utilizan por primera vez estos caminos es que<br />

los topónimos utiliza<strong>do</strong>s en la descripción de su<br />

recorri<strong>do</strong> - <br />

Rubrae- son de origen netamente latino y<br />

<br />

la vía: la desembocadura del río An<strong>as</strong> -ostium-, una<br />

mansio que también incluía una posible guarnición<br />

-Praesidium- y otra que recibe el nombre de una<br />

característica cromática más representativa<br />

-Rubrae- observa<strong>da</strong> en la misma o en su entorno,<br />

muy diferentes a los siguientes -Onuba, Ilipla,<br />

Tusci-, que además de ser ciu<strong>da</strong>des de gran<br />

tradición en la región no tienen cualquier<br />

<br />

du<strong>da</strong> de origen prerromano como ell<strong>as</strong> mism<strong>as</strong>.<br />

el tramo oriental, ¿una<br />

vía alternativa al río<br />

Guadiana<br />

H<strong>as</strong>ta muy recientemente, al no haberse<br />

contr<strong>as</strong>ta<strong>do</strong> la reali<strong>da</strong>d arqueológica con trabajos<br />

de campo, la localización de <br />

entre la desembocadura del Guadiana (ostium<br />

) y la ría de Huelva (Onoba) han<br />

<br />

Sanlúcar de Guadiana la primera, y en el entorno<br />

de l<strong>as</strong> min<strong>as</strong> de Tharsis la segun<strong>da</strong>, lugares que se<br />

ajustan precisamente con l<strong>as</strong> distanci<strong>as</strong> de XXIIII y<br />

XXVIIII milia p<strong>as</strong>su marcad<strong>as</strong> respectivamente para<br />

ambos tramos.<br />

Si el traza<strong>do</strong> oriental a partir de Onoba debía<br />

perpetuar caminos anteriores, claramente<br />

manifesta<strong>do</strong> en el nombre prerromano de l<strong>as</strong><br />

mansiones Onoba, Ilipla, Tusci como hemos visto,<br />

el nombre latino de los tres lugares menciona<strong>do</strong>s<br />

en el tramo occidental -Rubrae-Praesidio-ostium<br />

- debieron estar relaciona<strong>do</strong>s con la<br />

principal función de ese tramo, el cual fue construi<strong>do</strong><br />

por los ingenieros romanos para embarcar en el<br />

Guadiana el metal obteni<strong>do</strong> en l<strong>as</strong> explotaciones<br />

roman<strong>as</strong> de l<strong>as</strong> min<strong>as</strong> de Tharsis, que debió salir<br />

exclusivamente a través de la ría de Huelva antes<br />

de los trabajos de explotación y adecuación de la<br />

necesaria infraestructura romana que se iniciaron<br />

en época de Augusto.<br />

A partir de Praesidium, no está plenamente<br />

comproba<strong>da</strong> la continui<strong>da</strong>d del camino hacia el<br />

norte después de cruzar el Chanza pero siguien<strong>do</strong><br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 29


BIBLIOGRAFIA<br />

la margen izquier<strong>da</strong> del río Guadiana, lo cual no<br />

<br />

segun<strong>da</strong> función del tramo en relación a conectar la<br />

desembocadura del río con Mirtilis<br />

<br />

de ser navegable y que hizo de ese <strong>as</strong>entamiento<br />

<br />

terrestres.<br />

Tal como se ha manifesta<strong>do</strong> cumpli<strong>da</strong>mente<br />

en est<strong>as</strong> I Jornad<strong>as</strong> de Sâo Brás de Alportel, el<br />

hecho de la navegabili<strong>da</strong>d del río h<strong>as</strong>ta la actual<br />

Mértola hacía innecesaria desde un punto de<br />

vista económico la existencia de ví<strong>as</strong> terrestres<br />

paralel<strong>as</strong> a sus orill<strong>as</strong> pero, por ello mismo, desde<br />

un punto de vista estratégico ajeno a los poderes<br />

locales, ante cualquier eventuali<strong>da</strong>d de tipo bélico,<br />

cualquier movimiento rápi<strong>do</strong> hubiese si<strong>do</strong> imposible<br />

sin contar con el <strong>do</strong>minio militar de la corriente<br />

<br />

ví<strong>as</strong> perpendiculares al río para conectarlo con<br />

l<strong>as</strong> diferentes zon<strong>as</strong> miner<strong>as</strong>, el hecho de la<br />

existencia de un tramo h<strong>as</strong>ta Praesidium desde<br />

la desembocadura por su orilla oriental, su<br />

continui<strong>da</strong>d hacia el norte al menos h<strong>as</strong>ta l<strong>as</strong><br />

cercaní<strong>as</strong> del Chanza, podría sustentar la hipótesis<br />

de la construcción de un tramo que conectara con<br />

la vía existente en Mértola, além rio, que aquí nos<br />

ha mostra<strong>do</strong> nuestro colega Virgílio López.<br />

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Bétique. París.<br />

30 AS VIAS DO ALGARVE


.IV A VIAGEM DE IBN AMMÂR DE SÃO BRÁS A SILVES<br />

ABDALLAH KHAWLI | MARIA ALICE FERNANDES | LUÍS FRAGA DA SILVA<br />

Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> | Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> | Campo Arqueológico de Tavira<br />

Oresumo<br />

O poeta, cortesão e político Ibn Ammâr iniciou a<br />

sua vi<strong>da</strong> pública muito jovem, por uma viagem entre<br />

a sua terra natal, Xanbr<strong>as</strong>, e a capital regional, Xilb.<br />

<br />

chega<strong>da</strong> à ci<strong>da</strong>de, história digna d<strong>as</strong> Mil e Uma<br />

Noites e de acor<strong>do</strong> com a dimensão trágica e maior-<br />

-que-a-vi<strong>da</strong> deste extraordinário personagem, por<br />

muitos considera<strong>do</strong> o maior poeta <strong>do</strong> al-An<strong>da</strong>lus.<br />

Aproveitan<strong>do</strong> a realização deste evento relativo<br />

ao estu<strong>do</strong> d<strong>as</strong> antig<strong>as</strong> estrad<strong>as</strong>, organiza<strong>do</strong> na<br />

terra natal de Ibn Ammâr, resolvemos evocar essa<br />

sua viagem reunin<strong>do</strong> três abor<strong>da</strong>gens de estu<strong>do</strong><br />

distint<strong>as</strong> sobre o cenário em que ela terá ocorri<strong>do</strong>:<br />

<br />

e a toponímia.<br />

É uma combinação pouco frequente m<strong>as</strong> cuja<br />

oportuni<strong>da</strong>de não quisemos deixar p<strong>as</strong>sar, como<br />

homenagem a Ibn Ammâr e como perspectiva de<br />

futuros trabalhos conjuntos.<br />

NOTA:<br />

Da<strong>da</strong> a extensão <strong>da</strong> comunicação a Câmara Municipal de São Brás<br />

de Alportel e os Autores optaram pela sua publicação oportuna, sob<br />

a forma de separata.<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 31


.V CAMINHOS DA TERRA E DO MAR NO ALGARVE MEDIEVAL<br />

LUÍS FILIPE OLIVEIRA<br />

Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong><br />

resumo<br />

A<br />

Através <strong>do</strong> recurso às informações disponíveis,<br />

sejam el<strong>as</strong> de natureza histórica, arqueológica, ou<br />

toponímica, procurou-se traçar um panorama <strong>do</strong>s<br />

principais eixos de comunicação que serviam a<br />

região durante a época medieval. Ain<strong>da</strong> que os <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

conheci<strong>do</strong>s e aproveitáveis não sejam muitos, nem<br />

<br />

de carácter inter-regional, em direcção às terr<strong>as</strong> <strong>do</strong><br />

norte, e conhecer, também, aquel<strong>as</strong> que serviam os<br />

núcleos urbanos <strong>do</strong> litoral.<br />

<br />

de mau piso e de trânsito difícil durante o Inverno,<br />

levou a que se valoriz<strong>as</strong>sem, num segun<strong>do</strong> momento,<br />

<strong>as</strong> deslocações feit<strong>as</strong> por mar, por rio, ou através<br />

<strong>do</strong>s canais <strong>da</strong> ria. Diversos testemunhos sugerem,<br />

de facto, a importância d<strong>as</strong> ligações marítim<strong>as</strong>,<br />

<strong>as</strong> quais contavam, aliás, com a protecção de um<br />

santo <strong>da</strong><strong>do</strong> às lides <strong>do</strong> mar e há muito <strong>as</strong>socia<strong>do</strong><br />

a um <strong>do</strong>s promontórios <strong>da</strong> região.<br />

A reconstituição <strong>da</strong> rede de estrad<strong>as</strong> e de caminhos<br />

que serviam a região durante a I<strong>da</strong>de Média não<br />

é uma tarefa fácil. Situa<strong>do</strong> numa d<strong>as</strong> estrem<strong>as</strong> <strong>do</strong><br />

1 , o <strong>Algarve</strong><br />

não era uma zona de p<strong>as</strong>sagem, sobretu<strong>do</strong> desde<br />

que foi anexa<strong>do</strong> pelos reis de Portugal e perdeu <strong>as</strong><br />

antig<strong>as</strong> ligações com a An<strong>da</strong>luzia e com o norte<br />

de África. Não era, também, um destino muito<br />

<br />

<br />

poucos foram os monarc<strong>as</strong> que se demoraram pela<br />

região 2 . Por isso, os itinerários régios não rendem<br />

a cópia de detalhes que oferecem para os espaços<br />

percorri<strong>do</strong>s pela Corte com maior <strong>as</strong>sidui<strong>da</strong>de, e<br />

só a espaços servem de guia para conhecer os<br />

eixos viários <strong>da</strong> região 3 . Por outro la<strong>do</strong>, essa lacuna<br />

<br />

inventário d<strong>as</strong> menções dispers<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> fontes, pois<br />

isso exige, em regra, uma grande m<strong>as</strong>sa <strong>do</strong>cumental,<br />

que infelizmente não existe, devi<strong>do</strong> à ausência de<br />

grandes fun<strong>do</strong>s monásticos e episcopais. Antes<br />

d<strong>as</strong> notíci<strong>as</strong> <strong>do</strong>cumentais <strong>do</strong> século XVI, mais ric<strong>as</strong><br />

e mais abun<strong>da</strong>ntes 4 , os itinerários usa<strong>do</strong>s pelos<br />

cavaleiros <strong>da</strong> reconquista são, talvez, aqueles que<br />

proporcionam <strong>da</strong><strong>do</strong>s mais completos sobre os<br />

caminhos existentes no território algarvio.<br />

Para conhecer o traça<strong>do</strong> d<strong>as</strong> vi<strong>as</strong> medievais há<br />

que convocar, por isso, outros contributos, desde<br />

1<br />

Para a análise <strong>da</strong> marginali<strong>da</strong>de que caracterizou o <strong>Algarve</strong> durante a I<strong>da</strong>de Média, veja-se A. H. de Oliveira Marques, “Para a História <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> Medieval”,<br />

Act<strong>as</strong> d<strong>as</strong> I Jornad<strong>as</strong> de História Medieval <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> e <strong>da</strong> An<strong>da</strong>luzia, Loulé, 1987, pp. 55-60; José Mattoso, “O <strong>Algarve</strong> na História Regional Portuguesa<br />

<strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média”, in O <strong>Algarve</strong> na perspectiva <strong>da</strong> Antropologia Ecológica, Lisboa, 1989, pp. 13-21; Luís Filipe Oliveira e José Mattoso, O <strong>Algarve</strong>, in José<br />

Mattoso, Suzanne Daveau e Duarte Belo, Portugal – O Sabor <strong>da</strong> Terra, Lisboa, 1997, sobretu<strong>do</strong> <strong>as</strong> pp. 5-13.<br />

2<br />

Cf. A. H. de Oliveira Marques, “Para a História…”, p. 56; Rita Costa Gomes, A Corte <strong>do</strong>s Reis de Portugal no Final <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média, Lisboa, 1995, pp. 247-248.<br />

3<br />

Na reconstituição <strong>da</strong> rede viária medieval feita a partir <strong>do</strong>s itinerários régios (cf. Júlia Galego, João Carlos Garcia e Mª Fernan<strong>da</strong> Alegria, Os Itinerários<br />

de D. Dinis, D. Pedro e D. Fernan<strong>do</strong>. Interpretação Gráfica, Lisboa, 1988, p. 50 ), é bem significativa a ausência de caminhos algarvios. Num trabalho mais<br />

recente sobre o povoamento <strong>do</strong> Sul (cf. Stéphane Boissellier, Le peuplemente Médiéval <strong>da</strong>ns le Sud du Portugal, Paris, 2003, pp. 243-254 e map<strong>as</strong> 23 e<br />

24), pouco mais se adiantou.<br />

4<br />

Além d<strong>as</strong> descrições geográfic<strong>as</strong> de Fr. João de S. José e de Henrique Sarrão (cf. Du<strong>as</strong> Descrições <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> <strong>do</strong> Século XVI, apresentação, leitura e not<strong>as</strong><br />

de Manuel Vieg<strong>as</strong> Guerreiro e de Joaquim Romero de Magalhães, Lisboa, 1983), tenham-se em conta os <strong>da</strong><strong>do</strong>s proporciona<strong>do</strong>s pelos livros de Visitação. Entre<br />

outros, veja-se Visitação <strong>da</strong> Ordem de Santiago ao <strong>Algarve</strong> 1517-1518, transcrição de Fernan<strong>do</strong> Calapêz e de António Vieg<strong>as</strong>, Loulé, 1996.<br />

32 AS VIAS DO ALGARVE


<strong>as</strong> fontes arqueológic<strong>as</strong> aos <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong> toponímia<br />

e ao inventário <strong>do</strong>s pontos de p<strong>as</strong>sagem —<br />

pontes, portos, vaus, barc<strong>as</strong>, portel<strong>as</strong>, estalagens,<br />

hospitais e albergari<strong>as</strong> 5 . Uma vez arrola<strong>do</strong>s os<br />

<br />

nem fecha<strong>do</strong>. Num segun<strong>do</strong> momento, importará<br />

<strong>da</strong>tar, com o máximo cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, os testemunhos<br />

recensea<strong>do</strong>s, para evitar que se atribua a uma<br />

época aquilo que pertence a outra, como é habitual<br />

acontecer com vári<strong>as</strong> pontes e calçad<strong>as</strong> 6 . De mo<strong>do</strong><br />

idêntico, convirá hierarquizar <strong>as</strong> vi<strong>as</strong> recensead<strong>as</strong>,<br />

pois nem tod<strong>as</strong> tinham a mesma importância e<br />

nem tod<strong>as</strong> eram objecto <strong>do</strong>s mesmos cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

de conservação. A atenção à antigui<strong>da</strong>de e à<br />

<br />

merca<strong>do</strong>s, pode jogar aqui um papel decisivo, pois<br />

<br />

de certos eixos, ou o tráfego de homens e de<br />

merca<strong>do</strong>ri<strong>as</strong> que circulava por alguns outros. O<br />

mesmo se diga, de resto, <strong>do</strong>s c<strong>as</strong>telos e d<strong>as</strong> torres<br />

medievais, pois a sua localização não era alheia<br />

à p<strong>as</strong>sagem de estrad<strong>as</strong>, ou à existência de bo<strong>as</strong><br />

entrad<strong>as</strong> marítim<strong>as</strong> 7 .<br />

<br />

<strong>as</strong> pouc<strong>as</strong> linh<strong>as</strong> que se seguem não procuram<br />

colmatar aquela lacuna, pois isso deman<strong>da</strong>ria<br />

uma investigação orienta<strong>da</strong>, que está por fazer.<br />

Destinam-se apen<strong>as</strong> a esboçar um panorama breve<br />

<strong>do</strong>s principais eixos de comunicação, aproveitan<strong>do</strong><br />

<br />

e pel<strong>as</strong> fontes publicad<strong>as</strong>. No fun<strong>do</strong>, devem ser<br />

<br />

e, sobretu<strong>do</strong>, como um convite à realização de<br />

trabalhos futuros.<br />

De um mo<strong>do</strong> geral, são <strong>as</strong> ligações inter-regionais<br />

aquel<strong>as</strong> que estão melhor <strong>do</strong>cumentad<strong>as</strong>. Por via<br />

<strong>do</strong>s itinerários <strong>da</strong> Reconquista, conhecem-se, pelo<br />

menos, du<strong>as</strong> ligações ao Alentejo: a que vinha<br />

de Aljustrel em direcção ao c<strong>as</strong>telo de Paderne,<br />

p<strong>as</strong>san<strong>do</strong> a serra por Ourique, e a que saía de<br />

Beja para Faro, com trânsito por Almodôvar, Salir e<br />

Loulé 8 . A última era, por certo, a mais importante,<br />

pois é provável que correspon<strong>da</strong> a uma antiga via<br />

<br />

medieval 9 . Foi essa, de resto, a p<strong>as</strong>sagem escolhi<strong>da</strong><br />

por Afonso III para levar a hoste régia até Faro 10 ,<br />

m<strong>as</strong> também, talvez, pelos reis Dinis e Afonso IV,<br />

n<strong>as</strong> únic<strong>as</strong> oc<strong>as</strong>iões em que visitaram aquela vila 11 .<br />

Pelo menos, a esta<strong>da</strong> posterior <strong>do</strong> último destes<br />

<br />

Mais para Ocidente, uma outra via ligava Silves a<br />

Beja, segun<strong>do</strong> o itinerário segui<strong>do</strong> pelo séquito <strong>do</strong> rei<br />

Dinis na outra vez que esteve em terr<strong>as</strong> algarvi<strong>as</strong> 12 .<br />

Graç<strong>as</strong> à deslocação de Pedro I ao <strong>Algarve</strong>, em<br />

1359 13 , sabe-se que essa estra<strong>da</strong> continuava até<br />

Lagos, e a <strong>do</strong>cumentação posterior não só atesta<br />

5<br />

As observações meto<strong>do</strong>lógic<strong>as</strong> de C. A. Ferreira de Almei<strong>da</strong> (Vi<strong>as</strong> Medievais. Entre Douro e Minho, diss. de licenciatura em História apresenta<strong>da</strong> à F. L.<br />

<strong>do</strong> Porto, 1968, pp. 45-96) são ain<strong>da</strong> muito úteis, apesar de terem qu<strong>as</strong>e quarenta anos.<br />

6<br />

Para a discussão de alguns c<strong>as</strong>os, veja-se João Pedro Bernardes e Luís Filipe Oliveira, A “Calçadinha” de S. Brás de Alportel e a Antiga Rede Viária <strong>do</strong><br />

<strong>Algarve</strong> Central, S. Brás de Alportel, 2002, pp. 19-25, 28-29; Sandra Rodrigues, As vi<strong>as</strong> roman<strong>as</strong> <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>, Faro, 2004, pp. 38-51, 68-72, 75-77, 86 e<br />

ss.; João Pedro Bernardes e Maria José Gonçalves, “A ponte velha”, Monumentos, nº 23, 2005, pp. 62-67.<br />

7<br />

Para a relação entre vi<strong>as</strong>, entrad<strong>as</strong> marítim<strong>as</strong> e c<strong>as</strong>telos, veja-se C. A. Ferreira de Almei<strong>da</strong>, C<strong>as</strong>telologia Medieval de Entre Douro e Minho, diss.<br />

complementar de <strong>do</strong>utoramento apresenta<strong>da</strong> à F. Letr<strong>as</strong> <strong>do</strong> Porto, 1978; A. Bazzana, P. Cressier, P. Guichard, Les Châteaux Ruraux D’Al-An<strong>da</strong>lus. Histoire<br />

et Archéologie des Husun du Sud Est de L’Espagne, Madrid, 1988, sobretu<strong>do</strong> <strong>as</strong> pp. 110-111, 122-124. A localização d<strong>as</strong> du<strong>as</strong> torres medievais<br />

<strong>do</strong>cumentad<strong>as</strong> no <strong>Algarve</strong>, a de Marim e a de Santo António <strong>do</strong> Alto, uma de finais <strong>do</strong> XIII, a outra <strong>do</strong> século XIV (cf. C. Nogueira e Silva, “As torres de vigia<br />

no antigo concelho de Faro”, Anais <strong>do</strong> Município de Faro, vols. XVII-XVIII, 1997-1998, pp. 126-127), não era estranha às entrad<strong>as</strong> e aos canais <strong>da</strong> ria.<br />

8<br />

Cf. Fr. Joaquim de S. Agostinho, “Sobre huma Chronica inedita <strong>da</strong> Conquista <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>”, Memori<strong>as</strong> de Litteratura Portugueza, tomo I, 1792, pp. 85, 94-95.<br />

Lê-se o mesmo relato na Crónica <strong>do</strong> Reino. Veja-se, Crónica de Portugal de 1419, edição crítica com introdução e not<strong>as</strong> de Adelino de Almei<strong>da</strong> Cala<strong>do</strong>,<br />

Aveiro, 1998, pp. 147, 156-157.<br />

9<br />

Cf. João Pedro Bernardes e Luís Filipe Oliveira, A Calçadinha…, pp. 51-55. Numa inquirição feita em Almodôvar na segun<strong>da</strong> metade <strong>do</strong> século XIV (cf.<br />

Inquirição sobre bens régios nos concelhos de C<strong>as</strong>tro Verde, Almodôvar e Padrões (1375-1376), introdução, edição e not<strong>as</strong> de Valentino Vieg<strong>as</strong>, Lisboa,<br />

1998, pp. 129, 138), há du<strong>as</strong> alusões ao caminho <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>. Noutro diploma de Fevereiro de 1421 (IAN/TT, Chancelaria de D. João I, Lv. 4, fl. 29 e v;<br />

Odiana, Lv. 1, fl. 58 e v.), a vila de Almodôvar foi caracteriza<strong>da</strong> como um local de muito trânsito, “per aazo <strong>do</strong>s mujtos camjnhantes que per elle hiam e<br />

vinham”.<br />

10<br />

f. Fr. Joaquim de S. Agostinho, “Sobre huma Chronica…”, p. 94; Crónica de Portugal de 1419, p. 156. Para a sua presença em Faro, veja-se João Alves<br />

Di<strong>as</strong>, “Itinerários de D. Afonso III (1245-1279)”, Arquivos <strong>do</strong> Centro Cultural Português, vol. XV, 1980, pp. 453-519.<br />

11<br />

Cf. Virgínia Rau et al, Itinerários Régios Medievais. I, Itinerário de D. Dinis, Lisboa, 1962, mapa anexo; Júlia Galego, João Carlos Garcia e M.ª Fernan<strong>da</strong><br />

Alegria, Os Itinerários. …, p. 13 e figs 3 e 4.<br />

12<br />

Cf. Virgínia Rau et al., Itinerários Régios…, p. 5 e mapa anexo.<br />

13<br />

Cf. Maria Teresa Campos Rodrigues, “O Itinerário de D. Pedro I (1357-1367)”, Ocidente, nova série, vol. LXXXII, 1972, p. 159; J. T. Montalvão Macha<strong>do</strong>,<br />

Itinerários de El-Rei D. Pedro I (1357-1367), Lisboa, 1978, pp. 23, 67-69.<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 33


a existência desse troço, como comprova a ligação<br />

entre Beja e Lagos 14 . No percurso a partir de Silves,<br />

talvez na zona <strong>do</strong> actual Porto de Lagos, saía dela<br />

um caminho para Monchique, seguin<strong>do</strong> depois, por<br />

certo, em direcção a Garvão e Alcácer <strong>do</strong> Sal 15 .<br />

Como já foi sugeri<strong>do</strong>, é possível que se trate de uma<br />

antiga via islâmica 16 .<br />

Para o <strong>Algarve</strong> Oriental, <strong>as</strong> notíci<strong>as</strong> conhecid<strong>as</strong> são<br />

mais esc<strong>as</strong>s<strong>as</strong> e tardi<strong>as</strong>. Ain<strong>da</strong> <strong>as</strong>sim, há notícia <strong>do</strong><br />

século XV a uma ligação entre Tavira e Beja 17 . Ignora-<br />

-se, porém, qual fosse o traça<strong>do</strong> desse caminho.<br />

Alicerça<strong>do</strong> na referência a Martim Longo que aí se<br />

encontra, Baquero Moreno fê-lo subir ao longo <strong>do</strong><br />

<br />

<br />

percurso pela margem <strong>do</strong> rio, pois a navegação<br />

<br />

mais cómo<strong>da</strong> e barata 18 . Um outro <strong>do</strong>cumento<br />

<br />

menção à p<strong>as</strong>sagem de uma estra<strong>da</strong> de Portugal<br />

pelo lugar de Corte Pequena 19 , parece sugerir um<br />

itinerário alternativo pela serra de Tavira, talvez<br />

com rumo a Martim Longo. Seja como for, tu<strong>do</strong><br />

indica que foi esta a via escolhi<strong>da</strong> por João I para<br />

fazer o percurso entre Tavira e a ci<strong>da</strong>de de Évora,<br />

em Setembro de 1415, depois de regressar ao reino<br />

após a conquista de Ceuta 20 . Talvez tenha si<strong>do</strong><br />

usa<strong>da</strong>, também, por Pedro I para o trajecto entre<br />

Tavira e Beja, no termo <strong>da</strong> viagem que fez pelo<br />

21 .<br />

À excepção <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> entre Faro e Beja, que mereceu<br />

a construção de du<strong>as</strong> pontes, uma em Ator, a outra<br />

perto de Almodôvar, amb<strong>as</strong> por certo no século<br />

XV 22 , n<strong>as</strong> restantes vi<strong>as</strong> <strong>as</strong> ribeir<strong>as</strong> p<strong>as</strong>savam-se a<br />

<br />

transitáveis, portanto, durante os meses de inverno.<br />

<br />

impraticável devi<strong>do</strong> à lama, pois os troços calceta<strong>do</strong>s<br />

eram raros, e, quan<strong>do</strong> existiam, não estavam longe<br />

<strong>do</strong>s núcleos habita<strong>do</strong>s. Qu<strong>as</strong>e tod<strong>as</strong> eram estreit<strong>as</strong><br />

e sinuos<strong>as</strong>, e, por vezes, mal se distinguiam <strong>do</strong>s<br />

<br />

Loulé para Portugal, que foi lavra<strong>da</strong> por um vizinho de<br />

Ator, segun<strong>do</strong> notícia de 1538 23 .<br />

Não devia ser, pois, muito intenso o tráfego<br />

que suportavam. Quem metia pés ao caminho,<br />

fazia-o certo <strong>da</strong> incomodi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> antes<br />

de encontrar uma estalagem para pernoitar.<br />

Quem arriscava a viagem, fazia-o geralmente<br />

acompanha<strong>do</strong>, que era a melhor forma de evitar<br />

qualquer surpresa e de pôr a vi<strong>da</strong> e os haveres<br />

a recato, em c<strong>as</strong>o de necessi<strong>da</strong>de. Aqueles que<br />

faziam <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> um mo<strong>do</strong> de vi<strong>da</strong>, como os<br />

almocreves e os merca<strong>do</strong>res, não viajavam sem <strong>as</strong><br />

arm<strong>as</strong> respectiv<strong>as</strong>. Alguns deles deviam manejá-l<strong>as</strong><br />

tão bem como <strong>as</strong> moed<strong>as</strong>, como sugere o exemplo<br />

<strong>da</strong>quele merca<strong>do</strong>r cristão de mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século<br />

XIII, que se dispôs a aju<strong>da</strong>r os freires de Santiago<br />

cerca<strong>do</strong>s pelos muçulmanos junto a Tavira 24 . Tal<br />

como eles, acabaria por falecer em combate, sen<strong>do</strong><br />

14<br />

Cf. Luís Filipe Oliveira, “Uma fortificação islâmica <strong>do</strong> termo de Silves: O C<strong>as</strong>telo Belinho”, Arqueologia Medieval, n.º 6, 1999, pp. 41-42; H. Baquero<br />

Moreno, “Alguns <strong>do</strong>cumentos para o estu<strong>do</strong> d<strong>as</strong> estrad<strong>as</strong> medievais portugues<strong>as</strong>”, Sep. <strong>da</strong> Revista d<strong>as</strong> Ciênci<strong>as</strong> <strong>do</strong> Homem, Lourenço Marques, vol. V, sér.<br />

A, 1972, <strong>do</strong>c. n.º 6 <strong>do</strong> apêndice. Este último Autor, ao desenhar em mapa o traça<strong>do</strong> desta via, não a fez p<strong>as</strong>sar por Silves, m<strong>as</strong> por Bensafrim, sem que<br />

tenha justifica<strong>do</strong> tal opção.<br />

15<br />

Cf. Luís Filipe Oliveira, “Uma fortificação islâmica…”, p. 41. Transpunha a ribeira de Odelouca por meio de uma ponte, já <strong>do</strong>cumenta<strong>da</strong> em finais <strong>do</strong><br />

século XIV.<br />

16<br />

Cf. J. Garcia Domingues, “O Garb Extremo <strong>do</strong> An<strong>da</strong>luz e «Bortuqal» nos Historia<strong>do</strong>res e Geógrafos Árabes”, Boletim <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de de Geografia de<br />

Lisboa, Julho-Dezembro de 1960, p. 353 e mapa à p. 355.<br />

17<br />

Cf. H. Baquero Moreno, “Alguns <strong>do</strong>cumentos….”, <strong>do</strong>c. n.º 6 <strong>do</strong> apêndice.<br />

18<br />

A navegação entre Mértola e a Foz <strong>do</strong> Guadiana era um fenómeno antigo, estan<strong>do</strong> atesta<strong>da</strong> por um diploma de Janeiro de 1272 (José Marques. “Os<br />

c<strong>as</strong>telos algarvios <strong>da</strong> Ordem de Santiago no Reina<strong>do</strong> de D. Afonso III”, Act<strong>as</strong> d<strong>as</strong> I Jornad<strong>as</strong> de História Medieval <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> e An<strong>da</strong>luzia, Loulé, 1987, <strong>do</strong>c.<br />

nº 6 <strong>do</strong> apêndice <strong>do</strong>cumental), no qual se menciona o pão e o vinho “que per mare portantur ad Mertolam per focem d’Udiana a moratoribus de Mertola”.<br />

Em inícios <strong>do</strong> século XVI, foi seguramente de barco que Duarte de Arm<strong>as</strong> fez a viagem de C<strong>as</strong>tro Marim a Mértola, pois limitou-se a anotar os afluentes<br />

<strong>do</strong> Guadiana e a existência de caminhos fragosos. Veja-se Duarte de Arm<strong>as</strong>, Livro d<strong>as</strong> Fortalez<strong>as</strong>, introdução de Manuel <strong>da</strong> Silva C<strong>as</strong>telo Branco, 2ª ed.,<br />

Lisboa, 1997, fl. 134.<br />

19<br />

Cf. Luís Filipe Oliveira, “Os C<strong>as</strong>telos <strong>do</strong> Leitejo: Um alcácer islâmico na serra de Tavira”, Act<strong>as</strong> <strong>do</strong> II Encontro de Arqueologia <strong>do</strong> Su<strong>do</strong>este Peninsular<br />

(Faro, 7 e 8 Novembro de 1996), Faro, 2004, p. 259.<br />

20<br />

Cf. H. Baquero Moreno, Os Itinerários de El-Rei Dom João I (1384-1433), Lisboa, 1988, pp. 143, 146, 340.<br />

21<br />

Cf. Maria Teresa Campos Rodrigues, “O Itinerário …”, p. 159; J. T. Montalvão Macha<strong>do</strong>, Itinerários …, pp. 23, 68.<br />

22<br />

Cf. João Pedro Bernardes e Luís Filipe Oliveira, A Calçadinha…, pp. 53-54. Para a ponte de Almodôvar, veja-se http: www.ippar.pt/patrimonio/itinerarios/<br />

pontes_alentejo<br />

23<br />

Cf. Joaquim Romero de Magalhães, Para o Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> Económico durante o século XVI, Lisboa, 1979, p. 187.<br />

24<br />

Cf. Fr. Joaquim de S. Agostinho, “Sobre huma Chronica…”, p. 90; Crónica de Portugal de 1419, p. 152.<br />

34 AS VIAS DO ALGARVE


incluí<strong>do</strong> entre os sete mártires sepulta<strong>do</strong>s na igreja<br />

de Santa Maria <strong>da</strong>quela vila 25 .<br />

Os p<strong>as</strong>tores e os seus animais deviam ser, de resto,<br />

os principais utiliza<strong>do</strong>res desses caminhos. Em busca<br />

d<strong>as</strong> p<strong>as</strong>tagens que faltavam nos campos <strong>do</strong> litoral,<br />

ou mesmo em trânsito para a feira de Ourique 26 ,<br />

ou para <strong>as</strong> mest<strong>as</strong> de C<strong>as</strong>tro Verde. A reunião <strong>do</strong><br />

ga<strong>do</strong> <strong>do</strong> vento, quer dizer, sem <strong>do</strong>no, que to<strong>do</strong>s<br />

os anos se fazia naquela vila, de acor<strong>do</strong> com uma<br />

inquirição de 1376 27 , era certamente oc<strong>as</strong>ião de bons<br />

negócios. O volume de transacções devia ser muito<br />

<br />

cambista régio em Almodôvar 28 —, sen<strong>do</strong> provável<br />

que atraísse, portanto, muitos <strong>do</strong>s p<strong>as</strong>tores e <strong>do</strong>s<br />

cria<strong>do</strong>res algarvios. Segun<strong>do</strong> a cita<strong>da</strong> inquirição de<br />

1376 29 , não eram raros os mora<strong>do</strong>res de Faro e de<br />

Loulé que tinham proprie<strong>da</strong>des em Almodôvar.<br />

Infelizmente, conhecem-se pior <strong>as</strong> estrad<strong>as</strong> de<br />

âmbito regional, que uniam <strong>as</strong> divers<strong>as</strong> vil<strong>as</strong> e portos<br />

<strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>. Diversos indícios sugerem, contu<strong>do</strong>, a<br />

importância <strong>da</strong> via longitudinal de Lagos a C<strong>as</strong>tro<br />

Marim, que deve corresponder a uma antiga estra<strong>da</strong><br />

romana, como foi recentemente <strong>as</strong>sinala<strong>do</strong> 30 . Na<br />

Primavera de 1359, troços dessa estra<strong>da</strong> foram<br />

certamente usa<strong>do</strong>s por Pedro I na sua deslocação<br />

entre Lagos e Tavira 31 , embora nesse trajecto o<br />

monarca tenha visita<strong>do</strong> Silves e Loulé, antes de<br />

rumar a Faro. O percurso dessa via estava, aliás,<br />

devi<strong>da</strong>mente <strong>as</strong>sinala<strong>do</strong> pela distribuição d<strong>as</strong><br />

estalagens privilegiad<strong>as</strong> existentes na região, embora<br />

algum<strong>as</strong> del<strong>as</strong> se destin<strong>as</strong>sem a acolher, também,<br />

quem viajava por mar. D<strong>as</strong> oito que se conhecem,<br />

havia du<strong>as</strong> em Lagos e três em Tavira, enquanto<br />

Faro, Loulé e Albufeira tinham uma ca<strong>da</strong> 32 .<br />

Entre Silves e Loulé, é possível que Pedro I tivesse<br />

circula<strong>do</strong> pela via interior que unia aquela ci<strong>da</strong>de a<br />

Tavira, com p<strong>as</strong>sagem por Messines e pelo c<strong>as</strong>telo<br />

de Salir. Na<strong>da</strong> o testemunha, embora esse fosse um<br />

itinerário antigo, em uso durante a época medieval 33 .<br />

Mais af<strong>as</strong>ta<strong>do</strong> <strong>do</strong> litoral e <strong>do</strong>s principais núcleos<br />

urbanos, <strong>da</strong>va lugar a deslocações mais discret<strong>as</strong>, ou<br />

menos vigiad<strong>as</strong>. Isso explica, aliás, que os cavaleiros<br />

de Santiago o tenham usa<strong>do</strong> como um eixo de<br />

penetração n<strong>as</strong> terr<strong>as</strong> <strong>do</strong> interior, mesmo para lá de<br />

Loulé, durante <strong>as</strong> expedições lançad<strong>as</strong> a partir de<br />

Cacela 34 . Ao longo dessa via, no sítio <strong>do</strong> Desbarato e<br />

junto à ribeira <strong>do</strong> Almargem, tiveram lugar alguns <strong>do</strong>s<br />

encontros militares mais importantes entre os freires<br />

de Santiago e os mouros de Faro e de Tavira. Um<br />

diploma posterior atesta, de resto, a manutenção<br />

de um caminho público entre a ribeira <strong>da</strong> Asseca e<br />

35 .<br />

Destes vários eixos, partiam outros caminhos de<br />

interesse local, — em direcção às hort<strong>as</strong>, às vinh<strong>as</strong> e<br />

<br />

mais densos junto à costa e rarean<strong>do</strong> para o interior.<br />

São eles os que aparecem com menor frequência na<br />

<strong>do</strong>cumentação conheci<strong>da</strong>, apesar de um<strong>as</strong> quant<strong>as</strong><br />

menções dispers<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> fontes. Devi<strong>do</strong> ao aumento<br />

<br />

— por mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVI, Faro tem sete nov<strong>as</strong><br />

freguesi<strong>as</strong> rurais e Loulé cinco 36 —, é provável que a<br />

25<br />

Ain<strong>da</strong> que ambos os textos, cita<strong>do</strong>s na nota anterior, mencionem a sepultura na igreja, a existência de um culto organiza<strong>do</strong> <strong>do</strong>cumenta-se apen<strong>as</strong> na<br />

crónica de 1419 (ibidem, p. 257), ao referir-se a protecção que estes conferiram à vila por oc<strong>as</strong>ião <strong>do</strong> cerco de Afonso XI de C<strong>as</strong>tela. O mesmo episódio<br />

foi cita<strong>do</strong> por Fr. João de S. José. Veja-se Du<strong>as</strong> Descrições <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> …, pp. 73-74.<br />

26<br />

Cf. Virgínia Rau, Feir<strong>as</strong> Medievais Portugues<strong>as</strong>. Subsídios para o seu estu<strong>do</strong>, Lisboa, 1982, pp. 113-114. A carta de feira <strong>da</strong>ta de 14 de Junho de<br />

1288. Sobre o papel <strong>da</strong> serra na criação de ga<strong>do</strong>, veja-se Joaquim Romero de Magalhães, “Ga<strong>do</strong> e paisagem: o <strong>Algarve</strong> nos séculos XV a XVIII, Livro de<br />

Homenagem a Orlan<strong>do</strong> Ribeiro, Lisboa, 1988, 2º vol., pp. 83-92<br />

27<br />

Cf. Inquirição sobre bens régios nos concelhos …, pp. 179, 185, 193-194<br />

28<br />

Cf. Filipe Themu<strong>do</strong> Barata, “Negócios e crédito: complexi<strong>da</strong>de e flexibili<strong>da</strong>de d<strong>as</strong> prátic<strong>as</strong> creditíci<strong>as</strong> (século XV)”, Análise Social, vol. XXXI, 1996, p.<br />

691 e nt. 24.<br />

29<br />

Cf. Inquirição sobre bens régios nos concelhos …, pp. 54, 138, 142, 149, 236.<br />

30<br />

Cf. Sandra Rodrigues, As vi<strong>as</strong> roman<strong>as</strong> …, pp. 38-51.<br />

31<br />

Cf. Maria Teresa Campos Rodrigues, “O Itinerário …”, p. 159; J. T. Montalvão Macha<strong>do</strong>, Itinerários …, pp. 23, 67-68.<br />

32<br />

Cf. Iria Gonçalves, “Privilégios de Estalajadeiros Portugueses”, Imagens <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> Medieval, Lisboa, 1988, pp. 150-151.<br />

33<br />

Cf. João Pedro Bernardes e Luís Filipe Oliveira, A Calçadinha…, pp. 39-40, 53; Sandra Rodrigues, As vi<strong>as</strong> roman<strong>as</strong> …, pp. 77-79.<br />

34<br />

Cf. Fr. Joaquim de S. Agostinho, “Sobre huma Chronica…”, pp. 86-88; Crónica de Portugal de 1419, pp. 148-150. Para a geografia dess<strong>as</strong> an<strong>da</strong>nç<strong>as</strong>,<br />

veja-se Joaquim Romero de Magalhães, “Uma Interpretação <strong>da</strong> Crónica <strong>da</strong> Conquista <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>”, Act<strong>as</strong> d<strong>as</strong> II Jornad<strong>as</strong> Luso- Espanhol<strong>as</strong> de História<br />

Medieval, Porto, 1987, vol. I, pp. 123-133.<br />

35<br />

Cf. João Pedro Bernardes e Luís Filipe Oliveira, A Calçadinha…, p. 50.<br />

36<br />

Cf. João Luís Inglês Fontes, “Entre Faro e Loulé: a terra <strong>da</strong> «Senhora Santa Bárbara» (séculos XIII-XVI)”, in João Pedro Bernardes e Luís Filipe Oliveira<br />

(coords.), A Terra de Santa Bárbara. A História, a Igreja e a Memória d<strong>as</strong> gentes de Nexe, Santa Bárbara, 2006 (no prelo), Quadro IV. Sobre a evolução<br />

demográfica <strong>da</strong> região nessa época, veja-se Joaquim Romero de Magalhães, Para o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>…, pp. 17-18, 34-38.<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 35


densi<strong>da</strong>de de tais ligações secundári<strong>as</strong> conhecesse<br />

<br />

<strong>da</strong> época moderna mostram já, com efeito, uma<br />

profusão de estrad<strong>as</strong> e de caminhos irradian<strong>do</strong> a<br />

partir <strong>do</strong>s principais núcleos urbanos e rurais 37 .<br />

Na rede de comunicações algarvi<strong>as</strong> o mar tinha,<br />

no entanto, uma importância decisiva. Quer na<br />

facha<strong>da</strong> atlântica, quer na mediterrânea, a<br />

navegação costeira contava com diversos portos<br />

de estuário e com vári<strong>as</strong> ensead<strong>as</strong> naturais. Os<br />

canais <strong>da</strong> ria ofereciam, também, outros portos de<br />

abrigo, além de permitirem deslocações segur<strong>as</strong><br />

a embarcações de menor cala<strong>do</strong>, entre Cacela<br />

e o porto <strong>do</strong> Lu<strong>do</strong>. São poucos os testemunhos<br />

desta navegação costeira, m<strong>as</strong> uma disposição de<br />

João I, infelizmente sem <strong>da</strong>ta, que se conserva<br />

n<strong>as</strong> Ordenações Afonsin<strong>as</strong>, atesta a circulação<br />

de barc<strong>as</strong> entre os vários portos <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>, a<br />

sol<strong>do</strong> <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>res que carregavam vinhos <strong>da</strong><br />

região 38 . As facili<strong>da</strong>des de comunicação por mar<br />

tinham, aliás, condiciona<strong>do</strong> algum<strong>as</strong> operações de<br />

reconquista, pois exigiram a presença de forç<strong>as</strong><br />

navais de bloqueio. Foi o que sucedeu na primeira<br />

conquista de Silves, tal como meio século depois<br />

na de Faro, m<strong>as</strong> também, por certo, quan<strong>do</strong> se<br />

tomaram os c<strong>as</strong>telos de Cacela e de Ayamonte 39 .<br />

Com a anexação <strong>do</strong> território pela Coroa portuguesa,<br />

em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIII, o <strong>Algarve</strong> tornou-se uma<br />

região de fronteira, m<strong>as</strong> a activi<strong>da</strong>de marítima <strong>do</strong>s<br />

seus portos não desapareceu por completo. Entre<br />

os locais cita<strong>do</strong>s pela lei com que Afonso III queria<br />

<br />

encontravam-se qu<strong>as</strong>e to<strong>do</strong>s os portos <strong>da</strong> região,<br />

desde Aljezur a Ayamonte, p<strong>as</strong>san<strong>do</strong> por Lagos,<br />

Silves, Porches, Faro, Tavira e Cacela 40 . Sabe-se<br />

pouco <strong>do</strong> movimento desses portos, sobretu<strong>do</strong><br />

durante a segun<strong>da</strong> metade <strong>do</strong> século XIII, m<strong>as</strong> os<br />

privilégios <strong>do</strong>s homens <strong>do</strong> mar em alguns forais —<br />

Silves (1266) e C<strong>as</strong>tro Marim (1277) 41 , entre outros<br />

—, sugerem certo dinamismo. O “lucro Sarracenico”<br />

menciona<strong>do</strong> na <strong>do</strong>ação <strong>do</strong> c<strong>as</strong>telo de Albufeira à<br />

ordem de Avis, em Março de 1250, tinha aí, por<br />

certo, um grande peso, e, na oc<strong>as</strong>ião, o monarca<br />

não deixou de promover a iniciativa <strong>da</strong> milícia e<br />

<strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res <strong>da</strong> vila, <strong>do</strong>an<strong>do</strong>-lhes o quinto d<strong>as</strong><br />

pres<strong>as</strong> ganh<strong>as</strong> com os navios que arm<strong>as</strong>sem contra<br />

os mouros 42 . N<strong>as</strong> águ<strong>as</strong> <strong>do</strong> estreito, o corso e<br />

os ataques às povoações <strong>do</strong> litoral eram, como<br />

se sabe, muito frequentes, não deven<strong>do</strong> ser raros<br />

os barcos e <strong>as</strong> tripulações algarvi<strong>as</strong> envolvid<strong>as</strong><br />

ness<strong>as</strong> acções, em regra muito lucrativ<strong>as</strong>. Graç<strong>as</strong><br />

a um diploma de Agosto de 1332 43 , conhece-se a<br />

identi<strong>da</strong>de de um corsário régio em Tavira, m<strong>as</strong><br />

outr<strong>as</strong> notíci<strong>as</strong> posteriores, <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> metade<br />

<br />

importância <strong>do</strong> corso que se desenvolvia a partir<br />

<strong>do</strong>s portos de Faro e de Tavira 44 .<br />

N<strong>as</strong> margens <strong>do</strong> corso, praticava-se o comércio, e o<br />

corsário no mar era, por vezes, o merca<strong>do</strong>r em terra 45 .<br />

A <strong>do</strong>ação de Albufeira à ordem de Avis já mencionava<br />

37<br />

Cf. Du<strong>as</strong> Descrições <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> …, pp. 21 e ss. O mo<strong>do</strong> como Henrique Sarrão descreveu o território foi analisa<strong>do</strong> por João Carlos Garcia, “A percepção <strong>do</strong><br />

espaço numa corografia setecentista <strong>do</strong> reino <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>”, II Jornad<strong>as</strong> de História sobre An<strong>da</strong>lucia y el Algarbe (siglos XII-XVIII). Act<strong>as</strong>, Sevilha, 1990, pp. 97-116.<br />

38<br />

Ordenações Afonsin<strong>as</strong>, fac-simile <strong>da</strong> edição de 1792, Lisboa, 1984, Lv. II, tit. LVII, pp. 334-335.<br />

39<br />

Cf. António C<strong>as</strong>tro Henriques, Conquista <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> (1189-1249). O Segun<strong>do</strong> Reino, Lisboa, 2003, pp. 32, 57-58, 80-81.<br />

40<br />

Cf. Portugaliae Monumenta Historica. Leges et Consuetudines, Lisboa, 1856, vol. I, pp. 253-254. Para a inserção desta lei no contexto <strong>da</strong> disputa com<br />

C<strong>as</strong>tela sobre o reino <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>, veja-se Mário Sousa Cunha, A Ordem Militar de Santiago (D<strong>as</strong> origens a 1327), diss. de mestra<strong>do</strong> apresenta<strong>da</strong> à Fac.<br />

de Letr<strong>as</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Porto, 1991, pp. 86-88; Carlos Ayala Martínez, “L<strong>as</strong> órdenes militares y los processos de afirmación monárquica en C<strong>as</strong>tilla<br />

y Portugal (1250-1350), Revista <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Letr<strong>as</strong> – História, 2ª série, vol. XV, 1998, pp. 1290-1291.<br />

41<br />

Cf. Luís Miguel Duarte, “A Marinha de Guerra Portuguesa”, in Manuel Themu<strong>do</strong> Barata e Nuno Severiano Teixeira (dirs.), Nova História Militar de<br />

Portugal, Lisboa, 2003, vol. I, pp. 296, 299. O foral de Silves foi objecto de uma tradução recente (cf. Forais de Silves, ed. de M.ª Filomena Andrade, estu<strong>do</strong><br />

introdutório de Manuela Santos Silva, Silves, 1993, pp. 23-25). Para o de C<strong>as</strong>tro Marim, veja-se Portugaliae Monumenta Historica. Leges …, vol II, pp. 734-<br />

736. Para os outros forais algarvios, veja-se ibidem, vol. I, pp. 706 e ss.<br />

42<br />

Cf. Monarquia Lusitana, fac-simile <strong>da</strong> edição de 1632, com introdução de A. <strong>da</strong> Silva Rego e not<strong>as</strong> de A. Di<strong>as</strong> Farinha, Lisboa, 1974, vol. IV, <strong>do</strong>c. n.º XXVI.<br />

O diploma existe no fun<strong>do</strong> <strong>da</strong> ordem de Avis (IAN/TT, M.C.O., Ordem de Avis / C. S. Bento, Cx. 2, Mç. 2, n.º 71), em tresla<strong>do</strong> de 5 de Novembro de 1271.<br />

43<br />

Cf. Descobrimentos Portugueses — <strong>do</strong>cumentos para a sua história, ed. de J. M. <strong>da</strong> Silva Marques, Lisboa, 1944 , vol. I, n.º 55. O diploma foi de novo publica<strong>do</strong><br />

pelos editores <strong>da</strong> chancelaria de Afonso IV (Chancelari<strong>as</strong> Portugues<strong>as</strong>. D. Afonso IV, ed. de A. H. de Oliveira Marques e Teresa F. Rodrigues, Lisboa, 1990, vol.<br />

I, n.º 305), onde se encontram outr<strong>as</strong> referênci<strong>as</strong> a corsários (ibidem, vol. II, n.º 99 e vol. III, n.º 340 e 415), embora sem ligação ao <strong>Algarve</strong>.<br />

44<br />

Cf. Luís Adão <strong>da</strong> Fonseca e José Augusto Pizarro, “Algum<strong>as</strong> considerações sobre o comércio externo algarvio na época medieval”, Act<strong>as</strong> d<strong>as</strong> I Jornad<strong>as</strong><br />

de História Medieval <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> e <strong>da</strong> An<strong>da</strong>luzia, Loulé, 1987, pp. 74-75; Filipe Themu<strong>do</strong> Barata, Navegação, Comércio e Relações Polític<strong>as</strong>: Os Portugueses<br />

no Mediterrâneo Ocidental (1385-1466), Lisboa, 1998, pp. 227, 306, 317, 321 e <strong>do</strong>cs. n.º 1, 49 e 200 <strong>do</strong> apêndice IV.<br />

45<br />

Cf. Luís Miguel Duarte, “A Marinha de Guerra…, p. 300; Filipe Themu<strong>do</strong> Barata, Navegação, Comércio …, pp. 295-296. Nos contratos de frete, previa-se<br />

muit<strong>as</strong> vezes a hipótese de os navios se dedicarem ao corso durante a viagem, como notou o último destes Autores.<br />

36 AS VIAS DO ALGARVE


a presença nesse porto de navios com merca<strong>do</strong>ri<strong>as</strong><br />

vind<strong>as</strong> de França e <strong>do</strong>utros lugares, e a <strong>do</strong>cumentação<br />

<br />

com a An<strong>da</strong>luzia e com o norte <strong>da</strong> Europa, desde<br />

46 . Ao que tu<strong>do</strong> indica, <strong>as</strong> ligações<br />

mais intens<strong>as</strong> faziam-se com <strong>as</strong> ci<strong>da</strong>des costeir<strong>as</strong> <strong>da</strong><br />

An<strong>da</strong>luzia, pois o comércio algarvio era em grande<br />

medi<strong>da</strong> coman<strong>da</strong><strong>do</strong> pela carência de cereais. Para aí<br />

seguia o vinho e a fruta <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>, embora o peixe<br />

<strong>da</strong> região também cheg<strong>as</strong>se ao merca<strong>do</strong> de Sevilha<br />

segun<strong>do</strong> notícia de 1302 47 , e aquel<strong>as</strong> merca<strong>do</strong>ri<strong>as</strong> se<br />

export<strong>as</strong>sem para outros portos <strong>da</strong> Europa. A antiga<br />

ligação à An<strong>da</strong>luzia mantinha-se, <strong>as</strong>sim, com novos<br />

contactos, facto que talvez possa explicar a presença<br />

de vários algarvios — vin<strong>do</strong>s de Porches, de Loulé, de<br />

Faro e de Tavira — entre os povoa<strong>do</strong>res de Jerez de<br />

la Frontera, em 1264 48 .<br />

Com a participação <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> n<strong>as</strong> rot<strong>as</strong><br />

<br />

sobretu<strong>do</strong>, com <strong>as</strong> conquist<strong>as</strong> em África e <strong>as</strong><br />

navegações atlântic<strong>as</strong>, tornou-se mais visível a<br />

importância d<strong>as</strong> ligações marítim<strong>as</strong> na economia<br />

<strong>da</strong> região. Os testemunhos anteriores são, contu<strong>do</strong>,<br />

dem<strong>as</strong>ia<strong>do</strong> eloquentes para se esquecer o papel<br />

<strong>do</strong> mar nos contactos entre os vários núcleos<br />

urbanos <strong>do</strong> litoral, ou destes com <strong>as</strong> outr<strong>as</strong> regiões<br />

<strong>do</strong> reino e <strong>da</strong> Europa. O interesse crescente <strong>do</strong>s<br />

monarc<strong>as</strong> pelo culto a S. Vicente, em particular de<br />

Afonso III e de Afonso IV, ou, depois, <strong>do</strong>s reis <strong>da</strong><br />

din<strong>as</strong>tia de Avis, também os levara a olhar pelo seu<br />

santuário em terr<strong>as</strong> algarvi<strong>as</strong> 49 , como se o santo<br />

fosse convoca<strong>do</strong> a proteger <strong>as</strong> an<strong>da</strong>nç<strong>as</strong> pelo mar<br />

<strong>do</strong>s homens <strong>da</strong> terra.<br />

46<br />

Cf. Luís Adão <strong>da</strong> Fonseca e José Augusto Pizarro, “Algum<strong>as</strong><br />

considerações sobre o comércio…”, pp. 62-66; Luís Adão <strong>da</strong> Fonseca, “As<br />

Relações Comerciais entre Portugal e os Reinos Peninsulares nos Séculos<br />

XIV e XV”, Act<strong>as</strong> d<strong>as</strong> II Jornad<strong>as</strong> Luso- Espanhol<strong>as</strong> de História Medieval,<br />

Porto, 1987, vol. II, pp. 547-550,553-559.<br />

47<br />

Cf. Manuel Gonzalez-Jimenez, “La Pesca en An<strong>da</strong>lucia (siglos XIII-XV)”,<br />

Cadernos Históricos, Lagos, vol. VI, 1995, p. 47.<br />

48<br />

Cf. Henrique David, “Os Portugueses nos Livros de «Repartimiento»<br />

<strong>da</strong> An<strong>da</strong>luzia (Século XIII), Act<strong>as</strong> d<strong>as</strong> I Jornad<strong>as</strong> de História Medieval <strong>do</strong><br />

<strong>Algarve</strong> e <strong>da</strong> An<strong>da</strong>luzia, Loulé, 1987, pp. 283-285.<br />

49<br />

Cf. Maria Isabel Di<strong>as</strong>, Culto e Memória Textual de S. Vicente, diss. de<br />

<strong>do</strong>utoramento em Literatura apresenta<strong>da</strong> à Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>, Faro,<br />

2003, pp. 47 e ss. Sobre a <strong>as</strong>sociação <strong>do</strong>s monarc<strong>as</strong> às insígni<strong>as</strong> <strong>do</strong> santo<br />

e a relação <strong>do</strong> seu culto com o mar, veja-se Luís Krus, “O Mar”, in XVII<br />

Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura. Madre de Deus, Lisboa,<br />

1983, pp. 269-271; Idem, “S. Vicente e o Mar: D<strong>as</strong> Relíqui<strong>as</strong> às Moed<strong>as</strong>”,<br />

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Homenagem a Orlan<strong>do</strong> Ribeiro, Lisboa, 1988, 2º vol., pp. 83-92.<br />

38 AS VIAS DO ALGARVE


.VI<br />

DE BAESURIS A PAX IVLIA POR ARANNIS<br />

MANUEL MAIA<br />

Campo Arqueológico de Tavira<br />

resumo<br />

H<br />

Há anos que persigo esta estranha via que sain<strong>do</strong><br />

de C<strong>as</strong>tro Marim para Beja, p<strong>as</strong>sa por Balsa,<br />

Ossonoba, Arannis e Salatia() antes de chegar<br />

à capital <strong>do</strong> Conventus. É certo que não tenho<br />

dedica<strong>do</strong> cem por cento <strong>do</strong> meu tempo ao seu<br />

estu<strong>do</strong>, no entanto, tem se <strong>da</strong><strong>do</strong> a circunstância<br />

de ao longo <strong>do</strong>s últimos 35 anos to<strong>da</strong> a minha<br />

investigação no campo <strong>da</strong> Arqueologia e <strong>da</strong> História<br />

Antiga se desenrolar ao longo <strong>do</strong> seu percurso.<br />

<br />

de Arannis, reconheci, nos municípios de Almodôvar<br />

e de Mértola uma parte <strong>do</strong> seu traça<strong>do</strong> e venho a<br />

descobrir que o seu traça<strong>do</strong>, através <strong>da</strong> Serra <strong>do</strong><br />

Caldeirão, depois de cruzar esc<strong>as</strong>sos quilómetros<br />

<strong>do</strong> concelho de Alcoutim, percorre <strong>as</strong> freguesi<strong>as</strong> de<br />

Cachopo e Santa Catarina <strong>da</strong> Fonte <strong>do</strong> Bispo onde<br />

<br />

desta via.<br />

É <strong>da</strong> maior justiça salientar que os estu<strong>do</strong>s que<br />

nos últimos anos tenho vin<strong>do</strong> a realizar sobre<br />

este sistema viário só têm si<strong>do</strong> possíveis graç<strong>as</strong> à<br />

colaboração <strong>do</strong> nosso colega e amigo Luís Fraga<br />

<br />

alguns percursos e para distinguir quan<strong>do</strong> é que a<br />

via romana era aberta de novo ou em que pontos<br />

seguia trajectos pré existentes.<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 39


Tomei contacto com este itinerário quan<strong>do</strong> aluno<br />

<strong>do</strong> curso de História, era-nos apresenta<strong>da</strong> como<br />

prova de que o Itinerário de Antonino não é um<br />

guia de estrad<strong>as</strong> nem, muito menos, uma lista de<br />

trajectos directos, trata-se na, reali<strong>da</strong>de, de um<br />

listagem de itineraria.<br />

Durante anos a minha investigação p<strong>as</strong>sou ao<br />

la<strong>do</strong> deste itinerário, ain<strong>da</strong> que os meus trabalhos<br />

de arqueologia, quer no Baixo Alentejo quer no<br />

<strong>Algarve</strong>, se tenham desenrola<strong>do</strong> sempre ao longo<br />

<strong>do</strong> seu percurso.<br />

Antes de p<strong>as</strong>sar ao estu<strong>do</strong> deste conjunto de<br />

<br />

prévios que se relacionam com pressupostos<br />

completamente erra<strong>do</strong>s e que têm prejudica<strong>do</strong> o<br />

estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> rede viária romana em Portugal. Ain<strong>da</strong><br />

que este tema tenha si<strong>do</strong> trata<strong>do</strong>, e bem, por V<strong>as</strong>co<br />

Mant<strong>as</strong> (Mant<strong>as</strong> 1996: 67) parece-me útil relembrar<br />

alguns desses pressupostos.<br />

A saber:<br />

1º - Uma via romana tem sempre um traça<strong>do</strong><br />

rectilíneo e vence os obstáculos que se lhe<br />

atravessam, com to<strong>da</strong> a violência, crian<strong>do</strong> diques e<br />

taludes, pontes e portos para atravessar linh<strong>as</strong> de<br />

água. Era necessário seguir a direito.<br />

2º - Via romana é sinónimo de calça<strong>da</strong>. Se há<br />

calça<strong>da</strong> há via romana, se não esta não existe.<br />

3º - Numa via romana encontram-se sempre pontes.<br />

4º - Com o Itinerário de Antonino e o auxílio <strong>do</strong><br />

ravenate podemos reconstituir o traça<strong>do</strong> de uma via.<br />

Tem se esqueci<strong>do</strong> que já no perío<strong>do</strong> romano<br />

o dinheiro era caro. Para quê ir a direito se a<br />

transposição <strong>do</strong> obstáculo pela construção de<br />

obr<strong>as</strong> de arte pode sair mais cara <strong>do</strong> que um<br />

desvio para evitar uma zona estuarina ou de sapal.<br />

Se existe um rio, ain<strong>da</strong> que pequeno que termine<br />

num largo sapal, não construíam uma ponte dique<br />

sobre os lo<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> com um desvio de um ou<br />

<strong>do</strong>is quilómetros podiam localizar um ponto onde<br />

o curso de água se podia transpor a vau Ou,<br />

então, num ponto onde o sapal fosse muito mais<br />

estreito, construir um dique eleva<strong>do</strong> sobre os lo<strong>do</strong>s<br />

e depois uma pequena ponte para transpor o curso<br />

de água.<br />

Porque razão construir pontes para ultrap<strong>as</strong>sar<br />

pequen<strong>as</strong> linh<strong>as</strong> de água torrenciais como no c<strong>as</strong>o<br />

de qu<strong>as</strong>e to<strong>do</strong> o Sul de Portugal ou o Norte de<br />

África Em c<strong>as</strong>o de grande enxurra<strong>da</strong> aguar<strong>da</strong>vam<br />

um ou <strong>do</strong>is di<strong>as</strong> até poderem p<strong>as</strong>sar. M<strong>as</strong> est<strong>as</strong><br />

são rar<strong>as</strong>.<br />

Em zona montanhosa, como a nossa serra <strong>do</strong><br />

Caldeirão para quê fazer estrad<strong>as</strong> subin<strong>do</strong> e<br />

descen<strong>do</strong> encost<strong>as</strong> a direito quan<strong>do</strong> durante a<br />

maior parte <strong>do</strong> ano se pode transitar, a pé enxuto,<br />

pelo leito <strong>da</strong> maior parte <strong>do</strong>s cursos de água ou<br />

a meia encosta se <strong>as</strong> ribeir<strong>as</strong> vão chei<strong>as</strong> E já<br />

pensaram, os que conhecem a Serra <strong>do</strong> Caldeirão,<br />

em quais os animais que teriam força para subir<br />

ess<strong>as</strong> encost<strong>as</strong>, para mais carrega<strong>do</strong>s. E como<br />

poderiam manter o equilíbrio sem se despenhar<br />

por el<strong>as</strong> abaixo. Convém não esquecer que há<br />

muit<strong>as</strong> encost<strong>as</strong> nesta Serra com mais de 45º de<br />

inclinação.<br />

Seria pura perca de tempo e de dinheiro construir<br />

calçad<strong>as</strong> sobre terrenos esqueléticos, como são<br />

a maioria <strong>do</strong>s existentes no Sul <strong>do</strong> nosso País,<br />

pelo que <strong>as</strong> calçad<strong>as</strong> seriam desnecessári<strong>as</strong>.<br />

Imaginem o que seria de eixos e rod<strong>as</strong> partid<strong>as</strong><br />

se houvesse necessi<strong>da</strong>de de fazer transitar uma<br />

biga, a galope, por uma longa calça<strong>da</strong> romana.<br />

Apen<strong>as</strong> pesa<strong>do</strong>s carros de bois poderiam transitar<br />

por estrad<strong>as</strong> completamente empedrad<strong>as</strong>. É certo<br />

que <strong>as</strong> calçad<strong>as</strong> tinham que ser tapad<strong>as</strong> com terra<br />

<br />

o que acontece a uma estra<strong>da</strong> feita na actuali<strong>da</strong>de<br />

depois de um perío<strong>do</strong> de chuva intensa. Lembremo-<br />

-nos de que <strong>as</strong> calçad<strong>as</strong> eram apen<strong>as</strong> cobert<strong>as</strong><br />

com terra que, por muito calca<strong>da</strong> que fosse, teria<br />

tendência para ser arr<strong>as</strong>ta<strong>da</strong> pela água deixan<strong>do</strong><br />

<strong>as</strong> lajes à vista.<br />

Visto estes primeiros pressupostos há ain<strong>da</strong> mais<br />

alguns pontos que necessitam ser esclareci<strong>do</strong>s<br />

como sejam:<br />

O que interessa numa via romana Apen<strong>as</strong> o<br />

seu traça<strong>do</strong> estu<strong>da</strong><strong>do</strong> na perspectiva <strong>da</strong> obra<br />

de engenharia Conhecer tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> estações por<br />

onde p<strong>as</strong>sa Ou analisar to<strong>da</strong> a sua envolvente, ou<br />

<br />

servia<br />

Qualquer dest<strong>as</strong> hipóteses é váli<strong>da</strong> e, por uma<br />

questão de méto<strong>do</strong>, como é evidente, convém<br />

começar pela primeira.<br />

40 AS VIAS DO ALGARVE


Em 1984, a Câmara Municipal de C<strong>as</strong>tro Verde ao<br />

proceder a obr<strong>as</strong> de ampliação <strong>do</strong> cemitério de<br />

uma d<strong>as</strong> freguesi<strong>as</strong> <strong>do</strong> concelho, Santa Bárbara<br />

de Padrões, pôs a descoberto algum<strong>as</strong> estrutur<strong>as</strong><br />

roman<strong>as</strong>. O autarca pediu-nos para aí fazermos<br />

uma intervenção e tivemos oportuni<strong>da</strong>de de, no<br />

topo <strong>da</strong> colina, por trás <strong>da</strong> Igreja, descobrir, parte<br />

de uma b<strong>as</strong>ílica paleocristã <strong>da</strong>tável <strong>do</strong> século IV-<br />

-V. Dez anos mais tarde em nova ampliação <strong>do</strong><br />

<br />

votivo secundário de lucern<strong>as</strong> roman<strong>as</strong> (Maia e<br />

Maia 1998).<br />

Aquan<strong>do</strong> <strong>da</strong> descoberta <strong>da</strong> b<strong>as</strong>ílica pudemos<br />

observar que esta tinha si<strong>do</strong> construí<strong>da</strong> sobre<br />

e aproveitan<strong>do</strong> parte de uma estrutura balnear<br />

romana.<br />

<br />

a igreja, estava junca<strong>da</strong> de materiais romanos.<br />

Nos muros d<strong>as</strong> hort<strong>as</strong> <strong>da</strong> aldeia, eram visíveis<br />

grandes plac<strong>as</strong> de opus signinum niti<strong>da</strong>mente<br />

reaproveita<strong>do</strong>s como material de construção.<br />

A área abrangi<strong>da</strong> pelos vestígios romanos era tão<br />

v<strong>as</strong>ta que não podíamos estar na presença de uma<br />

vila rústica, por muito grande que fosse.<br />

<br />

uma pequena notícia de Leite de V<strong>as</strong>concellos<br />

(Leite de V<strong>as</strong>concellos: 1931) que, numa excursão<br />

ao Baixo Alentejo, esteve em Santa Bárbara de<br />

<br />

v<strong>as</strong>tidão d<strong>as</strong> ruín<strong>as</strong> e ten<strong>do</strong> observa<strong>do</strong> a existência<br />

de um troço de grossa muralha, hoje já totalmente<br />

<br />

arqueológica como uma ci<strong>da</strong>de romana. O grande<br />

mestre, porém, não adiantou o topónimo <strong>da</strong> civit<strong>as</strong>.<br />

<br />

nos podia adiantar porque nem em Santa Bárbara,<br />

nem num raio de mais de 10 km tinha si<strong>do</strong> recolhi<strong>da</strong><br />

qualquer epígrafe romana. Em Plínio (NH IV-118), para<br />

uma região b<strong>as</strong>tante v<strong>as</strong>ta em que se inclui esta aldeia<br />

<strong>do</strong> Baixo Alentejo, vêm menciona<strong>do</strong>s os aranditani e<br />

no Itinerário dito de Antonino, a 60 mp de Ossonoba é<br />

coloca<strong>da</strong> Arannis. Santa Bárbara de Padrões localiza-<br />

-se exactamente a 60 mp ou seja a 89 Km de Faro.<br />

<br />

Arannis com Garvão, o que não<br />

faz qualquer senti<strong>do</strong>: Primeiro porque a distância<br />

a Ossonoba é muito superior, segun<strong>do</strong> porque<br />

<br />

proto-histórico, foi aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong> de<br />

Augusto e não voltou a ter ocupação romana,<br />

pelo que seria um fenómeno estranho que um<br />

Itinerário <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Antoninos mencion<strong>as</strong>se<br />

como ponto referenciavel um local despovoa<strong>do</strong> há<br />

já três séculos.<br />

Em Garvão p<strong>as</strong>sa uma estra<strong>da</strong> romana, vin<strong>da</strong> de<br />

Monchique, por Sabóia, onde existe uma ponte<br />

romana, m<strong>as</strong> nunca foi Arannis.<br />

Não tenho, portanto, qualquer dúvi<strong>da</strong> de que Santa<br />

Arannis.<br />

<br />

estra<strong>da</strong> há que reconstituir o seu traça<strong>do</strong>.<br />

<br />

percurso de uma via romana: Percorren<strong>do</strong>-o. No<br />

entanto há que ter em atenção que ao longo de<br />

qu<strong>as</strong>e 2000 anos esse traça<strong>do</strong> se alterou quer por<br />

acção humana quer <strong>do</strong>s elementos. Quant<strong>as</strong> vezes<br />

ao percorrer uma estra<strong>da</strong> romana não a perdemos<br />

Mesmo uma <strong>da</strong>quel<strong>as</strong> estrad<strong>as</strong> imperiais com tod<strong>as</strong><br />

<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> <strong>do</strong>s manuais.<br />

M<strong>as</strong> percorrer uma via romana é tarefa dura. Na<br />

maior parte <strong>do</strong>s c<strong>as</strong>os nem com veículos to<strong>do</strong> o<br />

terreno é possível fazer esses percursos. Há que a<br />

seguir de mochila às cost<strong>as</strong> calcorrean<strong>do</strong> montes<br />

e vales quant<strong>as</strong> vezes por sítios onde o mato já<br />

ocupou o traça<strong>do</strong> <strong>da</strong> estra<strong>da</strong>.<br />

<br />

a carta militar, é um auxiliar precioso. M<strong>as</strong> por<br />

vezes mesmo na carta a via desaparece e aí temos<br />

que estu<strong>da</strong>r a toponímia e principalmente, a micro<br />

toponímia para conseguirmos deslin<strong>da</strong>r este<br />

problema quan<strong>do</strong> ele é resolúvel.<br />

Como nunca apreciei grandes caminhad<strong>as</strong> há mais<br />

de vinte anos que estu<strong>do</strong> este itinerário.<br />

Tenho vin<strong>do</strong> a utilizar outro sistema. Como nos<br />

últimos vinte e nove ou trinta anos, tenho dirigi<strong>do</strong><br />

a minha investigação para o Baixo Alentejo e<br />

para Zon<strong>as</strong> <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> que ladeiam esta “Via”, é<br />

fácil tropeçar aqui ou ali no seu traça<strong>do</strong>, tomar<br />

<br />

<strong>as</strong> narrativ<strong>as</strong> <strong>da</strong>queles que, ten<strong>do</strong> n<strong>as</strong>ci<strong>do</strong> e<br />

viven<strong>do</strong> na Serra, até há poucos anos utilizavam<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 41


o seu traça<strong>do</strong> para se deslocarem ao litoral, o<br />

<strong>Algarve</strong>, ou ás grandes feir<strong>as</strong> <strong>do</strong> Baixo Alentejo,<br />

C<strong>as</strong>tro Verde e Garvão.<br />

Antes de me debruçar sobre o trajecto deste<br />

itinerário, convém esclarecer que de Baesuris a Pax<br />

Ivlia por Arannis e Salatia não existe uma via m<strong>as</strong><br />

sim um conjunto de pelo menos quatro estrad<strong>as</strong> ou<br />

troços de estra<strong>da</strong> que formam este Iter.<br />

A Estra<strong>da</strong> ou, melhor, este sistema viário, iniciava-<br />

-se a Norte de C<strong>as</strong>tro Marim. Baesuris era então<br />

uma ilha, e a via partia de sítio seco. Muito<br />

possivelmente iniciava-se onde começava a que<br />

se dirigia a Pax Iulia per compendium. Ou seja<br />

aquela que seguia em grande parte pela margem<br />

<strong>do</strong> Guadiana ou n<strong>as</strong> su<strong>as</strong> proximi<strong>da</strong>des, p<strong>as</strong>sava<br />

por Mértola e seguia até Beja.<br />

Desse ponto a via contornava o sapal que então<br />

chegava até Altura, sapal e conjunto de esteiros que<br />

ain<strong>da</strong> hoje atinge S. Bartolomeu de C<strong>as</strong>tro Marim e<br />

de que a Alagoa é o último vestígio. P<strong>as</strong>sava pela<br />

Lota, dirigia-se às imediações de Cacela e seguia<br />

até à Conceição. Depois desta povoação havia que<br />

ultrap<strong>as</strong>sar um obstáculo de certa envergadura, o<br />

largo sapal <strong>da</strong> foz <strong>do</strong> Almargem. Há quem preten<strong>da</strong><br />

que a via atravessava esta zona alagadiça a<br />

direito, pelo local onde hoje se encontra a ponte<br />

de caminho de ferro 1 <br />

no mínimo, de desconhecimento <strong>da</strong> toponímia.<br />

Sain<strong>do</strong> <strong>do</strong> local onde hoje se localiza a povoação<br />

<strong>da</strong> Conceição, a via ia vencer o sapal um pouco a<br />

montante <strong>da</strong> actual EN 125. Na encosta que bordeja<br />

a margem esquer<strong>da</strong> <strong>do</strong> Almargem, existe um antigo<br />

caminho conheci<strong>do</strong> localmente por Calçadinha,<br />

topónimo regista<strong>do</strong> na folha 608 <strong>da</strong> Carta Militar,<br />

e que se dirige, sobre um pequeno talude/dique<br />

para a ponte, em cavalete, que franqueia aquele<br />

curso de água.<br />

Ao contrário de V<strong>as</strong>co Mant<strong>as</strong> (Mant<strong>as</strong> 1997:316)<br />

e de Sandra Rodrigues (Rodrigues 2004: 87 e 90),<br />

considero esta ponte como romana.<br />

1º Porque <strong>as</strong> pontes em cavalete são mais típic<strong>as</strong><br />

<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> romano que <strong>do</strong> medieval.<br />

2º Porque <strong>as</strong> aduel<strong>as</strong> <strong>do</strong>s arcos são tipicamente<br />

roman<strong>as</strong>.<br />

3º Porque o topónimo calçadinha refere, precisamente<br />

o caminho que até ela conduz.<br />

O surto de urbanização, que atacou a área<br />

compreendi<strong>da</strong> entre o Almargem e a ci<strong>da</strong>de de<br />

Tavira, impede que ain<strong>da</strong> possamos localizar,<br />

no terreno, qualquer vestígio <strong>da</strong> estra<strong>da</strong>. Temos<br />

<br />

<br />

a estra<strong>da</strong> entraria no local onde hoje é Tavira e<br />

que há época não era habita<strong>do</strong>, pelo Alto de São<br />

Brás, descia ao sítio onde hoje é o Jardim <strong>da</strong><br />

Alagoa e p<strong>as</strong>sava a vau para a margem direita <strong>do</strong><br />

Séqua que seria atingi<strong>da</strong> por altur<strong>as</strong> <strong>da</strong> estação<br />

<strong>da</strong> Ro<strong>do</strong>viária. A Ponte Velha de Tavira não tem<br />

qualquer vestígio de construção romana, nem na<br />

b<strong>as</strong>e, nem nos arcos e muito menos no tabuleiro.<br />

Saben<strong>do</strong> que ela já existia ao tempo <strong>da</strong> conquista<br />

cristã <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e examinan<strong>do</strong> bem o seu estilo,<br />

concluímos que ela é de construção islâmica,<br />

muito possivelmente almóa<strong>da</strong>.<br />

A Estra<strong>da</strong> seguia <strong>da</strong>qui pela Bela Fria até ao actual<br />

Alto <strong>do</strong> Cano, dirigia-se <strong>da</strong>í para a zona <strong>da</strong> Atalaia e<br />

seguia pela antiga estra<strong>da</strong> de Santa Luzia dirigin<strong>do</strong>-<br />

-se para Balsa. Da Atalaia saía outra via que também<br />

se dirigia a Balsa, junto desta via, no presente<br />

conheci<strong>da</strong> como caminho d<strong>as</strong> salin<strong>as</strong>, foi destruí<strong>do</strong><br />

um cemitério romano (Anica, 1993).<br />

De Balsa esta via dividia-se em <strong>do</strong>is percursos: Um<br />

dirigia-se para Norte pelo Marco e iria até Santa<br />

Catarina <strong>da</strong> Fonte <strong>do</strong> Bispo, outro dirigia-se até<br />

às proximi<strong>da</strong>des de Moncarapacho, contornan<strong>do</strong><br />

<strong>as</strong>sim o grande golfo e sapal que constituía a parte<br />

<br />

porém, bem como o <strong>da</strong> que sai de Faro para Santa<br />

Catarina <strong>da</strong> Fonte <strong>do</strong> Bispo, por Moncarapacho,<br />

será apresenta<strong>do</strong>, em pormenor, pelo Dr. Luís<br />

Fraga <strong>da</strong> Silva, também ele sócio <strong>do</strong> Campo<br />

Arqueologico de Tavira.<br />

Iniciarei, <strong>as</strong>sim, a descrição desta parte <strong>do</strong> Itinerário,<br />

a via de Ossonoba e Balsa para Pax Ivlia (Fraga,<br />

1<br />

Rodrigues, S. As vi<strong>as</strong> Roman<strong>as</strong> <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>, Faro, 2004. p. 43<br />

42 AS VIAS DO ALGARVE


<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 43


2003), pela actual povoação de Santa Catarina <strong>da</strong><br />

Fonte <strong>do</strong> Bispo, onde Luís Fraga descobriu um bom<br />

troço de calça<strong>da</strong> na margem <strong>da</strong> ribeira <strong>do</strong> Lagar 2 .<br />

Daqui seguiria para Norte por Porto Carvalhoso,<br />

cujo topónimo denuncia a p<strong>as</strong>sagem <strong>da</strong> ribeira de<br />

Alportel e onde já foi recolhi<strong>do</strong> material romano.<br />

Dirigia-se depois para Bem Parece e Água de Fusos<br />

<br />

A via que conduzia a Beja seguia pelo Monte <strong>da</strong><br />

Estra<strong>da</strong>, topónimo bem esclarece<strong>do</strong>r, Merca<strong>do</strong>r e,<br />

pela Calça<strong>da</strong> <strong>do</strong>s Mouros (Maia, M.G.P. 2001) próximo<br />

<strong>da</strong> Portela e <strong>da</strong>qui por Taip<strong>as</strong>, Alcari<strong>as</strong> e Santa Justa<br />

até Giões. Cruzaria o V<strong>as</strong>cão pelo porto tradicional<br />

<strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pelo C<strong>as</strong>telo d<strong>as</strong> Relíqui<strong>as</strong> (Catarino,<br />

1997/98) e subiria a São Bartolomeu de Via Glória.<br />

<br />

bifurcava, seguin<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s caminhos para Mértola<br />

onde entroncaria na via de Baesuris a Pax Ivlia<br />

per compendium e outra pelo Cerro <strong>da</strong> Má Noite,<br />

conheci<strong>da</strong> na região por Estradinha <strong>da</strong> Corcha, n<strong>as</strong><br />

proximi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> C<strong>as</strong>telo <strong>do</strong> Manuel Galo (Maia, M<br />

1986), seguiria também para Mértola um pouco<br />

<br />

dirigia a Norte, por Arannis, de Água de Fusos<br />

seguiria por Cabeça de Velho, no concelho de São<br />

Brás de Alportel, C<strong>as</strong>telão, Feiteira, Valeira, Mealha<br />

e Alcari<strong>as</strong> de Pêro Guerreiro atingin<strong>do</strong> o Monte <strong>da</strong><br />

Estra<strong>da</strong>, no concelho de Alcoutim. Curiosamente,<br />

numa distância relativamente curta, existem <strong>do</strong>is<br />

topónimos iguais, Monte <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong>. Deste monte a<br />

2<br />

Luís Fraga <strong>da</strong> Silva www.arqueotavira.com<br />

44 AS VIAS DO ALGARVE


BIBLIOGRAFIA<br />

via continuava pelo Moinho <strong>do</strong> Pereirão e prosseguia<br />

dirigin<strong>do</strong> se para a povoação de Pessegueiro, na<br />

freguesia de Martim Longo, n<strong>as</strong> proximi<strong>da</strong>des <strong>da</strong><br />

qual franqueava o V<strong>as</strong>cão, seguin<strong>do</strong> depois pelo<br />

Monte <strong>do</strong> C<strong>as</strong>telejo, São Pedro de Solis, no concelho<br />

de Mértola e prosseguin<strong>do</strong> pela Alcaria d<strong>as</strong> Bich<strong>as</strong>,<br />

Min<strong>as</strong> <strong>do</strong> Barrigão, Miguenzes, Caia<strong>da</strong>, Her<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

Espanca (Correa, 1993), Sete, p<strong>as</strong>saria por Santa<br />

Bárbara de Padrões (Mapa1).<br />

Entre São Pedro de Solis e a Her<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Espanca,<br />

zona com vários pontos alagadiços, são frequentes<br />

os troços de calça<strong>da</strong>.<br />

Uma derivação, af<strong>as</strong>tan<strong>do</strong>-se <strong>da</strong> anterior no<br />

Moinho <strong>do</strong> Pereirão, atravessava o V<strong>as</strong>cão por<br />

um porto existente junto <strong>da</strong> ponte actual, subia<br />

para Santa Cruz, no concelho de Almodôvar. Neste<br />

município, a estra<strong>da</strong> seguia pelo Monte d<strong>as</strong> Viúv<strong>as</strong>,<br />

Monte <strong>da</strong> Vinha, Semblana e Senhora <strong>da</strong> Graça de<br />

Padrões, penetran<strong>do</strong> de segui<strong>da</strong> no território de<br />

C<strong>as</strong>tro Verde, onde p<strong>as</strong>sava por Lomba<strong>do</strong>r e Santa<br />

Bárbara de Padrões a Antiga Arannis. Prosseguia<br />

depois para Norte conhecen<strong>do</strong>-a nós até à Vila de<br />

Entrad<strong>as</strong> onde entroncaria numa via que, vin<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

litoral se dirigia a Beja (Mapa 2).<br />

ALARCÃO, Jorge, Portugal Romano. Tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> edições desde<br />

1974.<br />

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Tavira.<br />

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29, Lisboa, 1931, pp. 230 - 246.<br />

MAIA, Manuel, 1986, “Os C<strong>as</strong>tella <strong>do</strong> Sul de Portugal”, in,<br />

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1997 “Os caminhos <strong>da</strong> serra e <strong>do</strong> mar”in Noventa séculos<br />

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RODRIGUES, Sandra, 2004, As vi<strong>as</strong> roman<strong>as</strong> <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>.<br />

Faro.<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 45


.VII<br />

O TERRITÓRIO DE MÉRTOLA E AS VIAS DE<br />

COMUNICAÇÃO NO PERÍODO ROMANO<br />

VIRGÍLIO LOPES<br />

Campo Arqueológico de Mértola<br />

enquadramento<br />

histórico<br />

A<br />

A história <strong>do</strong> burgo de Mértola foi, desde sempre,<br />

fortemente condiciona<strong>da</strong> por <strong>do</strong>is factores que<br />

mol<strong>da</strong>ram a sua ocupação e a sua importância<br />

ao longo <strong>do</strong> tempo. Em primeiro lugar, a sua<br />

localização estratégica: implanta<strong>do</strong> no topo<br />

de uma elevação ladea<strong>da</strong> pelo rio Guadiana,<br />

a n<strong>as</strong>cente, e pela ribeira de Oeir<strong>as</strong>, a poente,<br />

possuía excelentes condições naturais de<br />

defesa. Em segun<strong>do</strong>, o ser ponto extremo <strong>da</strong><br />

navegabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> rio Guadiana: a montante <strong>da</strong><br />

vila, o acidente geológico <strong>do</strong> Pulo <strong>do</strong> Lobo, com um<br />

desnível de catorze metros, impede a progressão<br />

de embarcações para norte, pelo que Mértola<br />

adquire importância fun<strong>da</strong>mental como último<br />

porto de acostagem. Esses factores tornaram-<br />

-na num importante entreposto mercantil, em<br />

permanente contacto com um v<strong>as</strong>to território<br />

interno e com o Mar Mediterrâneo. Pelo porto<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de escoavam-se, por exemplo, o ouro,<br />

a prata e o cobre extraí<strong>do</strong>s d<strong>as</strong> entranh<strong>as</strong> <strong>da</strong><br />

faixa piritosa ibérica 1 em particular os minerais<br />

provenientes d<strong>as</strong> min<strong>as</strong> de S. Domingos,<br />

localizad<strong>as</strong> na margem esquer<strong>da</strong> <strong>do</strong> Guadiana,<br />

de Vip<strong>as</strong>ca (Aljustrel) ou <strong>do</strong>s “chapéus de ferro”,<br />

explora<strong>do</strong>s na zona a Oeste de Mértola, estan<strong>do</strong><br />

certamente relaciona<strong>do</strong>s com a exploração e<br />

transporte desse minério os c<strong>as</strong>tella localiza<strong>do</strong>s<br />

1<br />

OLIVEIRA, J. T. de e OLIVEIRA, V., 1996 p. 11.<br />

46 AS VIAS DO ALGARVE


nesta área 2 . E, claro está, ao porto arribavam<br />

<strong>as</strong> gentes de mil paragens e os mais diversos<br />

produtos e artefactos.<br />

A importância de Mértola é também indissociável<br />

<strong>da</strong> sua excelente localização. Ao nível regional:<br />

estava situa<strong>da</strong> no percurso <strong>da</strong> via terrestre que<br />

ligava, desde o Bronze Final, o próspero reino de<br />

Tartesso à foz <strong>do</strong> Sa<strong>do</strong> e ao estuário <strong>do</strong> Tejo, via<br />

essa por onde se encaminhava para o Mediterrâneo<br />

o estanho vin<strong>do</strong> <strong>do</strong> Norte de Portugal e <strong>da</strong> Beira<br />

Interior 3 . Ela atravessava o Alentejo entre a foz <strong>do</strong><br />

Sa<strong>do</strong> e o Guadiana, através <strong>do</strong> qual se ligava ao<br />

Sul <strong>da</strong> An<strong>da</strong>luzia.<br />

Est<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> vão <strong>da</strong>r a Mértola um importante<br />

papel nos processos históricos subsequentes,<br />

pois <strong>as</strong> estrad<strong>as</strong> e o rio não transportam somente<br />

merca<strong>do</strong>ri<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> também e, principalmente, <strong>as</strong><br />

idei<strong>as</strong> e <strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> <strong>da</strong>queles que <strong>as</strong> percorrem,<br />

<br />

visitam. Quanto maior é o número de visitantes<br />

estrangeiros, quanto mais é facilita<strong>do</strong> o contacto<br />

com eles, maior e mais marcante será a a<strong>do</strong>pção<br />

de outr<strong>as</strong> referênci<strong>as</strong> culturais, num senti<strong>do</strong> largo,<br />

e menos conserva<strong>do</strong>ra a sua evolução. Mértola,<br />

terra de comércio, é, sem dúvi<strong>da</strong>, um local onde<br />

essa miscigenação deixou marc<strong>as</strong> relevantes.<br />

o território de Myrtilis<br />

A riqueza mineira <strong>da</strong> área envolvente de Mértola<br />

e o facto desta ter desempenha<strong>do</strong> uma função<br />

portuária importante trouxeram a esta ci<strong>da</strong>de<br />

os comerciantes e os sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s de Roma. Foram<br />

<br />

um horizonte cronológico que vai desde os inícios<br />

<strong>do</strong> século II a.C. até ao século VIII.<br />

As primeir<strong>as</strong> prospecções arqueológic<strong>as</strong><br />

sistemátic<strong>as</strong> foram realizad<strong>as</strong> desde a décad<strong>as</strong><br />

de 70 <strong>do</strong> século XX por Manuel e Maria Maia nos<br />

concelhos de C<strong>as</strong>tro Verde, Mértola, Almodôvar<br />

e Alcoutim. Est<strong>as</strong> prospecções tiveram como<br />

<br />

estrutur<strong>as</strong> de povoamento romano e vieram a<br />

<br />

c<strong>as</strong>tella 4 Este tipo de estrutur<strong>as</strong>, marca<strong>da</strong>mente<br />

defensiv<strong>as</strong>, tem como paradigma arquitectónico<br />

o c<strong>as</strong>telo <strong>da</strong> Lousa (Mourão). A distribuição deste<br />

tipo de monumentos coincide com a faixa piritosa<br />

ibérica que se estende desde a serra <strong>da</strong> Caveira<br />

ao Guadiana e termina n<strong>as</strong> Min<strong>as</strong> de Rio Tinto e<br />

Tarsis (Huelva, Espanha). De facto, e no geral, el<strong>as</strong><br />

estão situad<strong>as</strong> ao longo deste veio mineralífero; no<br />

entanto, existe uma excepção que é o C<strong>as</strong>telo <strong>da</strong><br />

Lousa que não parece inserir-se em áre<strong>as</strong> mineir<strong>as</strong>,<br />

m<strong>as</strong> antes corresponder à defesa de uma d<strong>as</strong> rar<strong>as</strong><br />

zon<strong>as</strong> de p<strong>as</strong>sagem naquele troço <strong>do</strong> rio Guadiana.<br />

Os penh<strong>as</strong>cos xistosos <strong>do</strong> Baixo Alentejo eram<br />

ricos, não apen<strong>as</strong> em cobre, chumbo ou ferro,<br />

como se pensou até há pouco, m<strong>as</strong> também, e<br />

principalmente, em ouro e prata, extraí<strong>do</strong>s em<br />

quanti<strong>da</strong>de apreciáveis e sem grandes trabalhos<br />

de mineração nos chama<strong>do</strong>s chapéus de ferro.<br />

<br />

oxigénio <strong>do</strong> ar, sofriam o processo <strong>da</strong> oxigenação e de<br />

lexiviação provoca<strong>do</strong> pel<strong>as</strong> águ<strong>as</strong> d<strong>as</strong> chuv<strong>as</strong>. O ouro<br />

e a prata menos corruptíveis, iam-se concentran<strong>do</strong><br />

nestes chapéus de ferro de onde eram colhi<strong>do</strong>s<br />

sem grandes revovimentos de terr<strong>as</strong> 5 .<br />

A este respeito refere Juan Aurélio Pérez Maci<strong>as</strong> “a<br />

maioria <strong>do</strong>s estabelecimentos mineiros de época<br />

romana caracterizam-se pela sua dispersão”<br />

explicáveis pelo facto “<strong>do</strong>s minerais aparecerem<br />

em m<strong>as</strong>s<strong>as</strong> separad<strong>as</strong>” 6 . Na reali<strong>da</strong>de, <strong>as</strong> condições<br />

2<br />

MAIA, M., 1986, pp. 195-223, e MAIA, M. e MAIA, M. 1996, pp. 60-81.<br />

3<br />

ALARCÃO, J., 1989, p. 41.<br />

4<br />

MAIA, M., 1986, pp. 195-223.<br />

5<br />

TORRES C., 1992, p. 190.<br />

6<br />

PÉREZ MACIAS, J. A., 1986, p. 35.<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 47


geológico-mineir<strong>as</strong> <strong>da</strong> faixa piritosa Ibérica dão<br />

chapéus de ferro que<br />

exigem uma exploração de tipo não-concentra<strong>do</strong>.<br />

Um modelo diferente, certamente mais rentável,<br />

deste território seria a exploração <strong>da</strong> Mina de<br />

S. Domingos, de onde se exploravam <strong>as</strong> pirites<br />

de ferro cuprífero, sulfuretos de cobre, chumbo e<br />

zinco, prata e ouro, explorad<strong>as</strong> em poços verticais<br />

e <strong>as</strong>sociad<strong>as</strong> a estrutur<strong>as</strong> habitacionais roman<strong>as</strong> e<br />

espólio com cronologia entre o século I e o IV 7 .<br />

Com o projecto augustano de reorganização<br />

administrativa <strong>da</strong> Hispânia, foi cria<strong>da</strong> por<br />

Augusto, em 16 a.C., a província <strong>da</strong> Lusitânia. Esta<br />

reestruturação abarcou <strong>as</strong>pectos tais como a<br />

fun<strong>da</strong>ção de civitates e delimitação <strong>do</strong>s territórios<br />

d<strong>as</strong> ci<strong>da</strong>des 8 .<br />

Segun<strong>do</strong> um mapa d<strong>as</strong> civitates publica<strong>do</strong> pelo<br />

professor J. Alarcão 9 os territórios <strong>da</strong> civitate de<br />

seriam delimita<strong>do</strong>s a n<strong>as</strong>cente pelo rio<br />

Chança ou um pouco mais para oriente, “pelos festos<br />

<strong>do</strong>s principais acidentes de terreno que <strong>as</strong>sinalam o<br />

início <strong>do</strong> Andévalo” 10 na actual província de Huelva.<br />

Era também a oriente que oriental, que se fazia a<br />

confrontação <strong>do</strong>s territórios d<strong>as</strong> provínci<strong>as</strong> <strong>da</strong><br />

Lusitânia com os <strong>da</strong> Bética. Para os geógrafos antigos,<br />

designa<strong>da</strong>mente Plínio e Pompónio Mela, a separação<br />

<strong>da</strong> Lusitânia e <strong>da</strong> Bética era feita pelo rio An<strong>as</strong>.<br />

No entanto, a moderna investigação demonstrou de<br />

maneira inequívoca, por diferentes indícios, que uma<br />

parte <strong>do</strong>s territórios <strong>da</strong> margem esquer<strong>da</strong> <strong>do</strong> rio<br />

Guadiana pertencia, de facto à Lusitânia 11 .<br />

A Norte, os limites <strong>do</strong> territorium de <br />

confrontava com o de Pax Iulia. Seriam <strong>as</strong> ribeir<strong>as</strong><br />

de Terges e Cobres, desaguan<strong>do</strong> junt<strong>as</strong> no rio<br />

<br />

du<strong>as</strong> ci<strong>da</strong>des. Na margem esquer<strong>da</strong> deste rio, os<br />

limites p<strong>as</strong>sariam pela ribeira de Lim<strong>as</strong>, hidrónimo<br />

que possivelmente deriva <strong>da</strong> palavra latina “limes”,<br />

prolongan<strong>do</strong>-se por uma linha de relevos integra<strong>do</strong>s<br />

na serra de Serpa 12 .<br />

A Sul, a ribeira <strong>do</strong> V<strong>as</strong>cão e <strong>as</strong> serrani<strong>as</strong> <strong>da</strong> Serra<br />

<br />

de <strong>do</strong> de Balsa, pois ain<strong>da</strong> hoje essa zona<br />

delimita <strong>as</strong> provínci<strong>as</strong> <strong>do</strong> Alentejo e <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>.<br />

<br />

<br />

parece ser esse o c<strong>as</strong>o <strong>do</strong>s limites territoriais de<br />

Mértola, no que concerne a fronteira a poente. Em<br />

primeiro lugar são qu<strong>as</strong>e inexistentes os acidentes<br />

geomorfológicos que delimitem uma fronteira. A<br />

fronteira, a existir, poder-se-ia ter localiza<strong>do</strong> em<br />

torno d<strong>as</strong> designad<strong>as</strong> mat<strong>as</strong> de Almodôvar, como<br />

refere o foral de 1239. A existência de topónimos<br />

como Salto e Entrad<strong>as</strong> (C<strong>as</strong>tro Verde), sugerem<br />

uma possível área de delimitação <strong>do</strong>s territórios<br />

<strong>da</strong> civita mirtilense para Oeste. No entanto,<br />

serão suposições apen<strong>as</strong>, pois é ain<strong>da</strong> duvi<strong>do</strong>sa a<br />

localização de Arannis ou Arandis 13 : 363) (que se<br />

situaria na região de Ourique, Colos, Santa Luzia<br />

ou Garvão), ci<strong>da</strong>de cujo território confrontaria<br />

com o de Este antigo território de <br />

corresponderia, grosso mo<strong>do</strong>, à área <strong>do</strong> actual<br />

concelho de Mértola.<br />

7<br />

DOMERGUE, C. 1987, p. 504.<br />

8<br />

LOPES, C., et alli, 1998, p. 135.<br />

9<br />

ALARCÃO. J., 1990, p. 367.<br />

10<br />

PÉREZ MACIAS, 1986, p.18<br />

11<br />

FABIÃO, C., 1992, p. 261.<br />

12<br />

LOPES, C., 1996, p. 67.<br />

13<br />

ALARCÃO, J., 1990, p. 363.<br />

48 AS VIAS DO ALGARVE


<strong>as</strong> vi<strong>as</strong> de<br />

comunicação<br />

O rio Guadiana terá funciona<strong>do</strong>, mesmo antes e<br />

“durante a I<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Ferro, muito provavelmente, como<br />

um caminho comercial, ligan<strong>do</strong> directamente o litoral<br />

algarvio aos distritos mineiros <strong>do</strong> Baixo Alentejo” 14 .<br />

<br />

troço navegável <strong>do</strong> Guadiana, era o centro onde<br />

<br />

mineração. Tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> embarcações <strong>da</strong> época, à vela<br />

e a remo, esperan<strong>do</strong> embora a praia-mar para o<br />

atravessamento de <strong>do</strong>is perigosos baixios existentes<br />

n<strong>as</strong> proximi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> locali<strong>da</strong>de, abicavam no areal<br />

junto à Porta <strong>da</strong> Ribeira onde eram calafetad<strong>as</strong> a seco<br />

antes <strong>da</strong> viagem de regresso 15 . Entretanto, a partir <strong>do</strong><br />

século III d. C., com a quebra de produção d<strong>as</strong> min<strong>as</strong><br />

<br />

merca<strong>do</strong> agrícola dirigi<strong>do</strong> ao ab<strong>as</strong>tecimento d<strong>as</strong><br />

principais metrópoles <strong>do</strong> Mediterrâneo. Pax Iulia<br />

mantinha-se como a capital <strong>do</strong> v<strong>as</strong>to Conventus, e<br />

n<strong>as</strong> su<strong>as</strong> imediações desenvolvem-se na centúria<br />

seguinte luxuos<strong>as</strong> villae como Pisões ou S. Cucufate.<br />

As su<strong>as</strong> terr<strong>as</strong> férteis produziam vinho, azeite e<br />

trigo, cujos excedentes eram escoa<strong>do</strong>s por Mértola,<br />

cujo porto tinha vantagens relativamente aos <strong>da</strong><br />

costa atlântica, como Sines aos <strong>da</strong> foz <strong>do</strong> Sa<strong>do</strong>,<br />

bati<strong>do</strong>s por um mar sazonalmente muito agressivo;<br />

pelo contrário, o Guadiana permitia uma navegação<br />

qu<strong>as</strong>e permanente (excepto em altur<strong>as</strong> de chei<strong>as</strong><br />

torrenciais).<br />

A principal via de comunicação era, sem dúvi<strong>da</strong>, o<br />

rio Guadiana. Junto à sua margem encontra-se to<strong>do</strong><br />

um rico povoamento de que se destacam a villae<br />

<strong>do</strong> Álamo, onde ain<strong>da</strong> são visíveis restos de uma<br />

barragem romana, <strong>do</strong> Montinho d<strong>as</strong> Laranjeir<strong>as</strong> ou<br />

ain<strong>da</strong> o sítio de Vale de Condes para citar alguns<br />

<strong>do</strong>s mais importantes.<br />

<br />

de uma estra<strong>da</strong> paralela ao rio Guadiana. A atestar a<br />

existência <strong>do</strong> traça<strong>do</strong> terrestre, vários autores referem<br />

o Itinerário de Antonino e a <strong>do</strong> Anónimo<br />

de Ravena. Segun<strong>do</strong> est<strong>as</strong> fontes, são praticamente<br />

coincidentes os traça<strong>do</strong>s d<strong>as</strong> estrad<strong>as</strong> <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> e na<br />

que percorreria o vale <strong>do</strong> Guadiana 16 .<br />

<br />

a 40 milh<strong>as</strong> de C<strong>as</strong>tro Marim” 17 e apresenta um<br />

traça<strong>do</strong> coincidente com o <strong>da</strong> actual estra<strong>da</strong><br />

nacional. Da mesma opinião partilha V. Mant<strong>as</strong> que<br />

refere “a primeira dest<strong>as</strong> estrad<strong>as</strong> partia de C<strong>as</strong>tro<br />

Marim (Baesuris), tocan<strong>do</strong> em Mértola (),<br />

de onde seguia directamente para a capital <strong>do</strong><br />

Conuentus Pacensis. Designa<strong>da</strong> pelo Itinerário de<br />

Antonino (431, 4-7) como per compendium, ou<br />

seja pelo caminho mais curto” 18 . O facto <strong>do</strong> autor<br />

clássico indicar o percurso em milh<strong>as</strong> e não em<br />

<br />

marítimos, leva o autor a garantir a existência<br />

dessa estra<strong>da</strong>. No entanto, são conhecid<strong>as</strong> de<br />

<br />

a serra algarvia pelos caminhos actuais. O relevo<br />

é, de facto, extremamente ondula<strong>do</strong> e acidenta<strong>do</strong>,<br />

sen<strong>do</strong> frequentes os pequenos cursos de água<br />

<br />

<strong>da</strong> construção d<strong>as</strong> modern<strong>as</strong> estrad<strong>as</strong>, que teve<br />

lugar apen<strong>as</strong> nos inícios <strong>do</strong> século XX. Apesar<br />

d<strong>as</strong> referênci<strong>as</strong> <strong>do</strong> Itinerário de Antonino a esta<br />

estra<strong>da</strong> romana junto ao Guadiana, esta carece<br />

<br />

arqueológic<strong>as</strong> realizad<strong>as</strong> recentemente na<br />

margem esquer<strong>da</strong> <strong>do</strong> rio Guadiana por equip<strong>as</strong> de<br />

14<br />

TORRES, C., 1992 p. 198; ARRUDA, A. M., 1997, p. 117.<br />

15<br />

TORRES, C., 1998, pp. 7-8.<br />

16<br />

HERÁS, J. M, R., 1975, p 79.<br />

17<br />

VIANA, A., 1960, p .214.<br />

18<br />

MANTAS, V., 1997, p. 315.<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 49


arqueólogos espanhóis, apontam para a existência<br />

de uma rede viária romana, que inclui restos de<br />

pontes, parecen<strong>do</strong> obedecer à mesma lógica<br />

de escoamento <strong>do</strong>s minerais e ao seu sequente<br />

<br />

paralelo ao rio m<strong>as</strong> procurava pôr em contacto <strong>as</strong><br />

zon<strong>as</strong> mineir<strong>as</strong> <strong>da</strong> serra com os embarca<strong>do</strong>iros<br />

localiza<strong>do</strong>s n<strong>as</strong> margens <strong>do</strong> rio 19 .<br />

As villae localizad<strong>as</strong> n<strong>as</strong> margens teriam entre si<br />

ligações terrestres, m<strong>as</strong>, é evidente que seria mais<br />

<br />

terrestre. Insiste-se, como nos diz Cláudio Torres, em<br />

encontrar uma calça<strong>da</strong> ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> que seria a grande<br />

<br />

serra algarvia nunca foi atravessa<strong>da</strong> por nenhuma<br />

via em época romana. Apen<strong>as</strong> caminhos de pé posto,<br />

de uso vicinal e controlad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> comuni<strong>da</strong>des<br />

serran<strong>as</strong> que existiriam na serra algarvia 20 . De facto,<br />

a ligação entre Baesuris e Pax Iulia parece-nos mais<br />

<br />

<strong>da</strong>qui para a capital <strong>do</strong> conventus por uma ligação<br />

<br />

de excluir a existência de uma informação erra<strong>da</strong>,<br />

no que a esta questão diz respeito, <strong>da</strong> p<strong>as</strong>sagem<br />

<strong>do</strong> Itinerário Antonino: Baesuris Pace Iulia per<br />

compendium. Se entendermos por per compendium<br />

pelo caminho mais curto, na acepção que A. Viana<br />

utilizou, este será certamente pelo rio.<br />

<br />

rápid<strong>as</strong>, mais barat<strong>as</strong> e segur<strong>as</strong> que <strong>as</strong> terrestres,<br />

foi certamente pelo rio que se processou o tráfego<br />

de merca<strong>do</strong>ri<strong>as</strong> pesad<strong>as</strong> e de matéri<strong>as</strong>-prim<strong>as</strong><br />

vind<strong>as</strong> de grandes distânci<strong>as</strong>.<br />

No que respeita às vi<strong>as</strong> de comunicação terrestres<br />

existentes, o percurso principal era o que ligava<br />

a ci<strong>da</strong>de de à capital regional, Pax Iulia<br />

(Beja). Esta estra<strong>da</strong> saía de Mértola através <strong>da</strong><br />

p<strong>as</strong>sagem que existiu até à déca<strong>da</strong> de 70 <strong>do</strong> século<br />

XX no Cerro <strong>do</strong> Fura<strong>do</strong>uro e <strong>da</strong> qual apen<strong>as</strong> existe<br />

<br />

A via ain<strong>da</strong> é reconhecível arqueologicamente na zona<br />

<br />

19<br />

GALÁN BENDALA, M., 1988, p. 40, fig. 2.<br />

20<br />

TORRES C., 1992, pp. 190-191.<br />

de calça<strong>da</strong> com lajes de xisto ou cortes longitudinais<br />

feitos na rocha b<strong>as</strong>e; segue depois em direcção às<br />

povoações de Corte Gafo de Baixo e Monte Mosteiro.<br />

Neste local atravessaria os vaus existentes na Ribeira<br />

de Terges e Cobres, seguin<strong>do</strong> depois para Salva<strong>da</strong> e,<br />

<br />

De Mértola seguia uma outra variante que p<strong>as</strong>sava<br />

na Acha<strong>da</strong> de S. Seb<strong>as</strong>tião e se juntava à estra<strong>da</strong> que<br />

ligava a Pax Iulia. Este caminho secundário<br />

acompanhava a margem <strong>do</strong> Guadiana até ao<br />

<br />

de Évora. Neste ponto ligava-se à via principal, que<br />

p<strong>as</strong>sava junto ao Rossio <strong>do</strong> Carmo, e prosseguia<br />

para o interior. Na p<strong>as</strong>sagem <strong>da</strong> ribeira de Terges e<br />

Cobres não existe qualquer vestígio de ponte, pelo<br />

que a p<strong>as</strong>sagem para a outra margem se devia fazer<br />

pelos vaus, que dependiam d<strong>as</strong> époc<strong>as</strong> <strong>do</strong> ano e <strong>da</strong><br />

quanti<strong>da</strong>de de água que a ribeira levava. Nos vaus,<br />

a p<strong>as</strong>sagem era facilita<strong>da</strong>, pois são zon<strong>as</strong> onde<br />

<strong>as</strong> águ<strong>as</strong> d<strong>as</strong> ribeir<strong>as</strong>, apesar de poderem levar<br />

<br />

a largura d<strong>as</strong> margens (estes locais de travessia<br />

ain<strong>da</strong> são usa<strong>do</strong>s nos di<strong>as</strong> de hoje). A travessia<br />

estava também facilita<strong>da</strong> pelo facto dest<strong>as</strong> zon<strong>as</strong><br />

propiciarem a acumulação de c<strong>as</strong>calheir<strong>as</strong>, crian<strong>do</strong><br />

p<strong>as</strong>sagens naturais. Vários são os locais que<br />

permitem a p<strong>as</strong>sagem <strong>da</strong> ribeira de Terges e Cobres,<br />

nomea<strong>da</strong>mente a ligação pela Amen<strong>do</strong>eira <strong>da</strong> Serra,<br />

Porto <strong>da</strong> Salva<strong>da</strong> (na margem Sul) seguin<strong>do</strong> na<br />

direcção <strong>do</strong> Monte <strong>do</strong> Pica Milho, a margem norte<br />

<strong>da</strong> ribeira são visíveis marc<strong>as</strong> <strong>do</strong>s ro<strong>da</strong><strong>do</strong>s deixad<strong>as</strong><br />

na rocha. Deve salientar-se, no entanto, que este<br />

<br />

ser enquadra<strong>do</strong> cronologicamente, pois como se<br />

referiu anteriormente, eles são utiliza<strong>do</strong>s, na sua<br />

maioria, como local de p<strong>as</strong>sagem até aos nossos<br />

di<strong>as</strong>, poden<strong>do</strong> por isso ser o vestígio de uma época<br />

posterior, o que não invali<strong>da</strong>, antes pelo contrário,<br />

a vantagem destes locais para ultrap<strong>as</strong>sagem<br />

deste obstáculo natural. Para além desta p<strong>as</strong>sagem<br />

existem mais du<strong>as</strong> de característic<strong>as</strong> semelhantes:<br />

a <strong>do</strong> Monte Mosteiro, atravessan<strong>do</strong> a ribeira no Vale<br />

de Russins, e ain<strong>da</strong> uma outra, designa<strong>da</strong> por Água<br />

Salga<strong>da</strong>. Est<strong>as</strong> p<strong>as</strong>sagens não apresentam quaisquer<br />

vestígios de rod<strong>as</strong> de carros ou carroç<strong>as</strong>.<br />

Para além desta via de maior envergadura existiam<br />

50 AS VIAS DO ALGARVE


outros <strong>do</strong>is grandes eixos viários de ligação de<br />

Mértola ao interior alentejano: um primeiro, em<br />

direcção às principais min<strong>as</strong> <strong>da</strong> faixa piritosa<br />

ibérica, nomea<strong>da</strong>mente Vip<strong>as</strong>ca (Aljustrel); e um<br />

segun<strong>do</strong> que punha em contacto a antiga <br />

com <strong>as</strong> locali<strong>da</strong>des existentes a n<strong>as</strong>cente, na<br />

margem esquer<strong>da</strong> <strong>do</strong> Guadiana.<br />

<br />

seu trecho inicial diz respeito, é indissociável <strong>da</strong><br />

exploração mineira de S. Domingos, <strong>da</strong> intensa lavra<br />

leva<strong>da</strong> a cabo no local e consequente transporte <strong>do</strong>s<br />

.<br />

N<strong>as</strong> imediações de Mértola existem vestígios <strong>do</strong><br />

antigo traça<strong>do</strong> dest<strong>as</strong> vi<strong>as</strong>. Quer a via <br />

-Pax Iulia, como a que ligava a primeira dest<strong>as</strong><br />

ao complexo mineiro <strong>da</strong> Serra de S. Domingos,<br />

possuíam uma largura que variava entre os três e<br />

os quatro metros. A via partia de Além-Rio, junto<br />

à margem esquer<strong>da</strong> <strong>do</strong> rio Guadiana e serpenteia,<br />

pelo sopé e a meia encosta, os cerros vizinhos. Por<br />

<br />

utiliza<strong>do</strong> depois frequentemente, na execução de<br />

pavimentos. Nalguns sítios subsistem os grandes<br />

taludes de pedra e terra que a sustinham e que<br />

<br />

se implantou. Estes taludes atingem mais de <strong>do</strong>is<br />

metros de altura, sen<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> perceptíveis, junto <strong>do</strong>s<br />

mesmos, <strong>as</strong> val<strong>as</strong> que recebiam <strong>as</strong> águ<strong>as</strong> pluviais e<br />

<strong>as</strong> canalizavam, por vezes subterraneamente, para<br />

<strong>as</strong> berm<strong>as</strong> <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> calça<strong>da</strong>.<br />

Na maior parte <strong>da</strong> extensão reconheci<strong>da</strong>, <strong>as</strong> vi<strong>as</strong> são<br />

pavimentad<strong>as</strong> com lajes de xisto e terra compacta<strong>da</strong><br />

com pequen<strong>as</strong> pedr<strong>as</strong>. Tem alguns pequenos troços<br />

e por razão <strong>da</strong> própria natureza <strong>do</strong> solo, o pavimento<br />

é a própria rocha b<strong>as</strong>e, o xisto. Em alguns pontos <strong>do</strong><br />

traça<strong>do</strong> são visíveis os sulcos longitudinais provoca<strong>do</strong>s<br />

pelos ro<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong>s carros que por ela circulavam.<br />

Na direcção de Almodôvar, a via de ligação de<br />

Mértola ao interior alentejano, poderia ser feita<br />

directamente pela transposição <strong>da</strong> ribeira de Oeir<strong>as</strong>,<br />

n<strong>as</strong> imediações de Mértola, e quan<strong>do</strong> necessário,<br />

a p<strong>as</strong>sagem desta mesma ribeira poderia ser feita<br />

a norte de Mértola, no Portinho de Alcácer, local<br />

onde é visível um empedra<strong>do</strong> no leito <strong>da</strong> ribeira<br />

e uma p<strong>as</strong>sagem proporciona<strong>da</strong> pela colocação<br />

de pedr<strong>as</strong> na vertical. Transposto este maior<br />

obstáculo, a via seguia grosso mo<strong>do</strong> pelo traça<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> actual estra<strong>da</strong> Nacional 267, até Sra. <strong>da</strong> Graça<br />

<strong>do</strong>s Padrões e <strong>da</strong>í para Almodôvar.<br />

A via Mértola - C<strong>as</strong>tro Verde, que prosseguia para<br />

Aljustrel, poderia seguir o mesmo traça<strong>do</strong> <strong>da</strong> via de<br />

ligação até Pax Iulia, inverten<strong>do</strong> para a esquer<strong>da</strong> na<br />

zona <strong>da</strong> serra de Alcaria, prosseguin<strong>do</strong> na direcção<br />

de Entrad<strong>as</strong>, onde os caminhos se bifurcariam:<br />

um seguin<strong>do</strong> na direcção de Aljustrel e outro na<br />

direcção de C<strong>as</strong>tro Verde.<br />

A rede viária <strong>da</strong> região remonta, em grande parte, ao<br />

perío<strong>do</strong> pré-romano. A chega<strong>da</strong> d<strong>as</strong> legiões e uma<br />

nova lógica de gestão <strong>do</strong> territorial e de exploração<br />

<strong>do</strong>s naturais levou a que os traça<strong>do</strong>s e pavimento d<strong>as</strong><br />

vi<strong>as</strong> fossem remodela<strong>do</strong>s e melhora<strong>do</strong>s. Tais obr<strong>as</strong>,<br />

normalmente de grande quali<strong>da</strong>de, e a persistência<br />

de circuitos económicos e de mo<strong>do</strong>s de vi<strong>da</strong>,<br />

contribuíram para a longevi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s caminhos,<br />

não só no perío<strong>do</strong> medieval como em époc<strong>as</strong> mais<br />

recentes. De tal mo<strong>do</strong> marcaram a paisagem que<br />

alguns deles são, ain<strong>da</strong> hoje, utiliza<strong>do</strong>s 21 .<br />

21<br />

Texto a<strong>da</strong>pta<strong>do</strong> de LOPES, V., 2003, p, 38.<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 51


52 AS VIAS DO ALGARVE


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Verde, pp. 8- 28.<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 53


.VIII CAMINHOS ANTIGOS, PERCURSOS MODERNOS<br />

JOSÉ D’ENCARNAÇÃO<br />

Universi<strong>da</strong>de de Coimbra<br />

Presumo<br />

Procura fazer-se um paralelo entre <strong>as</strong> vered<strong>as</strong><br />

antig<strong>as</strong> e <strong>as</strong> auto-estrad<strong>as</strong> <strong>do</strong>s nossos di<strong>as</strong>, o seu<br />

<br />

perigos e a forma de os esconjurar.<br />

Ao longo <strong>do</strong>s tempos, sempre <strong>as</strong> vi<strong>as</strong> roman<strong>as</strong><br />

– com seus miliários, pontes, calçad<strong>as</strong>... –<br />

interessaram os estudiosos. E disso se traça,<br />

aqui, breve panorâmica, p<strong>as</strong>sean<strong>do</strong>-nos um<br />

pouco por to<strong>do</strong> o País, m<strong>as</strong> deten<strong>do</strong>-nos mais na<br />

Geira, a Via Nova, que ligava Bracara Augusta a<br />

Asturica Augusta (Braga a Astorga), onde parece<br />

que o Romano fez ‘sementeira’ de miliários, para<br />

<br />

desses marcos com nome de impera<strong>do</strong>res e<br />

número de milh<strong>as</strong> – bem diferentes <strong>do</strong>s marcos<br />

quilométricos <strong>do</strong>s nossos di<strong>as</strong>...<br />

Curiosamente, era a Geira a Via XVII – e nós temos,<br />

hoje, a A23, o IC5, o IP3... Pouco mu<strong>do</strong>u nesse<br />

<strong>as</strong>pecto, embora noutros a transformação seja<br />

total: deixámos de saborear o petisco típico e<br />

paramos, agora, em estações de serviço, p<strong>as</strong>sad<strong>as</strong><br />

a papel químico. Diferentes seriam, em tempo de<br />

Romanos, <strong>as</strong> mutationes, estações de mu<strong>da</strong>, para<br />

fugaz troca de monta<strong>da</strong>; ou <strong>as</strong> mansiones, <strong>as</strong><br />

«mansões» ou «pousad<strong>as</strong>», lugar de poiso de um<br />

dia para o outro, com term<strong>as</strong> incorporad<strong>as</strong> para<br />

nos lavarmos <strong>da</strong> poeira<strong>da</strong> <strong>do</strong> caminho...<br />

E veneramos a nossa «calçadinha», pretexto para<br />

este encontro, numa lição de preservação d<strong>as</strong><br />

vered<strong>as</strong> que nossos antep<strong>as</strong>sa<strong>do</strong>s calcorrearam... 1<br />

a consciencialização<br />

15 de Novembro de 2004. Uma povoação <strong>do</strong> Norte<br />

<strong>do</strong> País insurgiu-se e teve honr<strong>as</strong> de telejornal, porque<br />

o traça<strong>do</strong> previsto para mais uma auto-estra<strong>da</strong><br />

iria destruir um cruzeiro antigo e considerável troço<br />

<strong>do</strong> caminho de Santiago…<br />

Seguramente não haveria melhor forma de iniciar<br />

<br />

modernos”, <strong>do</strong> que este episódio, aparentemente<br />

<br />

ilusório conserva<strong>do</strong>rismo atávico, qual «velho <strong>do</strong><br />

Restelo» braman<strong>do</strong> contra a «glória de man<strong>da</strong>r»<br />

e a «vã cobiça». Para o canal televisivo, decerto,<br />

apen<strong>as</strong> mais uma acha na fogueira <strong>do</strong> nosso<br />

<br />

E até, cerimoniosamente, o Sr. Presidente <strong>da</strong> Junta<br />

de Freguesia perorou, reclaman<strong>do</strong> tradições,<br />

alvitran<strong>do</strong> alternativ<strong>as</strong>, discutin<strong>do</strong> decisões de um<br />

Poder Central e macrocéfalo, que encomen<strong>da</strong>, para<br />

o efeito, pseu<strong>do</strong>-estu<strong>do</strong>s de impacte ambiental,<br />

<br />

<br />

Não seria notícia o protesto aqui há du<strong>as</strong><br />

dezen<strong>as</strong> de anos atrás. Primeiro, porque se não<br />

‘exploravam’ ain<strong>da</strong>, então, <strong>as</strong> manifestações de<br />

descontentamento; depois, porque «Caminho de<br />

Santiago» quem é que se importava com ele Não<br />

fora <strong>as</strong>sim uma rota de monges ou de empedernid<strong>as</strong><br />

1<br />

Esta investigação foi realiza<strong>da</strong> no quadro <strong>do</strong> projecto de investigação sobre o CIL XVII (corpus <strong>do</strong>s miliários romanos), <strong>do</strong> Centro de Estu<strong>do</strong>s Arqueológicos<br />

d<strong>as</strong> Universi<strong>da</strong>des de Coimbra e <strong>do</strong> Porto.<br />

54 AS VIAS DO ALGARVE


eat<strong>as</strong> em plena escuridão medieval Finalmente,<br />

auto-estra<strong>da</strong> era, nesse tempo, um ‘el<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>’<br />

a facilitar comércios, a encurtar distânci<strong>as</strong>, a<br />

aproximar os mun<strong>do</strong>s, a partilhar festivi<strong>da</strong>des…<br />

Os tempos amadureceram, porém. Visto <strong>do</strong> ar, antes<br />

de concluí<strong>do</strong>, o troço <strong>da</strong> A13 em construção desde<br />

Santo Estêvão (Benavente) até Vila Franca de Xira<br />

(Ponte Salgueiro Maia) era traço de união coleante,<br />

ufano já <strong>do</strong>s seus viadutos e pontes, <strong>da</strong> faixa<br />

reluzente <strong>do</strong> alcatrão acabadinho de estender…<br />

Pode vir a ser também – visto com outros olhos<br />

– a longa cicatriz para sempre r<strong>as</strong>ga<strong>da</strong> na verde<br />

v<strong>as</strong>tidão <strong>da</strong> lezíria, habitua<strong>da</strong> apen<strong>as</strong> ao voo suave<br />

d<strong>as</strong> cegonh<strong>as</strong> e d<strong>as</strong> garç<strong>as</strong>, ao p<strong>as</strong>so cadencia<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> boia<strong>da</strong>, ao sossega<strong>do</strong> ramerrão de agricultores<br />

e campinos…<br />

Caminhos antigos, percursos modernos – por mais<br />

que o impacte se minimize (na teoria e na prática),<br />

certo é que ele vai existir sempre: no pensamento<br />

<br />

<strong>as</strong> vered<strong>as</strong> e <strong>as</strong> vi<strong>as</strong>:<br />

<strong>do</strong> aparente improviso<br />

à organização<br />

sistemática<br />

Seduzem-me <strong>as</strong> vered<strong>as</strong> por entre os matos –<br />

porque nunca vão em linha recta. Temos a sensação<br />

de que foi alguém tol<strong>da</strong><strong>do</strong> no espírito o primeiro<br />

que af<strong>as</strong>tou os carr<strong>as</strong>cos e <strong>as</strong> urzes e os troviscos e<br />

decidiu abrir o trilho. Não foi. Usou <strong>da</strong> inteligência,<br />

a<strong>da</strong>ptou-se ao terreno – como, de resto, hoje,<br />

apesar <strong>da</strong> técnica, também <strong>as</strong> auto-estrad<strong>as</strong> se<br />

a<strong>da</strong>ptam (ao terreno e aos interesses…).<br />

Recor<strong>do</strong>-me <strong>da</strong> longa conversa que tive com João<br />

Garcia, em Novembro de 2002, meses depois de<br />

ele ter escala<strong>do</strong> o Himalaia e toca<strong>do</strong> o Pico Evereste,<br />

em expedição de que se salvou por um triz.<br />

Também ali os trilhos ziguezagueavam e af<strong>as</strong>tar-se<br />

<br />

<strong>do</strong> trilho, <strong>do</strong> caminho – desde tempos imemoriais.<br />

D<strong>as</strong> vi<strong>as</strong> roman<strong>as</strong> desde sempre se louvou o<br />

esplen<strong>do</strong>r. O rigor técnico <strong>do</strong> traça<strong>do</strong>; a sóli<strong>da</strong><br />

imponência <strong>do</strong> piso; a majestade d<strong>as</strong> pontes;<br />

a soleni<strong>da</strong>de escrita <strong>do</strong>s miliários… Legiões<br />

<br />

sábio de centuriões, esforço hercúleo, carrean<strong>do</strong><br />

lajes, estruturan<strong>do</strong> camad<strong>as</strong>… Criara-se, <strong>as</strong>sim,<br />

uma «rede viária» – «To<strong>do</strong>s os caminhos vão <strong>da</strong>r<br />

<br />

su<strong>as</strong> trop<strong>as</strong> depressa cheg<strong>as</strong>sem aonde era preciso,<br />

para arreca<strong>da</strong>r impostos ou reprimir rebeliões, nos<br />

<br />

Daí o prestígio de um <strong>do</strong>s cargos preliminares <strong>do</strong><br />

vigintivirato senatorial: os quattuorviri viarum<br />

curan<strong>da</strong>rum. Aju<strong>da</strong>vam os edis na conservação d<strong>as</strong><br />

vi<strong>as</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e, sobretu<strong>do</strong>, d<strong>as</strong> quatro principais<br />

que ab<strong>as</strong>teciam a Urbe: a Ápia (a grande obra<br />

de Appius Claudius Caecus), a Cássia, a Cimínia<br />

e a Clódia. Sabia-se que <strong>do</strong> seu bom esta<strong>do</strong> de<br />

conservação e <strong>da</strong> segurança pessoal que ofereciam<br />

dependia a normali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em Roma no que<br />

<br />

o Itinerário, manancial<br />

sedutor e enigmático<br />

Daí a importância <strong>do</strong> Itinerário de Antonino 2 que, se<br />

calhar, aguar<strong>da</strong> agora um estu<strong>do</strong> perspicaz encara<strong>do</strong><br />

com <strong>as</strong> perspectiv<strong>as</strong> nov<strong>as</strong> <strong>do</strong> século XXI.<br />

2<br />

Sobre este <strong>do</strong>cumento, atribuí<strong>do</strong> à época <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r Caracala (198-217), é inúmera a bibliografia, atenden<strong>do</strong> a que abarca to<strong>do</strong> o Império Romano<br />

e, portanto, em ca<strong>da</strong> zona os respectivos investiga<strong>do</strong>res procuram fazer a identificação entre os topónimos aí regista<strong>do</strong>s e os vestígios actuais, quer<br />

arqueológicos quer toponímicos. Para uma ideia geral acerca <strong>da</strong> importância deste <strong>do</strong>cumento, poderá consultar-se, por exemplo, P. ARNAUD, «L’Itinéraire<br />

d’Antonin: um témoin de la littérature itinéraire du B<strong>as</strong>-Empire», Geographia Antiqua (Florença), 2, 1993, p. 33-49.<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 55


E não lhe foram insensíveis os nossos estudiosos,<br />

desde Moreira de Figueire<strong>do</strong> – no que às vi<strong>as</strong><br />

d<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong> diz respeito – a um Mário Saa, que<br />

calcorreou o País em busca de ci<strong>da</strong>des perdid<strong>as</strong>,<br />

de vestígios ancestrais, de cois<strong>as</strong> velh<strong>as</strong> <strong>da</strong> moirama…<br />

Muito encontrou, aliás – e disso é testemunho<br />

a preciosa colecção arqueológica guar<strong>da</strong><strong>da</strong> em sua<br />

c<strong>as</strong>a, no Erve<strong>da</strong>l, hoje transforma<strong>da</strong> em museu pela<br />

<br />

de ci<strong>da</strong>des inventou também – não fôssemos nós<br />

herdeiros de um André de Resende e, sobretu<strong>do</strong>, de<br />

<br />

«cautela» na sua leitura, espírito crítico, o que se<br />

poderá ter interpreta<strong>do</strong> como «maldição», anátema<br />

<br />

nem pie<strong>da</strong>de se contrapõe, hoje, a crítica serena,<br />

<br />

que uma placa de Abiul (Leiria), de onomástica bem<br />

estranha para ser ver<strong>da</strong>deira (aí se referia um…<br />

Sapidius<br />

facto, uma placa autêntica e constituía, inclusive,<br />

3 .<br />

Têm <strong>as</strong> Grandes Vi<strong>as</strong> <strong>da</strong> Lusitânia 4 um subtítulo<br />

dever<strong>as</strong> eluci<strong>da</strong>tivo: O Itinerário de Antonino<br />

Pio. De muito tem servi<strong>do</strong> esse Itinerário, para se<br />

proceder a uma reconstituição <strong>do</strong> mapa de Portugal<br />

sob o <strong>do</strong>mínio romano. Tarefa aliciante a que não<br />

resistiu Jorge de Alarcão logo na 1ª edição <strong>do</strong> seu<br />

Portugal Romano 5 , onde o capítulo «As vi<strong>as</strong> e os<br />

<br />

«De Aquae Flaviae para ocidente havia certamente<br />

outra estra<strong>da</strong> que servia <strong>as</strong> min<strong>as</strong> de ouro <strong>do</strong><br />

Poço d<strong>as</strong> Freit<strong>as</strong> e uma ci<strong>da</strong>de que parece ter si<strong>do</strong><br />

sede de diocese no século V ou VI: Beteca, talvez<br />

correspondente a Botic<strong>as</strong>. A estra<strong>da</strong> p<strong>as</strong>saria por<br />

Vale de Anta, P<strong>as</strong>toria, Sapiãos, Botic<strong>as</strong> e Altur<strong>as</strong><br />

de Barroso. Talvez continu<strong>as</strong>se para ocidente,<br />

entroncan<strong>do</strong> na via de Bracara a Asturica, m<strong>as</strong><br />

disso não temos prov<strong>as</strong>» (p. 103).<br />

Igualmente em O Domínio Romano em Portugal 6 ,<br />

são «As estrad<strong>as</strong>» o capítulo IV (p. 87-106). Aí,<br />

<br />

<br />

<br />

vi<strong>as</strong> roman<strong>as</strong> de Portugal. Os nossos próprios<br />

traça<strong>do</strong>s, porém, terão de ser reexamina<strong>do</strong>s e não<br />

<br />

Insistimos nesta advertência, para que não se tome<br />

como traça<strong>do</strong> indiscutível aquilo que muit<strong>as</strong> vezes<br />

é hipotético» (p. 88).<br />

M<strong>as</strong>… agora reparo que deixei para trás Cristóvão<br />

Moreira de Figueire<strong>do</strong>. Nos volumes XI (1952) e XII<br />

(1953) <strong>da</strong> revista Beira Alta, inseriu um extenso<br />

artigo intitula<strong>do</strong> «Subsídios para o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> viação<br />

romana d<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong>»:<br />

«Vamos a seguir indicar o traça<strong>do</strong> de vári<strong>as</strong> vi<strong>as</strong><br />

roman<strong>as</strong>, estrad<strong>as</strong> medievais, simples caminhos<br />

antigos de transumância ou de comércio <strong>da</strong><br />

antiga Beira», escreve Moreira de Figueire<strong>do</strong>, que<br />

acrescenta:<br />

«Este trabalho modesto, de compilação por vezes<br />

de estu<strong>do</strong>s já feitos, honra muitos <strong>do</strong>s autores<br />

cita<strong>do</strong>s e só por ignorância de matéria poderá<br />

atribuir-se a quem não pertença. Contém, no<br />

entanto, b<strong>as</strong>tantes acheg<strong>as</strong> ou not<strong>as</strong> inédit<strong>as</strong><br />

noss<strong>as</strong>, designa<strong>da</strong>mente <strong>as</strong> que se referem a<br />

nomes de povoações e estações arqueológic<strong>as</strong><br />

existentes nos percursos referi<strong>do</strong>s» (p. 318).<br />

um f<strong>as</strong>cínio particular<br />

<br />

f<strong>as</strong>cínio na investigação. Não admira, pois, que uma<br />

d<strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> dissertações de <strong>do</strong>utoramento que<br />

o Professor Jorge de Alarcão orientou, a de V<strong>as</strong>co<br />

Gil Mant<strong>as</strong>, tenha por tema precisamente a que<br />

3<br />

José d’ENCARNAÇÃO, «A colecção epigráfica de Mário Saa no Erve<strong>da</strong>l», Humanit<strong>as</strong> XLVII 1995 629-645 (sobretu<strong>do</strong> p. 635-638).<br />

4<br />

Seis volumes publica<strong>do</strong>s em Lisboa desde 1956 a 1967.<br />

5<br />

Editorial Verbo, Lisboa, Fevereiro de 1974.<br />

6<br />

Publicações Europa-América, Mem Martins, 1988.<br />

56 AS VIAS DO ALGARVE


supomos ter si<strong>do</strong> uma d<strong>as</strong> mais importantes vi<strong>as</strong><br />

roman<strong>as</strong> <strong>do</strong> território hoje nacional: a via que de<br />

Olisipo leva a Bracara 7 .<br />

E também na dissertação de João Luís <strong>da</strong> Inês<br />

Vaz 8 , <strong>as</strong> vi<strong>as</strong> que de Viseu partiam ocuparam papel<br />

<br />

aí se mantiveram até hoje <strong>do</strong>s mais bonitos e bem<br />

<br />

Evidentemente, <strong>da</strong> Geira nem falo – que outros,<br />

melhor que eu, saberão <strong>da</strong> multiplici<strong>da</strong>de de estu<strong>do</strong>s,<br />

<strong>da</strong> multiplici<strong>da</strong>de de intenções, <strong>do</strong> sem-número de<br />

projectos, de tantos que <strong>as</strong> investigaram, investigam<br />

e investigarão. Não posso deixar de recor<strong>da</strong>r, to<strong>da</strong>via,<br />

a obra Milliarios <strong>do</strong> Conventus Bracaraugustanus<br />

em Portugal <strong>do</strong> sau<strong>do</strong>so Padre Martins Capella<br />

(Porto, 1895), com reedição facsimila<strong>da</strong> em<br />

1987, precisamente o ano em que se celebrou,<br />

em Tarazona, um simpósio sobre La Red Viaria<br />

en la Hispania Romana, cuj<strong>as</strong> act<strong>as</strong> a Institución<br />

«Fernan<strong>do</strong> el Católico», de Zaragoza, viria a editar<br />

em 1990, a mesma instituição que acolherá, <strong>do</strong>is<br />

anos depois, a obra de Joaquín Lostal Pros, Los<br />

Miliarios de la Provincia Tarraconense. Aliás, esse<br />

ano de 1987 parece ter si<strong>do</strong> crucial nesses estu<strong>do</strong>s,<br />

pois então se publica, sob a responsabili<strong>da</strong>de de<br />

G. Ari<strong>as</strong> Bonet, o Repertorio de Caminos de la<br />

Hispania Romana, de 1987, cuja reedição (revista)<br />

foi publica<strong>da</strong> em 2004 – uma prova mais <strong>do</strong> interesse<br />

que esta problemática vem despertan<strong>do</strong>.<br />

<br />

Composto pelo Padre José de Mattos Ferreira,<br />

clerigo <strong>do</strong> Habito de São Pedro e natural <strong>da</strong><br />

Augusta ci<strong>da</strong>de de Braga<br />

M<strong>as</strong> que não vá o Norte sem resposta, pois que<br />

Luís Marinho de Azeve<strong>do</strong>, autor de uma obra sobre<br />

a Fun<strong>da</strong>ção, Antigui<strong>da</strong>des e Grandez<strong>as</strong> <strong>da</strong> Mui<br />

Insigne Ci<strong>da</strong>de de Lisboa e Seus Varões Ilustres em<br />

Santi<strong>da</strong>de, Arm<strong>as</strong> e Letr<strong>as</strong><br />

augustíssima majestade de el-rei D. José I», em 1753<br />

(trata-se <strong>da</strong> 2ª edição de uma obra <strong>do</strong> século XVII),<br />

tem, no livro III, o capítulo XXIV: «D<strong>as</strong> vi<strong>as</strong> militares<br />

que de Lisboa saíam para Méri<strong>da</strong> e Braga, segun<strong>do</strong><br />

o Itinerário <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r António [sic]». E explicita,<br />

desde logo, que «o principal intento com que est<strong>as</strong><br />

<br />

pretores e lega<strong>do</strong>s pudessem como<strong>da</strong>mente<br />

conduzir os exércitos a seus alojamentos e, por<br />

<br />

estes caminhos com rodeios, para que os sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

march<strong>as</strong>sem à sua vontade e os pretores visit<strong>as</strong>sem<br />

os lugares que governavam, tocan<strong>do</strong> em to<strong>do</strong>s<br />

os principais, ain<strong>da</strong> que estivessem desvia<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

caminho direito» (p. 92).<br />

Regressemos à Geira. Miliários no sítio, miliários<br />

desloca<strong>do</strong>s… um aqui, outro acolá, mais além um<br />

M<strong>as</strong> – voltan<strong>do</strong> um pouco atrás – também a Câmara<br />

de Terr<strong>as</strong> de Bouro não deixara de, em Abril de<br />

1982, <strong>da</strong>r à estampa o curiosíssimo Thesouro de<br />

Braga descuberto no Campo <strong>do</strong> Gerez, em que<br />

se manifestão settenta e quatro padrões que<br />

na estra<strong>da</strong> imperial <strong>da</strong> Geira, e Gerez <strong>da</strong> parte<br />

<br />

descubrirão, obr<strong>as</strong> maravilhos<strong>as</strong> <strong>do</strong>s Empera<strong>do</strong>res<br />

<br />

tirad<strong>as</strong> de notíci<strong>as</strong> e memori<strong>as</strong> cert<strong>as</strong> in<strong>da</strong>gad<strong>as</strong><br />

<br />

Figura 1<br />

Miliários na Geira<br />

7<br />

V<strong>as</strong>co Gil <strong>da</strong> Cruz Soares MANTAS, A Rede Viária Romana <strong>da</strong> Faixa Atlântica entre Lisboa e Braga. Facul<strong>da</strong>de de Letr<strong>as</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Coimbra,<br />

1996. 2 volumes, policopia<strong>do</strong>s.<br />

8<br />

A Civit<strong>as</strong> de Viseu – Espaço e Socie<strong>da</strong>de¸ Coimbra, 1997 (sobretu<strong>do</strong> p. 371-402).<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 57


9<br />

<br />

m miliário<br />

reaproveita<strong>do</strong>, qual alminha a abraçar vian<strong>da</strong>nte, nos<br />

parece – de braços abertos m<strong>as</strong> prega<strong>do</strong>s no madeiro<br />

<br />

<br />

Romanos Pergunta inteiramente estulta para<br />

quem, na déca<strong>da</strong> de 60 <strong>do</strong> século p<strong>as</strong>sa<strong>do</strong>, por<br />

exemplo, demand<strong>as</strong>se Bragança i<strong>do</strong> por Murça:<br />

não era impressionante aquele serpentear lajea<strong>do</strong><br />

pel<strong>as</strong> encost<strong>as</strong>… Questão inteiramente impensável<br />

para quem serenamente se tenha p<strong>as</strong>sea<strong>do</strong> já pela<br />

ponte de Chaves ou pela de Salamanca ou pela <strong>da</strong><br />

<br />

arcaboiço,<br />

<br />

que se preza quer ter a sua via romana. Até São<br />

Brás de Alportel, que dispõe de uma «calçadinha»<br />

de tempos modernos, fez dela o seu ex-libris de<br />

antigui<strong>da</strong>de, pois há fortes indícios de ter si<strong>do</strong><br />

implanta<strong>da</strong> sobre a antiga via (ou um diverticulum<br />

dela…) que, de Ossónoba, se embrenhava pela<br />

Serra em direcção a Vip<strong>as</strong>ca e a Pax Iulia 10 .<br />

Um f<strong>as</strong>cínio de antigui<strong>da</strong>de, portanto, de raízes –<br />

que por aqui se p<strong>as</strong>sava, por aqui se p<strong>as</strong>sou, gente,<br />

11 Havia comércio, for<strong>as</strong>teiros que<br />

paravam, alguns descansariam também e mu<strong>da</strong>riam<br />

<br />

Lembro-me <strong>da</strong> Ponderosa, ponto de paragem<br />

obrigatório na Estra<strong>da</strong> Nacional nº 1, após <strong>as</strong><br />

cansativ<strong>as</strong> curv<strong>as</strong> de Alenquer. Hoje, a auto-estra<strong>da</strong><br />

<br />

<strong>as</strong>sa<strong>da</strong> <strong>do</strong> Bigodes, à Ven<strong>da</strong> d<strong>as</strong> Raparig<strong>as</strong>. Safou-se<br />

Canal Caveira, ao que se diz – que mais forte que<br />

<strong>as</strong> press<strong>as</strong> é a delícia <strong>do</strong> seu cozi<strong>do</strong> à portuguesa<br />

e os livros de poesia popular de mestre cauteleiro,<br />

Alexandre Sobral Lourenço, que já vai no IX volume,<br />

É muito bonito ser poeta («Com 220 quadr<strong>as</strong> de<br />

40 pontos», Agosto 2002):<br />

«Para a estra<strong>da</strong> não vou<br />

De conduzir tenho me<strong>do</strong><br />

Há condutores malucos<br />

Para morrer acho ce<strong>do</strong>». (p. 199)<br />

E chegámos ao cerne <strong>da</strong> questão: a economia.<br />

Impingem-nos hoje <strong>as</strong> áre<strong>as</strong> de serviço e algum<strong>as</strong>,<br />

até, já começam a perceber que o ‘plástico’ acaba<br />

por não atrair e vão optan<strong>do</strong> por simpátic<strong>as</strong><br />

alternativ<strong>as</strong> c<strong>as</strong>eir<strong>as</strong>. A economia, motor <strong>do</strong><br />

lançamento de uma auto-estra<strong>da</strong>, <strong>da</strong> alteração<br />

<strong>do</strong> seu traça<strong>do</strong>, <strong>do</strong>s miliários ou… <strong>do</strong>s modernos<br />

painéis que nel<strong>as</strong> se quer implantar… 12<br />

Figura 2<br />

A preparação <strong>da</strong> pedra, <strong>do</strong>nde se cortaria o miliário,<br />

à beira <strong>da</strong> própria via (Geira).<br />

9<br />

Um <strong>do</strong>s últimos trabalhos sobre os miliários <strong>da</strong> Geira deve-se a António Rodríguez Colmenero, Santiago Ferrer Sierra e Rubén D. Álvarez Asorey: Miliarios<br />

e Outr<strong>as</strong> Inscricións Viári<strong>as</strong> Roman<strong>as</strong> <strong>do</strong> Noroeste Hispânico (Conventos Bracarense, Lucense e Asturicense), Consello <strong>da</strong> Cultura Gallega, 2004.<br />

10<br />

João Pedro BERNARDES e Luís Filipe OLIVEIRA, A “Calçadinha” de S. Brás de Alportel e a Antiga Rede Viária <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> Central, Câmara Municipal<br />

de S. Brás de Alportel, 2002. Ver também Sandra RODRIGUES, As Vi<strong>as</strong> Roman<strong>as</strong> <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>, Faro, 2004.<br />

11<br />

Notável, pelo méto<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> e pelo que significa como sistemática exploração <strong>do</strong> território envolvente <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Évora, é o livro de Francisco BILOU,<br />

O Sistema Viário Antigo na Região de Évora, que teve, em 2004, du<strong>as</strong> edições, uma del<strong>as</strong> significativamente patrocina<strong>da</strong> pela Comissão de Coordenação<br />

e Desenvolvimento Regional <strong>do</strong> Alentejo.<br />

12<br />

A luta que foi para a Brisa aceder a publicitar património cultural!…<br />

58 AS VIAS DO ALGARVE


miliários, pontes,<br />

divin<strong>da</strong>des…<br />

Já se sublinhou que a forma cilíndrica e a paginação<br />

<strong>do</strong> miliário romano, deixan<strong>do</strong> na superfície perpendicular<br />

ao eixo <strong>da</strong> via <strong>as</strong> palavr<strong>as</strong> mais importantes<br />

<br />

a imediata percepção <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> informativo <strong>da</strong><br />

epígrafe. 13 É hoje genericamente aceite a ideia de<br />

Pierre Salama 14 de que, a partir <strong>do</strong> século III, os<br />

miliários com o nome <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r em <strong>da</strong>tivo e sem<br />

menção de milh<strong>as</strong> <strong>as</strong>sumem funções preferentemen-<br />

<br />

por est<strong>as</strong> paragens e noutr<strong>as</strong>, o ambiente citadino<br />

<br />

vi<strong>as</strong> deteriam, teoricamente, mais ‘especta<strong>do</strong>res’<br />

ou especta<strong>do</strong>res mais atentos <strong>do</strong> que a ci<strong>da</strong>de,<br />

que, aliás, já não <strong>as</strong>sumiria, nessa época, um papel<br />

tão aglutina<strong>do</strong>r <strong>da</strong> população como outrora. Os<br />

proprietários d<strong>as</strong> villae – “antep<strong>as</strong>sa<strong>do</strong>s”, digamos<br />

<strong>as</strong>sim, “<strong>do</strong>s senhores feu<strong>da</strong>is” – certamente iriam<br />

procuran<strong>do</strong> juntar em torno de si <strong>as</strong> gentes <strong>do</strong>s<br />

arre<strong>do</strong>res, quer para o seu prestígio pessoal quer<br />

para, através dessa atitude, não desprovi<strong>da</strong> de<br />

laivos culturais, como se sabe, obterem dividen<strong>do</strong>s<br />

económicos e políticos 15 .<br />

As pontes constituem, por seu turno, de há muito<br />

a esta parte, um outro quebra-cabeç<strong>as</strong> e um outro<br />

f<strong>as</strong>cínio. Roman<strong>as</strong> Medievais sobre estrutur<strong>as</strong><br />

roman<strong>as</strong> De montanha, como a de Alcântara (e<br />

mesmo essa que é que tem de autenticamente<br />

romano e que será <strong>do</strong> tempo <strong>do</strong>s Reis Católicos),<br />

ou de planície, como a de Méri<strong>da</strong> (que, também<br />

<br />

16<br />

Figura 3<br />

Miliário de Braga, onde se apercebe claramente que a paginação era<br />

feita colocan<strong>do</strong> <strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>-chave no eixo perpendicular à via: o nome<br />

principal <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r (HADRIAN), o número <strong>do</strong> seu poder tribunício,<br />

a identificação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de a partir <strong>da</strong> qual se contavam <strong>as</strong> milh<strong>as</strong>, o<br />

número de milh<strong>as</strong> (M P XIII).<br />

13<br />

José d’ENCARNAÇÃO, «Miliários <strong>da</strong> Geira: informação e propagan<strong>da</strong>», Cadernos de Arqueologia 12-13 1995-1996 39-43.<br />

14<br />

Pierre SALAMA, «La parabole des milliaires chez Saint Augustin», L’ Africa Romana 6** 1989 697-707 (sobretu<strong>do</strong> p. 703-707: «La realité des bornes<br />

milliaires en Afrique». Contra: Robert ÉTIENNE, Le Culte Impérial <strong>da</strong>ns la Péninsule Ibérique d’Auguste à Dioclétien. Paris, 1974 (reimp.), p. 502-503<br />

– que cita Pierre SALAMA, «La colonie de Rusguniae d’après les inscriptions», Revue Africaine 99 1955 5-52. Ver também Pierre SALAMA, Bornes<br />

Milliaires d’ Afrique Proconsolaire (Un Panorama du B<strong>as</strong> Empire Romain), Roma, 1987.<br />

15<br />

O édito de Galieno, de 261, que, na prática, retirava aos sena<strong>do</strong>res efectivo poder político, pois implicava, segun<strong>do</strong> Aurélio Vítor (33, 39 e seg.; 37, 6),<br />

ne imperium ad optimos nobilium transferretur – «que o poder militar não p<strong>as</strong>s<strong>as</strong>se para <strong>as</strong> mãos <strong>do</strong>s melhores <strong>do</strong>s nobres» – acabou por ter como<br />

consequência que os sena<strong>do</strong>res “volt<strong>as</strong>sem à terra” e se dedic<strong>as</strong>sem à cultura, o que lhes aumenta o poder social. De resto, é devi<strong>do</strong> a esse contributo<br />

que se <strong>as</strong>siste, no século IV – como <strong>as</strong>sinala Jean GAGÉ (Les Cl<strong>as</strong>ses Sociales <strong>da</strong>ns l’Empire Romain, Paris, 1964, p. 250 e 262) - , a uma espécie de<br />

primeiro ren<strong>as</strong>cimento clássico e pagão e se <strong>as</strong>siste ao elogio <strong>da</strong> cultura e d<strong>as</strong> virtudes polític<strong>as</strong> (cf. V. NERI, «L’elogio della cultura e l’elogio delle virtù<br />

politiche nell’epigrafia latina del IV secolo d. C.», Epigraphica XLIII 1981 175-201).<br />

16<br />

Cf., neste mesmo volume e a propósito de to<strong>da</strong> esta problemática, a intervenção de João Pedro BERNARDES, «Existem pontes roman<strong>as</strong> no <strong>Algarve</strong>».<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 59


Os miliários, evidentemente (e opto apen<strong>as</strong> por<br />

dizer ‘miliário’ – e não “marco miliário” – seguin<strong>do</strong><br />

a sugestão de Justino Mendes de Almei<strong>da</strong>, que<br />

atribui ao vocábulo miliário um valor substantivo<br />

e não adjectival 17 ), por terem letr<strong>as</strong>, por a sua<br />

mensagem carecer de decifração, arvoram-<br />

-se em grandes “senhores” no estu<strong>do</strong> d<strong>as</strong> vi<strong>as</strong><br />

roman<strong>as</strong>, inclusive porque, geralmente de granito<br />

e amiúde reutiliza<strong>do</strong>s e retira<strong>do</strong>s <strong>do</strong> seu local<br />

original, sofreram escoriações que, em regra, lhes<br />

<br />

<br />

<br />

é o próprio a digladiar-se consigo mesmo, len<strong>do</strong><br />

hoje uma coisa e propon<strong>do</strong> no ano seguinte uma<br />

<br />

Concomitantemente à decifração, a interpretação:<br />

a necessi<strong>da</strong>de de – numa visão ampla, a nível<br />

de província, <strong>da</strong> Hispânia, <strong>da</strong> parte ocidental <strong>do</strong><br />

Império… – se perceberem polític<strong>as</strong> administrativ<strong>as</strong>,<br />

gestões macro-económic<strong>as</strong>, pois a via é elo<br />

de cadeia e só <strong>as</strong>sim se pode cabalmente compreender,<br />

como se preconiza a propósito <strong>da</strong> obra de<br />

Elena Banzi, <br />

Storica (De Boccard, Paris, 1999):<br />

«A leitura crítica d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> inscrições, se se tiver<br />

<br />

sua situação e <strong>do</strong> meio político e cultural que os<br />

produziu, fornece, amiúde, elementos essenciais<br />

para a reconstituição e destino <strong>do</strong>s itinerários ao<br />

longo <strong>do</strong>s quais foram implanta<strong>do</strong>s. Poder-se-ão<br />

determinar, desta sorte, os perío<strong>do</strong>s de utilização<br />

mais intensa, eventuais f<strong>as</strong>es de aban<strong>do</strong>no, <strong>as</strong><br />

razões que induziram <strong>as</strong> autori<strong>da</strong>des roman<strong>as</strong> a<br />

“abrir” certos itinerários e a cui<strong>da</strong>r deles com mais<br />

atenção» 18 .<br />

A descoberta d<strong>as</strong> mansiones ou d<strong>as</strong> mutationes<br />

revela-se, por sua vez, de superior interesse, de to<strong>do</strong>s<br />

os pontos de vista. Não temos a pretensão de – como<br />

Figura 4<br />

Ara aos Lares Viales, de Braga.<br />

17<br />

Justino Mendes de ALMEIDA, «Vária terminologia epigráfica e arqueológica», Estu<strong>do</strong>s Arqueológicos 1 1974 221-225.<br />

18<br />

Ver, a este propósito, José María ÁLVAREZ MARTÍNEZ, «Calzad<strong>as</strong> de Hispania: planificación e ideología imperial», in Vittorio GALLIAZZO [coord.], Via<br />

Claudia Augusta – Un’arteria alle origini dell’Europa: ipotesi, problemi, prospettive (Feltre, 24-25.09.1999), Treviso, 2002, p. 375-395.<br />

60 AS VIAS DO ALGARVE


Figura 5<br />

Capitel <strong>da</strong> ara aos Lares Viales, com vestígios <strong>da</strong> utilização <strong>do</strong> foculus,<br />

na queima d<strong>as</strong> essênci<strong>as</strong>.<br />

nos Alpes – esses locais de obrigatória p<strong>as</strong>sagem e<br />

de serena paragem serem, em simultâneo, santuário<br />

de culto a um Júpiter de epíteto local ou <strong>as</strong>socia<strong>do</strong><br />

à divin<strong>da</strong>de indígena ali venera<strong>da</strong> 19 ; m<strong>as</strong>… que são<br />

<strong>as</strong> alminh<strong>as</strong> senão a reminiscência d<strong>as</strong> ar<strong>as</strong> aos<br />

Lares Viales <br />

caminha<strong>da</strong> – e de que a ara de Bracara Augusta<br />

<br />

ain<strong>da</strong> com vestígios <strong>da</strong> acção <strong>do</strong> fogo no foculus<br />

20 Também<br />

em Freixo de Numão, num<strong>as</strong> penedi<strong>as</strong>, sugeriu-<br />

-nos Marc Mayer que pudéssemos interpretar<br />

uma epígrafe como o agradecimento de Antiro<br />

a Hércules, por a divin<strong>da</strong>de, através de oráculo,<br />

lhe haver indica<strong>do</strong> o melhor caminho a seguir em<br />

segurança («sine furtu») 21 .<br />

Caminhos antigos, percursos novos, <strong>as</strong> mesm<strong>as</strong><br />

<br />

Percursos novos no senti<strong>do</strong> de que, com alguma<br />

frequência, por sobre os antigos, sabiamente<br />

delinea<strong>do</strong>s em plena comunhão com a Natureza e<br />

não agredin<strong>do</strong>-a, novos percursos se mol<strong>da</strong>ram no<br />

decorrer <strong>do</strong>s tempos. Percursos novos num outro<br />

senti<strong>do</strong> também, pois diversa é, hoje, a perspectiva<br />

de que nos colocamos para o seu estu<strong>do</strong>: via-<br />

-caminho, via-sintoma, via-elo inseparável de to<strong>da</strong><br />

uma circunstância no espaço e no tempo.<br />

Para nós, neste dealbar <strong>do</strong> século XXI, o supremo<br />

<br />

19<br />

Recor<strong>do</strong> o que aconteceu junto ao lacus Poeninus, nos Alpes, à beira de uma via r<strong>as</strong>ga<strong>da</strong> na rocha, onde se edificou um santuário rupestre (Plan de<br />

Júpiter), abun<strong>da</strong>nte em plac<strong>as</strong> votiv<strong>as</strong> dedicad<strong>as</strong> a Poeninus, a Iuppiter Poeninus e às Dominae. Cf. Antonina Maria CAVALLARO e Patrizia FRAMARIN,<br />

«Il nuovo museo dell’Ospizio del Gran S. Bernar<strong>do</strong>. Problemi di riordino e proposta di fruizione de una raccolta antiquaria in un piccolo museo del territorio»,<br />

Epigraphica L 1988, p. 264-272.<br />

20<br />

Vide Armandino CUNHA, José d’ENCARNAÇÃO e Francisco Sande LEMOS, «Ara aos Lares Viales, de Bracara Augusta», Forum (revista <strong>do</strong> Conselho<br />

Cultural <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Minho), 37 (Jan-Jun 2005), p. 147-155.<br />

21<br />

Vide António N. Sá COIXÃO e José d’ENCARNAÇÃO, «Epigrafia rupestre de Numão», Saxa Scripta – Act<strong>as</strong> <strong>do</strong> III Simpósio Ibero-Itálico de Epigrafia<br />

Rupestre, Viseu, 2001, p. 199-208; AE 2001, 1162; HEp 11 2005 nº 675.<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 61


A “CALÇADINHA” DE SÃO BRÁS DE ALPORTEL<br />

.IX Resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s Trabalhos Arqueológicos de Valorização de 2003-2005<br />

ANGELINA PEREIRA<br />

Câmara Municipal de São Brás de Alportel<br />

resumo<br />

C<br />

Cumpri<strong>da</strong> a calen<strong>da</strong>rização <strong>do</strong> Projecto inicial<br />

foi-nos coloca<strong>da</strong> a oportuni<strong>da</strong>de de apresentar<br />

os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s trabalhos arqueológicos<br />

de valorização e subsequente investigação<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s na “Calçadinha” de São Brás de<br />

Alportel.<br />

<br />

a existência de um segun<strong>do</strong> troço de calça<strong>da</strong>,<br />

designa<strong>do</strong> por B, cuj<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong><br />

se enquadram no que é habitual para caminhos<br />

romanos.<br />

Trazer à luz <strong>do</strong> dia parte <strong>do</strong> p<strong>as</strong>sa<strong>do</strong> deste<br />

Concelho, conduzi-lo-á, certamente, a avivar a<br />

memória colectiva <strong>da</strong> população, cujo património<br />

arqueológico é hoje visto não só como uma mais<br />

valia presente, m<strong>as</strong> também como uma promessa<br />

de perspectiv<strong>as</strong> futur<strong>as</strong>.<br />

62 AS VIAS DO ALGARVE


o espaço:<br />

enquadramento geral<br />

São Brás de Alportel, situa<strong>do</strong> às port<strong>as</strong> <strong>do</strong> complexo<br />

montanhoso <strong>da</strong> Serra <strong>do</strong> Caldeirão e inseri<strong>do</strong> num<br />

espaço que se reparte, em termos geológicos, entre<br />

uma zona de xistos (Serra) e uma faixa calcária<br />

(Barrocal) constituiu, desde época antiga, uma d<strong>as</strong><br />

p<strong>as</strong>sagens privilegiad<strong>as</strong> entre o litoral e o interior.<br />

Esta duali<strong>da</strong>de paisagístico-natural ter-lhe-á proporciona<strong>do</strong><br />

ser o local ideal para o cruzamento de<br />

du<strong>as</strong> estrad<strong>as</strong> milenares calcetad<strong>as</strong> que se articulavam,<br />

muito provavelmente, com o antigo itinerário<br />

longitudinal que faria a ligação entre Tavira e<br />

Loulé, e com a derivação para Sul, até Faro, pela<br />

via hoje designa<strong>da</strong> por “Calçadinha”.<br />

localização geográfica<br />

A “Calçadinha” de São Brás de Alportel localiza-se<br />

no lugar de Hort<strong>as</strong> e Moinhos (São Brás de Alportel,<br />

Faro) e percorre um pequeno vale cuja altitude<br />

varia entre os 177 e os 214 metros.<br />

Trata-se de um sítio designa<strong>do</strong> por “Via”, cujo<br />

perío<strong>do</strong> cronológico de utilização se situa entre o<br />

romano-medieval e o moderno-contemporâneo.<br />

história <strong>da</strong><br />

investigação<br />

A referência mais antiga à “Calçadinha” parece ser<br />

a que se encontra na obra de Maria Luísa Estácio V.<br />

A. Santos (1971-72) que a menciona pela primeira<br />

vez numa obra de arqueologia romana <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>.<br />

Na déca<strong>da</strong> de 80 Teresa Júdice Gamito realizou<br />

a caracterização arqueológica para o Plano de<br />

Urbanização <strong>da</strong> Vila com o objectivo de aferir o seu<br />

<br />

<br />

e exemplar».<br />

A atenção pela “Calçadinha”, enquanto sítio<br />

arqueológico com interesse patrimonial a valorizar,<br />

<br />

Em Julho de 1998, a C<strong>as</strong>a <strong>da</strong> Cultura António<br />

Bentes, sob a direcção de Emanuel Andrade C.<br />

Sancho, realizou os primeiros trabalhos no troço<br />

A <strong>da</strong> “Calçadinha” com o objectivo de promover o<br />

seu aproveitamento turístico.<br />

Em 1999/2000, Susana Estrela e Pedro Barros, numa<br />

perspectiva mais ampla, iniciaram o Levantamento<br />

Arqueológico <strong>do</strong> Concelho com o objectivo de,<br />

a partir <strong>da</strong> via, caracterizarem a antiga rede de<br />

povoamento.<br />

Em 2002, João Pedro Bernardes e Luís Filipe<br />

Oliveira, publicaram um estu<strong>do</strong> onde caracterizam<br />

a “Calçadinha” no contexto <strong>da</strong> rede viária <strong>do</strong><br />

perío<strong>do</strong> romano no <strong>Algarve</strong> central e, em particular,<br />

em São Brás de Alportel.<br />

Foi neste contexto que a Autarquia são-br<strong>as</strong>ense<br />

desenvolveu os Projectos <strong>do</strong> Centro Explicativo e<br />

de Valorização <strong>da</strong> via.<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 63


o projecto de<br />

valorização<br />

Objectivos<br />

No âmbito <strong>do</strong> Projecto <strong>do</strong> Centro Explicativo e<br />

de Acolhimento <strong>da</strong> “Calçadinha” de São Brás de<br />

Alportel, desenvolveu-se o Projecto de Valorização<br />

<strong>da</strong> “Calçadinha”, proceden<strong>do</strong>-se à realização de<br />

trabalhos arqueológicos, os quais visaram valorizar<br />

o antigo traça<strong>do</strong> existente <strong>da</strong> via e, neste senti<strong>do</strong>, o<br />

património histórico–arqueológico <strong>do</strong> Concelho.<br />

O percurso <strong>da</strong> “Calçadinha” desenvolve-se por uma<br />

extensão total de 1480 metros, percorren<strong>do</strong> um<br />

pequeno vale inseri<strong>do</strong> a Sul, ao qual é sobranceira<br />

uma zona mais eleva<strong>da</strong> onde está hoje implanta<strong>da</strong><br />

a Igreja Matriz. Actualmente restam conserva<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>is troços, designa<strong>do</strong>s por A e B, separa<strong>do</strong>s por<br />

alguns metros outrora pavimenta<strong>do</strong>s, m<strong>as</strong> hoje<br />

<br />

os trabalhos<br />

arqueológicos<br />

Descrição sumária<br />

O sítio intervenciona<strong>do</strong> apresentava, antes <strong>do</strong> início<br />

<strong>do</strong>s trabalhos, um <strong>as</strong>pecto de matagal. Existia muita<br />

vegetação que nalguns locais era densa.<br />

Os trabalhos de valorização na “Calçadinha”<br />

incluíram a limpeza e remoção <strong>da</strong> vegetação e de<br />

terr<strong>as</strong> que ao longo <strong>do</strong>s tempos se acumularam<br />

sobre a via, trazen<strong>do</strong> de novo à luz <strong>do</strong> dia a calça<strong>da</strong><br />

existente. Procedeu-se também à colocação de<br />

plac<strong>as</strong> informativ<strong>as</strong> ao longo <strong>do</strong> percurso, para<br />

que o visitante possa usufruir de uma informação<br />

adequa<strong>da</strong>, a nível arqueológico, histórico, ambiental<br />

e geológico.<br />

Os trabalhos arqueológicos, vocaciona<strong>do</strong>s para<br />

uma atitude de sensibilização junto <strong>da</strong> população<br />

mais jovem deste concelho, permitiram o<br />

fomento de activi<strong>da</strong>des de cariz educacional e<br />

pe<strong>da</strong>gógico, através de program<strong>as</strong> educativos de<br />

ocupação de tempos livres, de visit<strong>as</strong> guiad<strong>as</strong>, <strong>da</strong><br />

investigação contínua, de Palestr<strong>as</strong> e Conferênci<strong>as</strong><br />

e <strong>da</strong> realização de material informativo e de<br />

divulgação. O arranjo urbanístico <strong>do</strong> acesso ao<br />

local, a colocação de sinalética direccional e<br />

<br />

contribuíram para valorizar este arqueo–sítio e<br />

incentivar à sua visita.<br />

Figura 1<br />

Aspecto <strong>da</strong> via antes <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s trabalhos arqueológicos<br />

de valorização.<br />

Os sedimentos que soterravam a “Calçadinha”, ora<br />

deixavam entrever parte <strong>da</strong> mesma devi<strong>do</strong> à sua<br />

reduzi<strong>da</strong> espessura (0 a 10 cm), ora a tapavam por<br />

<br />

largura <strong>da</strong> via, afunilan<strong>do</strong>-a e tornan<strong>do</strong>-a numa<br />

carreteira de pé posto (vere<strong>da</strong>).<br />

Os sedimentos removi<strong>do</strong>s eram constituí<strong>do</strong>s,<br />

maioritariamente, por terra pouco compacta, de<br />

coloração c<strong>as</strong>tanha, e por pedra solta de pequena/<br />

média dimensão.<br />

O troço B apresenta uma notável extensão de cerca<br />

de 550m e uma largura que varia entre os 2,40m e<br />

os 3,50m, embora não se apresente calceta<strong>do</strong> em<br />

to<strong>da</strong> a sua extensão.<br />

64 AS VIAS DO ALGARVE


<strong>as</strong> estrutur<strong>as</strong><br />

arqueológic<strong>as</strong><br />

Descrição sumária<br />

O troço B <strong>da</strong> “Calçadinha” apresenta, <strong>as</strong>sociad<strong>as</strong> a<br />

segmentos <strong>da</strong> sua provável estrutura original, algum<strong>as</strong><br />

reconstruções que <strong>da</strong>tam de époc<strong>as</strong> posteriores.<br />

mentos<br />

que diferem entre si.<br />

Observam-se, para além <strong>do</strong>s segmentos empedra<strong>do</strong>s,<br />

segmentos em terra bati<strong>da</strong>.<br />

Os segmentos calceta<strong>do</strong>s foram dividi<strong>do</strong>s em secções<br />

ten<strong>do</strong> por b<strong>as</strong>e a técnica construtiva observa<strong>da</strong>:<br />

Secção I<br />

Aproxima-se <strong>do</strong> modelo empregue na construção de<br />

calçad<strong>as</strong> roman<strong>as</strong>, na qual se observa a existência<br />

de um lajea<strong>do</strong> de média/grande dimensão, um certo<br />

abaulamento <strong>do</strong> empedra<strong>do</strong> superior delimita<strong>do</strong><br />

por pedr<strong>as</strong> em cutelo (margines) e uma largura que<br />

ron<strong>da</strong> os 8 pés (2,50m).<br />

Figura 3<br />

Secção II<br />

Secção III<br />

Corresponde à remodelação efectua<strong>da</strong> no século XIX,<br />

em que se observa um lajea<strong>do</strong> geométrico idêntico<br />

ao <strong>do</strong> troço A, composto por pedr<strong>as</strong> de pequena/<br />

média dimensão e um eixo central delimita<strong>do</strong> por<br />

pedr<strong>as</strong> em cutelo (margines), <strong>do</strong> qual saem linh<strong>as</strong><br />

perpendiculares que formam quadrícul<strong>as</strong>, dividid<strong>as</strong><br />

obliquamente em triângulos rectângulos.<br />

Nesta remodelação ter-se-ão aplica<strong>do</strong> <strong>as</strong> recomen<strong>da</strong>ções<br />

para a reparação e/ou reconstrução de<br />

estrad<strong>as</strong> que o Bispo D. Francisco Gomes <strong>do</strong> Avelar<br />

fez publicar em Faro, em 1809.<br />

Figura 2<br />

Secção I – Modelo de construção que se aproxima <strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong><br />

em época romana.<br />

Secção II<br />

Não obedece a nenhum padrão muito claro e<br />

poderá <strong>da</strong>tar <strong>da</strong> época medieval.<br />

Figura 4<br />

Secção III – Remodelação efectua<strong>da</strong> no século XIX.<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 65


segmentos em terra<br />

bati<strong>da</strong><br />

Existem ain<strong>da</strong> segmentos que não apresentam<br />

empedra<strong>do</strong> e que, grosso mo<strong>do</strong>, correspondem<br />

a zon<strong>as</strong> plan<strong>as</strong> (troços em linha recta). Aí foram<br />

apen<strong>as</strong> detecta<strong>do</strong>s vestígios <strong>da</strong> provável delimitação<br />

<strong>do</strong> traça<strong>do</strong> <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> no terreno, ou seja, uma<br />

<br />

outros segmentos<br />

Muito provavelmente, estes segmentos corresponderão<br />

à segun<strong>da</strong> f<strong>as</strong>e <strong>da</strong> técnica utiliza<strong>da</strong> na<br />

construção <strong>da</strong> via, o rudus.<br />

Nesta antiga estra<strong>da</strong> o calcetamento terá si<strong>do</strong><br />

aplica<strong>do</strong> para vencer os obstáculos naturais, em<br />

zon<strong>as</strong> de declive acentua<strong>do</strong>, com solos de difícil<br />

trânsito e pisos irregulares que seriam facilmente<br />

altera<strong>do</strong>s pel<strong>as</strong> torrentes d<strong>as</strong> águ<strong>as</strong> pluviais ou por<br />

outros agentes erosivos.<br />

Figura 6<br />

Segmento <strong>da</strong> via que apresenta o que corresponderá à segun<strong>da</strong> f<strong>as</strong>e<br />

<strong>da</strong> técnica de construção, o rudus.<br />

Figura 5<br />

Segmento em terra bati<strong>da</strong>.<br />

Figura 7<br />

Aspecto/pormenor <strong>do</strong> troço B <strong>da</strong> “Calçadinha” de S. Brás de Alportel<br />

A maior parte dest<strong>as</strong> vi<strong>as</strong> têm característic<strong>as</strong><br />

comuns, ou seja, eram construíd<strong>as</strong> segun<strong>do</strong><br />

modelos muito próprios.<br />

66 AS VIAS DO ALGARVE


<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong><br />

de construção<br />

Para a sua construção o terreno era escava<strong>do</strong>,<br />

abrin<strong>do</strong>-se um fosso (sulcus), e depois procedia-<br />

-se ao seu enchimento, o qual era feito em três<br />

f<strong>as</strong>es. A primeira cama<strong>da</strong> ou statumen era forma<strong>da</strong><br />

por terra e pedr<strong>as</strong> de vári<strong>as</strong> dimensões bem<br />

compactad<strong>as</strong>; sobre essa colocava-se o rudus,<br />

constituí<strong>do</strong> por uma m<strong>as</strong>sa de seixos liga<strong>do</strong>s com<br />

argam<strong>as</strong>sa e bati<strong>do</strong>s com maços para obter uma<br />

<br />

superior, o pavimentum, com lajes de dimensões<br />

vári<strong>as</strong> e de superfície abaula<strong>da</strong> para favorecer o<br />

escoamento d<strong>as</strong> águ<strong>as</strong> pluviais para <strong>as</strong> berm<strong>as</strong>.<br />

a “Calçadinha” de<br />

São Brás de Alportel<br />

no contexto d<strong>as</strong> Vi<strong>as</strong><br />

Roman<strong>as</strong> <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong><br />

Central<br />

A natureza técnica <strong>da</strong> construção, na qual são<br />

observáveis lajes de média/grande dimensão,<br />

permite-nos inseri-la no modelo romano uma vez que<br />

a via apresenta:<br />

a) um percurso a meia encosta;<br />

<br />

rochoso;<br />

c) um certo abaulamento <strong>do</strong> empedra<strong>do</strong> superior<br />

delimita<strong>do</strong> por pedr<strong>as</strong> em cutelo (margines);<br />

d) uma largura que ron<strong>da</strong> os 8 pés (2,50 m).<br />

Figura 8<br />

Elementos constituitivos de uma calça<strong>da</strong> romana.<br />

(reproduzi<strong>do</strong> de RODRIGUES, 2004:20)<br />

Na “Calçadinha” o calcetamento terá si<strong>do</strong> aplica<strong>do</strong>,<br />

para vencer os obstáculos naturais, em zon<strong>as</strong> de<br />

declive acentua<strong>do</strong> com solos de difícil trânsito e<br />

irregulares que seriam facilmente altera<strong>do</strong>s pel<strong>as</strong><br />

torrentes d<strong>as</strong> águ<strong>as</strong> pluviais ou por outros agentes<br />

erosivos. Assim, entre segmentos empedra<strong>do</strong>s<br />

deparamo-nos com outros em terra bati<strong>da</strong> que,<br />

grosso mo<strong>do</strong>, correspondem a zon<strong>as</strong> plan<strong>as</strong> e em<br />

linha recta.<br />

No âmbito d<strong>as</strong> reparações efectuad<strong>as</strong> no século<br />

<br />

de construção empregues durante os séculos<br />

seguintes são análog<strong>as</strong> às utilizad<strong>as</strong> durante a<br />

época romana.<br />

Esta hipótese, recentemente coloca<strong>da</strong>, b<strong>as</strong>eia-se<br />

também noutros <strong>as</strong>pectos.<br />

É de salientar que junto ao troço A foi encontra<strong>da</strong>,<br />

na segun<strong>da</strong> metade <strong>do</strong> século XX, uma<br />

sepultura com espólio <strong>as</strong>socia<strong>do</strong> (BERNARDES e<br />

OLIVEIRA, 2002:26-27). Por outro la<strong>do</strong>, ain<strong>da</strong> n<strong>as</strong><br />

proximi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> troço A, <br />

estrutur<strong>as</strong> arqueológic<strong>as</strong> <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> romano, cujos<br />

<br />

século IV-V d.C. (terra sigillata Hispânica, Clara D<br />

e um fragmento de ânfora), e que corresponderão,<br />

provavelmente, a uma estação viária “tipo mutatio”<br />

(estação de mu<strong>da</strong> de animais e carros para<br />

viajantes).<br />

Outros <strong>as</strong>pectos que reforçam a hipótese deste<br />

antigo caminho ter origem em época romana são<br />

os antigos <strong>do</strong>cumentos que apresentavam os<br />

principais itinerários entre <strong>as</strong> vári<strong>as</strong> ci<strong>da</strong>des.<br />

Um deles, o Itinerário de Antonino, fonte clássica<br />

<strong>do</strong> século III d.C., refere a existência de algum<strong>as</strong><br />

dess<strong>as</strong> estrad<strong>as</strong> que atravessavam então o<br />

<strong>Algarve</strong>. A mais importante dess<strong>as</strong> vi<strong>as</strong> seria a que<br />

percorria o litoral, desde Baesuris (C<strong>as</strong>tro Marim)<br />

ao Promontorium Sacrum, p<strong>as</strong>san<strong>do</strong> pel<strong>as</strong> ci<strong>da</strong>des<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 67


de Balsa (Luz de Tavira) e de Ossonoba (Faro). A<br />

esta estra<strong>da</strong>, ligavam-se outr<strong>as</strong> secundári<strong>as</strong>, uma<br />

del<strong>as</strong>, provavelmente a “Calçadinha”, atravessava<br />

o território onde hoje se localiza o Concelho de<br />

São Brás de Alportel e prosseguia em direcção<br />

às grandes ci<strong>da</strong>des roman<strong>as</strong>: Pax Iulia (Beja) e<br />

Olisipo (Lisboa).<br />

Por último, salientamos os resulta<strong>do</strong>s recentemente<br />

apresenta<strong>do</strong>s na obra de Sandra Rodrigues (2004)<br />

intitula<strong>da</strong> “As Vi<strong>as</strong> Roman<strong>as</strong> <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>”, onde a<br />

autora refere que parece “plausível a ideia de se<br />

tratar de uma via terrena, pelo menos até ao sítio<br />

de Hort<strong>as</strong> e Moinhos, onde existem <strong>do</strong>is troços<br />

de calça<strong>da</strong> cuj<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> nos impelem à<br />

atribuição de uma cronologia romana, sobretu<strong>do</strong><br />

num deles (RODRIGUES, 2004:68).<br />

<br />

se encontrarem, ain<strong>da</strong> hoje, bem visíveis ao<br />

longo <strong>do</strong> troço B, não podemos esquecer que<br />

o conhecimento d<strong>as</strong> vi<strong>as</strong> roman<strong>as</strong> <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> se<br />

encontra limita<strong>do</strong> devi<strong>do</strong>, em parte, às afectações<br />

e reutilizações a que est<strong>as</strong> estrad<strong>as</strong> estiveram<br />

sujeit<strong>as</strong> ao longo <strong>do</strong>s séculos.<br />

considerações finais<br />

Consideran<strong>do</strong> <strong>as</strong> característic<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> que a<br />

“Calçadinha” evidencia e os antigos <strong>do</strong>cumentos<br />

que apresentam os principais itinerários entre <strong>as</strong><br />

vári<strong>as</strong> ci<strong>da</strong>des, colocamos a hipótese deste antigo<br />

caminho fazer, originalmente, parte <strong>do</strong> Itinerário<br />

XXI de Antonino, uma d<strong>as</strong> mais importantes vi<strong>as</strong><br />

roman<strong>as</strong> <strong>do</strong> Sul <strong>da</strong> antiga província <strong>da</strong> Lusitânia.<br />

Assim, a “Calçadinha” seria uma via terrena<br />

(caminho de abertura fácil e que contemplaria<br />

grande parte <strong>do</strong> seu traça<strong>do</strong> em terra bati<strong>da</strong>),<br />

constituin<strong>do</strong>, provavelmente, uma ligação<br />

secundária entre a principal ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> e<br />

sede de ciuit<strong>as</strong> – Ossonoba (Faro) – e a capital<br />

conventual – Pax Iulia (Beja).<br />

Na falta de troços empedra<strong>do</strong>s, o seu provável<br />

trajecto pôde ser segui<strong>do</strong> a partir de uma análise<br />

toponímica e <strong>da</strong> localização de sítios arqueológicos<br />

conheci<strong>do</strong>s.<br />

Assim, a referi<strong>da</strong> via saía <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Ossonoba<br />

(Faro) pela estra<strong>da</strong> <strong>da</strong> Penha, p<strong>as</strong>sava pela<br />

Conceição, por Milreu (Estói) e pelos Macha<strong>do</strong>s<br />

até ao sítio de Hort<strong>as</strong> e Moinhos, onde podemos<br />

encontrar os <strong>do</strong>is troços calceta<strong>do</strong>s.<br />

A “Calçadinha” começou a ser gradualmente<br />

“aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong>” a partir de 1860, <strong>da</strong>ta em que foi<br />

construí<strong>da</strong> a estra<strong>da</strong> moderna, sen<strong>do</strong> apen<strong>as</strong><br />

utiliza<strong>da</strong> como caminho rural, por p<strong>as</strong>tores e alguns<br />

habitantes de sítios circun<strong>da</strong>ntes.<br />

To<strong>do</strong>s os factores menciona<strong>do</strong>s, apesar de tod<strong>as</strong><br />

<strong>as</strong> dúvid<strong>as</strong> que sempre enformam uma pesquisa<br />

desta natureza – a atribuição de uma cronologia<br />

mais antiga para esta via, nomea<strong>da</strong>mente romana<br />

– são o resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong> investigação que, por agora,<br />

nos foi possível apresentar.<br />

68 AS VIAS DO ALGARVE


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<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 69


.X<br />

OS CAMINHOS, AS VERE<strong>DAS</strong> E O POVOAMENTO ANTIGO.<br />

Do Romano ao Islâmico. Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s revela<strong>do</strong>s pela arqueologia<br />

no concelho de Alcoutim.<br />

FERNANDO DIAS | MANUELA TEIXEIRA<br />

Divisão de Acção Social Cultura e Desporto | Município de Alcoutim<br />

resumo<br />

C<br />

Com o presente póster pretende-se apresentar o<br />

panorama d<strong>as</strong> vi<strong>as</strong> de comunicação terrestres no<br />

concelho de Alcoutim, <strong>da</strong> época romana ao perío<strong>do</strong><br />

islâmico, com b<strong>as</strong>e nos <strong>da</strong><strong>do</strong>s arqueológicos.<br />

Situa<strong>do</strong> no nordeste algarvio, no extremo <strong>da</strong> serra<br />

<strong>do</strong> Caldeirão, o território de Alcoutim caracteriza-<br />

-se por um relevo acidenta<strong>do</strong> e marca<strong>do</strong> pelos<br />

inúmeros vales serpentiformes d<strong>as</strong> ribeir<strong>as</strong> e<br />

barrancos que desaguam no rio Guadiana a este.<br />

Os solos são constituí<strong>do</strong>s especialmente por<br />

xistos, grauvaques e uma cama<strong>da</strong> de terra arável<br />

pouco espessa, responsável pela fraca capaci<strong>da</strong>de<br />

agrícola <strong>da</strong> região. A localização deste território,<br />

no limite sul <strong>da</strong> faixa piritosa ibérica, explica a<br />

existência de inúmeros “chapéus de ferro” ricos<br />

em cobre e outros minerais. Est<strong>as</strong> ocorrênci<strong>as</strong> são<br />

especialmente notóri<strong>as</strong> a nordeste de Martinlongo,<br />

a este de Vaqueiros, nos vales d<strong>as</strong> ribeir<strong>as</strong> de<br />

Foupana e Odeleite, e a norte de Alcoutim, numa<br />

faixa junto ao rio.<br />

Para o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> rede viária antiga no concelho<br />

de Alcoutim temos que seguir uma meto<strong>do</strong>logia<br />

<br />

<br />

por b<strong>as</strong>e a toponímia e o povoamento antigo.<br />

O rio Guadiana era a grande aveni<strong>da</strong> de acesso<br />

ao interior, como lhe chamou Cláudio Torres, e<br />

desempenhou um importante papel estrutura<strong>do</strong>r<br />

no desenvolvimento <strong>da</strong> rede de caminhos antigos.<br />

Os recursos mineralógicos, a p<strong>as</strong>torícia e a caça<br />

representaram o principal atractivo que levou ao<br />

estabelecimento de comuni<strong>da</strong>des neste território<br />

a partir <strong>do</strong>s perío<strong>do</strong>s neolítico e calcolítico. Esta<br />

dinâmica de povoamento teve continui<strong>da</strong>de n<strong>as</strong><br />

i<strong>da</strong>des <strong>do</strong> bronze e <strong>do</strong> ferro, como testemunham <strong>as</strong><br />

vári<strong>as</strong> necrópoles de cist<strong>as</strong> encontrad<strong>as</strong>.<br />

Do perío<strong>do</strong> romano imperial conhecemos vári<strong>as</strong><br />

estações de habitat em que a faixa junto ao rio<br />

Guadiana, pel<strong>as</strong> facili<strong>da</strong>des de comunicação que<br />

70 AS VIAS DO ALGARVE


permitiam o comércio com o exterior, foi mais<br />

densamente ocupa<strong>da</strong>. Destes sítios partiriam alguns<br />

trilhos que se embrenhavam no interior serrano<br />

com o principal objectivo de exploração <strong>do</strong>s ditos<br />

“chapéus de ferro” e por onde se faria o transporte<br />

<br />

que a civilização romana tenha aproveita<strong>do</strong> muitos<br />

caminhos anteriores, à semelhança <strong>do</strong> resto <strong>do</strong><br />

<strong>Algarve</strong> segun<strong>do</strong> V<strong>as</strong>co Gil Mant<strong>as</strong>. Para este<br />

perío<strong>do</strong> sublinhamos <strong>as</strong> referênci<strong>as</strong> de Antonino a<br />

uma estra<strong>da</strong> per compendium que ligaria Baesuris<br />

a p<strong>as</strong>san<strong>do</strong> pelo vale <strong>do</strong> Guadiana. Esta<br />

estra<strong>da</strong> que parece pouco lógico ter existi<strong>do</strong>, pelo<br />

facto <strong>do</strong> rio Guadiana ser facilmente navegável até<br />

Mértola, é c<strong>as</strong>o <strong>as</strong>sente para alguns especialist<strong>as</strong>.<br />

É provável que, vin<strong>da</strong> de Azinhal por Porto Largo,<br />

p<strong>as</strong>s<strong>as</strong>se por Corte d<strong>as</strong> Don<strong>as</strong>, Álamo, Montinho<br />

d<strong>as</strong> Laranjeir<strong>as</strong>, Lourinhã, Necrópole <strong>do</strong> Calvário<br />

e se af<strong>as</strong>t<strong>as</strong>se <strong>do</strong> rio por S. Martinho, Cerca<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> Ferrugem e seguisse em direcção à Ribeira<br />

<strong>do</strong> V<strong>as</strong>cão onde existe um antigo caminho <strong>do</strong><br />

la<strong>do</strong> de Mértola próximo d<strong>as</strong> ruín<strong>as</strong> <strong>do</strong> Moinho <strong>da</strong><br />

Calça<strong>da</strong>. Segun<strong>do</strong> Abel Viana uma outra via romana<br />

atravessaria a serra vin<strong>da</strong> de Balsa por Cachopo<br />

e Martinlongo, onde se bifurcaria para Alcoutim e<br />

para Mértola.<br />

reduzid<strong>as</strong> e às várze<strong>as</strong> <strong>do</strong> rio Guadiana, com maior<br />

potencial agrícola e facili<strong>da</strong>de de escoamento <strong>do</strong>s<br />

produtos.<br />

Salienta-se ain<strong>da</strong> o facto <strong>do</strong>s inúmeros caminhos<br />

<br />

registo de topónimos viários como calça<strong>da</strong>, portela,<br />

etc, que ligariam to<strong>da</strong> a rede de povoamento,<br />

denunciarem uma continui<strong>da</strong>de após a reconquista<br />

cristã. To<strong>do</strong>s estes caminhos e vered<strong>as</strong>, que<br />

serviram este território serrano até ao século XIX<br />

/XX, devem ter si<strong>do</strong> viae terrenae muito sinuos<strong>as</strong><br />

e estreit<strong>as</strong>.<br />

Esta dinâmica de ocupação / exploração mineira<br />

parece ter sofri<strong>do</strong> uma certa estagnação, ou mesmo<br />

<br />

visigótico/bizantino e emiral, segun<strong>do</strong> a análise<br />

<strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s arqueológicos conheci<strong>do</strong>s.<br />

Para o perío<strong>do</strong> islâmico pleno a arqueologia revela-<br />

<br />

local, testemunha<strong>do</strong> pela grande densi<strong>da</strong>de de<br />

habitats e crescimento <strong>da</strong> sua maioria. Associa<strong>da</strong><br />

a uma contínua exploração mineira parecem estar<br />

<strong>as</strong> explorações agrári<strong>as</strong> e pecuári<strong>as</strong> indicad<strong>as</strong> pelo<br />

surgimento de algum<strong>as</strong> alcari<strong>as</strong>, como Alcaria<br />

Chã, Vila Longa, Alcari<strong>as</strong> de Marim, Alcari<strong>as</strong> <strong>do</strong><br />

Laborato, Alcaria Cova e Barranco <strong>do</strong> Tecedeiro<br />

(CATARINO, 1997/98), cuj<strong>as</strong> capaci<strong>da</strong>des agrári<strong>as</strong><br />

<strong>do</strong>s terrenos devem ter orienta<strong>do</strong> a escolha <strong>da</strong> sua<br />

implantação. As explorações agrári<strong>as</strong> e pecuári<strong>as</strong><br />

roman<strong>as</strong> parecem ter-se limita<strong>do</strong> a áre<strong>as</strong> muito<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 71


72 AS VIAS DO ALGARVE


LEGENDA DO MAPA<br />

1 Monta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pereirão – referência a um forno de<br />

telh<strong>as</strong> n<strong>as</strong> proximi<strong>da</strong>des e a antigo caminho de pé posto<br />

que seguia na direcção de Santa Cruz (Alentejo).<br />

2 Pereirão – referência a sepultur<strong>as</strong> de incineração e<br />

inumação, destruíd<strong>as</strong>, a 2,5 Km a NNW <strong>da</strong> povoação com<br />

o topónimo Monte <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong>.<br />

3 Alcaria de Vila Longa – grande povoação com<br />

arruamentos e caminho antigo que atravessa a ribeira<br />

<strong>do</strong> V<strong>as</strong>cão.<br />

4 Curralinhos – referência a antigo caminho que segue,<br />

atravessan<strong>do</strong> a ribeira <strong>do</strong> V<strong>as</strong>cão, em direcção a S. Pedro<br />

de Solis.<br />

5 Mestr<strong>as</strong> – <strong>as</strong>socia<strong>da</strong> à exploração agrária e à pecuária.<br />

6 Alcari<strong>as</strong> de Diogo Di<strong>as</strong> – existem escóri<strong>as</strong> de fundição,<br />

provavelmente <strong>as</strong>sociad<strong>as</strong> à exploração mineira.<br />

7 Alcariais de Monte Argil – referência a escóri<strong>as</strong> de<br />

fundição e proximi<strong>da</strong>de de min<strong>as</strong> a sul na freguesia de<br />

Cachopo (Tavira).<br />

8 Cerro <strong>do</strong> Lírio, Laborato a C<strong>as</strong>telhanos – antigo<br />

<br />

com partes em calça<strong>da</strong>.<br />

9 Martinlongo – existem restos de escóri<strong>as</strong> e estaria<br />

<strong>as</strong>socia<strong>da</strong> à exploração mineira <strong>do</strong> Serro <strong>da</strong> Mina e à<br />

exploração agrícola <strong>do</strong> planalto envolvente.<br />

10 Alcari<strong>as</strong> <strong>do</strong> Laborato – antigos caminhos entre muros<br />

e escóri<strong>as</strong> de fundição, próximo de antig<strong>as</strong> min<strong>as</strong>.<br />

11 Serro <strong>do</strong> Lírio – existem escóri<strong>as</strong> de fundição,<br />

referência a forno de fundição e situa-se próximo de<br />

caminho e min<strong>as</strong> antig<strong>as</strong>.<br />

12 Serro <strong>da</strong> Mina – mina com exploração no perío<strong>do</strong> romano,<br />

onde foi encontra<strong>do</strong> um denário de prata de Antonino Pio.<br />

13 Lutão – caminho, entre vala<strong>do</strong>s, com calça<strong>da</strong> antiga<br />

n<strong>as</strong> imediações <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong> islâmico.<br />

14 Cerca d<strong>as</strong> Oliveir<strong>as</strong> <strong>do</strong> Lutão – existe antigo<br />

caminho com calça<strong>da</strong>, <strong>as</strong>socia<strong>do</strong> à exploração mineira.<br />

15 Alcaria Chã – grande povoação com caminhos<br />

antigos, seguin<strong>do</strong> um para o Mingor<strong>do</strong> onde existiu uma<br />

antiga mina junto à ribeira <strong>do</strong> V<strong>as</strong>cão.<br />

16 Alcaria Chã – antigo caminho, entre vala<strong>do</strong>s, sobre<br />

<br />

a área <strong>do</strong> antigo povoa<strong>do</strong>.<br />

17 Vaqueiros – encontra<strong>do</strong> um denário republicano e<br />

moed<strong>as</strong> de Cláudio e provável <strong>as</strong>sociação às explorações<br />

mineir<strong>as</strong> d<strong>as</strong> proximi<strong>da</strong>des.<br />

18 Alcari<strong>as</strong> de Madeiros – existem blocos de escóri<strong>as</strong> de<br />

fundição, provavelmente <strong>as</strong>socia<strong>do</strong>s à exploração mineira.<br />

19 Ferrari<strong>as</strong> – antig<strong>as</strong> min<strong>as</strong> com vestígios de exploração<br />

desde os perío<strong>do</strong>s romano e islâmico até ao séc. XIX.<br />

20 C<strong>as</strong>telo d<strong>as</strong> Relíqui<strong>as</strong> – hisn e povoa<strong>do</strong> presumivelmente<br />

liga<strong>do</strong> ao controle <strong>do</strong> território, com provável<br />

caminho em direcção a S. Bartolomeu <strong>da</strong> Via Glória<br />

(Mértola).<br />

21 Curralão – existem escóri<strong>as</strong> de fundição e está<br />

<strong>as</strong>socia<strong>do</strong> à exploração d<strong>as</strong> antig<strong>as</strong> min<strong>as</strong> <strong>da</strong> Couraça<br />

n<strong>as</strong> proximi<strong>da</strong>des.<br />

22 Mesquita – junto de antigo caminho, provavelmente,<br />

<strong>as</strong>socia<strong>da</strong> a explorações mineir<strong>as</strong> e agrári<strong>as</strong>.<br />

23 Alcari<strong>as</strong> de Alcaria Grande – existem escóri<strong>as</strong> de<br />

fundição, provavelmente <strong>as</strong>sociad<strong>as</strong> à exploração mineira.<br />

24 Clarines – povoa<strong>do</strong> com capela de origem visigótica<br />

<strong>as</strong>socia<strong>do</strong> à exploração agrícola e pecuária.<br />

25 Alcariais d<strong>as</strong> Velh<strong>as</strong> – liga<strong>da</strong> à exploração agrícola e<br />

pecuária, <strong>as</strong>socia<strong>da</strong> a antigos fornos e telheiros.<br />

26 Alcari<strong>as</strong> de Marim – referência a escóri<strong>as</strong> de fundição<br />

e proximi<strong>da</strong>de de antig<strong>as</strong> min<strong>as</strong> de cobre.<br />

27 Rocha <strong>do</strong> Touro – referência a sepultur<strong>as</strong> de<br />

incineração e inumação, destruíd<strong>as</strong>, <strong>as</strong>socia<strong>da</strong> ao Povoa<strong>do</strong><br />

de S. Bento Velho.<br />

28 S. Bento Velho – existência de antigo caminho<br />

talha<strong>do</strong> na rocha e <strong>as</strong>socia<strong>do</strong> às explorações mineir<strong>as</strong><br />

n<strong>as</strong> proximi<strong>da</strong>des.<br />

29 Alcariais de Zambujal – próximo de caminhos e<br />

min<strong>as</strong> antig<strong>as</strong>.<br />

30 Cerca<strong>do</strong> d<strong>as</strong> Oliveir<strong>as</strong> <strong>do</strong> Tesouro – <strong>as</strong>socia<strong>do</strong> a<br />

antigo forno com caminho de calça<strong>da</strong> em pedra miú<strong>da</strong>.<br />

31 Alcaria Cova – povoação liga<strong>da</strong> à exploração agrícola<br />

e pecuária.<br />

32 C<strong>as</strong>telo de Alcaria Cova <br />

liga<strong>da</strong> à exploração mineira.<br />

33 Soudes – tesouro monetário com denários<br />

republicanos <strong>do</strong> século III e II a. C., caminhos velhos,<br />

escóri<strong>as</strong> de fundição e min<strong>as</strong> antig<strong>as</strong> n<strong>as</strong> proximi<strong>da</strong>des.<br />

34 Pedrinh<strong>as</strong> de S. Brás – provável igreja paleocristã,<br />

referência a fornos de fundição e explorações mineir<strong>as</strong><br />

n<strong>as</strong> proximi<strong>da</strong>des.<br />

35 Vicentes – escóri<strong>as</strong> de fundição e lugar de p<strong>as</strong>sagem<br />

de antigo caminho proveniente <strong>da</strong> Alcaria d<strong>as</strong> Peg<strong>as</strong> em<br />

direcção a Clarines.<br />

36 Alcari<strong>as</strong> de Fonte Zambujo – liga<strong>da</strong> à exploração<br />

agrícola e pecuária.<br />

37 Santa Marta – provavelmente <strong>as</strong>socia<strong>do</strong> à mina <strong>do</strong><br />

Pego <strong>da</strong> Quebra<strong>da</strong>.<br />

38 Cerca<strong>do</strong> <strong>da</strong> Ferrugem – <strong>as</strong>socia<strong>do</strong> à exploração de<br />

antig<strong>as</strong> min<strong>as</strong> de cobre no Barranco d<strong>as</strong> Quebrad<strong>as</strong>.<br />

39 Serro d<strong>as</strong> C<strong>as</strong>inh<strong>as</strong> – existem escóri<strong>as</strong> de fundição e<br />

antigo forno, situa-se próximo de caminho e min<strong>as</strong> antig<strong>as</strong>.<br />

40 Desgraci<strong>as</strong> – encontra<strong>do</strong> busto romano em bronze,<br />

referência a restos de antigo caminho com calça<strong>da</strong> que<br />

vinha de Alcaria d<strong>as</strong> Peg<strong>as</strong> seguin<strong>do</strong> por Vicentes em<br />

direcção a Clarines.<br />

41 Alcaria d<strong>as</strong> Peg<strong>as</strong> – grande povoa<strong>do</strong> de exploração<br />

agrícola e pecuária.<br />

42 Alcariais <strong>do</strong> Barranco <strong>do</strong> Tecedeiro – ocupa extensa<br />

área, liga<strong>da</strong> à exploração agrícola e pecuária.<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 73


BIBLIOGRAFIA<br />

43 Cerca d<strong>as</strong> Oliveir<strong>as</strong> de S. Martinho Velho – provável<br />

igreja paleocristã <strong>as</strong>socia<strong>da</strong> à p<strong>as</strong>sagem <strong>da</strong> via per<br />

compendium de Baesuris a antigo caminho entre<br />

muros, escóri<strong>as</strong> de fundição e situa-se n<strong>as</strong> proximi<strong>da</strong>des<br />

d<strong>as</strong> min<strong>as</strong> de Cortes Pereir<strong>as</strong>.<br />

44 Cerca d<strong>as</strong> Oliveir<strong>as</strong> <strong>do</strong> Cerro <strong>do</strong> Lobo – <strong>as</strong>socia<strong>do</strong><br />

à exploração mineira, com escóri<strong>as</strong> de fundição, onde<br />

existe um antigo caminho.<br />

45 Enxoval – <strong>as</strong>socia<strong>do</strong> a antig<strong>as</strong> explorações mineir<strong>as</strong> e<br />

existem microtopónimos indica<strong>do</strong>res de caminhos antigos<br />

(portela, porto, etc.).<br />

46 Montinho de Corte <strong>da</strong> Se<strong>da</strong> – grande povoa<strong>do</strong><br />

<strong>as</strong>socia<strong>do</strong> a antig<strong>as</strong> explorações mineir<strong>as</strong> n<strong>as</strong><br />

proximi<strong>da</strong>des.<br />

47 Sepultur<strong>as</strong> <strong>do</strong> Calvário – próximo <strong>do</strong> caminho velho<br />

<strong>da</strong> Lourinhã, actualmente intransitável, que ligaria os sítios<br />

romanos <strong>da</strong> Lourinhã e <strong>do</strong> Enxoval.<br />

48 Lourinhã – provável villa <strong>as</strong>socia<strong>da</strong> à exploração<br />

mineira, situa<strong>da</strong> na várzea <strong>do</strong> rio Guadiana.<br />

49 Cerro <strong>da</strong> Horta <strong>do</strong> Brejo – existem escóri<strong>as</strong> de<br />

fundição e está <strong>as</strong>socia<strong>do</strong> à exploração <strong>da</strong> Mina <strong>do</strong> Brejo.<br />

50 Lourinhã II – existem escóri<strong>as</strong> de fundição e está<br />

<strong>as</strong>socia<strong>da</strong> às antig<strong>as</strong> min<strong>as</strong> existentes n<strong>as</strong> proximi<strong>da</strong>des.<br />

51 C<strong>as</strong>telo Velho de Alcoutim – hisn e povoa<strong>do</strong> liga<strong>do</strong><br />

ao controle <strong>do</strong> território, <strong>do</strong> rio Guadiana e à exploração<br />

mineira.<br />

52 C<strong>as</strong>a Velha <strong>do</strong> Marmeleiro – povoa<strong>do</strong> <strong>as</strong>socia<strong>do</strong> à<br />

exploração d<strong>as</strong> antig<strong>as</strong> min<strong>as</strong> de cobre <strong>da</strong> C<strong>as</strong>a Velha.<br />

53 Vale de Condes – provável existência de igreja<br />

Paleocristã, situa<strong>do</strong> na várzea <strong>do</strong> rio Guadiana e possível<br />

p<strong>as</strong>sagem de antigo caminho proveniente <strong>do</strong> Álamo em<br />

direcção a Alcoutim.<br />

54 Pontal – antigo caminho com partes em calça<strong>da</strong><br />

e muro de suporte, construí<strong>do</strong> a meia encosta. Seria a<br />

continuação <strong>do</strong> que vinha <strong>do</strong> Álamo.<br />

55 Montinho d<strong>as</strong> Laranjeir<strong>as</strong> – importante villa romana<br />

com provável porto e igreja Paleocristã.<br />

56 Álamo<br />

rochoso, com referência a calça<strong>da</strong> em direcção à Villa <strong>do</strong><br />

Montinho d<strong>as</strong> Laranjeir<strong>as</strong>.<br />

57 Álamo – villa com barragem, onde se encontrou a<br />

estátua de Apolo, e onde p<strong>as</strong>sava uma antiga estra<strong>da</strong> que<br />

vinha de C<strong>as</strong>tro Marim e seguia para Alcoutim.<br />

58 Corte d<strong>as</strong> Don<strong>as</strong> – antigo caminho em direcção ao<br />

Fa<strong>da</strong>goso, entre vala<strong>do</strong>s, com partes em calça<strong>da</strong> e outr<strong>as</strong><br />

<br />

59 Fa<strong>da</strong>goso – situa-se junto de antigo caminho calceta<strong>do</strong><br />

que seguia para Corte d<strong>as</strong> Don<strong>as</strong>.<br />

CATARINO, Helena, 1997/98, “O <strong>Algarve</strong> Oriental durante a<br />

<br />

in ,<br />

N.º 6, 3 Volumes, Arquivo Histórico Municipal de Loulé, Loulé.<br />

MANTAS, V<strong>as</strong>co Gil, 1997, “Os caminhos <strong>da</strong> serra e <strong>do</strong> mar”<br />

in Noventa séculos entre a Serra e o Mar, I.P.P.A.R., Lisboa,<br />

pp. 311-325.<br />

RODRIGUES, Sandra, 2004, As vi<strong>as</strong> roman<strong>as</strong> <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>,<br />

C.E.P. <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong> / C.C.D.R. <strong>Algarve</strong>, Faro.<br />

SANTOS, Maria Luisa Estácio <strong>da</strong> Veiga Afonso <strong>do</strong>s, 1972,<br />

Arqueologia Romana <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>, Vol. II, Associação <strong>do</strong>s<br />

Arqueólogos Portugueses, Lisboa, pp. 367-396.<br />

TORRES, Cláudio, 1992, “Povoamento antigo no Baixo Alentejo.<br />

Arqueologia<br />

Medieval, N.º 1, Campo Arqueológico de Mértola, pp. 189-<br />

202.<br />

VIANA, Abel, 1960, “Not<strong>as</strong> históric<strong>as</strong>, arqueológic<strong>as</strong> e<br />

Arquivo<br />

de Beja, Vol. XVII, pp. 214-218.<br />

74 AS VIAS DO ALGARVE


.XI<br />

LIGAÇÃO DE S. BRÁS DE ALPORTEL POR ESTÓI E<br />

CONCEIÇÃO À ETAR NASCENTE FARO<br />

Trabalhos arqueológicos no âmbito <strong>do</strong> Sistema Multimunicipal de Saneamento <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong><br />

Multimunicipal de Saneamento <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong><br />

BRUNO SILVA | SUSANA BORGES | JOSÉ ANTÓNIO PEREIRA<br />

Novarqueologia, L<strong>da</strong>. 1<br />

resumo<br />

E<br />

Este artigo apresenta os trabalhos desenvolvi<strong>do</strong>s<br />

no âmbito <strong>do</strong> acompanhamento arqueológico de<br />

uma empreita<strong>da</strong> de construção de um sistema de<br />

saneamento nos concelhos de S. Brás de Alportel e<br />

Faro, e d<strong>as</strong> medid<strong>as</strong> de minimização preconizad<strong>as</strong><br />

<br />

e salvaguar<strong>da</strong> de vi<strong>as</strong> antig<strong>as</strong>.<br />

Desde Outubro de 2004 que a NOVARQUEOLOGIA,<br />

LDA é responsável, pelo acompanhamento<br />

arqueológico de um conjunto de empreitad<strong>as</strong> de<br />

construção ou reabilitação de infra-estrutur<strong>as</strong> de<br />

ab<strong>as</strong>tecimento de água e saneamento promovid<strong>as</strong><br />

pela empresa Águ<strong>as</strong> <strong>do</strong> <strong>Algarve</strong>, S. A.<br />

Ten<strong>do</strong> em conta a natureza d<strong>as</strong> empreitad<strong>as</strong>,<br />

destacan<strong>do</strong>-se a abertura de extens<strong>as</strong> val<strong>as</strong> para<br />

a implantação de condut<strong>as</strong> que unem <strong>as</strong> vári<strong>as</strong><br />

infra-estrutur<strong>as</strong> de ab<strong>as</strong>tecimento e saneamento,<br />

o Programa de Trabalhos privilegia de forma<br />

<br />

arqueologia preventiva:<br />

- o estu<strong>do</strong> de tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> informações disponíveis<br />

acerca d<strong>as</strong> empreitad<strong>as</strong> de forma a estabelecer<br />

áre<strong>as</strong> e tipos de afectação;<br />

- o levantamento exaustivo de to<strong>do</strong>s os <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

relativos aos bens patrimoniais d<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> a serem<br />

afectad<strong>as</strong>;<br />

- a prospecção sistemática e/ou dirigi<strong>da</strong> em<br />

<br />

<br />

arqueológica <strong>do</strong> local.<br />

- intervenções de emergência ou diagnóstico<br />

como forma de mitigação de impactes negativos<br />

sobre eventuais elementos de valor patrimonial<br />

<br />

No âmbito <strong>do</strong> projecto “Ligação de São Brás De<br />

Alportel Por Estói e Conceição à ETAR N<strong>as</strong>cente de<br />

Faro” este tipo de actuação revelou-se fun<strong>da</strong>mental<br />

<br />

de calça<strong>da</strong> (Fonte <strong>do</strong> Touro) e no senti<strong>do</strong> de<br />

acautelar o impacto negativo <strong>da</strong> empreita<strong>da</strong> sobre<br />

eventuais vestígios <strong>da</strong> “Calçadinha de S. Brás” ou<br />

<br />

1<br />

Rua. Luís De Camões, 63. 2380-085 Alcanena.<br />

E-mail: Geral@novarqueologia.pt<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 75


a criação de um novo sistema de condução e<br />

tratamento de águ<strong>as</strong> residuais produzid<strong>as</strong> por<br />

povoações <strong>do</strong>s concelhos de São Brás de Alportel<br />

e Faro.<br />

A implantação d<strong>as</strong> condut<strong>as</strong> decorre essencial-<br />

<br />

a Norte, Este e a Oeste.<br />

calça<strong>da</strong> <strong>da</strong> fonte<br />

<strong>do</strong> touro<br />

Aquan<strong>do</strong> d<strong>as</strong> acções de prospecção sistemática<br />

prévi<strong>as</strong> à execução <strong>da</strong> obra que decorreram entre<br />

<br />

uma calça<strong>da</strong> no lugar de Fonte <strong>do</strong> Touro, n<strong>as</strong><br />

proximi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> ribeira <strong>da</strong> Gaifona.<br />

Localiza<strong>da</strong> numa área de declive relativamente<br />

acentua<strong>do</strong> e franquea<strong>do</strong> por intensa vegetação,<br />

é composta por pedr<strong>as</strong> de calcário de superfícies<br />

polid<strong>as</strong> de diferentes tamanhos e dispost<strong>as</strong> de<br />

forma irregular.<br />

Apresenta cerca de 1,35m de largura média no<br />

troço mais largo e cerca de 30m de extensão<br />

preserva<strong>da</strong>, apresentan<strong>do</strong>-se mutila<strong>da</strong> em vári<strong>as</strong><br />

zon<strong>as</strong> inclusive na área mais próxima <strong>da</strong> ribeira,<br />

local de implantação <strong>da</strong> conduta de saneamento. O<br />

seu traça<strong>do</strong> é algo <strong>as</strong>simétrico apresentan<strong>do</strong> ligeira<br />

<br />

<br />

regulares e nalguns c<strong>as</strong>os encaixa<strong>da</strong> entre grandes<br />

<br />

um <strong>as</strong>pecto tosco.<br />

Para além de espólio cerâmico de cronologia<br />

<br />

arre<strong>do</strong>res <strong>da</strong> cita<strong>da</strong> calça<strong>da</strong>, no decurso destes<br />

trabalhos não se conseguiram reunir elementos<br />

que atestem a sua cronologia. Conseguiu-se<br />

apen<strong>as</strong> recolher um pequeno cravo possivelmente<br />

Figura 1<br />

Localização <strong>da</strong> calça<strong>da</strong> <strong>da</strong> Fonte <strong>do</strong> Touro e son<strong>da</strong>gem de diagnóstico na “Calçadinha de São Brás de Alportel”.<br />

76 AS VIAS DO ALGARVE


Figura 2<br />

Planta parcial <strong>da</strong> calça<strong>da</strong> <strong>da</strong> Fonte <strong>do</strong> Touro<br />

pertencente a ferradura de animal. Ten<strong>do</strong> em conta <strong>as</strong> característic<strong>as</strong> <strong>da</strong> calça<strong>da</strong> parece tratar-se de<br />

uma via de carácter local, de importância secundária cria<strong>da</strong> de forma espontânea e sem grande critério<br />

construtivo, provavelmente na I<strong>da</strong>de Moderna ou Contemporânea, para <strong>as</strong>segurar a circulação entre a<br />

povoação mais próxima e a ribeira.<br />

De realçar que não muito distante <strong>do</strong> local pervive o topónimo Calça<strong>da</strong>, topónimo que de alguma forma<br />

pode estar relaciona<strong>do</strong> com a existência desta via.<br />

Apesar de não se prever qualquer afectação por parte <strong>da</strong> empreita<strong>da</strong>, o sítio foi devi<strong>da</strong>mente sinaliza<strong>do</strong> e<br />

<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 77


Figura 3<br />

Trabalhos de registo na calça<strong>da</strong> <strong>da</strong> Fonte <strong>do</strong> Touro.<br />

trabalhos na<br />

calçadinha de s. brás<br />

Posteriormente, no decurso <strong>do</strong> acompanhamento<br />

<br />

traça<strong>do</strong> <strong>da</strong> conduta <strong>do</strong> Interceptor B poderia<br />

colidir com o novo troço <strong>da</strong> “calçadinha romana,”<br />

recentemente descoberto (Abril 2005) no âmbito <strong>do</strong>s<br />

trabalhos de valorização <strong>da</strong> mesma pela arqueóloga<br />

<strong>da</strong> Câmara Municipal de S. Brás de Alportel.<br />

Perante esta possibili<strong>da</strong>de, realizou-se uma reunião<br />

de campo que contou com representantes <strong>do</strong><br />

Instituto Português de Arqueologia, d<strong>as</strong> Águ<strong>as</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Algarve</strong>, Novarqueologia, Planege (Fiscalização)<br />

e com o empreiteiro (Hidralgar) <strong>da</strong> qual resultou<br />

uma solução alternativa à p<strong>as</strong>sagem <strong>da</strong> conduta,<br />

que previa a implantação desta numa antiga<br />

exploração de pedra que terá no p<strong>as</strong>sa<strong>do</strong> leva<strong>do</strong><br />

à amputação total <strong>do</strong>s vestígios <strong>da</strong> calça<strong>da</strong> nesse<br />

local. Com esta nova alteração, o impacte nos<br />

vestígios arqueológicos seria nulo, <strong>da</strong><strong>do</strong> que a<br />

largura <strong>da</strong> vala não excedia os 90 cm. Mesmo <strong>as</strong>sim<br />

foi preconiza<strong>do</strong>, como medi<strong>da</strong> de minimização, a<br />

realização de uma son<strong>da</strong>gem de diagnóstico de 1m x<br />

1,20m. Constituiu objectivo principal <strong>da</strong> intervenção<br />

avaliar a existência de vestígios arqueológicos no<br />

subsolo que fossem afecta<strong>do</strong>s pelo novo traça<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> conduta e em particular a existência de um troço<br />

de calça<strong>da</strong> ou outros vestígios, paralelamente ao<br />

<br />

Contu<strong>do</strong>, <strong>da</strong> intervenção arqueológica resultou a<br />

<br />

cronologi<strong>as</strong> coetâne<strong>as</strong> à utilização <strong>da</strong> “calçadinha”,<br />

de acor<strong>do</strong> com os <strong>da</strong><strong>do</strong>s históricos e arqueológicos.<br />

De igual forma não foram recolhi<strong>do</strong>s artefactos ou<br />

outros elementos relaciona<strong>do</strong>s com a exploração<br />

<strong>da</strong> pedreira, que pudessem conter interesse para<br />

a arqueologia industrial. Como medi<strong>da</strong> mitiga<strong>do</strong>ra<br />

manteve-se o acompanhamento presencial <strong>do</strong>s<br />

trabalhos de abertura de vala e consequente<br />

movimentação de máquin<strong>as</strong> no senti<strong>do</strong> de <strong>as</strong>segurar<br />

a não obliteração acidental de qualquer parcela <strong>da</strong><br />

“calçadinha”.<br />

Figura 4<br />

Cravo () de ferradura em ferro proveniente <strong>da</strong> calça<strong>da</strong> <strong>da</strong> Fonte <strong>do</strong> Touro.<br />

78 AS VIAS DO ALGARVE


esulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s<br />

<br />

Touro) certamente contribuíra para o enriquecimento<br />

<strong>do</strong> acervo patrimonial <strong>do</strong> Concelho de São Brás<br />

de Alportel, a acrescentar à já famosa “Calçadinha<br />

de São Brás de São Brás Alportel”. De igual forma<br />

é um elemento novo que permite testemunhar a<br />

importância d<strong>as</strong> redes de mobili<strong>da</strong>de a nível local,<br />

em particular se atendermos ao facto de que a<br />

própria histórica “Calçadinha” ter si<strong>do</strong>, até há bem<br />

pouco tempo usa<strong>da</strong> como meio de comunicação.<br />

No que se refere à alternativa preconiza<strong>da</strong> para a<br />

implantação <strong>da</strong> conduta no troço B <strong>da</strong> “Calçadinha<br />

de São Brás de Alportel” impede qualquer tipo<br />

de afectação negativa sobre aquele elemento de<br />

valor patrimonial arqueológico. A son<strong>da</strong>gem de<br />

diagnóstico permitiu reconhecer a viabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong><br />

traça<strong>do</strong> alternativo, sen<strong>do</strong> a afectação em termos<br />

arqueológicos nula. A intercepção <strong>da</strong> conduta na<br />

área <strong>da</strong> “Calçadinha” pela pedreira desactiva<strong>da</strong><br />

conferirá ain<strong>da</strong> um maior grau de segurança para<br />

os visitantes, uma vez que o fosso a céu aberto será<br />

aterra<strong>do</strong> para ocultar a conduta. Não obstante,<br />

to<strong>do</strong>s os trabalhos de implantação de conduta<br />

no local serão devi<strong>da</strong>mente acompanha<strong>do</strong>s pela<br />

equipa de arqueologia.<br />

Figura 5<br />

Trabalhos de registo na son<strong>da</strong>gem efectua<strong>da</strong> na “Calçadinha de São<br />

Brás de Alportel”.<br />

Figura 6<br />

Implantação e plano inicial <strong>da</strong> son<strong>da</strong>gem na “Calçadinha de São Brás<br />

de Alportel”.<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 79


.XII<br />

VIAS URBANAS DE SILVES: MUTAÇÕES E PERVIVÊNCIAS<br />

MARIA JOSÉ GONÇALVES<br />

Arqueóloga, Gabinete de Arqueologia <strong>da</strong> Câmara Municipal de Silves<br />

resumo<br />

N<br />

Neste pequeno estu<strong>do</strong> apresentam-se alguns <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

resultantes <strong>da</strong> investigação arqueológica e <strong>da</strong><br />

análise d<strong>as</strong> fontes históric<strong>as</strong>, que conjugad<strong>as</strong>, nos<br />

permitiram reconstituições <strong>do</strong> traça<strong>do</strong> viário urbano<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Silves, nos perío<strong>do</strong>s de <strong>do</strong>minação<br />

islâmica e durante o século XV, observan<strong>do</strong>-se<br />

mutações e pervivênci<strong>as</strong>.<br />

Figura 1<br />

Indicação <strong>do</strong> possível cardus e decumanus, segun<strong>do</strong> R.V.Gomes.<br />

80 AS VIAS DO ALGARVE


introdução<br />

Ain<strong>da</strong> que alguns autores admitam para a ci<strong>da</strong>de de<br />

Silves uma possível fun<strong>da</strong>ção Romana 1 , a ver<strong>da</strong>de é<br />

que até à presente <strong>da</strong>ta, não obstante a enorme área<br />

escava<strong>da</strong>, ou arqueológicamente acompanha<strong>da</strong>, no<br />

<br />

Centro Histórico (Programa Polis) 2 , ain<strong>da</strong> em curso, e<br />

muitos outros trabalhos antes realiza<strong>do</strong>s, os vestígios<br />

romanos são residuais e descontextualiza<strong>do</strong>s e a<br />

ocupação mais antiga remonta ao perío<strong>do</strong> islâmico,<br />

consistin<strong>do</strong>, na maior parte <strong>do</strong>s c<strong>as</strong>os, em estrutur<strong>as</strong><br />

habitacionais e negativ<strong>as</strong> (silos e foss<strong>as</strong>), est<strong>as</strong><br />

últim<strong>as</strong> escavad<strong>as</strong> no substracto geológico (Vieira e<br />

Chanoca, 2006 a; 2006 b).<br />

Também no decurso de obr<strong>as</strong> de construção civil,<br />

tiveram lugar em zon<strong>as</strong> mais baix<strong>as</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de,<br />

trabalhos arqueológicos em áre<strong>as</strong> de dimensão<br />

<strong>as</strong>sinalável e não se colocaram a descoberto níveis<br />

de ocupação romana. As ocupações mais antig<strong>as</strong><br />

remontavam ao século XI em <strong>do</strong>is <strong>do</strong>s c<strong>as</strong>os –<br />

Biblioteca (Gonçalves e Santos, 2005:198), Teatro<br />

M<strong>as</strong>carenh<strong>as</strong> Gregório (Ramos,2004:4) e aos séculos<br />

XII-XIII no Empreendimento <strong>do</strong> C<strong>as</strong>telo (Duarte e<br />

Costa, 2006).<br />

To<strong>da</strong>via, a Arqueóloga R. V. Gomes, exumou tramo<br />

de muralha que <strong>as</strong>sentava sobre nível arqueológico<br />

que atribuiu ao perío<strong>do</strong> tar<strong>do</strong>-romano, um pouco a<br />

n<strong>as</strong>cente <strong>da</strong> Porta <strong>da</strong> Almedina (Gomes e Gomes,<br />

1992:288 e Gomes, 2002 b:332), e defende fun<strong>da</strong>ção<br />

romana para a ci<strong>da</strong>de de Silves (Gomes,2002a:93),<br />

ven<strong>do</strong> n<strong>as</strong> actuais ru<strong>as</strong> que cruzam junto à Sé, o<br />

car<strong>do</strong> maximus e o decumanos, que marcavam a<br />

organização urbana d<strong>as</strong> ci<strong>da</strong>des roman<strong>as</strong> <br />

<br />

vi<strong>as</strong> e na actual organização urbana <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de esses<br />

traços de ortogonali<strong>da</strong>de, antes vislumbramos um<br />

urbanismo com origem n<strong>as</strong> ci<strong>da</strong>des islâmic<strong>as</strong>,<br />

em que o planeamento é mínimo e se centra n<strong>as</strong><br />

<br />

a Mesquita Aljama e os Merca<strong>do</strong>s, e a situação<br />

estratégica e o relevo actuam como principais<br />

elementos condiciona<strong>do</strong>res <strong>da</strong> sua implantação.<br />

Assim, estamos perante um crescimento orgânico<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, altamente dependente <strong>do</strong> aumento<br />

<strong>da</strong> população, ain<strong>da</strong> que algum<strong>as</strong> regr<strong>as</strong> de<br />

planeamento se encontrem subjacentes 3 .<br />

perío<strong>do</strong> de<br />

permanência islâmica<br />

Ain<strong>da</strong> que algum<strong>as</strong> frentes de trabalho arqueológico<br />

se encontrem em curso, e pouca informação tenha<br />

si<strong>do</strong> divulga<strong>da</strong> sobre os acha<strong>do</strong>s, temos conhecimento<br />

de que se não colocaram a descoberto<br />

quaisquer vestígios <strong>da</strong> rede viária urbana relativa<br />

ao perío<strong>do</strong> de <strong>do</strong>minação islâmica 4 . Pelo contrário,<br />

<br />

lógic<strong>as</strong> efectuad<strong>as</strong> sob os actuais arruamentos,<br />

estrutur<strong>as</strong> habitacionais islâmic<strong>as</strong>, revelan<strong>do</strong> que a<br />

actual rede viária nem sempre coincide exactamente<br />

com os arruamentos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de islâmica. Porém,<br />

em du<strong>as</strong> intervenções ocorrid<strong>as</strong> em zon<strong>as</strong> que<br />

corresponderiam ao arrabalde Este <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, há<br />

vestígios de vi<strong>as</strong> urban<strong>as</strong>.<br />

Na intervenção arqueológica <strong>da</strong> “Biblioteca”, em que<br />

os elementos arquitectónicos de maior relevância se<br />

materializam em <strong>do</strong>is tramos de muralha liga<strong>do</strong>s por<br />

uma torre de ângulo, foram coloca<strong>do</strong>s a descoberto<br />

1<br />

Ver a propósito, artigo de Jorge de Alarcão (2005:294 a 297), sobre a localização <strong>do</strong> oppidum Cilibis.<br />

2<br />

Foram escavad<strong>as</strong> v<strong>as</strong>t<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> e realizad<strong>as</strong> mais de 150 son<strong>da</strong>gens arqueológic<strong>as</strong> na ci<strong>da</strong>de de Silves.<br />

3<br />

Ver a propósito: Ahmed Tahiri (2006), n<strong>as</strong> fontes jurídic<strong>as</strong>: Trata<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Hisba e Direito ao Merca<strong>do</strong>, Regulamento <strong>da</strong> Defesa, Regime<br />

Imobiliário e Regulamentação Tributária, Regime de Arren<strong>da</strong>mento de Vivend<strong>as</strong> e Terrenos, Trata<strong>do</strong>s de Construção, etc. E, ain<strong>da</strong>, Alfonso<br />

Gonzalez Carmona (2005) La Medina en formación. Los <strong>da</strong>tos de los textos jurídicos – Comunicação apresenta<strong>da</strong> no 3º Congreso La<br />

Medina en Formación: La Ciu<strong>da</strong>d en el Occidente Islámico Medieval. Nov<strong>as</strong> aportaciones de la arqueologia e relectura de fuentes, Silves,<br />

7 a 10 de Setembro de 2005.<br />

4<br />

As son<strong>da</strong>gens realizad<strong>as</strong> nalgum<strong>as</strong> ru<strong>as</strong>, nomea<strong>da</strong>mente na Rua <strong>da</strong> Arrochela, Rua Nova <strong>do</strong> Carmo e Rua <strong>do</strong> Pelourinho, revelaram a<br />

existência de foss<strong>as</strong>, que habitualmente se localizam sob os arruamentos, levan<strong>do</strong> a inferir tratar-se de ru<strong>as</strong> que à época já existiam,<br />

com um traça<strong>do</strong> semelhante.<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 81


Figura 2<br />

Arruamento em seixo rola<strong>do</strong> <strong>da</strong> escavação arqueológica <strong>da</strong> “Biblioteca”<br />

Figura 3<br />

Arruamento em terra bati<strong>da</strong> <strong>da</strong> escavação arqueológica<br />

“Empreendimento <strong>do</strong> C<strong>as</strong>telo”<br />

três níveis de arruamento sobrepostos, construí<strong>do</strong>s<br />

em seixo rola<strong>do</strong> de pequena a média dimensão,<br />

compacta<strong>do</strong>s com terra de matriz arenosa e muito<br />

material arqueológico. Este arruamento, corre<br />

no senti<strong>do</strong> Este-Oeste, e <strong>as</strong>socia-se a estrutur<strong>as</strong><br />

habitacionais, dispost<strong>as</strong> a Norte <strong>do</strong> mesmo, sen<strong>do</strong><br />

que, na zona em que toca a torre, o seu material<br />

construtivo compõe-se de pequen<strong>as</strong> lajes de arenito<br />

vermelho. Na área escava<strong>da</strong>, esta via mede cerca<br />

de 4m de largura por 20m de comprimento e, o<br />

sector que encosta à torre, 2m de largura por 8m<br />

de comprimento. Terá si<strong>do</strong> construí<strong>da</strong> no perío<strong>do</strong><br />

<br />

2005:188 e Gonçalves e Pires, 2006) <br />

Também na intervenção arqueológica leva<strong>da</strong> a cabo<br />

em área limítrofe Este <strong>da</strong> actual ci<strong>da</strong>de, espaço<br />

que parece coincidir com zona limite de um <strong>do</strong>s<br />

arrabaldes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de islâmica, foram resgatad<strong>as</strong> <strong>do</strong><br />

terreno, uma imensidão de estrutur<strong>as</strong> arqueológic<strong>as</strong>,<br />

<br />

XII-XIII, <strong>as</strong>sociad<strong>as</strong> a arruamentos, evidencian<strong>do</strong><br />

algum planeamento urbanístico.<br />

A via principal, de orientação Nordeste-Su<strong>do</strong>este,<br />

media 4m de largura máxima e detinha cerca de<br />

40m de comprimento na área escava<strong>da</strong>, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong><br />

construí<strong>da</strong> em terra bati<strong>da</strong> que embalava alguns<br />

calhaus rola<strong>do</strong>s de pequena dimensão, sen<strong>do</strong><br />

provável que se dirigisse a uma d<strong>as</strong> port<strong>as</strong> <strong>da</strong><br />

muralha <strong>do</strong> Arrabalde Este <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Para além<br />

deste, corria outro arruamento paralelo, <strong>do</strong> la<strong>do</strong><br />

Oeste, com uma largura aproxima<strong>da</strong> de cerca de<br />

2m e mais de 10m de comprimento, igualmente<br />

construí<strong>do</strong> em terra bati<strong>da</strong>. Um outro arruamento<br />

corria no senti<strong>do</strong> perpendicular à via principal, de<br />

orientação tendencialmente Este-Oeste, m<strong>as</strong> não se<br />

articulava com a anterior. Este último oferecia uma<br />

técnica construtiva em tu<strong>do</strong> semelhante à descrita<br />

para o arruamento <strong>do</strong> sítio <strong>da</strong> “Biblioteca”, ou seja,<br />

o recurso ao seixo rola<strong>do</strong> compacta<strong>do</strong> com terra e<br />

material cerâmico. Media cerca de 2m de largura,<br />

sen<strong>do</strong> ladea<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is muros que o encerrava e,<br />

muito provavelmente, conduziria a espaço agrícola<br />

junto à margem direita <strong>do</strong> Rio Arade 5 <br />

O conhecimento inequívoco <strong>da</strong> localização d<strong>as</strong> três<br />

port<strong>as</strong> que permitiam o acesso ao interior <strong>da</strong> Medina,<br />

permitem-nos inferir sobre a existência de três ru<strong>as</strong><br />

<br />

perto <strong>da</strong> Mesquita Aljama e <strong>do</strong> acesso ao interior<br />

<strong>da</strong> alcáçova. Assim, a porta em cotovelo aberta no<br />

sector Sul <strong>da</strong> muralha <strong>da</strong> Almedina, permitiria o<br />

acesso à zona central <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de através <strong>da</strong> actual<br />

Rua <strong>da</strong> Sé; a porta aberta no sector Oeste <strong>da</strong><br />

muralha facilitaria, de igual mo<strong>do</strong>, o acesso à zona<br />

nobre <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, através <strong>da</strong> actual Rua <strong>da</strong> Porta <strong>da</strong><br />

Azóia e; a porta aberta no sector Este <strong>da</strong> muralha,<br />

através <strong>da</strong> actual Rua <strong>do</strong> C<strong>as</strong>telo, conduziria à zona<br />

privilegia<strong>da</strong> de encontro d<strong>as</strong> populações <strong>da</strong> Xilb<br />

islâmica <br />

5<br />

Agradecemos à Dra. Paula Abranches, Arqueóloga administra<strong>do</strong>ra <strong>da</strong> Empresa Archeoestu<strong>do</strong>s e ao Dr. José Costa, Arqueólogo responsável<br />

pela escavação, tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> informações e elementos cedi<strong>do</strong>s.<br />

82 AS VIAS DO ALGARVE


Figura 4<br />

Edifícios e elementos viários <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Silves no perío<strong>do</strong> de <strong>do</strong>minação islâmica<br />

século xv<br />

É neste perío<strong>do</strong> que <strong>as</strong> fontes nos oferecem maior<br />

quanti<strong>da</strong>de de informação quanto às vi<strong>as</strong> urban<strong>as</strong> <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de de Silves. O Livro <strong>do</strong> Almoxarifa<strong>do</strong> de Silves,<br />

produzi<strong>do</strong> em 1474, ao descrever a proprie<strong>da</strong>de régia<br />

e <strong>as</strong> rend<strong>as</strong> que deviam ao monarca aqueles que a<br />

traziam afora<strong>da</strong>, vai percorren<strong>do</strong> <strong>as</strong> ru<strong>as</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de,<br />

de um mo<strong>do</strong> que nos permite alguma reconstituição,<br />

não só d<strong>as</strong> vi<strong>as</strong> urban<strong>as</strong>, como d<strong>as</strong> que ligavam a<br />

ci<strong>da</strong>de às proprie<strong>da</strong>des e locali<strong>da</strong>des vizinh<strong>as</strong>.<br />

Assim, no interior <strong>da</strong> Almedina, é-nos possível<br />

Rua direita (actual Rua <strong>da</strong> Sé), que<br />

<strong>da</strong> Porta <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de se dirigia para Norte, p<strong>as</strong>san<strong>do</strong><br />

frente à Sé, prolongan<strong>do</strong>-se até cerca <strong>do</strong>s muros <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de (fol.1 a 4). Também conhecemos a rua que,<br />

<strong>da</strong> Porta <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de viran<strong>do</strong> para a direita, conduzia<br />

à Judiaria (actual Rua <strong>da</strong> Porta de Loulé) (fol. 8 e 9).<br />

Ain<strong>da</strong>, a rua que, <strong>da</strong> Porta <strong>da</strong> Almedina viran<strong>do</strong> à<br />

esquer<strong>da</strong>, p<strong>as</strong>sava junto aos chãaos que em outro<br />

tempo foram banhos (actual Rua <strong>da</strong> Cadeia) (fol.<br />

9v.). Também a Rua Pública que encimava a C<strong>as</strong>a <strong>da</strong><br />

Aduana (actual Travessa <strong>da</strong> Cató) (fol.10) e, ain<strong>da</strong>,<br />

a Rua pública travessa, que separava pardieiros,<br />

de c<strong>as</strong>a que noutro tempo havia si<strong>do</strong> celeiro (actual<br />

Rua <strong>da</strong> Misericórdia) (fol. 10). No cimo <strong>da</strong> Rua direita,<br />

de fronte à C<strong>as</strong>a d<strong>as</strong> Fang<strong>as</strong> e <strong>do</strong>s Açougues,<br />

conhecemos uma outra Rua pública, que se dirigia<br />

para a Porta <strong>da</strong> Azóia (actuais Largo Correia Lobo<br />

e Rua <strong>da</strong> Porta <strong>da</strong> Azóia) (fol.4v. e 5), por detrás <strong>da</strong><br />

qual se situava uma Azinhaga sem saí<strong>da</strong> (actual Rua<br />

<strong>do</strong> Saco) (fol.4v.).<br />

A maior dúvi<strong>da</strong> reside na localização <strong>da</strong> Rua <strong>da</strong><br />

Çapataria Velha (fol. 10 e 11), a única à qual é<br />

atribuí<strong>do</strong> nome próprio. É menciona<strong>da</strong> após referência<br />

à actual Rua <strong>da</strong> Cató, razão que nos sugere situar-se<br />

na sua proximi<strong>da</strong>de. Na mesma se localizam, além<br />

de c<strong>as</strong><strong>as</strong> térre<strong>as</strong> <strong>do</strong> rei, o Forno Grande, o Forno<br />

<strong>do</strong> Corteçinho e o Forno <strong>da</strong> Rua. Maria de Fátima<br />

Botão, julga tratar-se <strong>da</strong> actual Rua Nova <strong>da</strong> Boavista<br />

(Botão,1992: 27 e 98), que ligava directamente à<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 83


Fig. 5<br />

Edifícios e elementos viários <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Silves no século XV<br />

buraca. Por seu turno, Garcia Domingues (Leal, 1984:<br />

83), advoga tratar-se <strong>da</strong> actual Rua <strong>da</strong> Arrochela,<br />

o que nos parece mais plausível, por questões de<br />

proximi<strong>da</strong>de aos espaços que antecedem a menção.<br />

M<strong>as</strong>, também n<strong>as</strong> zon<strong>as</strong> designad<strong>as</strong> no Livro <strong>do</strong><br />

Almoxarifa<strong>do</strong> de Silves, como Mouraria e Arrabalde o<br />

rei possuía bens afora<strong>do</strong>s, que confrontavam com ru<strong>as</strong><br />

públic<strong>as</strong>, muito embora, neste c<strong>as</strong>o, seja mais difícil<br />

localizá-l<strong>as</strong>, <strong>da</strong><strong>do</strong> que os bens afora<strong>do</strong>s, são qu<strong>as</strong>e<br />

sempre espaços devolutos, ou parcel<strong>as</strong> de terreno de<br />

vocação agrícola, tornan<strong>do</strong>-se impossível seguir <strong>as</strong><br />

<br />

referid<strong>as</strong>. Ain<strong>da</strong> <strong>as</strong>sim, reconhecemos na actual Rua<br />

<strong>do</strong> Moinho <strong>da</strong> Porta, a Rua pública que conduzia ao<br />

Moinho <strong>da</strong> Porta (fol. 12), bem como a Porta <strong>do</strong><br />

Cerco <strong>da</strong> Mouraria (fol.12v.), à qual se seguiria uma<br />

rua, talvez actual Rua Eli<strong>as</strong> Garcia.<br />

Para além dest<strong>as</strong> ru<strong>as</strong>, são referid<strong>as</strong> mais du<strong>as</strong> ru<strong>as</strong><br />

públic<strong>as</strong>, que não foi possível situar, bem como diversos<br />

caminhos, nomea<strong>da</strong>mente, o Caminho para a Ponte<br />

(fol.15), (talvez actual Rua Policarpo Di<strong>as</strong>) o Caminho<br />

para Fonte <strong>da</strong> Mesquita (fol.15), certamente a actual<br />

Rua <strong>da</strong> Mesquita, sen<strong>do</strong> que amb<strong>as</strong> entestavam com a<br />

Cerca <strong>da</strong> Mouraria e encerravam um ferragial e, ain<strong>da</strong>,<br />

o Caminho para Portugal (fol.15v.), que acreditamos<br />

tratar-se <strong>da</strong> actual Rua Cruz de Portugal, <strong>da</strong><strong>do</strong> que<br />

esta encerrava a Norte a Horta <strong>do</strong> Pão, que a Sul<br />

era delimita<strong>da</strong> pelo Açude <strong>do</strong>s Moinhos <strong>da</strong> Porta e<br />

<strong>da</strong> Torre, imóveis cuja localização é hoje reconheci<strong>da</strong><br />

junto à margem direita <strong>do</strong> Arade. Encontramos ain<strong>da</strong><br />

referência ao Caminho que ia para o Enxerim<br />

(fol.16v.) e que partiria <strong>da</strong> Torre Cruza<strong>da</strong> <strong>do</strong> C<strong>as</strong>telo,<br />

tratan<strong>do</strong>-se, muito provavelmente, <strong>da</strong> actual Rua <strong>do</strong><br />

Cemitério <br />

Para além dest<strong>as</strong> vi<strong>as</strong>, o valioso <strong>do</strong>cumento refere<br />

diversos caminhos que ligavam a ci<strong>da</strong>de de Silves a<br />

locali<strong>da</strong>des vizinh<strong>as</strong>, sem que, contu<strong>do</strong>, se consiga<br />

reconstituir o seu traça<strong>do</strong>. São menciona<strong>do</strong>s<br />

os caminhos que levavam a Lagoa, Bemposta,<br />

Estombar, Lagos, S. Miguel, Porches e Alagoa,<br />

locais cujos solos detém grande vocação agrícola e<br />

onde, privilegia<strong>da</strong>mente, se situava grande parte <strong>da</strong><br />

proprie<strong>da</strong>de régia.<br />

84 AS VIAS DO ALGARVE


considerações finais<br />

A falta de ortogonali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> traça<strong>do</strong> viário actual<br />

recusa a ideia de uma fun<strong>da</strong>ção romana <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />

de Silves, muito embora tenhamos que admitir, que a<br />

<br />

por completo eventuais marc<strong>as</strong> de um traça<strong>do</strong><br />

hipodâmico.<br />

Apesar de serem marcantes os traços de uma<br />

estruturação urbana islâmica, alguns <strong>do</strong>s vestígios<br />

arqueológicos coloca<strong>do</strong>s a descoberto, no âmbito de<br />

trabalhos arqueológicos recentes, dão a conhecer a<br />

ocupação de algum<strong>as</strong> d<strong>as</strong> actuais ru<strong>as</strong> por estrutur<strong>as</strong><br />

habitacionais islâmic<strong>as</strong>, necrópole islâmica, etc.,<br />

levan<strong>do</strong> a concluir sobre um traça<strong>do</strong> viário islâmico<br />

algo diverso <strong>do</strong> actual. Tal evidência encontra<br />

<br />

<br />

durante o século XIV, que levará ao aban<strong>do</strong>no e<br />

degra<strong>da</strong>ção de habitações, poden<strong>do</strong> a consequente<br />

<br />

espaços, que ao serem reocupa<strong>do</strong>s séculos depois,<br />

merecerão uma diferente organização espacial,<br />

nomea<strong>da</strong>mente no concernente aos arruamentos.<br />

Tal situação de declínio é visível na descrição <strong>da</strong><br />

proprie<strong>da</strong>de régia, que o Livro <strong>do</strong> Almoxarifa<strong>do</strong><br />

de Silves (século XV) encerra, não obstante se<br />

<br />

ain<strong>da</strong> hoje existentes, mostran<strong>do</strong> a longa pervivência<br />

dest<strong>as</strong> vi<strong>as</strong>.<br />

A análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s disponíveis relativos a vi<strong>as</strong><br />

urban<strong>as</strong> no perío<strong>do</strong> islâmico cinge-se aos<br />

arruamentos <strong>do</strong> arrabalde, recentemente coloca<strong>do</strong>s<br />

a descoberto no âmbito de trabalhos arqueológicos.<br />

Apesar de se tratar de uma amostra reduzi<strong>da</strong>, vemos<br />

alguma uniformi<strong>da</strong>de no que concerne à largura<br />

<strong>do</strong>s caminhos principais e secundários (4m e 2m,<br />

respectivamente) e, também, no que concerne às<br />

técnic<strong>as</strong> construtiv<strong>as</strong> - terra bati<strong>da</strong> ou seixo rola<strong>do</strong><br />

compacta<strong>do</strong> com terra.<br />

A continuação <strong>do</strong>s trabalhos arqueológicos e a<br />

análise sistemática <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s recolhi<strong>do</strong>s permitirão,<br />

no futuro, ilações mais consistentes acerca <strong>da</strong><br />

evolução <strong>da</strong> rede viária urbana de Silves.<br />

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<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 85

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