a viagem para o mundo dos mortos, no romanceiro da ... - TEL
a viagem para o mundo dos mortos, no romanceiro da ... - TEL
a viagem para o mundo dos mortos, no romanceiro da ... - TEL
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Anais do XIV Seminário Nacional Mulher e Literatura / V Seminário Internacional Mulher e Literatura<br />
cheias de intenções na casa do Vigário Toledo... 5<br />
Ao lermos essas impressões <strong>no</strong>tamos que a <strong>viagem</strong> realiza<strong>da</strong> por<br />
Cecília Meireles propiciou-lhe um encantamento e fascínio. As mortes e<br />
os mistérios que pairavam na ci<strong>da</strong>de de Ouro Preto do século XVIII, são<br />
suscita<strong>dos</strong> <strong>no</strong> século XX, quando se objetiva com projetos modernistas<br />
resgatar o passado histórico e os herois nacionais. A poeta diz que após a<br />
realização <strong>da</strong> pesquisa jornalística ela deixa Ouro Preto, mas os fantasmas<br />
<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de a perseguem.<br />
Esses “fantasmas”, “homens” construtores <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Ouro Preto,<br />
sejam eles poetas, padres, arquiteto, governador, Alferes, musas e donzelas<br />
são retoma<strong>dos</strong> pela escritora <strong>para</strong> reconstrução do passado histórico de<br />
Minas e do País. Michel Onfray em seu estudo Teoria <strong>da</strong> Viagem esclarece<br />
que: “O desejo de <strong>viagem</strong> se alimenta melhor de fantasmas literários ou<br />
poéticos do que de propostas indigentes, porque semelhantes demais a<br />
uma reali<strong>da</strong>de sumária.” 6<br />
Cecília, enquanto viajante, trabalha o real e o imaginário em seus<br />
poemas, trazendo a tona a problematização <strong>da</strong> Conjuração Mineira e os<br />
poetas letra<strong>dos</strong> envolvi<strong>dos</strong> com esse movimento, <strong>para</strong> isso ela recupera os<br />
“fantasmas literários de Ouro Preto”, ou seja, os poetas árcades que lutaram<br />
pela liber<strong>da</strong>de até mesmo enfrentando a morte. Eles realizaram por fim uma<br />
<strong>viagem</strong> sem retor<strong>no</strong>, a <strong>viagem</strong> <strong>para</strong> o <strong>mundo</strong> <strong>dos</strong> <strong>mortos</strong>; e são recupera<strong>dos</strong><br />
pela poesia do século XX, como “fantasmas” que transitam <strong>no</strong> espaço<br />
metafísico <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Eles habitam o pla<strong>no</strong> espiritual e suas “sombras” o<br />
pla<strong>no</strong> físico, terre<strong>no</strong>.<br />
Na “Fala Inicial”, poema que abre o Romanceiro, há recorrências as<br />
mortes, que muito foram significativas na Inconfidência Mineira, o sujeito<br />
lírico faz uso de inúmeros símbolos e metáforas <strong>para</strong> indicar como elas se<br />
deram e a implicação delas <strong>para</strong> a construção <strong>da</strong> história de Minas, veja<br />
como a morte é representa<strong>da</strong>:<br />
5 MEIRELES, Cecília. Romanceiro <strong>da</strong> inconfidência [1953]. Porto Alegre, RS: L&PM , 2010. p. 19.<br />
6 ONFRAY, Michel. Teoria <strong>da</strong> Viagem: poética <strong>da</strong> Geografia. Trad. Paulo Neves. Porto Alegre,<br />
RS: L & PM, 2009, p. 22.